Você está na página 1de 31

Como analisar um Como analisar uma

0s fjlnres contarn histórias por meio de imagens, sons, Para interpretar uma imagent - obras de arte, fotos e
diálogos e efeitos espectais que conduzem 0 especta- itustraçÕes -, esteja atento a atguns procedjnrentos.
rlor alravcs de uma narrativa recheada de mensagens
e infoi'maçÕes. De oLho em sua nrarcante presenÇa na
sor:iedade tm que vivemos, ao fjnaLde cada capítulo
/QUt
#^
,il
S"
há a subseção Em Cartaz, para que vocô possa explo- *xa :,(í
raT cis conteúrlos a partir dessa linguagem.

Mesmo que baseados em Íatos considerados reais, os


,(
t^^
xl
(("
filmes clue p0ssuem como iema uma situação histó-
rica cieryem ser compreendidos como representaçóes
dessa situaçã0.0u seja, não são "a História", rnas
drscuTsos e visôes "sobre a Historia". Apesar disso,
poclenr aLrxiliar na produção de reftexÕes e conhecj-
nrentils, pois a pai-tir deles pcidemos discutjr deter-
minadas visÕes sobre urrra dada sociedade e organi
zar jnÍorntarÕcs e conceilos a seu respeito.

Mas, para qLte isso sela possíve[, antes de anatisar Enterro do Conde de Orgaz, EI Greco.
qualquer Íilrne, é irnportante [evar em consideraçào: Óteo sobre teta, 1586-1588.

0 niomento Procure seguir estes procedi mentos:


em que foi produzido.
SeL.r clir-r.lor e paÍs de origem, pois, atém de irna- Idenlifique o que está no centro e à frente na figu,
gens, as pe[Ículas tambérn projetam características ra. Geralmente, é o que o autor da imagem procu-
c ponLos Ce vista do presente sobre o passado. rou destacar.
0 illr,r J. ['l'rrn i \cu) persorrngÊns prinr ipais. Verifique os espaÇos Iaterais, aquilo que está
0 moirentc histórjco em que transc0rre a trama do mais [onge do centro, ao fundo ou no altc.
f ilme. Note se há espaços fechados e espacos abertos.
As rnensagerrs transmitjcjas peto filme e os pontos identifique todas as pessoas, animais, constru-
de vista r:xpressados ao Iongo da sua narraliva. figuras que compÕem a imagem.
çÕes e demais
Confjra se há personagens ou figuras escondidas
ou encobertas.
Verilique as açÕes que estão sendo retratadas.
Qua[ é a principat? Quais são as secundárias (se
s §§,
houver)?
Preste atenção nas expressÕes faciais e atitudes
dos persorragens. Não se esqueÇa dos pequenos
detalhes, pois etes podenr revetar mui[o.
Procure jdentificar o tema ou o assunto da imagem.
Procure identificar o perÍodo e o contexto em que
a imagem foi produzida.
Procure formutar hipóteses sobre as mensagens
apresentadas pela imagem.

10
Guerra e revolução

esde 1871-, quando transcorrera a Guerra Franco-Prussiana,


não acontecera nenhum conflito entre as grandes potências
Paz armada
da Europa. A maioria dos europeus que nasceu e cresceu
nesse período enxergava o mundo de forma positiva e via seu con- Pan-eslavisma
tinente como 0 centro de todas as decisões. Acreditava que a diplo- Ilegemania
macia conseguira criar caminhos para resolver, na paz, as ocasionais
Futttrismo
divergências que surgissem entre os Estados nacionais e que as ciên-
Marxismo-leninísmo
cias e o desenvolvimento tecnoiógico do século XIX haviam iibertado
as pessoas de seus limites físicos. 0 presente e o futuro eram vistos, Revoluçao/
em geral, como tempos de estabilidade e progresso. c antrarrevol uçoo

Em meio ao aparente otimis- diam que as trevas da guerra avan- Comunísmof


mo, a produção cultural passava çassem subterraneamente. A tão socíalismo
por turbulências e sucessivas ondas celebrada tecnologia também se 1(o lkh oze s/S ovl<hoz e s
de renovaçã0. Cubismo, abstracio- prestava para invenções letais:
nismo, expressionismo, dadaÍsmo: metralhadoras, tanques blindados, Caudílhismo
as vanguardas esteticas rompiam torpedos, aÍmas químicas. Quando Reformismo
padrões c1ássicos de representação, a Primeira Guerra Mundial come-
Democracia
rejeitavam a obletividade, explora- Çou, em agosto de 1914, todo o oti-
vam limites do inconsciente e exi- mismo ruiu; no seu lugar, cresceu Colonialísrno
biam novas percepções do mundo. o pavor e o horror diante da des-
Na tela Composiçao VII, de truição que se aproximava. Com posi çã o tzII, Vassily Kandi nsky.

1.9L3, o russo Vassily l(andisnky Óteo sobre teta, 2OO x 3OO cm, 1913.

(1866-1,944) orquestrava cores e


formas em uma intensidade sinfô- I í,' :
nica, com explosões cromáticas em
t!:,,
Í
partes diferentes do quadro. Segun- É

do o pintor, a arte abstrata procura-


I

=
va expÍessar essências impossíveis "s
de explicar por meio da objetivida-
de ou da centralidade do olhar ou
da luz. De certo modo, como outros
artistas do período, indicava que os
tempos eram mais instáveis e difí
ceis do que pareciam.
As luzes da razão que anima-
vam tantos europeus não impe-
historiador britânico Eric Hobsbawm resumiu da seguinte maneira
o signifÍcado da Primeira Guerra Mundial:

"APrimeira Guerra Mundial [...] assinalou o colapso da civilização


(ocídental) do século XIX. Tratava-se de uma civilização capitalista na
economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem
de sua classe hegemônica característica; exultante com a avanÇo da cíên-
cía, do conhecimento e da educação e também com o progresso material e
moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa, berço das
revoluções da ciência, das artes, da política e da indústria e cuja econo-
mia prevalecera na maior parte do mundo, que seus soldados haviam con-
quístado e subjugado; uma Europa cujas populações (incluindo-se o vasto
e crescente fluxo de emigranÍes e seus descendentes) haviam crescido até
somal um terço da raça humana; e cujos maiores Estados constituíam o
sistema da política mundial."

H 0 BS B AW M''
?:,';:,"f i"J ffi :,ií,'.[ iÍixf !{: iíi{ í?',t:
0 sonho europeu de hegemonia planetária, porém, já era ameaçado pelo
crescimento dos Estados Unidos que, desde a unidade proporcionada pela
Guerra de Secessão, haviam ampliado muito sua capacidade industrial e
ganhavam espaÇo no mercado, principalmente, de produtos quÍmicos, side-
rúrgicos e de automóveis. A indústria e as atividades comerciais do Japão
também avanÇavam, conquistando compradores naÁsia. As relações entre os
próprios países europeus tampouco
e
autorjzavam a crenÇa numa paz dura-
e doura. 0s nacionalistas ganhavam
ã
força e defendiam saídas armadas.
No Leste do continente, as divergên-
cias quanto a fronteiras, a desagre-
gação do Império Turco-Otomano e o
expansionismo russo colocavam em
xeque as iniciativas diplomáticas. No
ocidente, a França ainda lastimava a
derrota para a Alemanha, que sofre-
ra ao final da Guerra Franco-Prussia-
na. A Alemanha crescia industrial-
mente, incrementava sua capacidade
bélica e buscava ampliar sua presen-
ça nas áreas coloniais, ameaçando a
hegemonia mercantil britânica e seu
imenso império coloniai. Viüa-se, sob
o otimismo eo orgulho europeus e em
meio a tantas tensões, uma paz arma-
Fonte: Elaborado com base em PARI(ER, G. AtlosVerbo de históría universol. Lisboa/São Paulo: Verbo, 1996. da, que a guerra acabaria por romper.

24 Capítulo 1 Guerra e revolução


mulavam a fragmentação turca: Grã-Bretanha e França
.ê.§ Fi.ti,,l "ül[,J&s ffiffi Ât§ÂNÇA§ desejavam ampliar os mercados consumidores de seus
Depois da unificação, a Alemanha havia recorrido a produtos industriaiizados e o governo russo apoiava o
suas amplas reservas de ferro e catvão para impulsio- pan-eslavismo, tentando unificar, sob seu comando, os
nar a economia, desenvolvendo as indústrias de bens de diversos grupos e territórios eslavos do Leste europeu'
produção (máquinas, equipamentos industriais etc') e O Império Austro-Húngaro era aliado dos turcos e

armamentos. Grandes investimentos em pesquisa cien- da Alemanha pretendia abrir uma estrada de ferro que
e

tífica e tecnologia auxiliaram o avanÇo rápido' A adoção Iigasse Berlim à Bagdá, facilitando seu acesso à produ-
a presenÇa
de medidas protecionistas contribuiu para a conquis- ção petrolífera do Golfo Pérsico e limitando
ta de mercados consumidores' A Alemanha, que entra- britânica na região. AustrÍacos e húngaros, no entanto,
ra tardiamente na corrida colonial, buscava, no final do enfientavam resistências nacionalistas dentro de seu
século XIX, ampliai seus domÍnios na África e na Ásia' império e dividiam as atenções de sua limitada capaci-
Estabeleceu, ainda na dêcada de 1BB0 e sob a lideran- dade militar entre a repressão aos movimentos internos
alianças com e a luta expansionista no estrangeiro.
ça de Otto von Bismarck, um sistema de
o Império Austro-húngaro e a ltá1ia (TrÍplice Aliança), Em meio às disputas e tensões no Leste europeu,
para defender-se de eventuais investidas britânicas e do também a Sérvia visava ampliar seus domínios terri-
revanchismo da França, que reagia à perda da Alsácia toriais e políticos. Seu governo era apoiado pela Rús-
e da Lorena na Guerra Franco-prussiana. Após a queda sia em seu sonho de edificar.a Grande Sérvla, que con-
de Bismarck em 1890, o dÍscurso nacionalista avanÇou trolaria quase toda a região dos Bá1cãs. Dentro do país
dentro do país, identificando a Alemanha como herdei- proliferavam sociedades secretas que defendiam a ini-
ra de uma dupla tradição: a clássica, oriunda da Gré- ciativa governamental por meio de atos violentos' Uma
cia antiga, e a germânica, associada ao Sacro império delas intitulava-se Mão Negra. Em 1914, face à ameaça
Romano Germânico. Surgiram diversos centros de estu- sérvia de atacar a BÓsnla-Herzegovina, então controlada
dos e clubes patrióticos, que insistiam na superiorida- pelo Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco
de da cultura germânica e na necessidade de lutar para Ferdinando, herdeiro do trono austrÍaco, viajou a Sara-
ampliar o poderio nacional. jevo, capital bósnia. Seu propósito era atenuar o nacio-
No início do sécu1o XX, franceses e britânicos tam- nalismo local, por meio da elevação da Bósnia-Herzego-
bém formalizaram uma aliança estratégica ante o avan- vina à mesma condição de Áustria e Hungrla, formando
ço alemão e em favor de uma convivência
harmoniosa um reino triplo. Um jovem membro da Mão Negra atirou
dos dois países dentro do territÓrio europeu e nas áreas contra o arquiduque e o matou.
de dominação colonial. 0 governo da França, interessa- O episódio serviu como pretexto para que o Império

do na aproximação com a Rússia, estimulava emprésti- Austro-Húngaro, apoiado pela Alemanha, pressionas-
mos e investimentos de instituições fiancesas no paÍs se a Sérvia, enviando um ultimato que exigia a inves-

dos czares. A relação entre os três paÍses acabou por tigação do assassinato em 48 horas, e, diante da recu-
gerar a chamada TríPlice Entente. sa dos sérvios, declarasse guerra. A Rússia, temelosa
TrÍplice Aliança e Tríplice Entente definiam espaÇos de que o conflito facilitasse o avanÇo austríaco sobre os
de articulação polÍtica e diplomática, acirravam a corri- Bálcãs, declarou apoio à Sérvia. 0s sistemas de alianças
da tecnológica e armamentista e dividiam a Europa' entravam em ação: a França aderiu à iniciativa russa,
a Grã-Bretanha defendeu o apoio fiancês e a Alemanha
endossou a posição austro-húngara. Começava a Suerra'
i'r .,i l:l:-i.Ü-Üà,W ffi,q'f; iâffi RRA
O Império Turco-Otomano desintegrara-se parcialmente
üsoperâriüseêguerra
desde o século XIX. Entre 1830 e 191-0, BÓsnia-Herzego- Os partidos socialistas, organizados na II.a Internacio-
vina, Bulgária, Grécia, Montenegro, Romênia e Sérvia - nal - associação proletária mundial criada em 1889 -,
antes partes do Império - obtiveram suas independên- dividiram-se diante da guerra. A maioria dos partidos
cias ou passaram para o domÍnio de outras potências' de esquerda aderiu à iniciativa bélica, demonstran-
Na primeira década do século XX, uma rebelião mili- do a força do nacionalismo dentro da Europa' 0 russo

tar nacionalista agravou a tensão interna, que também Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido como Lênin (1870
-1924), foi um dos poucos lÍderes socialistas que se
rncluÍa a luta dos armênios para escapar do controle
turco. A Rússia e as potências do ocidente europeu esti- opuseram à adesão do proletariado à guerra entre as

A Primeira Guerra Mundiat


rroposra: tm um c0ntexto de intensificação da viotência e da intolerância
no Bra^
siI e em diversas partes do mundo, pode ser interessante exptorar
a leitura desse:
depoimentos com os estudantes para articular com o proieto proposto página
à 31.
potências. Em outubro de 1,9IT, ele participou ativa_ Leia
a seguir:
mente da revolução proletária na Rússia e coordenou
"0s mortos ainda estavam ld, seus corpos no
o início do processo de implantação do regime socia-
mesmo lugar e posição de quando havíam morrido.
Iista no paÍs.
Encolhidos, estícados, com os rostos no chão. Aus_
Antes de colocar em prática as primeiras medi_
tríacos e russos, lado a lado. Corpos mutilados man-
das que visavam a mudanças sociais e polÍticas, Lênin
chando o solo. llm austríaco tivera a perna amputada
determinou a imediata retirada das tropas russas da
e seu rosto estava enegrecido e inchado. )utro tinha
o
guerra e assinou, com a Alemanha, o Tratado de Brest_
rosto mutilado, umavisão horrível.llm soldado russo,
-Litovsk, que estabelecia a paz entre as duas potências
e pendurado no arame farpado, estava com as pernas
o fim do controle russo sobre Bielorússia, Estônia, Fin- dobradas sob o corpo. Moscas infestavam as
feridas
lândia, Letônia, Lituânia e Ucrânia. abertas e cheías de vermes. Ainda bem que Anna e
Ekaterina me acompanhavam. Até elas estavam cala-
das, abaladas com o cenárío tanto quanto eu. Esses
A GUERRA DE TRINCHEIRAS 'amontoados', poucas horss antes, tinham sido
seres
Nos primeiros meses de guerra, a movimentação de tro_ humanos, de carne e osso. Homens jovens,
fortes,
pas foi intensa. 0s exércitos alemães avançaram na cheios devida. Avida é demasiadamente
dire- t'ró.gi\.,,
ção da Bélgica, que estava neutra em relação ao conflito. Citaçôes: apud ENGLUND, p. A belezo e o dor: uno histório íntino
Eles temiam ter que lutar simultaneamente em duas fren- do prímeiro Guerra Mundial. São paulo: Companhia
das Letras, 2014. p.2OB-2O7 e 256-257.
tes,afrancesaeamssa.
Para evitar a divisão de esforços, pretendiam ata_
car a França a partir da fronteira belga e ocupar paris
Um massacre em meio à guerra
em poucos meses. A resistência belga e o rápido ataque A vio]ência da guerra não se resumia aos campos de
russo no /ronÍ oriental, porém, impediram o sucesso do batalha. No dia 24 de abril de 1915, o governo turco
plano. 0 avanÇo das tropas germânicas foi contido pelas desencadeou um brutal ataque aos armênios que viviam

forças francesas a pouco mais de cinquenta quilômetros nos territórios controlados pelo Império. intelectuais e

de Paris e iniciou-se uma ionga e dura guerra de trin_ lÍderes políticos partidários da independência armênia
cheÍras, que se arrastou por quase quatro anos. foram executados, as casas dos armênios foram quei-
As condições que os soldados enfrentavam eram madas. 0s homens eram eliminados, as mulheres eram

brutais. Entre 1914 e 1918, eles conviveram, nas trin- violentadas e deportadas, os idosos e as crianças foram
cheiras, com ratos e insetos, contraÍram doenças e mor- enviados a áreas desérticas ou confinados em prisões,
reram em combate. Enfrentavam bombardeios aéreos e sem acesso a água ou alimentos.

rajadas de metralhadoras, participavam de investidas As perseguições prosseguiram por cerca de oito


perigosas e, ocasionalmente, suicidas. anos, vitimaram mais de um milhão de pessoas e provo_

0 desânimo caram a dispersão dos armênios. Os armênios e a maio-


eo desespero geraram diversas revoltas
entre a soldadesca. Muitas vezes, cadáveres de compa- ria dos historiadores utilizam a palavra ,,genocídio', para
nheiros eram usados como escudos nas trocas de tiros. descrever a ação repressiva e reivindicam ainda hoje,
Diversos relatos de combatentes expuseram a barbárie junto ao governo turco, o reconhecimento de que
o epi_
da guerra. Um militar itaiiano anotou em seu diário: sódio foi um massacre intencional e coordenado.

