Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO:
1
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
INTRODUÇÃO
Assim, a profunda crise estrutural capitalista, que ecoa desde a década de 1970,
acontece em uma perspectiva onde a reestruturação do capital se deu com a substituição dos
processos de base taylorista-fordista por uma crescente utilização de processos de produção
flexíveis, sustentados pelas técnicas de liofilização das empresas, com seu ideário de busca de
2
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
uma indústria “enxuta” e eficaz, além da lógica neoliberal1. Esse trabalho flexível é
caracterizado pela condição de trabalho da mão-de-obra, com tolerância de horários, redução
da carga horária, que aparentemente representam uma melhora na condição de trabalho, mas
que na verdade, com diversos mecanismos coercitivos, acabam por intensificar o processo de
produção a níveis ainda maiores. Isso acontece, principalmente, se observarmos que dentro
dessa reestruturação a flexibilização acaba atingindo, inclusive, os direitos trabalhistas, seus
contratos, garantias e até o trabalho estável, formalizando assim, um forte processo de
precarização da mão-de-obra.
1
Com o apoio estatal, essas novas empresas enxutas teriam não só uma sustentação ideológica, como
também tenderiam, através do processo de privatizações, a aumentar seus campos de atuação, além
de ter em suas mãos uma massa ainda maior de trabalhadores, para utilizar no processo supracitado de
despotismo do capital. – Ver mais em: Antunes, 2008, p.21.
3
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Assim, esse pragmatismo ferrenho e neoliberal gera uma mudança que vai muito além
das estruturais tradicionais de exploração do capitalismo. Ele avança em uma mudança
psicocultural, que nos deixa como trauma, até a atualidade, um juízo de presente contínuo
(HOBSBAWM, 1995, p.11-26). Um juízo em que o passado é subvalorizado em detrimento de
um futuro planejado, teleológico e inevitável. Há, inevitavelmente assim, uma perda de valores
e raízes comunais, reduzindo as necessidades políticas de lutas e resistências e tornado tudo,
cada vez mais, parcializado, individual e porvir.
2
Aqui no sentido de contrário ao progresso econômico e teleológico de uma nação
4
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Nesse excerto, Lalo Watanabe Minto deixa claro que o ideário neoliberal também vem
contaminando o processo educacional superior. O sucateamento e a diminuição dos
investimentos do Estado nas Universidades Federais de Ensino Superior (UFES) é um
processo histórico e vem culminando, na atualidade, com o constante repasse de valorosas
verbas públicas ao setor privado, através de instituições e mecanismos como o Ministério da
Administração e da Reforma do Estado, PROUNI ou o FIES. Essa sistemática de
financiamentos da educação continua na ordem do dia e por isso passa a ser apresentada, a
partir de agora, dentro de uma série histórica, em aspecto global e local.
DESENVOLVIMENTO
5
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
novos da economia como os mais antigos: o ensino profissional é encarado como meio indireto
para a promoção dos setores populares ao desenvolvimento, através do aumento da produção.
O foco no desenvolvimento é bastante enfatizado no 3º documento do Banco, realizado na
década de 1980, segundo o qual, a eficiência educacional viria através da autonomia desse
setor. Segundo o regimento estatutário do Banco, todas as nações podem aderir à instituição.
É estabelecido que o Banco não possa interferir e nem influenciar os negócios políticos dos
Estados. Porém, a aceitação dos países-membros funda-se em critérios políticos: adesão
prévia ao Fundo Monetário Internacional (FMI); assim como aceitar o código de regras políticas
da instituição. Embora essa política de financiamento do Banco seja intitulada de “cooperação”
ou “assistência técnica” trata-se, na verdade, de empréstimos custosos, tendo em vista os
pesados encargos, rigidez nas regras.
6
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
retirados de suas instituições pelo país. Além disso, quando havia um concurso, o candidato a
vaga de professor tinha de apresentar, no ato da inscrição, um atestado de “bom
comportamento” fornecido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Poucos
encontraram condições mínimas para desenvolver pesquisas que não estivessem em acordo
com as linhas principais dos editais. Mesmo assim, os professores organizados em
associações de docência defendiam a progressão por mérito acadêmico e titulação. A pós-
graduação e a pesquisa foram forjadas durante o regime: a política da ditadura promoveu
grupos, linhas de pesquisa e instituições com professores que, de certa forma, defendiam o
regime “em nome do conhecimento científico”. Assim, acabou surgindo uma nova hierarquia
com poder e prestígio a esses professores nas pós-graduações. Isso persiste até os tempos
atuais, só que esses com privilégios modificados através do prisma do empreendedorismo,
mais pragmático e utilitarista.
