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O Código Civil de 2002 (CC/2002) é a LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 . Está disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm.
1) - EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE
Durante muito tempo a morte foi constatada de forma natural: com o cessar das
funções respiratória e circulatória de forma definitiva. Atualmente, entende-se que a
verificação da morte está relacionada com a ausência de atividade cerebral,
considerando que procedimentos e equipamentos médico-hospitalares podem prolongar
artificialmente a vitalidade de outros órgãos do corpo humano. Assim, é a morte
encefálica, constatada inequivocamente pela equipe médica, que marca o fim da
personalidade, ainda que alguns órgãos sejam mantidos artificialmente2.
Eutanásia
2
LÔBO, Paulo. Direito Civil: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 114.
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LEI Nº 9.434, DE 4 DE FEVEREIRO DE 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do
corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9434.htm
óbito, não pratica eutanásia. Não há dúvida de que a vontade do paciente (do indivíduo)
deve ser respeitada, pois esse é o campo da autonomia e da necessidade de respeitar o
consentimento informado do paciente, dois importantes princípios da bioética.
Utiliza-se o termo distanásia para referir a morte lenta, com grande sofrimento,
em que os potenciais benefícios do tratamento médico são nulos ou tão pequenos ou
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Projeto de lei 3002/2008. Regulamenta a prática da ortotanásia no território nacional brasileiro.
Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=386610
improváveis que não superam os seus potenciais malefícios. É importante ressaltar que
a vida é um direito do paciente e não um dever, não existindo razão jurídica capaz de
impedir a interrupção do tratamento que preserva artificialmente a dolorosa
sobrevivência do paciente. Não somente a vida deve ser digna, a morte também5.
E por fim, há a situação que provoca ainda mais debates nos campos moral,
ético e jurídico porque o paciente demanda a participação do médico para produzir a
morte, que não ocorrerá naturalmente. Ainda assim, se o paciente é maior, está
consciente e informado sobre as consequências de sua decisão, a vontade do paciente
deve ser respeitada. Já houve casos desta natureza no Direito Norte Americano, em que
o médico respondeu criminalmente por auxílio ao suicídio. Mas é preciso destacar que,
na ausência de lei sobre o assunto, "a avaliação jurídica da conduta do médico
dependerá da inequívoca caracterização da intenção e iniciativa do paciente, de
circunstâncias outras como a duração e a seriedade do acompanhamento clínico
efetuado pelo médico, para evitar-se a banalização de uma decisão drástica, que precisa
ser bastante refletida"6.
5
SCHREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. Rio de Janeiro: Editora Atlas, 2014. p.53.
6
SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação,
2018p. 118.
tentem reanimá-la por mais de cinco minutos, pois sabe que após esse tempo, caso
recupere os batimentos cardíacos, as sequelas são, normalmente, graves.
Comoriência
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Resolução CFM 1995/2012. Dispõe sobre as diretivas antecipadas de vontade dos pacientes.
Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2012/1995
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AMARAL, Francisco. Direito Civil: Introdução. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2018. p. 267.
acidente, não sendo possível prova médico-legal sobre a ordem real dos falecimentos, o
Direito vale-se da presunção que ambas morreram simultaneamente. Os atestados de
óbito de ambas consignarão o mesmo horário do falecimento. E, entre elas, não se
estabelecerá relação sucessória.
Ausência
1) - curadoria dos bens do ausente. É preciso que alguém (curador) administre os bens
da pessoa que desapareceu. Trata-se de mero administrador e não representante legal
para cuidar da pessoa, como é o caso dos relativamente incapazes. Transcorrido um ano
da arrecadação dos bens (ou três anos, se o ausente tiver deixado administrador), os
interessados podem requerer a abertura da sucessão provisória.
3)- sucessão definitiva do ausente. Após dez anos do trânsito em julgado da sentença
que concedeu a abertura da sucessão provisória, os interessados podem requerer a
abertura da sucessão definitiva e a suspensão das garantias prestadas anteriormente.