"Ver, de repente, duas bombas explodindo a


cinco metros de você e aínda não saber se está NOVAS ATIANÇAS E O FIM DA
feri_
do. (Depoís do que parece ser uma eternidade, e a
GUERRA
uma distância infinita, ouvir a voz de um camarada,
também comprimido contra o chão, lhe perguntar,' A Itália, originalmente membro da TrÍplice Aliança,
'Monelli, você está ,Estou não atuou militarmente ao lado de Alemanha e Áustria_
ferido?' veificando agora.,)
E então você acha que esse sentimento de graça é ilu_ -Hungria. Manteve-se neutra até 1915, quando passou
sório. Em um ataque de fúria, o médico joga os pratos a apoiar a Entente. 0s Estados Unidos também declara_
do acampamento contra o inoportuno avião.,, ram-se, no princÍpio, neutros e igualmente distantes dos
dois blocos em luta. Durante a campanha pela reeleição
Florence Farmborough, enfermeira inglesa, descre_
em 1916, o presidente Woodrow Wilson (1856_1924)
veu com horror o que encontrou num campo de batalha:
reafirmou sua neutralidade e disse considerar indesejá-

268
ê
Capítulo 1 Guerra e revotução
§

§
E
vel tanto a vitória do militarismo alemão quanto o suces- operários paralisaram as atividades de duas fábricas de
so do despotismo russo. Apesar disso, no inÍcio de 1917, armamentos, em Berlim e Dusseldorf. No inÍcio do ano
a ajuda financeira estadunidense aos paÍses da Enten- seguinte, mais de 400 mil trabalhadores cruzaram os bra-
ços, exigindo, entre outros pontos,
paz imediata e restabe-
te aumentou bastante e, em abrii daquele ano, o país
declarou guerra à Aliança. Oficiaimente, a decisão fol lecimento de liberdades democráticas, com o fim do esta-
uma resposta ao ataque de submarinos alemães a navios do de sítio e a libertação dos presos políticos. Apesar da
estadunidenses que transportavam mercadorias para violenta repressão, os trabalhadores sustentaram a mobi-
a Grã-Bretanha. A entrada dos Estados Unldos na guer- lização. 0s soldados e marinheiros que atuavam na linha
ra, no entanto, tinha motivos mais profundos: o temor de fiente também reieitavam a continuidade do conflito

de que a supremacia alemã preiudicasse suas relações e, em mais de um caso, organizaram grandes deserções.
comerciais com os países do Leste europeu. Em B de agosto de 1918, um Srupo de soldados ale-
Outros países da América seguiram a decisão estadu- mães rendeu-se, sem lutar, às forças da Entente, que con-

nidense e aderiram à Entente. Brasil e Argentina ingressa- seguiram, assim, ultrapassar a linha de defesa alemã e
ram na guerra em1917 e assumiram a responsabilidade avançar em direção à Berlim. Fragilizada pela iminente
de controlar a circulação naval no Atlântico Sul, além de derrota e pela reação interna, a monarquia alemã foi der-
contribuir para o abastecimento das forças que lutavam rubada. Em novembro daquele ano, o novo Soverno repu-
na EuJopa. A guerra assumia definitivamente um cará- biicano assinou um armistício com as potências inimigas.
ter mundial, seia pelos efeltos que provocava em territó- i i'l=,I
rios bastante distantes da Europa, seia pela participação
.i iir
de países de diversas partes do planeta.
A nova coniunção de forças da Entente contribuiu A Primeira Guerra fot o primeiro conflito a empregar

para o avanÇo das tropas fiancesas e inglesas. Ao mesmo ampiamente os avanÇos tecnológicos dos séculos XVIII

tempo, o esforço dos anos de guerra afetava a popula- e XIX: da produção fabril acelerada ao desenvolvimento
política, a fome, as cientÍfico de armas químicas, de novos meios de comu-
ção alemã, que sofria com a repressão
epidemias e as longas iornadas de trabaiho. Desde 1915 nicação e transporte a novos instrumentos de guerra,

ocorriam greves contra a guerra, e, em ianeiro de 1-917, os como o submarino, o tanque e o avião'

) rrNLÂNDrA / x
NoRurcn\ / '

Aliados da Entente
ESCOCIA ; ,

fdimburqo o&
í-^\\ Potências Centrais

f^'-' "I '\


;Onisu ' 'voeor Principai5 oíensiva5
uon ''
tRLAuon
. TN.LATERRA t"o"-'n"lll,a**- t'.",
/',1"-'^-.4rr:-
" ^,, ,rrnÉô,^
lMPERlo D, ,c(
Russo da Entente
Dubrin .f/"*làY
cnrrs j S'"* \ Principais ofensivas
-;'/k:*s,l germânicas

I HOLANDA Progressão máxima


Lgndres OB& \, da Éntente
(leste 1 914,
oeste 1 91 8)

Progressão máxima
Kharkov

il:.:""s,,"5:h"#, das forças


germânicas
(oeste 914,

_k-- -.
1
: §" ,.,,,/J^).^'l"""
FRANÇA ;)à^,.i:J",", nbeii-"t*rF;
l^ 191) ^ leste 1 91 B)

-- dedux
'Boíoedux -i-'tt^'-ff#üo#? nu"uc,uffi'- "--\í /* ãa""u Batalha

1- i-'*^gffi4Jr.rffi'"'\"r-;'o0",,.
;;Y.\., -r,{X*íÀ
*r"&
Batalha com mais

' ..-"'o'u"oo '', ^ f loú*t'Ã'"


de 250 mil baixas
* *#XbaÍoe,
,o*rràl t",s,g--*V . 7g"!*.i'* Base naval

neutros
.
r,'boa
o ""''-;- córseqd ^. uo*rrsffirg1,\§L" ""*" t'__-
Países

Capital
ÉSpANHA d Àr\ \
ORL,, nrany .-
,-- *á- eJ z\)(aLL!-.:
àd* "t+.§-as"-1r1, Ocôn\tántinootd
Ocónítantinopra
rs.Bareares sicília ffiolruffi\","^'lu
ALbAlm í5.;,,,o.,,
.càdu \ /-'ou'".tt.
.cib,artaí,GB) GRECIA / ttueÉnto oroMANo
N fonie: Flaborado cor
Jz ' - base em PARKER, G. Állas

s Creta ;99o. p. i25.

A Primeira Guerra MundiaI

-
0 avião prestava-se a bombardeios ocasionais e, Após o armistÍcio de novembro de 1918, inicia-
sobretudo, ao reconhecimento do terreno em que se ram-se os entendimentos para a elaboração de acordos
desenvolveriam as lutas por terra. 0s veícuios blindados de paz. 0 principal deles foi o Tratado de Versalhes,
permitiam ultrapassar áreas que estivessem sob coman- imposto à Alemanha e assinado em junho de 1919. EIe
do inimigo e romper trincheiras e barreiras militares. determinava que os alemães devolvessem a Alsácia e a
0s submarinos alemães conseguiam disparar torpedos Lorena à França (esses territórios haviam passado para
a quase cinco quilômetros do aivo e, assim, destruir as o domínio alemão no final da Guerra Franco-prussia-
embarcações militares e civis britânicas, enfraquecendo na) e entregassem uma faixa de terra à polônÍa, permi-
o comércio da potência riva1. tindo seu acesso ao porto alemão de Dantzig. O Tratado
0 fascínio que a tecnoiogia assumira no decorrer ainda abolia o recrutamento militar obrigatório e limi-
dos séculos anteriores ganhou nova feição. As máqui- tava as tropas alemãs, eliminando a artilharia privada e
nas agora não se prestavam apenas ao conforto e à pro- os veÍculos biindados e aviões; exigia a desmiiitarização
dução: serviam também para matar. O poeta italiano da Renânla, principal região industrial alemã; retirava
Filippo Tommaso Marinetti QetO O++),que, em 19O9, as colônias e possessões alemãs na Africa e na Oceania;
lançara o Manifesto futurista, admirava os novos inven- impunha uma grande indenização a ser paga aos paÍses
tos e escrevia poemas de exaltação às metralhadoras e à cujos territórios havÍam sido invadidos pelas forças ale-
incrível velocidade da guerra. mãs durante a guerra.
Nem todos, porém, viam com bons olhos os rumos Era a paz dos vencedores, que atribuía à Aiema-
que o desenvolvÍmento técnico assumia. O cineasta nha toda a culpa pelo conflito. Os alemães indignaram-
estadunidense D. W. Griffith (1875-1948)viajou até o -se diante dos termos do acordo, mas o governo republi-
/ronÍ francês para filmar a guerra e decepcionou-se ao cano não podia recusar assiná-1o: a desmobilização de
perceber que a rigidez das trincheiras e a letalidade dos
suas tropas e a profunda crise social e econômica impe-
armamentos impedram o deslocamento das cavalarias diam qualquer ação armada. O acordo de paz gerou,
e as ações heroicas que haviam marcado as guerras do
dessa forma, uma profunda insatisfação popular num
século XIX. Muitos que antes enxergavam na tecnologia país arrasado, que comeÇava a se democratizar após o
a libertação dos homens agora percebiam sua capacida- fim do longo período monárquico. poucos anos depois,
de destrutiva. 0 século XX mal comeÇava e iá corroÍa os alguns grupos políticos aproveitaram-se da sensação de
sonhos do século XIX. humilhação que o povo alemão sentira diante do Trata-
do de Versalhes para defender a ideÍa de que a Alema-
nha deverÍa se reestruturar militarmente e vingar-se -
A PAZ
um desses grupos foi o Partido Nazista.
No inÍcio de 1918, quando o fim da guerra ainda pare-
cia distante, o presidente estadunidense Woodrow Wil- 0 fim dos innpérios
son apresentou, num discurso, os quatorze pontos que 0 encerramento da guerra provocou uma ampla reor-
ele lulgava necessários para a obtenção de uma paz ,,sem ganrzação territorial e política no centro e no Leste da
vencidos, nem vencedores". Entre outros fatores, Wilson Europa. Essas regiões reuniam populações de origem,
defendia o direito de autodeterminação dos povos, a ine- língua, cuitura e religião diversas, com distintos pro-
xistência de qualquer tipo de dominação estrangeira, a jetos nacionais. 0 Império Áustro-Húngaro foi des-
Iiberdade de navegação, a redução drástica dos arsenais membrado e Áustria e Hungria surgiram como paÍses
militares ao mínimo necessário para a autodefesa e a for- independentes. Tchecos e eslovacos, antes submeti-
mação de uma associação de nações, para assegurar a dos ao Império Austríaco, uniram-se sob a bandeira
proteção recíproca e evitar novos conflitos armados. da Tchecoslováquia, que também incorporou a região
Embora a proposta tenha sido bem acolhida pelos da Boêmia (antes pertencente à Alemanha).
iÍderes políticos da Entente, poucos deles acreditavam 0 Império Turco-Otomano foi dividido. Grande
que fosse viável. 0 último ano da guerra e a derrota número de turcos que habitavam a Macedônia foram
cabai da Alemanha fragilizaram a posição mediadora de transferidos para a Turquia. Os armênios que viviam
Wilson e facilitaram a construção de uma paz em que a na Turquia não alcançaram sua desejada autonomia e
vitória da Entente fosse celebrada e a Aliança - especial- continuaram sujeitos a condições precárias, persegui-
mente a Alemanha - fosse duramente punida. ções e ataques.

28 ' Capítu[o ]. Guerra e revolução


-.1
faça',.
ÉrX ser, :,
caderno

(Fuvest-SP) 0s Tratados de Paz assinados ao fim da dicionamentos aos novos Estados do Leste europeu
Primeira Guerra Mundia[ "oglutínarom vdrios povos através dos Tratados das Minorias, o que criou con-
num só Estodo, outorgarom o alguns o status de'povos diçÕes de conftitos entre diferentes povos reunidos

estotois' e lhes confioran o governo, supuserom silencio'' em um mesmo Estado.


somente que as outros povos nocionalmente compoctos b) o surgimento de novos Estados-nações se fez res-
(como os eslovacos no Tchecoslovóquio ou as croatos e peitando as tradições e ínstituiçÕes dos povos antes
eslovenos no lugoslóvio) chegossem a ser porceiros no reunidos nos impérios que desapareceram com a
governo, o que noturalmente nõo aconteceu e' com iguol Primeira Guerra Mundiat.
orbitroriedade, criuram com os povos que sobrarom um c) os Tratados de Paz e os Tratados das Minorias resta-
terceiro grupo de nocionalidodes chomadas minorias, beleceram, no mundo contemporâneo, o sistema de
ocrescentondo ossim oos muitos encorgos dos novos dominação caracterÍstico da Idade Média.
Estados o problemo de observor regulamentos especiois, apesar dos Tratados de Paz estabelecidos depois da
impostos de fora, poro umo porte de sua populoçõo' -i) Primeira Guerra terem tido algumas características
[...] Os Estodos recém-criados, por sua vez, que hovion arbitrárias em relação aos novos Estados-naçÕes do
recebido o índependência com o promesso de pleno Leste europeu, o desenvolvimento histórico destas
soberanio nacíonol, acotodo em igualdade de condiçÕes regiÕes demonstra que foi possível uma convivência
com 0s noções ocidentais, olhavom os Trotodos das harmoniosa e gradativamente ocorreu a integração
Minorias como óbvio quebra de promesso e como provo entre as minorias e as maiorias nacionais.
de discriminoçao." e) os Tratados de Paz depois da Primeira Guerra conse-
ARENDT, Hannah. Ás orígens do totoLitorismo' guiram satisfazer os vários povos do Leste europeu.0
São Pauto: Companhia das Letras, 1999' que perturbou a convivência harmoniosa foi o movi-
mento de refugiados das revoluções comunistas.
A alternativa mais condizente com o texto é:
a) após a Primeira Guerra, os Tratados de Paz estabe- â DL/SPi H7lH8/He
[ecidos so[aparam a soberania e estabeleceram con- â conforme tabelas das páginas 8 e 9.

e
0 proieto da Grande Sérvia, estopim da
Primeira Guerra, não se cumpriu, mas Sér- I
ã
via, Croácia e Eslovênia associaram-se num só ffi Novos países
@ Ren ània desmilitarizada

reino, que posteriormente recebeu o nome de ffi AIsá"iu-Lo,enu {ganho francês)

Iugoslávia. ! E"tudo do surre


[.! Sul doTirol e Áustria (ganhos italianos)
Uma nova Europa emergiu da Guerra, com
clara hegemonia de França e Grã-Bretanha,
Iigadas política e militarmente aos Estados Uni-
dos e à frente da Liga das Nações, organização
Mar cio
internacional oficialmente destinada à preser-
vação da paz.

