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A TORTA DE MAÇÃ

Infantil

Texto de
JULIO CARRARA

Escrita em 2009
Julio Carrara A Torta de Maçã 1

PERSONAGENS:
VELHINHA
CAMPONESA
MARIDO
MULHER
MOÇO
MÃE
CRIANÇA
VELHO

CENÁRIO: Descrição no texto. Tudo muito simples e despojado. Pode ser


apenas elementos que entram e saem conforme as necessidades das cenas.
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CENA 1
(Entra velhinha bonitinha, de touquinha, varrendo a casa. Encosta a vassoura, limpa
as mãos no avental e vai para o fogão.)

VELHINHA
(Falando sozinha, agradavelmente.) E que doce eu vou fazer hoje? (Abre um
livro de receitas e procura.) Bolo de creme, bolo de chocolate, hummm, torta de
ananás, torta de ameixa, não... Ah! Torta de Maçã. Hum, que delícia. Há quase
um ano que eu não como torta de maçã. Também o tempo das maçãs é só uma
vez por ano. Mas agora está no tempo... Vamos ver o que eu tenho aqui.
Farinha, açúcar, passas, fermento, ovos, leite... Tenho tudo menos as maçãs! E
não se pode fazer torta de maçãs sem maçãs. Acho que não há outro remédio
senão sair para comprar. (Pega uma caixinha-cofrinho.) Vamos ver se o
dinheirinho dá. (Abre e tira uma única moedinha.) Oh, não dá. Bem, paciência...
Faço outro doce. (Sem entusiasmo.) Doce de ameixa. (Vê o vidro de ameixas.)
Tenho tantas ameixas... (Para.) Mas o que eu tenho vontade mesmo é de comer
torta de maçã. Hum! Torta de maçã é o doce que eu mais gosto no mundo.
Que pena que o dinheirinho não dá para comprar maçãs... as ameixas sim
estão sobrando. (Ideia.) Estão sobrando? Mas claro. Vou ao mercado vender as
minhas ameixas! Vendo as ameixas e compro maçãs! Como é que eu não
pensei nisso antes?

(Com passinhos apressados, pega uma cestinha, enche de ameixas, cobre com um
guardanapo bem limpinho. depois vai se arrumar. Troca a touca simples por uma com
rendas, troca o avental simples por um branquinho, o xale por outro mais bonito,
suspende um pouco a saia para ver se as botinhas estão limpas, balança a cabeça pega
uma escova e lustra-as um pouco gemendo com o esforço e finalmente sai com a sua
cestinha. Anda com passinhos miúdos, alegre, cantarolando com voz de velhinha um
tema antigo. Ouve um passarinho, para para escutar um pouco e continua andando.)
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CENA 2
(Velhinha passa por um galinheiro onde uma camponesa joga milho para as galinhas
com ruídos típicos.)

VELHINHA
(Parando diante do cercado, muito amável.) Bom dia, vizinha!

CAMPONESA
Muito bom dia, vovozinha.

VELHINHA
Bom mesmo, não é? Lindo, lindo dia! E como vão as galinhas hoje? E os
galos? E os frangos? E os pintinhos?

CAMPONESA
Vão muito bem. Comem que dá gosto! Não há milho que chegue para
eles!

VELHINHA
Mas em compensação botam ovos, não é?

CAMPONESA
(Orgulhosa.) Ah, lá isso é verdade! As minhas galinhas botam os ovos
mais bonitos da redondeza! E os maiores também. Não deixam de botar todos
os dias. Quer ver? (Abaixa-se até um ninho e tira um ovo.) Está vendo,
vovozinha?

VELHINHA
Mas que beleza de ovos! Está de parabéns pelo seu galinheiro, vizinha!
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CAMPONESA
Obrigada. E a senhora para onde vai tão cedo e tão faceira assim? Se
fosse domingo, pensaria até que ia à missa.

VELHINHA
Eu vou ao mercado vender minhas ameixas.

CAMPONESA
A senhora tem ameixas para vender? Oh, que maravilha!

VELHINHA
Gosta de ameixas, minha filha?

CAMPONESA
Hum... E como eu gosto.

VELHINHA
Não quer comprá-las, então?

CAMPONESA
Não posso... Meu dinheiro já está contado para essa semana.

