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PARA

PROBLEMAS COM BEBIDA


Em Center City, Minnesota

“Hazelden” conta com seis anos de experiência em recuperação


de homens com problemas com bebida. Seus diretores foram "ao olho
do furacão" de si mesmos e desenvolveram um programa baseado em
leitura, meditação, educação audiovisual, consultas e discussões, que
possibilitam aos hóspedes residentes entenderem os “porquês” deste
problema, e como paralisar esta doença.
Uma atenção especial é dada, servindo refeições apetitosas,
visando o bem-estar físico, que é reconhecido como um dos mais
importantes passos ao longo da caminhada para a recuperação.
Descanso e meditação também são importantes, e os visitantes
estarão autorizados apenas a pedido do hóspede residente.
Pesca, canoagem, piscina são algumas das possíveis diversões.
Médicos e enfermeiros disponíveis 24 horas por dia, e consultas
psiquiátricas serão agendadas mediante solicitação.

Preços razoáveis... para mais informações escreva para

341 North Dale Street Saint Paul 3, Minn.


(or) Center City, Minnesota
Uma organização sem fins lucrativos
REI BEBÊ

Tom Cunningham

Hazelden Foundation
Editora JCB Publicações Ltda
Copyright © 2014, Tom Cunnigham

Rei Bebê

Título em Inglês: KING BABY


Publicado originalmente por: Hazelden
Foundation
Todos os direitos de tradução e
publicação para o território brasileiro
reservados por Editora JCB Publicações
Ltda
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU
PARCIAL POR QUAISQUER MEIOS, SEM
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA EDITORA
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil
1ª Edição Brasileira
Maio de 2014
Coordenação Editorial: AMMB Syncro
Infinite Loop Avenue,#304 Projeto Gráfico: MFMB Ilustra
California Place Edição de texto: AMMB Syncro
Patos de Minas, MG CEP 38700-000 Diagramação: JCB Desing
Telefax: (34) 6963-4958 Revisão: JCB Desing
URL: www.jcbpublicacoes.com.br Adaptação da Capa: JCB Desing
E-mail: editora@jcbpublicacoes.com Ilustração: MFMB Ilustra

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Cunnigham, Tom
Rei Bebê / Tom Cunningham; / Tradução AMMB Syncro/.
– 1ª. Ed. – Minas Gerais: Editora JCB Publicações Ltda.,
2014. – (Dependência química)

Título original: King Baby.


Bibliografia.
ISBN 972-8272-04-9
1. Dependência Química. 2. Compulsão. 3. Tratamento
I. Título II. Série

CDD-717.1 07-7211
ii
Nota dos Editores à Tradução Brasileira:
Uma adicção consiste no uso habitual de substâncias alteradoras
do humor (medicamentos, álcool, drogas) ou de comportamentos
(excesso de trabalho, jogos, abuso de comida, internet, falar
demais, sexo, mania de limpeza, consumismo) que é caracterizado
pela tolerância à substância ou comportamento (sendo que um
crescente e contínuo uso à substância ou comportamento se
tornam necessários para obter o mesmo efeito) e pela perda de
controle (o uso continuado apesar de suas consequências
negativas).
A dependência química consiste na adicção ao álcool e/ou
outras drogas. É uma doença progressiva e, se não for tratada,
mortal.

Sobre a Fundação Hazelden:


Os “Materiais Educacionais da Hazelden”, editados no
Brasil pela Editora JCB Publicações Ltda., oferecem uma grande
variedade de informação sobre a dependência química e as áreas
com ela relacionadas. As nossas publicações não representam
necessariamente os programas da Fundação Hazelden, nem se
pronunciam oficialmente por nenhuma organização dos Doze
Passos.

Sobre este livro:


Este livro detalha a personalidade do Rei Bebê – os traços
infantis visíveis nas pessoas que atingiram a idade adulta sem
adquirir maturidade emocional. Estes traços devem ser rendidos
antes que se possa suspender inteiramente a dependência química
– a presença desta personalidade de Rei Bebê pode acelerar a
adicção ou conduzir à recaída.

Sobre o autor:
Tom Cunningham trabalha no campo da dependência química
há dez anos. Tem uma licenciatura obtida na Universidade de
Minnesota e trabalha atualmente com aconselhamento de jovens e
adolescentes dependentes de substâncias tóxicas.

iii
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 7
QUEM É O REI BEBÊ ............................................................................. 9
CARACTERÍSTICAS DO REI BEBÊ ......................................................... 10
A CRIANÇA ASSUSTADA E O REI BEBÊ .............................................. 13
O MITO DO REI BEBÊ .......................................................................... 16
O CÍRCULO VICIOSO ............................................................................. 23
A COMBINAÇÃO FATAL ....................................................................... 24
O CATALISADOR ................................................................................... 25
CANSADO DE ESTAR FARTO ............................................................... 26
ADMITIR A DERROTA, ENCARAR A REALIDADE ............................. 27
CURAR A NOSSA CRIANCINHA ASSUSTADA ................................... 28
OS CUIDADOS DENTRO DE A.A/N.A ................................................. 29
AMAR A SI MESMO ............................................................................. 30
AMAR E SER AMADO .......................................................................... 31
LIBERDADE ........................................................................................... 32
RENDIÇÃO ........................................................................................... 33
PERDÃO ................................................................................................. 34
HUMILDADE ........................................................................................ 35
CULPA ................................................................................................... 36
USANDO NOSSA PERSONALIDADE COMPULSIVA .......................... 37
RELACIONAMENTO COM NOSSO PODER SUPERIOR ..................... 38
DÉCIMO PASSO ................................................................................... 39
RELACIONAMENTOS COM O SEXO OPOSTO ................................... 40
ELIMINANDO VELHOS PADRÕES DE COMPORTAMENTO ............ 41
A ATITUDE A TER É DE GRATIDÃO ................................................... 45
O PEDIDO E A RESPOSTA ..................................................................... 45

v
INTRODUÇÃO

O Dr. Harry Tiebout utilizou as palavras “Sua


Majestade o Bebê”, do psicanalista Sigmund Freud, para
descrever uma atitude inata. O termo Rei Bebê poderia
ser de uma forma igualmente adequada Rainha Bebê
também, porque, provavelmente, todos nós temos este
ego infantil no nosso inconsciente.
Os adictos têm de estar particularmente conscientes
das características do Rei Bebê, pois essas atitudes e
comportamentos podem interferir na sua recuperação.
Nos programas de Doze Passos, sentimos
frequentemente a necessidade da rendição e tentamos
praticá-la, na forma de orientar nossa vida e vontades
para Deus. Temos “slogans” que realçam a necessidade
do Terceiro Passo e suas recompensas: Se entregue,
renda-se a Deus1, Entregar resulta2.
O reconhecimento da impotência é a base da
rendição, mas o ato da rendição surge com a aceitação
total dessa impotência. Muitos de nós, que sentem
dificuldades com o Primeiro Passo, são capazes de
reconhecer a sua impotência, mas não estão dispostos a
aceitá-la. Em outras palavras, somos capazes de vê-la e
compreendê-la, mas a nossa necessidade de controle
nos impede de comprometermos com este ato de
rendição que é tão necessário. Os egos interferem. A
nossa mentalidade de Reis Bebês insiste em que
guiemos nossa vida e controlemos as nossas vontades.

1 – Let Go and Let God.


2 – What’s Turned Over Turns Out.
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Ao proceder assim, o Rei Bebê dentro de nós impede
a nossa recuperação.
Neste livro aprenderemos a identificar o eu infantil
do Rei Bebê que existe dentro de nós. Temos de
renunciar aos traços infantis de nossa personalidade
antes que nossa doença possa ser totalmente dominada.
A personalidade compulsiva do Rei Bebê pode
acelerar a adicção ou conduzir à recaída. Temos de nos
manter conscientes deste impulso ao trabalhar o
programa de recuperação de Doze Passos, nos
Alcoólicos Anônimos ou nos Narcóticos Anônimos.

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QUEM É O REI BEBÊ

Para compreender o Rei Bebê, vamos imaginar que


estamos voltando ao ventre de nossa mãe. Lá sentimos
calor, segurança, conforto, liberdade e poder. Todas as
necessidades são satisfeitas. Somos o centro do nosso
universo. Cuidam de nós só pelo fato de existirmos e
isso nos satisfaz completamente.
A infância também encoraja as nossas atitudes de
Reis Bebês. Nossas exigências ruidosas por alimento,
atenção e carinho são imediatamente atendidas. Somos,
de novo, o centro de um vasto reino; os nossos desejos
são da máxima importância. Através dos processos
naturais de maturação da infância e do estado adulto, a
maior parte da mentalidade de Rei Bebê é abandonada
e substituída por atributos que permitem uma
capacidade de adaptação.
Alguns de nós, no entanto, avançam através dos
estágios do desenvolvimento físico sem nos desprender
desta criatura imatura – o Rei Bebê. Para nós, o Rei Bebê
nunca esquece a aconchegante e maravilhosa segurança
da vida pré-natal e infantil e tentará constantemente
voltar a experimentá-la. O Rei Bebê luta para
reconquistar a felicidade total que advém de todas as
necessidades serem satisfeitas.

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CARACTERÍSTICAS DO REI BEBÊ

Ao tentar recuperar a segurança da infância, os Reis


Bebês continuam funcionando com base nos mesmos
padrões antigos de sentimentos que, muito tempo atrás,
os recompensaram. Tiebout1 afirma que “quando os
traços infantis se mantêm na idade adulta, diz-se que
esta pessoa é imatura”. E esta imaturidade está ligada
aos traços de sentimentos de onipotência, incapacidade
de aceitar frustrações, e imediatismo.
Os Reis Bebês partilham uma grande variedade de
traços de personalidade. Nenhum de nós possui todos
estes traços, mas descobriremos provavelmente muitos
que nos descrevem. Os Reis Bebês podem apresentar as
seguintes características:
1. Ficam muitas vazes irritados com as pessoas que
representam autoridade ou com receio delas, e
tentam colocá-las umas contra as outras de
modo a conseguirem o que pretendem.
2. Procuram aprovação e frequentemente perdem a
sua própria identidade no decorrer do processo.
3. São capazes de causar uma boa primeira
impressão, mas incapazes de manter.
4. Tem dificuldades de aceitar críticas pessoais e
sentem-se ameaçados e irados quando são
criticados.

1 - Harry M. Tiebout, M.D. The Ego Factors in Surrender in


Alcoholism (Center City, MN, Material Educativo Hazelden), pág. 6,
catálogo 1270.
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5. Tem personalidades compulsivas e deixam-se
levar a extremos.
6. Não se aceitam ou alienam-se.
7. Ficam muitas vezes imobilizados pela ira e
frustação e raramente estão satisfeitos.
8. Sentem-se geralmente sozinhos, mesmo quando
rodeados de pessoas.
9. Estão sempre se queixando e culpam os outros
pelo que lhes acontece de mal na vida.
10. Sentem que não são apreciados e que não
pertencem ao grupo onde estão.
11. Veem o mundo como uma selva cheia de pessoas
egoístas que não estão disponíveis para eles.
12. Encaram tudo como catástrofe, como uma
situação de vida ou morte.
13. Julgam a vida em termos absolutos; preto ou
branco, certo ou errado, não aceitando o meio
termo.
14. Vivem no passado, ao mesmo tempo em que
receiam o futuro, e não vivem o presente de
forma adequada.
15. Tem fortes sentimentos de dependência e um
medo exagerado de abandono.
16. Tem medo do fracasso e da rejeição e não
tentam fazer coisas novas em que possam vir a
falhar.
17. Tem obsessão por dinheiro e coisas materiais.
18. Sonham com metas e planos grandiosos e tem
pouca capacidade de fazer com que eles
aconteçam.
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19. Não toleram a doença neles ou nas outras
pessoas.
20. Preferem agradar aos superiores e intimidar os
subordinados.
21. Acham que as regras e as leis são para os outros
e não para eles próprios.
22. Tornam-se frequentemente compulsivos por
estímulos de excitação e de uma vida frenética.
23. Guardam para si as emoções dolorosas e perdem
o contato com os seus sentimentos.

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A CRIANÇA ASSUSTADA E O REI BEBÊ

Muitos adictos tem dentro de si um jovem assustado,


solitário e envergonhado que murmura contra si mesmo
pensamentos derrotistas de autocrítica, baseados numa
vida inteira de mensagens negativas. Constantemente se
comparam aos outros e sentem que não estão à altura
deles.
Estes sentimentos de falta de valor próprio, de
culpabilidade, e de não pertencer a um grupo, tornam-
se o núcleo central de nossas personalidades. O Rei
Bebê – um ser egoísta e exigente – surge como reação a
estes sentimentos de vergonha e de inadequação.
Ao lutar de forma infantil para ser aceitos e agradar
aos outros, começamos a procurar coisas exteriores para
nos sentir melhor por dentro. Roupas de marcas da
moda, carros esportivos, namoradas ou namorados
sexys, celular do momento, drogas e a excitação de uma
vida frenética ajudam a acalmar o nosso sofrimento.
Criamos uma aparência atrativa, magnética,
encantadora para conseguir o que queremos. Usamos
nosso tempo para a procura desenfreada de prazer, a
procura de poder, a procura da satisfação e a procura de
atenção para preencher o vazio dentro de nós, mas o
vazio se mantém. Não há amor, lei, dinheiro ou status

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que cheguem para a criança assustada que existe em
nós.
Considerando tudo isto como uma fraqueza, a parte
de nós que corresponde ao Rei Bebê tentará destruir,
atacar e por de lado a nossa criancinha assustada. Ao
negar estes sentimentos, o Rei Bebê encobre, em última
análise o fato de a criancinha assustada existir.

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A luta interior

Compreender o Rei Bebê é difícil, pois as coisas nunca


são aquilo que parecem ser. Existem dois fatores
principais de motivação: em primeiro lugar, a criança
assustada, solitária, que não quer ser mais magoada e,
em segundo lugar, o Rei Bebê que nunca está satisfeito.
Quando a criança receosa que existe em nós ouve a
palavra não, uma mensagem interior preconcebida nos
diz que somos maus. Só nos sentimos amados quando
recebemos carinho, e nos sentimos não amados quando
nos corrigem ou nos disciplinam. Quando somos
criticados, a nossa imaturidade insiste no direito de fazer
o que ela acredita ser o melhor com base nos padrões
antigos de comportamento e argumenta que, se somos
amados, os outros devem nos deixar fazer o que
queremos. Muitas vezes, as nossas manipulações nos
permite ganhar.
Ambas estas facetas – a criança medrosa e o Rei Bebê
exigente – ficam temporariamente satisfeitas se
criarmos em nós a pessoa que pensamos que os outros
querem que sejamos. No entanto, a base para uma
recuperação duradoura está em ajudar a criança
assustada a readquirir o sentimento de valor próprio e
aprender a controlar os comportamentos de Rei Bebê.

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O problema

As pessoas em recuperação tem geralmente


consciência das muitas ameaças a que está sujeita a sua
sobriedade. Os programas de Doze Passos são criados
para nos ajudar a enfrentar e ultrapassar os nossos
defeitos de caráter. A imaturidade, que constitui um
problema para muitos de nós, é um reduto do Rei Bebê
em cada um de nós. Poderá ser necessário reconhecer
este defeito e removê-lo se quisermos continuar com
nossa recuperação.
O Rei Bebê em nós, nos diz que temos razão – os
outros é que estão errados. Muitos de nós defende a
nossa razão em todo lugar e em qualquer situação onde
nos sentirmos ameaçados. Os Reis Bebês atuam muitas
vezes como se fossem o nosso próprio Poder Superior,
tomando decisões baseadas nos juízos preconcebidos
em relação a si mesmo e aos outros. O Rei Bebê que
existe em nós, nos diz que deveríamos ser capazes de
ser bem sucedidos em tudo o que empreendermos.
Existe em nós o sentimento de sermos destinados à
grandeza.

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O MITO DO REI BEBÊ

A mentalidade de Rei Bebê é comandada por três


motivações – poder, atenção e prazer. Tentamos
arranjar amigos sendo excessivamente simpáticos e
amáveis. Com isto nos agarramos às pessoas.
Tentamos frequentemente controlar ou dominar.
Impomos condições em quase tudo o que fazemos, o
que cria situações de dívida para nós mesmos.
Receamos que o nosso verdadeiro eu seja rejeitado,
por isso apresentamos ao mundo uma pessoa falsa e
inventada. Isto nos protege de ser magoados. Cada
uma das personalidades ou jogos que inventamos tem
por base uma falsa promessa ou um mito.

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O Popular

Mito: Se eu for simpático, atrativo, magnético


e for a pessoa que anima festas, todos
irão querer ser meus amigos.
Verdade: Querendo ser tudo para todos,
perdemos o nosso verdadeiro eu no
processo.
Fim do jogo: O jogo acaba quando os outros
compreendem que não existe nada por
trás dos falsos sorrisos.

O Tirano/Ditador

Mito: Se me obedecer e ficar sob meu


controle total, eu o protejo do caos.
Verdade: Se pensar que nascemos chefes,
capazes de dominar qualquer crise,
esperamos que os outros se ponham
confiantemente em nossas mãos.
Mestres no sarcasmo, mantemos os
nossos súditos em seus lugares com
comentários cruéis.
Fim do jogo: O fim do jogo se dá quando os “súditos”
se recusam a obedecer.

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O Conquistador

Mito: Sou irresistível para o sexo oposto.


Parte da minha capacidade de atração
vem da minha falta de respeito pelos
outros. Espero amor, atenção, riqueza e
poder em troca do privilégio da minha
companhia.
Verdade: Estamos metidos numa competição
feroz para ocupar o centro do palco e
somos incapazes de nos comprometer
num relacionamento.
Fim do jogo: O jogo acaba quando os outros tomam
consciência da frivolidade do
conquistador.

O Atraente

Mito: Juventude, um corpo sarado e um rosto


atraente são as qualidades essenciais
para eu ser amado e aceito.
Verdade: Tentamos ser aceitos apenas à custa
das aparências.
Fim do jogo: O jogo acaba quando os outros se
cansam da constante exigência que a
criança dentro de nós faz de sua
capacidade de atração

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O Carismático

Mito: Se eu conseguir entreter com a minha


música, o meu espírito carismático ou
qualquer outro talento, todos irão me
admirar e me adorar.
Verdade: Só nos sentimos aceitos se os outros
ficarem entusiasmados com nossos
talentos e procurarem nossa companhia
para se distrair.
Fim do jogo: O jogo acaba quando os outros se
cansam de ter estado sempre na
posição de admiradores ou quando
percebem que não temos qualidades
humanas e afetivas que contribuam
para um relacionamento.

O Perfeccionista

Mito: Eu não tenho valor se não conseguir ser


o melhor no que faço.
Verdade: Ninguém é sempre o melhor ou mais
bem sucedido, mas tentamos nos
valorizar buscando fazer algumas coisas
bem feitas.
Fim do jogo: O fim do jogo chega quando tomamos
consciência da futilidade de ter altas
expectativas ou quando os outros se
cansam da nossa competitividade.

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O Simpático

Mito: Se eu for simpático e amável com todas


as pessoas, elas gostarão de mim.
Verdade: Nosso medo de rejeição nos leva a
procurar a aprovação constante de
todos.
Fim do jogo: O fim do jogo acontece quando vemos
que não podemos agradar a todos ou
quando os outros se cansam da
fraqueza das nossas atitudes.

O Rebelde

Mito: Tenho de fazer as coisas do meu jeito,


senão... As regras são para as outras
pessoas. Se me disser para não fazer
uma coisa, é como se agitasse uma
bandeira na minha cara e me desafiasse
a fazê-la.
Verdade: Nós os rebeldes, geralmente assumimos
as consequências ou o castigo que
pedimos ou merecemos.
Fim do jogo: O fim do jogo vem quando nos
cansamos de pagar o preço que o fora
da lei tem de pagar e abandonamos
este comportamento.

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O Auto piedoso

Mito: Mereço sofrer. Eu não significo nada.


Ninguém me compreende. Pobre de
mim. Considero sua compaixão como
uma expressão de amor.
Verdade: Confundimos amor com piedade e
pensamos que se nos sacrificarmos,
estaremos nos protegendo do
abandono.
Fim do jogo: O jogo acaba quando cansamos de
sofrer e compreendemos realmente o
que merecemos.

O Rejeitado

Mito: Se não jogar o mesmo jogo que eu, eu


me recuso a jogar.
Verdade: Paralisados pelo medo do fracasso e da
rejeição, não empreendemos nada e
sentimos que o mundo tem uma dívida
para conosco. Temos tão pouca
coragem e tanto pessimismo que
desistimos antes mesmo de começar.
Fim do jogo: O fim do jogo se dá quando os outros se
cansam de não receber nada em
troca1,2.
1 - John Powell, S.J. Why am I afraid to tell you who I am? (Allen, TX;
Argus Communications, 1969).
2 - Janet Geringer Woititz. The Struggle for Intimacy (Deerfield
Beach, FL; Health Communications, Inc., 1985).
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O CÍRCULO VICIOSO

Todos estes jogos começaram com alguma esperança


de sucesso, mas escorregam para a frustração e o
fracasso. Uma vida de Rei Bebê acaba por tornar-se
numa situação extrema de altos e baixos. Os recomeços
são sempre seguidos de desfechos dolorosos. Estes
Bebês tornam-se compulsivos da emoção que o sucesso
traz e, mais importante ainda, compulsivos também pela
dor do fracasso.
Os Reis Bebês não podem suportar o aborrecimento
que vem das coisas correrem bem demais e criam
situações de crise ou confusão. Uma vida de agitação
disfarça os problemas e diminui a sua responsabilidade
pelos fracassos.
O caos impede os mesmos de observar como sua
autoestima está em constante diminuição. O fato de se
ter acabado a graça destes jogos termina na total
ausência de quaisquer sentimentos. É previsível que a
personalidade do Rei Bebê se tornará dependente de
qualquer coisa. É só uma questão de tempo.

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A COMBINAÇÃO FATAL

Agarrada a uma vida de excessos e sujeita a


sentimentos de pouca autoestima e de autocrítica
negativa, uma pessoa imatura tem uma vida frustrante e
pouco compensadora, mas não necessariamente
péssima. Mas qualquer coisa pode acontecer a um
adicto quando o estilo de vida de Rei Bebê e a pouca
autoestima se combinam com a experiência de dor. Este
“qualquer coisa” pode ser uma combinação fatal.
Aqueles sentimentos calorosos, agradáveis e
confiantes da infância – aquilo que procuramos por toda
a nossa vida – é de novo alcançado. O efeito
reconfortante e anulador do medo que o uso habitual de
substâncias alteradoras do humor (medicamentos,
álcool, drogas) ou de comportamentos (jogos, abuso de
comida, internet, falar demais, sexo, mania de limpeza,
consumismo) oferece, corresponde exatamente àquilo
que os nossos egos de Reis Bebês tem procurado.
Quando a relação de amor com a dor toma conta de
nós, todos os aspectos da nossa vida modificam
progressivamente para um comportamento mais
excessivo e imaturo.

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O CATALISADOR

O sistema de defesa do Rei Bebê, quase negando


qualquer problema, já se encontra bem definido e
acelera a queda do adicto para o fundo do poço. O
inimigo está dentro de nós, e o uso da droga e/ou
comportamento liberta as nossas frustrações, raivas,
ressentimentos, medos e dúvidas reprimidos, como um
foguete que decola para a lua. A sensação maravilhosa
do útero, retorna, e o Bebê anda radiante por dentro e
por fora, estimulado e confiante com a descoberta desta
euforia.
O ego torna-se auto piedoso e furioso, exigindo ser
constantemente alimentado por uma série de diversões
e estímulos que nos levam em alta velocidade para o
aumento progressivo da adicção. Rapidamente nos
tornamos compulsivos e atingimos o fundo do poço em
metade do tempo que levou as recaídas anteriores.
Cego pela maravilhosa sensação desta euforia
perfeita, o Bebê que existe dentro de nós põe de lado
aquilo que resta de sua consciência e sistemas de
valores. Dispondo de todo um sistema incorporado de
persianas, tampões para os ouvidos e visão estreita,
unidos ao serviço de um sistema de engano e negação,
somos capazes de nos manter completamente
ignorantes a respeito do estado em que chegamos.

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CANSADO DE ESTAR FARTO

Exausto devido a um estilo de vida que exige tudo no


mesmo instante, buscando sempre ganhar, tentando
sempre levar a melhor, temendo as consequências e
pensando sempre em nós mesmos, o Bebê que existe
em nós acaba fazendo uma manobra brusca.
Quando o enjoo e o pânico provocados pela sensação
de nó no estômago se tornam um medo devastador e
nos consome totalmente, vamos ao fundo do poço. O
Bebê não pode imaginar a vida sem álcool, drogas ou
comportamentos destrutivos e tem medo de continuar
indefinidamente nesta corrida feroz que nunca mais
acaba. Preso aos padrões antigos de comportamentos
que se repetem e não tentando nada diferente. O Rei
Bebê fica paralisado pelo medo de enfrentar o dia
seguinte. A recuperação pode ser adiada pelo ego
imaturo que continua a insistir que tem a razão – “Posso
fazer seja o que for. Não preciso de ajuda”. O “tempo
certo” é muito importante, pois o Bebê se encontra
vulnerável e pode ser ajudado.

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ADMITIR A DERROTA, ENCARAR A REALIDADE

Admitindo que do nosso jeito não funcionou e


enfrentando o fracasso, abriremos as portas de um
mundo de sofrimento. No mesmo instante, o nosso Rei
Bebê passará da necessidade de ajuda, ao sentimento
de desespero, de pensar que não podemos mudar.
Ficaremos atolados no pântano do desespero,
esperando ser salvos, enquanto exigimos um certificado
de garantia para o sucesso antes de enfrentar nossos
medos. Nesta altura, podemos aceitar ajuda de A.A. e
N.A. , vindos ao nosso encontro através de outro Rei
Bebê alcoolista, drogativo ou compulsivo, que nos
assegura que os Doze Passos funcionam. Antes de fazer
o Primeiro Passo, o Rei Bebê precisa confiar que “Se
outros são capazes, eu também sou”.
A forma de escapar da ratoeira que o Rei Bebê usa, é
te induzir ao pensamento: “Eu não sou capaz, nós somos
capazes”. Rendendo se ao estilo de vida dos Doze
Passos, o poder do Rei Bebê pode ser dominado e isto
pode nos ajudar a encontrar um Poder Superior que
trabalhe para nós.
Podemos aprender o verdadeiro sentido do perdão,
da humildade e da gratidão. Podemos aprender a evitar
as armadilhas do Rei Bebê e a sintonizar nossos
sentimentos com os Doze Passos.
Podemos aprender a nos divertirmos outra vez, ao
mesmo tempo em que adquirimos uma compreensão
nova e mais profunda da vida.

