Você está na página 1de 32

Sebenta de Direito

Processual Penal II
Prof. Dra. Sandra Oliveira e Silva

Aulas Teórico Práticas

1
Faculdade de Direito da Universidade do Porto

Nota Introdutória

Esta sebenta respeita às aulas teórico práticas de Direito Processual Penal II do ano letivo de
2020/2021, lecionadas pela docente Sandra Oliveira e Silva. A sebenta foi realizada com os
apontamentos da vogal Daniela Rosas do Departamento de Pedagogia.
A sua elaboração foi realizada com o objetivo de auxiliar os estudantes para o exame de Direito
Processual Penal II. Relevamos ainda que, a leitura desta sebenta não substitui a leitura da bibliografia
obrigatória ou recomendada, sendo apenas um instrumento de auxílio ao estudo.
Caso sejam detetados alguns erros, agradecemos que estes sejam comunicados através do email
da CC4: ccurso4fdup@gmail.com de modo a que o documento seja aperfeiçoado.

Bom estudo!

A Comissão de Curso do 4º ano de Direito

2
19/02/21
Caso Nº1
Quando levantava dinheiro numa caixa multibanco, A foi assaltado por um desconhecido que
lhe levou o dinheiro, a carteira e o telemóvel. Um mês depois, o telemóvel foi localizado na posse
de C. C negou a autoria do roubo, explicando que comprara o telemóvel em segunda mão numa
plataforma de vendas da internet. Não indicou quaisquer provas em inquérito, não requereu
abertura de instrução e não deduziu contestação no momento próprio.
Em julgamento, A e a sua namorada B, que o acompanhava à data dos factos, reconheceram C
como o agente do crime. O defensor do arguido requereu então a notificação da instituição
bancária para que juntasse aos autos cópia da gravação efetuada pela câmara de videovigilância
do multibanco, mas o juiz indeferiu o requerimento com os seguintes fundamentos:
1.º - O arguido não requereu a produção daquele meio de prova durante o inquérito e nem na
contestação – que não deduziu –, sendo o seu requerimento, portanto, intempestivo;
2.º - As declarações do ofendido e da testemunha indicada pelo MP são prova
suficiente da autoria.
3.º - O prazo legal de conservação das gravações já se esgotou, razão pela qual a diligência se
afigura inócua.
Comente.
Relativamente ao primeiro argumento, aplica-se o artigo 340º do CPP, que é de natureza
epistemológica. Por este artigo o tribunal pode indeferir o requerimento probatório quando a prova
pudesse ter sido indicada na contestação. O legislador quer dar um sinal para que os sujeitos indiquem
as provas em determinados momentos por questões de igualdade e lealdade, e assim não haver o efeito
surpresa. Assim temos de articular o art.340º nº4 a) com o nº1. Na verdade o critério é o mesmo, mas
o legislador quis acentuar o caráter da regularidade da marcha processual. Quanto à intervenção no
inquérito, este deveria ser numa fase célere que está sujeita a apertados requisitos no artigo 376º CPP
e sujeito a segredo, salvo naquilo que ofende a direitos fundamentais e numa fase destinada a que o
técnico retire provas que depois vai ser afastada em sede de audiência, mas o arguido não tem dever
de se defender podendo deixar para alguém defender-se. É de salientar que, se o arguido se o arguido
não se defender na contestação isso não tem qualquer consequência, pois é na audiência de julgamento
que releva a defesa do arguido.
Quanto ao segundo argumento, importa referir que a atividade probatória só é admitida quando é
relevante. As imagens das camaras são sem dúvida uteis e pertinentes para o caso, estando assim a
relevância em abstrato preenchida. Para além disso, temos de verificar se a relevância em concreto se
encontra preenchida. Para isso, temos de ver se a prova é necessária e não é supérflua, pois quando no
enunciado já temos dados em suficientes, certas provas já não vão acrescentar informação necessária
à descoberta da verdade. Neste caso em concreto, o juiz diz que as declarações do ofendido e da
testemunha são prova suficiente pois reconheceram o C como autor do roubo. As imagens da câmara
de vigilância podem ser admissíveis uma vez que o reconhecimento de um individuo poderia ser
importante numa perspetiva do MP. Mas na perspetiva do contraditório, e da defesa quer que a prova
se produza e para infirmar que B não praticou o roubo, o propósito deste requerimento probatório é
infirmar, logo considera-se relevante o meio de prova das filmagens.