VELHINHA
Que pena! (Ideia.) Sabe de uma coisa? Eu quero vender as ameixas para
poder comprar maçãs pra fazer uma torta. Se quiser eu troco essas ameixas
por maçãs! Quer?

CAMPONESA
Eu faria essa troca de bom grado, vovozinha. Mas acontece que as maçãs
que eu tinha já acabaram. Não sobrou nenhuma. Oh, que pena! Eu queria
tanto comer umas ameixas hoje. O meu pai também gosta muito de ameixas.
Se a senhora quiser trocar por outra coisa... Olha eu tenho um saquinho de
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penas de ganso bem macias. Dá para fazer um travesseiro digno de uma


princesa. Quer trocar as ameixas pelo saquinho de penas, vovozinha?

VELHINHA
Estou vendo que a sua vontade de comer ameixas é tanta como a minha
de comer torta de maçã. E como eu sou da opinião que é melhor uma pessoa
contente do que duas descontentes... aceito a troca!

CAMPONESA
Muito obrigada. Eu já vou buscar as penas.

(Sai correndo. Velhinha fica “conversando” com as aves. A camponesa volta logo com
um saquinho.)

CAMPONESA
Aqui estão as penas.

VELHINHA
Aqui estão as ameixas! Estenda o avental, minha filha! (A moça obedece,
Velhinha despeja as ameixas no avental dela.) E bom proveito, vizinha.

CAMPONESA
Obrigada, vovozinha. Boa sorte. Durma bem no seu travesseiro de
penas.

VELHINHA
Até logo. (Põe o saquinho na cesta e sai com seu passinho miúdo e falando
sozinha.) Se não estou mais perto da minha torta de maçã, não faz mal. Um
bom travesseiro também é gostoso. E afinal, as penas são mais leves do que as
ameixas.

(Continua a caminhar.)
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CENA 3
(Velhinha para na frente de um jardim com muitas flores para cheirá-las e um casal sai
de casa, brigando.)

MARIDO
Palha!

MULHER
Algodão!

MARIDO
Palha, mulher!

MULHER
Algodão, homem!

(Velhinha fica escondida entre as flores, espiando-os.)

MARIDO
Mas que mulher teimosa! Quando eu digo que é palha é porque sei o
que estou dizendo!

MULHER
Teimoso é você. Quer saber mais do que eu sobre essas coisas? Eu digo
que é algodão e tem que ser algodão!

VELHINHA
(Balançando a cabeça e sorrindo.) Tsk, tsk, tsk... Que é isso? Um casal tão
simpático discutindo assim? (Ambos olham para ela enfezados, mas mudam de
expressão ao ver a carinha dela.) Bom dia.
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MULHER
Bom dia, vovozinha!

MARIDO
Bom dia. (Ideia, cutuca a mulher.) Olhe, a vovozinha pode nos ajudar.

MULHER
É mesmo. (Para velhinha.) Quem sabe poderá nos ajudar a decidir a nossa
discussão.

VELHINHA
Se for coisa de que eu entendo, com muito gosto. Não me agrada ver
pessoas simpáticas brigando... E de que se trata, meus amigos? Parece que a
dúvida é entre algodão e palha?

MARIDO
É que a minha mulher é teimosa.

MULHER
(Interrompendo-o.) Deixa eu explicar primeiro. Acontece que a almofada
da poltrona do meu avô está velha e é preciso fazer-lhe uma almofada nova.
Eu já costurei e preparei tudo. Só falta encher a almofada. Acho que uma boa
almofada tem que ser cheia com algodão.

MARIDO
(Interrompe.) Eu acho que fica melhor com palha!

MULHER
Algodão fica muito melhor.

MARIDO
Palha que é melhor! E mais barato também.
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MULHER
Algodão!

MARIDO
Palha!

MULHER
Algodão!

MARIDO
Palha!

(Velhinha fica olhando para um e para o outro como jogo de tênis e já está com uma
ideia na cabeça.)

VELHINHA
(Agitando as duas mãos.) Chega! Chega!

MULHER
Então diga vovozinha. A senhora não encheria o travesseiro com
algodão?

VELHINHA
(Ar travesso.) Algodão? Não. Certamente que não!

MULHER
(Desapontadíssima.) Não?