Página | 27
CURAR A NOSSA CRIANCINHA ASSUSTADA

Servindo-nos de todo amor e apoio de nosso grupo


de Doze Passos, teremos de empreender uma viagem
interior para encontrar aquela parte de nós – o “mau”
rapazinho assustado ou a “má” garotinha assustada, que
tanto tempo ignoramos. Podemos nos imaginar
entrando no quarto dele ou dela e vendo a criança
encolhida chorando num canto.
Podemos nos tornar pais amáveis e carinhosos dessa
criança que existe dentro de cada um de nós. Como
qualquer pai faria, encorajamos a criança a se
aproximar, sentar-se perto de nós e explicar o que está
acontecendo de errado. Então, pegamos esta criança e
dizemos: “Está tudo bem”, e ao limpar cuidadosamente
suas lágrimas, fazemos com que ela saiba que é amada,
que é um belo ser humano e que está em segurança.

Página | 28
OS CUIDADOS DENTRO DE A.A./N.A

Existe dentro dos grupos de Doze Passos em


sentimento de ternura, calor e segurança, que vai ao
encontro dos recém-chegados com a mensagem: “Você
é a pessoa mais importante que existe, e eu vou gostar
de você antes mesmo de você se tornar merecedor de ser
amado”. Esta é a promessa de A.A./N.A.
Amor incondicional. A única coisa que se espera é um
desejo sincero de parar de beber ou de usar. Isto
corresponde ao ventre acolhedor e aconchegado que o
Bebê tem procurado sempre. A família carinhosa e
atenta dos Doze Passos é genuína e está em nítido
contraste com a falsa segurança do álcool e de outras
drogas.

Página | 29
AMAR A SI MESMO

Lentamente, o Bebê em recuperação começa a


adquirir o respeito por si próprio através dos Doze
Passos. É um trabalho difícil mudar completamente a
vida de uma pessoa, mas as instituições de A.A./N.A.,
estão sempre presentes como guias.
Através destes programas, começa a surgir à
consciência da dignidade pessoal. Surge através da
descoberta, disciplina, perdão e aceitação de si mesmo
como realmente se é. Gradualmente, a criancinha
medrosa aproveita a oportunidade de desenvolver o
amor próprio.

Página | 30
AMAR E SER AMADO

Não faz mal se as pessoas no nosso grupo dos Doze


Passos gostarem de nós antes de nós gostarmos de nós
mesmos. O que importa é que agora gostamos mais de
nós. Gradualmente, exploraremos e descobriremos
todas as qualidades maravilhosas que possuímos.
Para um padrinho é muito gratificante observar o
afilhado descobrir os seus talentos maravilhosos e
únicos. Cada um aprende com o outro, enquanto
atravessam as provas do começo da sobriedade. Os
padrinhos fazem isto para conseguir ficar sóbrios; e, ao
fazerem isto, reforçam tudo quanto aprenderam.
Observar o recém-chegado a regressar à vida é uma
emoção que constitui recompensa suficiente.

Página | 31
LIBERDADE

Voltar à vida com sentimento de dignidade e ficar


ligado a um padrinho, nos prepara para a próxima fase.
A nossa imaturidade nos obrigou a passar a vida
captando poder exterior para nos sentirmos bem por
dentro. Vendermo-nos por um prazer momentâneo era
escravidão. O bem estar não vem de ouras pessoas,
lugares ou coisas, mas de dentro de nós.
Recuperar o poder pessoal passa por admitir primeiro
a nossa impotência em relação aos outros. Todos nós
precisamos assumir a responsabilidade pelo nosso
próprio valor e dignidade. O nosso valor próprio não
depende do que os outros dizem ou fazem, mas antes,
de como reagimos a isto. Existem escolhas quanto à
forma de como reagir. Reagir com medo, raiva ou
ressentimento leva a pessoa a fazer uma autocrítica
negativa e sentir que não tem valor. Aceitar o fato de
que nem todos estarão de acordo com o que pensamos
e talvez nem mesmo gostar de nós, deve ser feito, pois é
a realidade.

Página | 32
RENDIÇÃO

É um grande alívio já não sentir obrigados a tentar


governar todo o universo. Na rendição, devolvemos essa
tarefa a um Poder Superior que, por sua vez, enche as
nossas almas com o calor, o conforto e a serenidade que
há tanto tempo procurávamos.

Antes da Rendição Depois da Rendição


Frustrado Em segurança
Zangado Protegido
Tenso Descontraído
Nervoso Grato
Sem saída Aberto
Em pânico Capaz de ser ensinado
Com medo Com boa vontade
Culpado Honesto
Envergonhado Esperançoso
Com dúvidas Em paz
Derrotado Sereno
Ressentido Tolerante
Vazio Realizado

Página | 33
PERDÃO

Deus não faz coisas mal feitas. Cada um de nós é uma


pessoa única – um alguém, não um ninguém. Em todo o
mundo não há mais ninguém igual a nós. Temos de nos
fascinar por nós mesmos e ter consciência de como
podemos ser fortes. O Rei Bebê que existe dentro de nós
desenvolveu uma larga variedade de energias associadas
aos talentos que Deus nos deu, e devemos aprender a
apreciar essas energias. Podemos aprender com o
passado e entrega-lo. Podemos deixar de ser o juiz, o júri
e o promotor que nos condena. Sabemos que o nosso
Poder Superior nos perdoa. Agora é hora de darmos
espaço. Temos de parar de nos julgar e sair do Seu
caminho.

Página | 34
HUMILDADE

“Meu Deus, como é difícil ser humilde quando se é


perfeito em tudo”. Quando Max Davis cantou esta
canção, por toda parte os Reis Bebês coraram, sabendo
que ele estava se referindo a eles. Já sabemos agora que
o orgulho constitui grande parte do problema do Rei
Bebê. O que precisamos aprender é que o orgulho pode
ser positivo. A humildade é uma aceitação de ser igual –
nem melhor, nem pior. Ser igual é também ser honesto
aberto e vulnerável. O que é difícil, mas possível agora.
Sentimo-nos livres de sermos nós, podemos enfrentar a
realidade. A humildade nos ensina a capacidade de
aprender e de ser flexíveis. Para continuar a crescer e
evitar as recaídas, a humildade tem de ser
constantemente mantida.

Página | 35
CULPA

A máquina da culpa, ou seja, a consciência do Rei


Bebê está avariada. Os Reis Bebês “mascaram” os seus
comportamentos e perdem os seus sistemas de valor
durante o processo. Tendo consciência disto, reagem
exageradamente e se castigam constantemente por
serem humanos. Até que o Rei Bebê que existe em nós
encontre o equilíbrio e um novo conjunto de valores, um
novo padrão de comportamento. Teremos de contar
muitíssimo com os nossos padrinhos. Uma boa regra de
conduta se nos sentirmos culpados, será não
procedermos assim. Temos de descobrir em que
acreditamos e viver de acordo com isso.

Página | 36
USANDO NOSSA PERSONALIDADE COMPULSIVA

Sabemos que temos personalidades compulsivas.


Porque não tentamos ser dependentes em relação a
qualquer coisa que seja positiva para nós? Podemos
escolher algumas metas a curto prazo ou coisas que
possamos fazer todos os dias. Podemos criar uma
divertida, positiva e até apaixonada ligação amorosa
com determinado programa de exercícios. Se quisermos
podemos voltar a estudar.

Página | 37
RELACIONAMENTO COM NOSSO PODER SUPERIOR

Devíamos perguntar qual Poder Superior temos e


como nos conectamos com Ele ao lermos as nossas
meditações diárias. Podemos escolher um tema segundo
o qual viver o dia a dia, lembrando que uma atitude
positiva não é automática, mas vem com a prática e um
trabalho árduo. Quanto mais as nossas expectativas
diminuírem mais a nossa serenidade aumenta. Podemos
praticar a aceitação em relação a nós mesmos e aos
outros.

Página | 38
DÉCIMO PASSO

Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando


estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

Assim, pois, aquele que pensa estar de pé tome cuidado


para não cair. (1Co. 10:12).

O Décimo Passo pode ser feito como um inventário


de nossa vida, admitindo o que encontramos. Dispondo
a aceitar que Deus nos mude e, então, humildemente
lhe pedimos que elimine nossas imperfeições. Tomamos
nota das reparações necessárias e as fazemos. O ponto
mais importante é o inventário periódico. Precisamos
reservar ocasiões regulares para o inventário pessoal.
Cada noite devemos registrar as coisas positivas que
fizemos e as coisas boas que nos aconteceram. Isto
evidencia que devemos a nós mesmos algum crédito por
aquilo que realizamos. Podemos rever calmamente os
nossos erros e admitir prontamente aquilo em que
erramos.

Página | 39
RELACIONAMENTOS COM O SEXO OPOSTO

Nossa recuperação é seriamente posta em pauta ao


começarmos um relacionamento cedo demais. Ao
experimentar o sofrimento que a recuperação causa, o
Rei Bebê em nós procura muitas vezes novos
relacionamentos para aliviar a dor do amadurecimento.
Permitindo que isto aconteça é semelhante a um inseto
que se deixa atrair pela luz. E o Rei Bebê, por várias
vezes, cria uma relação de dependência e usa esse
relacionamento como se fosse uma droga para ficar
eufórico. Isto põe nossa recuperação em risco, ou ainda
pior, pode provocar a recaída. A nossa imaturidade
pode nos ter impedido de saber o que é ou como ter um
relacionamento saudável. Tudo o que sabemos é
possuir, invadir, atacar e conquistar. Adoramos a lua de
mel, mas incapazes de aguentar os altos e baixos de um
relacionamento. As emoções intensas de um
relacionamento novo poderiam causar a perda de nossa
sobriedade recém-encontrada.

Página | 40
ELIMINANDO VELHOS PADRÕES DE COMPORTAMENTO

Imagine por um instante uns fones de ouvido


permanentes, fixados em você, com os quais num
ouvido você escuta o Rei Bebê e no outro você escuta os
A.A./N.A. Os nossos códigos de chamada serão R.B.B.
(para Rádio Rei Bebê) e A.A./N.A. (para Rádio Alcoólicos
Anônimos/Narcóticos Anônimos). Temos a escolha de
sintonizar a frequência que queremos ouvir, R.B.B. ou
A.A./N.A.
R.B.B. representa a rádio com os pensamentos
negativos1, ou seja, os pensamentos e velhos padrões de
comportamentos que nos levam à recaída, enquanto
que A.A./N.A. representam a com os sentimentos de
recuperação e os pensamentos que nos levam a pedir
ajuda.
Se desafiarmos a forma de pensar do R.B.B. e
sintonizarmos somente em A.A./N.A., podemos começar
a eliminar nossos velhos padrões de comportamento.

1 - “Stinking Thinking”.
Página | 41
Comparação de pensamentos negativos do Rei Bebê
em relação a Slogans dos A.A./N.A.

Pensamentos negativos Slogans dos A.A./N.A.


do Rei Bebê

Viva no passado e Um dia de cada vez


preocupe com o futuro
Continue fugindo dos Devagar se vai
medos e apreensões sempre2

Tente fazer as coisas do Se entregue, renda-se


seu jeito a Deus3

Reaja exageradamente Viva só por hoje


quando as coisas não
acontecem como pensa
que deveriam acontecer

Tente reescrever o Livro Não permita o que


Azul, os Passos e as está para acontecer4
Tradições, escolhendo as
partes em que quer
trabalhar e abandone o
resto

2 - “Easy does it”.


3 - “Let Go and Let God”.
4 - “Il it works, don’t do it”.
Página | 42
Esqueça que se manter Primeiro as primeiras
sóbrio e A.A./N.A. são coisas
suas prioridades n°1

Complique as coisas Mantenha as coisas


até o ponto da “análise simples5
paralisante”

Faça o inventário dos Faça seu próprio


outros, salientando inventário
quando estão errados

As pequenas mentiras É um programa honesto


não tem importância

Justifique os rancores e Não guarde


se agarre a eles ressentimentos.
Fale o que está sentindo

5 - “Keep a simple”.
Página | 43
Compare os sintomas da recaída do Rei Bebê
com os princípios de A.A./N.A.

Sintomas de recaída Princípios

Desonestidade Honestidade
Dúvida Esperança
Procrastinação Ação
Medo Coragem
Facilitação Integridade
Complacência Boa vontade
Arrogância Humildade
Auto piedade Amor fraterno
Libertinagem Autodisciplina
Negligência Perseverança
Ingratidão Consciência espiritual
Onipotência Serviço

Página | 44
A ATITUDE A TER É DE GRATIDÃO

Aprendemos finalmente a nos alimentar, apoiar e a


acariciar a nossa criancinha receosa. Decretamos trégua
com o nosso lado Rei Bebê e nos tornamos capazes de
controlar o que se passa dentro de nós. Nunca ocorreu
ao Rei Bebê que uma pessoa pudesse ser
autodisciplinada e viver uma vida normal e, apesar disso,
estar realmente “de boa” e ter vida. Podemos agora
desenvolver uma serenidade interior que o Rei Bebê
nunca pensou ser possível existir.
Existe um poema lindo, chamado “O Pedido e a
Resposta”, que descreve os sentimentos que o Rei Bebê
tem quando toma consciência que através de todo
sofrimento, recebeu grandes bênçãos.

Página | 45
O PEDIDO E A RESPOSTA
(Oração Universal de Ação de Graças)

Pedi a Deus que me desse força para poder realizar,


Nasci fraco, de forma a ser capaz de aprender a
obedecer humildemente.

Pedi saúde de forma a poder atingir coisas maiores,


Recebi enfermidades para conseguir fazer coisas
melhores.

Pedi riquezas para poder ser feliz,


Recebi pobreza para poder ser sensato.

Pedi poder, de forma a receber os louvores dos homens,


Recebi fraqueza de forma a sentir a necessidade de
Deus.

Pedi toda a espécie de coisas para poder gozar a vida,


Recebi a vida de forma a poder gozar todas as coisas.

Não recebi nada do que tinha pedido,


Mas tudo o que necessitava,

Quase que contra a minha vontade,


As orações que não pronunciei foram ouvidas,

Sou, entre todos os homens,


Profundamente abençoado.

Página | 46
Recuperação é o que acontece aqui ... !!!

A RAIVA

“ Descubra seu próprio poder de mudança. ”

A RAIVA

1) Introdução:

Por que preocuparmo-nos com a raiva?


No final das contas não é verdade que todos nós nos zangamos?
De fato a raiva é um sentimento humano que todos experimentamos de vez em quando.
O principal problema esta nas conseqüências.
O que acontece quando você fica com raiva? Se não acontece nada quando você se
zanga, então a sua raiva não é razão para preocupação, isto porque as conseqüências são limitadas.
No entanto se fizer coisas derrotistas em relação a si ou se fizer mal aos outros, se sua raiva tiver
conseqüências dolorosas ou prejudiciais, então talvez tenha razão para se preocupar com ela.

Por exemplo: Estamos a guiar por uma estrada atrás de uma pessoa que conduz seu
veículo à 50 km/h, numa zona de velocidade cujo limite é de 100 km/h, e você está atrasado para um
encontro. Começa a sentir-se muito irritado e por causa disso, ultrapassa imprudentemente o outro
carro, põe a sua vida e a dos outros em risco por causa da sua RAIVA, isto é, potencialmente uma
conseqüência muito perigosa para sua raiva.

Outro exemplo: À tarde, você quer ir embora do trabalho mais cedo para jogar futebol.
Começa a trabalhar cedo, trabalha na hora do almoço para compensar o fato de querer sair mais
cedo. No meio da tarde, aparece seu patrão e destina-lhe uma nova tarefa e deseja que fique feito
antes de você ir embora. Você obedece, mas somente acaba a tarefa muito tarde, quando não dá
mais para jogar futebol. Quanto mais o tempo vai avançando mais você vai sentindo-se furioso.
Quando sai do trabalho, para em um bar, ou em uma boca, na tentativa de aliviar o seu
sentimento de raiva. Acaba por usar demais, chegando em casa muito tarde e tem uma discussão
com sua mulher, a quem você não se preocupou em telefonar para avisar que ia chegar mais tarde,
tropeça nos brinquedos das crianças que estão espalhados pela sala onde seus filhos estiveram
brincando, esperando por você, transfere toda sua raiva contra as crianças mandando-as
imediatamente arrumar a sala, ameaça-as ao ver que elas demoram ao guardarem os brinquedos e
finalmente, num ataque de fúria manda-as para a cama, depois senta-se para jantar com a mulher e
acusa-a violentamente de ser má mãe.

1
Para alguns de nós, as conseqüências dolorosas da raiva, resultam de transferirmos
abertamente aos outros. Por outro lado alguns de nós podemos negar nossa própria raiva,
guardando-a para nós mesmos o que vai nos consumir em autopiedade e rejeição que resultam no
nosso uso de álcool e outras drogas.

2) Aprendendo a compreender a RAIVA e suas causas:

Aprender a lidar com a raiva de maneira saudável, sem fazer mal a nós próprios e aos
outros e uma parte fundamental em nossa recuperação.
A maioria de nós pensa que são as pessoas ou as situações que nos fazem ficar com
sentimento de raiva. Acreditamos que é o que as outras pessoas fazem, ou o que nos acontece que
causa nossa raiva. Transferimos para ou outros a responsabilidade da nossa raiva, ou acreditamos
que temos mau gênio, como se fosse assim que fomos feitos e não podemos mudar.
Acreditamos erradamente que nossa raiva é causada por pressões externas. Achamos
que não podemos mudar, porque as pessoas, lugares e coisas não mudam. Este tipo de raciocínio ,
permiti-nos arranjar desculpas para o nosso sentimento de raiva e então atribuímos a culpa aos
outros.
Para alguns de nós culpar outras pessoas ou situações pela nossa raiva, fornece-nos
uma desculpa para usar álcool ou outras drogas.
Contrariamente à crença comum sobre a raiva, de que os outros ou as situações é nos
fazem ficar zangados, acreditamos que o que realmente nos faz senti-la é pensar com raiva à
respeito das coisas que nos acontece. Aquilo que pensamos ou contamos a nós próprios sobre um
acontecimento é que nos faz sentir raiva, e não o acontecimento em si.
Normalmente quando julgamos ou avaliamos qualquer coisa de forma negativa, ficamos
com o sentimento de raiva. Se porém julgarmos ou avaliarmos uma coisa de forma positiva, nos
sentiremos melhor.
Basicamente não são os acontecimentos que nos perturbam, mas sim nossa forma de
pensar sobre estes acontecimentos. Por outras palavras, sentimos como pensamos.

Por exemplo: Uma mãe leva consigo o filho de um ano para visitar uma amiga. A criança
gatinha pelo chão enquanto as duas mulheres conversam. A certa altura a criança estica-se até a
mesinha onde estão as revistas e começa a atirar tudo pelo chão. A mãe afasta a criança da mesa,
organiza as revistas e continua a conversa. A criança volta até a mesinha e atira as revistas
novamente. A mãe observa a situação e pensa consigo mesma: “ Ela não devia fazer isto ...!!! ”
A mãe grita com a criança, dá-lhe umas palmadas na mão e a criança começa a chorar.
A amiga também observou a cena da criança e pensa consigo: “ É mesmo próprio de uma
criança de um ano querer explorar, atirar e esparramar as coisas pelo chão. Seria melhor se eu
tivesse preparado a sala para receber uma criança de um ano, pois a criança precisa se distrair !!! “
A amiga então diz:
- Vamos ver se encontramos outras atividades que interessem ao seu filho.

Este exemplo demonstra que sentimos da forma que pensamos.


Com base na forma com que encararam a situação uma das mulheres ficou com
sentimento de raiva e a outra não. Aquilo que pensaram ou disseram a si próprias, a forma com que
avaliaram as circunstâncias determinou o que sentiram.
Então o que queremos dizer realmente é que nosso pensamento á respeito de uma
situação é que causa nossa raiva, e não a situação em si. A maneira de pensar que provoca em nós
sentimento de raiva, tem a ver com nossa necessidade de controle e a nossa exigência de
conseguirmos a todo custo impor nossa vontade.

2
A seqüência começa com o querermos que as coisas corram segundo a nossa vontade, o
que é um exemplo normal do egocentrismo que todos temos. Quando este desejo não se realiza, e
não conseguimos aquilo que queremos podemos ficar com sentimento de raiva.

3) Conseqüências da nossa raiva:

As conseqüências de nossa raiva podem ser o tentarmos conseguir o que queremos,


sendo verbal, manipulando, ou fisicamente agressivos, gritando, berrando ou batendo. O que
acontece á nossa relação com os outros se usarmos a raiva para conseguirmos o que queremos?
Como é que os outros nos vêem? Evitam-nos e ignoram-nos.
Como é que isto repercute sobre a aceitação que temos de nós próprios?

Resultado:
“ BECO SEM SAÍDA, USO DE ÁLCOOL OU OUTRAS DROGAS. “

4) Aprender a controlar a nossa raiva:

Como poderemos então controlar nossos sentimentos de raiva?


Sabendo que é a nossa maneira de pensar que causa nossa raiva, teremos que trabalhar,
para modificar ou substituir nossos sentimentos irados, de forma tal, que possamos reduzir ou
controlar essa raiva.
Poderemos alterar as exigências que estão na base dos nossos pensamentos irados, tais
como, “ não devias discordar de mim, eu não deveria cometer erros, terei que ser pontual, ... “.
Esforçamo-nos para abandonar a necessidade de controlar tudo e todos, isto pode
parecer simples e evidente, mas como é que aprende a modificar nossa forma irada de pensar?
Para começar podemos fazer um “ Inventário Pessoal “. Fazer um inventário pessoal
sobre nossa raiva, ajuda-nos a desenvolver uma maior consciência quanto à sua origem.
Através do processo A, B, C, podemos compreender a anatomia da raiva.

A =SITUAÇÃO= O problema que lhe desperta certos sentimentos de raiva.

B =CONVICÇÕES= O que pensa ou diz a si mesmo, as suas exigências á respeito da situação.

C =SENTIMENTOS E AÇÕES= Como se sente à propósito da situação em função do que pensa, e


como se comporta diante do sentimento.

Um exemplo:

3
A = SITUAÇÃO: à tarde quero ir embora do trabalho mais cedo para jogar futebol.
Começo a trabalhar mais cedo, trabalho até durante a hora do almoço para compensar o tempo. Meu
patrão destina-me nova tarefa e deseja que fique pronta antes que eu vá embora. Eu obedeço, mas
só termino a tarefa muito tarde, quando não dá mais para ir jogar futebol.

B = CONVICÇÕES: acredito que meu patrão deveria ter visto meu esforço no trabalho
para sair mais cedo.

C = SENTIMENTOS E AÇÕES: sinto-me cheiro de raiva. Saio do trabalho e vou


diretamente para o bar ou para a boca, uso muito e chego em casa tarde, transfiro toda minha raiva à
meus filhos e esposa.

Se eu tivesse analisado esta situação de forma objetiva ou realista, teria compreendido


que meu patrão, não tem obrigação de adivinhar que eu queria sair mais cedo.
Ao chegar ao trabalho deveria tê-lo avisado de minha pretensão, evitando assim o
sentimento de raiva e a transferência para o álcool ou outras drogas e nem mesmo Ter levado a
violência para a casa comigo.

5) Fazer um “ Diário de bordo ”:

Como parte do processo de aprendizagem para fazer um inventário sobre a sua raiva é
muito útil, fazer um Diário de Bordo.
Para começar tome nota dos acontecimentos ou situações passadas e recentes em que
sentiu raiva. Ao descrever esta experiência, utilize o processo A, B, C.

A B C
Situações Convicções Sentimentos e Ações

Depois de ter uma prática na descrição das manifestações de sua raiva passada ou
recente, torna-se útil, trazer consigo um pequeno bloco de papel para fazer o registro diário das suas
manifestações de raiva.
Ao longo do dia a dia ou ao final do dia, você pode usar o esquema A, B, C, para tomar
notas dos seus sentimentos de raiva.
Fazer um diário irá ajudá-lo a desenvolver maior consciência da sua raiva, das suas
causas e das suas conseqüências.

4
6) Usar o processo A, B, C para abrandar a fervura:

A primeira parte do processo A, B, C, para o controle dos sentimentos de raiva pode ser
comparada entre a analogia da caldeira e da raiva.
Podemos imaginar nossa raiva como sendo a água dentro de uma caldeira sobre o fogão.
Se a água continuar a aquecer, acabará por sair da chaleira sob a forma de vapor.
Com nossa raiva acontece o mesmo, quanto mais raiva temos, mais provável que ela se
exteriorize abertamente.
No entanto, se apagarmos o fogo debaixo da chaleira, não se dará o jato de vapor.
O que o processo A, B, C, nos mostra é que se “ Abrandarmos a chama “, dos
pensamentos irados que estão a aquecer a nossa raiva, não haverá necessidade de se lançar fora e
com violência de jato essa raiva, então mantemo-nos abertos para detectarmos os primeiros sinais de
raiva.

7) Seguindo em frente:

Controlar nossos sentimentos é como controlar um carro. É mais fácil para a velocidade
de um carro que vai à 80 km/h do que aquele que vai à 120 km/h. da mesma forma é mais fácil
acalmar nossos sentimentos antes que eles realmente comecem a se tornar incontroláveis.
O que isto significa? É que cada um de nós tem que desenvolver uma maior consciência
dos sinais de nossa raiva, tal como cerrarmos os dentes ou ficarmos mal do estômago. As formas
como cada um de nós exterioriza sua raiva são diferentes.
Controlar a raiva que se sente através do processo A, B, C, exigirá provavelmente,
bastante prática até lhe trazer resultados. É por isto que alguns de nós se tornam especialistas em
ficar transtornados e enraivecidos. A raiva tornou-se a forma habitual de lidar com situações
problemáticas quando as coisas não correm como gostaríamos.
O que isto significa é que você irá precisar de muita prática para aprender a controlar a
raiva através do processo A, B, C, e desaprender seus velhos hábitos de sentir.

