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RANGER, Terence O.

Iniciativas e resistência africanas em face da partilha e da


conquista. História Geral da África, v. 7, p. 1880-1935, 1880.

Terence Osborn Range é um historiador britânico, que viveu em Zimbábue e na Rodésia, tendo
contribuições historiográficas, especialmente sobre essas regiões, no período da ocupação e
colonização europeia na África. O autor parte da perspectiva teórica pós-colonial e trabalhou
em pesquisas como, a invenção das tradições com o historiador Anglo-Egípcio, Eric
Hobsbawm.

Neste capítulo, o autor contextualiza um longo período de dominação e resistência que se inicia
com a ocupação europeia, de 1880 a 1890, até a colonização mais intensa, a partir de 1910 e
1935. Seu objetivo também é analisar como as diversas atividades de resistência africana à
conquista europeia não foram um processo uniforme, nem pacífico, mas que se opuseram
desde o início às estratégias de colonização.

Podemos destacar alguns elementos importantes que auxiliaram o triunfo do colonialismo, tais
como, armas de fogo, ferrovias, telegrama e navio a vapor; tecnologias resultantes da revolução
industrial. O processo de criação dos estados nacionais europeus levou à consolidação de
exércitos nacionais fortes compondo forças e oficiais dispostos a estabelecer a dominação de
seus países em territórios africanos. O vazio demográfico, entre o século XV e o XVIII, fruto da
escravidão proveniente da dominação Árabe deixou um vazio em algumas regiões africanas,
além da escassa possibilidades de recursos e teconologias de guerras, o que prejudicou muito
ações de resistência de alguns povos nativos. Tais elementos formam fundamentais e
representavam uma grande vantagem em relação a capacidade de dominação dos países
colonizadores.

Apesar das desvantagens, o autor aponta alguns fatores fundamentais para se entender a
longa e permanente resistência africana à colonização: a não resignação à conquista como
processo inevitável, a presença de organização e fundamentação intelectual e política nas
ações e a significativa ressonância que tais movimentos tiveram no passado e seguem tendo
na atualidade. As múltiplas resistências dos povos africanos foram intensas e decisivas para
processos posteriores de independência e libertação.

Neste sentido, cabe ressaltar que as narrativas europeias em relação à resistência africana,
vindas de concepções historiográficas tradicionais e, portanto, eurocêntricas, tendiam a afirmar
que os movimentos de resistência eram desorganizados e irracionais. O autor se opõe a essas
afirmações e aponta que, novos estudos historiográficos feitos nos últimos vinte anos,
demonstram que as chamadas rebeliões e revoltas eram fruto de organização e análise das
condições de vida. Podemos considerar como argumentos dessa afirmação: a longevidade das
ações de resistência, a presença de atividades de resistência tanto em sociedades organizadas
pelo estado, como em sociedades não organizadas pelo estado, nesse caso, resguardando-se
as diferentes intensidades de tais ações.

A tese do autor do texto é de que muitas lutas de resistência tiveram seu centro de
coordenação lideradas por chefes religiosos. Desta forma, os movimentos de libertação
anteciparam e anunciaram, também messianicamente, um futuro onde a independência e a
soberania foram projetadas com bases em ideologias proféticas. Desta forma, o autor do texto
se coloca em oposição às narrativas que descreveram as ações políticas africanas como
“magia do desespero”, ou seja, fruto de uma estrutura de pensamento mística sem conexão ou
interlocução com a realidade política e histórica do colonialismo na África. Além da perspectiva
de libertação da dominação europeia, os movimentos armados contra o colonialismo também
defendiam bandeiras antiautoritárias contra os líderes locais e nacionais. Neste caso, para o
autor, a resistência vai além e molda de forma significativa os conceitos de soberania e
autodeterminação dos povos.

Portanto, a resistência religiosa e metafísica africana descrevem um cenário não ocidental onde
política e cosmologia são vivenciadas numa correlação expressa pelas ações e pelo
pensamento intelectual africano, criando sua maneira própria e original de pensar e atuar
politicamente pela libertação e soberania de seus povos.

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