MARIDO
(Triunfante.) Viu, viu, viu mulher teimosa? A gente enche o travesseiro
com palha. Não é, vovozinha? Com uma boa palha seca!
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VELHINHA
Palha? Não! Eu nunca encheria o travesseiro do vovô com palha!

MARIDO
Não?

(Marido e Mulher se olham espantados.)

MULHER
Mas vovozinha, então o que nos aconselha a fazer?

MARIDO
Sim, o que nos diz, então? Nem algodão nem palha... Mas então...

VELHINHA
Vocês não acham que não existe melhor travesseiro do que travesseiro
de penas? Um travesseiro de penas de ganso, macias e leves?

MULHER
Penas de ganso? Isso é para gente rica!

MARIDO
Nós não podemos permitir um luxo desses!

VELHINHA
Quem sabe, quem sabe... (Velhinha tira o saquinho de penas da cesta.) Nesse
saquinho há penas para encher uma boa almofada para a poltrona do vovô.

MULHER
Mas vovozinha! Nós não temos dinheiro para pagar isso.
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VELHINHA
Eu não estou pedindo dinheiro... Eu troco esse saquinho de penas por
algumas maçãs... Estou com vontade de comer uma torta de maçã hoje.

MULHER
(Triste.) Oh, que pena! Não temos nenhuma maçã.

MARIDO
Que pena!

VELHINHA
Não fiquem tristes! Se vocês não tem maçãs eu troco por qualquer outra
coisa. (Olha em volta.) Por um raminho dessas lindas flores, por exemplo.

MULHER
Oh, vovozinha. Tire quantas quiser.

MARIDO
Eu mesmo vou fazer um raminho. (Os dois arrancam algumas flores e logo
está feito um raminho.) Aqui estão as suas flores, vovozinha.

VELHINHA
E aqui estão as suas penas.

MULHER
Essas penas valem muito mais do que as flores. Fez um mau negócio,
vovozinha.

VELHINHA
É o que você pensa, minha filha. Fiz um ótimo negócio. Podem ser que
em dinheiro as penas valham mais do que as flores, mas a minha satisfação de
ver vocês contentes, não há dinheiro que pague. Até loguinho.
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(Os dois acenam para a velhinha que sai pela estrada com as flores na cestinha.)

CENA 4
(Velhinha na estrada encontra com um moço bonito, bem trajado, mas de cara muito
amarrada.)

VELHINHA
Bom dia, moço. Não está lindo o dia hoje?

MOÇO
(Enfezado.) Dia lindo ou dia feio, frio ou quente, pouco me importa.

VELHINHA
Tsk, tsk, tsk. Um moço tão rico, tão bonito e tão mal humorado! Isso é
mau, meu filho. O que foi que lhe aconteceu?

MOÇO
(Caindo em si.) Desculpe os meus modos, vovozinha, mas é que estou
muito aborrecido.

VELHINHA
Aborrecido? O que é isso, menino? Um moço tão bonito...

MOÇO
É que eu vou até a casa da minha namorada...

VELHINHA
E isso é motivo para ficar aborrecido? Não me parece...

MOÇO
Hoje eu queria pedi-la em casamento.
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VELHINHO
Cada vez me parece que você tem menos razões para ficar triste, meu
filho.

MOÇO
Pois é. Seria tudo muito bom, mas acontece que encomendei um lindo
anel para dar a ela como presente de noivado. E o joalheiro não aprontou o
anel para hoje. E agora eu tenho que ir à casa da minha noiva com as mãos
vazias.

VELHINHA
Vocês jovens, tem cada uma. Não acha melhor ir de mãos vazias do que
de coração vazio? Não é o presente que importa.

MOÇO
Bem, isso é verdade. Mas é que gostaria de levar um presente pra minha
noiva. Já está na hora de ir pra lá e não dá mais tempo de arranjar nada.

VELHINHA
Ah, juventude, juventude... (Suspira.) Bom, o juízo não vem mesmo
antes do tempo. Não fique triste, mocinho. Não irá de mãos abanando...

MOÇO
Não? Como assim?

VELHINHA
Você não acha que não há presente mais lindo para uma jovem do que
um bonito ramo de flores?

(Tira o ramo da cestinha e entrega ao moço.)


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MOÇO
São lindas vovozinha. Mas não vão lhe fazer falta? Não ia levá-las a
algum lugar, para alguém?