8) Conclusão:

Chegamos a um ponto onde vimos os resultados da nossa velha maneira de viver e


aceitamos que é necessário uma nova maneira, mas provavelmente ainda não conseguimos ver
quanto a recuperação é rica em possibilidades!!!
A próxima etapa de nossa jornada de recuperação é o 2º Passo.

5
“ EU SEGURO AS MINHAS MÃOS NAS SUAS E UNO O MEU CORAÇÃO AOS SEUS,
PARA QUE JUNTOS POSSAMOS FAZER TUDO AQUILO QUE SOZINHO EU NÃO CONSIGO,
MINHA GRATIDÃO FALA, QUANDO ME IMPORTO, QUANDO COMPARTILHO COM VOCÊS OS
CAMINHOS DE MINHA RECUPERAÇÃO, TUDO ESTARÁ BEM ENQUANTO OS LAÇOS QUE NOS
UNEM FOREM MAIS FORTES DO QUE AQUELES QUE NOS AFASTARIAM !!! “

Boa Prática !

6
PARA

PROBLEMAS COM BEBIDA


Em Center City, Minnesota

“Hazelden” conta com seis anos de experiência em recuperação


de homens com problemas com bebida. Seus diretores foram "ao olho
do furacão" de si mesmos e desenvolveram um programa baseado em
leitura, meditação, educação audiovisual, consultas e discussões, que
possibilitam aos hóspedes residentes entenderem os “porquês” deste
problema, e como paralisar esta doença.
Uma atenção especial é dada, servindo refeições apetitosas,
visando o bem-estar físico, que é reconhecido como um dos mais
importantes passos ao longo da caminhada para a recuperação.
Descanso e meditação também são importantes, e os visitantes
estarão autorizados apenas a pedido do hóspede residente.
Pesca, canoagem, piscina são algumas das possíveis diversões.
Médicos e enfermeiros disponíveis 24 horas por dia, e consultas
psiquiátricas serão agendadas mediante solicitação.

Preços razoáveis... para mais informações escreva para

341 North Dale Street Saint Paul 3, Minn.


(or) Center City, Minnesota
Uma organização sem fins lucrativos
NEGAÇÃO

Melody Beattie

Hazelden Foundation
Editora JCB Publicações Ltda
Copyright © 2014 Melody Beattie

Negação

Título em Inglês: DENIAL


Publicado originalmente por: Hazelden
Foundation
Todos os direitos de tradução e
publicação para o território brasileiro
reservados por Editora JCB Publicações
Ltda
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU
PARCIAL POR QUAISQUER MEIOS, SEM
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA EDITORA
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil
1ª Edição Brasileira
Maio de 2014
Coordenação Editorial: AMMB Syncro
Infinite Loop Avenue,#304 Projeto Gráfico: MFMB Ilustra
California Place Edição de texto: AMMB Syncro
Patos de Minas, MG CEP 38700-000 Diagramação: JCB Desing
Telefax: (34) 6963-4958 Revisão: JCB Desing
URL: www.jcbpublicacoes.com.br Adaptação da Capa: JCB Desing
E-mail: editora@jcbpublicacoes.com Ilustração: MFMB Ilustra

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Beattie., Melody
Negação/Melody Beattie/ Tradução AMMB Syncro/.
– 1ª. Ed. – Minas Gerais: Editora JCB Publicações
Ltda., 2014. – (Dependência química)

Título original: Denial.


Bibliografia.
ISBN 972-8272-06-5
1. Dependência Química. 2. Compulsão. 3. Tratamento
I. Título II. Série

CDD-717.4 07-7208
ii
Nota dos Editores à Tradução Brasileira:
Uma adicção consiste no uso habitual de substâncias alteradoras
do humor (medicamentos, álcool, drogas) ou de comportamentos
(excesso de trabalho, jogos, abuso de comida, internet, falar
demais, sexo, mania de limpeza, consumismo) que é caracterizado
pela tolerância à substância ou comportamento (sendo que um
crescente e contínuo uso à substância ou comportamento se
tornam necessários para obter o mesmo efeito) e pela perda de
controle (o uso continuado apesar de suas consequências
negativas).
A dependência química consiste na adicção ao álcool e/ou
outras drogas. É uma doença progressiva e, se não for tratada,
mortal.

Sobre a Fundação Hazelden:


Os “Materiais Educacionais da Hazelden”, editados no
Brasil pela Editora JCB Publicações Ltda., oferecem uma grande
variedade de informação sobre a dependência química e as áreas
com ela relacionadas. As nossas publicações não representam
necessariamente os programas da Fundação Hazelden, nem se
pronunciam oficialmente por nenhuma organização dos Doze
Passos.

Sobre este livro:


Este livro mostra a opinião de uma pessoa que lutou
regularmente com a negação. Conta, também com citações de
especialistas, incidentes e exemplos de como outras pessoas
lidaram ou resolveram problemas específicos. Tais incidentes são
verdadeiros, mas os nomes foram substituídos por fictícios para
proteger o anonimato de pacientes e amigos. Espero que seja útil.

Sobre a autora:
Melody Beattie é uma das mais competentes autoras de
autoajuda dos Estados Unidos, é conselheira e um nome familiar
nos círculos de recuperação a compulsões e vícios. Apresentou ao
mundo o termo “codependência”.

iii
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 7
FERRAMENTA OU ARMA? .................................................................. 8
É PARTE DE UM PROCESSO ............................................................... 10
DETECTANDO OS GATILHOS DA NEGAÇÃO ...................................... 16
TRABALHANDO A NEGAÇÃO ............................................................ 21

v
INTRODUÇÃO

Você descobre que alguém da família é um adicto e


que você está com problemas com seu próprio
comportamento compulsivo e codependente. Está
novamente sendo afetado pela adicção só que de modo
diferente. A consciência veio de repente. Você passa os
meses deprimido, com raiva e cansado. “Não posso
acreditar que levei anos para perceber. Sabia tudo sobre
adicção. Como pude Negar por tanto tempo? Recuso-me
a aceitar esta realidade”.
Seja você ou alguém próximo sendo afetado pela
negação. Isto pode trazer confusão e frustração, você
pode interpretar isto como estupidez, absurdo ou
insanidade. Ela é simplesmente um mecanismo para
lidar com a perda e a dor.
Precisa perceber e aceitar a Negação como uma
ferramenta legítima do processo de Aceitação e Luto.
Veremos não como eliminar a negação e sim como
encontrar formas que nos ajudem na necessidade de
usá-las. Não estamos falando da mesma Negação do
Adicto que diz que está limpo.

Página | 7
FERRAMENTA OU ARMA?

O que é essa sombra que abafa as pessoas apaga sua


sensibilidade as deixando cegas para a realidade? Que
Mudanças acontecem que mudam as pessoas racionais
para irracionais? Como podem dizer: “Isso não é assim”.
Quando na verdade é. Esta sombra é chamada de
Negação.
Os Psicólogos dizem que ela é uma defesa consciente
ou inconsciente que usamos para evitar, reduzir ou
prevenir a ansiedade quando somos ameaçados.
Quem está em Negação pode estar mentindo,
negando em Admitir a verdade sobre algo. Mas ela não
está fazendo isso só para os outros, está fazendo a si
mesmo também.
A negação trabalha a nível profundo. Dizemos
mensagens a nós mesmos quando alguma coisa ameaça
nos machucar. Ela nos engana, fazendo acreditar que
“Não é verdade”.
Podemos negar sentimentos, pensamentos,
acontecimentos, mudanças, situações, problemas,
doenças e até mesmo a morte. Mas o que normalmente
negamos são as perdas.
As pessoas perdem amor, pessoas amadas,
autoestima, fé em Deus, confiança, sonhos, trabalho,
saúde, dinheiro, posses, independência, etc. Podem

Página | 8
perder coisas importantes para elas. Mas que os outros
dificilmente veem como perdas.
Quando os adictos negam sua doença, continuam a
usar até a morte ou loucura. Os codependentes negam
que foram afetados pela doença e continuam sofrendo e
fazendo os outros sofrerem enquanto estiverem em
Negação.
As pessoas que negam a realidade não estão
admitindo nem resolvendo o problema, estão
eliminando a possibilidade de mudanças.
Nós usamos a negação para lidar com a dor ou
problemas, mas não lidar com eles não seria uma
aceitação melhor? A aceitação, assim como a
intervenção quando usada de forma correta e com
carinho são excelentes Ferramentas Terapêuticas. A
Negação pode ser o primeiro passo para a Aceitação.

Página | 9
É PARTE DE UM PROCESSO

Aceitação não é fácil, não reagimos imediatamente


com serenidade à dor ou aos problemas. Precisamos
lutar contra aquilo em que acreditamos ou contra o que
se sente antes de poder aceitar uma perda ou doença.
Temos que atravessar um processo.
Elisabeth Kubler Ross observou e documentou pela
primeira vez o processo de cinco fases do Luto em seu
trabalho dentro de hospitais com doentes terminais. Ela
identificou a maneira como maioria dos pacientes
terminais reage à aceitação de sua morte prevista.
Alguns Centros de Tratamento creem que esse
processo de Luto está intimamente ligado ao tratamento
e recuperação de doenças compulsivas como a adicção.
Visto que esta doença traz tantas perdas.
Infelizmente não são todas que trabalham assim e
mantém um cronograma arcaico que já não funciona
mais, está ultrapassado. Usam apenas os Doze Passos,
alguns textos em comum que todos os centros têm e
usam em reuniões de sentimentos de onde o interno sai
pior do que entrou, pois os facilitadores que dirigem as
reuniões muitas vezes não sabem lidar com o
sentimento dos outros. Tais clínicas acabam se tornando
depósitos de pessoas, um grupo de apoio internado sem
capacidade de recuperação.

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Temos que facilitar reuniões visando o
desenvolvimento do paciente. Assim não haverá
confusão, a equipe pode se preparar antes de cada uma
e sempre iniciar um programa de recuperação
estimulando a necessidade de conscientização com a
Negação e Luto seguidas das reuniões de TRE.
O novo residente antes de qualquer coisa tem que
ver essas reuniões de conscientização para colocar a
mente dentro do lugar onde está, pois por pelo menos
um mês a cabeça dele vai, com certeza, se focar na rua,
pensando no que os companheiros estão fazendo,
lembrando aventuras, etc.
Estas reuniões vão trazer a mente do residente para
onde estão. Fazendo com que se interessem pelo
programa de recuperação. Tomam a consciência de que
a rua está na rua. Eles estão em outro lugar com os pés
no chão.
Podemos sofrer sempre que esperamos uma
mudança mesmo desejada. Para qualquer mudança
temos que deixar algo para traz de modo a abrir espaço
para o novo. Não tem regra que determine quanto
tempo vai ficar em cada uma das cinco fases e nem
quanto tempo leva todo processo.
Depende da natureza da perda e a que ponto está
preparado para lidar com ela, do tempo do Poder
Superior de cada um começar a agir. Porém, dura o

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tempo necessário para atravessar o processo. Ajudar as
pessoas a crescerem é mais complicado do que fazer o
mesmo com jardins e hortas.
Apesar de poder colocar todas as fases no papel, a
nossa passagem por elas talvez não siga a mesma
sequência. Podemos viver várias ao mesmo tempo,
podemos voltar a fases antigas ou pular algumas, estar
em diferentes fases ao mesmo tempo. A aceitação
permanente pode ser necessária. Este é o jeito que nosso
Poder Superior trabalha em nós.

1. Negação: é a primeira reação à perda. Do mesmo


jeito que a dor física pode por nossos corpos em
choque, a dor emocional ou mental pode causar
uma reação parecida em nossos sentimentos,
pensamentos e até em nosso corpo. Alguns
chamam de bloqueio. Parte de nós suspeita da
verdade, mas ainda não estamos prontos para
lidar com ela. Lembrando que não há um tempo
determinado para a duração da Negação. Cada ser
e situação são únicos e negam até se sentirem
seguras para lidar com a perda de outra forma.
Tendo ultrapassado a Negação, ainda não é hora
de chegar à Aceitação.

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2. Raiva: esta fase é caracterizada pela inveja, por
transferir a culpa para outros, por ressentimentos
e muitas vezes por fúria. Esta raiva pode ser
especifica ou pode ser geral, pode ser racional ou
irracional, justificada ou injustificada, sensata ou
sem sentido. Podemos chutar o cachorro, gritar
com as crianças e lá dentro não estar com raiva de
nenhum deles. Estamos com raiva por causa da
nossa perda. Temos inveja daqueles que podem
tomar uma bebida antes do jantar sem terminar
recaído à meia noite. Da mesma modo que
precisamos da Negação, agora precisamos da
Raiva. Ela é combustível se não for trabalhada,
mesmo assim, precisamos saber lidar com ela.

3. Negociação: depois que passar a ira, podemos


tentar negociar uma forma de evitar ou adiar a
perda. Algumas vezes nossos acordos são
construtivos, realistas e tem o resultado esperado.
Mas, na maioria das vezes, eles não são realistas.
O alcoólico vai tentar um acordo em que pelo
menos ele beba uma só cerveja ou um final de
semana por mês.

4. Depressão: nesta fase, avançamos para um


período de tristeza. Quando dissemos pela

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primeira vez: “Isto não pode ser verdade”, fomos
levados para este momento. É a essência da dor,
estar realmente de Luto. A dor emocional na sua
forma mais pura. Choramos pelo que perdemos, e
também pelo que vamos perder. Este estado de
tristeza pode levar horas, dias, semanas ou até
meses. Quando nos rendemos, este processo
começa. E a Depressão só passará quando o
processo for todo ultrapassado.

5. Aceitação: no momento em que não precisamos


mais bloquear a raiva, fazer acordos e depois de
ter lidado com a tristeza, chegamos à fase da
Aceitação. Ela não deve ser confundida com uma
fase feliz. É vazia de sentimentos, é como se a dor
tivesse ido embora. Estamos em paz e livremente
admitimos a nossa impotência perante adicção.
Deus nos deu a serenidade para aceitar o que não
podemos modificar. Depois desta aceitação, nós
crescemos. Podemos aceitar a perda e crescer,
mas o caminho não é fácil. Precisamos nos agarrar
à esperança, em todas as fases ela é uma linha de
segurança. É importante entender e assinar um
compromisso com este processo. É positivo
entender o Luto e a Negação. As pessoas que
sofrem estão vivendo este processo. O que

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precisamos é nos permitir e aos outros, a
liberdade de lutar, sentir e falar sobre este
processo quando quisermos. Entender o processo
não vai tirar a necessidade de atravessá-lo, mas
vai ajudar a relaxar, ter menos medo e lidar com
ele, em vez de lutar contra ele. E entendendo este
processo podemos ser uma boa ajuda para os
outros.

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DETECTANDO OS GATILHOS DA NEGAÇÃO

Apesar da dificuldade em reconhecer a negação,


podemos aprender a ficar sensíveis à sua presença. Cada
um é um ser único, e cada sistema de negação vai ser
único. Porém, podemos observar certos padrões
emocionais, comportamentais e mentais que são
comuns.

Como vemos esses gatilhos

Os quatro principais sistemas de negação que as


pessoas usam são:

1. Recusar em aceitar a realidade, caracterizada por


frases como, “não acredito", "não pode ser
verdade", “isto não está acontecendo”. Então
começamos a ter comportamentos como se o
acontecimento, perda ou problema não
estivessem acontecendo.

2. Negar ou minimizar a importância da perda,


admitindo a realidade do que passou, mas
insistindo que não é importante como dizem.
Não consideramos o problema importante.

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3. Negamos qualquer sentimento de perda: isto é a
repressão emocional. Podemos demonstrar e
agir como se não fosse importante. Aparentando
estar emocionalmente vazios.
4. Fuga mental: evitamos os acontecimentos,
mentalmente de várias maneiras. Dormir demais
para escapar. Ficar hiperativos, impulsivos,
obsessivos e compulsivos, ou focar em televisão,
rádio, jornais.

Quem está evitando a realidade podem ir longe para


contornar situações que confrontam seu sistema de
negação. Tendo muito trabalho para evitar a verdade.
Os adictos são conhecidos por levarem suas vidas de
forma que seja um suporte para a negação.

Como sentimos esses gatilhos

1. Pode se sentir desesperado, sozinho, pouco à


vontade, confuso, assustado, ansioso, culpado,
vulnerável ou até fora de controle.

2. Ao contrário pode não sentir nada. As emoções


estão blindadas, frias ou reprimidas.

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3. Responde às situações de forma inadequada.
Alegria quando momento é de tristeza,
infelicidade ou raiva quando outro sentimento
seria mais apropriado.

4. Sentimo-nos cansados por causa da fuga no sono.


Quem nega pode sentir um cansaço fora do
comum por causa da negação, pois o processo é
cansativo. Evitar a realidade é como manter uma
bola grande debaixo d’água. Pode ser feito, mas
exige energia.

5. Sentimo-nos, às vezes, defensivos sobre o que


estamos negando. As pessoas podem sentir isso,
tendo sido verbalizado ou não, mas é melhor não
falar nisso. O problema não é discutido por medo
de outra cena.

6. Um sentimento como o de estar desconectado ou


fora contato de consigo mesmo, é na maioria das
vezes, um sinal de negação. Podemos estar
desligados de nós mesmos e da nossa capacidade
de sentir e pensar.

7. Negação por muito tempo pode fazer com que


uma pessoa se sinta doente e até pode ficar

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doente, mental ou fisicamente. Pode ter dores de
cabeça, dores no estômago, dores nas costas etc.
Pode diminuir a imunidade e ficar doente mais
vezes que o normal.

Como realmente são esses gatilhos

Quem está em negação pode dizer a elas mesmas e


aos outros que:

1. Não é tão ruim assim. (minimização)

2. Não tem importância.

3. Não é assim, não pode ser.

4. Não me importo.

5. Estou muito ocupado para pensar nisso.

6. Amanhã vai ficar tudo bem.

7. Não sou tão ruim como ele. (comparação)

8. Foi muito divertido. (memória eufórica)

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9. Nós fizemos, porque era sensato. (racionalização)

10. Eu fiz, porque era o certo a fazer. (justificação)

11. Eu não tenho esse problema, mas um monte de


gente que conheço tem. (projeção)

12. Eu não poderia ser assim porque sempre agi de


forma contrária. (compensação)

Esta lista não é completa, é apenas para dar uma


ideia da comunicação que acompanha a negação.

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TRABALHANDO A NEGAÇÃO

Examine seus motivos. Quer realmente ajudar a


pessoa ou está tentando interferir ou controlar? Está
com raiva, medo ou ressentido? Pensa que é melhor que
esta pessoa? Estão em contato com seus sentimentos,
crenças e poder superior? Está negando alguma coisa?
Tem alguma necessidade de negar o que a outra pessoa
está negando? Precisa ou espera que a outra pessoa
negue algo pelas suas próprias razões?
Se assim for a outra pessoa pode sentir isso e não vai
cooperar. Se o seu coração não está na sintonia certa
em relação a esta pessoa, ela vai sentir isso e sua ajuda
vai tornar-se inoperante.
Mantenha-se saudável. Saúde gera saúde, e doença
gera doença. Se em algum momento perceber que
precisa de A.A., N.A., Alanon, Nafta, Amor Exigente ou
qualquer outro programa de Doze Passos, vá às reuniões
regularmente e trabalhe seu programa.
Se você teve uma doença terminal, crônica e
incurável o ano passado ou há dez anos, você ainda a
tem. Tratá-la vai minimizar a sua necessidade de usar a
negação e o programa de Doze Passos vai ajudá-lo a
lidar com as outras pessoas.
Ofereça ajudas saudáveis: Permita-se a si e aos outros
pensar, sentir, resolver problemas, ser quem são e estar

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onde estão no seu processo de crescimento. Estas
autorizações dão força, energia e são de muita ajuda.
Porque a negação faz entrar em curto circuito os
padrões de comportamento e os processos de
pensamento e as emoções de uma pessoa, dar uma
ajuda deste tipo pode encorajar a maquina a recomeçar
a trabalhar.
Dar às pessoas a autorização para serem quem são
passageiros imperfeitos numa viagem - pode reduzir a
sua necessidade de usarem a negação. Não há problema
em ter problemas. Não há problema em resolver
problemas também. Uma autorização contrária que eu
dou às pessoas - especialmente a crianças que precisam
aprender e a pessoas que tem tendências destrutivas é:
“Não é aceitável magoar-se ou aos outros”. Isto pode ser
claro para nós, mas não o ser para eles.
Ouça se quiser. Deixe as pessoas saberem que está
disponível se elas quiserem falar. Falar ajuda as pessoas,
tiram coisas da cabeça e a arejam. É saudável ser ouvido,
cria aceitação.
Lembre-se que ajuda ouvir com seu coração assim como
com seus ouvidos. O que está ouvindo pode ser outra
forma de dizer: “tenho medo”, ”estou sofrendo”, “estou
confuso”.
Fale de você, das suas emoções e das suas
experiências: Falar dos seus sentimentos é sempre uma

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boa maneira de lidar com eles. Vai ajudá-lo. E, partilhar
honestamente as suas emoções e experiências pode
ajudar outras pessoas também. Pode dar-lhes coragem
de fazer o mesmo, as suas vitórias podem dar-lhes
esperança. Se sentir que tem que falar de outra pessoa
seja gentil. As pessoas que estão sofrendo reagem bem
à gentileza: “Soa como se estivesse com problemas
apenas”. Melhor ainda, encontre algo de bom nesta
pessoa – uma qualidade, algo que esta pessoa tenha e
que você gosta e aprecia – e ofereça este elogio. Isto
pode ajudar mais do que imagina e você desenvolve um
bom traço de caráter.
Ofereça informação, literatura e referências: Isto
quer dizer pergunte à pessoa se ela quer ler um livro, um
folheto, uma apostila ou um artigo. Se a resposta for
não, então não insista. Lembre-se que há uma grande
diferença entre informação e conselho.
Não dê nem ofereça conselhos. Não ajuda e só serve
para deixar as pessoas furiosas. Mesmo que lhe seja
pedido não os dê. Uma boa resposta seria: “O que você
acha que deveria fazer?” Isto ajuda e ninguém leva a
mal.
Leia o livro azul de A.A. ou de N.A. e outras literaturas
do programa de Doze Passos: Contém muita sabedoria
que pode ajudar na identificação da pessoa que está
ajudando.

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Demonstre empatia. Esta é uma palavra bonita que
significa se colocar no lugar do outro. Não quer dizer
auto piedade, quer dizer lembrar-se o que significa sofrer
uma perda tão grande que precise negá-la.
Se não consegue se lembrar de ter sofrido ou negado,
e se não consegue ter empatia, se ainda assim não
consegue lembrar-se, talvez você não seja a pessoa certa
para lidar com a pessoa que está sofrendo. Empatia
ajuda, e pode ajudar muito a reduzir a necessidade de
negar.
Evite julgar. As pessoas têm problemas, não são o
problema. Dizer ou acreditar que uma pessoa é má,
inferior, sem esperança, horrível ou orgulhosa não vai
ajudar. Mesmo que sinta isso em seu coração, se não o
disser não vai ser ouvido (mas não esqueça que o corpo
fala, então procure não demonstrar, ao invés disso
procure perceber se não existe alguma identificação
entre você e a pessoa que está tentando ajudar).
Especialistas acreditam que o medo, a culpa e a
vergonha são algumas das maiores barreiras que as
pessoas enfrentam para parar de negar.
Se juntarmos à culpa e a vergonha de uma pessoa –
se lhe dissermos que os seus piores receios são verdade –
isso não vai ajudar. Pode é aumentar a necessidade de
usar a negação.

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Não discuta. Raramente isso ajuda uma pessoa a
parar de negar. Desvia a atenção e faz perder tempo e
energia. Você não pode apoiar ou concordar com a
negação, mas também não deve forçar uma pessoa a ver
a realidade. Às vezes ajuda dizer: “Está bem, pode ser
que tenha razão”. E deixar ir. Isto tira a pressão de você
e a coloca na outra pessoa de uma maneira positiva, e
que ajuda.
Deixe as pessoas lutarem com elas mesmas e
decidirem se tem razão. Sua batalha com a verdade e a
realidade é muito mais dura de vencer que uma batalha
com você mesmo. E quando esta batalha acabar vão ter
ganhado algo. Isto não quer dizer que não possa ter
raiva de quem está em negação. Você tem direito aos
seus sentimentos, e precisa senti-los e, às vezes,
comunicá-los. Mas gritar não é normalmente a melhor
maneira de fazê-lo.
Respeite as pessoas. Isto inclui acreditar que elas são
boas pessoas (mesmo que tenham problemas). Elas
podem pensar e podem resolver seus problemas. Isto
quer dizer que permitimos que façam essas coisas por si
mesmas. Pergunte-lhes o que elas creem que o
problema seja. Pergunte como querem resolvê-los. Não
temos que curar fazê-los ficarem melhor, controlar ou
salvar. Não temos que lhes dar conselhos, nem fazer
com que seus sentimentos desapareçam.

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Não temos e não devemos nos envolver com suas crises
e consequências. Tais consequências são uma das
maneiras em que a realidade fala alto para aqueles que
estão em negação. Pare de salvá-los! Vai lhes fazer um
grande favor e a si mesmo.
Respeite-se. Ponha limites. Para sua saúde e bem
estar. Não faça coisas pelos outros que realmente não
quer fazer, que não sejam boas para você ou que não
sejam boas para eles. Procure ser assertivo.
Não deixe que uma pessoa que está em negação lhe
faça coisas que te façam mal. Isto não quer dizer para
dar ultimatos ou fazer jogos de poder (fazer algo para
obrigar uma pessoa a ter um comportamento qualquer
ou para “mostrar quem manda”). Isto quer dizer que
calmamente deve descobrir o que precisa fazer para
tomar conta de você e fazê-lo. Marque os limites.
Confronte com cuidado. Isto não é um trabalho de
confronto ou intervenção. Ambas são boas ferramentas,
quando usadas de forma conveniente. Ambas podem
igualmente ser perigosas – para nós e para as pessoas
que confrontamos. Despir uma pessoa de ilusões não é
um projeto casual. Se o assunto que está sendo negado é
sério a pessoa pode parar com a negação após ser
confrontada. Mas lembre-se – esta pessoa não vai
provavelmente evoluir calmamente para a aceitação.
Pode avançar para a segunda fase do processo, a raiva.

