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A Classe Operária
Otávio Brandão
Referência: Brandão Otávio. Combates e Batalhas: memórias volume 1. São Paulo: Alfa-Ômega,
1978. (pag. 301 a 318)
Grabois
Fonte: Fundação Maurício
Transcrição e HTML: Fernando A.
S. Araújo.
Direitos de Reprodução:
A Classe Operária
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Além de tudo isto, o fundador não tinha um real para iniciar o trabalho.
A linha de Lênin era: um jornal revolucionário deve ser escrito por alguns
jornalistas na redação e por milhares de colaboradores fora da redação, nos
locais de trabalho.
Em toda essa luta, Laura, como sempre, foi de absoluta dedicação. Inspirou
e animou o trabalho comum. Fez propaganda do jornal. Passou a limpo as canas
dos correspondentes operários e camponeses — tarefa difícil. Velou pela vida,
saúde e liberdade do esposo.
A redação legal ficava numa saleta à rua Marechal Floriano 172, 1.º andar,
junto à sede da Light. Eu diria, sorrindo:—- São as duas potências mundiais,
vizinhas: a classe operária e o imperialismo norte-americano!
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O diretor legal, oficial, mas não de fato, era o camarada Alcides Adett Brazil
de Matos, alfaiate cearense, fisicamente, parecia um chinês. Limitava-se a dar o
nome. No jornal, aparecia oficialmente assim: A. A. Brazil de Matos. Mas ele só
era conhecido por Alcides Adett. A polícia procurou o célebre Brazil de Matos.
Nunca o encontrou, embora ele morasse à rua dos Inválidos, pertinho da Policia
Central. Mesmo que descobrisse a habitação de Alcides, perderia o esforço.
Pouco depois do aparecimento do jornal, um incêndio casual destruiu o quarto
que Alcides
ocupava e todos os seus objetos. Restaram apenas cinzas e nenhum
vestígio.
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A Gávea recebia 120 exemplares. Juiz de Fora, 100. A cidade de São Paulo,
500.
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Com a tiragem inicial de 5 mil, cada exemplar custava 160 réis e era,
vendido por 100 réis. O déficit tinha de ser coberto pelos próprios trabalhadores.
Com a tiragem posterior de 11 mil, cada exemplar custava apenas 100 réis. Mas
com uma tiragem de 20 mil, cada exemplar custaria apenas 70 réis. Tudo isto foi
explicado aos trabalhadores. Suscitou muito entusiasmo pelo plano.
A batalha foi tensa e intensa. Fiz toda uma série de trabalhos de pioneiro,
batedor, abridor de picadas.
Eu recebia o salário de 250 mil réis por mês, para quatro pessoas, véspera
de cinco.
A princípio, por causa da pobreza do jornal e por falta de gente para servir
gratuitamente, tive de acumular os cargos e as tarefas. Fui diretor, redator,
administrador, caixa, paginador, pacoteiro e expedidor
de A Classe Operária.
Depois, apareceram auxiliares gratuitos. Mas o trabalho aumentava sempre.
A própria base do PCB não sabia quem eram Albert Thomas e seu Birô. Na
massa operária, havia ilusões. Os sindicatos dos transportes, como o dos
estivadores, dirigidos por amarelos e policiais, abriram as portas a esse traidor.
Escapei por um triz. Fiquei escondido numa passagem, atrás de uma porta.
Assim, mais uma vez, livrei-me de ser preso e deportado para a Clevelândia. A
vigilância e a fidelidade dos operários salvaram o amigo.
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O PCB fez várias tentativas para fazer reaparecer o jornal. Em vão. No Rio de
Janeiro, nenhuma tipografia aceitou publicá-lo ilegalmente. Em São Paulo, havia
muita perseguição. O estado de sítio, um fato. A censura policial sobre os jornais
impediu a publicação de quaisquer noticias a respeito do fechamento. As
dificuldades políticas e técnicas foram insuperáveis.
O PCB era uma vanguarda que travava uma luta terrivelmente desigual
contra imensas forças coligadas. Apesar de tudo, continuou a batalha. Lançou
manifestos, panfletos, boletins, jornais avulsos. O fogo ficou sempre aceso. O
proletariado perdeu seu órgão. Mas não o esqueceu. Finalmente, a 1º de maio de
1928, A Classe Operária reapareceu, numa ascensão ainda maior!
Em Juiz de Fora
Mas o nível cultural era baixo, mesmo numa cidade industrial como Juiz de
Fora. Uma tecelã da fábrica Santa Cruz leu três vezes o Abecedário dos
Trabalhadores e o Abre teus Olhos, Trabalhador! Não os compreendeu.
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Neste sentido, com um grupo de operários, dei o primeiro passo para realizar
o plano. Mais um trabalho de pioneiro. Penetramos numa fazenda de café da
estação de Retiro, perto de Juiz de Fora. Fomos até a extrema
da fazenda, sem
dizer nada, como simples visitantes. Ao voltarmos, começamos o trabalho.
Falamos aos colonos e jornaleiros ambulantes (assalariados rurais temporários).
Distribuímos jornais, folhetos e manifestos entre eles. Chamamo-los à
organização e à luta por melhores condições de vida e trabalho.
Assim, mais uma vez, fiz um trabalho de abridor de picadas. Tomei parte
ativa em fatos novos na História do Brasil: um curso para os operários do
interior; a agitação e propaganda à porta das fábricas e oficinas de Minas Gerais;
a distribuição de materiais entre os peregrinos de Congonhas; o envio de grupos
de comando, formados por operários das cidades, que foram fazer propaganda
entre os trabalhadores rurais; a realização de um comício dentro de uma fazenda
de café, em nome do PCB; trabalhadores rurais assinarem um protesto dirigido
ao ministro da "Justiça", contra o fechamento de A Classe Operária.
De Volta ao Rio
Voltei à cidade do Rio Janeiro. Reli e meditei, no livro de Lênin - Que Fazer?
as páginas sobre os revolucionários profissionais.
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Fonte
Inclusão 22/01/2015
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