Desde o início da década de 80, o ANDES (Associação Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior) visou ao trabalho docente como parte de seu projeto
universitário, sustentando a coexistência do ensino, pesquisa e extensão. Lembrando que 42
mil docentes não tinham uma carreira nacional, havendo grandes diferenças entre as Federais
(autárquicas e fundacionais). Em síntese, as universidades criadas pelo regime ditatorial foram
fundacionais, pois eram mais atraentes em condições salariais, porém com menos direitos
previdenciários e de estabilidade financeira. As fundacionais tinham docentes regidos pelo
CLT, o que facilitaria uma privatização dessas UFES. Por isso, a luta dos professores pela
unificação jurídica das instituições de ensino superior e fortalecimento de uma carreira
unificada colidia com os interesses do governo ditatorial. Após uma extensa greve realizada por
35 mil docentes, fora dos marcos legais – que impediam greves nas áreas públicas – fora
garantido a incorporação de professores colaboradores-contratados, até 1979, nos quadros
efetivos das UFES. Sem dúvidas, isso fortaleceu muitas reivindicações e conquistas da
docência superior durante o regime, o que culminou, em 1987, no PUCRCE (Plano Único de
7
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
8
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
9
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
3
Valor do bilhão de real calculado em referência ao valor da moeda no ano corrente de 2016.
10
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
REFERÊNCIAS
ANTUNES, R. Desenhando a nova morfologia do trabalho: As múltiplas formas de degradação do
trabalho. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 83. Coimbra: CES-UC, 2008, p. 19-34.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
11
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
p.11-26.
INEP. Sinopse Estatística da Educação Superior. Brasília: Inep, 2003;2012;2016. Disponível em:
<http://bit.ly/2xDRuQ2>. Acesso em: 20 set. 2017.
MARX, K. O capital: crítica da economia política: Livro I: o processo de produção do capital. Trad.
Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.
____________. Para Além do Capital: Rumo a uma teoria da transição. Trad. Paulo César
Castanheira e Sergio Lessa. São Paulo: Boitempo, 2002.
SAMPAIO, Helena. Ensino superior no Brasil: o setor privado. São Paulo: Hucitec, 2000.
SILVA JUNIOR, João; SGUISSARDI, Valdemar. A nova lei de educação superior. Revista Brasileira de
Educação. Rio de Janeiro, 2005, n.29, p. 5-27. Disponível em: <http://bit.ly/2x21FyC>. Acesso em: 14
set. 2017.
12
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
RESUMO:
13
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
INTRODUÇÃO
14
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
DESENVOLVIMENTO
4
Tradução livre do texto original em espanhol. Nesse paper, todas as passagens diretas retiradas da Estética de
Lukács foram também traduzidas de forma livre.
5
Segundo Lukács, esse movimento alcança seu auge com o atomismo de Demócrito e Epicuro, no qual todo o
mundo fenomênico humano se concebe como produto segundo leis e relações e movimentos das partes
elementares da matéria.
15
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
6
Embora não iremos explorar a questão neste texto, não podemos deixar de mencionar aqui que “as mesmas
tendências evolutivas da sociedade grega que acabamos de descrever produzem, por outro lado, um desprezo
social do trabalho, cujas consequências podem se observar constantemente no curso da historia da ciência e da
filosofia gregas” (LUKÁCS, 1966, p. 150).
16
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
7
De Tales a Demócrito-Epicuro.
17
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
ponto de vista, a filosofia grega dos pré-socráticos constitui um ponto de inflexão na história do
pensamento humano” (LUKÁCS, 1966, p. 153).
Desse modo, portanto, podemos afirmar que a filosofia grega antiga pôs o problema
decisivo da especificidade do reflexo científico da realidade: seu caráter desantropomorfizador
em contraposição às formas de pensamento e de reflexo antropomorfizador e personificador do
cotidiano e da religião.
