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Juros Abusivos
Juros Abusivos
Estudaremos as
espécies de cartão, os integrantes do sistema e os contratos existentes entre eles. Logo
após, explanaremos sobre os juros praticados pelas operadoras de cartão de crédito,
apontando os aspectos constitucionais e infraconstitucionais da falta de regulamentação
do §3.º, do artigo 192 da CF.
1.Introdução
A disposição de crédito sem maiores entraves veio ao encontro dos anseios da classe
assalariada, visto que com o cartão de crédito há a sensação de maior poder aquisitivo,
bem como a desnecessidade de portar dinheiro, facilitando assim, o gerenciamento das
despesas, eis que todas vêm discriminadas numa fatura com vencimento em data fixa a
escolha do titular do cartão.
2.Evolução
Somente após a década de 40, foram criados os primeiros cartões de crédito como
conhecemos hoje – os verdadeiros ou stricto sensu. Estes são os cartões emitidos por
uma instituição financeira com uma rede de afiliadas ampla e diversificada, assim, os
titulares dos cartões passaram a ter uma variedade maior de produtos e serviços ao seu
alcance, diferentemente dos cartões de fidelidade ou bom pagador, onde a emissora do
cartão se reveste também no papel de única fornecedora de produtos e/ou serviços.
Já os bancos passaram a emitir os cartões de crédito no final da década de 50, com
algumas peculiaridades: "esses cartões de crédito de origem bancária apresentam uma
dupla vantagem. De uma parte, permitem ao portador conseguir uma gama de bens muito
extensa e merecem seu nome de cartões universais. De outra parte, o banco emissor
mantém igualmente a conta de depósito ou a conta corrente do cliente e se reembolsa por
débito de conta; o mecanismo é simplificado" (2).
Há, ainda, os cartões emitidos por um banco ou um grupo de bancos não havendo,
entretanto, o financiamento do crédito pela instituição bancária, ocorrendo tão somente o
débito on-line na conta-corrente ou poupança do titular. Na realidade não é propriamente
um cartão de crédito, mas tão somente uma forma de pagamento a vista, diferenciada.
Não são considerados verdadeiros cartões de crédito, visto que o emissor, como já
comentado anteriormente, também é o próprio fornecedor, ficando, desta forma, limitador o
número dos serviços e bens a serem ofertados aos titulares do cartão.
Consiste basicamente em premiar o bom consumidor, ou seja, aquele que cumpre suas
obrigações nos termos e condições pactuadas. Tem por escopo incentivar este
consumidor a criar o hábito da fidelidade para com o estabelecimento comercial, para isto
oferece vantagens como tratamento diferenciado, pagamento a prazo...
Usado largamente nos EUA, onde as cadeias de lojas a varejo têm abrangência em todo o
território daquele país, com grande variedade de produtos e serviços postos a disposição,
mesmo que restrito a uma empresa. No Brasil, pesquisa realizada pelo PROVAR –
entidade de pesquisa e treinamento de pessoal para o setor de varejo, ligada à
Universidade de São Paulo, constatou que os consumidores brasileiros, de uma forma
geral, não são fieis ao estabelecimento do qual recebem cartão de fidelidade ou não liga
para esse tipo de promoção.
a)Nos cartões não – bancários, como o próprio nome afirma, não há participação de
estabelecimento bancário, seja como emissora do cartão, seja como emissora apenas de
recursos. Entretanto, mister se faz ressaltar que a emissora do cartão é uma instituição
financeira, logo que negocia crédito.
São poucos os cartões deste tipo, merecendo destaque o Cartão Diners Club.
Sua participação é indireta quando o seu papel está restrito ao de financiador do sistema.
3.INTEGRANTES DO SISTEMA
O cartão de crédito não é composto por apenas uma relação, mas sim por vários contratos
interligados que viabilizam o sistema. Nestes contratos, há participação dos três entes que
integram o sistema, isto nos cartões de crédito verdadeiro, pois como vimos nos cartões
de credenciamento, a emissora se reveste no papel de fornecedora.
Não concordamos com o posicionamento adotado acima, eis que, em regra os contratos
entre o titular do cartão e a emissora são contratos de adesão ou de massificação.
Entenda-se àqueles que precisam de autorização do BaCen para ofertar serviços, ficando
as operadoras adstritas a esta operação e com margem mínima para pactuar. Assim, não
vislumbramos a priori compatibilidade entre esta vinculação dirigida aos contratos de
cartão de crédito e os interesses de uma empresa. Outrossim, há a problemática da
restrição do uso dos cartões a pessoas somente autorizadas, excluindo-se os
administradores da empresa. Mister seria previsão expressa no estatuto da empresa,
entretanto, ainda, tal fato apenas não se consubstanciaria para evitar que comerciantes ou
outras empresas distinguissem que poderia ou não utilizar o cartão de crédito.
Através do contrato, o emissor outorga um crédito ao titular do cartão até um limite pré-
estabelecido, para que este adquira bens e/ou serviços. Decorrendo disso, e, por expressa
disposição contratual, nasce para a emissora o direito de ser reembolsada na mesma
quantia e no prazo estabelecido, além de eventuais encargos em caso de mora do titular.
À empresa administradora também é devida uma taxa anual para cobrir as despesas
administrativas decorres do uso do cartão.