A guerra e a sociedade europeia


O saldo da Primeira Guerra Mundial foi
sinistro: cerca de dez milhões de mortos, mais
de 40 milhões de inváiidos. Para a geração
que acompanhou o conflito, a palavra "paz"
era usada como sinônimo de "antes de 1914".
.rq
0s tratados do final da guerra proporcionaram
ue" .§
Mar Medileránêo
uma paz bastante precária, dado o desequilí-
-&j
brio interno do continente, a insatisfação alemã
Fonte: Etaborado com base em VIDAL-NAQUET, P.; BERTIN, lÍ/os áretórico. Lisboa; cÍrculo
e a instabilidade das novas fronteiras no Leste.
J.

de Leitores, 1990.

q.
A Primeira Guerra Mundial E

t
Para Freud, a civilização requereria o domínio dos ins- lideranças políticas agressivas e defensoras de mais Iuta e
tintos agressivos dos seres humanos. por meio da fami mais sangue - Adolf Hitler, que havia nascido na Áustria
lia, do sacerdote, do professor e da polÍcia as regras e res- e servido nas tropas alemãs durante a primeira Guerra, é
trições à nossa natureza animal seriam impostas. No o melhor exemplo.
entanto, todos os esforços no sentido de dominar esses 0 médico Sigmund Freud (1856-1939), também aus-
instintos agressivos não haviam tido muito êxito. trÍaco, assistiu à desilusão e ao crescimento do ódio no
Também ruíra a crenÇa nas maravilhas da tecnolo- pós-guerra e, em 1930, diagnosticou o principai proble-
gia e em seu caráter redentor e libertador. Não se conhe- ma enfrentado pelo Ocidente: um " mal-estar na civiliza-
ciam ainda as grandes armas de destruição de massa -
çâo". Para ele, havia uma inevitável tensão entre as pul-
como as bombas atômicas, utilizadas apenas na década de sões humanas e as restrições impostas pela civilização.
1940, durante a Segunda Guerra Mundial -, mas a amos- A cultura (termo que Freud identificava ao de "civiiiza-
tra da Primeira Guerra iá havia extirpado o sonho de que
ção'') exigia o respeito cada vez mais estrito às regras
as invenções tecnológicas implicassem melhoria da con- sociais, reprimindo os instintos irracionais e agressi-
dição humana. vos, e transformando-os parcialmente em sentimen-
Outra ilusão do século XIX - a de que a Europa repre- to de culpa. Em muitos casos - a primeira Guerra havia
sentava a luz da civilização e a garantia do futuro promis- mostrado bem - a agressividade natural não era contida
sor, contra as trevas da barbárie -
mostrara-se igualmen_ pelas convenções culturais e se expressava intensamen-
te falsa. Nenhum grupo do passado ou de outra parte do te, provocando destruição. Passada a guerra, era neces-
mundo havia agido de maneira tão selvagem quanto as tro- sário reafirmar os valores da civilização para impedir
pas que cortaram o continente europeu entre 1914 e 191g. que a irracionalidade prevalecesse.
0s tempos do pós-guerra tampouco pareciam promis- Mesmo que o diagnóstico de Freud fosse correto,
sores ou permitiam quaiquer visão otimista do futuro: a seu alerta não foi ouvido. A Europa de 1930 já convivia
crise financeira afetava boa parte do Ocidente e a ira dos com um Partido Nazista cada vez mais forte, com os fas-
que se lulgavam humilhados fermentava na Alemanha e
cistas italianos no poder e estava a menos de dez anos
em outros países derrotados, insuflando o nascimento de de uma nova guerra total, e ainda mais violenta.

Símbolos da modernidade
-
= 9_

A Estátua da Liberdade foi um presente do


governo francês por ocasião do centenário da ú
índependência dos Estados Unidos, em 1876. &

Liberdade foi uma das palavras mais repetidas -


=
e
desde o século XVIII. A Torre Eiffet, inaugura-
da na Exposição Universal de 1889 em paris no
centenário da Revolução Francesa, é um monu-
mento à sociedade industria[. As duas imagens
são símbolos da chamada "civitização ocjden- Estátuq da Liberdode, anônimo. Torre Eiffel, Exposição
Nova York, Estados tlnidos, 1900. unive rslt' turt::.,lrrL!:.'. r-3-rr:
ta[", que produziu a Prjmejra Guerra Mundia[.

/-ã\-
â conforme tabelas das páginas 8. r
qry,t
/.,;J:+,Nl
Identifique os principais focos de tensão e conflito Íos sociors internos por que o Alemanho passlva,'.
que contribuíram para o inÍcio da primeira Guerra o DL/CF/5picAi H6/H H8/H10/H13/H1s
M undia [. o DL/cF/sp/cA I H7 IHBI Hs lHt5
Compare a visão da tecnologia hegemônica antes da
Caracterize as dificuldades da guerra de trincheiras Primeira Guerra com a visão predominante depoís
a partir dos relatos de pessoas que dela participa- deta. o DL I cF I sp I Ht6I HtT I Hls
ra m. â DL/cF/SpicA/H1 I H2l Hlll H14
Explique a noção freudiana de "mat-estar na cjviti-
Justiíique a afirmação: "O fim do primeiro
Guerro zaçã0". â DL/cFlsp/H1iH23
ocorreu devido às dificuldodes militores e aos confLi-

30 Capítulo 1 Guerra e revolução


1; g.rr,,",, :r:, ,rilrele-r clL e cieia pai-ilciparam. Para ianto, íecorra a [embranças de um possíveI partlcipante da guerra - os registros podem ser
rl1p,i;r1,,:. I.rci,;s desienCent-^s delc, trabalhanclr:-se corn hisiórra oi-ai (veja-se texto sobre histórra orat* íããê:::t'r}:. )

Pocle ser rnteressante consultar os infográfi-

Um Outro Olhar cos organrzados por um iorna[ista, que, cem


anos depois do inÍcjo da guerra, visjtou áreas
envotvidas no coníLjto. Disponívet em: http://
goo.gt/yxM-i34. Acesso em: 30 abr.2016. Vale a pena também pedir o auxítio
oo(a) professor(a) de Língua Portugir-"sa na aná[ise e inierpretação dos iextos

A EXPERIÊNCIA DO HORR0R :J.,:;:ili:,',:?i:;;J,:i?;,:'.Ji',deregistropossÍveideimaexperiênciavivi'


O escritor Ricardo Pig[ia anotou, em seus diários de 1960, riam que a guerra terminasse, me disse, mas ninguém sabia
conversas com o avô que havia Iutado nas tropas itatia- como fazer para colocar um fim neta.0 demoníaco, me disse,
nas durante a Prímeira Guerra e, anos depois, vivendo na é que todos comeÇamos a compreender que as armas que
Argentina, mantinha [embranças e conservava documen- usávamos eram tão mortíferas que nenhum de nós estava
tos relacionados ao conflito. preparado para suportá-[as. E as armas, por si sós, não iam
deter a matança. Cavávamos trincheiras que se inundavam e
"Passei uns dias em Adrogué com o avô Emilio.
depois cavávamos uma segunda fiteira de trincheiras e uma
Pegamos um carro e fomos ao Parque Pereyra Iraola para
terceira fiteira. Mas era inútiI porque, de tempos em tempos,
tomar um pouco de ar.0 avô está sempre de bom humor e
tínhamos que sair em campo aberto. Fez uma pausa: para
faz brincadeiras sobre si mesmo e sobre o resto do gênero
morrer, disse."
humano. A experiência da guerra, tão distante, persiste nele
PIGLIA, R. Los diÓríos de Emilio Renzí: ofios de formación.
como um sonho sonhado na noite anterior. Iguatmente con-
Barcetona: Anagrama, 2015. p.77-78,79, Bo.
fuso, iguatmente sem sentido, ele tenta, de atguma forma, (traduzido petos autores)
construir uma versão coerente. 0 vivido divide-se, para ete,
em duas etapas: o ano que passou na frente, onde foi feri- Ricardo Pigtia (1940-), escritor, ensaísta e diretor de
do e onde viu de perto o horror, e o tempo em que esteve cinema, é um dos ma'is renomados inteIectuais argentinos da
atualidade, com uma obra extremamente diversificada.
lotado no escritório dos correios do Segundo Exército. Foi
aí que teve consciência do que acontecia. Era encarrega-
do das cartas que deviam ser enviadas aos familiares dos =
=
soldados mortos, e também da organização dos papeis e
dos objetos pessoais que eram encontrados na mochita das
vítimas, mortas em combate. Minha opinião é que foi esta
E
segunda experiência que Ihe deu uma visão totaI sobre a
guerra e seu inusitado e crue[ desenvo[vimento."
' [...] 0 que ele chama de'o arquivo' é uma coteção desor-
denada de pastas e caixas com materiais diversos, relacio-
nados à campanha ita[iana na Primeira Guerra. Quando lhe
pergunto como os conseguiu, me responde: 'Todos estavam
preocupados demais com o trabatho de sobreviver nas trin-
cheiras para que se preocupassem com os documentos e os
papeis que eu subtraía para que não se perdessem."'
"Longa conversa com o avô sobre o tema mais recorren-
te nas cartas dos soldados mortos.'Todos anunciavam o fim
próximo da guerra', me disse, e comeÇou uma espécie de [ita-
nia, estaremos juntos no Nata[, esperem-me para a prÓxima Alegoria da guerra, Giuseppe Scalarini. Cartaz
colheita, a guerra não ultrapassará o fim do verão. Todos que- antimilitarista italiano, 1914.

â conforme tabelas das páginas 8 e 9.

Reteia os fragmentos de cartas e diários de partici- Explique a afirmação: "A experiência do guerra, too dis
pantes da Primeira Guerra, citados no capítuto, e os tante, persiste nele como um sonho sonhodo na noite
retacione ao texto acima. onterior. Igualmente cont'uso, iguolmente sem sentído, ele
§ DL/CF/sP/CA I HI I H2l H4 I Hll I H14 tenta, de olguma forma, construír umo versão coerente."

Por que o narrador acredita que o avô sô"teve cons- â D L/cF/s P/CA I H7l Hz I H3

ciêncio do que ocontecio" quando passou a atuar no Como o avô do narrador analisa a re[ação dos sotda-
escritório dos correios? dos com as armas que etes maneiavam?
§ DL/cF/SP/H1lH2lH21 § DL/CF/sP/cA I H16 lH17 I H28

A Primeira Guerra MundiaI


arl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto Comunista
"Um espectro
em 1848. Logo na abertura do texto, afirmavam:
ronda aEuropa- o espectro do comunismo"' No entanto'
nenhum
pudesse ocorrer num
dos autores supunha que a revolução proletária
paÍs agrário e pouco industrializado' 0u seia, o espectro rondava
a

mas esperava-se que sua transformação em experiência hisió-


Europa,
com
rica deveria acontecer, primeiramente, em paÍses industrializados,
movimentooperárioorganizad.oeCapazdeconceberconscientemente
suas ações políticas e armadas.
A Rússia do princípio do século XX era o oposto disso'
Vivia sob um
governava
regime monárquico rigidamente centralizado, em que o czar
autoridades
com poderes plenos e mantinha grande proximidade com
pouco organizados e
religiosas. BOo/o da população eram camponeses,
vivendo em condições Precárias.
ocorreu
Foi exatamente na Rússia, porém, que, pela primeira vez'
proletária vitoriosa e se implantou um regime comu-
uma revoiução
nista. Num texto publicado em 19o2, o líder socialista vladimir
Ilitch
Limpando a Terra Ulianov (Lênin) buscou conciliar o pensamento de Marx e Engels com a
perguntava:
A imagem russa de 1920 mostra Lênin circunstância histórica vivida pela Rússia. Já no título, ele
varrendo reis, religiosos e capitalistas, e " Que fazer?" para tornar possível a revolução proletária no paÍs' E res-
simbotiza o trabalho potítico e mihtar da
pondia: a revoiução deveria ser liderada por uma vanguarda revoiucio-
revoIução-
nária, que orientasse e conduzisse os trabalhadores' mostrando o rumo
a
para o fim do czarismo e para a construção de um regime comunista'
o_
Oconceitodevanguardaeraorigináriodovocabuláriomilitar
(avant-gar-
francês e indicava aqueles que iriam à frente das tropas
migrado pala o
de), abrindo caminhos:.Já no século XIX, o termo havia
mundodapolÍtica,comoumareferênciaaquemorientavaosdemais
sentidos
na busca de alternativas e soluções. Lênin utilizava os dois
guia político e
do termo: a vanguarda revolucionária deveria agir como
como liderança armada.

A REVOLUçÃo DE 190s
episódios
Desde meados do século xIX, a Rússia assistiu a diversos
monárquico dos czares'
de rebelião e a ações armadas contra o regime
Diversos grupos atuaram nos campos do país' Um deles'
chamado "Terra

e Liberdade", defendia a revolução camponesa


como forma de libertar os
Tm Jkmn eqfflllllET trabalhadores do controle aristocrático'
Outro grupo, conhecido como "Vontade do Povo"' recorreu
a ações
3etm0 0T l#f;frIlÍ. II'
terroristas individuais e assassinou, em 1881, o czaÍ Alexandre
Camarodq Lênin limpo o lixo do Terro,
tendosidoposteriormentedizimadopelaviolentarepressãopolíticado
Viktor N. Deni. Litografia cotorida, (1812-
Estado russo. 0 jornalista e pensador russo Aiexandre Herzen
7920.
a comuni-
1B7O) identificava, em artigos publicados no iornal Kolokol'

32 Capítulo 1 Guerra e revotução


dade rural como unidade básica de produção socialista
i:, -'l,t i r1,!,i-:. i, .,!_ .-'ii ti,r.::].'i"
e previa que a revolução socialista Íussa se iniciaria no
Face ao agravamento da crise econômica, os setores libe-
campo. Nicolau Tchernitchevski (1828-1889) foi ainda
mais longe e defendeu a expropriação das proprieda- rais burgueses também se mobilizaram contra a guerra
e organizaram-se no Partido Constitucional Democra-
des rurais particulares e sua transformação em pro-
priedade do Estado, que as distribuiria às comunida- ta. A derrota militar e a assinatura da paz com o Japão,
em setembro de 1905, desmoralizou ainda mais o regi-
des rurais para que elas organizassem autonomamente
me do czar Nicolau Ii, que, diante das pressões, convo-
a produçã0.
cou a Duma (parlamento), sugerindo, com tal medida,
Gradualmente crescia a disposição revolucioná-
que aceitava maior participação política da sociedade.
ria e, embora ainda lhe faltasse articulação e organi-
A estratégia do czar visava também atenuar a mobili-
zação po1ítica mais amplas e eficazes, ampliavam-se
zação revolucionária interna e demonstrar a empresá-
a percepção de que o regime czarista aproximava-se
rios estrangeiros que ele mantinha o controle polÍtico e
do fim. Lênin discordava de muitas ideias dos popu-
militar do país. No final do ano, investidores franceses
listas, a quem considerava utópicos, mas endossava o
princípio da revolução camponesa socialista e o defen- ampliaram o ingresso de capitais e suas atividades na
Rússia, acelerando a recuperação econômica e garantin-
deu durante um congresso do Partido Social-Democra-
do o apoio externo que o czar buscava para restabelecer
ta russo, em 1903.
seu controle absoluto. A repressão polÍtica intensificou-
-.,,'-'
:.,:,'.
'..
' ,,,i '!: .r r :: .. :'
se, a Duma foi esvaziada, tornando-se órgão meramente

A maioria dos participantes do evento o apoiou e consultivo e submetido ao czar, os sovietes foram supri-
seus partidários receberam, desde então, o nome de midos e a censura foi instaurada.
bolcheviques ("maioria", em russo). 0s demais mem- Mesmo sob repressã0, as mobilizações populares
bros do partido (chamados de mencheviques - "mino- persistiram até o início da Primeira Guerra Mundial, em
ria", em russo) acreditavam que era inviável realizar a 1914. A maior parte da população apoiou a iniciativa béli-
revolução proletária sem antes aprofundar o desenvol- ca, mas o arcaísmo das forças armadas russas, que já fica-

vimento capitalista no país, daÍ defenderem a necessida- ra demonstrado durante a Suelra contra o Japão, impediu
de de uma revolução democrático-burguesa como está- que o país conseguisse vitórias slgnificativas nas bata-
gio intermediário antes da implantação do socialismo. lhas contra as bem equipadas e modernas tropas alemãs.
Esses debates teóricos ocorriam em meio a uma Até o início de 1917, mais de um milhão e meio de solda-
crise po1ítica e econômica profunda, agravada pela guer- dos russos haviam morrido na guerra, outro tanto deserta-
ra russa com o Japão, entre 1904 e 1905, pelo controle ra e muitos batalhões sofriam com a escassez de alimen-
da Coreia e da Manchúria. 0 conflito externo exauria as tos. 0 país enfrentava uma situação interna caótica, com
finanças, dificultava o acesso a produtos básicos e colo- crise de desabastecimento, colapso nos transportes e nas
cava soldados e marinheiros em condição deo extremo comunicações e reduzida capacidade industrial, sobretu-
risco, dada a patente superioridade militar iaponesa. do no setor siderúrgico, base da produção de armamentos.
Dentro da Rússia, explodiram revoltas que contes- Cada vez mais clamava-se pelo fim do conflito.
tavam a guerra e a liderança do monarca. No início de
1905, uma marcha pacifista foi atacada pelas forças do
;-.'',; ]."
czar, que dispararam tiros contra a multidão, matando As revoltas voltaram a se intensificar e o czarismo, mais

centenas de pessoas. 0 massacre provocou nova onda uma vez, surgia como o grande responsável pela penú-
de greves e a criação, em São Petersburgo, do primeiro ria enfientada pela maior parte da população. No dia 23
soviete - associação de operários, com a finalidade de de fevereiro de 1917 (pelo calendário juliano, utilizado
promover auxíiio mútuo aos membros durante o perío- na Rússia da época), estourou a chamada Revolução de
do de paralisação. Fevereiro: um coniunto de protestos, Sreves e subleva-
Militares de baixa patente aderiram aos protes- ções, que acabou por derrubar o czar. A Duma assumiu
tos e, na metade do ano, os marinheiros do encouraça- o comando do paÍs, encerrando o regime monárquico
do Potemkin se sublevaram contra as condições de vida e o poder da família Romanov, que Sovernava a Rússia
e trabalho nas embarcações: alimentação estragada e desde o início do século XVII. Instalou-se um Soverno
insuficiente, jornadas extenuantes de trabalho, castigos provisório, liderado, nos primeiros três meses, pelo prín-
físicos, autoritarismo dos comandantes. 0s marinheiros cipe Lvov lrAOl rOzS) e, depois, pelo menchevique Ale-
foram reprimidos com violência. xandre l(erenski (1881-i970).

