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Resumo
O presente trabalho pretendeu identificar e examinar criticamente estudos das propriedades psicométricas do
Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT V2.0) publicados entre 2005 e 2016, em
amostras do Brasil, Espanha e Portugal. Para tal, realizou-se uma revisão sistemática da literatura de 14
artigos que testam a validade e a fiabilidade do instrumento, relacionando-o com variáveis como inteligência,
personalidade, bem-estar, comportamentos pró-sociais e desempenho profissional. Os estudos com o
MSCEIT V2.0 recorreram sobretudo a análises fatoriais exploratórias, assim como a análises da consistência
interna através do cálculo do alfa de Cronbach, demonstrando indicadores globais adequados. O instrumento
revelou ainda um satisfatório poder preditivo. Sugere-se a revisão do estudo das propriedades psicométricas
do MSCEIT V2.0 em outras culturas, de modo a atestar a adequação da medida independentemente do
contexto.
Abstract
The present paper aims to identify and critically review studies of the psychometric properties of the Mayer-
Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test (MSCEIT V2.0), published between 2005 and 2016, with
samples from Brazil, Spain, and Portugal. The systematic review analyzed 14 articles that tested the
instrument’s validity and reliability, as well as relations with intelligence, personality, well-being, prosocial
behavior, and job performance. Studies with the MSCEIT V2.0 mostly used exploratory factor analysis, as
well as internal consistency analysis with Cronbach alfas, generally showing adequate coefficients. The
instrument also presented satisfactory predictive value. We suggest further reviews of the psychometric
properties of the MSCEIT V2.0 in other cultures, in order to demonstrate the adequacy of the measure
regardless of the context.
1
Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. Departamento de Psicologia e Educação, Universidade Portucalense, Porto,
Portugal.
2
PhD, Professora Auxiliar. Departamento de Psicologia e Educação, Universidade Portucalense, Rua Dr. António Bernardino
de Almeida, 541, 4200-072 Porto, Portugal. Tel.: +351225572000. E-mail: amaraujo@upt.pt
Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación – e Avaliação Psicológica. RIDEP · Nº48 · Vol.3 · 163-176 · 2018
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MSCEIT V2.0 (Mayer, Salovey, & Caruso, 2002; Assim, se um indivíduo atribuir uma resposta que
Mayer, Salovey, Caruso, & Sitarenios, 2003). O 86% dos especialistas forneceram, receberá uma
MSCEIT V2.0 é, assim, o instrumento mais pontuação de .86 para a resposta. Apesar de
recente de uma série de medidas que avaliam a IE alguns problemas serem levantados relativamente
como capacidade e que procuram representar o à adequação do método de cotação por consenso
modelo de quatro fatores, tendo sido desenvolvido (Keele & Bell, 2009; Roberts, Zeidner, &
com o objetivo de aprimorar as versões anteriores Matthews, 2001), Mayer et al. (2002) encontraram
- o MSCEIT 1.1 (Mayer, Salovey, & Caruso, correlações entre ambos os métodos de cotação
1999) e, antes disso, o MEIS (Mayer et al., 1997). que variaram entre r=.93 e .99 para o teste total,
As análises fatoriais conduzidas com este componentes, áreas e subtestes.
instrumento indicam que este representa os O teste inclui oito subtestes: Faces e
domínios da IE através de uma estrutura de um, Paisagens (para a capacidade de perceber as
dois e quatro fatores (Mayer et al., 2003). Por se emoções), Facilitação e Sensação (para a
tratar de um instrumento adaptado e validado para capacidade de facilitar as emoções), Transição e
várias línguas, o MSCEIT V2.0 tornou-se popular Mistura (para a capacidade de compreender as
na avaliação da IE como capacidade (Cobêro, emoções), e Gestão e Relacionamento (para a
Primi, & Muniz, 2006; Curci, Lanciano, Soleti, capacidade de gerir as emoções). O MSCEIT
Zammuner, & Salovey, 2013; Extremera, V2.0 foi originalmente validado numa amostra de
Fernández-Berrocal, & Salovey, 2006; Iliescu, 2112 jovens e adultos com idades a partir dos 18
Ilie, Ispas, & Ion, 2013; Rode et al., 2008; Rossen, anos, tendo sido recolhidos dados em formato de
Kranzler, & Algina, 2008). papel ou de forma computorizada (Mayer et al.,
O teste é composto por 141 itens divididos por 2003). Quanto às propriedades psicométricas do
oito secções ou subtestes, que se organizam em teste original, no estudo da fiabilidade através do
duas áreas, a experiencial e a estratégica, sendo teste-reteste observou-se um coeficiente de .93
ainda possível obter-se uma pontuação global de para a escala geral, .90 para a área experiencial,
IE (Mayer et al., 2002). A resposta ao MSCEIT .88 para a área estratégica, .91 na Perceção de
V2.0 implica a resolução de problemas relativos a emoções, .79 na Facilitação do pensamento, .80
situações que envolvem emoções, sendo que esta na Compreensão Emocional e .83 na Gestão
resolução de problemas emocionais indica a emocional, sendo que os coeficientes alfa de
competência na adaptação emocional aos Cronbach nas oito subescalas do teste variaram
contextos. A correção do teste é feita através de entre .55 e .88 (Mayer et al., 2003).
