Você está na página 1de 13

PRAGMATISMO E DESIGN

Magali Olhats¹, Juliana Floriano², Richard Perassi Luiz de Sousa³, Luiz Salomão Ribas
Gomez4
¹Mestranda; Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, ²Mestre em Design e Expressão Gráfica
pela UFSC, ³Professor da Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Comunicação e Semiótica
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 4Professor adjunto da Universidade Federal de Santa
Catarina e Doutor em Engenharia de Produção

RESUMO

Este artigo trata da relação entre a às atividades artísticas que, em si


corrente filosófico-epistemológica mesmas, não são finalistas, exceto
Pragmatismo e o campo de Design, quando aplicadas na composição de
indicando conceitos e procedimentos produtos ou serviços. Entretanto, em
pragmáticos aplicados nos estudos e nas Design, as finalidades de projetos,
atividades de Design, como área do produtos e serviços estabelecem os
conhecimento e campo de atividades parâmetros de composição
projetivas. A abordagem pragmática metodológica, determinando as
permeia o pensamento contemporâneo e metodologias de projeto de Design,
as atividades de Design. Assim, inclusive, sob uma abordagem
diferencia-se, por exemplo, com relação pragmática.

Palavras Chave: Abordagem Pragmática, Epistemologia, Metodologia de Design.

Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011


PRAGMATISM AND DESIGN
ABSTRACT

This article demonstrates the activities which are not final, except
relationship between the trend of when applies in the composition of
philosophical and epistemological products or services. However, in deign,
Pragmatism and the field of Design, the finality of projects, products, and
indicating the concepts and pragmatic services establishes the parameters of
procedures applied in the design studies methodological composition,
and activities. The pragmatic approach determining the design project
permeates contemporary thought and methodologies, even under a pragmatic
design activities. Therefore, design approach.
differentiates itself from artistic

Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011


INTRODUÇÃO idealismo e pelo racionalismo-positivista,
considerando-se que a própria função dos
A união indissociável entre teoria
produtos e serviços deveriam ser previstas
e prática é indicada como um dos
ou pré-determinadas, diante da inexistência
pressupostos do movimento Pragmatismo,
de demanda social por bens e serviços que,
como corrente filosófica que questiona a
ainda, eram desconhecidos pela sociedade
necessidade de uma ciência pura, diante da
em transição.
possibilidade de ciências aplicadas. Na
Isso estabeleceu a tradição
visão pragmática, apenas a teoria em si
fundada pela escola alemã Bauhaus,
mesma não atende a necessidade de
configurando o pensamento idealista-
conhecimentos úteis. Além disso, advoga
funcionalista clássico em Design. A
que a ênfase nos resultados justifica o
perspectiva clássica ainda é influente nos
pensamento intelectual a priori.
dias atuais, especialmente devido aos
O pragmatismo moderno foi
reflexos do ensino na Escola Superior de
relacionado em sua origem ao Liberalismo
Design de Ulm que, a partir da segunda
econômico e ao momento de consolidação
metade do século XX, tornou-se a herdeira
da Revolução Industrial que, também, deu
alemã da escola Bauhaus.
início ao desenvolvimento do campo de
Na tradição clássica idealista-
atividades de Design, configurando-o, em
funcionalista, o designer é o mentor-
parte, como área do conhecimento aplicado
idealizador do projeto e do produto,
ao desenvolvimento industrial.
considerados necessários e suficientes de
Em princípio, o campo de Design
acordo com sua visão individual. Assim,
foi regido de acordo com o pensamento
os projetos e os produtos idealmente
científico-positivista, cujo modelo
concebidos são desenvolvidos sob os
metodológico de atuação era o método
parâmetros da racionalidade matemática e
científico-positivista. Porém, seguindo o
simplificados de maneira coerente com a
progresso sócio-industrial, o caráter
linguagem tecnológica dos meios de
aplicativo em Design inaugurou também
produção.
uma perspectiva funcionalista, porque os
Houve, contudo, a consolidação
projetos de Design orientavam a fabricação
da sociedade industrial e a passagem para a
industrial de produtos funcionais.
cultura pós-industrial, que situou a
Em princípio, a abordagem
indústria como base de sustentação da
funcionalista foi determinada pelo
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
cultura da informação eletrônico-digital. industriais. Assim, a oferta seria ampliada,
Isso determinou um processo autônomo de os preços de custo dos produtos reduzidos
demandas sócio-culturais, as quais são e o progresso social promovido e
expressas por agentes de mercado: desenvolvido. Essa idealização instituiu o
consumidores, clientes, revendedores, sentido sócio-ideológico na área de Design
formadores de opinião, criadores da moda que, até hoje, sente-se diretamente
e outros. comprometida com o bem estar e o
Na medida em que a sociedade progresso social.
passou a impor demandas próprias, os Por outro lado, as atividades e os
campos de produção de conhecimentos e produtos de Design, entretanto, foram
atividades aplicadas, como o campo de sendo integrados aos interesses de
Design, adotaram a visão pragmática para mercado, devido à sua participação nos
responder às demandas apresentadas pelos setores produtivo-comerciais, uma vez que
agentes do mercado. as empresas passaram a contratar designers
É perceptível a influência do e a investir no planejamento de seus
pensamento pragmático no campo de produtos, com fins essencialmente
Design, uma vez que a metodologia de comerciais e lucrativos.
projeto evoluiu, priorizando a apreensão e Atualmente, as duas vertentes se
a compreensão da demanda e submetendo desenvolvem e são direcionadas para a
a elaboração do projeto e do produto às cultura de mercado, porque essa se tornou
necessidades do cliente e, mais hegemônica. Porém, a vertente ideológica
especialmente, às demandas político- procura influenciar o mercado com
culturais ou mercadológicas. posicionamentos políticos relacionados à
Atualmente, é possível perceber “paz no mundo” ou à “conservação do
uma vertente ideológica de Design e outra planeta”, entre outros temas indicados
vertente mercadológica de Design. Pois, a como “politicamente corretos”. Isso coloca
área de Design antecede à consolidação da para os designers problemas que, de
sociedade moderna e da cultura de maneira irônica, podem ser exemplificados
mercado. Essa área foi fundada sob os com a seguinte pergunta: como propor um
ideais de ampliação e socialização do novo produto absolutamente útil e
acesso aos produtos, através da sustentável a cada 20 dias?
multiplicação dos bens já existentes e da O traço simbólico-ideológico é
produção em série de novos bens ainda mais presente nos produtos de

Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011


comunicação, Twemlow (2007) diz que Para Dutra (2005, p. 180), os
“depois dos acontecimentos de 11 de pragmatistas desejam “(1) uma definição
setembro, te sentiste inspirado a vestir a da verdade que conduza a critérios
tua T-shirt ‘I Love NYC’”. Assim, projetos epistêmicos que permitam decidir o que é
e produtos de Design se justificam por uma verdadeiro e o que é falso, e (2) que tais
utilidade prático-ideológica, que beneficia critérios respeitem a continuidade entre o
a convivência das pessoas no dia-a-dia. pensamento e a ação, entre a teoria e a
Na perspectiva pragmática, o prática”.
processo investigativo e a metodologia O fundamental é que a verdade
adotada pelo designer são procedimentos seja compreendida sob aspectos
que almejam atingir a finalidade prática eminentemente pragmáticos, por estarem
desejada, mesmo que o objetivo seja ligados às atividades realizadas pelo
ideológico. Isso confirma o que é investigador e a como se passam as coisas
apresentado por Dutra (2005) como “uma em suas investigações. Portanto, teoria e
forma de ação, uma teoria que supere a experiência não podem ser consideradas
concepção intelectualista segundo a qual o como esferas distintas. Assim, para Dutra
conhecimento é mera contemplação ou (2005, p. 159), Pragmatismo se diferencia
representação”. do pensamento de Kant que legitima a...

Separação entre empírico e racional, entre a ciência


PRAGMATISMO pura (que descreve o mundo) e as aplicações
EPISTEMOLÓGICO práticas desse conhecimento, nas práticas
tecnológicas (que alteram o mundo). Ora, um dos
Na passagem entre os séculos pressupostos fundamentais do pragmatismo é que
XIX e XX, Charles Sanders Peirce (1839- não há essa separação entre conhecer o mundo, de
um lado, e modificá-lo, de outro, entre a teoria e a
1914), William James (1842-1910), e John
prática.
Dewey (1859-1952), entre outros,
desenvolveram o movimento filosófico Propõe-se, portanto, a integração
Pragmatismo. Contrário a sua conotação entre as duas ciências (puras e aplicadas),
popular, Pragmatismo não significa uma por meio de uma teoria da investigação
filosofia “prática”. Mas, relaciona teoria e “Pensar envolve agir: o pensamento
prática, dando mais importância a genuíno é uma etapa da ação de investigar
consequências e efeitos de uma ação do e é o resultado de acontecimentos nos
que a seus princípios e pressupostos. quais o indivíduo se envolve e de

Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011


modificações que ele produz no ambiente” de uma vontade de reformar a filosofia e
(DUTRA, 2005, p. 168). aproximá-la ao método científico. Os
pragmatistas usaram teorias como
Peirce defendeu que a
ferramentas, e não respostas. Assim,
investigação começa com uma dúvida real
propunha uma evolução constante em
e que o significado de um conceito
direção da verdade. Não reivindicaram a
depende dos efeitos práticos demonstrados
proposição de um pensamento totalmente
depois da investigação (Smith, 1952). Isso
inovador, mas a criação de um pensamento
indica a prioridade da idéia, mas
harmônico com as correntes filosóficos
condiciona sua validade à investigação
anteriores (JAMES, 1978).
desenvolvida junto à realidade, propondo
um caráter evolutivo e dinâmico ao Apesar das similaridades
pensamento. metodológicas, Pragmatismo e Positivismo
são distintos na concepção ontológica. Os
William James confirma que não
positivistas defendem a existência de uma
se trata de um sistema fechado e
realidade objetiva e independente do
previamente delimitado, porque prevê uma
observador e os pragmatistas afirmam que
discussão direcionada à verdade e
essa existência só adquire significado por
estruturada por: “(1) um método; (2) uma
suas conseqüências (SHAROV, 2001). A
teoria geral da verdade, e (3) uma teoria do
visão positivista propõe a verdade
Universo” (DURKHEIM, 2004, p.64).
metafísica de origem idealista e a visão
Dewey propõe que “a
pragmatista propõe que a idéia pensada
investigação começa com uma dúvida e
anteriormente só adquire valor de verdade
termina com a constituição de condições
no campo da experiência.
que removem a dúvida”. Além disso,
desenvolve uma metodologia de
PRAGMATISMO EM DESIGN
investigação relacionando os meios ou os
instrumentos e as consequências ou os fins Os pragmatistas relacionam suas
(DUTRA, 2005, p. 171). investigações com a constituição da vida e
da sociedade, afirmando não existir
Os objetivos e métodos
separação entre ação e raciocínio e
defendidos pelos pragmatistas se
enfatizando as consequências de utilidade
aproximam a várias outras filosofias,
e sentido prático das ações (Dutra, 2005).
como: Racionalismo, Empirismo, e
Isso possibilita associações imediatas entre
Positivismo. Porém, Pragmatismo surgiu
esse paradigma filosófico e as ciências
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
socialmente aplicáveis, como a ciência Um desenho naturalista pode ser
organizada para a prática de Design. avaliado objetivamente por sua fidelidade
na representação visual de elementos da
É preciso considerar a ciência de
natureza. Esse parâmetro, entretanto,
Design, como sendo o corpus teórico
somente lhe atribui qualidade mimético-
reunido ou desenvolvido pela área para
ilustrativa, como representação verossímil
fundamentar sua metodologia e sua prática.
da realidade visível. Mas, sua avaliação
Isso propõe a área de Design como um
estética e sua validação como obra de arte
conjunto multidisciplinar de recursos
não se reduzem ao parâmetro ilustrativo-
teóricos e práticos. Esses recursos foram
imitativo.
reunidos ou desenvolvidos para compor a
área de Design como interdisciplinar. Isso Fuentes (2006, p. 23), por
caracteriza todas as áreas de aplicação exemplo, parte da premissa de que Design
tecnológica do conhecimento com fins Gráfico e Arte “são atividades humanas
sociais, compondo as ciências e as absolutamente diferentes que se vinculam,
tecnologias socialmente aplicáveis. porém, não devem ser confundidas”. A
diferença entre o ato artístico e o ato de
Essa associação entre
projetar é estabelecida, porque o projeto
pragmatismo e teoria aplicada é mais
gráfico “é demandado sempre por uma
perceptível quando se estabelece a
necessidade de comunicação específica”
comparação com o campo artístico, porque
(FUENTES, 2006, p. 24).
o processo artístico admite apenas
aproximações parciais com a abordagem Atuando como linguagens visuais
pragmatista. expressivo-representativas, Artes Visuais e
Design Gráfico compartilham interesses
Arte em si mesma não propõe
por aspectos estéticos da comunicação.
atividades finalistas, exceto quando
Contudo, Newark (2009, p. 28) aponta que
atividades artísticas são concebidas como
“as diferenças entre arte e design são
Arte aplicada. Assim, a falta de finalidade
sentidas com maior ênfase na área da
artística dificulta a avaliação dos
intenção”. O compromisso final em Design
resultados do ponto de vista pragmático.
é com a informação predominantemente
Por exemplo, diante de uma pintura
semântica, promovendo um efetivo
abstrata, qual é o parâmetro objetivo que
processo de comunicação. Por isso Newark
possibilita um julgamento artístico?
(2009, p. 14) afirma: “o instinto do
designer é simplificar e esclarecer. (...)
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
Todo design tem de dar forma à matéria- obras. Porém, o projeto não é obrigatório
prima, sequenciá-la, ordená-la e classificá- ou definitivo, não uma finalidade em si
la para dar-lhe uma hierarquia”. Em geral, mesma e, tão pouco, distingue a atividade
a tradição artística desenvolveu atividades artística de outras atividades.
e obras mais expressivo-conotativas, cujo Na área de Design, entretanto, o
sentido afetivo-subjetivo ou intersubjetivo projeto é uma finalidade em si mesma, que
predomina sobre o significado lógico- caracteriza e define a atividade do
objetivo ou semântico. As obras de arte designer, demarcando a etapa de criação e
propõem mais experiência ou vivência que representação do produto, o qual poderá
compreensão ou entendimento. ser produzido posteriormente em outra
Niemeyer (2007, p.23) assinala o instancia. Apesar de ser sempre
seguinte texto: “desempenho de atividades recomendável e, às vezes, necessário o
especializadas de caráter técnico-científico, acompanhamento e a supervisão do
criativo e artístico, visando à concepção e designer projetista. O método projetivo,
ao desenvolvimento de projetos e também, é a instância que estabelece o
mensagens visuais”, como definição da caráter técnico-científico da atividade de
profissão de designer gráfico, que foi Design. Sobre isso, Niemeyer (2007, p. 23)
apresentada ao Congresso Brasileiro, em afirma que:
1989, para subsidiar um projeto de
Em design, projeto é o meio em que o profissional,
regulamentação da profissão.
equacionando, de forma sistêmica, dados de

