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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS

DISCIPLINA: ESTÁGIO I PROC. CLÍN. INT. SAÚDE

PROFESSORA: Anna Karynne da Silva Melo

Curso de Psicologia

Período: 2021.1

RELATÓRIO : ESTÁGIO CLÍNICO I

MATHEUS PIAZZA CHRISTO WADNER – 1812126


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................

2. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO........................

3. DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO.............................

4. CONCLUSÃO.................................................................

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................
INTRODUÇÃO

O estágio I em clínica foi supervisionado pela professora Anna Karynne da


Silva Melo, pertencente ao corpo docente da Universidade de Fortaleza
(UNIFOR). O espaço utilizado para os atendimentos está localizado no segundo
andar do prédio do NAMI (Núcleo de Atenção Médica Integrada), mais
especificamente na R. Des. Floriano Benevides Magalhães, 221 - Edson Queiroz,
Fortaleza - CE, 60811-905
De acordo com o programa da disciplina, o presente estágio tem como
fundamento garantir a oportunidade do aluno realizar atividades práticas de
atendimento psicoterápico, avaliação e intervenção, sob o olhar das diferentes
abordagens da Psicologia em processos clínicos e intervenções em saúde. Por
meio de diagnósticos, planejamentos e intervenções, tornou-se possível colocar
em prática o que foi aprendido em sala de aula bem como vivenciar o trabalho de
um profissional da psicologia clínica. A base teórica escolhida para realização do
acompanhamento psicoterápico e intervenções foi retirada de pesquisas
bibliográficas acerca da abordagem humanista-fenomenológica. Dentre os
principais autores utilizados como fonte, destacam-se: Perls (1997); Fukumitsu e
Frazão (2015).
O primeiro contato com o caso ocorre em conjunto com a professora
supervisora, a qual delimita dentre os diversos pacientes aqueles que apresentam
as demandas de sua área de atuação. A partir daí, é estabelecido o contato com
o cliente ou responsável por meio dos telefones disponíveis na recepção,
definindo os possíveis horários de encontro e as orientações para a chegada do
paciente. Neste momento já é estabelecido o primeiro vínculo na relação
cliente-terapeuta, sendo de fundamental importância a postura ética e um
posicionamento empático durante a ligação.
Na clínica humanista-fenomenológica, o terapeuta busca estabelecer uma
aliança terapêutica com o sujeito por meio de uma escuta não punitiva, auxiliá-lo
a alterar aquilo que lhe causa sofrimento, com o intuito de gerar situações
reforçadoras. É objetivo do terapeuta fazer com que o cliente deixe de lado sua
desconfiança inicial em relação à terapia e à figura do terapeuta e abandone seu
comportamento aversivo.
Além disso, o relatório possui também a finalidade de expor minha vivência
enquanto psicoterapeuta iniciante, compartilhando os debates técnicos acerca da
abordagem fenomenológica existencial com supervisores e colegas, bem como a
partilha de nossas experiências no manejo terapêutico.

CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

A instituição que sediou a atividade de Estágio Clínico l foi a Universidade


de Fortaleza, mais especificamente em um dos setores do NAMI, chamado SPA,
que é referência no Norte e Nordeste por sua qualidade e seu diferencial no
atendimento médico que nele é prestado. O SPA tem como principal objetivo ser
um ambiente que proporcione experiências práticas aos acadêmicos de
psicologia para uma formação de alta qualidade, na mesma medida em que atua
como um centro de promoção de saúde de referência. O NAMI, além de se
preocupar com a saúde mental da comunidade, também tem como objetivo a
promoção da qualidade de vida, através de uma estrutura multidisciplinar. Desse
modo, dentre a vasta gama de atuações profissionais, pode-se destacar serviços
das seguintes áreas: enfermagem, nutrição, psicologia, fisioterapia,
fonoaudiologia, serviço social e terapia ocupacional. Tais serviços oferecidos pelo
NAMI são disponibilizados para indivíduos cadastrados no Sistema Único de
Saúde, funcionários atuantes no Grupo Edson Queiroz e encaminhamentos de
postos de saúde.
O SPA conta com diversos profissionais, dentre eles destacam-se:
Supervisor Técnico, Professores-orientadores, estagiários, recepcionistas e
profissionais da limpeza. Como dito anteriormente, o SPA situa-se no segundo
andar do NAMI, e o espaço físico composto por recepção, sala de estagiários,
salas de atendimento individual-adulto, salas de atendimento individual-infantil,
sala de atendimento familiar, sala de atendimento de grupo, salas de atendimento
de grupo infantil, salas de supervisão em grupo, salas de supervisão individual,
sala para o acervo de material, sala para arquivo do material usado pelos clientes
e sala para a supervisão técnica. O espaço de atendimento e supervisão funciona
nos seguintes horários: 7h30 às 21h, de segunda a sexta e de 7h30 às 11h aos
sábados.
DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO

Preparação para o primeiro contato

A disciplina de estágio se iniciou com aulas teóricas, nas quais foram


apresentadas e discutidas algumas noções básicas do primeiro contato com os
pacientes. Esse momento é apontado por pesquisadores como um dos mais vitais
para um bom desenvolvimento da psicoterapia, como apontam Fukumitsu e
Frazão (2015), “A primeira entrevista em psicologia é provavelmente um dos
momentos mais importantes em um trabalho psicoterapêutico e guarda diversas
peculiaridades”. Ao longo das primeiras aulas, os alunos puderam tirar suas
dúvidas sobre acontecimentos particulares que poderiam aparecer durante uma
entrevista inicial, recebendo orientações práticas e teóricas por meio da
professora supervisora responsável.
Ainda antes do primeiro contato, a turma passou por um treinamento que
tinha como objetivo explicar as principais regras do SPA referente aos
funcionamentos das salas de atendimento, reserva de horário, atualização de
prontuário e outras questões. O momento foi utilizado também para nos
familiarizarmos com algumas nomenclaturas e conhecer os funcionários
disponíveis para auxiliar com o manejo técnico do SPA.

