Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O presente ensaio é dedicado a relacionar o mundo complexo e a teoria do caos com a perda
da potencialidade instrumental do planejamento estratégico tradicional, este com seu enfoque
mais utilizado, as de projeções em longo prazo. As atitudes instrumentais, comuns aos
gestores foi abordada como herança da revolução da ciência moderna, principalmente baseado
no pensamento iluminista. Os estudos de Edward Lorenz e os conceitos sobre complexidade
de Morin serão base para o entendimento das mudanças que o mundo atual vem sofrendo,
impossibilitando as previsões que não sejam em curto prazo. Sendo assim, pensamentos
inovadores e contingenciais assumem o papel central na tomada de decisões, as organizações
devendo assumir um papel de fomentador da criatividade com as atitudes contingenciais
preponderantes para sobrevivência em um mundo turbulento como o de hoje. A proposta do
artigo é expor argumentos capazes de proporcionar futuras discussões relacionadas a
necessidade de transpor a racionalidade dita limitada e expor um modelo de planejamento
estratégico capaz de interagir com as constantes mudanças organizacionais, deixando uma
linha de pensamento provocadora aos leitores e principalmente aos administradores mais
conservadores.
Abstract
This paper is devoted to relate the complex world and chaos theory with the potential loss
of traditional instrumental in strategic planning, this approach with its most used, the long-
term projections. The instrumental attitudes, common to managers has been approached as
a legacy of the revolution of modern science, especially based on Enlightenment
thought. Edward Lorenz's studies and the concepts of complexity Morin will be the basis for
understanding the changes that the world today is suffering, precluding predictions that are
not in the short term. Therefore, innovative thinking and contingency assume the central
role in decision-making, organizations should assume a role of promoter of creativity with the
attitudes prevalent contingency for survival in a turbulent world like today. The aim of this
paper is to present arguments capable of providing future discussions regarding the need
to bridge the so-called limited rationality and expose a strategic planning model capable of
interacting with the constant organizational change, leaving a line of thought provoking to the
readers and especially administrators more conservadores.
1
Com o advento da globalização e dos avanços tecnológicos, todas as fronteiras, sejam
as de mercado, ou mesmo sociais, vem sofrendo um estreitamento e massivas relações de
mudanças.
O planejamento estratégico tradicional amplamente utilizado nos meios
organizacionais está diretamente ligado a visão e missão institucional, predizendo objetivos e
metas para longos períodos, geralmente mais de cinco anos (MINTZBERG, 2000). Este
instrumento determinístico foi difundido no meio organizacional, porém tem revelado pontos
de ineficiência diante um mundo cada vez mais inserido no contexto da complexidade.
Cenário este caracterizado por mutações e/ou distúrbios tanto internos como externos, e
percebidos em toda a cadeia econômico-social do globo.
Para Morin (1998) essa complexidade pode ser traduzida por uma extrema quantidade de
interações e de interferências entre um número muito grande de unidades que desafiam nossa
possibilidade de cálculo; mas a complexidade abrange também indeterminações e fenômenos
aleatórios, que convivem com uma parte de incerteza, seja na dimensão do nosso
entendimento ou inscrita nos fenômenos.
Aliado a esta premissa da complexidade há um dos conceitos-chave da Teoria do
Caos, o qual afirma que diante da impossibilidade de se fazer previsões de longo prazo, são
necessárias uma adaptabilidade às condições momentâneas e uma rápida reação às
adversidades impostas pelo ambiente. Além disto, ela prevê a possibilidade de se guiar por
padrões e leis simples, ainda que estes não determinem a possibilidade real de se fazer
previsões exatas, como afirma Wood (2008):
6
sobrevivência. Para Morin (1998), a maior descoberta do século é que a ciência não é o reino
da certeza.
Na busca pela melhor forma de entender as mutações do mercado, as teorias
administrativas transcendem suas fronteiras em busca da interdisciplinaridade capaz de
fomentar as respostas necessárias aos seus problemas. Uma vertente da física e matemática
vem sendo amplamente difundida na administração para explicar a mutabilidade do cenário, a
Teoria do Caos, que segundo Gleick (1991), significa estabelecer um padrão organizado para
a desordem aparente.
A referida teoria se baseia em complexos cálculos matemáticos que remetem na
administração organizacional na impossibilidade de se prever acontecimentos que não seja de
curtíssimo período.
Conforme Gleick (1991), o matemático francês Jules Henri Poincaré (1985-1912),
precursor da teoria do caos, através de sutis mudanças decimais em fórmulas determinísticas,
concluiu que pequenas mudanças podem ser a causa de grandes efeitos. Na mesma linha de
pensamento, as descobertas do meteorologista Edward Lorenz, considerado pai da Teoria do
Caos, através de estudos realizados no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT),
determinou ser impossível prever o tempo em longo prazo com precisão, e que pequenas
mudanças no clima podem causar catástrofes mais a frente. Utilizando um computador de
aproximadamente oitocentos quilos, Lorenz projetou um sistema de mapeamento do
comportamento das nuvens, mas com a análise dos dados pensou ter cometido algum engano,
mas rapidamente percebeu que a discrepância havia sido em decorrência de números
digitados errados. Nos primeiros testes ele havia colocado números com seis casas decimais:
0,506127. Já em teste posteriores diminuiu o número para três casas decimais imaginando que
a diferença seria imperceptível. Quando os gráficos dos dados numéricos foram gerados foi
observado que o comportamento deles divergiam progressivamente, concluindo que pequenas
diferenças se propagam, gerando uma verdadeira bola de neve.