O titular não pode exigir da empresa emissora que esta não efetue o pagamento do
fornecedor ou após esta determinação se recuse a reembolsar a própria administradora,
alegando, para tanto, possíveis exceções que teria contra o fornecedor.
O titular não deve ao fornecedor, mas sim à emissora que responde por sua dívida junto
ao fornecedor, assim "não pode opor à instituição emissora, quando cobrado as exceções
que porventura tiver contra aquele". (9)
O contrato de cartão de crédito tem prazo fixado para o seu termo, podendo ser renovado
tacitamente pela vontade das partes. Pode haver rescisão unilateral quando uma das
partes desejar, bem como resilição pelo descumprimento de alguma das cláusulas
contratuais.
PARTE II – ENCARGOS CONTRATUAIS 11.38% AO MÊS. A COBRANÇA DE JUROS
ABUSIVOS PELAS ADMINISTRADORAS DE CARTÕES DE CRÉDITO
§1.º (...)
§2.º (...)
A seguir trechos dos votos dos Ministros Carlos Velloso e Marcos Aurélio de Mello, na Adin
n.º 04 sobre o tema:
Destarte, hoje temos que o dispositivo que embora parece plenamente aplicável e eficaz,
padece a espera de ação do legislativo que vem protelando a criação de norma que venha
a dar aplicabilidade ao dispositivo mencionado.
O segundo ponto está na última parte do próprio parágrafo 3.º do dispositivo em estudo,
quando faz alusão à existência de lei ordinária para regulamentar todo o dispositivo ou
parte dele, conforme o entendimento.
Existe uma corrente que afirma que o disposto no § 3.o não é auto-aplicável por está
expresso em seu bojo a previsão de lei ordinária para sua regulamentação. Este
entendimento não é merecedor de boa acolhida, pois facilmente se observa que faz
menção apenas a última parte do dispositivo, ou seja, quanto à tipificação da conduta pela
prática da usura, em respeito ao princípio da reserva legal.
"O art. 1.º do Dec. 22.626/33 está revogado não pelo desuso ou pela
inflação, mas pela Lei 4.595/64, pelo menos ao pertinente às operações
com as instituições de crédito, pública ou privadas, que funcionam sob
o estrito controle do Conselho Monetário Nacional" (STF, Plenário, RE
78.953, RTJ, 72:916).
Entendemos pela recepção da Lei 4.595, de 1964; inclusive pela competência disposta ao
Conselho Monetário Nacional, entretanto, a variação que o Conselho poderá realizar com
os juros deverá respeitar os limites expostos pela Constituição, ou seja, os doze por cento
ao ano, além disso, qualquer resolução emitida pelo Conselho vislumbrando juros maiores
deverá padecer pela falta de constitucionalidade.
A súmula 121 do STJ disciplinou o assunto: "É vedada a capitalização de juros, ainda que
expressamente convencionada".
Com o advento das Medidas provisórias n. 1925-12 e 1963-23, o executivo achou por bem
validar e disciplinar a capitalização dos juros:
CONCLUSÃO
Assim, enquanto não vem a necessária regulamentação do §3.º, do art. 192 da CF/88, os
consumidores se tornam reféns e vítimas de juros superiores a doze por cento ao ano,
bem como a prática desenfreada de anatocismo, impingindo à classe trabalhadora que
utiliza o cartão praticamente "saques" em seus orçamentos familiares.
Enquanto o legislativo se furta ao seu dever, a mais de dez anos, de regular os juros no
sistema financeiro nacional; o executivo prefere regulamentar uma prática imoral como o
anatocismo e o Judiciário, através de sua corte, se coaduna com tamanha covardia para
com os cidadãos deste país, presenciamos diariamente a quebra de empresários que
necessitam de créditos do sistema financeiro, bem como consumidores que vêm suas
faturas de cartão de crédito subirem em proporções dantescas se submetendo à cobiça de
uns poucos, portanto, mister se faz pressionar o legislativo para que este abandone uma
inércia prejudicial a maioria para se fazer presente neste momento. Não se justifica juros
altos, pois convivemos com um nível inflacionário relativamente baixo. O que se presencia
é a submissão do Estado aos interesses de poucos, infelizmente.
BIBLIOGRAFIA
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 5. ed. revista e ampliada. São Paulo: Atlas,
1999.
FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de direito comercial. 1. ed. – São Paulo: Atlas, 2000.
MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. 15. ed. revista e ampliada. Rio de
Janeiro: Forense, 2000.
ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 7. ed. revista, atualizada e ampliada por Carlos
Henrique Abrão. São Paulo: Saraiva, 2001.
RODRIGUES, Silvio. Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, - vol. 3. 26.
ed. revista. São Paulo: Saraiva, 1999.
NOTAS
2. Rodière e Rives-Lange, Droit Bancaire, cit., p. 246 citado por Abrão, Nélson. Direito
bancário. 7 ed. ver. E atual. Por Carlos Henrique Abrão. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 149.
9. Fazzio Júnior, Waldo. Manual de direito comercial. São Paulo: Atlas, 2000, p. 512.
10. Da Silva, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19.ª ed., ver. e atua.
Malheiros: São Paulo, 2001, p. 805.