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Podem surgir atos violentos quando situações como
essas acontecem.
Tenha cuidado, John Powell explica porque em seu
livro “Porque tenho medo de lhe dizer quem sou?” “A
vocação de endireitar pessoas, de lhes tirar as máscaras,
de forçá-los a enfrentar a verdade reprimida é uma
chamada extremamente perigosa e destrutiva. Ele não
pode viver com algo que realizou. De uma maneira ou de
outra, ele mantém-se psicologicamente intacto através
de uma forma de ilusão. Se essa ilusão for desmontada,
quem a vai reconstruir e por o ser humano de pé outra
vez?” Procure ajuda profissional se pensa que você, ou
alguém perto de você está tendo problemas com a
negação, ou se está considerando confrontar ou intervir
um caso difícil.
Desligue-se do comportamento difícil que está
tentando ajudar. Não leve as pessoas pessoalmente nem
os problemas delas com você. Não somos responsáveis
por outros adultos – não assuma responsabilidades por
eles ou por seus problemas. Em último caso e com toda
certeza cada pessoa é responsável pela sua negação. O
seu processo de negação é sua responsabilidade. Ocupe-
se das suas responsabilidades – de você e do seu
processo de aceitação.
Se não podemos controlar os outros, o que
aparentemente não podemos, então ao menos devemos

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tentar controlar a nós próprios. Se lhe está sendo difícil
afastar-se de uma pessoa ou de um problema, pode
querer considerar o grupo de apoio. Peça ajuda.
Confie em você, no seu processo de aceitação e no
seu Poder Superior. Não existem regras absolutas para
lidar com a negação ou com as pessoas. Cada situação e
cada pessoa são únicas. Mas você pode pensar e
perceber como lidar com as situações que surgirem.
Você quer ajudar a alguém? Pergunte ao seu Poder
Superior. Peça que o use e lhe mostre o que fazer.
Empenhe-se em ser gentil, pensar claramente e em ter
amor nos seus encontros com pessoas. Esqueça-se da
perfeição.
Você nem sempre tem de fazer algo. As pessoas
reestruturam-se “caindo aos pedaços” – e o processo
muitas vezes começa pela negação. É assim que Deus
trabalha conosco. Abra mão do controle e deixe que
Deus o faça por você.

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PARA

PROBLEMA S COM BEBIDA


Em Center City, Minnesota

“Hazelden” conta com seis anos de experiência em recuperação


de homens com problemas com bebida. Seus diretores foram "ao olho
do furacão" de si mesmos e desenvolveram um programa baseado em
leitura, meditação, educação audiovisual, consultas e discussões, que
possibilitam aos hóspedes residentes entenderem os “porquês” deste
problema, e como paralisar esta doença.
Uma atenção especial é dada, servindo refeições apetitosas,
visando o bem-estar físico, que é reconhecido como um dos mais
importantes passos ao longo da caminhada para a recuperação.
Descanso e meditação também são importantes, e os visitantes
estarão autorizados apenas a pedido do hóspede residente.
Pesca, canoagem, piscina são algumas das possíveis diversões.
Médicos e enfermeiros disponíveis 24 horas por dia, e consultas
psiquiátricas serão agendadas mediante solicitação.

Preços razoáveis... para mais informações escreva para

341 North Dale Street Saint Paul 3, Minn.


(or) Center City, Minnesota
Uma organização sem fins lucrativos
O LUTO
UM PROCESSO DE CURA

Peter C. McDonald

Hazelden Foundation
Editora JCB Publicações Ltda
Copyright © 2014, Peter C. McDonald

O Luto - Um processo de cura

Título em Inglês: GRIEVING – A HEALING


PROCESS
Publicado originalmente por: Hazelden
Foundation
Todos os direitos de tradução e
publicação para o território Brasileiro
reservados por Editora JCB Publicações
Ltda
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU
PARCIAL POR QUAISQUER MEIOS, SEM
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA EDITORA
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil
1ª Edição Brasileira
Maio de 2014
Coordenação Editorial: AMMB Syncro
Infinite Loop Avenue,#304 Projeto Gráfico: MFMB Ilustra
California Place Edição de texto: AMMB Syncro
Patos de Minas, MG CEP 38700-000 Diagramação: JCB Desing
Telefax: (34) 6963-4958 Revisão: JCB Desing
URL: www.jcbpublicacoes.com.br Adaptação da Capa: JCB Desing
E-mail: editora@jcbpublicacoes.com Ilustração: MFMB Ilustra

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
McDonald, Peter C.
O Luto – Um processo de cura / Peter C. McDonald; /
Tradução: AMMB Syncro /. – 1ª. Ed. – Minas Gerais:
Editora JCB Publicações Ltda., 2014. – (Dependência
química)

Título original: Grieving – A Healing Process.


Bibliografia.
ISBN 972-8272-03-6
1. Dependência Química. 2. Compulsão. 3. Tratamento
I. Título II. Série

CDD-717.3 07-7209
ii
Nota dos Editores à Tradução Brasileira:
Uma adicção consiste no uso habitual de substâncias alteradoras
do humor (medicamentos, álcool, drogas) ou de comportamentos
(excesso de trabalho, jogos, abuso de comida, internet, falar
demais, sexo, mania de limpeza, consumismo) que é caracterizado
pela tolerância à substância ou comportamento (sendo que um
crescente e contínuo uso à substância ou comportamento se
tornam necessários para obter o mesmo efeito) e pela perda de
controle (o uso continuado apesar de suas consequências
negativas).
A dependência química consiste na adicção ao álcool e/ou
outras drogas. É uma doença progressiva e, se não for tratada,
mortal.

Sobre a Fundação Hazelden:


Os “Materiais Educacionais da Hazelden”, editados no
Brasil pela Editora JCB Publicações Ltda., oferecem uma grande
variedade de informação sobre a dependência química e as áreas
com ela relacionadas. As nossas publicações não representam
necessariamente os programas da Fundação Hazelden, nem se
pronunciam oficialmente por nenhuma organização dos Doze
Passos.

Sobre este livro:


Este livro mostra o luto como uma coisa que todos enfrentam ao
longo da vida. A perda e o luto subsequente fazem parte da vida e
não há como fugir deste fato. O Décimo Segundo Passo diz que
“temos que praticar estes princípios em todas as nossas atividades”.
Estas atividades podem ser às vezes as perdas que se tem que
enfrentar.

Sobre o autor:
O Rev. Peter C. McDonald é membro de uma equipe
multidisciplinar, que presta serviços a pacientes terminais e às suas
famílias. Ele realiza terapias espirituais e é facilitador em grupos de
apoio ao luto como um serviço à comunidade.

iii
Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao Rev. Benonis, capelão e


Tenente coronel do Exército dos Estados Unidos da
América por ter feito a ligação entre o processo do luto
e o Primeiro Passo dos A.A. Limitei-me a transcrever
para o papel o que ele descobriu através de seu trabalho
em Hazelden e durante nossos cursos residenciais de
Educação Clínica Pastoral. Aprendi muito com ele e tive,
também, o prazer de ter partilhado de sua amizade
nessa época de minha vida. Desejo ainda à Rev. Priscilla
W. Braun, senhora de grande sabedoria e amor. Este
livro é dedicado a eles.

v
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 9
PERDAS ASSOCIADAS AO LUTO ......................................................... 10
O PROCESSO DO LUTO ....................................................................... 14
OS CINCO ESTÁGIOS DO LUTO ......................................................... 15
CONCLUSÃO ........................................................................................ 21

vii
INTRODUÇÃO

Quando se inicia verdadeiramente o Primeiro Passo


“Admitimos que somos impotentes perante nossa
adicção e que perdemos o controle de nossas vidas”,
percebe-se que ele trata simplesmente da aceitação da
perda. Isto pode parecer assustador, mas não precisa ser
assim, basta admitir que a impotência, é a aceitação da
perda de poder sobre si mesmo e sobre o mundo.
Talvez seja útil saber que em qualquer tipo de perda
se seguirá, inevitavelmente, o luto. Ele acompanha a
perda seja ela grande ou pequena. É bom saber que o
luto passa por várias fases e que quase sempre termina
pela aceitação da perda. Isto é outra forma de dizer que
o Primeiro Passo faz parte do processo de luto. Assim,
todos que admitem sua impotência no Primeiro Passo,
passaram pelo processo do luto, como um critério para
continuar o programa dos Doze Passos.

Página | 9
AS PERDAS ASSOCIADAS AO LUTO

Consideremos algumas das perdas que sofremos ao


deixar a nossa dependência:

1. A própria substância: seja a droga, o álcool, ou


outras compulsões, a garrafa (ou o que seja), é
uma velha amiga de quem muitas vezes se
depende para afastar o “sofrimento”, para ajudar
a sentir que se controla a situação e ter melhor
opinião sobre si mesmo. Quando deixamos esta
“muleta” de lado, ocorre o pensamento de que
teremos que aguentar tudo sozinho sem qualquer
tipo de ajuda.

2. Os amigos: quando paramos de beber ou de se


drogar, simultaneamente deixamos de lado um
velho círculo de amigos. Podem ser vizinhos ou
colegas de trabalho, ou até mesmo membros da
família que continuam bebendo ou se drogando.
Do mesmo modo, se a bebida ou as drogas
acompanhavam os esportes ou outras atividades
sociais, poderá ser necessário deixar estas
atividades de lado durante algum tempo, caso
continuar com elas cause risco a sua recuperação.
Os familiares codependentes (aqueles que tentam

Página | 10
controlar o comportamento do adicto ou de
outras pessoas e perdem o controle do próprio
comportamento) poderão continuar com estas
atividades ou optar em deixá-las por algum
tempo, se isto for ajudar o adicto em sua
recuperação.

3. Um relacionamento: caso esteja terminando um,


com frequência, se perde não só esta pessoa, mas
todo um grupo de amigos e conhecidos, incluindo
os membros da família que se deixa de ver e os
lugares que costumavam frequentar. Deixar
amigos e atividades cria um grande espaço de
tempo ocioso durante o qual pode se sentir,
normalmente, isolado e deprimido e que se não
for sabiamente ocupado, poderá ser um gatilho
que dispara uma recaída.

4. A autoimagem e a autoestima: sob a influência


do álcool ou do químico, o adicto acreditava que
cuidava bem de sua família, que era uma pessoa
responsável e carinhosa, pensava que controlava
as situações que surgiam, e que sua compulsão
por bebidas ou drogas não os prejudicava ou as
pessoas que estavam ao seu redor. Mas quando
se decide parar, começa a se conscientizar de que

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não era esse o caso. Verificamos que não se tinha
o controle sobre a adicção ou às situações. Se
conscientizar disso constitui um terrível golpe
para a maioria e destrói a autoestima e as ilusões
a seu respeito.

5. Emprego: muitas vezes a drogadição ou o uso


abusivo de álcool foi a causa da perda de um
emprego (ou mesmo de uma série de empregos).
Isto pode ser uma perda realmente difícil se o
sentimento de identidade do indivíduo dependia
deste emprego. Para muitos, uma grande parte
da autoimagem está associada ao que se faz para
ganhar a vida.

6. A família: Em outros casos, muitos como


consequência de beber ou se drogar, perdem
alguém através de uma separação ou de um
divórcio. A presença da esposa, marido, pai, mãe
é importante para todos e dá sentido às vidas de
todas as pessoas. Às vezes, as pessoas mais novas
perdem os pais por causa de sua própria
dependência ou da dependência de um dos pais,
o que pode, de qualquer maneira, ser uma perda
enorme. Desempenhar o papel de criança
proporciona segurança, e perder este papel os

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obriga a se transformar em qualquer coisa nova –
adulto, responsável, independente. Isso pode se
tornar assustador.

7. Foco: Finalmente e talvez o mais importante, é


perder a razão de viver, se tiver vivido para beber
ou se drogar, para ser pais ou para contribuir de
alguma forma através do trabalho (quer seja em
relação à família, à empresa ou à sociedade), e
perder qualquer destas coisas devido a doença.
Perde-se então a razão de viver e se não existir
uma razão para viver, morremos.

Página | 13
O PROCESSO DO LUTO

O luto é uma resposta saudável a uma situação difícil


de perda. Não importa o que se perde, pode ser um ente
querido ou o controle sobre o álcool ou as drogas.
O foco de problema é a impotência sobre o álcool, as
drogas, a vida, a morte, os sentimentos de outra pessoa,
seu comportamento.
Qualquer perda leva ao luto, e para aceitar
completamente essa perda, devemos fazer seu luto.
Somente pelo processo de luto é que chegaremos a um
estado de espírito de paz e serenidade.
A Dra. Elisabeth Kubler-Ross, estudou o processo do
luto em um trabalho e descreveu várias fases que
observou nos doentes e em suas famílias.
Embora as situações possam ser diferentes, o
processo é o mesmo para quem quer que experimente
uma perda. É por isso que os estágios por ela descritos
se aplicam igualmente ao alcoolismo ou a outras formas
de dependência.

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OS CINCO ESTÁGIOS DO LUTO

Cada fase do processo do luto é natural e saudável,


porém é fácil se prender em uma dessas fases e este
processo serve tanto para a negação quanto para
qualquer uma das outras fases. As fases podem surgir
isoladas, ou juntas, pode-se verificar a ocorrência
repetidas vezes de algumas delas ou de todas, pode-se
regredir, o que não consiste em um problema, enquanto
nos lembrarmos do objetivo do luto: aceitação da perda.

1. Negação: Ela é um amortecedor psicológico que


protege contra os pensamentos ou sentimentos
aos quais ainda não se está mental, emocional ou
espiritualmente preparado para lidar. Todos
negam aquilo que não estão preparados para
aceitar. Lembre-se de quando soube que alguém
morreu e disse: “Não acredito”! Isto é negação e
pode durar instantes ou anos, até que se consiga
dizer: “Pronto, aconteceu. É real. E agora, como é
que me sinto? O que vou fazer agora”? Devemos
barganhar com nossos sentimentos nesta fase.
Existe uma relação entre a importância da pessoa
ou da coisa que se perdeu e o grau da negação.
Quanto maior era a dependência daquilo que se
perdeu maior será a negação. Por isso a

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determinada altura torna-se decisivo encarar a
realidade e parar de negar a impotência, fazer o
Primeiro Passo, e admitir – mesmo que não se
aceite – a impotência.

2. Raiva: Alguma vez aconteceu de ficar com raiva


quando perdeu alguma coisa e não conseguiu
encontrar? Isso faz parte do luto. Parecemos
impotentes quanto a nossa capacidade de
localizar o objeto perdido ou aceitar a morte de
alguém próximo a nós. É uma resposta natural a
uma perda dolorosa. Ocorre exatamente o
mesmo com a dependência química. As pessoas
adictas ficam simplesmente furiosas com o fato
de perderem controle do próprio comportamento
dos próprios sentimentos ou dos sentimentos dos
outros. Costumávamos dizer: ”Só uma dose antes
de voltar para casa”, e quatro horas depois
estavam embriagados como um boné velho na
cabeça ao chegar em casa, isto quando voltamos
pra casa. No outro dia, sentimos raiva por sermos
tão fracos e de tal forma impotentes perante a
droga ou ao álcool. E os codependentes –
cônjuges e filhos – que estavam em casa nos
esperando, ficam furiosos porque, o que quer que
se faça, por mais que os amemos, continuamos a

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beber ou a usar drogas. O problema com a raiva é
que ela pode se tornar destrutiva se não for
expressa de forma saudável. Pode se transformar
num ressentimento amargo e levar a beber ou se
drogar cada vez mais para fugir desse sentimento.
Sutil e invasiva, ela pode recair sobre os membros
da família ou manifestar-se no trabalho, e o
comportamento fica fora de controle. Pode
conduzir à violência. Pode transformar-se em
depressão (raiva de si mesmo) e levar ao
desespero ou até ao suicídio. Por isso é vital
admitir que a sente e partilhar este sentimento.

3. Dor/desespero/depressão: Representam situações


seguras que se cria ocasiões em que se permite
estar triste. Ajuda a expressar os sentimentos
profundos que se tem a respeito da perda. Muitos
adictos em recuperação falam de sua droga de
preferencia como um antigo amigo: “O meu maior
amigo era a garrafa”. É uma afirmação que se
ouve com frequência, quando se perde esse
amigo se sente triste. Com a dor vem também o
desespero, é assustador perder alguém ou
alguma coisa de que se tornou dependente, como
por exemplo a esposa. Acaba se desiludindo da
própria vida e ocorre pensamentos de desistir,
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desejando a morte. É um sentimento de grande
solidão e desesperança. Um dos problemas com a
dor é que tal como a raiva, pode se tornar
destrutiva. Pode-se facilmente cair numa
armadilha e começar a sentir pena de si mesmo,
se tornando auto piedoso. Muitas vezes a auto
piedade, a menos que se faça qualquer coisa para
resolvê-la, conduzirá diretamente a bebida ou a
droga. Ou pode fazer voltar a um padrão de
comportamento destrutivo do qual estava se
libertando. A dor pode também levar à depressão
que pode imobilizar e o nos faz sentir
completamente desamparados. A um ponto de
nem querer sair da cama pela manhã, não
consegue dormir ou então dorme o dia todo. A
dor pode levar, também, a pensamentos ou ações
suicidas. Chorar é saudável e é uma boa forma de
expressar a dor. É uma forma de tratamento e de
limpeza. No entanto, para certas pessoas chorar
pode ser difícil. Mas chorar representa o
reconhecimento e a crescente aceitação da
impotência, e portanto, da humildade. Chorar é
saudável.

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4. Negociação: É a tentativa desesperada para
manter o controle, para conseguir que as coisas
ocorram como se quer. Tentar controlar o uso é
negociar: “Se eu beber só uma ou duas latas
provo que me controlo, e portanto que não sou
impotente”. “Se eu beber só nos fins de semana,
isso significa que não sou impotente. Portanto
posso beber”. Ou uma esposa pode dizer: “Bem, o
convenci a não tomar outro copo, isso quer dizer
que tenho alguma influência sobre ele quanto ao
seu uso”. Negociar impede de enfrentar a
realidade e assim é uma forma de negação
também. Até certo ponto é bom pois ajuda a
realmente descobrir se controla ou não alguma
coisa. Mas também se torna destrutivo se lhe for
permitido permanecer nele por muito tempo pois
separa a realidade da perda. Deixa uma ilusão de
que ainda se tem o controle e impede de alcançar
a fase final do processo do luto.

5. Aceitação: Esta é a fase final do processo, o


objetivo do luto. Tendo passado pela negação,
raiva, tristeza e negociação, chega-se à aceitação
da perda que ocorreu. Se aceita que é impotente
e que não é a pessoa que pensava ser. Tendo
feito o luto, pode aceitar a perda do poder, e

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seguir sua vida, o que é precisamente aquilo que
os Doze Passos querem dizer. Encontra-se a paz e
a serenidade, chega-se a um acordo com a
realidade. Não precisa de fé para admitir que é
impotente, mas precisa dela para aceitar a
impotência. A fé é o antídoto do medo, se tiver fé,
aconteça o que acontecer, tudo acabará ficando
bem, não se tem nada a temer. Pode-se aceitar o
estado de impotência sabendo que alguém ou
alguma coisa cuida de você, é aqui que entra o
Segundo Passo. “Viemos a acreditar que um Poder
superior a nós mesmos poderia devolver-nos à
sanidade”, tornando-nos assim capazes de aceitar
a nossa impotência. Podemos então decidir fazer
o Terceiro Passo e pedir ajuda. Tudo está
interligado.

Página | 20
CONCLUSÃO

Quer se esteja apenas começando a se recuperar da


adicção ou de outro tipo de dependência ou mesmo que
se encontre a vários anos num Programa de Doze
Passos, o luto é uma coisa que todos enfrentam ao
longo da vida. A perda e o luto subsequente fazem parte
da vida e não há como fugir deste fato.
O Décimo Segundo Passo diz que “Tendo
experimentado um despertar espiritual graças a estes
passos, procuramos transmitir esta mensagem a outros
adictos e praticar estes princípios em todas as nossas
atividades”. Estas atividades podem ser às vezes as
perdas que se tem que enfrentar. Quer seja a morte de
um dos pais, o fim de um relacionamento e, senão a
mais importante, o fim da dependência química, que
muitos lutam tanto para conquistar.
Seja tão honesto quanto puder ao se observar e ao
fazê-lo, saiba que se encontra entre os poucos seres
humanos que estiveram frente às suas perdas e à sua
dependência e as superaram.

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PARA

PROBLEMAS COM BEBIDA


Em Center City, Minnesota

“Hazelden” conta com seis anos de experiência em recuperação


de homens com problemas com bebida. Seus diretores foram "ao olho
do furacão" de si mesmos e desenvolveram um programa baseado em
leitura, meditação, educação audiovisual, consultas e discussões, que
possibilitam aos hóspedes residentes entenderem os “porquês” deste
problema, e como paralisar esta doença.
Uma atenção especial é dada, servindo refeições apetitosas,
visando o bem-estar físico, que é reconhecido como um dos mais
importantes passos ao longo da caminhada para a recuperação.
Descanso e meditação também são importantes, e os visitantes
estarão autorizados apenas a pedido do hóspede residente.
Pesca, canoagem, piscina são algumas das possíveis diversões.
Médicos e enfermeiros disponíveis 24 horas por dia, e consultas
psiquiátricas serão agendadas mediante solicitação.

Preços razoáveis... para mais informações escreva para

341 North Dale Street Saint Paul 3, Minn.


(or) Center City, Minnesota
Uma organização sem fins lucrativos
PENSAMENTO
DESTRUTIVO

Gayle Rosellini
PENSAMENTO
DESTRUTIVO

Gayle Rosellini

Hazelden Foundation
Editora JCB Publicações Ltda
Copyright © 2014, Gayle Rosellini

Pensamento Destrutivo

Título em Inglês: STINKING THINKING


Publicado originalmente por: Hazelden
Foundation
Todos os direitos de tradução e
publicação para o território brasileiro
reservados por Editora JCB Publicações
Ltda
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU
PARCIAL POR QUAISQUER MEIOS, SEM
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA EDITORA
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil
1ª Edição Brasileira
Junho de 2014
Coordenação Editorial: AMMB Syncro
Infinite Loop Avenue,#304 Projeto Gráfico: MFMB Ilustra
California Place Edição de texto: AMMB Syncro
Patos de Minas, MG CEP 38700-000 Diagramação: JCB Desing
Telefax: (34) 6963-4958 Revisão: JCB Desing
URL: www.jcbpublicacoes.com.br Adaptação da Capa: JCB Desing
E-mail: editora@jcbpublicacoes.com Ilustração: MFMB Ilustra

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rosellini, Gayle
Pensamento Destrutivo/Gayle Rosellini / Tradução
AMMB Syncro/. – 1ª. Ed. – Minas Gerais: Editora
JCB Publicações Ltda., 2014. – (Dependência química)

Título original: Stinking Thinking


Bibliografia.
ISBN 972-8272-13-3
1. Dependência Química. 2. Espiritualidade. 3. Tratamento
I. Título II. Série

CDD-717.6 07-7206
iv
Nota dos Editores à Tradução Brasileira:
Uma adicção consiste no uso habitual de substâncias alteradoras
do humor (medicamentos, álcool, drogas) ou de comportamentos
(excesso de trabalho, jogos, abuso de comida, internet, falar
demais, sexo, mania de limpeza, consumismo) que é caracterizado
pela tolerância à substância ou comportamento (sendo que um
crescente e contínuo uso à substância ou comportamento se
tornam necessários para obter o mesmo efeito) e pela perda de
controle (o uso continuado apesar de suas consequências
negativas).
A dependência química consiste na adicção ao álcool e/ou
outras drogas. É uma doença progressiva e, se não for tratada,
mortal.

Sobre a Fundação Hazelden:


Os “Materiais Educacionais da Hazelden”, editados no Brasil pela
Editora JCB Publicações Ltda., oferecem uma grande variedade de
informação sobre a dependência química e as áreas com ela
relacionadas. As nossas publicações não representam
necessariamente os programas da Fundação Hazelden, nem se
pronunciam oficialmente por nenhuma organização dos Doze
Passos.

Sobre este livro:


Este livro refere-se ao pensamento característico que
normalmente conduz uma pessoa em recuperação ao caminho da
recaída. Algumas atitudes específicas são descritas a fim de auxiliar
a uma avaliação de suas próprias tendências em relação a estas
atitudes e, soluções práticas e funcionais são sugeridas.

Sobre a autora:
Gayle Rosellini é uma escritora independente cujos trabalhos
sobre a dependência química e outros tópicos sobre saúde e
desenvolvimento pessoal aparecem em Alcoholism/The National
Magazine, U.S. Journal e outros periódicos. É também coautora do
livro Of Course You’re Angry, publicado pela Hazelden Educational
Materials.
v
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 9
ATITUDE CERTA CONTRA OS PENSAMENTOS DESTRUTIVOS ....... 11
ATITUDES COMUNS EM PENSAMENTOS DESTRUTIVOS ............... 13
Manipulação ........................................................................................ 14
Grandiosidade ..................................................................................... 17
Facilitação ........................................................................................... 19
O caso de Fábio Augusto .................................................................. 20
Rebeldia .............................................................................................. 23
DESAFIANDO OS PENSAMENTOS DESTRUTIVOS .......................... 27
Consciência ........................................................................................... 29
Compromisso ..................................................................................... 29
Ação ...................................................................................................... 30
Transformação ..................................................................................... 31
MUDANDO OS PENSAMENTOS DESTRUTIVOS ............................. 35
CONCLUSÃO ........................................................................................ 37

vii
INTRODUÇÃO

Nós podemos conseguir manter e desfrutar uma


sobriedade duradoura. Temos dentro de nós o potencial
para crescer e amadurecer em nossa recuperação, para
conseguir uma vida abundante e plena. Podemos nos
tornar pessoas de autoestima elevada e de perspectivas
positivas. Podemos nos tornar vencedores.
Quantos se recuperam? Quantos conseguem manter-
se sóbrios e bem, depois da sua primeira experiência
com um tratamento? Quantos recaem mergulhando
outra vez na doença e no desespero da dependência
química? De fato, a dependência química é uma doença
caracterizada pela recaída. Entre aqueles que realmente
tentam manter-se sóbrios e bem através de
aconselhamento profissional e de grupos como
A.A./N.A., cerca de 40%* não conseguem e escorregam
sem esperança para uma dependência crônica do álcool
ou outras drogas.
O que acontece com eles? Será que lhes falta
inteligência?
É pouco provável. Veja que uma recuperação
duradoura não depende da inteligência. O mundo está
cheio de etilistas e adictos inteligentes.