Caso 01: Cliente Y

A primeira sessão de Y foi realizada com sua mãe, visto que Y é


adolescente e ainda não é maior de idade. A primeira seção é reservada para a
compreender as queixas da mãe em relação ao seu filho e para estabelecer as
regras contratuais que devem ser obedecidas ao longo do procedimento.
A mãe de Y revela que seu filho foi avaliado pelo SPP (Serviços de
Práticas Psicológicas), por meio de testes avaliativos, com depressão leve e por
isso tem ficado preocupada. Relata que teve complicações durante a gestação e
que durante a infância do seu filho houveram episódios de surto epléptico e
outras complicações. Expõe também que o cliente é diagnosticado com TDAH
(Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TEA (Transtorno do
Espectro Autista).
Aqui vale ressaltar que o manejo gestáltico do diagnóstico no processo
terapêutico se dá pelo afastamento de uma visão que rotula o sujeito,
compreendendo que ao longo do tratamento esse diagnóstico pode ser
reconfigurado (Fukumitsu e Frazão, 2015). Desse modo, os diagnósticos foram
importantes para o terapeuta como norteadores de algumas vivências do sujeito,
porém sem qualquer pretensão de fixá-lo nessa forma de ser.
Os encontros seguintes com Y foram marcados pelo detalhamento da
relação com sua com sua mãe, que era descrito por ele como injusta, pois não
tinha liberdade para fazer aquilo que queria. Y descrevia as atividades do seu dia
com bastante desinteresse, relatando que não via graça no seu cotidiano e que
desejava viver como nos desenhos que assistia, já que lá os protagonistas vivem
aventuras todos os dias.
Quando questionado sobre a possibilidade de comunicar à sua mãe aquilo
que não gosta, diz que não tem sentido, pois ela não o escuta. A partir disso,
revela que costuma responder sua mãe de maneira irônica, pois acredita que
esse é o jeito que ele sabe responder às perguntas.
Ao longo do desenvolvimento das sessões, Y foi convidado a entrar em
contato com o seu uso de ironia constante em diversas respostas, tanto para sua
mãe como para o próprio terapeuta durante os encontros, porém Y permanece
com o pensamento de que esse é o único modo com o qual ele sabe responder
às perguntas.
A ironia como forma generalizada de entrar em contato com as questões
da vida foi discutida em supervisão como uma possível representação do que a
gestalt entende como um dos mecanismos de evitação de contato: a deflexão.
Nesses casos, o sujeito realiza uma manobra de desvio, evitação ou fuga do
contato direto como forma de “amortecer os impactos”, ou seja, ao invés de
investir energia no contato, ele investe energia em outras situações, dissipando a
energia necessária para manter o contato.
Para estimular a formulação de um contato com qualidade e o
desenvolvimento do campo-relacional do indivíduo/paciente, faz-se necessário
estimular no cliente o movimento de awareness (Fukumitsu e Frazão, 2015).
Entende-se awareness como o movimento de tomada de consciência daquilo que
se passa dentro e fora de si no momento presente. No caso do cliente, Y foi
convidado a estar atento às principais funções que a ironia, como forma de se
comunicar, possuía em sua vida.
Durante uma sessão, Y se utiliza do recurso irônico para responder algum
questionamento feito durante a sessão. Nesse momento, pontuo o ocorrido e o
convido a participar de um exercício interpretativo, no qual eu interpretaria o papel
de sua mãe e o cliente interpretaria a si mesmo, mas ao final inverteríamos os
papéis.
O recurso de inversão de papéis, que possui origem no psicodrama,
dialoga com os princípios gestálticos na medida em que essa ferramenta se
presta a colocar o psicoterapeuta mais próximo do mundo vivido do paciente,
reforçando a ideia de “inclusão”, que seria a busca de se ver no lugar do paciente
e compreender a experiência vivida por ele (Oliveira e Vieira, 2015). Dessa forma,
Moreno (1975) define essa técnica como uma possibilidade do sujeito se colocar
em totalidade na alma do outro, o que garante também ao cliente uma
capacidade de awareness da situação mais completa e com isso, novas formas
de ajustamento mediante aos contextos.
Durante a atividade de inversão, Y ao interpretar sua mãe enquanto eu o
respondia com ironias, diz perceber que era muito difícil dialogar com alguém
assim, elaborando ao longo da sessão que se utiliza da ironia para se defender
quando se sente atacado, mas não quer entrar em confronto direto com sua mãe.
A partir dessa percepção do cliente, foi possível notar que a ironia
representava o ajustamento criativo que Y encontrou para lidar com as situações
nas quais ele se sentia atacado, mas que também estava expandindo também
para situações nas quais ele não sentia que tinha que se defender, como ocorreu
durante algumas sessões em que ele se utilizou da ironia para se comunicar
comigo.
Esse processo é reconhecido pela gestalt como um ajustamento criativo
disfuncional, visto que mesmo em situações nas quais ele não se sente atacado,
utiliza-se o mesmo recurso expressivo que é a ironia, cristalizando suas
possibilidades adaptativas de entrar em contato.
Portanto, a técnica interventiva aplicada obteve bons resultados, uma vez
que proporcionou a Y a retomada do awareness pela percepção de um
ajustamento criativo que se demonstrou disfuncional e estava cristalizando as
possibilidades de ajustamento criativo, trazendo sofrimento na comunicação com
sua mãe e em outras áreas de sua vida.