VELHINHA
Bem, para falar a verdade eu queria trocá-las por algumas maçãs. Estou
com tanta vontade de comer torta de maçã... Mas eu prefiro que você leve
essas flores para a sua noiva. Você vai ficar contente, a moça vai ficar contente,
as flores ficarão contentes... Tome-as, meu filho.

MOÇO
(Pegando o ramo.) Obrigado, vovozinha. Sinto não ter maçãs para lhe dar.
(Põe a mão no bolso.)

VELHINHA
(Fazendo que não com as mãos.) Não, não! Não quero dinheiro!

MOÇO
(Rindo.) Tem razão, vovozinha... Gentileza como a sua não há dinheiro
que pague! Mas então aceite essa lembrança minha. (Tira uma corrente do
pescoço.) É uma correntinha que uso desde pequeno.

VELHINHA
Mas eu não posso aceitar. É de ouro, não posso.

MOÇO
Vou ficar ofendido se não aceitar o meu presente. A senhora me deu
alegria hoje... Vamos, aceite!

VELHINHA
Bem, já que você insiste. Muito obrigada. (Põe a correntinha na cestinha.)
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MOÇO
Adeus, vovozinha. Estou com pressa.

(Moço sai cantando. Velhinha, parada, segue-o com os olhos. Fica sozinha examinando
a correntinha.)

VELHINHA
Uma corrente de ouro! Agora sim posso ir ao mercado e comprar
quantas maçãs couberem na minha cestinha! E ainda vai sobrar dinheiro! Que
torta de maçã eu vou comer hoje. Mas tenho que me apressar senão chego
tarde.

(Começa a andar com passos apressados.)

CENA 5
(Conforme vai andando, a velhinha ouve um choro de uma criança e logo vê uma pobre
mulher sentada à porta de um casebre, toda esfarrapada, com uma criança ao lado e um
cachorrinho.)

MÃE
(Consolando a criança.) Não chore meu filho... Não chore!

VELHINHA
Bom dia. O que aconteceu? Por que estão tão tristes?

MÃE
Ah, vovozinha... Estamos muito mal. Faz seis meses que fiquei viúva e a
única riqueza que nos ficou, a mim e ao meu filho, era uma vaca. E ontem a
vaca morreu... Agora não tenho mais o leite para vender para comprar um
pouco de comida.
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CRIANÇA
Estou com fome, mãe!

MÃE
Também estou com fome, filho... Não sei o que vai ser de nós,
vovozinha. Se ao menos eu tivesse um pouco de dinheiro. Não posso nem
trabalhar. (Chora.)

VELHINHA
Que horror! Uma pobre mãe e uma criança sem ter o que comer e eu,
velha egoísta pensando na torta de maçã enquanto uma criancinha pequena
passa fome. (Tira a corrente da cestinha e põe no colo da mulher.) Essa corrente é de
ouro. Dará para comprar comida para vocês por vários dias.

MÃE
Uma corrente de ouro? Não é possível!

VELHINHA
Tudo é possível e nada acontece sem razão. Foi sorte eu ter encontrado
aquele moço bonito.

MÃE
Mas... mas isso é demais, vovozinha.

VELHINHA
Demais? Não, não é demais. Com o dinheiro que sobrar poderá comprar
alguma coisa. Roupas, sapatos... Adeus, boa mulher. Felicidades. (Vai saindo.)

MÃE
(Alcançando-a.) Vovozinha! Eu nem pude lhe agradecer.
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VELHINHA
Não é preciso.

MÃE
Mas eu gostaria de retribuir de algum modo.

VELHINHA
O sorriso de uma criança é a melhor retribuição.

(Acaricia a cabeça da criança que está com o cachorrinho no colo.)

CRIANÇA
(Puxando a mãe pela manga.) Mãe, mãe...

MÃE
O que é meu filho? (A criança cochicha-lhe algo.) Você quer fazer isso?

CRIANÇA
Quero sim. Ela é tão boazinha. Fala pra ela, mãe. Fala!

VELHINHA
O que você quer me dizer, garoto?

MÃE
Ele quer te dar o cachorrinho para ficar em sua casa e lhe fazer
companhia.

VELHINHA
Quer me dar o seu cachorrinho? Que menino bom.