um critério de consenso geral ou através de um Estudos realizados com o MSCEIT V2.0
critério estabelecido por especialistas. Na cotação mostram uma associação positiva entre a IE e
por consenso, são atribuídas cotações superiores a outras variáveis como a realização académica e
indivíduos que selecionam respostas que foram laboral, produtividade, qualidade das relações
anteriormente selecionadas por uma maioria de interpessoais, liderança, comportamentos pró-
indivíduos. Neste caso, as respostas são cotadas sociais e bem-estar, associando-se negativamente
em função da sua correspondência com a amostra com a agressividade, delinquência e uso de
normativa. Os resultados são ponderados em substâncias, e atuando ainda como fator protetor
função da proporção de indivíduos que na amostra face ao stresse e toxicodependência (Brackett &
normativa fornecem a mesma resposta. Assim, por Salovey, 2006; Fernández-Berrocal & Extremera,
exemplo, um indivíduo receberá um resultado de 2005; Gardner & Qualter, 2011; Mayer et al.,
.70 se 70% da amostra normativa escolher aquela 2004; Rey & Extremera, 2014). Mayer et al.
resposta em particular. Por outro lado, a cotação (2008) sustentam a necessidade do
com base em critérios estabelecidos por aperfeiçoamento dos testes de desempenho da IE,
especialistas é efetuada com recurso ao que estes visto que estes medem a capacidade de execução
especialistas consideram ser a resposta correta, dos indivíduos em tarefas mentais e não a crença
sendo que o indivíduo receberá uma cotação em ou autorrelato dos mesmos acerca dessa sua
função do grau de concordância entre a sua capacidade. Por outro lado, outros autores (e.g.,
resposta e a resposta da amostra de especialistas. Karim & Weisz, 2010; Shao, Doucet, & Caruso,
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global, reportando-se ainda que estudantes do Inventory (Monteiro, 2009), ou ainda pelas
sexo masculino e feminino representam o correlações nulas com o neuroticismo, a
constructo de IE de forma similar. extroversão e a conscienciosidade, estas avaliadas
O estudo da validade convergente do no estudo de Márquez et al. (2006). Esta validade
MSCEIT V2.0 recorreu ao uso de testes de discriminante foi igualmente demonstrada no
inteligência (Côbero et al., 2006; Jesus Junior & estudo de Márquez et al. (2006), onde se verificou
Noronha, 2007; Márquez et al., 2006; Monteiro, que o MSCEIT V2.0 não se correlacionou com a
2009; Primi et al., 2006). Foram encontradas inteligência geral e apenas moderadamente com a
correlações moderadas da IE com a inteligência inteligência verbal. Através de análise fatorial, foi
verbal, mas fracas com a inteligência geral, no ainda possível evidenciar que as capacidades
estudo de Márquez et al. (2006). Por outro lado, avaliadas pelo MSCEIT V2.0 se diferenciam de
observaram-se correlações positivas fracas a fatores de IE autorrelatada e da personalidade
moderadas com a inteligência avaliada pela versão avaliada em termos dos cinco grandes fatores,
da BPR-5 para o Brasil, notando-se que estas extroversão, amabilidade, conscienciosidade,
correlações se verificam especialmente para o neuroticismo e abertura à experiência (Sanchez-
raciocínio abstrato, verbal e espacial (Côbero et Garcia et al., 2016). Tal diferenciação foi ainda
al., 2005; Jesus Junior & Noronha, 2007). Foram observada, apesar de com menos clareza, no
ainda encontradas algumas correlações positivas estudo de Primi et al. (2006), onde se verificou
mas fracas (inferiores a .30) entre a IE (ao nível que os oito subtestes do MSCEIT V2.0 se
do resultado global, áreas, capacidades e diferenciam, na sua maioria, dos fatores onde
subtestes) e a compreensão verbal, o raciocínio estão incluídas as aptidões avaliadas pela BPR-5 e
numérico e o raciocínio verbal, numa amostra os traços de personalidade avaliados pelo 16PF.