A revolução socialista na Rússia


0 obf etivo dos mencheviques era a aceleração do ram a liderança da revolução que, nos primeiros dias de
desenvolvÍmento capitalista no país. Para tanto, propu- novembro (final de outubro, pelo calendário juliano) der-
nham reformas que permitissem a modernização econô- rubou o governo e assumiu o comando da Rússia.
mica e industrial e atraíssem mais investimentos estran-
"0 Governo Provisório foi deposto; a maioría de
geiros. Justamente para aprofundar as relações com as
seus membros esta preso. 0 poder soviético propora
potências capitalistas, os novos governantes não aten-
umo paz democratica imediata a todas as naçoes. Ele
deram ao pedido popular e mantiveram as tropas russas
procedera à entrega aos comitês camponeses dos bens
na Buerra. Um documento oficial, datado de 6 de marÇo,
dos grandes proprietarios, do Coroa e da lgreja [...].
afirmava:
Ele estabelecera o controle operario sobre a produção,
"0 governo [...] De sua parte, fara tudo para prover garantirá a convocaçao da Assembleia Constituínte
o exército do necessario para levar a guerra até avÍtorio para a datamarcada [...], garantirá atodas as naciona-
final.0 governo consíderara como sagradas as alianças lídades quevivem na Rússia o direito absoluto de dispo-
que nos ligam às outras potências e respeitaráfielmente rem de simesmas.
os acordos concluídos com nossos aliados." 0 Congresso decide que o exercício de todo o

Apud, FERR0, M. A revoluçoo russo de 1911.


poder províncías é tronsferido para os sovietes
nas
São Paulo: Perspectiva, 1974. p. 108-110. dos deputados, operários, camponeses e soldados,
que terao de assegurar uma dísciplína revolucionóLria
Ao mesmo tempo, uma nova constituição comeÇou
perfeita. 0 Congresso dos sovietes está persuadido de
a ser elaborada, mas o controle territorial e polÍtico peio
que o exército revolucionario sabera defender a Revo-
governo provisório era insuficiente para impedir o sur-
luçao contra os ata.qLLes imperialistas."
gimento de novas revoltas e de organizações paralelas
FERR0, N4. op cit. p.126.
de poder, como os sovietes, que proliferavam pelo país.
0 novo governo trocou o calendário juliano pelo gre-
goriano. 0 Estado e a Igreja foram separados, assegurando
A RHVütÍ,tiÇA* Eü§"CFã§VIQUX a laicidade da esfera pública. Com a assinatura, em maio
Em abril de1917,Lênin conclamou a luta contra o governo de 1918, do Tratado de Brest-Litovsk, a Rússia retirou as
provisório: "Todo o poder aos sovietes". Para o lÍder bolche- tropas que lutavam na Primeira Guerra Mundial. Os con-
vique, as tarefas básÍcas eram: assegurar a distribuição de flitos internos, entretanto, prosseguiam. Os setores polí-
pão para a população faminta, retirar-se da guerra, nacio- ticos e sociais que releitavam a revolução sociaiista dos
nalizar os bancos e realizar ampla reforma agrária. bolcheviques organizaram-se militarmente no Exército
Com o controle da maioria dos sovietes e um partido Branco para lutar contra o novo regime - que se defendia
com quase 600 míl membros, os bolcheviques assumi- com o Exército Vermelho, liderado por León Trótski.

te rãtU i.l e ii:le I i.i o p il i'


I i t al o a iIll r-r 5 t-irc ;-r p I o5.

História Literatura Come 4


qnonds
"Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.
(lech ononoci. riobtchicov jui,

Dienh tvoi posLiédnii prihódit, bur jui.)


'Come Ananás...' é um exemplo
de poesia de luta. ,Jornais dos dias da
Revotução de 0utubro noticiaram que os
marinheiros revoltados investiam con-
tra o Pa[ácio de Inverno cantando esses
versos. É fáciI compreender sua popula-
ridade: o dístico incisívo, de ritmo tão
martetado, à feição de provérbios rus-
sos, fixava-se naturalmente na memória
e convidava ao grito, ao canto."
Homens e mulheres acompanhando soldados que aderiram à causa
SCHNAIDERf4AN, B. et at. Moiokóvski - Poemos.
bolchevique durante a revolução. Moscou, c. !911.
5. ed. São Paulo: Perspectiva, f992. p. f9.

34 eapítulrl X Guerra e revotução


8m1922, as diversas regiões do antigo império cza-
A UNIAO SOVIETICA rista passaram a ser denominadas ünião das Repúblicas
A guerra civil, entre brancos e vermelhos, prolongou-se Socialistas Soviéticas (URSS). A liderança política fica-
por quatro anos e terminou com a vitória bolchevique. va a cargo do Partido Bolchevique, transformado em Par-
Aiém dos russos brancos, os bolcheviques eliminaram tido Comunista Russo. 0s delegados partidários eram elei
resistências anarquistas: o Exército Vermelho massacrou, tos regionalmente para compor congressos que, por sua
por exemplo, o Exército Negro de Nestor Makhno (1BBB vez, definiam o Comitê Central, responsável pelo coman-
-1934), que derrotara os russos brancos na Ucrânia e recu- do da polÍtica e dos assuntos governamentais. 0 Politbu'
sava submeter-se ao controle do Partido Comunista. ro - núcleo principai do Comitê - gradualmente assumiu
Durante o conflito, Lênin implantou o chamado maiores funções, isolando-se no poder e compondo uma
comunismo de guerra, que consistia na completa cen- ampla estrutura burocrático-administrativa.
tralização da produção, que era confiscada pelo Esta-
do e distribuída entre a população. Com o fim do confli
Divergências e disputas
to interno, novas medidas econômicas e políticas foram 0s poucos anarquistas que sobreviveram aos massacres
tomadas, com o propósito de reestruturar a abalada eco- czaristas, à guerra civil e à repressão bolchevique tam-
nomia e implantar o socialismo. 0 Estado assumiu gra- bém temiam os rumos centralizados do novo regime. Em
dualmente o controle da produção e tornou-se o único 1920, Piotr Kropotkin (1,842-1921,) escreveu duas cartas
empregador. 0correram expropriações e distribuições a Lênin, alertando para o risco do fortalecimento excessi

de propriedades rurais e urbanas, Iimitou-se a posse de vo do paitido e do autoriiarismo crescente no paÍs.


bens pessoais ao essencial, a indústria foi nacionalizada. "Mesmo que a ditadura do partido fosse a tática
Ainda em 1921, Lênin implantou a Nova Política adequada para assestar um golpe no sistema capitalis-
Econômica (NEP), que durou sete anos. 0 governo man- ta [...], de qualquer modo é danosa para a criaçao de
tinha o comando financeiro e o gerenciamento geral da um novo sistema socialista. 0 que é necessário sôo ins-
economia, mas autorizava o restabelecimento parcial da tituiçÕes locais, forças locais; mas elas não existem. Em
propriedade privada, para acelerar a produção e propoÍ- vez disto, onde quer que se olhe, só seveem pessoas que

cionar um ctescimento econômico mais rápido. não sabem nada davida real e que cometem os maiores
Proposta: Pode ser interessante discutir com os estudantes o con- erros, que depois sao pagos com milhares de vidas e a
ceito de vanguarda, iermo de origem mititar que migrou para o cam-
destruição de dístritos inteíros. [...]
O partido como vanguarda
[...] sem uma organizaçao a partir de baixo dos
0 Partido Bolchevique desempenhou o pape[ de van- camponeses e operórios, por si mesmos, é impossível
guarda revolucionária, que, segundo Lênin deveria co nstruir uma nov a v íd a. "
guiar a sociedade até o socialismo. Depois da conquis-
Piotr Kropotkin. In: TRAGTENBERG, Maurício. (0rg.). Iextos
ta do Estado, o partido passou a ser controlado por um escolhidos. Porto Ategre: L&PM, 1987. p.177-t81.
grupo restrito de po[íticos. 0s que não se adequavam
às diretrizes desse grupo ou não respeitavam a estrei- Algumas críticas chegavam também do exterior.
ta disciplina e hierarquia interna eram expurgados. 0s Rosa Luxemburgo, que lutava peia revolução socialista
expurgos comeÇaram logo depois da revotução e, em na Alemanha e participara ativamente das mobilizações
muitos casos, representaram prisã0, exítio, internação de 1918 pelo fim da guerra, reclamou da falta de apoio
em campos de trabathos forçados ou a morte.
bolchevique à revolução em outras partes da Europa:
o
"Desde 1905, a Polônia e os países baltícos eram
os focos mais poderosos e seguros da revolução, e o
proletaríado socialista teve nela um papel exemplar.
o Por que é que, em todos estes países, a contrar'
revolução triunfou repentinamente? Desligado da
= -Rússia, o proletaríado foi paralísado pelo movimen-
to nacionalista e entregue à burguesia nacional dos
países limítrofes. Contrariamente ao espírito de uma
autêntica política internacional de classe, que aliás
eles defendiam, os bolcheviques não se esforçaram por
unir forças revolucionárias em todo o terrítório do
as
Terceiro Congresso dos Sovietes. Palácio Tauride, império numbloco compacto [...]"
Petrogrado, ianeiro de 1918.
LUXEN4BURG0, Rosa. A revolução russo. Lisboa; Utmeiro, 1975. p. 5-6.

po cla poiítica e, depois, para o terreno da cuttura.0(A) professor(a) de Artes pode participar
do debate, indicando alguns movimentos artísticos que se apresentaram como vanguardistas. *-
atuais. '
Ãr
Pode, arnda, propor uma reftexão sobre a pertinência ou não do uso do termo nos dias
A revoIucão
-'--- r-- socia[ista
-- na Rússia
I
§

§
A morte de LênÍn, em1924, abriu uma disputa pelo
poder político na União Soviética e acentuou o isolamento A propaganda stalinista
soviético. De um iado, Josef Stálin (1878-1953), que cons-
O stalinismo recorreu regularmente à propaganda para
truiu sua liderança e força basicamente dentro da máquÍ- cetebrar o trabatho e o valor do socialismo. Ela também
na partidária; de outro, León Trótski (1878 1953), líder era empregada na glorificação do líder, apresentando-
-o como homem de grandes qualidades, pai e guia dos
do Exército Vermelho e principal comandante militar da
soviétícos na busca de um futuro promissor. Ele gosta-
revolução. Eles divergiam, sobretudo, quanto ao caráter
va de ser tomado como exemplo de pessoa ativa, enér-
que a revolução socialista deveria assumir. Stálin defen- gica, rigorosa, discreta na vestimenta e atheio a luxos.
dia o "socialismo num só país e que a União Soviética As imagens divutgadas sempre o mostravam com sem-
se fechasse para se fortaiecer, investindo prioritariamen- blante sereno, vigi[ante, olhando para a frente. O artis-
ta Gustav Klutsis desenvolveu a técnica da fotomonta-
te na industrialização constituição de um forte apara-
e na
gem e o regime a adotou rapidamente. por meio do pro-
to militar. Trótski afirmava que a meihor forma de defen- cedimento de "cortar e colar", a figura do líder aparecia
der a revolução era expandi-la para outros povos e paÍses: associada ao avanÇo industria[, às conquistas esporti-
a "revolução permanente". 0 grupo de Stálin prevaleceu vas e bélicas, a [emas, cores e símbolos oficiais. A foto-
e Tróstski, perseguido pelo opositor, foi forçado a se exilar. montagem ajudou, ainda, a atterar imagens históricas.
Em foios da época da revo[uçã0, por exemplo, as figuras
de antigos líderes expurgados eram apagadas ou troca-
üs planms qxnínquenaís
das por imagens de outras pessoas.
A partir de 1928, Stálin eliminou a NEP e implantou o pri-
meiro de uma série de planos quinquenais - planificação Sfá/ln, Gustav Ktutsis. Cartaz/fotomontagem, 1932.
que estabeiecia metas e prioridades da produção agrícola
eindustrial para um período de cinco anos, com o objetivo
=
de potencializar o crescimento econômico.
0 primeiro período, atê 1932, pretendia criar os fun-
E
damentos da economia socialista, com a coletivização
da agricultura e o estímulo à indústria pesada, à produ- i

ção de energia e de armamenios, à eletrificação e ao setor


de transportes, sobretudo ferroviário. A baixa produção
de bens de consumo provocou forte desabastecimento
no comércio, inclusÍve de itens de vestuário e uso cotidia-
no. A maioria das pessoas dispunha de apenas um par de
sapatos e as roupas de todos se assemelhavam. Nos cam-
pos, o Ímpacto do plano quinquenal foi maior. A coletivi
zação da produção implicava a junção de terras, rebanhos
e instrumentos de trabalho. A adaptação dos trabalhado-
res foidifÍcil: muitos preferiam abater seus animais a cedê-
-los às cooperativas de campones es (kolkhozes) ou às
propriedades rurais do Estado (sovkhozes) e rejeitavam
as novas técnicas e máquinas introduzidas na produçã0.
0 regime, por meio do Partido, combateu a resistência dos
ü papel do Estado e o trabalhm
camponeses, matando ou deslocando milhões de pessoas 0 regime soviético implantou uma rigorosa ética do tra-
para campos de trabalhos forçados e áreas industriais. balho. Todos deviam dedicar-se à produçã0, e o bom
0 segundo plano quinquenal (t933-r937) completou desempenho no trabalho era identificado à adesão ao
o processo decoletivização da agricultura e ampliou ainda novo modelo de sociedade. inúmeras campanhas ofi-
mais os investimentos na indústria, que intensificou a ciais enfatizavam a lustiça social representada peio
produção de metais e armas e passou a voltar-se também socialismo e exigiam compromissos e sacrifícios dos tra-
aos bens de consumo. Quando o país entrou na Segunda balhadores na construção da nova ordem. A baixa pro-
Guerra Mundial, em 1941, o terceiro plano estava em exe- dutividade de uma indústria ou setor e as discordâncias
cução e os resultados dos dois primeiros eram notáveis: a em relação às ordens vindas do Partido eram encaradas
produção de aço crescera quase cinco vezes, a extração de como traição nacional. Diversos gerentes e administra-
carvão trÍplicara e a União Soviética havia se tornado uma dores foram ievados a julgamento, acusados de sabota-
potência industrial e militar. rem a produção, pois as fábricas em que trabalhavam
não haviam alcançado as metas estipuladas.

36 eapítu{o I Guerra e revolução


Frrofr-.5u*t1ar,, Noiivro 0 ho,item oLte almavo as aticncit-cs. o escrito- cui:;r-ro ,-cl:arci; 1j;;irra
oierece rrnre inteie ..,s;:irie discussão acerca cle Ranrón ivcicaoe i ao a-iicrrial'siia i:rrgr..:i,: : , -
n.irios cla Unrão Sovióiica, cla Guerra Cirril !spanhoLa, clc f L, -..r e dc qrri;c 1.. I r,i- r tL lil-á).ii{.o
lho ou da famíiia, o avanço do socialismo e as imagens dos
líderes polÍticos. As artes visuais privilegiavam um figura-
tivismo em que braços, mãos e pés de trabalhadores eram
REATISMO SOCIATISTA
engrandecidos, para destacar sua atividade profissional.
Digite o endereço abaíxo na 0 emprego de cores era iimitado (basicamente vermelho,
barra do navegador de internet: preto e branco) e se assemelhavam às utilizadas nos car-
//goo.g l/ pM B kyQ. Você pode
h t t p,
tazes oficiais.
também tirar uma íoto com um Atenção para a sé-
rie de pinturas re-
apLicativo de QrCode par:à saber
tratando Lênin e
ü assassímetffi ete Tr&tslqi
mais sobre o assunto. Acesso em:
Stálin em ambienta- Perseguido por Stálin, Trótski saiu da União Soviética
30 abr.2016. Em ingtês. variadas.
ções
,l
l em1929 e vÍveu em vários países até asilar-se no Méxi-
co, em 1936. Foi 1á que, quatro anos depois, foi assas-
0 Estado soviético esmagou a oposição e suprrmru as sinado pelo espanhol Ramón Mercader, que agia sob
divergências dentro e fora do Partido. Até a segunda meta- ordem da po1Ícia stalinista.
de da década de 1930, diversos participantes da revolução Mercader havia entrado no México com nome falso
de1917 haviam sido executados ou forçados a se exilar. e se aproximara de Trótski, chegando a frequentar a
A vida privada também sofreu os efeÍtos da nova lógi casa em que o revolucionário russo moÍava. No dia 20
ca disciplinadora e centralizadora. 0s hábitos diários, os de agosto de 1940, Mercader atingiu a cabeça de Tróts
costumes sexuais, as relações familiares e os rituais de ki com uma picareta. Testemunhas afirmam que Trótski
sociabilidade cotidiana transformaram-se e se enrijece- ainda conseguiu reagir e falou aos seguranÇas que pren-
ram. Desapareceram manifestações públicas de qualquer deram o assassino para que não o rnatassem, pois "esse
discordância, reprimidas peia censura ou pelo temor de homem tem uma hístó ri a p ar a contar" . E1e j amais a contou.
denúncias e perseguições. Depors de condenado e preso no México por vinte anos,
transferiu-se para a União Soviética, onde foi condeco-
A cr"cltrr)-ra smeÍa}ista rado como herói nacional e morou mais de dez anos. Na
Desde a vitória da revolução, houve um esforço de ampliar metade da década de 1970, mudou-se para Cuba e, pro-
o acesso à produção cultural. Ao mesmo tempo, o Parti- tegido por Fidel Castro, lá viveu até a morte, em 1978.
do assumiu o controie de quase todos os setores da cultu-
ra: música, teatro, literatura, artes visuais, arquitetura, os
meios de comunicação e, depois, o cinema passaram a ser
orientados ideológica e politicamente pelo Partido. Valori-
zava-se a funcionalidade e a capacidade comunÍcativa das
atividades cuiturais. Preocupações formais e experimenta-
lismo eram rejeitados, tachados de "arte burguesa". A cen-
sura atuava com rigor, e artistas que não se adequassem
aos princÍpios do Partido eram perseguidos.
Entre as décadas de 1930 e 1960, prevaleceu o cha-
mado realismo socialista, de clara feição propagandís-
tica. A música devia voltar-se a formas épicas e de fácil
compreensão pelos ouvintes. Na pintura, na escultura ou
na literatura, os temas principais eram o mundo do traba- Retrato de Leon Trótski, c. 1935.