CRIANÇA
É um cachorrinho bonzinho. A senhora vai gostar dele.
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VELHINHA
Tudo o que é dado de boa vontade traz alegria, meu filho. Aceito o seu
cachorrinho e muito obrigada. (Põe o bichinho na cesta.) Adeus!

MÃE
Adeus, vovozinha. Abençoada seja!

(Velhinha sai com o cachorrinho na cesta, andando com seu passinho.)

VELHINHA
(Acariciando o cachorrinho.) Não sei o que vou fazer com você, bichinho!
Mas a gente não recusa presente de criança!... Mas quantos negócios eu fiz
hoje! Um saquinho de penas por uma caixa de ameixas, um ramo de flores por
um saquinho de penas, uma corrente de ouro por um ramo de flores e um
cãozinho por uma corrente de ouro. Mas o que importa? O meu coração está
contente. (Sai andando, cantarolando.)

CENA 6
(Velhinha de repente para e vê uma macieira carregada de maçãs dentro de um
jardinzinho. Fica muito feliz.)

VELHINHA
Que maçãs bonitas... E quantas. (Aproxima-se e encosta na cerca e vê um
velho sentado embaixo da macieira. Para o Velho, alto.) Bom dia, tiozinho! Que
linda a macieira a sua. Parabéns!

VELHO
(Enfezado.) Parabéns nada! De que me adianta essa macieira?
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VELHINHA
Como de que lhe adianta? Uma árvore tão linda e as maçãs
vermelhinhas, madurinhas!

VELHO
Sei, sei. Vivo aqui sozinho. Não tenho nem um cachorro para me fazer
companhia.

VELHINHA
Cachorro? Gostaria de ter um cachorro?

VELHO
Um cachorro é melhor do que ninguém, não acha? Late, faz festa pra
gente, guarda a casa.

VELHINHA
Pois não seja por isso. Eu tenho aqui na minha cestinha exatamente o
que o senhor precisa.

VELHO
Como é que é?

VELHINHA
Eu acabo de ganhar um cachorrinho e não sei o que fazer com ele.
(Esperta.) Se quiser eu lhe dou o cachorrinho em troca de uma cesta de maçãs.

VELHO
(Animado.) Mas não é que é um cãozinho mesmo? E de boa raça!

VELHINHA
Quando crescer vai guardar a casa e lhe fazer companhia.
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VELHO
Vai me fazer companhia desde já! (Pega o bichinho.) E vai se chamar Fido,
porque será meu fiel amigo.

VELHINHA
Então, negócio fechado? Posso levar as maçãs?

VELHO
Naturalmente. Pode encher a sua cestinha, fique a vontade.

VELHINHA
Obrigada! (Começa a encher a cesta enquanto o velho brinca com o
cachorrinho.) Pronto. Enchi a cestinha. Que torta de maçã eu vou fazer hoje!

VELHO
Torta de maçã? Hum... Bom apetite!

VELHINHA
Obrigada... Adeus.

VELHO
Eu é que agradeço. Adeus!

CENA 7
(Velhinha agora volta mais do que depressa, passa por todos os cenários, cumprimenta
todos que encontra e finalmente chega à sua casinha. Entra, põe as maçãs em cima da
mesa, tira a roupa de passeio e coloca a roupa em que estava na primeira cena e põe-se a
trabalhar, toda assanhada, cantarolando. Passagem de tempo marcada pela iluminação.
Ela retira do forno uma linda torta de maçã e põe em cima da mesa.)
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VELHINHA
Hum... Como cheira bem! (Começa a cortar a torta. Ouvem-se palmas.)
Entre, a porta está aberta.

VELHO
(Entrando.) Dá licença, vovozinha!

VELHINHA
Oh, é o senhor? Que surpresa!

VELHO
Quando a senhora me falou em torta de maçã, eu pensei...

VELHINHA
Em me fazer companhia. Mas que boa ideia. Comer torta de maçã
sozinha é muito bom, mas com companhia, é melhor ainda.

VELHO
Sou da mesma opinião... Nada como uma boa torta de maçã e uma boa
companhia...

VELHINHA
Então o que está esperando? Sente-se...

(Serve-lhe um grande naco e pega outro. Ambos começam a mastigar com grande
apetite e com os olhinhos brilhando.)

FIM

Novembro/2009

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