No texto assinalado, há aspectos natureza ergonômica, tecnológica, econômica,


social, cultural e estética, responde concreta e
que aproximam e outros que distanciam as
racionalmente às necessidades humanas. Os
atividades de Design das atividades
projetos elaborados por designers são aptos à
artísticas. O “desempenho de atividades seriação ou industrialização que estabeleça relação
especializadas” é comum e aproxima as com o ser humano, no aspecto de uso ou de

duas áreas. Mas, o “caráter técnico- percepção, de modo a atender necessidades


materiais e de informação visual.
científico” distingue a área de Design,
porque em Arte são desenvolvidas A citação acima declara que o
atividades de caráter técnico-artístico, sem objetivo da área de Design é responder
finalidades científicas. Em Artes Visuais concretamente às necessidades humanas,
são propostas mensagens visuais cuja apreensão e atendimento dependem de
denominadas como “obras de arte” e se uma metodologia projetual relacionada a
aceita que sejam feitos projetos para essas premissas pragmáticas. Para Joan Costa
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
(apud FUENTES, 2006, p.15), “o método procedimentos tecnológicos no contexto
é, ao mesmo tempo, um procedimento sócio-cultural.
intelectual (aspecto semântico, cognitivo e Por exemplo, é possível verificar
informativo) e um procedimento (Quadro. 1) um paralelismo coerente entre
operacional (aspecto pragmático, material as etapas do método científico, na Teoria
e técnico)”. da Investigação de Dewey (DUTRA,
A origem do método projetivo em 2005), e os passos da Metodologia
Design foi diretamente relacionada ao Projetual em Design, como propostos por
método científico-positivista. Mas, houve Frascara (2000). Os dois conjuntos de
evoluções no método de investigação procedimentos prevêem (1) a definição do
científica que levaram à concepção problema; (2) a formulação de propostas
pragmática, também, evolui o método de solução; (3) a determinação e a
projetivo em Design. Os processos execução dos procedimentos que
evolutivos coincidiram em diversos participam das soluções propostas, e (4) a
aspectos, respondendo ao desenvolvimento avaliação dos resultados alcançados.
do pensamento científico e dos

Quadro 1 composta pelos autores, com base nos dados extraídos de Dutra (2005) e Frascara (2000),
assinalando o paralelismo entre as etapas da “Teoria da Investigação” e os passos da “Metodologia
Projetual de Design”. Os itens numerados indicam a estrutura geral proposta no texto e os itens
pontuados indicam as etapas e os passos propostos pelos autores citados.