portuguesa, verificando-se ainda apenas duas De modo a testar a validade de critério, foram
correlações com uma medida de inteligência geral utilizadas as variáveis desempenho profissional
(neste caso, para a capacidade compreensão das (Cobêro et al., 2006; Freitas & Noronha, 2006;
emoções e para o subteste Mistura) (Monteiro, Muniz & Primi, 2007), competências sociais
2009). Uma análise das correlações encontradas (Marquez et al., 2006) e bem-estar (Sanchez-
revela que não existe um padrão estável de Garcia et al., 2016). Além disso, a validade entre
correlações entre as dimensões avaliadas pelo grupos procurou estudar as diferenças entre sexos
MSCEIT V2.0 e os diversos tipos de raciocínio (Bueno et al., 2006; Extremera et al., 2006;
avaliados, o que poderá dever-se à qualidade das Sanchez-Garcia et al., 2016), grupo etário
amostras utilizadas nos estudos. Mais ainda, as (Extremera et al., 2006) e curso universitário
correlações não se verificam para todos os (Bueno et al., 2006). A validade preditiva foi
subtestes e para todas as capacidades avaliadas. avaliada através do estudo das relações entre a IE
A validade discriminante utilizou medidas de e o rendimento académico no final do ano letivo
personalidade (Côbero et al., 2006; Dantas & (Márquez et al., 2006). A IE avaliada com o
Noronha, 2006; Márquez et al., 2006; Monteiro, MSCEIT V2.0 está positivamente associada a
2009; Primi et al., 2006; Sanchez-Garcia et al., níveis mais elevados de comportamento pro-social
2016), de inteligência verbal e geral (Márquez et e negativamente associada a comportamento mal-
al., 2006) e uma medida de IE de autorrelato adaptativo (Marquez et al., 2006), positivamente
(Sanchez-Garcia et al., 2016). O estudo da associada a níveis mais elevados de desempenho
validade discriminante com a personalidade profissional avaliado por supervisor e por colega
mostrou que a IE, tal como medida pelo MSCEIT (Côbero et al., 2006; Freitas & Noronha, 2006;
V2.0, constitui um conceito distinto e que não se Muniz & Primi, 2007), e a uma maior perceção de
sobrepõe à personalidade, tal como demonstrado bem-estar (Sanchez-Garcia et al., 2016). A IE é,
pelas correlações nulas ou fracas entre os ainda, diferente no sexo feminino e masculino,
subtestes do MSCEIT V2.0 com os fatores do obtendo-se resultados mais elevados no grupo
teste 16 PF (Côbero et al., 2006; Dantas e feminino (Bueno et al., 2006; Extremera et al.,
Noronha, 2006) e com os fatores do California 2006; Sanchez-Garcia et al., 2016). A IE aumenta
Psychological Inventory e do Eysenk Personality com a idade, observando-se resultados mais
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elevados em indivíduos mais velhos (Extremera et indicadores de consistência interna das quatro
al., 2006). Por outro lado, é mais elevada em capacidades revelam igualmente esta
estudantes cuja formação implica uma maior variabilidade: enquanto que parece existir alguma
necessidade de lidar com emoções, como é o caso fragilidade nalgumas capacidades, obtendo-se
dos estudantes de psicologia, de comunicação e de valores mínimos entre .53 e .72, noutras a
artes (Bueno et al., 2006), ou ainda de educação consistência interna é muito elevada, chegando a
física (Dantas & Noronha, 2005). Finalmente, os valores próximos de .90. Os indicadores de
resultados globais de IE avaliados pelo MSCEIT consistência interna para as duas componentes são
V2.0 predizem positivamente médias de globalmente mais satisfatórios, atingindo na maior
resultados académicos, no final do ano letivo, em parte dos casos valores próximos de .90.
estudantes do ensino secundário (Márquez et al., Finalmente, os resultados do teste à estabilidade
2006). do MSCEIT V2.0 reforçam a sua precisão,
A validade incremental do MSCEIT V2.0 foi obtendo-se correlações acima de .70 (Sanchez-
demonstrada no estudo de Márquez et al. (2006), Garcia et al., 2016).