Caso 02: Cliente L

L é um adulto que buscou auxílio psicoterapêutico meses após ser


diagnosticado com HIV, relatando que ultimamente tem se sentido muito fora de
si. Ao longo das sessões, L diz que sempre foi considerado por todos como
alguém alegre, mas que não tem conseguido manter essa imagem para os outros
e nem para si. Dentre os principais sintomas, L diz que tem tido dificuldades para
dormir, sensação de aceleração temporal, dificuldade de concentração, falta de
motivação e perda de sentido na vida.
Dentre todas as questões citadas, L se incomodava mais com o fato de
não ser mais quem um dia ele foi. Ser irreconhecível para ele mesmo e para os
amigos têm feito com que ele se esforce para resgatar sua imagem antiga, mas a
frustração de não obter sucesso nessas tentativas gerou um sentimento
angustiante e paralisador em sua vida.
Desse modo, o movimento interventivo no contexto psicoterapêutico foi de
trabalhar com L a tomada de consciência desse seu novo modo de ser, buscando
dentro dessa nova configuração as potencialidades disponíveis para novos
ajustamentos,. Perls (1997), diz que “O paciente não se lembra de si mesmo,
simplesmente reembaralhando as cartas, mas ‘acha e faz’ a si próprio”. Tal
afirmação dialoga perfeitamente com o caso, visto que o paciente estava
cristalizado em um ajustamento criativo disfuncional e não se reconhecia mais.
A constante tentativa de L fugir do seu estado atual não o permitia
perceber vivênciá-lo e abrir-se para o movimento natural de transformação da
vida (Fukumitsu e Frazão, 2015). Do mesmo modo, Ribeiro (1985) afirma que o
trabalho da terapia não se trata de simplesmente interromper processos que são
naturais ao sujeito atendido
Ao longo do processo terapêutico, L passou a vivenciar de forma mais
genuína sua experiência atual, investindo energia no contato com sua experiência
ansiosa e permitindo-se conhecer melhor ao invés de tentar fugir desse momento.
Conclusão

A realização deste estágio foi uma confirmação pessoal da minha vocação


profissional. Os desafios de cada encontro, o manejo teórico-prático aplicado no
setting terapêutico e a partilha de experiência com colegas e supervisores foram
experiências completamente engrandecedoras na minha carreira como psicólogo.
As supervisões foram momentos fundamentais para nortear o desenvolvimento
dos atendimentos, bem como forneceram o material bibliográfico necessário para
acompanhar as demandas clínicas vigentes.
Já na primeira disciplina de estágio clínico foi possível perceber que a
formação do psicólogo não é algo que termina com sua graduação, pois há uma
vasta gama de nichos de atuação a serem aprofundados. Ao longo dessa
disciplina tive contato com adultos e adolescentes, ficando clara a divergência de
abordagem que deve ser aplicada em cada uma dos contextos, bem como a
preparação do psicólogo acerca das questões mais comuns dessas fases do ciclo
vital.
Sinto-me contemplado pela lente humanista-fenomenológica, acreditando
que encontro nesse arcabouço teórico apoio fundamental para auxiliar os clientes
em suas demandas, afirmando mais uma vez que estou trilhando o caminho
profissional que desejo para me tornar um psicólogo competente e realizado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

● Ribeiro, J. P. (1985). Gestalt-Terapia: refazendo um caminho. São Paulo:


Summus.
● FRAZÃO, M. L.; FUKUMITSU, O. K. (Org.) A clínica, a relação
psicoterapêutica e o manejo em gestalt-terapia [recurso eletrônico]. São
Paulo: Summus, 2015. Disponível em: . Acesso em: 05 nov. 2017.
● OLIVEIRA, Jeane Franco de; VIEIRA, Érico Douglas - Reflexões sobre a
relação terapêutica: perspectivas da gestal-terapia e do psicodrama.
● CUNHA, Augusto Carlos Rodrigues da - Gestalt Terapia e Adolescência na
Atualidade - Uma Revisão de Literatura. Brasília: 2018
● Goodman, P., Hefferline, R. & Perls F. S. (1997). Gestalt-Terapia (2ª ed., F.
Ribeiro, trad.). São Paulo: Summus.

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