Neste momento, os bens se consolidam no patrimônio dos herdeiros.
Veja que os prazos são longos, porque ao contrário das hipóteses que autorizam
a declaração de morte presumida, não há motivo que leve à crença no falecimento do
ausente logo no início da ação judicial declaratória de ausência.
Caso o(a) cônjuge do(a) ausente opte pela ação de divórcio, em virtude do
desaparecimento, o ausente será citado por edital, não se apresentará em juízo, mas o
magistrado proferirá o divórcio à revelia (sem a presença do cônjuge).
2) - DIREITOS DA PERSONALIDADE
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TEPEDINO, Gustavo. A Fundamentos do Direito Civil - Teoria Geral do Direito Civil - Vol. 1. Rio
de Janeiro: Editora Forense, 2020, p. 147.
A referência sobre a impossibilidade do exercício de algum direito sofrer
limitação voluntária, conforme transcrição acima do art. 11, é considerada anacrônica e
superada, pois a realidade cotidiana tem demonstrado o aumento de contratos
celebrados nos quais as pessoas concordam com certas limitações voluntárias aos
direitos da personalidade, como é o caso dos contratos de licenciamento do uso da
imagem celebrados por artistas, atletas, pessoas famosas.
generalidade - significa dizer que a todas as pessoas são assegurados tais direitos, pois
visam a garantir dignidade a todos.
efeito geral - se traduz na eficácia "erga omnes": sua observância se impõe a toda a
coletividade. Explicando melhor: somos titulares dos direitos à vida, nome, honra,
imagem, privacidade, etc e também temos a obrigação de respeitar esses mesmos
direitos alheios.
imprescritibilidade - esses direitos podem ser exercidos a qualquer tempo, ainda que
não tenham sido invocados por logo período de tempo.
Encerra-se aqui o estudo dos institutos jurídicos relacionados à pessoa física que
estão na parte geral do CC/2002. A seguir passe-se ao exame da pessoa jurídica,
também sujeito do direito.
3) - PESSOA JURÍDICA
Pode ser definida como a entidade a que a ordem jurídica atribui personalidade
distinta daquela de seus membros instituidores, sendo o termo personalidade aí
compreendido no sentido de aptidão para ser titular de direitos e obrigações, como você
estudou em aula anterior. Nesta direção, é consenso na doutrina jurídica que sua
utilidade principal está na distinção entre o seu patrimônio e os patrimônios de seus
integrantes, que, em regra, não respondem pelas obrigações contraídas pela pessoa
jurídica.
Esta regra está no art. 49-A do CC/2002: "A pessoa jurídica não se confunde
com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores". Parágrafo único: "A
autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e
segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício
de todos".
4) - DOMICÍLIO
A noção de domicílio não é importante apenas para o Direito Civil, mas para o
Direito em geral. É normalmente definido como a sede jurídica da pessoa 13. O domicílio
da pessoa natural, conforme o art. 70 do CC/2002: " é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo". Há dois elementos neste conceito: a residência e a
intenção de ali permanecer. O primeiro é o elemento externo; o segundo é o elemento
interno e psíquico.
Toda pessoa tem domicílio, já que na ausência de residência fixa, a lei determina
como domicílio "o local onde for encontrada" (art. 73 CC/2002). De outro lado, é
12
SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
p. 162.
13
AMARAL, Francisco. Direito Civil: Introdução. São Paulo: Saraiva Jur, 2018. p. 280.
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SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
p. 172.
possível que a pessoa tenha mais de um domicílio - hipótese de pluralidade. Verifica-se
quando a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerando-se domicílio seu qualquer delas (art. 71 CC/2002).
Domicílio profissional - está contemplado no art. 72 do CC, que dispõe: "É também
domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde
esta é exercida". Complementa o § único: "se a pessoa exercitar profissão em lugares
diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem".