8
Vale salientar, aqui, que o pensamento desantropomorfizador só pode se desenvolver com o materialismo
filosófico grego devido ao desenvolvimento social da sociedade grega daquele momento, como vimos no tópico
acima.
18
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Ocorre que, com a transição da Idade Média à Idade Moderna, alterações substantivas
nas relações sociais de produção atingem o desenvolvimento do pensamento científico, cujo
“florescimento contraditório” passa a enfrentar novos desafios. Sob o capitalismo, as
dificuldades enfrentadas pelo pensamento científico – o impedimento da generalização do
método científico em forma de concepção de mundo – decorrem de motivos específicos.
O desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo – motivado pela nova forma de
riqueza social praticamente ilimitada por si só, o capital – influencia, por um lado, o
desenvolvimento da ciência, a difusão e o aprofundamento do método científico, e ainda
19
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Esse solo contraditório sobre o qual floresce novamente o pensamento científico, com
suas tendências desantropomorfizadoras, tem ao mesmo tempo o progresso científico como
interesse da classe dominante e a proibição de que os avanços desantropomorfizadores desse
progresso se elevem a concepção de mundo. Isso decorre do caráter “dúplice [da] função
histórico-social da classe dominante”: a burguesia “sob pena de sucumbir, está obrigada a
seguir desenvolvendo as forças produtivas e, consequentemente, a promover a ciência”;
todavia, “não quer tolerar brecha alguma na concepção de mundo que dá fundamento a seu
domínio” (LUKÁCS, 1966, p. 175).
Cada vez mais,
a imagem do mundo que impõe aos homens o reflexo desantropomorfizador da
realidade resulta ser, tal como, para a burguesia e para sua intelectualidade,
imprescindível a partir do ponto de vista prático-econômico, e cada vez menos
tolerável ideologicamente (LUKÁCS, 1966, p. 179).
Dessa forma, a classe dominante vai buscar reagir à renovação do método científico,
aos seus resultados e à recuperação das tendências desantropomorfizadoras desde o
Renascimento, em que o reflexo da realidade objetiva tinha importância central. Os esforços da
20
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
21
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
22
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Este conhecimento, por sua vez, revela-se cada vez mais imprescindível para a
apreensão das legalidades naturais e sociais e, por conseguinte, para uma autoconstrução
mais humana do ser social.
REFERÊNCIA
23
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Universidade de Pernambuco
RESUMO:
24
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
INTRODUÇÃO
Num primeiro momento a pesquisa trouxe a apropriação teórica dos aspectos histórico-
econômicos da formação social brasileira, no intuito de compreender o atual modelo de
educação e de Universidade (Romanelli, 1984), e o processo de formação social brasileiro
(Prado, 2000). Nesta oportunidade, constatou-se que o capitalismo brasileiro é arcaico frente
aos avanços inerentes a sua lógica de reprodução social, devido a forma que sempre foi
colonizado e se desenvolvido dentro da visão eurocêntrica de baixo desenvolvimento das
forças produtivas.
25
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
mais sim, iniciar uma discussão acerca destas contradições que afetam o cotidiano da
comunidade acadêmica. E que se materializa de forma objetiva e subjetiva na vida dos sujeitos
envolvidos nesse processo de vivencia.
DESENVOLVIMENTO
O pós-1930 é marcado também pelo manifesto dos “pioneiros da educação nova” onde
se defendia uma “escola nova”, uma defesa pela escola pública e de obrigatoriedade do
governo federal. Estes e outros percalços na história da educação brasileira como o estatuto
das Universidades brasileiras, logo em seguida a criação da Universidade de São Paulo em
1934, influencia para que pensemos o capitalismo tardio brasileiro e a necessidade do mesmo
se afirmar em bases nacionais, ajuda também compreender a especificidade da Universidade
brasileira e a dicotomia que sempre houve entre o público e o privado, e a disputa de classe e
26
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
o interesse atrelado a educação como uma lógica mercadológica, além de destacar o quão
nova é nossa Universidade.
A partir daí há uma expansão de novas Universidades no país nas décadas de 1940,
1950 no centro das reivindicações nacional-desenvolvimentistas das chamadas ”reformas de
base” da década de 1950, e em 1960 surgem as várias instituições que lhes compõem, além
de serem levantadas bandeiras de universalização da escola pública em todos os níveis e a
sua gratuidade.
