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Para evitar a possibilidade de uma intervenção estadual arbitrária ou excessiva, a prevenção do crime só se torna
eficaz se se restringir a intervenção estadual a certos limites estritos:
Submete-se a intervenção penal a um rigoroso princípio da legalidade: cujo conteúdo essencial se traduz em não
haver crime, nem pena que não resultem de uma lei prévia, escrita, estrita e certa
Só a lei pode ser fonte de Direito Penal, estabelecendo-se uma reserva relativa da AR no artigo 165º1/c) CRP - Só
a AR ou o Governo munido de autorização legislativa têm competência em matéria penal
Fundamentos externos:
1. Princípio Liberal
Toda a atividade intervencionista do Estado na esfera dos direitos, liberdades e garantias das pessoas tem de
ligar-se à existência de uma lei e mesmo entre nós, de uma lei geral, abstrata e anterior - 18º/2/3 CRP
Fundamentos Internos:
Natureza especificamente jurídico-penal
1. Prevenção geral
Não pode esperar-se que a norma cumpra a função motivadora do comportamento da generalidade dos
cidadãos se eles não puderem saber, através de lei anterior, por onde passa a fronteira que separa os
comportamentos criminalmente puníveis dos não puníveis.
A prevenção especial positiva ou de ressocialização, no seu entendimento atual, confirma a exigência do
princípio de legalidade: o comportamento que indica a perigosidade não é apenas sintoma ou índice de
carência de socialização, tem de ser co-fundamento e limite da intervenção penal.
Este princípio (não há crime sem lei anterior que como tal preveja uma certa conduta) significa que, por mais
socialmente nocivo e reprovável que seja um comportamento, o legislador tem de o considerar como crime -
descrevendo-o e impondo-lhe uma sanção criminal - para que ele possa ser punido como tal.
1. Um agente não é criminoso se não for como tal considerado por uma sentença passada em julgado
2. Existe um razoável preço a pagar para que possa viver-se numa democracia que proteja minimamente o
cidadão do arbítrio, da insegurança e dos excessos.
Princípio Nulla poena sine lege - Não há pena/sanção criminal/medida de segurança sem lei
Este segmento de princípio tem expressa consagração jurídico-constitucional- Art 29º3 CRP e legal - Art 2ºCP
- No que toca às penas, esta exigência de uma lei anterior corresponde à doutrina internacionalmente
dominante.
Consequências/Efeitos do Princípio da Legalidade em 5 planos:
1. Plano do âmbito ou extensão
2. Plano da fonte
3. Plano da determinabilidade
4. Plano da proibição da analogia
5. Plano da retroatividade
O princípio da legalidade não abrange toda a matéria penal mas apenas aquela que se traduza em fundamentar ou
agravar a responsabilidade do agente.
Se o princípio abrangesse a exclusão ou atenuação da responsabilidade poderia começar a funcionar contra a sua
teleologia e razão de ser.
Ex: O princípio abrange toda a matéria relativa ao tipo de ilícito ou ao tipo de culpa, mas já não abrange a matéria
relativa às causas de justificação ou de exclusão de culpa.
Plano da Fonte:
Relacionado com a exigência de lei formal: só uma lei da AR ou por ela competentemente autorizada pode definir
o regime dos crimes, das penas e das medidas de segurança.
Problemas:
2. Saber se a exigência de legalidade no plano da fonte deverá abranger só a lei penal stricto sensu ou deverá
abranger também a lei extra-penal, na medida em que esta venha a ser chamada pela lei penal à
fundamentação ou agravação da responsabilidade criminal.
- Para esta fundamentação ou agravação serve-se muitas vezes a lei penal de procedimentos de reenvio para
ordenamentos jurídicos não penais (administrativo, civil etc). Nestes ordenamentos não vale um princípio de
legalidade equivalente ao que aqui se considera e onde, por isso o Governo e a AP têm competência geral,
pelo menos mais lata do que em matéria penal, para legislar.
