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Resumo:
A partir do pensamento da tradição marxista, principalmente da obra do Engels, “A origem
da família, da propriedade privada e do Estado”, este artigo apresenta a discussão do
surgimento da propriedade privada e o desenvolvimento de uma cadeia de acontecimentos
na vida do homem como: classes sociais antagônicas, Estado e a família monogâmica. A
propriedade privada, enquanto uma relação social, surgiu a partir da apropriação privada do
excedente econômico, esse possibilitado pela invenção da agricultura e da domesticação e
criação de animais.
Abstract:
From the thought of the Marxist tradition, especially of Engels work, "The Origin of the
Family, Private Property and the State", it presents the appearance of the discussion of
private property and the development of a chain of events in the life of man as antagonistic
social classes, the state and the monogamous family. Private property as a social
relationship, emerged from the private appropriation of the economic surplus, this made
possible by the invention of agriculture and the domestication and breeding.
1 INTRODUÇÃO
1
Para um estudo aprofundado sobre o surgimento e desenvolvimento do gênero Homo, conferir a obra de
LEAKEY, Richard E. A origem da espécie humana. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
3
pôde sobrepor-se aos produtores, nem fazer surgir diante deles o espectro
de poderes alienados, como sucede, regular e inevitavelmente, na
civilização.
2
Para compreender o desenvolvimentos das primeiras sociedades: DIAMOND, Jared. Armas, germes e aço: os
destinos das sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2010.
4
para o mercado. “Com produção mercantil – produção não mais para o consumo pessoal e
sim para a troca – os produtos passam necessariamente de umas para outras mãos. O
produtor separa-se de seu produto na troca, e já não sabe o que é feito dele.” (ENGELS,
2012, p. 219). Devido às novas relações de troca de produtos, agora mediados pelo
mercado, surgiu uma classe que ficou responsável por essas trocas: o comerciante
(ENGELS, 2012, 208).
A partir do momento que o homem pôde acumular riquezas, abriu-se a possibilidade
da exploração do homem pelo homem, tornando possível que um homem vivesse do
trabalho de outro, que o homem escravizasse o outro para acumular riquezas.
Aqui há um aspecto fundamental a ser considerado: esta possibilidade de exploração
do homem pelo homem não quer dizer que ela seja historicamente necessária, como afirma
Lessa (2012, p. 22):
A propriedade privada, por se caracterizar como uma relação social, não faz parte do
processo evolutivo natural do ser humano. Ela “não é a posse de uma coisa; não é a minha
escova de dentes ou meu objeto de uso pessoal. Ela é a relação social pela qual os
produtores da riqueza social são expropriados pelas outras classes da sociedade” (LESSA;
TONET, 2012, p. 15, grifos originais). Ela foi necessária para o desenvolvimento das forças
produtivas, uma vez que o homem vivia em períodos de escassez de alimentação e de
crescimento populacional.
Se o trabalho da coleta originou a sociedade primitiva, sem classes sociais, foi o
trabalhado alienado, criado pela propriedade privada, que fundou a sociedade de classes.
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Foi esse trabalho alienado que possibilitou o surgimento das classes (explorador x
explorado) (LESSA; TONET, 2012, p. 13; LESSA, 2012, p. 23). “Por isso, propriedade
privada e classes sociais existem apenas uma na relação com a outra” (LESSA; TONET,
2012, p. 15). Nessa relação social, a propriedade privada começou a ganhar centralidade na
vida dos homens, tornando o homem escravo de si mesmo.
O desenvolvimento crescente da propriedade privada contribuiu para que as relações
sociais fossem modificadas. Tornaram-se constantes os conflitos, as contradições sociais,
que emergiram do antagonismo de classes, entre os que produziam e os que não
produziam; aqueles que produziam a riqueza material e aqueles que viviam dessa riqueza
sem produzi-la; entre o explorador e o explorado.
