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PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Ana Maria Morales Crespo (Lia)

Jornalista e presidente do Centro de Vida Independente Araci Nallin

lia@uol.com.br

No Brasil, segundo estimativas da ONU, aproximadamente 10% da população são


constituídos de pessoas que possuem algum tipo de deficiência física, sensorial
ou mental, isto é, são cerca de 16 milhões de pessoas que, em virtude de sua
deficiência, têm dificultada ou impedida, total ou parcialmente, a realização de
suas atividades particulares ou sociais.

Se considerarmos que para cada uma dessas pessoas existem pelo menos três
outras (parentes, amigos, profissionais da área da saúde, fornecedores de
equipamentos auxiliares etc) diretamente envolvidas e/ou interessadas no
assunto, verificaremos que praticamente 1/3 da população brasileira é, em maior
ou menor grau, de uma forma ou de outra, afetado pelas questões que dizem
respeito às pessoas com deficiência. Portanto, ao contrário do que se poderia
imaginar numa primeira impressão, a equiparação de oportunidades e a inclusão
das pessoas com deficiência interessa a muita gente, e não apenas a uma
minoria.

Segundo o Programa de Ação Mundial Relativo às Pessoas com Deficiência,


aprovado pela ONU, equiparação de oportunidades é "o processo através do
qual o sistema geral da sociedade, tais como os ambientes físicos e culturais, a
moradia e o transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades
educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações
esportivas e recreativas, é tornado acessível para todos".

É, portanto, através da equiparação de oportunidades que a inclusão é


assegurada aos portadores de deficiência. O acesso inclusivo aos benefícios
oferecidos pela sociedade é — cada vez mais — considerado como a pedra de
toque do grau de desenvolvimento de uma cidade ou um país.

NEM COITADINHO, NEM SUPER-HERÓI

Para lograr êxito na busca de uma nova sociedade mais justa e fraterna, as
pessoas com deficiência, organizadas em suas entidades representativas,
romperam grossas e profundas camadas de preconceitos, existentes desde os
tempos bíblicos, e construíram, a partir de um alicerce inovador, uma forma
diferente de pensar o deficiente e a deficiência.
Este novo pensar exigiu toda uma nova filosofia de atuação, um novo vocabulário,
e — o mais importante — trouxe uma imagem mais real das pessoas com
deficiência.

Esta imagem revolucionária tornou-se uma peça imprescindível no edifício da


inclusão, já que, até então, existiam conceitos inteiramente equivocados, segundo
os quais havia apenas dois tipos de deficientes: o coitadinho e o super-herói.

Basicamente, essas duas imagens são faces de uma mesma moeda. O deficiente
coitadinho seria incapaz para tudo, inclusive e especialmente para tomar suas
próprias decisões, ou seja, é um ser digno de pena. Já, o super-herói seria digno
de grande admiração, em virtude de sua grande coragem e imensa força de
vontade.

Estas duas visões — embora diferentes — inspiram, cada uma a seu modo,
atitudes sempre danosas para inclusão e a dignidade dos portadores de
deficiência. De um lado, a imagem de coitadinho inspira atitudes paternalistas,
assistencialistas e caritativas, ou seja, exclui toda noção de respeito aos mais
básicos direitos como, por exemplo, o da autodeterminação.

De outro lado, a visão de super-herói induz a que se desconsidere a necessidade


de a sociedade remover os obstáculos que dificultam a vida dos deficientes, já que
a força de vontade, a coragem e a determinação dessas pessoas seriam
suficientes para que fossem bem-sucedidas na vida e, em decorrência, serem
integradas à sociedade. Neste caso, a noção de cidadão com direitos também é
excluída.

Do coitadinho espera-se submissão, humildade e gratidão. Do super-herói se


exige que seja superesforçado, supercompentente, superempregado, enfim, uma
superpessoa. Sendo que a admiração pelos super-heróis não dispensa uma certa
dose de pena, pois muita vez o que se ouve são frases do tipo: "Coitado, apesar
de tudo, veja como ele é corajoso e determinado!"

Substituir essas imagens equivocadas por uma outra mais real não é tarefa fácil,
principalmente, porque o preconceito que existe na sociedade em relação aos
portadores de deficiência, obviamente, também foi introjetado pelos próprios
deficientes que, sem perceberem a armadilha que isso significa, assumem para si
essas imagens estereotipadas e passam a adotar posturas tão injustas para si
mesmos quanto totalmente contraproducentes para a causa das pessoas
deficientes. Portanto, a conscientização da sociedade sobre quem são realmente
as pessoas com deficiência tem de incluir, necessariamente, os próprios
deficientes.