3
Por fim, quanto ao terceiro argumento, o prazo legal é 30 dias, ou seja, passados os 30 dia há uma
obrigação de destruição de imagens. Para além disso, podia recusar a atividade probatória com base
em ser inócua. Vamos imaginar que é um privado que tem um sistema de videovigilância, na esperança
de que a gravação ainda existisse no lugar da contestação, no caso de um banco é altamente improvável
que ainda exista, por isso parece bem o indeferimento com base no 340º/4 c). Claro que pode haver
outras provas, mas pode apresentar fragilidades epistemológicas que contribuam para a sua valoração,
a prova do conhecimento só é eficaz se for a primeira vez. É ainda importante referir que, se pode criar
uma memoria com base numa fotografia – artigo 8º da lei 34/2013 de 6 de maio.
Caso Nº2
Na audiência, o juiz presidente perguntou a A, vítima de um crime de roubo, se reconhecia os
arguidos, ali presentes, como os agentes dos factos objeto de imputação. Como se tratava de
pessoas sobejamente conhecidas de A, por serem seus vizinhos, este respondeu que os reconhecia.
Em recurso, foi suscitada a questão da ilegalidade do “reconhecimento” efetuado, mas o tribunal
superior desatendeu a pretensão com os seguintes argumentos: «Por um lado, o formalismo
indicado no artigo 147.º não se aplica à fase de julgamento, em virtude de os formalismos
impostos por tal norma (como a colocação do suspeito entre outras pessoas) serem incompatíveis
com o normal desenvolvimento da audiência. Por outro lado, o reconhecimento pelo ofendido é
parte (integra-se) em meio de prova autónomo (a prova testemunhal), que obedece a disciplina
diferenciada, designadamente no que toca à sindicância da sua credibilidade: essa disciplina é a
do contra-interrogatório (art. 348.º do CPP). Last but not least, nada há a censurar à conduta
da primeira instância já que estamos perante prova atípica não proibida, a valorar de harmonia
com a livre apreciação da prova (art. 127.º CPP).
Comente
Quanto ao primeiro argumento, não tem de obedecer ao artigo 147º CPP, pois a entidade é conhecida,
por isso a forma de operar é outra e não era preciso a prova por reconhecimento. Aqui deveria obedecer
ao artigo 348º CPP.
Relativamente ao segundo argumento, não pode haver uma substituição d aprova por reconhecimento
pela prova testemunhal, pois quando a prova por reconhecimento seja necessária é essa que se tem de
fazer, não pode ser substituída. No entanto, neste caso a prova por reconhecimento não fazia sentido,
pois se são vizinhos A já conhecia a vítima. Até pode não saber o nome, mas se já conhecia isso
despensa a prova por reconhecimento. Como A está convencida de que foram os vizinhos a prova por
reconhecimento não seria necessária, sendo que esta só tem lugar quando seja necessária neste caso
não é, por isso não se aplica. Para
Por fim, quanto ao último argumento que diz que estamos perante uma prova atípica não proibida,
importa dizer que, não temos neste caso uma prova atípica, mas uma forma ilegal de obter a informação
e daí o argumento não tinha sentido. As provas atípicas são provas que o legislador não previu, sendo
que estas podem ser admitidas desde que não violem direitos fundamentais. Quanto à referência ao
princípio da livre apreciação da prova, se o juiz acredita na prova, se está convencido, ele pode valorar.
Pois para apreciar a prova pressupõe-se que os dois patamares acima da valoração já estão preenchidos.
Ele pode valorar mesmo que a prova tenha sido obtida por meios menos corretos, como vimos nas
exceções do efeito à distância das provas.