*Estimativa mundial.
Página | 9
Um doutorado em física nuclear não garante uma
sobriedade feliz. Nem tão pouco ganhar na loteria ou
ficar em primeiro lugar num concurso de beleza. Não é a
inteligência, a sorte ou beleza que nos mantém sóbrios!
A atitude faz a diferença na recuperação.

Página | 10
ATITUDE CERTA CONTRA OS
PENSAMENTOS DESTRUTIVOS

As atitudes são tanto um caminho para recuperação


saudável e feliz como o caminho para a recaída. Simples
assim. Isto não é de maneira nenhuma, uma ideia nova.
Norman Vincent Peale mudou as vidas de milhares de
pessoas sugerindo o poder do pensamento positivo. Earl
Nightingale disse: "Nós nos tornamos, literalmente,
aquilo o que pensamos na maior parte do tempo".
Infelizmente aqueles que estão se recuperando da
dependência química, com frequência sofrem do que os
membros de A.A./N.A. chamam de Pensamento
Destrutivo. O Pensamento Destrutivo é uma má atitude.
É ser negativo, se culpar e ficar insatisfeito. É uma
atitude traiçoeira.
As nossas más atitudes podem prejudicar muitos ao
nosso redor, mas a arrogância e o falso orgulho nos
levam a acreditar que nossos pensamentos e ações
destrutivas são tão doces quanto as flores da primavera.
É com certeza o outro que está errado! Este é o outro
elemento do pensamento destrutivo.
Somos peritos em prejudicar o próximo enquanto
permanecemos cegos aos nossos próprios defeitos. O
pensamento destrutivo é um dos maiores sintomas da
dependência química.

Página | 11
Todos nós sofremos disso uma vez ou outra e não
dura mais que os primeiros 30 dias de tratamento. Até
nos pode torturar, mesmo quando sóbrios, destruindo a
nossa recuperação.
Os 40%* que escorregam para um círculo de recaídas
são pensadores destrutivos por excelência.
Cada um de nós deve examinar o próprio
pensamento. Será que nossa atitude está sendo positiva
e construtiva ou praticamos pensamentos destrutivos?
Andamos fazendo reverência à recaída com atitudes
negativas? Estamos firmando a sobriedade com os
dentes fechados e uma infelicidade violenta?
Para conseguir uma recuperação bem sucedida para
nos sentir bem mental e fisicamente, precisamos ter a
cabeça no lugar com um pensamento claro e racional.
Para conseguir isso temos que reconhecer nossos
padrões de pensamentos destrutivos e aprender formas
de mudar esses padrões negativos em atitudes positivas.

*Estimativa mundial.
Página | 12
ATITUDES COMUNS EM PENSAMENTOS DESTRUTIVOS

Existem quatro denominadores comuns que parecem


caracterizar as pessoas que voltam a recair para a
adicção de bebida ou outra dependência química. Estas
quatro atitudes específicas podem aparecer durante
qualquer período do processo de recuperação, mesmo
depois de vários anos de sobriedade bem sucedida.
Contudo tem um papel primordial durante os primeiros
meses críticos de sobriedade.
Essas atitudes são muitas vezes a causa da recaída
que ocorre durante o primeiro ano depois de
tratamento. Uma pessoa pode terminar um programa
de tratamento com êxito e mesmo assim continuar a ser
um pensador destrutivo! Porque, semanas de
tratamento intensivo são apenas o começo da
recuperação. A recuperação é um processo. Leva tempo
e esforço.
A recuperação segue após o tratamento, à medida
que trabalhamos para desenvolver atitudes positivas no
mundo que nos rodeia, assim como melhoramos os
relacionamentos e recuperamos saúde. A recuperação é
dinâmica, é um processo de mudança, crescimento e
amadurecimento. Para nós, a recuperação é a vida.
Portanto vamos olhar mais de perto para essas
atitudes negativas que podem impedir a recuperação de
seguir o seu caminho.
Página | 13
Manipulação

Fyodor Dostoyevsky, escritor russo disse uma vez


que: “Fingir tão facilmente coexiste com sentimento
sincero”.
As suas palavras descrevem habilmente um
fenômeno comum entre as pessoas que estão em
tratamento da dependência química. O fenômeno
chama-se Manipulação e é um exemplo de gatilho de
disparo do pensamento destrutivo. A manipulação é
fazer afirmações que não são sinceras. É dizer aos outro
aquilo que eles querem ouvir. É condescendência
superficial, uma máscara para sermos bem vistos.
Manipulação é diferente da mentira. Quando
mentimos, estamos cometendo uma fraude total.
Sabemos que estamos faltando com a verdade e
esperamos não ser apanhados. A manipulação parece
mais com um pensamento daquilo que se deseja: No
mínimo, só acreditamos em metade daquilo que
estamos dizendo. Algumas vezes somos totalmente
sinceros, pelo menos no início, mas depois não damos
sequência a esta sinceridade. São só promessas e
nenhuma ação. E isso é o que torna perigosa a
manipulação para as pessoas em recuperação.
Sentamos, mexemos os lábios, desejando que as nossas
palavras se tornem verdade.

Página | 14
Mas promessas não valem nada. A recuperação exige
ação! Mudança! Compromisso! Trabalho!
A manipulação põe em risco a sobriedade, porque
somos ingênuos para acreditar que ao repetir as
palavras e os slogans certos podemos adequadamente
substituir o trabalho, tantas vezes doloroso e difícil, de
olhar para dentro de nós próprios e mudar as crenças e
comportamentos errados que tornaram nossas vidas
desgovernadas.
A manipulação não dá resultados positivos. Podemos
ser capazes de enganar nosso terapeuta, nossa esposa,
patrão, e amigos com nossas fluentes palavras, mas a
menos que tornemos essas palavras em ações sinceras,
teremos que encarar a possibilidade mais que provável
da recaída!
Certas frases feitas são características da
manipulação:
Eu prometo não fazer de novo.
Desta vez aprendi a lição.
Eu acho os A.A./N.A. maravilhosos, mas não é pra mim.
Eu juro que ter sido apanhado dirigindo bêbado foi a
melhor coisa que me aconteceu.
Sei que nunca mais usarei.
Eu vou deixar de (beber, usar drogas, comer porcarias,
dirigir sem habilitação, perder a cabeça) assim que...
Eu farei tudo o que quiser desde que não me interne em

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uma clínica.
Lembre-se, normalmente acreditamos na nossa
própria manipulação. Continuidade é o que distingue a
falsidade da manipulação e a sinceridade do verdadeiro
compromisso com a recuperação.
Não é o que dizemos que conta. Mas sim aquilo que
fazemos.
Devemos fazer as seguintes perguntas:
Será que estou priorizando as coisas que devo fazer ou
maneiras de melhorar e, no entanto, estou falhando
na forma de agir a estas coisas?
Será que realmente acredito que, embora outros
adictos precisem seguir os passos de um programa de
tratamento para se recuperarem isto, também, não se
aplica a mim?
Será que, às vezes, estou repetindo frases e slogans
sobre minha recuperação na esperança de ganhar a
aprovação das pessoas que me odeiam?
Será que faço promessas para melhorar o meu
comportamento e essas promessas nunca se
realizam?
Se a resposta é sim mesmo que seja só a uma destas
perguntas, estamos prejudicando nossa recuperação ao
entrarmos na manipulação.
O que é que nos leva a sabotar desta maneira? Por
uma única razão, porque tendemos a agradar aos

Página | 16
outros. Queremos ganhar a aprovação de nosso
terapeuta, esposa e família, dizendo-lhes aquilo que
pensamos que eles querem ouvir. Tornando-os
satisfeitos e fazendo com que nos tratem bem, e isso
nos faz felizes, pelo menos por pouco tempo.
Há outra razão mais egoísta para usarmos a
manipulação. É um processo eficaz para que as outras
pessoas deixem de nos aborrecer. Se dissermos o slogan
certo, podemos acalmar o terapeuta, ou a esposa que
continuam desconfiando de nossas atitudes.
A chave para sair da manipulação é a insinceridade.
Enganamos os outros várias vezes. E isso nos conduz a
outro de nossos problemas de atitude:

Grandiosidade

A grandiosidade é outro lado da baixa autoestima. É


caracterizado por um sentido exagerado do “eu”, e
aqueles que de entre nós sofrem disso possuem um
sentido irrealista de sua importância, talentos e
habilidades. Comportam como se fossem imunes às leis
da natureza. Acham-se diferentes.
É a crença grandiosa de que as outras pessoas são
muito estúpidas para reconhecerem nossa falsidade que
nos leva a continuar com o jogo da manipulação.
Grandiosidade é acreditar que podemos frequentar

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bares sem ser tentado a beber.
Grandiosidade é acreditar que podemos continuar a
andar por aí com os antigos amigos do “uso” sem ser
apanhado outra vez pela adicção.
Grandiosidade é acreditar que há outras pessoas que
podem precisar da muleta dos A.A./N.A., mas que nós
não precisamos de nenhum desses grupos de
espiritualidade.
Grandiosidade é acreditar que uma cerveja ou um
“pega” não nos vai fazer perder o controle.
Grandiosidade é acreditar que somos melhores, mais
espertos ou dignos que os outros.
Grandiosidade é acreditar que as regras são para os
outros e não para nós.
Grandiosidade é a crença falsa de que, de uma
maneira ou de outra, podemos por magica superar as
probabilidades de poder continuar preguiçosos e
exigentes, sem arriscar a recaída.
Grandiosidade é pensamento destrutivo.
Devemos nos perguntar o seguinte:
Será que posso frequentar bares porque sei que sou
forte o suficiente para não ser tentado a beber ou usar
drogas outra vez?
Será que provavelmente vou poder voltar a beber em
socialmente ou usar drogas moderadamente se eu
quiser?

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Será que só eu penso que todas essas reuniões de
Doze Passos e as sessões de acompanhamento com
meu terapeuta são um tempo perdido?
Será que estar rodeado de todos esses adictos em
A.A./N.A. me prejudica?
Se respondermos sim a pelo menos uma destas
perguntas, estamos prejudicando nossa recuperação
com uma grandiosidade irreal.
É uma incoerência, mas os adictos podem ser
grandiosos mesmo sofrendo de um complexo de
inferioridade. Dependendo de como nos sentimos e da
situação, ficamos entre o falso orgulho e um ego
inchado de grandiosidade e uma depressão destruidora
e baixa autoestima.
Isto porque o que distingue tanto a baixa autoestima
como a grandiosidade é o desprezo.
Com baixa autoestima o desprezo volta para dentro
de nós. Com grandiosidade, nós visamos o exterior, as
outras pessoas e as regras da sociedade e da natureza.
Quando começamos a pensar que as regras não são para
nós, desenvolvemos outro problema de atitude.

Facilitação

É sábado de manhã, o sol brilha, os pássaros cantam,


está um lindo dia. Então que mal poderá fazer não ir ao

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culto com a esposa e filhos na Igreja Adventista do
Sétimo Dia? Será que aconteceu alguma coisa de mal
por não termos ido ao culto na semana passada? Além
disso, em um dia como o de hoje, é provavelmente mais
saudável estar ao ar livre tomando sol, do que ficar
enfiados numa sala. Quero dizer, qual é a importância
desta coisa de culto a Deus?
A importância é que o sucesso de nossa recuperação
depende muito do empenho em continuar “ativo” ao
compromisso com nosso Poder Superior. Quando
começamos a faltar ao que está marcado, a fugir dos
cultos ou arrumar desculpas, quando nos tornamos
menos cuidadosos em nosso empenho na recuperação,
começamos a facilitar.
Facilitar é uma forma de enganar. Começa devagar,
mas pode rapidamente se tornar em uma recaída.
Vejamos um exemplo de alguém que facilitou.

O caso de Fábio Augusto

Fábio Augusto entrou num programa de tratamento


porque sua vida estava desfeita devido ao crack e outras
drogas. Ele saiu do tratamento como um homem novo,
cheio de entusiasmo e desejando um estilo de vida
sóbrio. Estava tão estimulado com a sobriedade que
desejava ser terapeuta um dia, de modo que pudesse

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ajudar outras pessoas. Decidiu fazer um curso de
monitoria e coordenação, com duração de dez dias, na
FEBRACT, em Campinas, SP.
As exigências do emprego em uma comunidade
terapêutica não lhe deixavam com muito tempo para a
família e para se dedicar a sua própria recuperação.
Alguma coisa tinha que ceder. Pensando que podia ser
um marido e pai presente somente nos finais de semana,
Fábio Augusto passou a negligenciar sua própria
recuperação. Depois deixou de ir completamente, as
reuniões de N.A., mas mesmo assim tentou ler o seu
“texto básico”, uma vez por semana. Cerca de um mês
depois, a sua esposa começou a postar comentários no
facebook lamentando do pouco tempo que passavam
juntos e, então, Fábio Augusto a surpreendeu quando se
demitiu do serviço que prestava no centro terapêutico e
a levou ao melhor restaurante de comida oriental da
cidade.
De fato, Fábio Augusto sentia-se culpado por passar
tantos dias fora de casa, e assim esperava que aquele
jantar espetacular pusesse fim às queixas de sua esposa.
Ele estava revendo antigos amigos, e indo a bares e
lugares que sempre frequentou. Ele tinha certeza
absoluta de que sua esposa estava desconfiada, mas
também não pensava que estivesse fazendo nada de tão
errado, afinal, uma pessoa tem esse direito, não tem? E

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ele conseguia estar quase totalmente limpo e bem na
maioria do tempo. Ele podia ter fumado crack todas as
noites que quisesse, mas recusou sempre de todas as
vezes que lhe ofereceram. O máximo que fez foi dar uns
“pegas”. Nem chegou a ficar “louco”, a droga era de
uma qualidade péssima. Que mal poderia fazer?
Em três semanas, Fábio Augusto estava totalmente
recaído. Facilitar pequenas mentiras o levou a completa
recaída.

Facilitar é traiçoeiro. As primeiras mentiras parecem


pequenas e inocentes, de modo algum causam
preocupação. E nós sempre temos uma boa desculpa
para justificar nossos desvios de comportamento. A
menos que reconheçamos a facilitação como um
pensamento destrutivo, inevitavelmente ela nos conduz
ao desastre.
Devemos nos questionar:
Deixei de ir a um culto na igreja, a uma sessão de
terapia ou a uma reunião de N.A., porque estava
muito cansado, ocupado ou porque achei que estava
bem e não precisava?
Bebi uma dose ou dei só um “pega”?
Ignoro as instruções de meu médico, terapeuta e
pastor que dizem sobre dieta, exercícios ou outra coisa
qualquer porque dão muito trabalho para cumprir?

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Deixei de fazer o Décimo Passo ou evitei ter uma ação
positiva para corrigir minhas atitudes e desvios de
comportamento?
Respondendo sim a uma das perguntas estamos
prejudicando nossa recuperação por facilitarmos.
A chave para deixar a facilitação é se desculpar.
Podemos nos tornar peritos em combinar
manipulação, grandiosidade e facilitação para formar
uma péssima atitude que pode prejudicar nossa
recuperação. Um exemplo de nosso pensamento
negativo pode soar assim:
“Ah, penso que N.A. são formidáveis (manipulação),
mas não sou do tipo que precisa de todo esse apoio do
grupo para permanecer sóbrio (grandiosidade)”. Além
disso, eu preciso de todo o meu tempo disponível para
estar com minha família de modo a compensá-los pela
minha ausência quando me drogava (facilitação).
No curso normal dos acontecimentos, a família e os
amigos começarão a notar a atitude de facilitação.
Ficarão preocupados. E começarão a nos censurar, o
que fará aparecer nossa rebeldia.

Rebeldia

Adictos são pessoas rebeldes. Não suportam que


digam o que tem de fazer. No momento em que alguém

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começa a dar ordens, mesmo quando estão certos e seja
para o seu bem, ficam hostis.
Para nós, a rebeldia é tão normal como respirar.
Parece que temos uma tendência nata para resistir e
opor à autoridade. E para nós, a autoridade pode ser
qualquer um, mulher, filhos, pais, terapeutas, padrinhos.
É qualquer pessoa que tenha influencia em nosso
comportamento.
Talvez nossa rebeldia venha, em parte, de nossa
grandiosidade. Nós queremos ter sempre razão. A nossa
grandiosidade nos engana, fazendo acreditar que temos
todas as respostas, que tudo correrá bem, se todos
fizerem as coisas como queremos.
Claro que nem sempre mostramos abertamente a
nossa rebeldia. Podemos nos mostrar agradáveis e
alegres por fora, mas por dentro estamos fazendo
planos de virar a situação e fazer o que quiser.
Por causa de nossa rebeldia e grandiosidade, não
somos muito bons em receber conselhos de nossos
terapeutas e de outras pessoas em recuperação que
conhecem o “esquema”, e que poderiam nos ajudar, se
lhes déssemos ouvidos em vez de filtrar tudo através
dos nossos egos inchados.
Deveríamos nos perguntar:
Me sinto como se outras pessoas estivessem sempre
tentando governar minha vida?

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Faço promessas de melhorar meu comportamento,
quando na verdade não tenho intenção alguma de
mudar?
Será que às vezes penso que meu terapeuta ou
padrinho é doido ou pior que eu?
Se respondermos afirmativamente a uma destas
perguntas, estamos prejudicando nossa recuperação
com rebeldia.
O que nos prende à rebeldia é a imaturidade. Em
muitos aspectos somos como crianças grandes, Reis
Bebês. Queremos ser o centro das atenções e que todas
as nossas necessidades sejam imediatamente satisfeitas.
Ficamos zangados e ressentidos quando as pessoas que
nos odeiam não procedem como nós queremos.
Começamos a culpá-las por todos os nossos
problemas e gastamos tempo e energia tentando mudá-
las; para fazer tudo como queremos, para ficarmos
felizes. Isto é o que torna a rebeldia tão perigosa para a
nossa recuperação. Estamos tão ocupados tentando
controlar e mudar os outros de um modo tão arrogante,
que não temos a energia ou a visão necessárias para
mudarmos nós mesmos e nosso pensamento destrutivo.
Uma boa atitude é a resposta. A recuperação floresce
quando encaminhamos sem medo os nossos
pensamentos e ações, quando nos dedicamos a
reconhecer e a eliminar os hábitos destrutivos da

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manipulação, da grandiosidade, da facilitação e da
rebeldia.
Estas quatro atitudes de comportamento promovem
crenças destrutivas que podem tornar nossas vidas
desgovernadas e infelizes mesmo quando estamos
sóbrios.
Mas podemos mudar! Podemos desafiar nosso
pensamento destrutivo e aprender novas e saudáveis
respostas para a vida. Podemos endireitar nosso
pensamento, pondo-o em seu lugar.

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DESAFIANDO OS PENSAMENTO DESTRUTIVO

Por que ficamos tanto tempo nos permitindo ter


padrões mentais e emocionais que criam tensões
desnecessárias em nossa vida? A resposta é simples,
pensamos que isso ajuda!
Muitas pessoas vivem em um estado de preocupação
constante. A fim de consumar esse estado, costumam
focalizar e se fixar no pior roteiro possível. Por que
fazem isso? Porque acreditam que tal atitude os levará a
procurar uma resposta.
Mas a verdade é que a preocupação geralmente
deixa a pessoa num estado emocional de extremo
medo. Sem contar que pensamentos emocionalmente
carregados de medo do que pode vir a acontecer de
ruim tendem a nos deixar sufocados pela frustração, e
assim não conseguimos nos focar naquilo que realmente
é importante no momento.
O que fazer então? Devemos lembrar que dispomos
de diversas estratégias para mudar este estado.
Precisamos atuar no problema diretamente. Utilize
questionamentos que o ajudarão a entender melhor a
situação e assim focar nas medidas necessárias mais
diretamente, sem que precise ficar remoendo muito a
questão.
Algumas perguntas úteis são:
O que eu poderia aprender com isso?
O que eu posso fazer para mudar esta situação?
Para criar uma mudança positiva devemos
interromper o antigo padrão como costumamos resolver
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os problemas e tentar estratégias diferentes. Devemos
mudar nosso foco de pensamento no momento.
Utilize uma das técnicas a seguir:
Quando pegar-se pensando em algo ruim, pare e
mude o que estiver fazendo com a intenção de mudar
seu pensamento.
Se estiver na mesa de trabalho fazendo algo e os
pensamentos continuam vindo à sua mente, nesta
hora dê uma parada e decida que vai pensar em outra
coisa, você precisa dar um novo comando à sua
mente.
Uma boa estratégia é visualizar na sua frente um
semáforo com a cor mudando de vermelho, que são os
pensamentos destrutivos, para o verde.
Tudo o que se passa em sua mente é sempre sua
criação, e você deve dar um comando para mudar seu
próprio pensamento. Frases como “Pare, Fabio
Augusto!” ou “Fábio Augusto, já deu!” servem para
alertar a si mesmo que nesta hora está escolhendo
outro pensamento.
Com o tempo nos acostumamos a fazer estas
mudanças e cada vez mais nossa vida vai ficando mais
fácil, pois assim conseguimos focar nossas forças naquilo
que realmente somos capazes de fazer.
São necessárias pelo menos três coisas para
conseguir forças e desafiar o pensamento destrutivo.

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Consciência

Não podemos mudar uma má atitude se não a


aceitarmos como sendo, e enquanto enterrarmos nossa
cabeça na areia da grandiosidade e da rebeldia, nunca
reconheceremos nossos próprios desvios de
comportamento. O Quarto Passo é um modo excelente
para aumentar a nossa consciência de como estão
nossos comportamentos.
A consciência pode ser dolorosa. Temos uma
tendência natural para negar nossas imperfeições,
proteger nosso ego, fugir da verdade de nossos erros.
Mas sem estarmos conscientes nunca poderemos
crescer ou melhorar.
Então, vamos fazer, sem medo, um inventário moral!
Uma vez passada a dor inicial da busca dentro de nós,
podemos até achar maravilhosamente libertadora a
consciência de nós mesmos.

Compromisso

Agora já não é tempo de conversa fiada superficial. A


mudança positiva requer trabalho duro e prática.
Devemos procurar conselhos sensato com um terapeuta
competente, com um padrinho digno de confiança em
uma irmandade que se preocupa com nossa

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recuperação.
Devemos examinar nossos planos para melhorar.
Estaremos facilitando? Tentando encontrar um caminho
mais fácil? A mudança não acontece facilmente, mas o
esforço não valerá a pena? O compromisso sincero é
vital para a nossa recuperação!

Ação

A consciência não tem significado a menos que se


tome uma ação positiva e construtiva para melhorar
nossas fraquezas e defender nossa sobriedade.
Possuímos uma habilidade notável de adaptação,
contudo a visão que temos de nós mesmos é muitas
vezes seguida de inatividade. Por quê?
O medo nos impede do desconhecido, de nos
enfrentarmos. “É doloroso”. E esta dor nos faz dizer. “A
mudança me apavora”. A preguiça é um grande
bloqueio. “Para que incomodar?”. Então perguntamos.
“Até aqui eu vivi sem ter que mudar”. E a grandiosidade,
juntamente com a baixa autoestima, nos mantém presos
à nossa rotina. “Eu não preciso mudar”. Insistimos com
medo de admitir nossa fraqueza. “Não há nada de
errado comigo”.
A ação é o ponto de diferença entre o sucesso e o
fracasso. Se estamos prontos para mudar, para melhorar

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e crescer é agora a hora de agir.

Transformação

O ponto mais importante sobre o nosso pensamento


destrutivo é: Podemos mudar nossas atitudes!
Podemos ser ranzinzas ou positivos. A escolha é
nossa! Ao eliminar o pensamento destrutivo, estaremos
pensando claramente e nos comprometendo em se
recuperar.
Já aprendemos quais as chaves da recaída: falsidade,
desprezo, desculpas e imaturidade.
Estas características de personalidade são obstáculos
à nossa procura pela felicidade e maturidade. Mas
estando alerta, empenhados, e agindo, podemos
transformar estes obstáculos em alicerces para a
recuperação. Podemos equilibrar estes aspectos
negativos de nossa personalidade esforçando
ativamente na direção dos pensamentos positivos
destas características.
Vejamos os pensamentos positivos opostos que
podem intensificar nossa recuperação. De um lado estão
as atitudes negativas que conduzem à recaída, do outro
lado vemos os opostos positivos, os traços de
personalidade que assinalam uma atitude vencedora e
uma recuperação saudável.