S conforme tabetas das páginas B e


r;;iri,:
9 : .' I r\,r
t-- _tryiij.(j
,::

Como Lênin concebia a revoIução proletária na Revolução Russa é o acontecimento mais importante
Rússia? § DL/cF/sp/H9/H1o/H11/H13 do Guerro Mundiol" . & DL/sp/cA/H7lH9llts

Exp[ique a importância do pensamento revotucio- Identifique os principais objetivos da NEP e dos


nário russo do século XIX e da Revolução de 1905. p [a n os q ui n q ue naís. § DL/CFlSp/CA/HB I Hl1I H7BI H2o
& DL/CFlSP/CA I HI I Hlo I Hl1 I H13 Caracterize a propaganda política e a produção cu[-
Justifique a afirmação de Rosa Luxemburgo: ",4 turaI na União Soviética. § DL/CF/Sp/H3lHslF'tTlH,tslH2L

A revotução socia[ista na Rússia


expressão "América Latina" surgiu em meados do século XIX e, a
princípio, indicava as áreas de colonização espanhola do continente.
0 adjetivo era uma forma de diferenciar uma parte da América que
não pertencia aos Estados Unidos. Para alguns dos autores que difundiram
seu uso, nos primeiros anos do século XX, era ainda uma forma de releitar
qualquer controle estadunidense. Aos poucos, a expressão expandiu-se e pas-
sou a ser associada também ao Brasil e a países da região que receberam colo-
nização francesa, inglesa ou holandesa, como o Haiti, a Jamaica e o Suriname.
"América Latina" não foÍ o único termo criado para designar a AmérÍca que
náo ê America (sem acento, em ingiês, significando Estados Unidos). No século
XIX, o poeta maranhense Sousândrade usava "Transamérica". 0 cubano José
Poffírío Díaz torna-se 1876 MartÍ preferiu "Nossa América". Expressões como Ibero-América, Afro--Améri-
presidente da República, v
inaugurando o"Porfiriato"., ca ou AmerÍndia são também empregadas para se referir aos diversos povos e
Francisco ly'adero 1908 culturas que participaram da formação das nossas sociedades. "América Lati-
assume a liderança naY
na", porém, acabou por ser aceita como a maneira mais ampla, capaz de repre-
oposição a Porfírio Díaz.
sentar a extrema diversidade desse pedaço da América.
Cresce o desconientamento 7909
aôm PorItflo utaT- Y

. Levantes camponeses.

Emiliano Zapata tidera 191O A DITADURA DE PORFÍNIO OÍAZ


movimento camponês v
de ocupação de terras
Situado imediatamente ao Sul dos Estados Unidos e na porção mais ao norte
em Morelos, sul do México. do que chamamos de América Latina, o México enfrentou sérias disputas e
Queda de Porfírio Díàz e chegada 1911 conflitos por terras desde o período colonial. Durante a luta pela independên-
ao poder de Franciscd Mádêro. Y
cia, algumas lideranças, como os padres Miguel de Hidalgo (1753-1811) e José
Zapata proctama
o Ptano de Ayala. MarÍa Morelos (1765-1815), defenderam a distribuição de terras para campo-
Assassinato de N4adero t9!3 neses e comunidades índígenas, mas foram derrotados e assassinados. Quan-
e chegada ao poder Y
do o México se tornou um paÍs definitivamente livre do domínio metropolita-
de Victoriano Huerta.
no, persistia a aguda concentração de terras em mãos de um grupo restrito e
Queda de Huerta. 7974
i ' Venustiano Carranza
Y extremamente poderoso de grandes proprietários.
No decorrer do século XIX, essa situação foi ainda agravada. 0 paÍs per-
Entra em vigor constituição com 7977 deu quase 4Oo/o de seu território numa guerra com os Estados Unidos, no final
forte caráter nacionalista. ?
da década de 1840. AIém disso, os liberais mexicanos, interessados em ace-
7979 lerar o crescimento econômico e construir as bases de um capitalismo nacÍo-
Assassinato de Zapata. ;'-'
nal moderno, transformaram terras da Igreja e dos grupos indígenas em áreas
7920 de plantio voltado à exportação e espaÇo de atuação de investidores, muitos
Pancho vilta depõe as armas.
deles estrangeiros.
7923 0 conservador PorfÍrio Díaz (1830-1915) chegou à presidência, pela primeÍ-
Assassinato de Pancho Villa. ;- -'
i- ra vez, em 1876 e estimulou o processo de expropriação das terras de pequenos
Lázaro Cárdenas assume a 7934 proprietários e de comunidades indÍgenas e camponesas. No plano externo, seu
presidência e dá jnícío a um Y
plano de reforma agrária. governo pretendia aproveitar o crescimento da demanda por matérias-primas
E criada a or3aaizaÇão 7994 num mercado internacional movido pela industrialização acelerada.
guerrilheira Exército Zapatista de Y
Em sucessivas reeleições, marcadas por fraudes e perseguições políticas aos
r'Libertação Nacional (EZLN)'
'
opositores, Díaz manteve-se na presidência, quase ininterruptamente, até 1911.
Nesse perÍodo, facilitou o ingresso de tecnologia e capitais estrangeÍros no país.

38 l Capítuto 1 Guerra e revotução


*
0s setores de transportes e comunicações foram incre- Em seu progÍama de 1906, conclamava:
mentados e modernizados, facilitando o deslocamen- "Mexícanos: Escolham entre o que o despotis-
to de mercadorias em direção aos portos e ao exterior. mo oferece e o que lhes propõe o Programa do Parti'
Empresas estadunidenses e canadenses adqulriram do Liberal. Se preferírem o grilhao, a miséria, a humi'
grandes porções de terras e passaÍam a atuar no setor lhaçao frente aos estrangeíros [...], apoíem a Ditadura,
de mineração e na agricultura. A indústria leve cresceu, que lhes proporcíona tudo isso; se preferirem a liber-
sobretudo na região Norte do paÍs. dade, a melhora econômica, a díç1nífícaçao da cida-
Internamente, as ações de Porfírio visavam ampliar dania mexicana, avída altiva do homem senhor de si
o poder e a influência dos latifundiários, empresários e mesmo,venham para o Partido Liberal [...]."
banqueiros, construindo uma base polÍtica que também 'Programa det Particlo LiberaL . Apud CÓRDOVA. Arnaldo. lo ídeologío
de lo Revolucíón Mexícono.Cidade do f.4éxico: Era, 1985. p.426 427.
contava com o endosso de lideranças da lgreja catóiica.
0 movimento operário, que crescela juntamente com A repressão poIítica não rmpedia também que o
a industrializaçã0, era rigidamente reprimido e greves movimento operário, alimentado por ideias anarquis-
e protestos eram contÍdos com violência. A principal tas e socialistas. organizasse sucessivas Breves e mani-
atuação do aparato armado do porfiriato, porém, ocorria festações contra a ditadura e por melhores condições de
no campo. Camponeses e indígenas eram mantidos sob trabalho nas fábricas e nas minas. 0s sindicatos e fede-
contínua vigilância por tropas ofÍciais e pelos rurales, raçÕes operárias divulgavam suas propostas em iornais
Brupos paramililares de apoio ao regime. e panfletos que circulavam rapidamente nas regiões de
concentração industrlal, no Norte do México.
§eseüc?temtamemtG e resistêneia
Camponeses e indÍgenas agitavam-se no Norte e,
No princípio do século XX, um grupo de intelectuais
especialmente, no Sul do paÍs. Rejeitavam os recruta-
fundou o Partido Liberai, que reunia diversas tendên-
mentos para trabalhos em grandes propriedades, exi-
cias políticas contrárias ao porfirismo. 0 programa do
glam a revogação de leis que autorizavam o confisco de
novo partido mostrava alguns dos descontentamentos
terras de pequenos proprietários endividados e o apoio
presentes na sociedade mexicana. Entre outras plopos-
oÍicial à expropriação das terras comunais.
tas, o PL defendia: fim da reeleição, limitação de tama-
Setores liberais burgueses também reagiam ao por-
nho das propriedades rurais e da influência econômica
firismo. No final da década de 190o, Francisco Madero
estrangeira, nacionalização dos bens imóveis da Igreja,
(1873-1913) encabeçou um movimento pelo fim da reelei-
distribuição de terras para os camponeses, proteção às
ção, que permitia a persistência de DÍaz no poder. Parte da
comunidades indígenas, criação de uma legislação tra-
burguesia mexicana desejava a democratização do paÍs e
balhista para a cidade e o campo, melhorias no sistema
rejeitava a concentração fundiárÍa excessiva, que pratica-
educacional.
mente suprimira as pequenas propriedades rurais.

A pintura muralista e a ã

Revolução :
David Alfaros Siqueiros (1896-1974)
representou, criticamente, o México de
-
J

Porfírio DÍa2.0 presidente pisa sobre a q

Constituição, enquanto ricos se divertem.


Ç

Do porfirismo à Revolução:
Porfírio Díqz, ministros e cortesõs,
David Atfaro 5iqueiros. Pintura
acrílica em madeira, 1957-1965.

A Revolução Mexicana
A HORA DA REVOLUÇAO A Constituição de tgLT
Em 1917, uma Assembleia Constituinte aprovou a nova
Em 1910, Madero candidatou-se à presidência do Méxi-
Constituição mexicana. A Carta reduzia a interferência
co, com uma plataforma baseada na crítica ao autorita-
da Igrela, tornando o ensino laico e atribuindo ao Esta-
rÍsmo e à reeleição. Recebeu ampio apoio das classes
do a responsabilidade pela educação escolar. Confirma-
médias, de pequenos industriais e comerciantes e per-
va o prevalecimento das propostas liberais, ao reafirmar
correu o país, falando em comÍcios que reuniam grande
quantidade de pessoas. o direito à propriedade privada e estimular as ativida-
des produtivas voltadas ao mercado. Mas a Constitui-
0 governo mexicano prendeu-o acusado de inci-
tação à rebelião. Mesmo afastado da campanha, con- ção também acolhia parcialmente as reivindicações dos
setores populares. EIa estabeleceu um conjunto de leis
tinuou candidato e foi derrotado por PorfÍrio Díaz nas
que limitavam as jornadas de trabalho e regulavam o
fraudulentas eleições de junho. Quatro meses depois,
trabalho infantil e feminino, além de estabelecer direi-
Madero divulgou o Plano de San LuÍs de PotosÍ, um
tos, como o descanso semanal remunerado e a partici-
manifesto em que declarava não reconhecer os resulta-
pação dos trabalhadores nos lucros das empresas.
dos eleitorais e conclamava à revolução:
A principal novidade da Constituição vinha no arti-
"[..] no dia 20 de novembro, a partir das seís da go 27, que tratava do setor rural. Embora não determi-
tarde, todos os cidadãos da Repúblíca pegarão em nasse a eliminação total da grande propriedade, a Carta
armas para arrancar do poder as autoridades que definia casos em que os latifúndios seriam expropria-
hoje governam." dos e divididos (terras improdutivas ou da Igreja), res-
"Plan de 5an LuÍs de Potosí" (5/10/1910). Apud CÓRDOVA, tabeiecendo o regime de pequenas propriedades. Criava,
Arnatdo. La ideologío de Lo Revolución Mexicano.
ainda, uma nova forma de uso comunal da terra, em que
Cidade do México: Era, 1985. p. 432.
famílias de camponeses receberiam terrenos, podendo
Na véspera do dia marcado para o início da Revolu- usufiuir deles em caráter vitalÍcio e hereditário.
ção, o anarquista Ricardo Flores Magón anunciava, nas 0 efeito da implementação do arÍígo 27 foi imenso.
páginas do jornal Regeneração, a iminência da luta: Até os anos 1960 quando cessaram as distribuições de
terras, quase 50 milhões de hectares haviam sido entre-
"Quem teme a Revolução? Os mesmos que a pro-
gues a camponeses -
milhões apenas no governo Láza-
18
vocoram; os que, com sua opressao ou sua exploração
ro Cárdenas, entre 1934 e 1940. Muitas das famÍlias e
sobre as massas populares fizeram com que o deses-
comunidades que receberam essas terras, no entanto, não
pero se apoderasse dasvítimas de suas ínfâmias; os
conseguiram mantê-ias, pois em raros períodos contaram
que com a injustiça e o roubo sublevoram as conscíên-
com apoio governamental para o desenvolvimento da
cias e fizeram empalidecer de indiqnação os homens
produção. Legalmente, essas terras não podiam ser vendi
honrados da Terra."
das, mas em inúmeros casos foram realizadas transferên-
fLOnfS "La revolución" (19ltrlLgto).
l,,JRCÓt't, Ricardo.
La Revolución Mexicano. Cidade do México: Griialbo,lg7o. p. 46. cias informais para grandes proprietários, que depois con-
seguiram, na Justiça, formalizar a propriedade.
As tropas camponesas de Pascual 0rozco (1882-
-1915) e Francisco "Pancho" Villa (1BZB-1923), no
z
d
Norte, e os indÍgenas de Morelos, liderados por Emilia-
E
no Zapaia (1,879-1,919), aderiram à ação, assim como
mineiros e operários. 0 México se rebelava.
ú
Porfírio tentou conter os rebeldes, mas rapidamen-
I
te percebeu a dificuldade de sufocar um movimento
que contava com represeniantes de distintas regiões e
ü
classes sociais. Em maio de 1911, renunciou à presidên-
cia e fugiu para a França. z
Um governo provisório tomou posse e convocou
novas eleições presidenciais. Em outubro daquele
ano, Madero, candÍdato único, foi eleito presidente do
Feudolismo porfirista, Juan 0'Gorman. Pintura mural, 1973.
México. (detalhe)

40 CapÍtulo 1 Guerra e revolução


J! il,ltr; * Í tr ::j "rrrí:;t{:1 iL {i É::