É nesse período que se inicia o processo de pensar uma reforma para o ensino
superior, Processo que marcou a luta em defesa da diversificação do público universitário, e
que uniu forças de segmentos sociais, em especial a UNE, que realizou vários seminários em
favor da reforma universitária.
Florestan Fernandes vai caracterizar esta reforma com: “reforma consentida”, já que
ela seguiu uma lógica subjacente ao governo dos militares mesmo em seu pleno caráter que
27
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
A década de 1970 mostra-se ser uma década de grande efervescência no mundo todo,
devido ao reordenamento na estrutura do capital, na chamada era de ouro do capitalismo
mundial, caracterizado pela crise estrutural, inerente ao sistema. No Brasil, o país tem seus
abatimentos no período que ficou conhecido como “milagre econômico” e abertura política,
lembrando que ainda se vivia aqui aspectos do governo militarista.
28
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
nas palavras de Neves e Fernandes (2002) são uma burguesia que “se alimenta das sobras
das lutas dos trabalhadores”. Os anos 2000 foi visto por muito tempo como um período de
recessão das vantagens burguesa não só na sociedade brasileira, mas em toda América
Latina, e o governo petista no Brasil conseguiu trazer algumas vantagens no quesito
“educação”, mas sob grande custo para a classe trabalhadora brasileira.
29
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
30
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
31
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
32
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
agua, gás, energia e, ainda, com as taxas cobradas por serviços da escolaridade e os
deslocamentos para o cumprimento do estágio obrigatório.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
33
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
REFERÊNCIAS
ANDES-SN/ Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. As novas
faces da reforma universitária do governo Lula e os impactos do PDE sobre a educação
superior. Caderno ANDES 25. Brasília: 2007.
LIMA, Kátia Regina de Souza. Reforma da educação superior nos anos de contra-revolução
neoliberal: de Fernando Henrique Cardoso à Luís Inácio Lula da Silva. Tese de doutoramento.
Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense,
UFF. Niterói, 2005.
MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. Apresentação de Paul Singer; tradução de Carlos
Eduardo Silveira Matos, Regis de Castro Andrade e Dinah de Abreu Azevedo. 2 ed. São Paulo:
Nova Cultural, 1985.
MARX, Karl. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da
economia política. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2011.
34
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
35
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Débora Santana.
(Discente em Serviço Social/UFS)
36
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
INTRODUÇÃO
37
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
DESENVOLVIMENTO
Karl Marx (1818-1883) desenvolveu, no conjunto de suas obras, uma teoria social que
contribui no processo de desvelamento do real, na crítica à sociabilidade burguesa e na
reflexão de categorias concretas e históricas que fundamentam nossa sociabilidade. Os seus
primeiros escritos refletem seu pensamento filosófico-ontológico, em que ele procura entender
a ontologia do ser social a partir do trabalho, elemento fundante da sociabilidade humana; do
mesmo modo, concebe a história como processo ativo na vida dos homens.
Marx se dedica sobre a discussão da emancipação política e emancipação humana em
seu ensaio “A questão judaica”, escrito em 1843 e publicado em 1844 nos Anais Franco-
Alemães. Na polêmica – e ruptura – com Bruno Bauer sobre a questão da emancipação política
dos judeus na Alemanha, Marx realiza um profícuo debate sobre a relação entre Religião e
Estado moderno9 e os direitos do homem e do cidadão, além de problematizar a real
emancipação dos homens através da radicalização da propriedade privada, o que Marx chama
da verdadeira emancipação humana.
Segundo Netto (2009), “A questão judaica” diz respeito a condição cívico-política dos
judeus na Alemanha, onde se encontravam restringidos e constrangidos passando a ter
reivindicações com base liberal. “A questão determinada era, precisamente, a ‘questão judaica’.
Ela dizia respeito a um problema que estava medularmente vinculado à miséria alemã: a
condição cívico-política dos judeus na Alemanha.” (NETTO, 2009, p. 22).
Até determinado momento a discussão sobre ser favorável ou não aos judeus não tinha
9
“A partir da divisão da sociedade entre classes com interesses antagônicos, foi necessária a criação de uma
instituição social que protegesse o interesse da classe dominante, que protegesse a propriedade privada. O
Estado nasceu com esse objetivo. Em sua essência, ele pertence à classe econômica dominante, que, por deter
os meios de produção e a propriedade privada, tornou-se também a classe politicamente dominante. A razão de
ser do Estado é esta: manter o domínio de uma classe sobre a outra através do poder político da classe
economicamente dominante”. (SILVA, 2016, p. 6).