Os estudos de Poincaré e Lorenz deram origem ao conceito do “Efeito Borboleta”, que
recebeu este nome com base na metáfora de que o bater de asas deste inseto na Ásia, poderia
causar uma tempestade devastadora na América, características do comportamento de um
sistema caótico, no qual as variáveis mudam de forma complexa e errática, tornando
impossível fazer previsões além de um determinado ponto.
Assim, em meados dos anos 1960, a Teoria do Caos e juntamente com a Fractais,
Teoria das Catástrofes e Lógica Fuzzy (dentre outras), compuseram o que se chamou de
Teoria da Complexidade – surgindo assim a visão complexa do mundo. Nesta visão a
realidade é tida como inacabada, ou seja, é um infinito e caótico fluir, mas para isso é
necessário analisar a realidade a partir das conexões entre as partes, bem como entre tais
partes e o todo global. Como diz Torres (2005):
7
chamada Teia da Vida, na qual o homem é apenas uma das partes, e que se pressupõe não-
linearidade e diálogo entre as partes.
Aqui se observa um dos argumentos baseado em lógica científica para criticar a forma
tradicional de planejamento, demandando assim novas atitudes por parte dos estrategistas,
com atuação sistemática, situacional e contingente as turbulências inerentes ao meio
organizacional. Porque não faz mais sentido acreditar que o homem tem a capacidade racional
ilimitada de analisar todas as possíveis influências que seu planejamento pode sofrer ao longo
da execução. Vale ressaltar que a crítica aqui não é sobre o planejamento em si, mas ao
modelo tradicional de planejar que se propõe ser o máximo assertivo quanto às possibilidades
futuras.
Segundo a Teoria do Caos, os processos e as mudanças geram uma nova realidade,
pois cada processo atrai outro processo e cada mudança gera uma nova mudança. Assim, em
um contexto que envolve o humano, com sua ilimitada capacidade de fazer novos processos,
novas mudanças, novas conexões e novos significados são caóticos.
Portanto, sabendo que as organizações estão inseridas em um contexto caótico, é
preciso elaborar um planejamento cada vez mais de curto prazo, e, quando for de longo prazo,
considerar alguns elementos caóticos. Stacey (1991) diz que as organizações estão em
constante processo de retroalimentação entre indicadores de performance, seja no ambiente
interno (entre as pessoas de dentro da organização) ou seja interno/externo (entre pessoas de
dentro e de fora da organização). Ele afirma ainda que existem forças restritivas agindo na
organização (financeiras, físicas, psicológicas, de mercado e et cetera) que geram tensões
integradoras ou separadoras. Para Stacey (1991) a ordem gera desordem, ou seja, regras fixas
de comportamentos geram padrões ordenados e desordenados. E estes comportamentos são
previsíveis quanto mais aumentamos os parâmetros de controle do mecanismo. Ou seja, pode-
se não saber o que ocorre com cada pessoa que corre uma maratona, mas se sabe que todos os
corredores estão percorrendo o mesmo percurso.
Esta explanação pode ser observada no planejamento de longo prazo das organizações.
Se o futuro de curto prazo pode ser previsível e com padrões racionais e analíticos de ações, o
futuro de longo prazo é totalmente imprevisível e desconhecido, tornando as ferramentas
financeiras, modelos, e simulações de longo prazo ineficazes. O que se pode utilizar, são
padrões qualitativos similares para desenvolver novos padrões mentais para quando este
futuro chegar. Tal qual no exemplo anterior, seria como aumentar os mecanismos de controle
para saber qual o sentido da maratona, no caso das organizações seria como tentar observar
qual o sentido que está indo o mercado (ambiente externo) ou a cultura organizacional
(ambiente interno) (PAIVA, 2001).
As organizações criam e são criadas em um ambiente caótico, assim, o planejamento
de longo prazo passa a considerar as constantes influências e mudanças concomitantes ao
processo. Para se chegar a uma nova ordem, um período de instabilidade tem que ser
enfrentada, e neste caos as predições determinísticas do modelo tradicional de planejamento
perdem sua firmeza.
Considerações Finais
Referências
9
ACKOFF, R. L. Planejamento empresarial. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos,
1974.
BAUER, R. Gestão da mudança: caos e complexidade nas organizações. São Paulo: Atlas,
1998.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos.
Tradução Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996.
GLEICK, J. Caos – a criação de uma nova ciência. 4 ed. São Paulo: Campus, 1991.
HUERTAS, F. O método PES: entrevista com Carlos Matus (Giselda B. Sauveur, Trad.).
São Paulo. FUNDAP, 1996.
KOTLER, P. Administração de marketing. 10° edição, São Paulo, Prentice Hall, 2002.
MINTZBERG, H., AHLSTRAND, B., LAMPEL, J. Safári de estratégia. Porto Alegre, Ed.
Bookman, 2000.
MORIN, E. Complexidade e liberdade. São Paulo: Thot, Associação Palas Athena, 1998.
11