História ,r :,: Atualidades


Zopato e o
Zapata e Villa não endossaram as mudanças trazidas
Exércita de Libertação Nocionol
pela Constituição de 1917. A Divisão do Norte, porém,
Durante o processo de constituição do NAFTA (Tratado
estava excessivamente fragilizada e não tinha mais con-
Norte-Americano de Livre Comércio - btoco que reúne
Canadá, Estados Unidos e México), o governo mexicano diçÕes de obter vitórias significativas. Em 192O, Villa
aceitou atterar atguns pontos de sua Constituição: entre assinou a rendição e manteve-se fora da vida poiítica.
eles, o artigo 27, que dispunha sobre o regime de pro- Três anos depois, ao tentar voltar a participar dos deba-
priedade rurale simbolizava a principaI conquista dos
tes mexicanos, foi assassinado. Era o fim da trajetória
camponeses que participaram da Revo[ução Mexicana.
de um revolucionário singuiar: antes da Revolução, ele
0 NAFTA entrou oficiatmente em operação no dia
1.0 de ianeiro det994. No mesmo dia, um grupo arma- havia sido trabalhador rural e bandoleiro. Analfabeto,
do, intitutado Exército Zapatista de Libertação Nacionat, teria aprendido a ler durante a luta. Sem jamais ter rece-
ocupou dezesseis municípios da região de Chiapas, SuI bido formação milÍtar, desenvolveu estratégias de ação e
do México, e [ançou um comunicado, declarando guerra
deslocamento de tropas que foram estudadas por milita-
ao Exército. 0 EZLN rejeitava a mudança constitucional,
reivindicava "trabatho, terra, teto, alimentaçã0, saúde, res durante todo o sécu1o XX.
educaçã0, independência, democracia, [iberdade, lusti- Zapata manteve o controle do estado de Morelos até
Ça e paz" e se apresentava como herdejro de uma longa ser assassinado, em 1919. Suas tropas assinaram trégua
tradição de [utas sociais no México: com o governo sulista e se retiraram da luta. Manteve-se
"Somos produto de 500 anos de [uta: primeiro
contra a escravidã0, na guerra de Independência contra
fiel a seu objetivo- a luta pela terra - sempre e acabou por
a Espanha encabeçada pelos insurgentes; depois para se transformar no seu personagem mais conhecido e cele-
evitar sermos absorvidos peto expansionismo estaduni- brado da Revolução Mexicana. 0 escritor Octavio Paz defi-
dense; em seguida, para promutgar nossa Constituição niu a centralidade da figura de Zapata:
e exputsar o Império Francês de nosso solo; depois, a
ditadura porfirista nos negou a aplicação justa das leis "Quase tados os programas e manifestos dos gru-
de Reforma e o povo se rebetou criando seus próprios pos revolucionários aludem à questao agraria. Mas
lideres; assim surgiram Vitla e Zapata, homens pobres só a Revoluçeto do Sul e seu chefe, Emíliano Zapata,
como nós, a quem se negou a preparação mais etemen- enfrentam o problema com clareza, decísão e simplí-
tar, para assim uti[izar-nos como bucha de canhão e
cidade. [...] 0 tradicionalismo de Zapata mostra a pro-
saquear as riquezas de nossa pátria, sem importar que
estejamos morrendo de fome e enfermidades curáveis, funda consciência históríca desse homem, isolado em
sem importar que não tenhamos nada, absolutamente seu povo e em sua raça. Seu isolamento, que nao lhe
nada, nem um teto digno, nem terra, nem trabalho, nem permítiu ter acesso às ideias dos jornalistas e rabulas
saúde, nem alimentação, nem educaçã0, sem ter direito da época, sempre em busca de generais paro ossesso-
a eteger [ivre e democraticamente nossas autoridades, rar, uma solidao de semente fechada, lhe deu forças e
sem independência dos estrangeiros, sem paz nem jus-
profundidade para cheqar à simplesverdade."
tiça para nós e nossos fithos.
Subcomandante N4arcos e Exército Zapatista de Libertação
Nacjona[. A revoluçoo ínvencível: cortos e comunicodos.
,,.,.0,1', 3jill'i;?Jliíi :;' i'r;E:: ffZ
0rganização: l4assimo di Felice e CrjstobaI Munoz.
São Paulo: Boitempo. 1998. p. 39 e 41.
,ri Lr!-* ii;.: iir:i;l-:iã;Ç;ã,ü
A Revolução Mexicana gerou inúmeras representações
artÍsticas durante e depois dos anos de luta. Ainda em
1915, o escritor Mariano Azuela (tglZ-tSSz) publicou o
romance Los de abajo, cula trama mostra os contrastes
entre ricos e pobres durante a Revolução. Um ano antes,
o lornalista estadunidense John Reed (f8BZ-fgZO) havia
lançado México rebelde, um longo relato de sua convi-
vência com os soldados de Pancho Villa. Entre os muitos
livros escritos posteriormente ao conflito, merece desta-
que o roman ce A morte de Artemio Cruz (1962) , de Carlos
Subcomandante Marcos em manifestação por mais Fuentes (tSlS-ZOtZ), que repassa a história do México a
direitos dos imigrantes latino-americanos que vivem partir das lembranças confusas e agônicas de um ex-par-
nos Estados tlnidos. Cidade do México, maio de 2006.
ticipante da Revolução.

A Revolução Mexicana 4
0 artista José Guadalupe Posada (r85z t9r3) acom- 0 material fotográfico relativo à luta é bastante exten-
panhou os primeiros anos da Revolução e expressou a
so e o principal responsáveI por isso foi Agustín Casa-
tensão e os contrastes das lutas em gravuras que sola (1874-1928). mistu-
ravam marcas contemporâneas com elementos míticos
do México pré-colombiano. A pintura muralista, desen-
volvrda, entre as décadas de 1920 e 1940, por artistas
como Iosé Clemente Orozco (1883-1949), David Alfaro I fOfOfeCn NACIONAL DO
Siqueiros (18961924) e Diego Rivera (rsa0-tosz), pri i uÉxco
vilegiou a temátÍca social- e- --r--"- '--* o- -*Õ*^
representou "
lugar da Revo-
]I Dígite
luqào na história do México. por meio de um estilo -,-"que ' '- doo, endereço
,barra - abaixo na
:__^r-_í- :,,r,- . , , surrealismo e do realismo socia- i navegador de internet:
incluía influências do
: //g oo. g l/tV U e 5e. Você pode
h ttp
iista. A pintora Frida I(ahlo (1907-1954) relembrou, em
também tirar uma foto com um
diversas relas, a açào feminina naRevolução. ,oi,r",r. o. àãr.
são |I *ri, sobre o assunto. o.ã
,r0.,.
Na música, a Revolução divulgou canções que
Acesso em:
lembradas até hoje, como "la cucaracha" . A fotografia
| :o uor. 2016. Em espanho[.
talvez seja uma das artes mais associadas à Revolução. \ '
_ _
Êf*feSS.tlitli,: rri,::e jilr len,i.ti;ttc.i05 eti.udetiÊ:: -.!r .. ,ir . it:raaaiar j,iii:.,]] :, ta

AS mUlhgfgs feVO[UCiOnáfiaS i..,:,...-,,í,:: ,,:.::ili]rji!r.-iiT:r'r. .i r':- r,.t ;r:r,,;li,r,.,;,::, , ,

v,:ILti,ãl ': L]!': re L0Dtri a rjÊLtr; t, , L ,. ,,,


A Revotução mobi[izou toda a sociedade mexicana por
retirado de uma canção que cetebrava a coragem e a força de
quase uma década e envotveu homens, mulheres e crianças. uma revolucionária. Nem todos os objetivos das mulheres
Todo o cotidiano foi alterado e a participação polÍtica femi-
foram atingidos. A Constituição de 1917 não introduziu o voto
nina ampiiou-se bastante. Antes da Revoluçã0, as mulhe- feminino, nem aprovou a proposta de pena de morte para
res atuavam no ensino, no trabalho fabril e na agricuttura. estupradores. Mas determinou a equiparação salarial entre
ALgumas, também, trabaIhavam na ímprensa e se organi- homens e mulheres e criou a ticença maternidade (um mês
zavam em torno de reivindicações de melhoria das condi- depois do parto).
ções da muther e de questionamento da hegemonia mascu-
lina.0 tema apareceu, ainda,nos escritos de Ricardo Ftores
Magón, fundador do Partido Liberat e pensador anarquista. E
Em setembro de 1910, dojs meses antes da explosào revo-
lucionária, ete publicou um artigo em que afirmava que a z
piena revotução dependia da participação feminina e que a
q
luta socialenvolvia a luta pelos direitos das mulheres:

"0s homens e as mulheres sofrem igualmente sob a tira-


nia de um ambiente político e sociaI que está em totaI desacor-
do com os progressos da civi[1zação e as conquistas da fitoso-
fia. Nos momentos de angústia, deixem de levantar os olhos -
para o céu; Lá estão os que mais contribuíram para torná-[as
E
escravas eternas. 0 remédio está aqui, na Terra, e é a rebelião."

FL0RES N4AGóN, Ricardo. "A [a mujer', (2419lr9lo).


Lo Revo[ución Mexicono. Cidade do México: Grijalbo,19Z0. p.45.
Do porfirismo à Revoluçdo: o povo pego em ormos, David
Durante a Revoluçã0, quase todas as forças em Iuta
Alfaro Siqueiros. Pintura acrí[ica em madeira, 1957-t965.
incluíam mulheres em suas fileiras. As revo[ucionárias eram
(deta the)
muitas vezes chamadas de "sotdaderas" ou "Adetitas" - nome

§ conforme tabelas das páginas B e 9.

Caracterize a polítÍca agrána durante o porfirismo. "Quem teme o Revoluçõo? 0s mesmos que 0 provocl-
§ DL/sP/H7lH11 ro m" . At DL/sp/HUH8/H10/H13

Identifique algumas diferenças entre as propostas ê Por que o Exército Zapatista de Libertação NacionaI
revotucionárias de Francisco Madero e Emitiano se considera herdeiro das Iutas de Vitta e Zapata?
za p ata. § D L/c F/s p/cA I H8 I Hs I Hlo I Ht3I HlsI H22 § DL/CF/sp/cA/HB/H9/H10/H13/H15
Exp[ique a afirmação de Ricardo Flores Magón:

42 Capít et[* ] Guerra e revotução


fim da Primeira Guerra Mundial significou, para o continente africa-
no, uma nova virada em sua história. A derrota da Alemanha trou-
xe uma nova subdivisão das possessões coloniais entre as potências
vencedoras, sob controle internacionai. Camarões e Togo seriam adminis-
trados por França e Grã-Bretanha conjuntamente; a União Sul-Africana
(atua1África do Sul) ficou com o Sudoeste Africano; Bélgica e Grã-Bretanha
partilharam o mandato da África Oriental Alemã. A Bélgica ainda obteve as
provÍncias de Ruanda e Burundi.
Esse foi o período de consolidação do sistema coionial na África. De acor-
do com a ideologia da época, a presenÇa europeia se definia em termos de res-
ponsabilidade ou de tutela. Divulgava-se a justificativa de desenvolvimento
social e econômico, para o "bem" tanto da Africa como do restante do mundo.
Contudo, o colonialismo transformou-se num sistema de organização
da produção baseado na exploração de uma força de trabalho desprovida de
direitos políticos e sociais no âmbito do Estado colonial. Tornou-se um siste-
ma de conquista de mercados baseado no monopólio, tanto para os produtos
industriais europeus como para o investimento de capitais.
As sociedades colonizadas, qualquer que fosse o seu estatuto formal
(colônia ou protetorado), após a conquista, foram submetidas e profunda-
mente transformadas. Toda a economia, bem como as infraestruturas fÍsi-
cas e administrativas, voltou-se para a produção de exportação. 0s sistemas
sociopolÍticos preexistentes foram destruídos ou modelados para garantir a
preservação da ordem colonial.

POLITICAS COLONIAIS
As políticas coloniais na Africa podem ser definidas,
grosso modo, como de assimilação (impérios portu-
guês, francês e belga) ou indiretas (como o britâni-
co e o alemão).
A polÍtica colonial de assimilação evocava a iden-
tidade entre a Colônia ea Metrópole, que tinha a "mis-
são" de "civiiizar" os povos submetidos. 0 obletivo era
converter gradualmente o africano em europeu, o que
significava que a organização política e as culturas
locais deveriam ser transformadas. Utilizavam para
isso o ensino da língua da Metrópole, da religião cris-
tã, dos costumes, das tradições e dos modos de vida
ligados à pátria europeia, e não ao passado africano.
Por fim, estabeleciam a divisão da sociedade em civi-
lizados, assimilados e indÍgenas.
0s civilizados gozavam de direitos políticos ple-
O 1025 2050 km
nos. Em geral, eram os conquistadores europeus
Fonte: Elaborado com base em SELLIER, J. ,4ías dos povos de Áfrico. Lisboa: Campo da e seus descendentes. 0 sÍaÍus de assimilado era
Comunicação,2004.

África, o cotonialismo e suas estruturas 4:


conferido por meio de procedimento }ega}. No caso das
colônias controladas pela França, o processo envol- História ',', Atualidades .,,, 0 genocídio
via educação em escolas francesas, prestação de servi- de Ruando
ço mÍlitar, aceitação da monogamia e rejeição das leis e Um dos majores genocÍdios do sécuto XX ocorreu em
costumes tradicionais ou muçulmanos.
Ruanda, em1994, envolvendo hutus e tutsis. 0s pri-
No caso das colônias de Portugal, era necessário pro- vitégios concedidos à minoria tutsi petos europeus já
fundo conhecimento da lÍngua portuguesa, possuir uma haviam provocado massacres em Burundi em 1972
renda de determinado nível e dar provas de ser católico e (cerca de 200 miipessoas)e em 1993 (50 mit), quan,
de ter "bom caráter". Tais exigências garantiram que um do o presidente hutu Metchior Ndadaye foi assassi-
número muito pequeno de afrlcanos ascendesse à cate- nado por mititantes iutsi. Em 1994, o presidente de
goria de assimilados. Ruanda, o hutu.JuvenaI Habyrama, foj morto em um
0s indígenas, termo utilizado para se referir à grande ataque ao avião em que estava também o novo presi-
maioria da população nativa, eram regidos pelo Estatuto dente de Burundi, o hutu Cyprien Ntaryamira.
do Indigenato ou Política Indígena, que dava aos agen- Entre abriI e jutho de 1994, Ruanda foi palco de
atentados, assassinatos e fuzi[amentos em massa de
tes coioniais o direito de aplicar penas disciplinares (pri-
cerca de 10% de sua poputaçã0. Estima-se que mais
são, multa) por delitos ou obrigá-1os
a trabalhos forçados.
de 800 mil pessoas foram mortas.
Todo indÍgena, em virtude de seu "estado de civiliza-
0 massacre só foi interrompido com a invasão da
ção rudimentar", deveria ser submetido a um regime juri
Frente Patrióiica Ruandense, grupo armado tutsi [ide-
dico e político especial, ou seia, o indígena seria tutelado
rado por PauI l(agame, que organizara o grupo de com-
para a fiscalização dos seus atos e contratos de prestação
batentes em Uganda ese tornou presidente de Ruanda.
de serviços. Haveria um direito criminal especiai e não Ho]e, a minoria tutsi governa um paÍs de maioria
Ihe eram reconhecidos drreitos polÍticos. 0 governador da hutu. Autoridades da 0rganização das Naçoes Unidas,
Colônia era considerado o "protetor dos indígenas" da Bétgica, da França e dos Estados Unidos acusaram-
Nas possessões inglesas, o poder foi exercido indi- se mutuamente pe[o genocÍdlo. Na origem do prob[e-
retamente por interméd-io das autoridades tradicionais, ma que desembocou nessas tragédias, a partilha da
num sistema denominado indirect rules (governo indi- África do sécuto XIX, a sobreposição cie Estados nacio-
reto). Apenas em regiÕes onde não havia um poder tra- nais sobre riva[idades de povos africanos e uma potÍti-

dicional centralizado implementou-se uma "dominação ca cotoniaIque acirrou o ódic e permitiu a entrada de

direta"" 0 ensino, armas de fogo em quantidade tão assustadora quanto


a cargo das missões religiosas, era feito
a mortandade praticada.
nas línguas nativas.
Tal sistema administratÍvo não significava a manu-
tenção das autonomias locais, mas estava a serviço de
=
uma administração mais ágii e menos dispendiosa. Esse
tipo de goveÍno, que se servia de autoridades indíge q

nas, permitia controlar de modo mais eficiente as dife-


rentes populações, aproveitando suas próprias institui-
ções locais.
0 sistema, embora chamado de indireto, interferia
nas sociedades tradicionais, modificando-lhes os limi-
tes, demarcando-as e moldando-as às exigências de
controle da produção e dos fluxos da força de trabalho.
0s antigos territórios sob dominação aiemã apre-
sentavam uma mistura de admrnistração direta e indi-
reta. Isso ocorÍeu nos reinos de Ruanda e Burundi, que
em 1919 passaÍam para a tutela da Bélgica e foram reu-
nidos num único ierritório.
0s belgas mantiveram as duas monarquias. mas
despojaram-nas de seus poderes em favor de uma aris- Campo de refugiados na fronteira entre Ruanda e
tocracia tutsi, que controlavam estreitarnente. A partir Tanzânia, maio de 1994.

daí justificou-se a dominação dos tutsi sobre a maioria

44 , ., G uerra e revotução
hutu pela ideia de diferenciação e superioridade étni-
ca dos tutsi. Na verdade, tutsi e hutu, do ponto de vista P ANÁLIsE DE IMAGEM
CARTAZ DE PROPAGANDA
etnocultural, pertencem ao mesmo grupo banto.

A Grande Franço
A§ HXPO§IÇCIES CCILONIÂI§: Materiat: Litografia cotorida
ZOCILÜGICO§ HI,IMANOS Datação:1931
Em geral, nas maiores cidades do mundo, há um zoo-
1ógico. Tornou-se "normal" observar aniamsis silves- Encontra-se conservado na Biblioteca Histórica
tres (leões, girafas, elefantes, rinocerontes e gorilas) da Cidade de Paris (França).
em pequenos espaÇos que procuram reconstituir seu
ambiente original. Primeiro olhar: Do finaldo sécuto XIX até a primei-
ra metade do sécuio XX, desenvoiveu-se o concei-
A ideia de promover exposiçÕes e feiras com elemen-
to de Furáfrica. Tratava-se de uma maneira de jus-
tos "exóticos" surgiu na Europa a partir do íinal do sécu- tificar o expansionismo dos Estados europeus, que
1o XIX. Tinha o objetivo de mostrar o estranho, o curio- passaram a considerar as sociedades como sua
so, o diferente, por oposição a uma construção racional extensão e os territórios coloniais sob seu domínio.

do mundo elaborada com base nos modelos euÍopeus.