38
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
sido levantada. Mas, eles eram um grupo que estava se destacando devido ao
desenvolvimento adquirido através do comércio, ou seja, possuíam um determinado poder
econômico.
Mesmo sendo possuidor de poder econômico, o judeu era impedido de exercer os seus
direitos civis, e essa restrição se dava somente pelo fato de serem judeus, ou seja, eles
detinham poder econômico, mas não detinham o poder político. Com isso, os judeus buscavam
se emanciparem políticamente. Dito de outro modo, aos judeus era vedado o direito de exercer
direitos civis que qualquer outro cidadão cristão possuía, além de ficarem impedidos também
de exercer qualquer função pública em toda a Confederação; aos judeus era vedada a
emancipação política (NETTO, 2009).
Conforme Mehring (2014), os judeus exigiam a emancipação política para o judaísmo,
mas não queriam perder a posição privilegiada que tinham. Essa reivindicação fez com que
Feuerbach classificasse o judaísmo como uma religião egoísta. Bruno Bauer fez uma análise
semelhante a essa, mas os dois teóricos analisaram por vias diferentes. Enquanto Feuerbach
explicou o caráter da religião judaica, através das características dos judeus, Bauer via a
mesma questão judaica como exclusiva da teologia.
Sobre tal questão, Marx foi o teórico a fazer uma crítica radical. Para ele, a discussão
não deveria concentrar-se somente em quem seria emancipado e em quem deveria emancipar,
mas que tipo de emancipação se tratava, se era uma emancipação política ou humana. E mais,
ele nos chama a atenção para a existência de uma diferença entre as duas emancipações,
argumentando que em alguns Estados, cristãos e judeus já tinham adquirindo a emancipação
política, mas ainda não detinha a emancipação humana.
39
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Para Bauer, a reivindicação dos judeus para que o Estado abra mão de sua
exigência e condição religiosa só teria legitimidade e sentido se os judeus,
previamente, abrissem mão de sua própria exigência e condição religiosa.
Ademais, na medida em que se conservam como judeus, os judeus se excluem
da comunidade humana: auto isolam-se na escala em que se consideram e que
se identificam como um povo eleito, privilegiado. (NETTO, 2009, p. 23).
Netto (2009) afirma que, para Bauer o cristianismo era uma religião universal, então,
seria mais viável o povo cristão alcançar a emancipação ao invés dos judeus, pois ao
contrário do cristianismo, o judaísmo detinha um caráter particular. Em outras palavras, para
ele o judeu é menos digno de ser emancipado do que o cristão.
Inegavelmente, Bauer analisava o judaísmo através do caráter religioso, já Marx
analisava através das características próprias dos homens. Para Marx, a emancipação
política não estava atrelada ao desligamento do homem com a religião, ou seja, para se tornar
emancipado, o judeu não precisaria deixar de ser judeu nem o cristão deixar de ser cristão, a
emancipação política estava ligada ao Estado, assim, este deveria ser laico, sem religião.
40
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
que era essencialmente cristão, caracterizava-se um Estado ultrapassado, que ainda não tinha
se desenvolvido plenamente (MEHRING, 2014). O novo Estado, ou Estado Moderno, tornou-se
novo justamente por ter atingindo o desenvolvimento pleno, e nele nem cristãos, nem judeus
precisariam deixar de serem cristãos ou judeus, pois somente o Estado deveria perder o
caráter teológico (MEHRING, 2014). Assim, a partir do Estado moderno foi acrescentado a
religão o caráter particular (âmbito privado).
Mehring (2014) continua explicando essa lógica do Estado político, afirmando que todos
os conflitos que existiam na sociedade, fossem eles por questões materiais ou ideológicas,
tinham uma única causa, o Estado político e sociedade burguesa. E existia um jogo no qual,
os homens ganhavam liberdade religiosa, mas não eram libertos da religião, ganhavam
liberdade à propriedade, mas não eram libertos dela. Essas contradições eram a essência
deste Estado moderno e, logo, a essência da emancipação política. Por outro lado, Marx
(2010, p. 34) afirma que “[...] o Estado cristão, por sua própria essência, não pode emancipar
o judeu, mas arremata Bauer, o judeu, por sua própria essência, não pode ser emancipado.