4
Neste caso não seria de aplicar o artigo 127º do CPP, porque este só intervém quando as provas tenham
sido regularmente deduzidas e produzidas, a prova por reconhecimento não era necessária e não tinha
lugar.
26/02/21
Caso Nº3
B foi condenado a cinco anos de prisão pela prática de um crime de violência doméstica agravado
(cf. art. 152.º, n.º 3, al. a), por referência ao art. 144.º, al. a), CP). Nos factos provados, fez-se
constar, entre o mais, que «a máquina de encontro à qual a assistente foi empurrada pelo arguido
lhe esmagou três dedos, que ficaram inutilizados para o resto da vida». Estes factos foram
estabelecidos com base nos depoimentos das testemunhas arroladas pela acusação.
O arguido interpôs recurso, rematado com as seguintes conclusões: «A percepção e apreciação
dos factos integradores dos conceitos de desfiguração grave e de privação de importante órgão
ou membro exige especiais conhecimentos científicos (art. 151.º CPP), pelo que o tribunal deveria
ter requisitado perícia médico-legal com vista a determinar, com a necessária segurança e rigor,
as lesões sofridas pela assistente e as sequelas de que ficou a padecer. A prova pericial não era
facultativa, mas obrigatória».
Terá razão?
[Adaptado do caso resolvido pelo Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 25/02/2008,
publicado em http://www.dgsi.pt]
O objeto de recurso é saber se o recurso tem razão, trata-se de matéria que deveria ter sido objeto de
prova pericial e não foi.
O princípio de legalidade envolve num princípio de taxatividade de prova, ou seja, pode lançar mão
das provas tipificadas, mas também pode recorrer às atípicas. Quando às tipificadas pelo legislador
pode usar qualquer meio de prova, desde que seja adequada, podemos usar a reconstituição do facto,
testemunhas, entre outras. Quando se verifica o requisito da prova pericial? Quando está previsto na
lei segundo o artigo 151º do CPP. Esta norma significa que por um lado a prova pericial só tem lugar
quando a apreciação do facto exige especiais conhecimentos científicos, mas também significa que
sempre que se verifiquem estas circunstâncias tem de ser usada a prova pericial. Se o julgador não tem
estes conhecimentos, tem de se recorrer a estes conhecimentos.
Neste caso há a exigência de conhecimentos científicos ou não? Sim, porque não é tão incontroverso
que serem esmagados três dedos conduzam à perda de um importante membro e depois depende de
saber quais são esses três dedos. Se for o polegar e o medio a perda é muito maior do que se for os
outros, porque agarramos com este três dedo. Não tendo lugar não significa que os factos neste caso
não possam vir a ser dados como provados, não pode vir a ser dado como provado, mas para isso tem
de mandar baixar aos autos para a produção de prova quanto a este prazo. Não se pode dar como
provado sem a prova pericial, esta tem de ser realizada, mas pode dar como provado. O tribunal não
pode dar como provado um facto sem que a prova seja produzida. Como isto foi num recurso por isso
o tribunal de recurso tem de mandar baixar os autos para que haja esta produção de prova. Não há
produção de prova em recurso, por isso tem de mandar baixar os autos.
Caso Nº4

5
No decurso de uma busca regularmente ordenada à residência de A, arguido num processo em
que se investiga a prática de crimes de tráfico de droga, foram encontrados e apreendidos os
seguintes objetos:
a) um caderno com a inscrição “Diário” na capa, onde A registara dados referentes à atividade
de narcotráfico (com indicação das quantidades, preços e datas das transações);
b) vários papéis manuscritos colocados entre os livros numa estante, entre eles uma carta nunca
enviada (e que não se destinava a sê-lo porque era dirigida aos pais entretanto falecidos), em que
o arguido relatava as suas vivências durante a infância e a aspiração a uma situação económica
favorável, a qualquer preço, revelando traços de uma personalidade egocêntrica.
Diga se e em que termos poderão ser valorados como prova os elementos recolhidos.
Relativamente ao elemento da alínea a), importa dizer que os alemães tratam esta matéria como
proibições independentes. A busca foi regularmente ordenada e os documentos foram bem
apreendidos, por isso não há nenhuma proibição de produção, mas pode haver proibição de valorar,
pois estas decorrem também de violação de direitos fundamentais. No nosso direito que é mais próximo
do alemão também podíamos afirmar uma produção de valorar independente. A questão que se coloca
é saber se temos uma proibição de valoração independente ou não, isto porque o nosso direito é mais
próximo do alemão do que do americano.
Quando contende com provas de valoração privadas, pode ter haver com a valoração independente e
não com a ponderação, antes de chegar à ponderação temos de ver a valoração, aqui tem de se ver se
há interesses de privacidade ou não, se houver não pode haver ponderação. Para fazer a ponderação
temos de ver se o crime é mais grave ou menos grave. Se, por fim, a informação for mais reportada à
camada interior pode valorar-se, sendo que isto é o que defende o tribunal alemão.
Este diário era da camada intermedia, mas era de valorar, pois tinha relevância para a o caso.
Neste caso, o artigo 164º do CPP não podia ser usado, pois apenas refere a admissibilidade e o que se
entende por documento. Apenas se aplicava se o documento fosse falsificado.
Por último, quanto à alínea b), importa dizer que, do ponto de vista do interesse da reserva temos de
ver se há uma justificação acrescida e se é razoável atribuir esta tutela da vida íntima, porque era
necessário que houvesse uma razão, não bastava que se quisesse esta proteçao. Isto será em princípio
matéria da vida íntima, não sujeita a ponderação. Se considerássemos da vida privada tínhamos de
fazer a ponderação, aqui mostra que provavelmente não haveria interesse porque não é por dizer que
quer ser rico, que se pode associar à droga. Ainda que entendêssemos que era da esfera da vida privada
e não íntima, tínhamos de ter a perspetiva, a gravidade e o relevo da informação, que neste caso era
frágil. Pois só com muita criatividade é que ia servir para alguma coisa e assim sendo não seria de não
valorar.
Caso 5
A foi morto a tiro no interior do seu apartamento em Lisboa e as suspeitas recaíram sobre B,
com quem a vítima mantinha uma relação conflituosa por causa de partilhas. Logo no dia
seguinte, o MP ordenou uma busca à residência do suspeito, em Sintra, para serem localizadas
e apreendidas as roupas usadas no dia dos factos, a arma do crime e quaisquer objetos que
pudessem estar com ele relacionados e servir como prova. Encontraram-se apenas as roupas,
que foram mais tarde examinadas e relevaram vestígios de pólvora.