Há neste caso uma análise finalística da relação. Por exemplo, uma pessoa mora no Rio
de Janeiro com a família, mas trabalha em Seropédica, na UFRRJ. Para qualquer
questão pertinente à atuação profissional, o domicílio é Seropédica.
A seguir há o exame dos bens, cujos dispositivos legais estão localizados no livro II
da parte geral do mesmo Código.
Em sentido amplo, bem é tudo aquilo desejado pelo homem a fim de atender a
seus interesses15. Quando esses bens são regulados pela ordem jurídica, tornam-se
qualificados, sendo considerados bens jurídicos. A doutrina civilista, normalmente,
utiliza os termos bens e coisas como sinônimos. Coisa ou bem é noção que contempla
tanto os objetos materiais (uma casa, por exemplo) quanto os imateriais (direitos
autorais) sobre os quais recaem interesses juridicamente protegidos. É comum
diferenciar as pessoas dos bens, dizendo que as pessoas têm dignidade e são sujeitos de
direitos; os bens são objeto do direito e têm valor econômico.
Antes de passar para a classificação dos bens, é importante destacar que não há
conceito unívoco de patrimônio, pois depende da circunstância em que se insere. Mas,
grosso modo, compreende o conjunto de coisas atuais, futuras, corpóreas ou
incorpóreas, além dos créditos e débitos que estejam sob a titularidade ou
responsabilidade de alguem.
Bens fungíveis "são aqueles que não se identificam pela individualidade, mas
pela quantidade e qualidade (são aqueles que se pesam, medem e contam); enquanto os
infungíveis têm individualidade própria".19 O art. 85 do CC/2002 definiu da seguinte
forma: "são fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade". Percebe-se, assim, que os bens fungíveis possuem entre si uma
relação de equivalência, por isso comportam substituição. Quando uma empresa compra
1 tonelada de café, o que deseja e sabe que receberá é: café (espécie), 1 tonelada
(quantidade) e da qualidade convencionada no contrato de compra e venda.
Bens infungíveis são aqueles que podem ser individualizados, o que impede que
outros bens da mesma natureza sejam entregues em substituição e a obrigação (o
contrato) seja cumprido. Quando uma obra de arte é arrematada em um leilão, o
comprador somente aceitará receber a obra de arte efetivamente comprada.
Consumíveis são os bens móveis cujo uso importa na destruição imediata de sua
substância, como por exemplo, os alimentos, sendo também considerados tais aqueles
destinados à alienação. Neste último caso, a doutrina jurídica chama de
"consumibilidade jurídica", como se verifica com os livros destinados à venda em uma
livraria. Inconsumíveis são os bens cuja utilização se prolonga no tempo, pois são de
uso constante, como os eletrodomésticos.
5) - Principais e Acessórios
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SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
p. 188.
Ao contrário das demais, esta classificação considera os bens reciprocamente.
Assim, bem principal é aquele que existe "sobre si, abstrata ou concretamente";
enquanto bem acessório é "aquele cuja existência supõe a do principal (art. 92 CC). O
verbo "existir" na definição legal precisa ser melhor explicado: "existir, neste caso, quer
dizer preencher os seus fins, preencher a sua função econômica. As rodas de um veículo
podem existir separadamente do veículo, mas dizemos que elas são acessórios do
veículo porque não preenchem o seu fim senão ligadas a ele.21
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
p. 191.
Em um segundo momento, você aprendeu sobre os bens jurídicos, que podem
ser materiais (uma casa, um carro, um boi) ou imateriais. Aprendeu ainda a distinguir as
diversas espécies de bens jurídicos, sejam móveis ou imóveis (carros ou
apartamentos), divisíveis ou indivisíveis (cereais ou obras de arte).
A próxima aula, última desta unidade II, será dedicada aos aspectos mais
relevantes sobre a nova teoria contratual e as relações de consumo.