Enquanto o Estado for cristão e o judeu for judaico, ambos serão igualmente incapazes,
tanto de conceder quanto de receber a emancipação”.
A emancipação humana, dentro desses padrões de sociedade, se faz impossível. Para
ela se faz necessário que o homem individual se reconheça em sua totalidade, enquanto ente
genérico. Marx (1983 apud Mehring, 2014, p. 93-94, grifos originais) faz a distinção entre
emancipação política e emancipação humana da seguinte forma:
41
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Dessa forma, Marx chegou a um ponto essencial na discussão indo até as raízes da
relação entre a sociedade e o Estado. Apontou que o Estado existia para atuar sobre as lutas
do indivíduo com ele mesmo e com os outros indivíduos e suas particularidades, e que a
questão religiosa possuía um caráter puramente social. Ressaltou também que os indivíduos
apesar de parecerem livres ainda eram presos e alienados. Eram alienados à propriedade, à
indústria e à religião. Eram alienados ao que parecia conduzi-los à própria liberdade.
10
Cabe ressaltar que do universo total da pesquisa identificamos, através dos critérios metodológicos, apenas 05
artigos que fazem relação entre a emancipação política e a emancipação humana e o Serviço Social, quais sejam:
Lessa (1998), Lessa (2003), Paniago (2003), Stampa (2011) e Lacerda (2014). Foram traçados dois objetivos
específicos: identificar as consonâncias e dissonâncias das produções bibliográficas do Serviço Social com os
fundamentos marxianos; e identificar as principais contribuições desta discussão para o Serviço Social brasileiro.
42
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Assim como Marx em “A questão judaica”, os autores dos artigos analisados dissertam
sobre os limites da emancipação política e com base em Mészáros ressaltam a impossibilidade
de o Estado burguês incidir sobre a desigualdade, sobre a exploração entre as classes; até
porque o Estado surge para defender a propriedade privada e a exploração do homem pelo
homem, conformando as relações antagônicas das classes fundamentais (classe explorada x
classe exploradora), esse é seu caráter econômico e político11.
Neste sentido, Lacerda (2014, p. 13-14) afirma que:
Não cabe ao Estado, muito menos ao Estado burguês em plena crise estrutural
do capital (Mészáros, 2009), emancipar os indivíduos de suas penúrias. Antes,
11
É fundamental alertar aqui, com base nos fundamentos marxianos, que compreendemos a economia enquanto
produção e reprodução social.
43
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Essa é a direção social do projeto profissional que a categoria do Serviço Social assumiu
nos anos 1990, como podemos observar no primeiro princípio do Código de Ética de 1993:
“reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas e a ela
inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais.” (CFESS, 2012,
p. 23). Além disso, o Serviço Social vincula seu projeto profissional “[...] ao processo de
construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e
gênero.” (CFESS, 2012, p. 24).
Os autores Lessa (1998; 2003), Paniago (2003), Stampa (2011) e Lacerda (2014)
reconhecem a necessidade de objetivação dessa teleologia, bem como os desafios históricos
para tal objetivação, contudo, destoam ao delinearem as estratégias políticas para a sua
materialização.
44
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
Apesar disso, por mais limitadas que sejam as condições materiais para se viver
a vida e fazer história, ao ser humano sempre cabe escolha entre alternativas
que são construídas mediante ações, limitadas a contextos históricos, mas que
materializam valores e rumos diferentes para a humanidade. Queremos chamar
a atenção para o fato de que o exercício profissional individual de cada
profissional dá materialidade a valores éticos e coloca a sociedade em
movimento. Isto porque cada ação individual determina a totalidade das
relações, e estas influenciam as ações individuais. Por isso é preciso pensarmos
de forma mais clara e menos leviana a direção social de nossa prática. Não só
porque trabalhamos especialmente na mediação dominados/dominação, mas
também porque parece que a leitura da realidade complexa que vivemos hoje e
o avenir são tarefas difíceis, assim como a escolha dos processos e das
estratégias de ação. (LACERDA, 2014, p.13-14).