6
Confrontado com os mandados, B não se tinha oposto à realização da busca, mas na semana
seguinte o seu defensor alegou perante o JIC que a busca tinha sido realizada sem autorização
judicial, circunstância que configurava uma proibição de prova e tornava inutilizáveis os
resultados do exame às roupas. O MP contrapôs que a falta de despacho judicial gerava apenas
uma nulidade sanável, vício que deveria ter sido arguido no decurso do próprio ato e que em
todo o caso não se comunicava às provas derivadas.
Diga, justificando, quem tem razão.
Temos duas posições a do MP que diz que o vicio é de nulidade processual típica, pois a lei fala de
nulidades e a do arguido (B) que diz que estamos perante uma proibição de prova que atinge não só a
prova primária, como o resultado do exame às roupas que ulteriormente foi feito. Quem tem razão?
Quem ordenou esta busca? Foi o MP, o vicio estará na circunstancia de ter sido feita uma busca com
um mandato feito pelo MP. As buscas domiciliarias têm de ser feitas mediante autorização (artigo
177º/1 CPP) e a violação disso tem a consequência da nulidade.
Há uma formalidade que a lei prescreve que é o mandato judicial e essa formalidade não foi cumprida,
a questão que se coloca é saber qual a consequência que emerge do desrespeito dessa formalidade?
Neste caso não temos de ver as teorias do direito alemão, pois o legislador português ajuda um pouco
mais, porque quando existe um vicio estabelece uma consequência e aqui também, diz que é nulidade.
Resta saber se é mesmo nulidade ou uma proibição de prova. A proibição de prova tem como
consequência a proibição da valoração de prova. Aqui vai depender se é o facto de estar em causa
direitos fundamentais ou não, sendo que por isso é o critério material que se tem de usar. O critério
terminológico não ajuda e o critério logico do objeto também não, pois se seguir o artigo 177/2 d) CPP
as buscas até durante a noite devem ser com consentimento do visado. Se houver consentimento do
visado a busca é valida. Para além disso, também não podemos usar o critério da disponibilidade do
objeto, sendo que se aplicássemos este critério estávamos perante uma invalidade. Porém, este critério
não serve, pois segundo o 126º/3 CPP a invalidade está relacionada com o objeto e com as invalidades
sanáveis. O critério que releva é o material de obrigação à CRP, aos direitos fundamentais.
Aqui verifica-se os critérios de entrada no domicilio ou não? Sim, porque temos o direito à
inviolabilidade do domicilio, segundo o qual pode haver esta prova, mas tem limite no 34º/2 CRP. Se
a norma que concretiza esses limites constitucionais é violada ultrapassa-se a margem de risco que a
CRP criou e temos uma proibição de prova. Mas pode acontecer que sejam violadas outras
formalidades.
Vamos imaginar que foi outra a formalidade violada, por exemplo uma das formalidades do 136º. Aqui
a consequência é uma invalidade processual típica, porque se trata de formalidades que não são da
CRP, são outras que ficam ao critério do legislador, não sendo impostas pela CRP. Se nada se disser é
uma mera irregularidade.
Portanto no caso, quem tem razão, em princípio, é o defensor. Mas no segundo paragrafo do enunciado,
diz que B não se opôs à busca. Se tivesse havido consentimento de B prévio à busca, a autorização era
dispensável. Mas será esta não oposição consentimento ou não? O legislador exige que o
consentimento tem de ficar documentado de qualquer forma, isto é, tem de haver consentimento
expresso documentado. Assim sendo, neste caso não há consentimento, pois este não foi livre, foi dado
com a convicção de que a busca foi feita de uma forma ou outra.
Depois fez-se exame da roupa. As buscas não são fontes de informação, são meios de obtenção de
provas, o juiz não valora buscas. As roupas foram sujeitas a exame, pode-se valorar o resultado doe

