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Paradigma(s)

[Heraclito: «O costume é para o homem um deus.»]

De THOMAS KUHN, A Estrutura das Revoluções Científicas

As seguintes proposições não são explicitamente formuladas por Thomas Kuhn,


constituindo apenas uma tentativa de síntese das ideias desenvolvidas na obra. Relembra-se
que a obra foi desenvolvida para o domínio das ciências naturais. A sua aplicação ao campo
das “ciências do espírito” corresponde já a um seu sentido derivado.

Paradigma (uma das noções dadas): “significa toda a constelação de crenças, valores,
técnicas, etc., que são compartilhados pelos membros de uma comunidade determinada.”

i) Em princípio, o paradigma não é pensado nem reflectido, mas simplesmente


recebido.

“Os estudantes das ciências aceitam teorias por causa da autoridade dos professores
e dos textos que lêem, não por causa das provas. Que alternativas têm, que competência? As
aplicações mencionadas nos textos não se dão como provas, mas sim porque aprendê-las é
parte da aprendizagem no paradigma dado como base para a prática corrente.”

ii) O paradigma está em relação de reciprocidade com uma certa comunidade: o


paradigma faz a comunidade e a comunidade o paradigma.

iii) O paradigma dispensa cada um dos membros da comunidade de invocar as razões


do seu conteúdo, que são aceites mesmo sem necessidade de fundamentação.

iv) O paradigma é um critério de valoração da realidade e condiciona o modo como


ela própria é experimentada.

v) Em princípio, o paradigma não é objecto de reflexão.


Max Planck: “Uma nova verdade científica não triunfa por meio do convencimento
dos opoentes, fazendo-lhes ver a luz, mas antes porque tais opoentes acabam por morrer e
cresce uma nova geração que se familiariza com ela.”

vi) Um paradigma nunca é completo nem total; e só é substituído quando deixa de ser
capaz de absorver um amplo conjunto de anomalias.

vii) A erosão de um paradigma pode conduzir a uma grave crise de sentido e de


inteligibilidade do mundo.

viii) A mudança de paradigma, e a reflexão acerca dele, ocorre geralmente em


momentos de crise.

ix) Com a introdução de um novo paradigma prevalecente, as perspectivas anteriores


tendem a desaparecer, e reconfigura-se toda a tradição anterior.

x) A disponibilidade de o paradigma ser corrigido está dependente do seu nível de


especificação.

xi) O critério único e último para vigorar um novo paradigma é: a aceitação da


comunidade pertinente.

xii) O paradigma é confessional?

“O homem que adopta um novo paradigma numa das suas primeiras etapas, com
frequência deverá fazê-lo apesar das provas proporcionadas pela resolução dos problemas.
Ou seja, deverá ter fé em que o novo paradigma terá êxito ao enfrentar os muito problemas
que se apresentam no seu caminho, sabendo apenas que o paradigma antigo falhou nalgums
casos. Uma decisão desta índole apenas pode tomar-se com base na fé.”

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