Exemplo prático:
Norma que tem a pena (estatuição) e apenas parte da previsão (tem o crime, o comportamento criminoso)
A outra parte da previsão há de estar numa outra base normativa
Grande questão é saber o que é que tem de estar na norma penal em termos de previsão para que esta seja
constitucional
Lei prévia:
Lei estrita:
1. Tem a ver com a reserva de lei relativa da AR - é um certo tipo de lei art 165º/d) CRP
Lei penal tem de ser feita pela AR ou pelo Governo através de autorização da AR
2. Proibição da analogia - se a CRP diz que só a AR é que pode criar crimes então, por definição, a contrario, está a
dizer que o tribunal não pode ter uma atividade criativa de definição de crimes
Art 1º CP - A aplicação analógica é criativa e inovadora porque na verdade aquela norma não se aplica àquele
caso concreto - aplicamos analogicamente porque consideramos que aquele caso é parecido com os que estão
na lei - há uma inovação - aplicação a casos que não estão lá previstos
Lei certa:
- Reserva de lei
- Principio da culpa:
Diz que o agente só pode responder por um crime e portanto ser sujeito a uma pena se puder ser
pessoalmente censurado por esse comportamento - se tiver culpa - apenas existe responsabilidade subjectiva
em direito penal, ao contrário do que se passa em direito civil
A culpa tem 2 dimensões:
1. O agente conhecer ou pelo menos ter condições para conhecer que o seu comportamento é ilícito - caso
contrário não pode ser censurado
Se a norma penal não for certa, pode por em causa as condições para que o agente normal perceba o que é que
é o lícito e o que é que é proibido
A norma penal em branco pode afetar a consciência da ilicitude por não ser certa - afetar as condições que a
pessoa tem para ver o que é certo e errado
2. Capacidade de determinação pela norma - ninguém é capaz de se sacrificar para não praticar determinados
ilícitos
Ex: falsificar um cheque com uma arma apontada à cabeça
Questão terminológica:
Prof. Matos Viana:
Uma norma penal em branco é toda a norma que tem a estatuição e só tem parte da previsão
Há NPB que são constitucionais e outras que são inconstitucionais
Há outros autores que reservam a expressão NPB para aquelas que o MT considera inconstitucionais - assumem
que elas são sempre inconstitucionais
A ideia essencial é:
Quando o 165º/d) diz que a AR define o crime o que se está a dizer é que tem de definir os elementos essenciais e
o núcleo essencial do crime
O critério autónomo de ilicitude - que nos permite perceber qual o comportamento proibido e permitido - tem
de estar na norma penal
Inês Morais FDL Página 5 de 7
Temos de ver qual o critério
De tal forma que, a norma complementadora apenas vem concretizar, detalhar ou quantificar aquilo que já está
previsto na norma penal
Se, pelo contrário, a norma complementadora vier inovar e for ela a estabelecer o critério para distinguir o proibido
do permitido - o essencial do crime não estava previsto na norma penal - viola a CRP - assim o essencial do crime já
não é definido pela AR
Se olharmos para a norma complementadora e tivermos uma reação de surpresa está tudo estragado !
Não podemos esperar surpresa porque já deveríamos saber o que é o crime porque já lemos a norma penal em
branco - quando vamos ver a norma complementadora ficamos com uma ideia mais precisa mas não pode ser uma
surpresa
Conclusão: Critério autónomo de ilicitude tem de estar na norma penal em branco
Neste plano, (o tipo é formado pelo conjunto de elementos cuja fixação se torna necessária para uma concreta
observância do princípio da legalidade) importa que a descrição da matéria proibida e de todos os outros requisitos
de que dependa em concreto uma punição seja levada até a um ponto em que se tornem objetivamente
determináveis os comportamentos proibidos e sancionados.
Considerar crime a “opinião publica” tornaria supérfluo um grande número de incriminações dos códigos penais
mas não cumpriria minimamente as exigências inerentes ao princípio da legalidade.
A lei penal fundamentadora ou agravadora de responsabilidade tem de ser uma lei certa e determinada.