No Brasil, a demolição das antigas visões e a lenta, mas firme, construção de uma
imagem mais real tiveram início quando, no final da década de 70, pela primeira
vez, os portadores de deficiência desautorizaram seus antigos porta-vozes — ou
seja, os religiosos, os médicos, os psicólogos, enfim, os profissionais e
beneméritos de plantão— de falarem por eles. Os deficientes passaram a falar por
si mesmos e exigiram ser ouvidos.

Ombro a ombro, com os demais cidadãos, as pessoas com deficiência iniciaram e


disseminaram por todo o País uma nova imagem. Tomaram em suas próprias
mãos o seu destino.

Embora, os preconceitos ainda estejam muito presentes, permeando as relações


entre deficientes e não deficientes, é certo que uma nova postura diante dos
cidadãos com deficiência está sendo gradativa, mas sistematicamente, assimilada
pela sociedade. Nem coitadinho, nem super-herói. Apenas uma pessoa comum,
com potencialidades de desenvolvimento e algumas dificuldades específicas.

OS DIREITOS

Os direitos das pessoas deficientes são exatamente os mesmos dos demais


cidadãos. O que ocorre, no entanto, é que para os deficientes exercerem muitos
desses direitos torna-se indispensável a adoção de medidas especiais. O
exercício pleno do direito de ir e vir das pessoas com deficiência, por exemplo,
quase sempre depende da remoção das barreiras ambientais.

Não existe uma escala de valores em relação à importância dos direitos das
pessoas deficientes que devem ser observados e cujo exercício devem ser
garantidos para que a sua inclusão seja assegurada. Não é possível abrir mão de
um deles, sem prejuízo de todos. O exercício dos direitos deve ser garantido de
forma integrada aos demais cidadãos. Soluções segregadas somente deverão ser
toleradas quando for impossível conciliar a inclusão e os interesses efetivos da
pessoa com deficiência.

TRANSPORTE

Os ônibus devem ser dotados de degraus mais baixos, corrimãos mais adequados
e, sempre que possível, até mesmo, devem ser dotados de elevadores que
permitam o acesso de cadeiras de rodas. As estações de metrô devem possuir
elevadores, rampas e pisos antiderrapantes. Os trens devem ter lugares
adequados para que cadeiras de rodas possam ser fixadas com segurança. Os
ônibus devem ter assentos preferencialmente reservados aos deficientes.

As catracas devem permitir o acesso de pessoas com cadeiras de rodas ou


bengalas. Pois, obviamente, não de trata de deixar de pagar a passagem, mas sim
de garantir condições adequadas para que os deficientes possam pagar e usar
com independência, segurança e dignidade os transportes públicos. O direito de
locomover-se com independência é de importância capital, pois seu exercício, na
maior parte das vezes, é pré-condição para os demais.
De acordo com o conceito de inclusão, soluções segregadoras devem ser evitadas
a todo custo. No entanto, a questão do transporte, dada sua importância, precisa
ser encarada realisticamente, e, neste caso, até soluções especiais, como
transporte porta a porta específico para deficientes, e condições que facilitem aos
portadores de deficiência a aquisição de veículos particulares, são admitidas e
bem-vindas.

Nesta questão, creio que devemos ser ecléticos. Todas as formas de transporte
podem ser boas, dependendo das necessidades, condições e limitações
existentes. O importante é poder sair e chegar.

SAÚDE E REABILITAÇÃO

Os serviços públicos devem estar capacitados para, na sua própria comunidade e


junto da sua família, prestar atendimento integral à saúde dos deficientes. Este
atendimento deve incluir desde a prevenção precoce de deficiências até a
concessão de tecnologia assistiva, tais como cadeiras de rodas, bengalas etc. É
importante que os serviços sejam oferecidos de forma descentralizada para que o
deficiente possa ser atendido em locais próximos à sua residência, facilitando sua
locomoção.

Serviços em locais exclusivamente destinados a pessoas deficientes devem ser


restritos a casos muito específicos, por tempo limitado e apenas quando isto for
absolutamente necessário para a melhoria das condições da pessoa com
deficiência. Mas, mesmo nesses locais segregados é imprescindível que o
deficiente conviva e participe de atividades integradoras e adequadas a pessoas
de sua faixa etária, reproduzindo, na medida do possível, a vida em comunidade.