Na Alemanha, em 1874, Carl Hagenbeck, vendedor d

de animais e futuro promotor dos principais zoológicos P{LU§ PTR*ÀTEilT


europeus, decidiu apresentar também nativos das ilhas §ffXtotoc§rIffifsÉ
-
de Samoa, pertencente à 0ceania. 0 sucesso da exibição
E
o ievou a enviar colaboradores ao Sudão a fim de trazer !
animais e nativos, que foram apresentados em "exposi-
a
ções etnológicas" em diversas capitais, como Paris, Lon- L.A ó
dres e Berlim.
PLUS -
Motivados pela curiosidade pelo "outro", milhÕes
de europeus passaram a observar seres humanos den- G3ANDE
:
tro de jaulas, como animais. 0 impacto foi grande, prin- rnÂldcÉ Ê
cipalmente porque as exposições reforçavam a pleten-
são de superÍoridade europeia e procuravam justificar
as ações coloniais.
A colonização pressupunha a necessidade de domi-
nar e "domesticar" o outro e, portanto, de representá-10.
A engrenagem colonial de inferrorização do "indígena"
foi acionada e, nessa conquista do imaginário, zoológi-
cos, feÍras e exposições constituíam mecanismos efica-
l-;
zes na construção de preconceitos em relação às popu- :-*-!
1ações colonizadas.
0 dÍscurso racista foi reforçado por uma produção de
imagens que sustentava a existência de uma sub-huma-
Sentada, muther orien- Lm pe, rnutner ne8ra (4)
I
nidade nos confins coloniais. Ao mesmo tempo que se
taI semi-nua e seBUran- nua com trtho repre- -
humilhavam e animalizavam essas populações, glorifi-
do dois ba[des represen- senta os territórios da
cava-se a Europa ultramarina através do ultranacionalis- ta os territórios da Ásia. África subsaariana.
mo, plenamente destacado pela grande imprensa. Ressalta-se o caráter de Ressatta-se o caráter
Em tal ambiente os impérios podiam crescer, ins- trabaIho e docilidade primitivo dos negros.
dos asiáticos.
tituindo a desigualdade lutídica, polÍtica e econômica
entre euÍopeus e as populaçÕes submetÍdas. Uma vez No centro, mulher vestida e com véu segurando jarro, e
representa os terrjtórjos do rorte da Áírita. Sua posição
que nas metrópoles era possível ver com os próprios
dominante reflete as concepçÕes antropotógicas dos anos
olhos a prova de que fora delas só havia selvagens, e de 1930, que igualam os norte-afrjcanos aos de raça bran-
estes deveriam ser retirados das trevas. ca, dando-[hes vantagem sobre os outros povos co[onizados.

África, o colonialismo e suas estruturas 4l


Exposição e contraexposição
A Exposição Cotonia[ ]nternacjonaI de Paris (fg:f), que Em contraponto à Exposição, que utilizou a arte
contou com 34 milhões de visitantes, marcaria o ponto nativa para promover o ideat da "Grande França", a arte
culminante da grandeza da Europa ultramarina, da quaI exibida na contraexposição colocou [ado a [ado objetos
a França era vitrine, mas também a reação anticoloniat. culturais europeus com a arte das regiÕes cotonizadas,
Em resposta à Exposiçã0, artistas surreatistas ligados a fim de questionar a superioridade europeia ou bran-
ao Partido Comunista Francês organizaram uma con- ca. Máscaras africanas ocupavam o mesmo espaço que
t ra ex posi çã o. imagens cristãs. A música indiana era combinada com
Denominada "A verdade sobre as Co[ônias", foi músicas popu [ares francesas.
aberta em setembro de 1931 e durou até 1932 e esta- A integridade da arte dos povos subjugados, segun-
va dividida em várias seções. Uma delas era dedicada do os artistas, já constituía argumento suficiente contra
aos crimes cometidos durante a conquista colonia[, com o imperiatismo europeu.
testemunhos dos escritores André Gide e Albert Londres
sobre os trabalhos forçados.

üI
=d íÉ
9-*
âia ã ô
Í
"ts] &
?e { <.
I
ü ê
&
z

ry
i.

õ 4:l'

s
El
z
d

Volta oo mundo em um dio, Desmeures. A verdode sobre os colônios, anônimo. Litografia


Litografia colorida, cartaz da Exposição Coloniat colorida, cartaz da contraexposição organizada pelo
Internacional, Paris, 1931. Partido Comunista Francês, Paris, 1931.

.: .t'.; i: r-ti:l,.1:r', É::r.:. :" : :. '


-. i/ .i. a '.
.,t1,,.,,=':;+a,,,1',,:i.: .n: :'+ I f..':..; !:i:, l: .::.:i t :::{ia.::rrji::i.. -': a â conforme tabetas das páglnas B e 9.

-/
"i Quais eram os sentidos econômicos do cotonia[is- Por que o genocÍdío de Ruanda, ocorrido em 1994,
mo praticado na África? vincuta-se às potíticas cotoniais na África?
* DL/SP/H9 S DL/sP/H7lH11

':r Aponte quais eram os dois grandes tipos de potíti- Por que os zoológicos, as feíras e as exposiçÕes
cas coloniais adotadas petas potências europeias? representaram mecanismos eficazes na constru-
â DL/SP ção de preconceitos contra as poputações co[oni-
zadas? § DL/cFlsp/H2lH7

46 Guerra e revolução
Proposta: Pode-se criar um pequeno proieto interdisci-
plinar, envolvendo Língua Portuguesa, sobre o empre-
go da imprensa e do controle de informações como aÍ-
mas políticas. Para tanto, vate a pena abordar as críticas
e usos da mídia que serão discutidos em capítulos poste-
riores neste volume, como nos itens Os muros dão os or-
dens (capítuto 2, p. 67), Mocorthismo (capítulo 5, p. 128),
Maio de 1968 no França (capítuto 7, p.187), O controle e o
propogondo (capítuto 9,p.255).0(a) professor(a) de Lín-
gua Portuguesa pode discutir pecutiaridades do texto jor-
natÍstico e as sugestões políticas que ete contém e muitas
K§StrSTAt}T E A TTJ!PRHH§A vezes passam despercebidas dos leitores.

"Pequenos cartazes coIados nos muros das ruas ainda 0s boatos, em todo esse drama, desempenharam um
desertas anunciavam que, por comp[ô e traiçã0, o gene- papel funesto. Com a imprensa oficiaI ocultando tudo o que
raI contrarrevolucioná rio Kozlovski ti n ha-se a poderado de não fosse sucesso e [ouvor ao regime e a Tchel<a Ipotícia
l(ronstadt e convocava o proletariado às armas. Mas, antes secreta soviética] agindo nas trevas absotutas, nasciam a
mesmo de chegar ao Comitê de Seção, encontrei camara- cada instante rumores catastróficos. [...]
das, que acorriam como suas mausers [pistotas], e me dis- 0 Burô Político decidiu negociar com Kronstadt, depois
seram que era uma mentira abomináve[, que os marinhei- de Ihe dirigir um ultimato, e, como úttimo recurso, atacar a
ros tinham se amotinado, que era uma revolta da armada fortaleza e os couraçados da armada imobi[jzada no gelo.
e dirigida pelo Soviete. Não era menos grave, talvez; pelo Na verdade, não houve negociações. Foi afixado um ultima-
contrário. 0 pior era que a mentira oficiaI nos paralisava. to assinado por Lênin e Trótski, concebido em termos revo[-
Jamais tinha acontecido antes que nosso partido nos men- tantes: 'Rendam-se ou serão metrathados como coethos'. [...]
tisse dessa forma. [...]
0 assalto fina[, desencadeado [...] a 17 de março, termi-
Panftetos distribuídos nos subúrbios deram a conhe- nou com uma audaciosa vitória sobre o gelo. Não dispondo
cer as reivindicações do Soviete de l(ronstadt. Era o pro- de bons oficiais, os marinheiros do Kronstadt não souberam
grama de uma renovação da revolução. Eu resumo: reelei- utilizar sua artilharja [...]. Uma parte dos rebeldes alcançou
ção dos Sovietes por voto secreto; [iberdade de expressão a Fin[ândja. 0utros se defenderam encarniçadamente, de
e imprensa para todos os partidos revolucionários; [jber- forte em forte e de rua em rua. Caíam fuzilados aos gritos de
dade sindica[; [ibertação dos prisioneiros po[íticos revolu- 'Viva a revolução mundíat!', 'Viva a InternacjonaI comunis-
cionários; abo[ição da propaganda oficiat; supressão ime- ta!'. Centenas de prisioneiros foram levados a Petrogrado e
diata dos destacamentos de portagem que impediam que entregues à Tcheka, que, meses mais tarde, ainda os fuzilava
a popu[ação se abastecesse à vontade. 0 Soviete, a guar- em pequenos grupos, estupidamente, criminosamente. Esses
nição de Kronstadt e as triputações da 1.a e 2.a esquadras vencidos pertenciam de corpo e alma à revotuçã0, tinham
se [evantavam para fazer triunfar esse programa. exprimido o sofrimento e a vontade do povo russo [...]."
A verdade se infiltrava aos poucos, de hora em hora, SERGE, Victor. Memórias de um revolucionário: 1901-1941.
através da cortina de fumaça da imprensa [...]. E era a São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 150-155.
nossa imprensa, a imprensa da nossa revo[ução, a primei-
Victor Serge 089A-1947) foi jornatista e escritor, lutou contra
ra imprensa socialista, isto é, incorruptíveI e desinteressa-
o czarísmo e participou da revotução de outubro. Crítico do
da, do mundo! [...] autoritarismo de Státin, foi preso, mas conseguiu fugir da
União Soviética, vivendo no exítio até a morte.

â conforme tabelas das páginas B e 9.

I A partir do relato de Victor Serge sobre a revolta dos governo bo[chevique?


marinheiros do Kronstadt, ocorrida em 1921, e dos â DLICTISPiCA I Hll H21l H23
itens "A União Soviética", "Divergências e disputas" e c) Exptique a indignação finaI do autor: "Esses yencl-
"0 papeI do Estado e o traba[ho" de páginas anterio- dos pertenciom de corpo e alma à revolução, tinham
res, responda: exprimido o sofrímento e a vontode do povo russo."
a) Como o relato se relaciona com a experiência de â DL/CFISP/EP I Hl I Hro I H13I Hls
conso[idação do poder bo[chevique? d) Agora, pesquise sobre a revo[ta de l(ronstadt e
â DL/CFlsPiH1 l[sl Ht4l[ls analise: ela representou um momento de virada no
processo de construção do socialismo na Rússia?
b) Qual é a principaI preocupação de Victor Serge,
no que se refere ao papel da imprensa sob o â DL/CF/sP/H8/H1o/H13

#effieelho # ÂÍtê 41
,,:....-l<

*#
(U FRJ) "A mesma velha trincheir0, a mesmo paisogem, s
ln,:-!l

0s mesmos rotos, crescendo como moto,


0s mesmos abrígos, nlda de novo, :
Os mesmos e velhos cheiros, tudo no mesmo, a
0s mesmos codúveres no front,
A mesmo metrolha, dos duos às quatro,
4
Como sempre covondo, como sempre coçando,
A mesmo velha guerro dos diabos."
:
(sotdado jnglês)

"Estamos tlo exoustos que dormimos, mesmo sob


intenso borulho. A meLhor coíso que podería acontecer
serio os ingleses lvonÇarem e nos fozerem prisionei-
ros. Nínguém se importo conosco. Noo seremos substi'
tuídos. 0s oviÕes lonçam projéteis sobre nós. Ninguém rrot*-.rerr- w,.,.I.
maís consegue pensar. As rações estão esgotadas - t}'.=*'--'i- :*ãL:=
pao, conservos, biscoiÍos, tudo terminou! Noo hó umo
única goto de óguo. É o proprio inferno." Comoroda Trótski - militar honorário,
(soldado alemão) Anatoly Sokolov. Litografia colorida, 1923.

MARQUES, Adhemar Martins et at. (0rgs.). Histório contemporôtneo


atrovés de textos. São Paulo: Contexto, 2000. p. 118 e 120.

Os fragmentos apresentam o depoimento de dois


soldados, um inglês e o outro atemão, durante a I

Primeira Guerra Mundia[ (fSr+ fStS).


a
a) Identifique duas caracterÍsticas que estejam pre-
ó
sentes em ambos os textos e expressem os senti-
mentos dos combatentes nessa fase da Primeira =
Guerra. ô DL/CF/H4/H11/H15
b) Clte duas consequências geopolíticas da Primeira
Guerra para a Europa entre 1918 e 1939.
s DL/CF/H7lH15

(Unicamp-SP) En 1924, após a morte de Lênin,


dois dos mais destacados dirigentes do Partido
Botchevique se opuseram: para Trótsl<i, tratava-se de
defender a revotução permanente; para Státin, trata-
-":Hry"
va-se de defender o socia[ismo em um só país. Stálin Destrua o verme! Erradique da face da Terra,
venceu essa disputa e, a partir de então, a figura de Tróstki, o inimigo do povo ru55o e suo maldita
Trótsl<i foi sendo progressivamente retirada dos docu- gongue fascista!, Viktor Deni. Litografia
mentos soviéticos. colorida, 1937.

A partir da leitura do texto:


a) transcreva o trecho que exptica a divergência a) Quat é a principaI mensagem contida na imagem 1?
entre Trótsl<i e Státin. s DL/sP § DL/CF/sP/H1
b) exptique por que o statinismo precisou varrer a b) Quat é a principaI mensagem contida na imagem 2?

imagem de Trótski da história soviética. â DL/CF/sP/H1


* DL/CF/sP/He c) Como você exptica tais diferenças tendo em vista
Os dois pôsteres a seguir se referem a Leon Trótski, a história da União Soviética? â DL/cF/sp/H1/He

um dos principais dirigentes da Revolução Russa. (Unicamp-SP) Atguns comunistas franceses encontra-
0bserve atentamente as imagens e anatise separada- vam conforto na ideia de que as atitudes de Státin em
mente cada uma delas. retação aos opositores do regime potítico vigente na

48 Capítulo ll Guerra e revolução


União Soviética eram tão iustificadas pela necessida- a) De acordo com o texto, o que permitiu aos
de quanto havia sido o Terror de 1793-1794, liderado comunistas a comparação entre os regimes de
por Robespierre. Talvez em outros paÍses, onde a pa[a- Robespierre e de Státin? a DL/cF/sp/He llr3ll24
vra Terror não sugerisse tão prontamente episódios de b) Quais os princÍpios políticos que definiam o regi-
g[ória nacionaI e triunfo revo[ucjonário, essa compara- me soviético? â Dl/cr/sp/H9 ll13lHz4
ção entre Robespierre e Stálin não tenha sido feita.
Adaptado de HOBSBAWM, Eric. Ecos da Marselheso:
dois séculos reveen o Revoluçõo Franceso.
São Pauto; Companhia das Letras, 1996. p.67-68.