Como forma de regular e controlar os conflitos das classes antagônicas surgiu o
Estado. Ele emergiu como produto de uma necessidade social para defender a propriedade
privada pertencente ao explorador. Esse processo de nascimento do Estado é resumido em
uma passagem de Engels (2012, p. 212, grifos originais):
[…] o Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de escravos para
manter os escravos subjugados; o Estado feudal foi o órgão de que se valeu
a nobreza para manter a sujeição dos servos e camponeses dependentes; e
o moderno Estado representativo é o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado. (ENGELS, 2012, p. 216).
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Para compreender a Antiguidade Clássica, sugiro os seguintes textos: ROSTOVTZEFF, Mikhail. História da
Grécia. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. ROSTOVTZEFF, Mikhail. História de Roma. 4 ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 1977.
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classe vivesse do produto de trabalho da outra. Essa era à base do novo modo de produção
que estava nascendo: o modo de produção escravista.
A propriedade privada mudou radicalmente a vida dos homens. Com ela surgiu uma
sociedade baseada na exploração do homem pelo homem, desenvolvendo uma cadeia de
acontecimentos, como as classes sociais fundamentais, a partir do trabalho alienado, e a
emergência social do Estado, como instituição de dominação do explorador.
Há, ainda, outro aspecto a ser observado. Devido ao surgimento da propriedade
privada e seus desdobramentos, criaram-se novas relações sociais entre os homens, até
mesmo uma nova forma de organizar a família a partir da propriedade privada: a família
monogâmica, “expressão da propriedade privada nas relações familiares.” (LESSA, 2012, p.
43).
A monogamia tem sua origem na propriedade privada, e se reduz “a um preceito a
ser seguido na relação ‘honesta’ entre duas pessoas que se amam. Duas pessoas que se
amam, reza a moral, devem constituir um núcleo familiar (por isso, família ‘nuclear’)
separado da vida comunitária, comum” (LESSA, 2012, p. 09-10).
A organização da sociedade primitiva, sem a propriedade privada, era coletiva4. A
família sindiásmica também era coletiva, isto é, agiam em cooperação. Nela, todas as
crianças eram cuidadas por todos na comunidade, todos os filhos eram responsabilidades
de todos. O homem e a mulher tinham papeis socialmente definidos, sem sobreposição de
um sobre outro, ainda sem supremacia da figura masculina.
O casamento poderia ser destituído a qualquer momento tanto pelo homem quanto
pela mulher, como ressalta Leacock (2012), “o divórcio é extremamente simples e acontece
pela vontade de qualquer um dos parceiros, apesar de não ser particularmente comum” (p.
251) e quando acontecem essas separações “é a morte que com mais frequência dissolve a
relação de casamento; relacionamentos próximos e afetuosos são a regra” (p. 251-252).
Com a possível dissolução do matrimônio, o homem ficava com seus instrumentos
de trabalho (produzido por ele mesmo), e a mulher ficava com seus utensílios domésticos
(construído por ela mesma). É preciso lembrar também que, com a divisão do trabalho, o
4
Sugestão de obra literária para compreender o desenvolvimento das primeiras relações sociais na sociedade
primitiva: WILLIAMS, Raymond. O povo das montanhas negras. São Paulo: Companhia das letras, 1991.
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homem era responsável pela caça, porque era uma atividade perigosa, e a vida da mulher
deveria ser protegida, pois ela garantia a reprodução do grupo. Além disso, nas guerras
entre tribos, os homens também eram responsáveis por proteger todos.
Com o surgimento do excedente econômico e da apropriação privada, esse modo de
organização familiar e os papeis na sociedade começavam a mudar.
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Segundo Engels (2012), a prostituição nasce junto à escravidão (p. 74); os escravos geralmente eram adotados
como irmãos e as mulheres eram tomadas como esposas (75);
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DIAMOND, Jared. Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas. Rio de
Janeiro: Record, 2010.
LESSA, Sérgio. Abaixo a família monogâmica. São Paulo: Instituto Lukács, 2012.
LESSA, Sérgio. TONET, Ivo. Proletariado e sujeito revolucionário. São Paulo: Instituto
Lukács, 2012
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. 6 ed. São
Paulo: Cortez, 2010.NETTO, 2011
WILLIAMS, Raymond. O povo das montanhas negras. São Paulo: Companhia das letras,
1991.