Quer oferecidos em locais segregados ou em locais partilhados com os demais


cidadãos, os serviços de saúde e de reabilitação devem necessariamente
entender o usuário portador de deficiência como um indivíduo, cujas
características e vontade pessoais têm de ser levadas em consideração.

É imprescindível que se tenha a clareza de que qualquer pessoa somente será


realmente reabilitada na medida em que for incentivada a participar plenamente de
todas as decisões que envolvam o seu processo de reabilitação.

Imaginar que pessoas submetidas a um programa autoritário de reabilitação


possam sair reabilitadas da instituição é um erro crasso. Se a pessoa, dentro da
instituição, não puder decidir sobre seu próprio corpo, com certeza, quando estiver
fora dela também não estará apta a decidir sobre sua vida, logo, não estará
reabilitada.

Portanto, é falsa a afirmação feita por muitos profissionais de que a instituição


reabilita, mas a sociedade não está preparada para receber o deficiente.
A instituição está inserida na sociedade, portanto, é seu dever também influir na
realidade exterior aos seus muros, mas isso somente será possível quando ela
compreender que também é seu dever perceber o usuário de seus serviços como
uma pessoa plena de direitos, como um indivíduo único, e não como um tipo de
deficiência que receberá um tratamento padronizado, cujo único direito é o de
obedecer às decisões tomadas pelos "especialistas".

Além da atuação dos serviços públicos e das instituições, a comunidade também


pode e deve estar presente. A Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC), ou
reabilitação simplificada, é um conceito segundo o qual a própria comunidade
mobilizada se responsabiliza pela implantação de um programa comunitário de
reabilitação. Nesse modelo de atendimento, algumas pessoas — incluindo as
pessoas deficientes — são treinadas para prestar atendimento de reabilitação
àquelas cujas deficiências não necessitam de recursos mais sofisticados.
Programas desse tipo têm sido implantados em diversos países em
desenvolvimento, incluindo o Brasil, com grande sucesso.

EQUIPAMENTOS

A obtenção dos equipamentos auxiliares, na maior parte das vezes, é condição


indispensável para que a pessoa deficiente tenha uma vida tão satisfatória,
independente e inclusiva quanto possível. A concessão desses equipamentos por
parte do poder público, portanto, deve ser considerada parte integrante e
inseparável do processo de reabilitação ou habilitação de uma pessoa com
deficiência. A concessão jamais deverá estar revestida de um caráter
assistencialista. Ao contrário, deve ser reconhecida como um direito e é nessa
condição que devem ser fornecidos os equipamentos.

EDUCAÇÃO

Em virtude das limitações impostas pela própria deficiência e pelo despreparo da


sociedade, a ausência da educação formal assume proporções dramáticas
quando se trata de pessoas com deficiência. O acesso à educação não garante
mas, com certeza, aumenta consideravelmente as chances de um deficiente obter
uma profissão e um emprego.

Naturalmente, este direito deve ser exercido na rede regular de ensino, em


escolas comuns, em classes comuns, com professores comuns. Recursos
pedagógicos especializados podem e devem ser utilizados quando forem
necessários para garantir a melhor compreensão do aluno. Mas, esses recursos
devem visar sempre a inclusão do aluno com deficiência ao currículo comum e ao
convívio com os colegas não deficientes.

As escolas devem ser preparadas para receber a pessoa com deficiência, tanto no
que se refere ao ambiente físico, através da remoção das barreiras ambientais,
como no que se refere às atitudes de todos os envolvidos. Mas, isso não significa
que os professores, colegas e funcionários devam fazer um curso universitário
especial para lidar com os alunos portadores de deficiência.

Muito ao contrário, tudo deve ser feito no sentido de que a convivência seja a mais
natural possível, sem nenhum tipo de ritual mirabolante. Simplesmente, é
importante que o corpo docente e os funcionários tenham acesso a uma
orientação específica que permita uma solução adequada e criativa para as
dificuldades diferenciadas do portador de deficiência, quando e se elas surgirem.

Em relação ao aluno portador de deficiência, basicamente, basta respeitar, apenas


na medida exata, os seus limites, sem deixar de ao mesmo tempo reconhecer,
estimular e valorizar as capacidades. De resto, deve ser incentivada a mesma
conduta que qualquer bom professor deve ter em relação a todos os seus alunos,
ou seja, tratar cada um deles como um indivíduo, portanto, diferentes entre si e
com diversas dificuldades e potencialidades.