onde se observou que as relações entre a IE e o Considerando as opções para a cotação das
comportamento prossocial, a autoconfiança e o respostas, a cotação escolhida pelos autores dos
rendimento académico se mantêm significativas estudos baseou-se no consenso, ou seja, nas
após ter sido controlado o efeito da personalidade respostas dadas com mais frequência pelos
e da inteligência geral. Também no estudo de sujeitos da amostra normativa, excetuando o
Sánchez-Garcia et al. (2016) observou-se que a IE estudo de Extremera et al. (2006), que comparou
medida pelo MSCEIT V2.0 apresenta relações os resultados por método de consenso e por
positivas e significativas, tanto em homens como consulta de especialistas, sendo que o primeiro
em mulheres, com o bem-estar percebido, depois indica maior fiabilidade como sistema de cotação.
de controlada a associação deste com os cinco Neste aspeto, destaca-se ainda o estudo de
grandes fatores de personalidade. Sanchez-Garcia et al. (2016), que avaliou a
Relativamente aos estudos que analisaram a convergência dos resultados, correlacionando os
fiabilidade do teste, os autores recorreram à que foram obtidos por consenso na amostra
análise da consistência interna através do alfa de normativa espanhola com os que se basearam em
Cronbach (nove estudos: Bueno et al., 2006; especialistas (r=.98) e os que se apuraram a partir
Dantas & Noronha, 2005; Extremera et al., 2006; do consenso dos estudos americanos (r=.97;
Freitas & Noronha, 2006; Jesus Junior & Mayer et al., 2002).
Noronha, 2008; Monteiro, 2008; Muniz & Primi,
2007; Noronha et al., 2007; Sanchez-Garcia et al., Discussão
2016). Foram realizados estudos em Espanha que
incluíram os métodos de bipartição de itens A presente revisão sistemática da literatura
(Extremera et al. 2006) e de teste-reteste procurou identificar e analisar criticamente os
(Sanchez-Garcia et al., 2016). Os estudos que estudos das propriedades psicométricas do
realizaram testes de precisão ao MSCEIT V2.0 MSCEIT V2.0 (Mayer et al., 2003) realizados em
revelaram que este se mostra globalmente território brasileiro, espanhol e português e
consistente e homogéneo, com alfas de Cronbach publicados na última década. As investigações
da escala total a variarem entre .78 e .94, sendo mais recentes sugerem que o modelo de
que o teste de bipartição de itens apresenta capacidades de IE é o que mais se aproxima de
resultados no mesmo sentido (Extremera et al., um modelo padrão de inteligência, uma vez que é
2006). No que respeita à consistência interna dos defendida a combinação de inteligência e emoção,
subtestes, a leitura do Quadro 1 mostra que se em que esta última está presente na facilitação de
observa variabilidade nos resultados, sendo que processos cognitivos (Mayer et al., 2011). O teste
existem algumas fragilidades nalguns subtestes MSCEIT V2.0 é a última versão de um teste
(com alfas mínimos próximos de .50) e correspondente ao modelo teórico desenvolvido
consistência interna muito satisfatória noutros pelos pioneiros da IE Mayer et al. (2002), que a
(com alfas máximos a atingirem .89). Os descreveram como capacidade cognitiva. O estudo
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demonstraram estas relações com o desempenho diferenças existentes quando adotados diferentes
profissional (Extremera et al., 2006; Lopes, 2016), procedimentos de análise da estrutura fatorial do
com a qualidade das competências sociais, instrumento.
importantes para as interações sociais e adaptação As fragilidades encontradas no estudo da
social (Austin & Saklofske, 2014; Extremera et validade de constructo do MSCEIT V2.0
al., 2006; Mayer et al., 2008), e variáveis da prolongam-se também no estudo da sua
saúde, como o bem-estar subjetivo (Mayer et al., fiabilidade. Enquanto o teste global e as duas
2011). Este resultado apoia a sua utilização em componentes obtêm indicadores elevados de
estudos aplicados aos domínios do trabalho, consistência interna, o mesmo não acontece com
escolar e da saúde. Por outro lado, em amostras tanta clareza no que respeita às quatro capacidades
brasileiras e espanholas o sexo feminino mostrou- e a todos os oito subtestes. Ainda que os valores
se mais competente na IE, assim como os máximos de alfas reportados confirmem uma
indivíduos mais velhos, sugerindo que a IE se muito satisfatória fiabilidade para alguns
desenvolve com a idade e é influenciada pelo subtestes, outros parecem não apresentar
género, suportando assim os resultados de estudos suficiente homogeneidade nos itens que os
prévios (Fernández-Berrocal et al., 2012; Mayer et integram. Estudos futuros devem aprofundar o
al., 2004; Mayer et al., 2011). Estas conclusões contributo de cada item para o total da subescala,
podem apoiar a descrição do que será o perfil de no sentido de identificar os melhores itens na
um individuo com maior e menor nível de IE, avaliação da IE pelo MSCEIT V2.0. Recorde-se
visto que a IE como capacidade, entre o que já foi que entre os 14 artigos selecionados para a revisão
referido anteriormente, prediz várias sistemática da literatura, apenas o estudo de
características como a liderança, comportamentos Noronha et al. (2007) estudou as correlações do
pró-sociais (Mayer et al., 2004, 2008) e maior item com o total corrigido nos subtestes que
sensibilidade às emoções em determinadas integram a componente estratégica, tendo
profissões, como aquelas ligadas à saúde e às artes identificado itens com correlações muito fracas
(Bueno et al., 2006). com o seu subteste. Finalmente, importa referir
Uma apreciação geral do estudo da validade que os estudos de fidelidade relativos à
fatorial do instrumento permite-nos observar que estabilidade do teste apresentam valores
apenas um estudo recorreu à análise fatorial condizentes com o teste original, apontando o
confirmatória e ao estudo da invariância fatorial MSCEIT V2.0 como um instrumento estável e
por sexo (Sanchez-Garcia et al., 2016), não se neste sentido com boa precisão (Mayer et al.,
podendo assim garantir a justiça nas comparações 2012).