MÉTODO INVESTIGATIVO DE DEWEY METODOLOGIA PROJETUAL DE


DESIGN

1 - DEFINIÇÃO DO PROBLEMA 1 - DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Situação indeterminada de dúvida, na Definição do problema.


qual uma questão é colocada;

Constituição de um problema, isto é,


perceber que aquela situação requer
investigação.

Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011


MÉTODO INVESTIGATIVO DE DEWEY METODOLOGIA PROJETUAL DE
DESIGN

2 - PROPOSTAS DE SOLUÇÃO 2 - PROPOSTAS DE SOLUÇÃO

Determinação da solução para o Determinação dos objetivos.


problema, ou seja, a indicação da
possibilidade de solução do problema
(uma hipótese) e as direções em que
isso pode ser feito.

3 - PROCEDIMENTOS 3 - PROCEDIMENTOS
Concepção da estratégia
Raciocínio, ou o desenvolvimento das
comunicacional.
implicações ou consequências da
hipótese ou solução aventada. Apresentação.
Cronograma de produção.
Supervisão de produção.

4 - AVALIAÇÃO 4 – AVALIAÇÃO

Corroboração (ou verificação) da Avaliação.


hipótese levantada, por meio da
experimentação e observação ulterior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS multidisciplinar dos designers”. Assim,


evidencia-se que o caráter idealista-
A curiosidade e o caráter
positivista da abordagem clássica em
investigativo são características
Design foi substituído por uma atitude
necessárias ao designer, para a realização
mais pragmática, admitindo-se o traço
de projetos consistentes e originais. Para
experimental e circunstancial das soluções
Fuentes (2006, p. 14), “o fato de admitir a
propostas, que devem ser submetidas a
existência de múltiplas possibilidades, o
critérios de validação.
respeito e até a valoração positiva da
Nessa perspectiva, “os
dúvida e do erro (...), junto com todas as
fundamentos pragmáticos oferecem um
certezas que somos capazes de reunir, são
potencial para explorar novas
simplesmente ferramentas na bagagem
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
interpretações da natureza das relações imagens de mulheres, cujas formas físicas
entre os designers, os participantes, os são variadas e diferentes dos padrões ideais
usuários/clientes, e os artefatos”, de beleza (fig. 01).
promovendo a “conceituação rica de
experiência no centro do processo de
concepção e decisão” (WRIGHT et al.,
2008, p. 18-9).