Em 1934, o governo português organizou sua Primeira Exposição ColoniaI na cidade do Porto. 0bserve atentamente
o mapa abaixo, apresentado durante essa exposiçã0, e responda:

{
I

I
c

Portugal não é um país pequeno, atribuída a Henrique Galvã0. Cartografia, 1931.

a) Quat é a mensagem principa[ desse mapa? A partir dos dados do trecho anterior:
b) Por quais artifícios tenta-se justificar taI mensa- a) indique o país onde se desencadeou importante
gem? O DLI cF I sp I Hs I Hr3I H24 revolução sociaI ao finaI da primeira década do
c) Do ponto de vista ideológico, há seme[han-
século XX. â DL/sp/H1o
ças entre as exposições francesa e portugue- b) enumere os propósitos moderados e legalistas
sa cetebradas respectivamente em t93L e 1934? de Francisco Madero, que acabou sendo preso e
ustifiq ue su a res posta. â DL/cr/sp/H9 I Ht3 I H24
.l
assassinado. o DL/sp
c) faça considerações objetivas sobre o legado da
0bservação: para comparar as exposiçÕes, retome
os conteúdos da página 45 e 46.
Revolução. â DL/cFlsp/H9 lHLolHTt

6 Exp[ique a frase do cientista político Mauricio 9 (Fuvest-SP) 'Somos produto de 5OO anos de luta: pri-
Tragtenberg: "É impossível entendermos o Revolução meiro, contro o escrovidão, na Guerra de Independência
de 1"9L7 sem passarmos em revisto o que foi chomado contra o Esponha, encobeçodo pelos insurgentes;
seu ensoio geral: a Revolução de 1"905 e a formação dos depois, para evitar sermos obsorvidos pelo expansionis-
mo norte-omericono; em seguida, pora promulgor nossl
n ov os po rti d os po líti cos." o DL/sp/cA/H1/H8/H10/H13
Constituição e expulsor o Império Francês de nosso solo;
Identifique as diversas manifestações artísticas retacio- depois, a ditodura porfiristo nos negou o oplicoçõo
nadas à Revolução Mexicana. â DL/cF/sp/cA/Htl+llltl justa dos leis de Reformo e o povo se rebelou criondo
8 (Unesp) "0 levonte urbono venceu ropidamente o resis- seus próprios líderes; ossim surgirom Villo e Zopata,
tência das tropos do generol Porfírio Díoz, subindo ao homens pobres como nós, a quem se negou 0 preporo-
poder Froncisco Madero... Simultaneamente, porém, çoo mois elementar, poro ossim utilizor-nos como bucho
alostroram-se as insurreições componesos cujos líderes de conhão e soqueor as riquezos de nosso pátrio, sem
não se contentorom com os propósitos de Modero, exigi- importor que estejamos morrendo de fome e enfermi-
rom o reformo agrório. Era o começo da Revoluçao...". dodes curóveis, sem importar que nõo tenhomos nado,

EngenhoeArte -,
I
obsolutamente nodo, nem um teto digno, nem terra, nem gena e fundou a primeira repúb[ica na América.
trobolho, nem soúde, nem olimentoçã0, nem educoção, b) colonização francesa do território mexicano, entre
sem ter direito o eleger livre e democrotícomente nossos os séculos XVI e XIX, que implantou o trabalho
outoridades, sem independêncio dos estrongeiros, sem escravo indígena na mineração.
poz nem justiça poro nós e nossos filhos.".
c) reforma [ibera[, na metade do sécu[o XX, quando
"Primeira declaração da Selva Lacandona" (ianeiro de 1994). In: a Igreja Catóhca passou a controlar quase todo o
FELICE, Massimo di; N4UNOZ, Cristova[ (Org.). A revoluçõo invencível.
território mexicano.
Subcomandante Marcos e Exército Zapatista de Libertação Nacionat.
Cortos e comunicodos. São Paulo: Boitempo, 1998. (adaptado) d) guerra entre Estados Unidos e México, em mea-
dos do século XIX, em que o México perdeu quase
0 documento, divulgado no início de 1994 pe[o metade de seu território.
Exército Zapatista de Libertação Naciona[, refere-se,
e) ditadura militar, no finaldo século XIX, que devo[-
entre outros processos histórjcos, à
veu às comunidades indígenas do México as teÍ-
a) luta de independêncja contra a Espanha, no inÍcjo ras expropriadas e rompeu com o capitatismo
do sécuto XIX, que erradicou o trabalho livre indÊ i nte rn a ci o n a [. â DL/cF/Sp/H t I Hs I HttI Ht3I HLs
Contexto: 0 diretor Stantey Ku brick propõe questões que não se resumem à Primeira Guer-
ra Mundiat. A presença do militarismo, o autoritaÍismo dos líderes e o recurso constante
t: à iustiça para assegurar o respeito à hierarquia - mesmo quando isso imptique ordens e
atitudes irracionais - nos fazem pensar na Guerra Fria e no macarthismo, marcas impor-
tantes da década de 1950, quando o filme foi reatizado. Esses dois temas são estudados
no capÍtuto 5 des- do-os excessivamente, ora mantendo-os sob forte
te votume e pode sombra.

Diretor: Stanley Kubrick ::'.,-]lltl::t:l!t. Como se desenvolvem os personagens do general


:ã::'ffililJll- Mireau e do coronel Dax? Eles mantêm as mesmas
País: Estados Unidos
Ano: 1957 áantes. atitudes durante todo o filme ou transformam-se
graduaImente?
. De que forma o filme apresenta o tribunaI militar e a
lógica que orienta seu funcionamento?

Ação
Um generaI francês ordena um ataque bastante arriscado
a posições atemãs. A ação fracassa e o genera[, para punir "Isto nõo é um otaque, é umo cornificina. Você jó sobe do nosso
seus subordinados, determina que a artilharia abra fogo frocasso. Noo pade pôr a culpa nos soldodos, eles fizerom tudo
contra suas próprias forças. 0 coroneI responsáveI pela arti- que estovo o seu olconce. Tampouco podemos culpor os oficioís
lharia recusa-se a cumprir a ordem e o genera[, entã0, sub- do front. A culpo todo é do quartel-generol. Poro dizer o verda-
mete-o, juntamente com alguns soldados, à corte marcia[, de, esse últímo otoque me fez perder o vontode de continuar
acusando-os de covardia diante do inimigo. lutsndo. ló vi gente pôr em risco milhores de vídos, apenos com
o intuito de gonhor o própria medolho. Na momento não há a
Luzes menor possibílidode de derrotormos os alemães."

Retome as instruções oferecidas para análise de fitmes Carta de um sotdado russo, em 1916. ExtraÍdo de: ENGLUND, Peter.
nos Procedimentos metodotógicos da págína 10. uno histório ínümo do Primeiro Guena Mundial.
A belezo e a dor:
São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 2O8-2O9.
Leia o item A Primeiro Guerrs Mundial (p.24).
. Caracterize o tipo de ação mititar que predominou na A partir da comparação do fragmento de carta com o
Primeira Guerra MundiaI e as dificuldades enfrenta- filme, elabore um texto com a seguinte proposta: "'G[ória
das pelas tropas. feita de sangue' e a responsabitidade diante da guerra".
. Identifique os blocos de atianças e as potências em Seu texto deverá abordar os seguintes aspectos:
disputa. . Como o filme apÍesenta a hierarquia militar;
. 0 respeito às ordens superiores, dentro de uma
Câmera guerra, deve ser irrestrito, mesmo quando a ordem
Durante a exibição do fitme, sugerimos que você faça anota- é absurda ou atenta contra si mesmo?

ções sobre os seguintes temas:


. Como o filme caracteriza os anseios e as responsa-
. 0bserve como a iluminação contribui paÍa caracte- bitidades individuais e coletivas dos personagens.
rizar os personagens e suas atitudes, ora iluminan- â DL/CF/Sp/CA I Ep lYll H2l H3 I H4 I Hlo I Hltl H12l Hr3 I HL4I
HLslH27lH23lH24

rnilrãlllw . REED, John. Dez dios que obolarom o mundo. São Pau[o: Companhia das Letras, 2010.

50 Capítulo 1 Guerra e revolução


Í (Unesp) A Primeira Guerra Mundiat(1914-1918) 3 (PUC-RS) Dentre os desdobramentos político-
resultou de uma alteraÇão da ordem institucio- -econômicos imediatos na ordem internacio-
vigente em longo período do século XIX. naI produzidos pela Primeira Guerra Mundial
-naI
Entre os motivos dessa alteração, destacam-se (19L4-1918), é correto apontar:
a) a divisão do mundo em dois btocos ideolo-
- a) o fim dos privilégios aduaneiros da França
gicamente antagônicos e a constituição de no comércio com a Alemanha.
países industria[izados na América. b) o surgimento da 0rganízação das Nações
b) a desestabilização da sociedade europeia Unidas, por meio do Tratado de Sevres.
com a emergência do sociahsmo e a cons- 'c) a criação da Iugos[ávia, como decorrência
tituição de governos fascistas nos países das questões potíticas dos Bá[cãs.
eu ropeus.
d) a anexação da Patestina, da Síria e do
c) o domínjo econômico dos mercados do Iraque ao Império Otomano.
continente europeu pela Ingtaterra e o
e) a incorporação da Hungria e da Tchecos-
cerco da Rússia pelo capitalismo.
d) a oposição da França à divisão de seu terri-
, [ováquia aos domínios austríacos.
â DL/SP/H7
tório após as guerras napo[eônicas e a apr0-
ximação entre a inglaterra e a Atemanha. 4 (PUC-SP) 0 fragmento a seguir estabelece uma
relação entre a Revolução Francesa, de 1789,
e) a unificação da Alemanha e os conflitos
e a Revolução Russa, de 1917. "Paro os socio-
entre as potências suscitados pela anexa-
listos da segundo metode do século XIX L..l a
ção de áreas coloniais na Ásia e na África.
RevoLuçõo Fronceso é portadora de uma espe-
â DL/SP/H7 ronÇo que tem um nome mas nao possui ainda
â conforme 2 (UFMG) Leia estes trechos de depoimentos de um rosto. Tudo mudo com 1917. A partir de
tabetas das ex-combatentes da Primeira Grande Guerra: entoo o Revoluçoo Sociolisto possuí um rosto: o
páginas 8 e 9.
"Uma certa ferocidode surge dentro de você, umo Revoluçoo Fronceso deixo de ser o matríz a par-
obsoluto indiferença paro com tudo o que exis- tir do quol pode e deve eloboror-se umo autra
te no mundo, exceto o seu dever de Lutor. Você r evo lu çd o li be rto d o ro."

está comenda umo crosto de poo, e um homem FURET, F. Ensoíos sobre a Revoluçdo Fronceso.
é otingido e morto na trincheira perto de você. Lisboa: A Regra do jogo, 1978. p. 138.
'a ll'l'.
ouESTOEs Você olho colmamente para ele por um momento
Essa relação é possívet, entre outros fatores,
:tAE ENEM e contínua o comer o seu põ0. Por que noo? [...]
pois:
D§liê o endereço Aqui desopareceu p0ro sempre o covolheirismo. _
abaixo na barra a) a primeira delas foi inspiradora da segun-
Como tados os sentimentos nobres e pessoais, ele
do iiavegador de
teve de ceder o lugor oo novo ritmo da batalha
da, mas a Francesa teve efeitos apenas
\nternet: http:// nacionais e a Russa expandiu-se para além
goo.gl/xogoJb. e ao poder do móquino. Aqui o novo Europa se
.V.oa-ê,pode revelou pela primeiro vez no combote."
de suas fronteiras.

tqú,bêm tirar b) as duas revoluções contiveram, em seu


Citados por EKSTEINS, lt4odris. I slgroçoo da primovero.
uÍrá foto com
Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
interior, variadas propostas e revelaram,
um apIcaIrv0 ao fina[, a vitória de projetos socjalmente
,ch.QrCode para Com base na leitura desses trechos, é C0RRETO tra nsformadores.
3áber mais sobre.
:Q.assunto. AceiSô
_- afirmar que o impacto dessa guerra:
c) a primeira delas foi inspiradora da segun-
em, 4 abr. 2016.. a) acelerou o processo de iibertação das da, mas a Francesa foi dirigida pelos sons-
co[ônias afro-asjáticas, que se tornaram -culottes e a Russa pelos botcheviques.
Estados independentes a partir de entã0.
d) as duas revoluçÕes manifestaram caráter
b) deu origem a um influente movimento con-
exclusivamente político, sendo ambas por-
tra as guerras, que criou uma ordem inter-
tadoras de propostas [iberais e socialistas.
nacionaI pacÍfica.
e) a primeira de[as foi inspiradora da segun-
c) levou ao fortatecimento e consolidação dos
da, mas a Francesa teve caráter burguês e
Página regimes [iberais já existentes, a[ém de con-
dedicada a Russa, aristocrático.
a questóes já apli- tríbuir para o surgimento de novas demo-
cadas em provas cracias. o DL/SP/H9/H10/H13
do ENEM. Busque
exercícios sobre os d) provocou uma crise nos valores dom jnan- 5 (PUC-RS) Em 1917, liderados por Lênin e
temas desenvotvi- tes até entã0, gerando descrédito em reta- Trótsl<i, os bo[cheviq ues ga nharam popu [arida-
dos neste capítuto.
ção ao humanismo e ao racionatismo. de com as leses de Abril, enunciadas na plata-
forma "paz, terra e pã0", que propunha:
Õ DLisP/H1

Radar
a) a manutenção da Rússia na Primeira Guerra incentivos anteriormente concedidos à produção
Mundiat, a conquista da Manchúria e a formação agrícola, foi a razão da ruína do campo.
dos sovietes.
â DL/SP/HB
b) a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundiat, a
(UFMG) No contexto da Revolução Mexicana, na segun-
instauração de uma monarquia parlamentar e a
da década do sécu[o passado, o Exército Libertador
formação da Guarda Vermelha.
do Sut, liderado por Emiliano Tapata, sublevou-se
c) a entrada da Rússia na Prímeira Guerra Mundia[,
no México. No finaI do mesmo sécuto, em 1994, no
a insta[ação da ditadura do proletariado e a ado-
estado sulista de Chiapas, a organização denominada
ção de uma nova política econômica (a NEP). Exército Zapatista de Libertação NacionaI inicjou um
d) a manutenção da Rússia na Primeira Guerra Mundia[, movimento rebelde.
o domínio dos estreitos de Bósforo e Dardanetos e a
0s dois movimentos referidos têm vários pontos em
formação de um parlamento (Duma).
comum, entre os quais, destaca-se a Iuta para:
e) a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundia[, a
a) tomar o poder e implantar governos inspirados nas
divjsão das grandes propriedades entre os campo-
ideias agraristas do [Íder chinês Mao Tsé-tung.
neses e a regutarização do abastecimento interno.
b) defender os interesses dos operários e traba-
â DL/SP/H9lH1o/H11 Ihadores fabris, constantemente violados peto
6 (UFR.f) Leia o texto a seguir. "Em 1"921, o problemo Governo mexicano.
nacionaL central era o da recuperoção econômica - o c) destituir as elites dirigentes e instaurar um Estado
índice de desespero do país é eloquente: naquele ono, sociahsta inspirado na tradição marxista [atino-
36 milhões de pessoas não tinham o que comer. Nos -america na.
novas e ruinosos condições da poz, o'comunismo de
d) resgatar as terras dos camponeses de origem indí-
guerra' revelovo-se insut'iciente: era preciso estimu- gena e conquistar me[hores condiçoes de vida
lar mais efetivomente os mecanismos econômicos da para eles.
sociedade. Assim, oindo em 192L, no X Congresso do
Partido, Lênin propoe um plano econômico de emer- à DL/SP/H9/H10/H11
gêncio: a Nava Polítíca Econômica." (UECE - adaptado) Em Chiapas, no México, em1994,
NETO, l. P. 0 que é stolinismo. São Pauto: Brasiliense, 1981. ocorre uma rebeUão conduzida pe[a Frente Zapatista
de Libertação NacionaI que reivindica mudanças na
Sobre a chamada Nova Política Econômica é correto
distribuição da terra e benefícios sociais para as
afirmar que:
populaçÕes do campo e indígena. Quanto à utilização
-a) eta reintroduziu práticas de exp[oração econômi-
do termo "zapatistas", assina[e o correto.
ca anteriores à Revolução Russa de 1917 que se
traduziram num abandono temporário de todas as a) Uma aproximação à imagem de Emjtiano Zapata,
transformações socialjstas lá feitas e um retorno um [íder da Revolução Mexicana que, no inícjo do
ao capita[ismo. século XX, parecia ser a única esperanÇa para os
camponeses do suI do país.
r) eta consistiu na manutenção de etementos eco-
nômicos sociatistas, na organização da econo- b) tlma ctara homenagem ao ex-presidente espanhol
mia (como o p[anejamento) e na permissão para José Luiz Rodríguez Zapatero, que à época da rebe-
o estabetecimento de elementos capita[istas por [ião, era militante do Partido dos TrabaIhadores
meio da [ivre iniciativa em certos setores. Sociatistas Espanho[ (PS0E) e porta-voz jnterna-
cionaI das minorias mexicanas.
c) ela sígnificou fundamentalmente uma reforma
agrária radicaI que promoveu a coletivização for- c) Referência a Tapata, território [ocatizado no
pequeno estado mexicano de Morelos, cuja popu-
çada das propriedades agrárias e a construção de
fazendas cotetivas, os Kolkhozes. lação de índios e camponeses, há séculos, resiste
às violentas expropriaçÕes dos fazendeiros sobre
d.) seu resultado foi catastrófico, mesmo permitindo
suas comunidades.
a volta controlada de retações capitalistas na eco-
nomia, já que ela ampliou ajnda maís o níve[ de i) Uma homenagem aos irmãos Emiliano e Eufêmio
desemprego e produziu fome em grande esca[a. Zapata, pequenos proprietários de terras, no esta-
do de Morelos, que injustamente tiveram suas ter-
e) ela significou, com a abertura para o capitalismo,
ras expropriadas por grandes fazendeiros e foram
um aumento substanciaI da produção industria[,
brutatmente assassinados.
mas, ao mesmo tempo, por ter retirado todos os
â DL/SP/H3/H8/H11

52 Capítulo 1 Guerra e revoIução

Você também pode gostar