7
exame? Aqui convoca o problema do efeito à distancia de prova. Produz-se este efeito, em princípio,
a base legal é encontrada no artigo 32º CRP, onde diz que são nulas todas as provas, sendo que para
Costa Andrade a base é o 131º CPP. Entre nós aceitasse o efeito à distância, sendo a extensão dele
pautada por critérios análogos aos do EUA e da Alemanha, ou seja, vamos seguindo o que é dito
noutros ordenamentos jurídicos. Neste caso, não há nenhuma evidência que pudesse afastar o efeito à
distancia, por isso ele ia se produzir.
Caso 6
Ouvido como arguido uma investigação por homicídio, A foi coagido por meio de tortura a
confessar, revelando o local onde se encontrava a vítima. As suas declarações permitiram ainda
à polícia descobrir a arma do crime, que se verificou estar coberta de impressões digitais de A.
a) Poderão ser valoradas as declarações prestadas por A sob tortura? E as informações
probatórias resultantes da autópsia do cadáver e do exame da arma do crime?
Neste caso alguém foi torturado, confessou e consegue-se encontrar a arma. Pode-se valorar as
declarações prestadas por tortura? No artigo 126º CPP, a tortura é um meio absolutamente proibido de
prova, sendo que por isso não pode ser valorado e o legislador diz que são nulas estas provas. Há aqui
uma proibição de usar a informação como fonte de prova.
E as informações que vêm da autopsia? Aqui temos o problema do efeito à distancia, onde as provas
secundarias estão inquinadas, não havendo nenhuma exceção que afaste o efeito à distancia., sendo
assim o vício que atinge as provas primárias atingirá também as provas secundária, que resultaram das
primeiras, e também em relação a estas se produz a proibição de valoração.
Todavia, nós acolhemos as exceções do direito norte-americano e alemão, sendo que neste caso quanto
muito poderia invocar-se a exceção da descoberta inevitável, contudo, o enunciado não nos permite
chegar a esse resultado para tirar essa conclusão. Para o direito alemão teria de se fazer um juízo de
ponderação em relação aos direitos fundamentais e seria necessário que não fosse impossível de obter
a prova por outro meio para se poder valorar o meio usado em concreto.
b) E se, no decurso da audiência, o arguido, devidamente esclarecido do seu direito ao silêncio e
da irrelevância das declarações anteriores, decidir confirmar o seu teor?
O arguido confessa na audiência de julgamento, será que a confissão pode ser aproveitada? O arguido,
em audiência, vem prestar declarações que confirmam os factos das provas anteriores que não foram
valoradas. Uma prova tem autonomia em relação às fases seguintes do processo penal. Portanto,
segundo a doutrina norte-americana a confissão pode ser aproveitada, pois produz-se a exceção da
macula dissipada, pois há um ato de vontade, e se esse ato é livre e esclarecido vem dissipar a proibição
e permite valorar a prova secundária. É exigido o esclarecimento dissipado, e aqui esse foi verificado
pois o arguido foi informado do seu direito ao silêncio. Por outro lado, segundo o direito alemão trata-
se do efeito continuo, pois, o vício que inquina a prova primária declarativa continua a produzir os
seus efeitos quando essas declarações continuam a ser ulteriormente repetidas, salvo se houver um
antidoto para interromper o efeito do vício. O antidoto seria o consentimento livre e esclarecido. Tendo
isto em conta, o efeito continuo não se produz, porque houve a interrupção para o esclarecimento.
Tendo tudo isto em conta e como aceitamos os critérios do efeito à distância alemão e norte-americano,
poderíamos já valorar as segundas declarações do arguido, prestadas em audiência.
Caso 7

8
A, acusado de homicídio, aguardava julgamento em prisão preventiva. A polícia convenceu
então B, em troca de vantagens para o seu próprio caso, a aproximar-se dele no sentido de obter
eventuais informações incriminadoras. Colocou então os arguidos na mesma cela. A atuação de
B permitiu identificar C e D, que haviam presenciado o crime e foram ouvidos em julgamento
como testemunhas contra A.
Poderão as declarações de B ser valoradas como prova contra A? E as declarações das
testemunhas C e D?