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SINTOMAS DE RECAIDA SINAIS DE RECUPERAÇÃO
MANIPULAÇÃO COMPROMISSO
Chave: Falsidade Chave: Sinceridade
Falso Genuíno
Enganador Honesto
Crítico Tolerante
Fingido Sério
Exagerado Ponderado
Mentiroso Sincero
Falador Ativo
Inconstante Dedicado

SINTOMAS DE RECAIDA SINAIS DE RECUPERAÇÃO


GRANDIOSIDADE AUTOCONFIANÇA
Chave: Desprezo Chave: Respeito
Perturbador Prudente
Esbanjador Humilde
Acusador Compreensivo
Egoísta Caridoso
Ignorante Sábio
Autocrítico Amor próprio
Arrogante Compreensivo
Fantasioso Realista

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SINTOMAS DE RECAIDA SINAIS DE RECUPERAÇÃO
FACILITAÇÃO VIGILANCIA
Chave: Manipulador Chave: Confiável
Irresponsável Responsável
Preguiçoso Enérgico
Suspeito Verdadeiro
Complacente Escrupuloso
Impulsivo Controlado
Descompromissado Pontual
Tortuoso Coerente
Passivo Ativo

SINTOMAS DE RECAIDA SINAIS DE RECUPERAÇÃO


REBELDIA ACEITAÇÃO
Chave: Imaturidade Chave: Maturidade
Exigente Generoso
Antissocial Receptivo
Egocêntrico Preocupado
Zangado Calmo
Amedrontado Confiante
Argumentativo Esclarecedor
Blindado Aberto
Invulnerável Flexível

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Agora, olhemos para nós mesmos, o mais honesto
possível para nossos mais íntimos pensamentos e
sentimentos. Qual a lista de característica de
personalidade que melhor descreve o que gostaríamos
de ser? Qual a lista que melhor descreve como fomos e
como somos agora? Somos falsos, egoístas, suspeitos e
exigentes? Somos enganadores, arrogantes,
irresponsáveis, argumentativos e egocêntricos? Será que
o nosso pensamento é claro e racional ou estamos
afundados no pântano do pensamento destrutivo?

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MUDANDO OS PENSAMENTOS DESTRUTIVOS

Um pensamento claro é um sinal de recuperação. O


pensamento destrutivo assinala a recaída.
As pessoas que tem o pensamento claro estão
sempre alerta. Admitem prontamente que suas
percepções e comportamentos estão corrompidos pela
sua doença adictiva. Não tem medo ou vergonha em
admitir suas falhas e fraquezas, porque sabem que
possuem o potencial de transformar estas falhas em
padrões positivos de comportamento que podem
potencializar sua recuperação.
Mantendo o pensamento claro, são honestos, e não,
apenas com os outros, mas consigo mesmos. Sendo
honestos quanto a sua doença e quanto ao tempo de
esforço que a recuperação positiva requer, fazem o
máximo esforço para se manterem assim. Sabem que
não têm todas as respostas e aceitam que não podem
estar sempre certos. Tendo o pensamento claro estão
ansiosos por aprender, especialmente sobre a
capacidade de seu potencial para recuperação e poder
levar uma vida saudável e feliz.
As pessoas que têm o pensamento destrutivo não
estão alerta. Sentem-se como vítimas, negando o papel
que o seu comportamento tem em seus problemas.
Estão, cheios de egoísmo, com as costas voltadas para as

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necessidades dos outros e sem se darem conta do
impacto de seu comportamento naqueles de quem mais
gostam. Buscando um pensamento claro aceitam a
responsabilidade pela sua recuperação. E se persistirem
com um pensamento destrutivo, culpam os outros pelos
seus problemas. O pensamento claro mantem a mente
aberta. Pensamentos destrutivos blindam a mente,
mantendo a pessoa assustada e na defensiva.
Qual o nosso pensamento?
Temos um pensamento claro ou um pensamento
destrutivo?
Sou arrogante na em falar sobre assuntos delicados e
difíceis?
A terapia para mim falhou porque descobri que era
mais esperto que o meu terapeuta?
Não preciso de um grupo de apoio para permanecer
limpo, porque aprendi tudo o que precisava e assim
posso detectar qualquer sinal de problema que
apareça.
Metade dos meus problemas se resolveria se me
deixassem em paz e me tratassem melhor.
Poderíamos concordar com apenas uma destas
afirmações? Poderíamos reconhecer os sintomas de
falsidade, arrogância, racionalização e egocentrismo
implícito nestas afirmações?

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CONCLUSÃO

O primeiro e mais importante passo para um


pensamento claro é estar consciente. Em recuperação,
procuramos e andamos sempre alerta, buscando novas
experiências práticas saudáveis de como lidar com os
problemas da vida. Não corremos nem nos escondemos,
não mentimos, nem esbanjamos.
Humildemente aceitamos a responsabilidade pelo
nosso próprio bem estar, vigilantemente examinando o
nosso comportamento diário à procura de sinais de
desvios no comportamento, pensamentos destrutivos e
propensão à recaída.
Tudo que realmente precisamos fazer para ter um
pensamento claro é aprender a colocar questões para
nós mesmos:
Estou sendo honesto?
Estou sendo realista?
Estou sendo responsável pelas minhas ações, ou estou
transferindo esta responsabilidade para os outros?
Minha mente está blindada ou aberta a censuras e
conselhos?
Estas questões desafiam o pensamento destrutivo. Se
puder responder assertivamente, teremos o caminho
sólido de que precisamos para a recuperação. Podemos
nos transformar a cada dia.

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PARA

PROBLEMAS COM BEBIDA


Em Center City, Minnesota

“Hazelden” conta com seis anos de experiência em recuperação


de homens com problemas com bebida. Seus diretores foram "ao olho
do furacão" de si mesmos e desenvolveram um programa baseado em
leitura, meditação, educação audiovisual, consultas e discussões, que
possibilitam aos hóspedes residentes entenderem os “porquês” deste
problema, e como paralisar esta doença.
Uma atenção especial é dada, servindo refeições apetitosas,
visando o bem-estar físico, que é reconhecido como um dos mais
importantes passos ao longo da caminhada para a recuperação.
Descanso e meditação também são importantes, e os visitantes
estarão autorizados apenas a pedido do hóspede residente.
Pesca, canoagem, piscina são algumas das possíveis diversões.
Médicos e enfermeiros disponíveis 24 horas por dia, e consultas
psiquiátricas serão agendadas mediante solicitação.

Preços razoáveis... para mais informações escreva para

341 North Dale Street Saint Paul 3, Minn.


(or) Center City, Minnesota
Uma organização sem fins lucrativos
GRANDIOSIDADE

Cecil C.

Hazelden Foundation
Editora JCB Publicações Ltda
Copyright © 2014, Cecil C.

Grandiosidade

Título em Inglês: GRANDIOSITY


Publicado originalmente por: Hazelden
Foundation
Todos os direitos de tradução e
publicação para o território brasileiro
reservados por Editora JCB Publicações
Ltda
PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU
PARCIAL POR QUAISQUER MEIOS, SEM
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA EDITORA
IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil
1ª Edição Brasileira
Maio de 2014
Coordenação Editorial: AMMB Syncro
Infinite Loop Avenue,#304 Projeto Gráfico: MFMB Ilustra
California Place Edição de texto: AMMB Syncro
Patos de Minas, MG CEP 38700-000 Diagramação: JCB Desing
Telefax: (34) 6963-4958 Revisão: JCB Desing
URL: www.jcbpublicacoes.com.br Adaptação da Capa: JCB Desing
E-mail: editora@jcbpublicacoes.com Ilustração: MFMB Ilustra

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
C., Cecil
Grandiosidade/Cecil C. / Tradução AMMB Syncro/. – 1ª. Ed.
– Minas Gerais: Editora JCB Publicações Ltda., 2014.
– (Dependência química)

Título original: Grandiosity.


Bibliografia.
ISBN 972-8272-18-9
1. Dependência Química. 2. Compulsão. 3. Tratamento
I. Título II. Série

CDD-717.2 07-7210
ii
Nota dos Editores à Tradução Brasileira:
Uma adicção consiste no uso habitual de substâncias alteradoras
do humor (medicamentos, álcool, drogas) ou de comportamentos
(excesso de trabalho, jogos, abuso de comida, internet, falar
demais, sexo, mania de limpeza, consumismo) que é caracterizado
pela tolerância à substância ou comportamento (sendo que um
crescente e contínuo uso à substância ou comportamento se
tornam necessários para obter o mesmo efeito) e pela perda de
controle (o uso continuado apesar de suas consequências
negativas).
A dependência química consiste na adicção ao álcool e/ou
outras drogas. É uma doença progressiva e, se não for tratada,
mortal.

Sobre a Fundação Hazelden:


Os “Materiais Educacionais da Hazelden”, editados no
Brasil pela Editora JCB Publicações Ltda., oferecem uma grande
variedade de informação sobre a dependência química e as áreas
com ela relacionadas. As nossas publicações não representam
necessariamente os programas da Fundação Hazelden, nem se
pronunciam oficialmente por nenhuma organização dos Doze
Passos.

Sobre este livro:


A grandiosidade é uma característica presente na maioria das
pessoas com problemas de dependência química. Este livro debate
a natureza da grandiosidade, as suas causas, outros efeitos no
caráter e sentimentos negativos associados a ela, assim como
maneiras de ajudar a pessoa grandiosa a obter uma personalidade
equilibrada.

iii
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 7
CARACTERÍSTICAS DA GRANDIOSIDADE ........................................ 9
DEFEITOS DE CARÁTER E SENTIMENTOS NEGATIVOS .................. 12
SUBMISSÃO COMPARADA À RENDIÇÃO ........................................ 16
CONHECENDO A SI MESMO ............................................................... 19

v
INTRODUÇÃO

A grandiosidade é um estado de espírito exaltado


comum ao homem ou mulher compulsivos. Este estado
tem de ser inibido antes de se render à realidade que é
necessária para a sobriedade. Este grande ego pode ficar
submerso, mas nunca será completamente destruído.
Por baixo da mente consciente de cada pessoa
dependente química, durante a sobriedade, assim como
em períodos de intoxicação, a grandiosidade espera
pacientemente o momento de descuido ou de
complacência que motive o retorno àquele primeiro
gole ou dose de outra droga que leva a cada recaída.
A grandiosidade é mais do que uma palavra grande e
bonita sobre emoções puras e simples que são
aumentadas para proporções gigantes. Como uma
palavra que serve para descrever um ego arrogante e
voltado para si mesmo. Grandiosidade pertence a uma
lista extensa que inclui autoridade, supremacia,
excelência, grandeza, magnificência, ou qualquer outra
que combinação que implique superioridade. A sua
presença é óbvia para os outros. Os seus efeitos são
descritos como orgulho, impaciência, determinação,
dominação, teimosia, egoísmo, agressividade e
desconsideração.
Todas estas palavras descrevem a aparência exterior
causada pelo sentimento de onipotência criado dentro
da pessoa grandiosa. Mais importante é o brilho interior
que toma conta dos homens e mulheres compulsivos e
Página | 7
perverte seus pensamentos. As pessoas grandiosas não
percebem que estão tentando fazer o impossível – se
passar por Deus.
Alguns dependentes químicos em recuperação
acreditam que a grandiosidade é um assunto
demasiadamente intelectual para ser discutido. Eles
preferem trocar ideias sobre assuntos simples como:
“Um dia de cada vez”, e outras frases vitais para a
sobriedade. No entanto um sentimento de onipotência
não se mostra mais evidente do que temas como
gratidão e humildade. Pode se pensar que se a
grandiosidade for chamada de chatice, complexo de
mandão, teimoso como uma mula, se obteria maior
atenção. A grandiosidade pode ser uma grande ameaça
à recuperação do que a raiva ou o ressentimento.
As ideias grandiosas são muito fáceis de adquirir. Os
homens e mulheres dependentes químicos vivem num
mundo onde se dão prêmios para as pessoas espertas.
As revistas, jornais e ilusões dão muito tempo e espaço à
teoria de que as pessoas espertas merecem o melhor da
vida. Boas roupas, viagens exóticas, carros esportivos,
joias com brilhantes e jantares luxuosos ficam assim tão
facilmente acessíveis como bebidas alcoólicas ou outras
drogas. Para o grandioso, tudo isto fica ao alcance da
mão, através das fantasias oferecidas pela ingestão de
drogas ou comportamentos compulsivos como excesso
de trabalho, jogos, abuso de comida, internet, falar
demais, sexo, mania de limpeza, consumismo.

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CARACTERÍSTICAS DA GRANDIOSIDADE

A principal origem da grandiosidade é a imaturidade:


a incapacidade de crescer, e a recusa de se esquecer das
alegrias da infância. Uma das expressões favoritas dos
alcoolistas em recuperação é: “os primeiros 35 anos da
minha infância quase me mataram”. O termo “Sua
Majestade, o Bebê”, foi introduzida pela primeira vez
por Sigmund Freud. Ele descreveu a criança como um
monarca em três áreas:
1. Ele sabe que pode adquirir o que quer através de
ser barulhento.
2. Tem baixa resistência à frustração e portanto se
recusa a submeter-se a ordens.
3. Faz a ajuda correr.
Estes traços conduzem naturalmente a
comportamentos compulsivos e excessivos pela vida
afora. Sentimentos grandiosos não deixam o bebê
esquecer-se dos tempos tirânicos da infância, mas
exigem uma recusa teimosa e arrogante à admissão de
infantilidade.
A grandiosidade é baseada muito no egocentrismo.
Os seus desejos e prazeres vem primeiro para o
compulsivo grandioso e tendo sucesso, aumenta este
egoísmo.
Pode alguma coisa fazer aumentar mais o egoísmo e
a autossuficiência na pessoa adicta do que descobrir
maneiras engenhosas para impedir que os outros
descubram garrafas escondidas e os truques para
impedir que eles descubram as quantidades de álcool
Página | 9
que se vai beber? Cada alcoolista arrogante sabe o
quanto esperto ele é e se gaba desse conhecimento.
Mesmo o sentimento de estar sendo observado serve
para aumentar o ego; é a prova para os adictos da sua
importância para os outros. Quando os outros começam
a “estimular” ou a serem “abusivos” em relação ao
consumismo, a grandiosidade diz ao adicto que eles são
“falsos amigos” com cuja falta de carinho eles podem
viver sem. “Quem precisa do afeto deles? Não preciso de
mais ninguém e estou bem assim”. Quando a família e os
amigos, até médicos e terapeutas, desistem com
desgosto e consideram a pessoa dependente uma causa
perdida, o compulsivo grandioso sabe que a sua
superioridade foi aprovada.
É óbvio que a grandiosidade vai dar uma ênfase ao
sentimento de ser a única coisa que consome os
compulsivos. Uma compulsão em conjunto com uma
obsessão compele os que bebem a se considerarem
diferentes. Eles muitas vezes sentem pena de todos os
outros que levam vidas chatas e sem graça por não
beberem ou se drogarem. “Eu, ficar sóbrio e ser uma
cópia de todos essas pessoas tristes”?
A grandiosidade é a principal causa da racionalização.
Ela impõem respostas a cada pedido para deixar de usar
drogas. O pensamento grandioso tem desculpas já feitas,
álibis, explicações, buracos e negações como resposta.
Este modo de pensar limitado é a marca da
grandiosidade. O compulsivo grandioso recusa-se a
aceitar a ideia de que não consegue controlar o seu uso
de drogas.
Página | 10
As resposta deste pensador onipotente aos doze
passos é típica. Eles não aceitam a ideia de serem
impotentes sobre sua adicção e de terem a sua vida
descontrolada. Como eles podem acreditar na ideia
estar com pensamentos insanos, ou que sua vida devia
ser entregue aos cuidados de um Deus amoroso?
A grandiosidade não promove normalmente uma
reação violenta e de raiva em rebeldia a sugestões de
que o adicto deva desistir de se drogar. Bater com os
punhos na mesa e exclamações profanas normalmente
dão lugar a uma calma, mas firme rebeldia a ouvir
conselhos. Para alcoolista na ativa que se considera
superior aos que o querem ajudar, a grandiosidade os
influencia a pensar que são meros ignorantes bem
intencionados, inexperientes e mal encaminhados. A
música “My Way” poderia ter sido escrita para
alcoolistas grandiosos.
A atitude superior do adicto o faz dizer: “Estou bem,
tem outros muito pior do que eu. Se eu algum dia
começar a beber como eles...”. A grandiosidade é
enganosa, habilidosa, poderosa e, mais ainda, é
ciumenta e paciente. A grandiosidade também auxilia
outros desvios de comportamentos, atitudes negativas e
emoções destrutivas a aparecerem.

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DEFEITOS DE CARÁTER E SENTIMENTOS NEGATIVOS

Um ego muito grande sempre relembra a pessoa


compulsiva o preconceito que a sociedade impõe sobre
adictos confessos. Uma grande parte da sociedade,
ainda ignorante dos fatos verdadeiros sobre esta
doença, é culpada por marcar o adicto como escória. A
grandiosidade não só promove a negação como a arma
principal do adicto contra qualquer hipótese de se
render, sendo chamada o sintoma número um da
adicção.
O adicto grandioso acredita em todas estas negações
de forma que ele confronta os sinais dos outros para
parar de beber ou se drogar perguntando: “Porque eles
estão mentindo sobre mim? Quem lhes está dando esta
falsa informação”?
A sutileza da grandiosidade é habilidosamente
descrita pela citação: “A adicção é a única doença que
diz às suas vítimas que eles não a tem”.
O adiamento ao tratamento é uma arma poderosa
deste grande ego.
A grandiosidade facilmente consegue um adiamento
que lhe evite render-se, murmurando: “Não tenha
pressa”. Os adictos lembram frases dos tempos da
escola: “Devagar se vai longe”. “Não tire conclusões
precipitadas”.
A desconfiança é uma espada afiada plantada na
cabeça do compulsivo grandioso. Ela ajuda ao adicto a
concluir que aqueles que insistem na sobriedade “estão
tentando me enganar; sou muito esperto para cair na
Página | 12
conversa deles”. Ele reage a uma advertência interior
para ser humilde com “essa conversa mole”!
Em relação à gratidão, a resposta surge é: “Grato
pelo que tenho? A verdade é que mereço muito mais do
que me foi dado”.
A inveja é facilmente promovida pela grandiosidade
porque a pessoa com problemas de adicção é sempre
excessiva em tudo aquilo que ele acredita ser necessário
para ele viver. O adicto grandioso sempre cobiça tudo
dos outros e se acha melhor em tudo.
São pessoas extremistas e é natural que os seus
sentimentos de onipotência não tenham problemas em
produzir sentimento de ganância. Se ao Grande Ego do
adicto são negadas as melhores coisas da vida, ele não
vai aceitar as segundas melhores, mas vai dizer: “Sou um
líder natural, e não um membro do bando. Ou tenho isto
à minha maneira ou não vou jogar este jogo de sucesso
idiota”.
A raiva surge da inveja e da ganância do adicto
grandioso que viu os outros terem aquilo que tanto
queria. Os adictos arrogantes raramente “soltam vapor”,
mas levam as rejeições muito a sério. A resposta é a de
beber ou se drogar por tudo e por todos. A raiva do
adicto grandioso é um luxo. É uma raiva que fecha o
assunto e deixa o adicto afastar-se de todas as
controvérsias.
Os adictos temem não ter a quantidade de drogas ou
álcool necessário disponível em todas as horas, mas não
temem as drogas e a bebida em si mesma, porque esta
provou ser um servo fiel.
Página | 13
Eles, também, temem as pessoas bem intencionadas
porque elas podem cortar o seu suprimento através de
algum truque.
A solidão e a depressão são mantidas pela
grandiosidade como exemplos de coisas horríveis que
pode acontecer a quem tenta parar de beber ou se
drogar. Tais sentimentos são vistos como os falsos
presentes que os “intrometidos” bem intencionados
podem prometer se ele deixar a adicção.
A grandiosidade prega que tudo aquilo que merece
ser feito deve ser feito em excesso. O excesso leva o
adicto grandioso a ir até o fim das suas compulsões,
obsessões, impaciência, ciúme, impulsividade, pressão,
stress, quebra de regras e a emoções como ódio,
ressentimento e medo.
O orgulho do compulsivo onipotente é todo voltado
para si mesmo. Ele entra em parafuso com atitudes e
pontos de vista. O adicto super orgulhoso não se
preocupa ou partilha com os outros. Seu orgulho
doentio o deixa intolerante, incapaz de ouvir críticas e
conselhos, não concordando com eles e os achando
desagradáveis.
Os compulsivos grandiosos não lidam bem com o
ressentimento. Eles estão numa bolha onde a ajuda
nunca pode chegar, preocupados com os constantes
ensaios das artimanhas que estão planejando. Eles
culpam qualquer dor resultante de seus ressentimentos
pelos outros. A sua determinação em se vingar de todos
os condiciona a beber ou se drogar cada vez mais.

Página | 14
A maioria destas emoções destrutivas leva ao
pensamento negativo. Para o compulsivo arrogante,
todas as pessoas estão erradas e não tem nunca o
direito de estarem certas. Um adicto como este sabe
que não há dois lados numa discussão com a esposa, o
patrão, o pastor, ou até com o policial e com o juiz.
Um fator dominante na personalidade grandiosa é a
teimosia. Em qualquer conflito, a maneira de ser do
adicto nunca é uma questão de opinião, mas sim um
fato e uma realidade. Apesar dos outros saberem que
ele muitas vezes está errado, o adicto nunca põe em
dúvida seu ponto de vista.

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SUBMISSÃO COMPARADA À RENDIÇÃO

Os compulsivos desafiadores tem toda confiança do


mundo no que diz respeito à sua capacidade de resistir a
todos os esforços que os queira forçar a para de beber
ou usar drogas. Em recuperação, muitos adictos se
referem a esta atitude como sendo uma “armadura”.
Esta os faz sentir-se invencíveis. Eles acreditam que,
enquanto recusarem a deixar de beber ou se drogar,
nada de importante pode ser retirado.
Independentemente desta atitude infantil verbalizada
pelos adictos grandiosos que lhes confirma a sua
onipotência, as suas mentes estão sempre tropeçando
num conflito entre o seu consciente e seu inconsciente.
O inconsciente é alimentador da grandiosidade. O
consciente – é o único refúgio para a realidade – pode
por muitas vezes admitir o horror das recaídas1. Não se
pode negar a dor sentida e as alucinações que causam
dúvidas sobre controlar a adicção.
Mas os períodos mais calmos que antecedem estas
recaídas (e nenhum adicto consegue estar bêbado ou
drogado o tempo todo), a grandiosidade do adicto toma
controle assegurando que a dor foi resultado de um
pequeno erro no modo como o adicto se embebedou ou
se drogou: “Um pouco de azar; um erro compreensível.
Da próxima vez vou ter um pouco mais de cuidado”.

1 – N.T. “Binge” no original corresponde a uma fase aguda de consumo.


Página | 16
A grandiosidade é aquela autoridade máxima, que
requer uma “segunda opinião” para todos os adictos na
ativa. Existe uma “inversão da decisão” para muitos
adictos que pedem ajuda no ápice de agonia e
desespero. Os amigos interpretam esta ação como
entrega, mas os adictos são famosos por terem plano B
e memória eufórica. A grandiosidade obscurece as
memórias da dor da recaída, libertando a “alegria” do
uso. O Grande Ego avisa contra ser “fraco de vontade” e
deixar que esses alarmistas possuam o adicto. “Esses
puritanos proibiram todos as diversões do mundo”, diz a
grandiosidade.
Uma rápida mudança de atitude é comum a todos
que estão em recuperação. Muitos dos alcoolistas a
caminho da sua primeira reunião de Alcoólicos
Anônimos, repentinamente alternaram entre: “Eu
preciso de ajuda” e “Tenho sinto muito, mas não vou
prosseguir com isso”.
A principal razão pela qual os adictos desistem
temporariamente da recuperação e podem se desiludir,
parecendo aparentemente entregues, é porque a
grandiosidade permite apenas um ato de submissão e
não de rendição.
Ao ser submisso, o adicto usa este disfarce como uma
mascara a aceitação. Não é sequer um sentimento de
resignação a um cruel destino. Toma lugar apenas na
superfície da consciência e não passa de uma forma
mais fácil e mais sutil. Está entre os atos descritos como
viver apenas à superfície da pele.

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Ao ser submisso, o adicto pode conscientemente
sentir a necessidade de ajuda, mas estas meias medidas,
normalmente levam o adicto à recaída e nunca mais o
deixam tentar a abstinência necessária para permanecer
em sobriedade. Este engano pode desencorajar amigos
cuidadosos e família, mas a grandiosidade leva o adicto
a pensar: “Boa jogada esta de tirar estes pesos das
costas”. O fato de haver um constante conflito na mente
do adicto entre o consciente e o inconsciente é o que
mantém a esperança de que a grandiosidade pode ser
eliminada com sucesso.
Visto que a grandiosidade blinda a mente e inflama a
intolerância que tem das outras pessoas, assim como de
suas ideias e opiniões, qualquer indecisão da parte do
adicto arrogante é um progresso. É um passo na direção
da realidade se o adicto grandioso começar a dar como
resposta, “Eu não sei”, “Eu não percebo”, ou “Estou
mudando minha maneira de pensar”.
Um sinal de crescimento em termos de tolerância
mostra-se muitas vezes em expressões de culpa por
comportamento compulsivo. Se tal culpa pode ser
sentida, a consciência de responsabilidades pode
começar a agir. Este avanço pode levar aqueles que tem
egos doentios a pensar que cometer erros não é
catastrófico, desde que ele admita a responsabilidade
pelo ato e esteja disposto a fazer reparações, assim
como eliminar esses padrões de comportamento que
podem resultar numa repetição dos mesmos erros.