A validação do projeto de Design


finaliza o processo criativo e apresenta a
aplicação da solução, a qual foi
desenvolvida com base no envolvimento
do designer com os usuários, no contexto Fig. 1 – Imagem de peça gráfico-digital retirada do
sitio Dove. Disponível em: http://www.dove.com.br
de sua cultura. Na abordagem pragmatista,
as etapas de investigação, projeto e Esse tipo de campanha é
validação são desenvolvidas de acordo justificado na constatação de que o público
com as circunstâncias objetivas, propondo consumidor feminino, para o qual as
soluções adaptadas e aplicadas às mensagens são direcionadas, é composto
condições dessa realidade. por pessoas comuns que de maneira geral
Uma abordagem pragmatista não se enquadram em padrões idealizados.
expressa na mídia gráfico-publicitária é Assim, as campanhas “são desenvolvidas
apresentada nas campanhas de diferentes de acordo com as circunstâncias objetivas,
marcas de produtos de higiene pessoal e propondo soluções adaptadas e aplicadas
cosméticos, que são dirigidas ao público às condições dessa realidade”, como
feminino. Pois, nessas campanhas, é propõe a concepção pragmática. Isso
percebida a tendência recente de apresentar justifica a indicação dessa estratégia de
mulheres comuns, com aparência campanha como uma abordagem
diversificada, evitando os padrões ideais de pragmática no campo de Design Gráfico-
beleza e glamour que, tradicionalmente, Publicitário, exemplificando a relação
são veiculados na mídia. entre Design e Pragmatismo.
O espaço destinado a este texto
A campanha gráfico-publicitária
não é suficiente para esclarecer e, assim,
“Dove pela Real Beleza”, por exemplo, é
esgotar todas as questões decorrentes das
apresentada no sítio da marca de
ideias aqui apresentadas. Como foi
cosméticos Dove, na internet, com
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
proposto anteriormente, uma perspectiva DOVE. Real Beleza. Acessado em
pragmatista em Design deveria prever, 30/07/2010, disponível em:
além de produtos aplicados e adaptados às http://www.dove.com.br
demandas do mercado, também, uma ideia DURKHEIM, E. 2004. Pragmatismo e
de fundo, na perspectiva ideológica, sobre Sociologia. Florianópolis, Ed. da USFC.
o valor moral desses produtos.
DUTRA, L.H. de Araujo. 2005. Oposições
Considerando-se, portanto, a perspectiva
filosóficas: a epistemologia e suas
utópica do progresso como ecologicamente
polêmicas. Florianópolis: Ed. da UFSC.
e socialmente sustentável.
Foi alertado que o pragmatismo FRASCARA, J. 2000. Diseño gráfico y
filosófico não se destina ás coisas práticas, comunicación. 7 ed. Buenos Aires,
mas à realidade prágmática das coisas. Ediciones Infinito.
Essa realidade deve ser considerada, pelo FUENTES, R. 2006. A Prática do design
menos para Peirce, de acordo com a ideia gráfico: uma metodologia criativa. São
que configura o que é objetivo como real. Paulo, Rosari.
Assim, não basta a adaptação dos produtos
GERZEMA, J. 2009. A bolha das marcas.
à prática do mercado, sendo necessário a
Rio de Janeiro, Elsevier.
retomada do tradicional caráter idealizador
da área de Design, com projetos pensados JAMES, W. 1978 Pragmatism and The

para recriar o sentido moral de realidade. Meaning of Truth. Cambridge,


Massachusetts, Harvard University Press.

REFERÊNCIAS LAKATOS, E.M. 2009. Metodologia do


Trabalho Científico: procedimentos
ALVES, M.B.M.; ARRUDA, S.M. Como
básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e
elaborar um Artigo Científico.
relatório, publicações e trabalhos
Universidade Federal de Santa Catarina.
científicos / Marina de Andrade Marconi,
acessado em 18 de março de 2010,
Eva Maria Lakatos. – 7. Ed. – 3. Reimpr. –
disponível em
São Paulo, Atlas.
http://www.bu.ufsc.br/design/ArtigoCientif
ico.pdf MANUAL DE GESTÃO DE DESIGN.
1997. Centro Português de Design –
DOVE. Campanha por Beleza Real.
Portugal.
Acessado em 30/07/ 2010, disponível em:
http://www.campanhaporbelezareal.com.pt NEWARK, Q. 2009. O que é design
gráfico? Porto Alegre, Bookman.
Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011
NIEMEYER, L. 2007. Design no Brasil:
origens e instalação. 4. ed Rio de Janeiro,
2AB.

PEIRCE, C.S. 1878. How to make our


Ideas Clear. Vol 3, Indiana University
Press.

SHAROV, A. 2001. Umwelt-theory and


pragmatism. Semiotica. 2001(134): 211–
228. Acessado em 05 de agosto de 2010,
disponivel em:
http://home.comcast.net/~sharov/biosem/tx
t/umwelt.html

SMITH, J.W. 1952. Pragmatism, Realism


and Positivism in the United States. Mind,
New Series, 61(242): 190-208. Oxford
University Press. Acessado em 05 de
agosto de 2010, disponivel em:
http://www.jstor.org/stable/2252294

TWEMLOW, A. 2007. Para que serve o


design gráfico? Amadora, Portugal,
Editorial Gustavo Gili.

VERDAN, A. 1998 O ceticismo filosófico.


Florianópolis, Ed. da UFSC.

WRIGHT, P., WALLACE, J., and


MCCARTHY, J. 2008. Aesthetics and
experience-centered design. ACM Trans.
Comput.-Hum. Interact. 15(4): 18.
http://doi.acm.org/10.1145/1460355.14603
60

Pesquisa em Foco v. 19, n.1, p. 13-26, 2011

Você também pode gostar