Saber se se pode valorar as declarações de B é saber se se aceita este método de obtenção de prova. O
artigo 126º CPP diz que são proibidos os métodos enganosos. A discussão é se isto cai nas proibições
do art.126º nº2 a). Será que a lei permite também que se use um «homem de confiança» para obter
informações de crimes já cometidos?
A lei permite agentes infiltrados entre nós, ou seja, que alguém entre no meio criminoso para obter
informações sobre os arguidos. Mas a lei autoriza isto não para crimes já consumados e acabados, mas
para crimes que ainda não esgotaram as possibilidades probatórias, ainda não esgotaram a sua
capacidade decisiva. Então a lei permitiria isso não para punir A por um crime que ele já cometeu. Em
relação a isto existe a convicção segura da parte da doutrina e jurisprudência de que não é admissível
esta junção de colocar alguém na sela do arguido para extorquir declarações, isto será uma fraude à
lei. O arguido é interrogado nos termos do artigo 141º CPP, tendo o direito ao silêncio. Esta solução é
um interrogatório disfarçado, por isso não deve ser permitido sobre pena de se estar perante uma fraude
à lei. Contra este entendimento temos Costa Andrade que diz que, a utilização de agentes encobertos
supõe que o crime a investigar não esteja ainda consumado, no sentido de esgotado na sua capacidade
lesiva, por exemplo, se se está a investigar uma rede de tráfico de droga pode ser que A já tenha
cometido tráfico, mas se o propósito do agente encoberto é recolher informação sobre uma rede e não
sobre A esta utilização de agentes encobertos não é permitida, pois não se pode usar quanto a crimes
já consumados, segundo a doutrina. A jurisprudência diz o mesmo, com base num caso de lisboa, em
que o que se queria fazer era colocar dois suspeitos na mesma sela e gravar as conversas que tivessem,
sendo que isto não foi admitido, embora aqui não fosse a mesma coisa.
No direito americano este mecanismo chama-se “Jail Plant”, não sendo proibido, pois a preocupação
aqui é com a coação, pretendendo-se criar um âmbito coativo. Os Miranda Warnings justificam-se
porque uma pessoa que é detida e interrogada está num ambiente coativo que lhe limita a liberdade.
Mas não há nenhuma preocupação com o engano. Na Alemanha, por exemplo, são os casos de prisão.
A jurisprudência alemã tem presente a ideia de coação, a pessoa tem a necessidade urgente de falar
abrindo-se em confidencias com quem estiver ao lado. Na privação da liberdade cria uma coação para
a confidencia que não pode suspender de outro modo e tratava-se de limitação da dignidade humana,
proibindo-se este tipo de procedimentos.
No Tribunal Europeu dos Direitos Humanos também foi discutida esta questão no caso Allan C. Neste
estava em causa o homicídio de uma pessoa, em que o culpado se remeteu ao silêncio. O arguido
admitia a participação nos roubos, mas não no homicídio, sendo que para obter uma confissão a polícia
colocou um informador na sua sela conseguindo obter informações através desse método. Contudo, o
tribunal entendeu que o procedimento tornava o processo injusto no seu todo. O TEDH entendeu que
houve a violação do princípio do fair play do artigo 6º pois era como se tivessem feito um interrogatório