efetuadas de resultados de IE de mulheres e de Concluindo, os estudos identificados na
homens nas amostras identificadas. Dadas as presente revisão da literatura defendem a estrutura
vantagens do estudo confirmatório dos modelos original do MSCEIT V2.0 e os seus objetivos de
de medida na testagem de modelos teóricos, mais medida na população brasileira, espanhola e
estudos deveriam ter procurado incluir a análise portuguesa, apresentando indicadores que
fatorial confirmatória no sentido de testar a teoria suportam, na maioria, a sua validade de
subjacente ao MSCEIT V2.0 (Rossen et al., constructo, de critério, convergente e
2008). Aliás, os estudos reportados na presente discriminante, tal como encontrado noutras
revisão sistemática da literatura permitiram culturas (e.g., Rossen et al., 2008). O MSCEIT
observar algumas fragilidades na demonstração V2.0 apresenta-se como uma prova com
deste modelo de medida, através das análises qualidades psicométricas globalmente adequadas,
fatoriais e de componentes principais conduzidas, podendo ser utilizada em contexto académico ou
verificando-se dificuldades em identificar organizacional, a partir dos dezassete anos. No
claramente as quatro capacidades de IE. Contudo, entanto, algumas considerações devem ser tidas
o estudo que recorreu à maior amostra e que quanto à fiabilidade do instrumento, antecipando-
incluiu análise fatorial confirmatória nos seus se que existem subtestes onde a homogeneidade
procedimentos confirmou a estrutura original do não está garantida, necessitando, por isso, de
teste de um, dois e quatro fatores, reforçando as maior estudo no futuro. Quanto às limitações
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desta revisão, estas prendem-se com os critérios Brackett, M. A., & Salovey, P. (2006). Measuring
de inclusão que apenas incluem estudos com o emotional intelligence with the Mayer-
MSCEIT V2.0 em três países. Futuramente, Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test
sugere-se uma revisão que tenha em conta todos (MSCEIT). Psicothema, 18, 34-41.
os estudos de qualidades psicométricas realizados Bueno, J. M. H., Santana, P. R. S., Zerbini, J., &
com o MSCEIT V2.0 nas várias culturas e desde a Ramalho, T. B. (2006). Inteligência
sua introdução no domínio da avaliação da IE, no emocional em estudantes universitários.
sentido de compreender a aplicabilidade do teste e Psicologia: Teoria e Pesquisa, 22, 305-316.
as suas potencialidades de forma mais alargada. doi:10.1590/S0102-37722006000300007
Importa, sobretudo, analisar estudos que tenham Cala, M. L. P., & Castrillón, J. J. C. (2015).
incluído amostras significativas e adequadas e que Inteligencia emocional y rendimiento
tenham incluído nos seus procedimentos as académico en estudiantes universitarios.
análises estatísticas de que dispomos atualmente, Psicología desde el Caribe, 32, 268-399.
nomeadamente a análise fatorial confirmatória. doi:10.14482/psdc.32.2.5798
Por outro lado, importa perceber até que ponto as Caprara, G.V., Barbanelli, C., & Borgogni, L.
medidas de capacidade da IE se adequam ou não (1993). Big Five Questionnaire (BFQ).
àquilo que é a IE, contribuindo para o Madrid: TEA.
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