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CONHECENDO A SI MESMO

Diminuir o sentimento de que o adicto é diferente


pode ajudar que ele se identifique com outros adictos
em recuperação. Uma palavra deve ser enfatizada
constantemente como resposta aos comentários de “Eu
nunca fiz isso”. Essa palavra é ainda. “Ainda não fez, mas
se continuar a beber ou se drogar, vai”, essa palavra
ajuda a eliminar a grandiosidade.
Qualquer passo que aumente o desejo e a capacidade
de “ouvir o que é necessário ouvir quando é falado”
pode fazer com que o adicto onipotente conheça a si
mesmo. O progresso em ouvir e em identificar os
sentimentos envolvidos, leva a um conhecimento que o
adicto voltado para si mesmo não tinha há anos –
vontade de partilhar. Isto faz com que a alegria de sentir
carinho, de se dar o presente que é exercitar boas
emoções.
Aqueles que convivem com um adicto onipotente
podem se sentir impacientes com o tempo que este leva
para ter um desejo de entrega. Temos que lembrar que
a diminuição da grandiosidade só funciona quando
chegamos à base da onipotência – o inconsciente. A
rendição – dizem a maioria dos terapeutas – não pode
ser recomendada de uma vez.
É necessário uma conversão verdadeira, que está
além da convicção. Sem conversão não há recuperação.
Deve ser um ato de conversão espontânea. A verdadeira
entrega é a aceitação positiva e ativa da realidade, algo
que a grandiosidade não permitiu que a mente do adicto
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acreditasse que poderia ajudar. A entrega é para se ter
uma vida de amor, gratidão, serenidade e humildade em
abundância.
O adicto decide mudar, e começa a viver uma jornada
espiritual que não tem fim.
A grandiosidade sofre uma quebra quando o adicto
para de tentar resolver seus problemas sozinho e
alegremente aceita ajuda de outros para fazer sua
recuperação funcionar. Em vez de lutar para escapar da
adicção, ele busca forças em Deus para formar uma
nova vida. Volta à autoconfiança. Mas não é segredo
que a entrega não dura para sempre em adictos em
recuperação. Rapidamente, o adicto que está tentando
se manter em sobriedade pode voltar para os velhos
padrões de comportamentos destrutivos que existiam
antes da rendição. É aqui que ser guiado e estar vigilante
podem ser essenciais para prevenir uma recaída. A
grandiosidade nunca se deita e morre.
A natureza compulsiva e excessiva dos adictos em
recuperação os mantém tensos. Durante a sobriedade,
isto pode fazer com que um adicto se torne impaciente
por experimentar um teste que determine se ele perdeu
o controle sobre o álcool ou drogas. A grandiosidade,
viva e em boa forma, apesar de suprimida do estado
consciente, dispara a memória eufórica, que é tão
familiar aos membros de A.A./N.A. Os “recaídos” em
geral são facilmente identificáveis. Visto que ao se
submeterem a uma tentativa de abstinência, mais do
que se renderam a grandiosidade, eles favoreceram o
pensamento negativo, evitaram fazer seu inventário e
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reparações, não se esforçam em buscar um Poder
Superior, evitam orar, negligenciam o apadrinhamento,
sentem que leituras do Livro Azul1 em repetidas
reuniões são uma prática extenuante e se frustram na
maioria das reuniões.
Uma pessoa assim se tornou um adicto seco, não
uma pessoa sóbria. Outros membros, muitas vezes
notam a incapacidade destes novos membros de ouvir,
partilhar, ou de se envolver. Frequentemente, tentativas
de interferir para evitar uma recaída são ressentidas
pelo adicto grandioso que, enquanto sóbrio, ainda sente
que tem reservas.
Contudo, o que vimos é que a grandiosidade é um
ego inchado. Pode ser desinchado, mas facilmente,
voltar a se inflar.

1 – “Big Book” – Alcoólicos Anônimos.


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TERAPIA RACIONAL-EMOTIVO-COMPORTAMENTAL

Bernad Rangé

A terapia racional-emotivo-comportamental (TREC), fundada por


Albert Ellis em 1955, é ao mesmo tempo uma teoria da personalidade
e de um método de psicoterapia. Em sua forma mais geral, emprega,
por razões práticas e teóricas, uma grande variedade de métodos
cognitivos, afetivos e comportamentais de mudança da personalidade.
Assemelha-se, assim, com outras formas de intervenção, como a
terapia cognitiva de Beck (1979, 1985, 1990; Freeman et al., 1990;
Rangé, 1992), a terapia multimodal de Lazarus (1971, 1979, 1980) ou
a terapia de modificação cognitiva de Meichenbaum (1977). Em sua
forma mais específica, enfatiza a reestruturação cognitiva ou o
combate filosófico, de acordo com o modelo AB-C da perturbação
emocional.
O “A-B-C”, na terapia racional-emotiva, envolve uma compreensão
sobre a base do funcionamento cognitivo do ser humano, em que “A”
seria o acontecimento ativador, “B” (do termo inglês belief) seria a
crença pessoal sobre o acontecimento ativador (sua interpretação ou
avaliação) e “C” as conseqüências demonstradas pelos sentimentos
pessoais e os comportamentos (Ellis, 1962). Também sustenta que
essas crenças irracionais podem ser muito efetivamente combatidas
(D, de dispute) pelo uso dos métodos lógico-empíricos da ciência.

Após um período em que fez tratamentos durante muitos anos como


psicanalista, sob a influência de Karen Horney (de quem tirou a idéia
de “tirania dos “deveria” ou shoulds) , Ellis sentiu-se descontente com
os resultados que encontrava, pois considerava a psicanálise
ineficiente por negligenciar as fontes filosóficas das perturbações
emocionais, por apresentar uma obsessão exagerada por assuntos
historicamente irrelevantes e por desvalorizar o uso de métodos
comportamentais de mudança. Voltou-se, então, para a filosofia e a
ciência, tendo sofrido influências de filósofos como Epicteto, do qual
retirou o seguinte pensamento: “Perturbam aos homens não as
coisas, senão a opinião que delas têm”.
A TREC também é proximamente identificada com as bases de um
humanismo ético, como o de Bertrand Russel (1930), especialmente
em

34

relação à idéia de que os humanos deveriam aceitar-se como tais e


livrar-se de idéias de serem super-homens ou sub-homens. Além
disso, a TREC tem raízes distintamente existenciais. Nessa área, foi
influenciado pelas idéias de Paul Tillich (1953) e de Martin Heidegger
(1949). Como este, os teóricos da TREC concordam que os humanos
estão “no centro do seu universo (mas não do universo) e têm o poder
de escolha (mas não de escolhas ilimitadas) com relação a seu
domínio emocional” (Dryden e Ellis, 1986).
Além de reconhecer a influência dos escritos de Karen Horney, Ellis
(1973) declarou que a TREC também foi influenciada por
psicoterapeutas como Alfred Adier. Tal como Ellis, Adier (1927)
defendia que o comportamento das pessoas floresce de suas idéias.
Além disso, o papel importante dos sentimentos de inferioridade na
perturbação emocional, o interesse social na determinação da saúde
psicológica, a importância dada a metas, propósitos e significados, a
ênfase de um ensino ativo-diretivo, o uso de uma forma cognitivo-
persuasiva de terapia e o uso de demonstrações ao vivo de sessões
de terapia também foram outras influências da psicologia adieriana. A
TREC ainda sofreu influências dos pioneiros da terapia
comportamental (Jones, 1924; Watson e Rayner, 1920) demonstrada
em sua defesa do uso dos métodos comportamentais ativos de mudança
de comportamentos e do uso de deveres de casa.

TEORIA BÁSICA

A TREC é, em grande parte, um modelo filosófico e, como tal, envolve


uma epistemologia, uma dialética, um sistema de valores e princípios
éticos. Veremos cada um destes:
Epistemologia

Cada um de nós opera sob pelo menos uma epistemologia implícita.


Um exemplo disso é uma epistemologia autoritária, ou seja, algo é
verdadeiro porque alguma autoridade o afirma. Observa-se isso nas
religiões, que se apóiam na revelação como uma fonte válida de
conhecimento. Outro exemplo é a epistemologia narcisista, a qual
afirma que algo é verdadeiro porque “parece certo para mim”. A
TREC, por sua vez, apóia-se no método científico e na observação
empírica. Na prática da TREC, para cada crença expressa por uma
pessoa uma pergunta adequada seria “Quais são as evidências de
que esta crença é verdadeira?”.Tenta-se fazer dos clientes melhores
cientistas de modo que eles possam adquirir informações corretas,
usar as evidências logicamente e construir crenças solidamente
embasadas.

Dialética

A arte do pensamento lógico não é facilmente adquirida: ao contrário,


muitas pessoas parecem ser peritas em não ser lógicas. Vejamos um
exemplo:

Devo ser perfeito.


Acabei de cometer um erro. Isso é terrível!
Isso prova que sou imperfeito e, portanto, não tenho valor.

Onde está a evidência que apóia a afirmação “Devo ser perfeito”? Não
há. E sobre “Acabei de cometer um erro”? Talvez isso possa ser
demonstrado. Mas e sobre isso ser “terrível”? Pode seguir-se daí que
“não tenho valor”? Obviamente não, embora pessoas que pensam
dicotomicamente puderem dizer que sim.
Os clientes raramente estão conscientes das premissas de seus
pensamentos. Mais freqüentemente, focalizam apenas as conclusões
que, se distorcidas, tendem a gerar problemas emocionais. O
pensamento racional envolve raciocínio lógico baseado em afirmações
empiricamente verificáveis. Se pensamos racionalmente, é improvável
chegarmos a conclusões que levem a sentimentos extremamente
perturbadores.

Valores

Dois valores são explicitamente defendidos na TREC: o da


sobrevivência e o da felicidade. O sistema de psicoterapia derivado
desses valores está concebido para ajudar as pessoas a viverem mais
longamente, a minimizarem o desconforto emocional e os
comportamentos autoderrotistas e a se atualizarem constantemente
de modo a viver uma vida mais plena e feliz. O conceito subjacente é
que, se as pessoas são preparadas para pensar mais racionalmente,
com mais flexibilidade

35

e mais cientificamente, elas estarão capacitadas para viver mais


longamente e mais felizes. Ellis e Bernard (1986, p. 34) esboçaram
algumas metas importantes que são consonantes com os valores da
TREC:

• Auto-interesse. Pessoas emocionalmente responsáveis tendem a


colocar seus interesses ao menos um pouco acima dos interesses dos
outros. Sacrificam-se em um certo grau por aqueles que amam, mas
não cm demasia ou completamente.

• Interesse social. A maioria das pessoas escolhe viver em grupos


sociais e, para fazer isso de modo mais confortável e feliz, gostariam
de agir mais moralmente, de proteger mais o direito dos outros e de
ajudar na sobrevivência da sociedade na qual vivem.
• Autodireção. Seria bom cooperar com os outros, mas é melhor para
nós assumirmos a responsabilidade primária das nossas próprias
vidas mais do que exigir ou necessitar de apoio excessivo dos outros.
• Tolerância. Ajuda a permitir que as pessoas têm direito de estar
erradas. Não é apropriado apreciar comportamentos abjetos, mas
também não é necessário maldizer a pessoa que os apresentou.
• Flexibilidade. Pessoas saudáveis tendem a ser pensadores flexíveis.
Regras rígidas, tendenciosas e invariantes tendem a minimizar a
felicidade.

• Aceitação da incerteza. Pessoas emocionalmente maduras


reconhecem e aceitam o fato de que vivemos em um mundo de
probabilidades e de acaso, no qual não existem certezas absolutas,
nem provavelmente existirão. Dão-se conta de que não é terrível — na
verdade, é fascinante e excitante — viver nesse tipo de mundo
probabilístico e incerto. Apreciam um bom grau de ordem, mas não a
exigem ou a impõem.
• Comprometimento. A maior parte das pessoas sente-se mais
saudável e feliz quando está absorvida com algo seu, podendo ser
pessoas, coisas ou idéias. Elas têm preferivelmente pelo menos um
grande interesse criativo tanto quanto algum envolvimento humano
principal que consideram tão importante que estruturam uma boa
parte da sua existência diária nisso.

• Pensamento científico. Pessoas não-perturbadas tendem a ser mais


objetivas, racionais e científicas do que as perturbadas. Sentem
profundamente e agem de acordo com esse sentimento, mas também
regulam suas emoções e ações por reflexões sobre elas e suas
conseqüências e por aplicação das regras da lógica e do método
científico para avaliar e determinar essas conseqüências.

• Auto-aceitação. Pessoas saudáveis estão normalmente contentes de


estarem vivas. Aceitam-se apenas porque estão vivas e, como
criaturas vivas, têm alguma capacidade de se alegrar e de se afastar
da dor e do sofrimento. Não medem seu valor intrínseco por suas
realizações extrínsecas ou pelo que os outros pensam delas. Se são
verdadeiramente sábias, tentarão evitar avaliar-se na sua totalidade e
no seu ser. De fato, tentarão mais apreciar do que se provar.
• Aceitação de correr riscos. Pessoas emocionalmente não-
perturbadas percebem que a vida envolve um certo grau de riscos.
Perguntam-se o que realmente gostariam de fazer e então tentam
fazê-lo, mesmo que haja uma boa probabilidade de falharem. Tendem
a ser aventureiras, sem serem bobas ou ingênuas, e a querer
experimentar qualquer coisa pelo menos uma vez, para verem se
gostam ou não. Com freqüência, buscam uma quebra em sua rotina
diária.
• Expectativas realistas. Pessoas não-perturbadas aceitam o fato de
que utopias são impossíveis de alcançar e que nunca terão tudo o que
querem nem conseguirão evitar tudo o que não querem. Não se
dirigem irrealisticamente a uma satisfação ou felicidade totais nem a
uma falta total de ansiedade, depressão, autopiedade ou hostilidade.

HEDONISMO RESPONSÁVEL

Todos os humanos são basicamente hedonistas. já que têm uma forte


tendência biológica a ficarem vivos e a alcançarem um grau razoável
de felicidade, incluindo aí alguma liberação relativa de dor. O
hedonismo é uma escolha mais do que uma necessidade absoluta e,
assim, parece provável que seja a nossa predisposição inata como
humanos de fazer essa escolha fundamental. No entanto, uma pessoa
pode escolher entre

36

satisfações imediatas e de longo prazo. Se ela escolher


conscientemente ter satisfações imediatas e aceitar as implicações
dessa decisão, esta é uma prerrogativa sua e isso não é
necessariamente irracional. Entretanto, se uma pessoa escolher ter
gratificações imediatas, em vez de satisfações futuras, mas depois
exige tê-las também no futuro e rebela-se quando isso não acontece,
este não é um comportamento racional. Da mesma forma, se ela
escolhe ter satisfações futuras, mas não consegue impor-se a
disciplina necessária para tanto, isso também não é racional.

Teoria básica: a imagem da pessoa

A teoria racional-emotiva concebe a pessoa como um organismo


biopsicossocial complexo com uma forte tendência a estabelecer e a
perseguir uma grande variedade de metas e propósitos. Apesar de as
pessoas diferirem no que pensam em que lhes possa trazer a
felicidade, elas constroem e perseguem metas valorizadas
pessoalmente, o que demonstra um esforço para dar sentido às suas
vidas. Portanto, os serem humanos são hedonistas no sentido de se
manterem vivos e de perseguirem a felicidade. Estão interessados em
satisfazer seus próprios interesses e os interesses sociais. O conceito
de racionalidade é central para a compreensão da visão racional-
emotiva da pessoa. Assim, apesar de se interessarem em satisfazer
seus desejos imediatos, é por essa adesão aos interesses sociais e a
objetivos de longo prazo que podem deixar de satisfazer os de curto
prazo. É isto que caracteriza o hedonismo responsável, típico da
TREC.
Ellis (1976, p. 20) enfatiza que os seres humanos têm duas principais
tendências biológicas. Em primeiro lugar, têm uma forte tendência
para pensar irracionalmente, transformando suas preferências em
exigências absolutistas. Embora reconhecendo a influência de fatores
sociais, ele destacou que:

mesmo se todos tivessem tido a educação mais racional, virtualmente


todos os seres humanos iriam freqüentemente migrar de modo
irracional das suas preferências individuais e sociais para exigências
absolutistas sobre (a) si mesmos. (b) sobre as outras pessoas e (c)
sobre o universo em torno de si.

Em uma combinação provavelmente não-consciente com o trabalho


de Paul McLean, Ellis (1976) apresenta alguns argumentos em favor
de sua hipótese de uma base biológica para a irracionalidade humana:

1. Todos os seres humanos, incluindo os mais brilhantes e


competentes, mostram evidências das principais irracionalidades
humanas.
2. Virtualmente, todas as irracionalidades que causam perturbações
(afirmações deveria e tenho que) e que são encontradas em nossa
sociedade também são encontradas em praticamente todos os grupos
sociais e culturais que já foram estudados histórica e
antropologicamente.
3. Muitos dos comportamentos irracionais nos quais nos engajamos,
tais como procrastinação e falta de disciplina, contrariam os
ensinamentos dos pais, dos pares e da mídia.
4. Os seres humanos, mesmo os brilhantes e competentes,
freqüentemente adotam outras irracionalidades depois de abrir mão
de algumas anteriores.
5. As pessoas que se opõem vigorosamente a vários tipos de
irracionalidades muitas vezes se tornam presas dessas mesmas
irracionalidades. Ateus e agnósticos demonstram filosofias
absolutistas e pessoas altamente religiosas agem de forma imoral.
6. O insight sobre pensamentos e comportamentos irracionais ajuda
apenas parcialmente a modificá-los. Por exemplo, as pessoas podem
reconhecer que beber álcool em grande quantidade pode ser
prejudicial, mas mesmo assim esse conhecimento não
necessariamente as ajuda a se abster de beber pesadamente.
7. Os seres humanos freqüentemente voltam a ter hábitos e padrões
de comportamento irracionais mesmo que tenham trabalhado duro
para superá-los.
8. As pessoas acham mais fácil aprender comportamentos
autoderrotistas do que comportamentos auto-engrandecedores.
Assim, com freqüência elas comem demais, mas têm um grande
trabalho para fazer uma dieta adequada.

9. Os psicoterapeutas que, presumivelmente, deveriam ser modelos


adequados de racionalidade, agem com freqüência de modo irracional
na vida pessoal e profissional.

37

10. As pessoas muitas vezes se enganam em acreditar que algumas


experiências más (p. ex., divórcio, estresse e outros infortúnios) não
acontecerão com elas.

A segunda tendência biológica descreve os seres humanos como


tendo tanto a capacidade para pensar sobre o seu próprio
pensamento quanto a capacidade de poder escolher trabalhar na
direção de mudar seu pensamento irracional. Assim, as pessoas não
são escravas, sem poder sobre suas tendências para pensar
irracionalmente; elas podem transcender (apesar de não
completamente) seus efeitos por decidir trabalhar ativa e
continuamente na direção de mudar seu pensamento pelo uso de
métodos cognitivos, emocionais e comportamentais de desafio ou de
combate.

A NATUREZA DA SAÚDE PSICOLÓGICA

A saúde psicológica é vista pela TREC como baseada em uma


filosofia relativista ou de “desejos”. Essa filosofia reconhece que os
seres humanos têm uma grande variedade de desejos, preferências.
vontades, etc.; porém, se se recusarem a transformar esses valores
não-absolutistas em exigências e dogmas grandiosos. não ficarão
psicologicamente perturbados. Experimentarão, é claro, emoções
negativas apropriadas (tristeza, desgosto, desapontamento, tédio)
quando seus desejos não forem satisfeitos, mas essas emoções são
consideradas como tendo propriedades motivacionais construtivas
porque podem ajudar a remover obstáculos para atingir metas e fazer
ajustes construtivos quando seus desejos não puderem ser
alcançados.
A TREC postula três derivativos dessa filosofia: (1) avaliar a ruindade
de uma situação; (2) avaliar a tolerância à frustração e (3) estabelecer
uma alternativa racional para a danação. A TREC também argumenta
que as pessoas podem ter crenças racionais e irracionais ao mesmo
tempo. Assim, uma pessoa pode acreditar racionalmente “Eu quero
que você me ame” e simultaneamente (irracionalmente) acreditar
“Como eu quero que você me ame, você tem que me amar”.
Se as perturbações do ego e do desconforto são as pedras de toque
da visão da TREC sobre os problemas psicológicos humanos, a auto-
aceitação e um nível mais alto de tolerância ao desconforto são as
pedras de toque da saúde psicológica e estão implícitas em uma
filosofia de desejos. Ellis (1979) delineou outros nove critérios de uma
saúde mental positiva: (1) auto-interesse iluminado; (2) interesse
social; (3) autodireção; (4) aceitação da ambigüidade e da incerteza;
(5) pensamento científico; (6) comprometimento e envolvimento em
projetos importantes; (7) flexibilidade; (8) correr riscos calculados e (9)
aceitação da realidade.

A NATUREZA DA PERTURBAÇÃO PSICOLÓGICA

A teoria racional-emotiva afirma que no âmago da perturbação


psicológica está a tendência dos seres humanos de fazerem
avaliações absolutistas dos acontecimentos percebidos em suas vidas
e que uma perturbação é grandemente, mas não completamente,
função das nossas percepções, das nossas avaliações e do nosso
sistema de valores. Tais avaliações, que apresentam a forma de
“tenho que”, “deveria”, “devo” e “tenho a obrigação de” dogmáticos.
são os aspectos centrais de uma filosofia de religiosidade dogmática
que Ellis afirma ser o aspecto central da perturbação emocional e
comportamental humanas. Há inclusive um termo, (intraduzível) que
aparece como central na sua proposta: musturbation. Essa mistura de
masturbação com “tenho que” gera um conjunto de conclusões
irracionais como as seguintes:

• Terrivelização (awfulizing): ocorre quando um acontecimento é


avaliado como mais do que 100% ruim.
• Não-agüentite (I-can‘t-stand-it-itis): significa uma pessoa acreditar
que não possa conseguir experimentar felicidade alguma se um
acontecimento que não devesse ocorrer ocorra de fato (ou quase
ocorra).
• Danação (damnation): representa a tendência dos seres humanos de
se avaliarem e aos outros como subumanos se uma pessoa faz
alguma coisa que “não deveria” fazer, ou deixa de fazer algo que
“devesse” fazer. O mesmo termo pode ser aplicado ao mundo das
condições de vida que podem ser avaliadas como “insuportáveis” por
não oferecerem à pessoa o que ela “deve” ter.

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Resumindo, é possível discernir duas categorias principais de
perturbação psicológica: perturbações do ego e perturbação do
desconforto. Nas perturbações do ego, a pessoa se dana como
resultado de fazer exigências “masturbatórias” sobre si. os outros e o
mundo. Na perturbação do desconforto, a pessoa também faz
exigências sobre si. os outros e o mundo, mas tais exigências refletem
a crença de que condições confortáveis de vida “devem” existir.
Albert Ellis concorda com os teóricos da terapia cognitiva (Beck et al.,
1998; Burns, 1980) quanto ao papel das distorções cognitivas nas
perturbações psicológicas. Contudo, defende que elas sempre
decorrem de “devos”. Eis alguns exemplos de distorções (Dobson,
1988):

1. Pensamento tudo ou nada: “Se eu falhar em qualquer tarefa


importante, como não devo, sou um fracasso total e totalmente não
merecedor de amor”.
2. Salto para conclusões: “Já que me viram falhando de modo terrível,
como eu não deveria, vou ser visto como um verme incompetente”.
3. Advinhação: “Como estão rindo de mim por eu ter falhado e sabem
que eu deveria ter tido sucesso, irão me desprezar para sempre”.
4. Focalização no negativo: “Como não agüento que as coisas dêem
errado, como elas não devem, não consigo ver nada de bom
acontecendo na minha vida”.
5. Desqualificação do positivo: “Quando me cumprimentam pelas
coisas boas que eu fiz, estão apenas sendo gentis comigo e
esquecendo as coisas estúpidas que eu não deveria ter feito”.
6. Sempredade e nuncadade: “Como as condições de vida tinham que
ser boas e na verdade são tão más e intoleráveis, elas vão ser assim
sempre e eu nunca vou conseguir ser feliz”.
7. Minimização: Minhas realizações são resultado de sorte e são
pouco importantes. No entanto, meus erros, os quais eu nunca
deveria ter cometido, são tão ruins que eu não deveria jamais ser
desculpado”.
8. Raciocínio emocional: “Como me desempenhei tão mal, como não
deveria ter feito, sinto-me totalmente incompetente e meu sentimento
prova que eu não sou nada bom”.

9. Rotulação e supergeneralização: “Como não devo falhar em


trabalhos importantes e eu falhei, sou um fracasso completo e um
perdedor”.
10. Personalização: “Já que estou agindo muito pior do que deveria e
eles estão rindo disso, tenho certeza de que estão rindo de mim, e
isso é terrível”.
11. Farisaísmo: “Quando não faço tão bem quanto eu deveria e eles
ainda me elogiam e aceitam, isso significa que sou um impostor ou
farsante; mais cedo ou mais tarde, ‘vou cair do cavalo’ e acabar
mostrando como sou desprezível”.
12. Perfeccionismo: “Mesmo me dando conta de que fiz bastante bem,
eu deveria ter feito perfeitamente bem uma tarefa assim, e isso
significa que sou realmente um incompetente”.

As onze crenças irracionais

A partir disso. Ellis (1962) listou 11 crenças irracionais que


representam o aspecto central de seu tratamento:

1. A idéia de que existe uma extrema necessidade para qualquer ser


humano adulto ser amado ou aprovado por qualquer outra pessoa
significativa em sua comunidade.
2. A idéia de que se deva ser inteiramente competente, adequado e
realizador em todos os aspectos possíveis para se considerar como
tendo valor.
3. A idéia de que é terrível e catastrófico quando as coisas não são do
jeito que gostaríamos muito que fossem.
4. A idéia de que certas pessoas são más, perversas e velhacas e de
que elas deveriam ser severamente responsáveis e punidas por sua
maldade.
5. A idéia de que a infelicidade humana é externamente causada e de
que as pessoas têm pouca ou nenhuma habilidade para controlar
seus infortúnios e distúrbios.
6. A idéia de que, se alguma coisa é ou pode ser perigosa ou
assustadora, deve-se ficar terrivelmente preocupado e ficar ruminando
sobre sua possível ocorrência.

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7. A idéia de que é mais fácil evitar do que enfrentar certas


dificuldades ou responsabilidades da vida.
8. A idéia de que se deva ser dependente dos outros e de que se
necessite de alguém mais forte em quem se apoiar.
9. A idéia de que a história passada de alguém é um determinante
definitivo do seu comportamento presente e, se algo afetou uma vez
fortemente a sua vida, isso continuará tendo indefinidamente um efeito
similar.
10. A idéia de que se deva ficar muito transtornado com os problemas
e as preocupações de outras pessoas.
11. A idéia de que há invariavelmente uma solução certa, precisa e
perfeita para os problemas humanos e de que é catastrófico se essa
solução perfeita não é encontrada.

Dessas crenças, três são consideradas as mais importantes e


comuns. Abaixo, elas são descritas, juntamente com os argumentos
que as criticam. (Ver Quadros 2.1, .2.2 e 2.3.)