9
disfarçado e uma vez que não se podem contornar os formalismos do interrogatório, o TEDH entendeu
que não se podia valorar essa informação.
Então conclui-se que não se proíbe agentes infiltrados, mas tem de se ver os casos concretos. Contudo,
entre nós, não se tem aceitado este método de obtenção de prova quer na doutrina quer na
jurisprudência. Então, as declarações de B não podiam ser aproveitadas, porque não têm autonomia
em relação à confissão de A. se tivesse sido gravada, não se poderia também valorar.
Por fim, quanto às declarações de C e D, segundo o direito norte-americano, o facto de a testemunha
ser livre de vontade funciona como o antidoto que quebra o vicio. Só porque a testemunha fala de
forma livre e esclarecida é que se produz declarações que podem ser aproveitas – teoria da macula
dissipada. Por outro lado, segundo o direito alemão, tem de se verificar se o fim de proteçao da norma
justifica o efeito à distancia, sendo que neste caso justifica. Em segundo lugar, se através da ponderação
se justifica a valoração ou não, e por outro lado a gravidade do crime que está a ser investigado e o
relevo do crime. Tendo tudo isto em conta, podia admitir-se segundo o direito alemão este
aproveitamento, tendo em conta também o efeito continuo. O direito alemão é mais permissivos nesta
questão que o direito norte-americano. Mas, isto é discutível, pois nós não temos essas teorias na lei,
mas o que existe é um acolhimento pela doutrina e pela jurisprudência.
Caso 8
Por meio de escutas telefónicas ilegais feitas a A, a polícia descobriu que A, B e C preparavam
uma operação de desembarque de droga no porto de Leixões, circunstância que lhe permitiu
efetuar detenções e apreender grandes quantidades dessa mercadoria.
Sabendo que, mesmo sem as escutas ilegais, se afigurava como altamente provável a descoberta
da operação, visto que a PJ já desenvolvia operações de vigilância naquele local, diga,
justificando, se o tribunal pode ou não considerar para efeitos probatórios o resultado da
apreensão.
A primeira questão está em saber se as escutas podem ou não ser valoradas. Diz-se que as escutas são
ilegais, mas não se define, não se caracteriza qual é a ilegalidade cometida, podem tratar-se de escutas
ilegais porque foram autorizadas fora dos pressupostos previstos na lei ou pode tratar- se de escutas
ilegais porque foram realizadas sem cumprimento das formalidades que o legislador impõe para a sua
execução.
Neste caso, parece tratar-se do efeito à distância, mas só podemos falar dele se houver a proibição de
valoração. Teríamos de perceber que invalidade é esta para ver se se trata de invalidade típica ou
proibição de prova. Mas nas escutas se se tratar de uma formalidade que é a concretização dos
parâmetros constitucionais de que depende o sigilo das telecomunicações, isto é, se o que estiver em
causa é uma invalidade que concretiza estes parâmetros, então temos proibição de prova. Por outro
lado, se for uma formalidade estabelecida pelo legislador trata-se de uma invalidade típica. Isto é, o
artigo 190º CPP diz que os requisitos e condições estabelecidos no artigo 187º, 188º e 189º CPP são
estabelecidos sob pena de nulidade. Se atendêssemos apenas ao ponto de vista terminológico ou formal
o vício que decorreria da violação de algum dos requisitos ou formalidade das escutas seria a nulidade
e, nada se dizendo na lei, tratar-se-ia de uma nulidade sanável, artigo 120º/1 CPP. Mas a verdade é que
temos de articular esta disposição com o artigo 126º/3 CPP que diz quais são os métodos proibidos de
prova. Portanto se forem feitas escutas e uma vez que as escutas atingem o direito à reserva da vida
privada, o direito à palavra falada, o direito ao sigilo das telecomunicações, se forem feitas escutas

