A população brasileira passou, nas últimas décadas, por grandes transformações sociais que
culminaram na redução da pobreza e exclusão social e, consequentemente, da fome e da
desnutrição. Apesar disso, as deficiências de micronutrientes e a desnutrição crônica ainda são prevalentes em grupos vulneráveis da população. Concomitantemente, o Brasil vem enfrentando aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias, em que o excesso de peso acomete um em cada dois adultos e uma em cada três crianças brasileiras. Esse novo cenário pode ser atribuído, em grande medida, à alteração no padrão alimentar da população brasileira. A pandemia da COVID-19, uma doença infectocontagiosa causada pelo coronavírus (SARS-CoV-2) leva a síndrome respiratória aguda grave (SRAS),representou um dos maiores desafios sanitários mundiais no ano de 2020. Sabe-se que a SAN pode ser afetada pelos impactos sociais e econômicos da COVID-19, especialmente se considerarmos as situações de desigualdade social, de renda, étnico-racial, de gênero e de acesso a serviços de saúde. Conforme o Relatório Global sobre Crises Alimentares, estima-se que 135 milhões de pessoas apresentavam insegurança alimentar em 2019, mas devido aos efeitos econômicos e interrupções da cadeia de suprimentos decorrentes da pandemia da COVID-19 este número poderia aumentar, afetando especialmente os mais vulneráveis. Dessa forma, o papel do Estado é crucial para mitigar os efeitos da pandemia, com medidas de curto, médio e longo prazos, não apenas para o controle da COVID-19, como também das suas consequências. O presente Informe pretende referir as ações, em âmbito federal, estadual e municipal para a redução dos efeitos da pandemia que podem repercutir na segurança alimentar e nutricional, considerando as recentes mudanças institucionais das políticas e programas. 8 Para o enfrentamento desse novo cenário, se faz necessária a realização de ações de promoção da saúde pautadas na autonomia e no empoderamento do cidadão, além da necessidade de ampliação das ações intersetoriais que repercutam positivamente sobre os diversos determinantes da saúde. Nesse contexto, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), por meio de um conjunto de políticas públicas propõe respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde e à alimentação adequada e saudável. A PNAN está organizada em diretrizes (Figura 1) que abrangem o escopo da atenção nutricional no Sistema Único de Saúde (SUS) com foco na vigilância, promoção, prevenção e cuidado integral de agravos relacionados à alimentação e nutrição; atividades, essas, integradas às demais ações de saúde nas redes de atenção, tendo a Atenção Básica como ordenadora das ações. A implementação dessas diretrizes é compartilhada pelas três esferas de gestão do SUS, representadas pelo Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde dos estados, municípios e Distrito Federal, e é efetivada, também, por meio de diversas ações, estratégias e programas desenvolvidos nas Redes de Atenção à Saúde (RAS), como descritas adiante