Não considero que cursos universitários que formam professores especializados


em alunos com deficiências sejam realmente benéficos para a educação e a
inclusão das pessoas deficientes. Suspeito mesmo que a existência desses cursos
complicam mais a situação, pois disseminam a idéia de que uma professora de
primeiro grau tem de fazer curso superior para ser capaz de aceitar um aluno
deficiente em sua classe. Desconfio que esses cursos propagam mais
preconceitos do que trazem benefícios.

A convivência na escola, como primeira oportunidade socializante oferecida às


crianças em geral, adquire extrema importância quando se trata de crianças com
deficiência e sua integração na sociedade. A escola revela-se uma oportunidade
muito boa para que a criança com deficiência aprenda a lidar com suas limitações
de forma sadia e natural.

Por outro lado, as crianças não deficientes, em geral, costumam lidar muito bem
com a deficiência de um coleguinha. Com certeza, a criança que conviveu com um
amigo deficiente terá maiores chances de ser um cidadão menos preconceituoso.

Obviamente, não apenas na infância a educação deve ser inclusiva. Deve-se


perseguir este ideal em todos os níveis. E a experiência tem demonstrado que não
há limites para os benefícios decorrentes desta oportunidade de convivência
integrada.

CULTURA, LAZER E ESPORTE

O acesso aos bens culturais, aos equipamentos de lazer e de práticas esportivas,


de forma inclusiva aos demais usuários, é também um direito dos portadores de
deficiência. As bibliotecas, os teatros, os museus, os parques, as quadras
esportivas, os bares, restaurantes, cinemas etc devem ser adequados para
permitir o acesso independente de pessoas com deficiência.
Muitas vezes, pequenas reformas podem ser efetuadas visando proporcionar esse
acesso. Rampas no lugar de escadas, pisos antiderrapantes, portas mais largas,
corrimãos adequados podem ser tudo o que é necessário em alguns lugares.

Quase sempre basta uma mudança de mentalidade para que alternativas


propiciem a convivência integrada. Idéias criativas podem permitir aos cegos sentir
uma estátua, um animal ou uma planta. Criatividade, muitas vezes, é a palavra-
chave.

TRABALHO

Sem dúvida, parece quase utópico falar no direito ao trabalho das pessoas
deficientes, num pais com milhões de não deficientes desempregados. No
entanto, a verdade é que se considerarmos os deficientes como cidadãos tão de
primeira classe quanto qualquer outro, não podemos nos intimidar com a triste
realidade do desemprego atual no País.

É um fato que os deficientes têm direito ao trabalho. É certo que eles precisam do
emprego para ter autoconfiança, para sua realização pessoal, para serem
respeitados, para se sentirem cidadãos úteis à sociedade e, sobretudo, para
ganhar dinheiro para o seu sustento e o de sua família. E é também um fato que a
mão-de-obra constituída pelos portadores de deficiência tem qualidade. Eles,
contrariando muitos preconceitos, são empregados tão ou mais produtivos que os
não deficientes.

E o que é necessário para que esse direito possa ser exercido pelas pessoas
deficientes? Basicamente, é preciso que as pessoas com deficiência sejam
preparadas para exercer uma profissão, possam chegar até o emprego e tenham
condições de se locomoverem no seu local de trabalho, através da remoção das
barreiras ambientais. Mas, é óbvio, sobretudo, é preciso que o empregador
acredite que aquele é um empregado tão bom quanto o melhor que ele pode
empregar. E, se por acaso aquele não atender suas expectativas, é preciso ter em
mente que isto também ocorre em relação aos funcionários não deficientes,
portanto não há razão para agir com preconceito e fechar as portas de sua
empresa para os demais candidatos portadores de deficiência.

A experiência tem demonstrado claramente que os deficientes, considerando-se


todos os tipos e graus de deficiência, podem trabalhar com eficiência em
praticamente todas as áreas.

O acesso ao mercado de trabalho é uma das formas mais eficazes de


proporcionar condições de inclusão a uma pessoa deficiente. Equiparação de
oportunidades para conseguir e manter um emprego é uma condição
indispensável se quisermos construir uma sociedade mais justa e democrática.