A MUDANÇA TERAPÊUTICA

A TREC sustenta que a mudança mais elegante e duradoura envolve


a reestruturação filosófica das crenças irracionais. Essa mudança
pode ser específica ou geral. A específica significa que os indivíduos
mudam as suas exigências absolutistas irracionais (“devo”, “tenho-
que”, “deveria”) por preferências racionais. A geral implica que as
pessoas desenvolvam uma atitude não-absolutista quanto aos
acontecimentos

QUADRO 2.1 - Crença nº 1 — É absolutamente necessário ser amado


e aprovado pelas pessoas que são consideradas importantes
1. É possível que, mesmo que você consiga 100 vezes amor e
aprovação em 100 tentativas, na vez seguinte alguém lhe negue isso?
2. É possível que, mesmo que você tenha obtido amor e aprovação,
isso possa não ser suficiente, pois acabarão surgindo preocupações
sobre o quanto você foi aprovado(a) e amado(a), se ainda o consegue
e
até quando o conseguirá?
3. É possível que, pelos próprios preconceitos ou tendenciosidades do
outro, você possa receber somente indiferença ou reprovação, ao
invés daquilo que deseja?
4. É possível que o gasto de energia para tentar agradar todas as
pessoas faça com que reste muito pouca energia para seus outros
objetivos na vida?
5. É possível que sua busca compulsiva de amor e aprovação acabe
gerando um comportamento inseguro que conduza mais à perda de
aprovação e respeito do que a seu ganho?
6. É possível que amar alguém, algo prazeroso e absorvente, possa
ficar inibido e impedido de expandir-se pela busca incessante de ser
amado?

Não seria mais racional acreditar que:

• Você deseja amor, e não precisa dele.


• É muito mais prazeroso ser aprovado e amado pelas próprias
realizações, pois estas é que sustentam uma forte auto-estima: é por
nossas conquistas, principalmente as mais difíceis, que gostamos
cada vez mais de nós mesmos. A necessidade (infantil) de ser amado
incondicionalmente sustenta uma auto-estima falsa e frágil, já que ela
depende sempre de novas provas de amor e aprovação em cada
momento. Uma auto-estima verdadeira e forte deriva de um
comprometimento determinado em seguir os próprios objetivos, não
de aprovações alheias.
• É desagradável não receber amor ou aprovação de alguém
importante, mas isso é catastrófico?
• Suas ações devem ser guiadas pelos seus desejos, não pelo desejo
dos outros. Afinal, de quem é a sua vida?
• A melhor forma de ganhar amor é dar amor, genuinamente.

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QUADRO 2.2 - Crença nº 2 — Para se ter valor, é necessário ser


competente e bem-sucedido em todos os aspectos da vida

1. É possível ser competente em todos os aspectos da vida?


Tentar ser competente em alguns aspectos pode ser saudável e
recompensador (prazer, dinheiro),
mas ter a obrigação de ser extremamente competente é um caminho
direto ao medo e à desvalorização,
à ansiedade e à depressão.
2. É possível que uma busca desenfreada pelo sucesso ultrapasse os
limites do corpo e provoque doenças psicossomáticas?
3. É possível que, ao fazer comparações dos seus sucessos com os
dos outros, você esteja sendo guiado(a) por padrões externos, e não
pelos seus objetivos pessoais?
Se você pensa que tem que ter sucesso marcante, você não está
apenas se desafiando e testando suas próprias capacidades; está,
invariavelmente, comparando-se com os outros e tentando superar os
melhores. Assim, você passa a ser guiado(a) pelos outros mais do
que por si mesmo(a). Desse modo, sem se dar conta, estabelece
metas inalcançáveis, pois, mesmo que você possa ser extremamente
destacado em algo, sempre poderá aparecer alguém melhor. Não faz
sentido comparar-se aos outros, uma vez que não se pode ter controle
sobre o comportamento dos outros, somente sobre os próprios.
4. É possível que a concentração na crença de ter que ser competente
desvie você da meta principal da vida, que é ser feliz?
Você já pensou que esta se alcança (1) experimentando e
descobrindo quais são seus desejos mais
gratificantes na vida e (2) gastando corajosamente (não importando o
que os Outros pensem) uma boa
parte do pouco tempo que dura a sua vida perseguindo isso?
5. É possível que uma preocupação excessiva com a competência
acabe resultando em muito medo de correr riscos, de errar, de falhar
em certos empreendimentos e que estes próprios medos sabotem os
objetivos que você quer alcançar pelo efeito negativo que produzem
no desempenho?

Não seria mais racional acreditar que:

• É melhor tentar fazer mais do que “se matar” para tentar fazer bem,
assim como é melhor focalizar-se no processo mais do que no
resultado.
• Ao tentar fazer algo, é melhor fazer pelo prazer de fazer bem-feito
mais do que para agradar alguém
• Uma coisa é tentar fazer bem alguma coisa pela satisfação que isso
dá; outra é tentar fazer perfeitamente bem. Uma coisa é tentar o seu
melhor; outra é tentar ser melhor do que os outros.
• Os esforços valem pela realização em si ou pela realização com a
satisfação que ela traz?
• Os erros, mais do que algo para se recriminar, são muito valiosos,
pois é por meio deles que se aprende. Aceite a necessidade de ter
que praticar muito se você quiser ter sucesso em alguma coisa, a
necessidade de se forçar a fazer as coisas que você tem medo de
fazer e o fato de que os seres humanos são limitados, e você,
particularmente, tem suas limitações específicas.

da vida em geral. Para produzir uma mudança filosófica, específica ou


geral, as pessoas devem fazer o seguinte:

1. Compreender que elas criam suas próprias perturbações


psicológicas e que quanto o ambiente possa contribuir para isso é de
consideração secundária.

2. Reconhecer plenamente que têm a capacidade para mudar essas


perturbações.
3. Compreender e aceitar que as perturbações emocionais e
comportamentais deveriam, em grande parte, de crenças irracionais,
absolutistas e dogmáticas.

4. Detectar suas cranças irracionais e discriminar entre elas e suas


contrapartes racionais.

5. Combater essas crenças irracionais, usando os métodos lógico-


empíricos da ciência.

6. Trabalhar para a internalização dessas novas crenças racionais,


empregando métodos cognitivos, emocionais e comportamentais de
mudança.
7. Continuar esse processo de desafiar as crenças irracionais, usando
métodos multimodais de mudança pelo resto da vida.

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QUADRO 2.3 - Crença nº 3 — É terrível e catastrófico quando as


coisas não acontecem do jeito que se quer

É normal ficarmos frustrados quando as coisas não saem do jeito que


gostaríamos, mas ficarmos muito
deprimidos ou irritados quando isto acontece é irracional por vários
motivos:

1. Não há motivos para que as coisas devam ser diferentes do que


são, não importando o quanto elas sejam insatisfatórias ou injustas. É
satisfatório quando as coisas acontecem do jeito que desejamos, nas
isso não é necessário ou obrigatório. A idéia de um mundo justo é
apenas um ideal social.
2. Sentir-se inconsolável frente a situações adversas não ajuda a
transformar as coisas. O contrário é o mais provável: quanto mais
afetada pelas circunstâncias adversas, mais ineficiente tornar-se uma
pessoa para tentar reverter as coisas e alcançar o que deseja.
3. Quando as coisas não são da forma que se quer, deve-se fazer o
máximo para mudá-las; porém quando isso é impossível,
momentaneamente ou para sempre, a única atitude saudável é
resignar-se.

4.Mesmo havendo uma grande relação entre frustração e raiva, pode-


se constatar que são nossas interpretações dos acontecimentos que
geram a raiva. Uma pessoa só se sente necessariamente infeliz e
irada se ela estabelece suas preferências em termos de
necessidades.

Ao invés de manter-se desnecessariamente exaltado(a) diante de


circunstâncias frustrantes ou de injustiças
reais ou imaginadas, você pode tentar adotar as seguintes atitudes:

• Será que estou exagerando a dimensão negativa daquilo que está


me acontecendo? Se houver realmente aspectos negativos e
desprazer não será melhor trabalhar racionalmente no sentido de
alterar as circunstâncias e, se for impossível, resignar-me, ao invés de
ficar irritado ou me lamentando da sorte ou da minha infelicidade?
• Será que estou vendo como catastrófico, terrível ou fatal algo que é
apenas desagradável?

• De que modo posso aprender com essa experiência frustrante, usá-


la como um desafio e integrá-la de modo útil à minha vida? Será que
não estou duplicando meu sofrimento ao me irritar com a própria
irritação?

A PRÁTICA BÁSICA DA TREC

A TREC é uma forma ativa e diretiva de terapia na qual os terapeutas


agem diretamente na identificação de seus conceitos filosóficos
(crenças), os quais constituem a base para seus problemas. A
característica do processo terapêutico na TREC é basear-se em um
modelo educacional de atuação. em que o terapeuta ensina o cliente a
compreender-se melhor e a modificar seu próprio comportamento
(Ellis. 1978).
Caracteriza-se como uma abordagem diretiva. em que a base
fundamental é a aceitação incondicional do cliente pelo terapeuta, a
capacidade empática, o interesse genuíno e o calor do terapeuta pelo
cliente, conforme anteriormente descritas por Carl Rogers (s.d.). Além
disso, caracteriza-se por uma concretude que se refere à especifidade
no trabalho do terapeuta com seu cliente em que a atenção a detalhes
(o quê, por quê, quando, onde e como) é fundamental. Outro aspecto
importante é a confrontação, usada quando o terapeuta percebe
discrepâncias entre o que o cliente está dizendo e o que disse antes,
entre o que ele está comunicando verbalmente e a sua expressão
não-verbal, entre o modo como o cliente está vendo os seus
problemas e o modo como o terapeuta o está concebendo-os. Outras
três qualidades que são importantes no fortalecimento de um rapport
são a auto-revelação, o uso apropriado do humor e um estilo ativo e
diretivo.

Avaliação dos problemas do cliente

Quando um paciente descreve um acontecimento problemático de sua


vida, o terapeuta pode pensar que este contém três elementos: (1) o
que

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aconteceu; (2) como o paciente percebeu o que aconteceu e (3) como


o paciente avaliou o que aconteceu. Os dois primeiros são aspectos
do A, os Acontecimentos Ativadores; o último se refere ao B (Beliefs,
crenças). Tenta-se fazer, assim, uma distinção entre a realidade
objetiva e a realidade percebida. A realidade percebida refere-se ao
que os clientes descrevem e a como eles presumivelmente acreditam
que tenha sido. Uma realidade confirmável refere-se a um consenso
social hipotético se uma quantidade de observadores testemunhasse
o mesmo acontecimento e o descrevesse do mesmo modo. Uma outra
distinção pode ser feita entre dois tipos de cognições. A realidade
percebida envolve o que o cliente percebe em um acontecimento.
Crenças racionais ou irracionais são cognições avaliadoras. Para
evitar confusões conceituais, será usado o termo “crença” apenas
para cognições avaliadoras, isto é, crenças racionais ou irracionais.
Assim, o modelo A-B-C pode ser expandido na forma que segue:

A (confirmável): o acontecimento ativador que pudesse ser validado


por um grupo de observadores.
A (percebido): o modo como um cliente percebeu o que aconteceu,
isto é, sua descrição subjetiva.
B: a avaliação que o cliente faz do que aconteceu.

C: as conseqüências emocionais e comportamentais.

Assim, por exemplo, um cliente apresenta um problema de “depressão


porque no trabalho ninguém gosta dele”. Um questionamento maior
revela que os colegas interagem com ele apenas sobre problemas de
trabalho, que não conversam com ele ou o convidam para almoçar e,
quando o fazem, ele recusa:

A (confirmável): “Poucas pessoas me convidam para almoçar ou


tentam interagir comigo fora de assuntos de trabalho”.
A (percebido): “Acho que ninguém gosta de mim”.
B: “É terrível e catastrófico que ninguém goste de mim”.
C: Depressão.

Nessa fase, o terapeuta precisa ficar atento para incentivar ativamente


descrições mais precisas e menos vagas. Para evitar a auto-
sabotagem do processo por parte do cliente, a atitude do terapeuta na
TREC deve ser a de estar sempre com a mente aberta e crítica,
caracterizando uma atitude experimental em torno de seu cliente (Ellis
e Bernard, 1986; Ellis, 1973).

O “C”

O “C” é dos aspectos mais importantes, pois envolve as


conseqüências emocionais e comportamentais decorrentes de “A” e
de “B”. É justamente pelo “C” que um cliente busca terapia. Contudo,
é necessário fazer uma distinção entre emoções perturbadas e
emoções não-perturbadas. Por exemplo:
• Preocupação versus ansiedade.
• Tristeza versus depressão.
• Pesar versus culpa.
• Desapontamento versus vergonha/embaraço.
• Aborrecimento versus raiva.

Os seres humanos são necessariamente emotivos, mas algumas de


suas emoções podem impedi-los de alcançar suas metas, de se
satisfazer, de prejudicar seu funcionamento cognitivo, de produzir
problemas psicossomáticos e, por isso podem ser consideradas
inadequadas.

O coração da TREC: o “D” de debater

Nas seções precedentes, discutiu-se os critérios A, B e C que são o


terreno do diagnóstico da terapia racional-emotivo-comportamental. É
uma prática importante ajudar os clientes a compreender a relação
entre B e C. Uma vez que tenham entendido isso, pode-se passar
para a etapa de tentar mudar as suas crenças irracionais. Mudar
crenças irracionais é o verdadeiro trabalho terapêutico e ocorre no “D”,
de Debater. Debater significa combater, desafiar o sistema de crenças
irracionais do cliente e portanto, é um processo lógico-empírico no
qual o paciente é ajudado a parar e pensar para poder internalizar
uma nova filosofia que envolva uma solução elegante. Isso será feito
por questionamentos de natureza cognitiva, imaginária e/ou
comportamental.

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O D consiste em dois estágios básicos: (1) examinar e desafiar o


modo de pensar atual e (2) desenvolver modos de pensar mais
funcionais, racionais e elegantes. Tal processo pode ser realizado em
níveis diferentes de abstração, como no exemplo abaixo:

1. Minha mulher tem que fazer o jantar quando eu quiser.


2. Minha mulher deve fazer os tarefas domésticas quando eu quiser.
3. Minha mulher deve fazer as coisas do jeito que eu quero.
4. Minha família deve fazer as coisas do jeito que eu quero.
5. As pessoas do meu círculo de relações devem fazer as coisas do
jeito que eu quero.
6. Todas as pessoas devem fazer as coisas do jeito que eu quero.
7. O mundo deve ser do jeito que eu quero.

Esses pensamentos manifestam um contínuo de abstração


clinicamente significativo, pois, se um cliente apenas pensasse como
na primeira frase, ele seria perturbado por uma pequena quantidade
de acontecimentos ativadores; porém. quanto maior o nível de
abstração, mais freqüentemente perturbado ele ficaria em sua vida
diária. O mesmo também se aplica no que se refere a pensamentos
racionais: quanto menos abstratos, menor seria a sua capacidade de
se generalizar.
O instrumento mlis importante no D é o uso de perguntas. Se na fase
de diagnóstico (A, B, C) é recomendável evitar perguntas com “por
que”, nessa fase é particularmente útil. A resposta a um “por que” em
geral envolve uma necessidade de provas ou uma justificação da
crença e, como não haverá provas da veracidade de uma crença
irracional, o paciente pode dar-se conta das razões de abandoná-las.
Essas perguntas foram selecionadas a partir de argumentos lógicos
que focalizam se o pensamento irracional do cliente deriva de um
raciocínio que ele usa para defendê-lo. Por exemplo, quando se
pergunta para a maioria dos clientes “Por que o mundo deve ser do
jeito que você acha que ele deva ser?”, eles tentam explicar que
assim seria mais desejável para eles. A discussão clássica de Ellis
aponta que, pelo fato de uma coisa ser desejável, não se segue
logicamente que o mundo deva oferecer o que seja desejável. As
principais perguntas empregadas para um combate lógico são (Walen,
Di Giuseppe e Dryden (1992):

1. Isso é uma lógica correta?


2. Isso é verdade?
3. Por que não?
4. Por que é assim?
5. Como você sabe?
6. Você poderia estar generalizando demais?
7. Se um amigo tivesse essa idéia (autodecadente), você a aceitaria?
8. Por que essa é uma afirmação não-verdadeira?
9. Em que sentido?
10. Essa é uma prova muito boa?
11. Quais comportamentos vocês pode apresentar como prova?
12. Por que tem que ser assim?
13. Onde isso estava escrito?
14. Pode ver a inconsistência em suas crenças?
15. Que isso significaria sobre você como pessoa?
16. Isso segue logicamente?
17. Que há de errado com a noção de que você seja “especial”?
18. Porque você deve?
19. Vamos assumir o pior. Você está fazendo coisas más. Agora, por
que você não deveria fazê-las?

O segundo grupo de perguntas requer do cliente que ele avalie se


suas crenças são consistentes com os dados da realidade. Por
exemplo, as crenças de “exigência” podem ser demonstradas como
sendo inconsistentes com a realidade. Não importa o quanto os
clientes queiram que o mundo “deva” ser do jeito que eles querem, o
universo usualmente não muda para atingir o “devo”. Ou clientes que
têm baixa tolerância à frustração podem ser recorrentemente
lembrados que, mesmo que digam que não conseguem agüentar as
ocorrências de A, na verdade continuam agüentando. As principais
perguntas empregadas para um teste da realidade são (Walen, Di
Giuseppe e Dryden (1992):

1. Qual é a prova?
2. Onde está a evidência?
3. Que aconteceria se…?
4. Você pode agüentar?
5. Vamos ser cientistas: o que os dados mostram?
6. Por que ela deve fazer isso? Alguém tem que fazer?

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7. Se isso for verdade realmente, qual o pior que poderia acontecer?


8. E se acontecer?
9. Que seria tão terrível?
10. Por que uma desvantagem é tão horrível?
11. Pergunte-se: é ainda possível encontrar a felicidade?

12. Que coisas boas podem acontecer se…ocorrer?

13. Você pode se sentir feliz mesmo se não conseguir o que quer?
14. Qual é a probabilidade de uma conseqüência ruim?

15. Como o seu mundo ficaria destruído se…?

O terceiro grupo não ataca diretamente a lógica, mas questiona o


valor hedônico do sistema de crenças do cliente. Uma determinada
idéia ajuda um cliente a resolver um problema pessoal? A atingir uma
meta? Oferece outras conseqüências positivas? Abranda um turbilhão
emocional? As principais perguntas empregadas para uma análise
pragmática ou funcional são (Walen, Di Giuseppe e Dryden (1992):

1. Na medida em que você acredita nisso, como você se sente?


2. “Eu devo conseguir o que quer que seja”. Aonde esse comando
pode levar você?
3. Vale a pena o risco?
4. Como você se sente quando pensa desse jeito?

5. Esse pensamento motiva você para ir trabalhar?

6. E aonde isso leva você?


7. Que acontece quando você pensa assim?
8. Por que você mantém uma crença que lhe causa tanto sofrimento?
Outras estratégias de debate cognitivo

Um segundo conjunto de estratégias de debate cognitivo é a didática,


incluindo o uso de miniaulas, analogias e parábolas. Quando o cliente
ainda está familiarizando-se com a TREC, as aulas devem ser breves
e serão úteis quando novas idéias estão sendo apresentadas ao
cliente. Quando ele já estar mais familiarizado, é melhor substituí-las
por analogias e parábolas.

Outra forma de debate cognitiva muito usada é o humor, como pode


ser observado na seguinte vinheta:

C: “É verdadeiramente terrível que eu tenha falhado no teste!”.


T: “É verdade! Não é apenas terrível como também não vejo como
você vai sobreviver. Esta é a pior notícia que já ouvi! Isto é tão
horrendo que não consigo nem tentar falar a respeito.Vamos falar
sobre outra coisa! Rápido!”.

Uma quarta estratégia é a modelação vicária. Um terapeuta pode


demonstrar com freqüência para seus clientes que muitas pessoas de
sua convivência passam por acontecimentos ativadores similares,
mas mesmo assim não têm reações emocionais exageradas porque
não aderem às mesmas crenças irracionais.

Estratégias de debate baseadas em imagens

Uma variação das estratégias cognitivas de debate envolve o uso de


imagens. Em um procedimento como esse, depois de um combate
verbal, o terapeuta pode pedir ao cliente que se imagine outra vez na
situação problemática; isso poderá permitir ao terapeuta verificar se a
emoção mudou. Se isso tiver acontecido, o terapeuta pode perguntar
ao cliente o que ele está dizendo a si mesmo como um meio de
ensaiar crenças mais racionais. Se houver mais crenças irracionais
presentes, o exercício de imaginação permitirá que eles apareçam na
mente. Se necessário, uma nova análise A-B-C-D pode ser feita e os
resultados reexaminados em um novo exercício de imaginação
(Maultsby e Ellis, 1974).
Há dois tipos básicos de exercícios de imaginação. Na imaginação
racional-emotiva negativa, os clientes fecham os olhos, imaginam-se
na situação problemática (A) e tentam experienciar suas reações
emocionais exageradas usuais (C). Quando isso tiver acontecido, o
terapeuta deve pedir que identifiquem as frases que estão se dizendo.
Nesse momento, deve instruir seus clientes a mudar os sentimentos
da emoção perturbadora para uma emoção mais construtiva (p. ex.,
de ansiedade para preocupação), assegurando-os de que tal
passagem pode ser feita nem que seja por uma

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fração de segundo. Quando conseguirem, o terapeuta deve pedir para


que abram os olhos e, então, perguntar “Como você conseguiu fazer
isso?”. Quase invariavelmente, a mudança revela uma mudança
cognitiva, e os pacientes respondem, por exemplo, “Não consegui ter
uma ereção com minha namorada? Provavelmente, ela irá
compreender. E, mesmo que ela não o faça, isso não é o fim do
mundo”.
Na imaginação racional-emotiva positiva, os clientes devem imaginar-
se em uma situação problemática, mas sentindo-se e comportando-se
de uma maneira adequada. Por exemplo, clientes que podem ter
medo de falar em público podem imaginar-se falando de forma
relaxada e tranqüila. O terapeuta poderá então perguntar: “O que você
está se dizendo para conseguir isso?” e seguir como no exemplo
anterior. Esta é uma técnica útil para ajudar os clientes a
desenvolverem habilidades de enfrentamento.

Estratégias de debate comportamentais

O terceiro tipo de debate é o comportamental, em que o paciente


desafia suas crenças irracionais agindo de um modo que os opõe. Um
terapeuta TREC não fica satisfeito até que possa observar mudanças
filosóficas que se manifestem no nível comportamental. Os pacientes
adquirem na terapia muito comportamento verbal e é importante
assegurar que o seu comportamento no mundo real corresponda ao
comportamento verbal adquirido nas sessões.
Tal fato corresponde a “ataques de vergonha” para pacientes que têm
fobia social. Após terem aprendido comportamentos pelo treino de
habilidades sociais e terem sido expostos em termos imaginários,
como visto antes, pode-se sugerir que apresentem comportamentos
que certamente produzirão vergonha, até mesmo nos terapeutas. Por
exemplo, pode-se recomendar que, em duplas formadas com outros
membros do grupo, eles peguem um metrô e, em cada estação que a
dupla entre, um deles se levante e diga, em voz bem alta e clara, o
que há de interessante a ser visto nas imediações daquele ponto. Por
exemplo, ao chegar na estação Cinelândia, no Rio de Janeiro, o
cliente pode dizer: “Estação Cinelândia! Aqui você irá encontrar o
Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas
Artes e o Amarelinho!” e depois sentar-se. O objetivo é fazer com que
ele e o seu companheiro do grupo possam perceber a indiferença que
os outros passageiros apresentarão diante de tal comportamento. Isso
irá ajudá-los a perceber que suas crenças de que aquilo produzirá
uma terrível reação de repúdio e rejeição são falsas. Normalmente
esse procedimento é feito como tarefa de casa, mas também pode ser
feito em uma sessão, como, por exemplo, quando se pede para um
cliente hiper-ventilar para produzir as sensações semelhantes àquelas
que são produzidas em um ataque de pânico de modo que ele
entenda que uma das coisas que pode produzir ataques de pânico é
uma respiração mais ofegante (ver Capítulo 9, Transtorno do Pânico e
Agorafobia).

ESQUEMA BÁSICO DO PROCESSO TERAPÊUTICO: DEBATE-


RACIONAL-EMOTIVO

O esquema básico no processo terapêutico pode ser dividido em


etapas. Vale ressaltar que a TREC é um processo terapêutico
essencialmente verbal.

• Passo 1: O terapeuta busca o sentimento gerado na situação “A”.


• Passo 2: O cliente infere causas/efeitos sobre “A”.
• Passo 3: O terapeuta avalia a relevância da inferência no passo
anterior (2).
• Passo 4: O cliente infere causas/efeitos sobre o passo 2.
• Passo 5: O terapeuta avalia a relevância da interferência sobre o
passo anterior (4).
• Passo 6: O cliente infere causas/efeitos sobre o passo 4.
• Passo 7: O terapeuta avalia a relevância da inferência sobre o passo
anterior (5).

Indicações terapêuticas

A TREC é um tipo de psicoterapia indicada para os clientes que


desejam uma mudança rápida e eficaz, não apresentando contra-
indicações. Dryden (1990) relata a eficácia da TREC com pacientes
com crises de raiva e cólera, com especial relato sobre o tratamento
terapêutico proposto.

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Ellis e Bernard (1990) indicam a utilidade da REBT com problemas


relacionados a amor, casamento, divórcio e separação, além de
indicar estratégias específicas para o tratamento de problemas
femininos, sexualidade, homossexualidade e abuso de drogas. Nesse
mesmo trabalho, os autores abordam os aspectos ligados à
religiosidade, à educação e relatam um programa especial para a
preparação de atletas, enquanto Foa e Steketee (1987) indicam a
validade para o tratamento de fobias e obsessões-compulsões.
Por sua vez, Gossette e O’Brien (1993) indicam uma baixa validade
da TREC com crianças. O uso da TREC em estratégias de grupo é
citado por Ellis (1993) e por Ellis e Dryden (1987), fontes nos quais o
leitor pode encontrar subsídios suficientes para sua aplicação.

CONCLUSÕES
As importantes contribuições de Albert Ellis levaram-no a ser agraciado pela American Psychological
Association com o prêmio de Outstanding Life Achievement. Aqueles que se interessarem por sua
obra podem obter mais informações no site http://www.rebt.org.
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