Stampa (2011) e Lacerda (2014), por exemplo, compreendem, na nossa análise, que a
viabilização dos direitos do cidadão como mediação para alcance da emancipação humana, ou
seja, vislumbram o Estado como um espaço de disputa entre as classes sociais, configurando-
se, assim, em uma luta institucionalizada por via do Estado. Em nossa compreensão, o Estado
é um espaço essencial da classe dominante, e, desse modo, lutar e conquistar direitos, seja na
consolidação ou ampliação, não nos permite desvencilhar deste patamar de sociabilidade.
Desse modo, Lessa (2007) afirma que a luta contra a destruição dos direitos não é por
meio do Estado, mas sim a luta por uma sociabilidade na qual os direitos e a propriedade
privada serão superados, bem como o Estado. Com base neste mesmo raciocínio, trazemos as
seguintes questões para reflexão: podem os direitos fazer recuar a exploração a ponto de
eliminar a exploração entre as classes? (PANIAGO, 2003); na luta por direitos humanos
45
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
podemos “acumular forças” para transformar a sociedade capitalista? (LESSA, 2007); em qual
campo o Serviço Social deve se colocar na estratégia política? quais as estratégias políticas
que o Serviço Social pode adotar para a superação da propriedade privada?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O exame da discussão dos fundamentos da emancipação política e da emancipação
humana no Serviço Social brasileiro, viabilizou a compreensão dos determinantes da realidade
social, principalmente, em seu cenário contemporâneo, bem como entender que a
emancipação política reduz o homem a membro-cidadão da sociedade burguesa, enquanto a
emancipação humana possibilita ao homem se reconhecer enquanto humano-genérico por
meio da radicalização da propriedade privada na vida dos homens. A análise dos dados
coletados possibilitou identificar os desafios do projeto profissional frente a conjuntura
contemporânea, principalmente em tempos de crise estrutural do capital, que atinge a esfera
política e social, processos que configuram uma conformação social com a ordem vigente,
endossando ainda mais o período contrarrevolucionário que vivemos.
Nessa direção, o projeto ético-político profissional do Serviço Social tem como valor
ético central a liberdade e ratifica o compromisso da profissão com a defesa dos direitos
humanos. Entretanto, não deixa de empreender o olhar crítico à ação dos direitos humanos
para responder os desafios da sociabilidade contemporânea cujos problemas não podem ser
solucionados nos marcos da sociedade burguesa, devido as suas bases materiais estarem
assentadas na apropriação privada dos produtos produzidos coletivamente.
REFERÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de ética do/a assistente social. Lei
8.662/93 de Regulamentação da profissão. 10 ed. Brasília: CFESS, 2012.
46
IX ENCONTRO DE GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS MARXISTAS
LESSA, S. O revolucionário e o estudo: por que não estudamos? São Paulo: Instituto Lukács,
2014. p. 67-78.
MARX, K. Sobre a questão judaica. São Paulo: Boitempo, 2010.
______. Para a questão judaica. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
MEHRING, F. Karl Marx – A história de sua vida. 2 ed. São Paulo: José Luís e Rosa
Sundermann, 2014. p. 79-109.
NETTO, J. Prólogo à edição brasileira. In: KARL, Marx. Para a questão judaica. São Paulo:
Expressão Popular, 2009. p. 09-38
SILVA, E. M. “Vale a pena escravizar e explorar os homens”. In: I Seminário Internacional
sobre trabalho e reprodução social: crise contemporânea, desafios do conhecimento e lutas
sociais. Maceió, AL. 2016.
REFERÊNCIAS DOS ARTIGOS ANALISADOS
LACERDA, L, E, P. Exercício profissional do assistente social: da imetiacidade às
possibilidades históricas. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 117, jan/mar,
2014.
LESSA, S. Beyond Capital: Estado e capital. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez,
ano XIX, n.56, mar, 1998.
______. A emancipação política e a defesa dos direitos. Serviço Social e Sociedade. São
Paulo: Cortez, ano XXVIII, n. 90, jun, 2007.
PANIAGO, M, C, S. As lutas defensivas do trabalho: contribuições problemáticas à
emancipação. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, ano XXIV, n.76, nov, 2003.
STAMPA, I. Compromisso de classe por uma sociedade emancipada- notas para reflexão.
Temporalis, n. 22, 2011.
47