Hoje, sabemos que cada vez mais devem ser abandonadas as formas de
emprego segregado. Mesmo as pessoas com deficiências mais severas podem e
devem ser integradas no mercado competitivo de trabalho. Novos conceitos, como
o de "Emprego Apoiado", que inverte a relação treinar antes/empregar depois, têm
demonstrado que o trabalho protegido deve ser entendido apenas como um
brevíssimo estágio — e, mesmo assim, somente em casos e condições de
deficiências muito específicas.

ACESSO AMBIENTAL

Este direito permeia quase todos os outros. A eliminação de barreiras ambientais


é fundamental para que uma pessoa com deficiência possa inserir-se na
sociedade e exercer de forma integrada os seus direitos de estudar, locomover-se,
trabalhar, divertir-se, praticar esportes, trabalhar etc.

Alguns itens que asseguram o acesso ambiental às pessoas com deficiência são:

• guias rebaixadas

• rampas suaves

• corrimãos

• pisos antiderrapantes

• calçadas conservadas e livres de obstáculos

• portas mais largas

• sanitários acessíveis a cadeira de rodas

• elevadores

• mesas que encaixam cadeiras de rodas

• corredores mais largos

ACESSO AO VOTO

O direito de votar e ser votado, embora seja assegurado legalmente às pessoas


com deficiência, muitas vezes é um direito cerceado por barreiras físicas ou
atitudinais. Só recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral garantiu que os
eleitores portadores de deficiências solicitem a transferência de seus títulos para
seções sem barreiras arquitetônicas. Mas, para obter o êxito desejado, esta
medida ainda carece de divulgação mais ampla.

Existem, ainda, aqueles que, em virtude de sua deficiência, não conseguem


escrever nem marcar um X na cédula, embora sejam pessoas perfeitamente
alfabetizadas e cidadãos atuantes em sua comunidade.

A burocracia tem impedido sistematicamente que se busquem soluções para estes


problemas. Enquanto isso, milhões de cidadãos deficientes ansiosos por exercer
seu direito de eleger seus candidatos são impedidos de fazê-lo.

ACESSO À COMUNICAÇÃO

Os deficientes visuais e auditivos têm seus direitos de cidadãos cercados em


virtude da dificuldade que encontram para se comunicar e receber informações. O
atendimento pedagógico especializado nas escolas comuns, neste caso, é
fundamental para que os deficientes sensoriais usufruam plenamente da
educação inclusiva, sem prejuízo de um aprendizado satisfatório.

Além disso, o direito à informação também pode ser garantido através de


publicações em braile ou programas legendados na TV. Além disso, é importante
que cada vez mais se dissemine a prática de providenciar intérpretes da língua
dos sinais nos eventos públicos, bem como versões em braile de programas de
peças teatrais, concertos musicais etc.

SEXUALIDADE

Ter uma vida sexual ativa é um direito inerente a todos os seres humanos e,
obviamente, isto não é diferente em relação aos portadores de deficiência.

Cada vez mais os educadores certificam-se de que a informação é fundamental


para que qualquer pessoa possa ter uma vida sexual sadia. No caso das pessoas
com deficiência esta necessidade torna-se quase uma exigência, já que aos
preconceitos ligados à sexualidade somam-se aqueles relacionados à deficiência.
E para desfazer esses mitos a informação correta é absolutamente indispensável.

Manter os deficientes na ignorância sobre sua sexualidade e as formas


socialmente aceitáveis de vivenciá-la não lhes garante uma vida mais protegida
nem mais feliz. Muito ao contrário, é a informação, na medida e na forma
adequada, que poderá assegurar aos deficientes — seja qual for o seu tipo de
deficiência, incluindo a mental — uma vida mais satisfatória, além de proporcionar-
lhes condições para se defender de possíveis tentativas de abuso.
Embora a deficiência possa ser a causa de alguma dificuldade concreta para uma
vida sexual ativa, é certo que as barreiras atitudinais são as principais
responsáveis quando um deficiente não é aceito como parceiro sexual, quer seja
com o objetivo de constituir uma família própria ou não. Na maior parte das vezes,
no entanto, em verdade, o que impede de fato os deficientes de exercerem sua
sexualidade são mitos sexuais que atrapalham a vida sexual de todo mundo, não
só dos portadores de deficiência.

A demolição desses preconceitos, através de um redimensionamento das formas


de expressão da sexualidade, com a adoção de uma abordagem mais realista e,
ao mesmo tempo, mais criativa, poderia trazer enormes benefícios para as
pessoas em geral e para aquelas portadoras de deficiência em particular.

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