10
fora dos pressupostos previstos na lei temos que articular a norma que as culmina com a nulidade com
a proibição de prova no artigo 126º/3 CPP que diz que estas são nulas não podem ser utilizadas.
Tem se entendido entre nós que se for violado o artigo 187º CPP que diz quando se admite escutas e
todas as formalidades, teremos sempre uma proibição de valoração. Se for violado o artigo 188º CPP
deve-se fazer uma distinção, sendo que para isso tem se em conta um critério material. Ou seja, se se
tratar de formalidades dos requisitos constitucionais o que vai estra em causa é uma proibição. É
entendido isto, apesar de no artigo 190º CPP se falar de invalidade. A doutrina maioritária vai neste
sentido.
Quando falamos na distinção entre nulidade e proibição de prova fizemos apelo a esse critério material,
ou seja, há de buscar-se na própria constituição. A constituição autoriza em certos termos a compressão
de DF em ordem à perseguição penal. Mas ao mesmo tempo estabelece limites intransponíveis, estes
são depois concretizados pelo legislador na lei ordinária. Se a formalidade que é violada configura um
requisito que o legislador ordinário estabeleceu para assegurar a compatibilidade com a constituição.
Vamos imaginar que a constituição diz, a propósito das buscas domiciliárias, que não se pode entrar à
noite no caso dos cidadãos e que toda a intromissão no domicilio deve ser autorizada por juiz. Depois
o legislador ordinário concretiza estes limites na lei ordinária e estabelece requisitos mais
especificados. Se for uma dessas formalidades, e que no fundo é uma concretização dos parâmetros
constitucionais, teremos uma proibição de prova, caso contrário teremos uma nulidade.
É assim também a propósito das escutas. A lei exige no artigo 188º CPP o cumprimento de certos
prazos. Se os prazos forem violados, a consequência depende do facto de serem violados de forma
mínima ou se o desvio for de tal ordem que coloca em causa as escutas. Se for violado de forma mínima
o que está em causa é uma invalidade, por outro lado se o desvio colocar em causa as escutas, o
principio da judicialidade na realização de escutas imposto pela CRP está a ser colocado em causa e
assim sendo estamos perante uma proibição de prova, não se podendo valorar. Isto resulta num
entendimento jurisprudencial sólido, temos um acórdão do STJ de fixação de jurisprudência nº1/2019
que diz isto mesmo. Portanto aquilo que temos é que não sabemos a espécie de ilegalidade que foi
cometida, mas vamos assumir que não se trata de uma pequena quanto ao prazo e vamos assumir que
se está perante uma proibição de valoração das escutas.
Neste caso vamos entender que há uma proibição de prova. Ora se a prova primária não pode ser
valorada a questão que se coloca é de saber se a proibição de valoração que a atinge se comunica ou
não às provas secundárias que à custa dela foram obtidas. Estamos perante o problema do efeito à
distância. Aqui produz-se efeito à distancia ou não? Neste caso, segundo o direito norte-americano
aplicar-se-ia a exceção da descoberta inevitável segundo a teoria dos frutos da árvore envenenada,
porque há um caminho alternativo que não foi seguido, mas esta disponível. O caminho lícito
alternativo não foi efetivamente seguido, não se trata da exceção da fonte independente, não vale a
ideia do “actual clean path”, há um caminho alternativo, mas ele é apenas hipotético que não foi
seguido pelas autoridades. Mas ele teria sido caso não se tivessem feito as escutas legais. Por outro
lado, segundo o direito alemão, era necessário fazer uma ponderação entre o interesse da prossecução
penal, que se afere à luz da gravidade do crime imputado aos agentes e da indispensabilidade probatória
da informação. Neste caso tratava-se de um crime grave em que este elemento de prova parece ser de
grande valor, apesar de não sabermos se é indispensável ou não. Por outro lado, tem também de se
ponderar os interesses fundamentais que a proibição de prova visam proteger, no caso são sobretudo a
reserva da vida privada, o direito à palavra, o sigilo das telecomunicações. É preciso aferir do peso e
da gravidade da intromissão nesses direitos fundamentais. O direito alemão, desse exercício concluiria

11
ser admissível a valoração da prova secundária e essa convicção seria reforçada por apelo aos critérios
hipotéticos de investigação. A jurisprudência alemã é pouco exigente na avaliação desse critério, basta
olhar para o caso e concluir que não era impossível obter-se seguindo o caminho legal. A nossa
doutrina é mais exigente e impõe que fosse altamente provável a obtenção do mesmo resultado através
de um mecanismo lícito, ou seja, dir-se-ia o resultado não pode ser aproveitado porque da articulação
do artigo 190º CPP com o artigo 26º/3 CPP resulta a extensão às escutas telefónicas da disciplina de
proibição de prova. Isto será assim quer sejam violados os requisitos da admissibilidade das escutas
quer seja violada alguma formalidade que seja a concretização dos parâmetros constitucionais de que
depende a legitimidade da intromissão nos direitos fundamentais. A prova secundária, embora se aceite
entre nós um efeito à distancia poderia ser aproveitada, não se lhe estende a proibição de valorar que
atinge a prova primária, aproveitando-se aqui a exceção da descoberta inevitável e atendendo ao
ordenamento alemão o critério dos processos hipotéticos de investigação associada ao principio da
ponderação.
Caso Nº9
A foi constituído arguido num processo em que se investiga a suspeita de homicídio de B, cujo
paradeiro não foi possível localizar.
Com a intenção de «fazer falar» A, o agente policial incumbido da investigação dos factos, C,
colocou sobre a secretária, durante o interrogatório, uma pasta aberta contendo um relatório de
autópsia e fotografias (que não se referiam à vítima do crime em investigação), enquanto dizia,
apontando para os documentos: «Com as provas que temos, falar é o melhor para si!».
A, erroneamente convencido de que o cadáver da vítima tinha sido encontrado, admitiu ter
agredido B no contexto de uma discussão que com ele travara.
a) Poderão ser valoradas as declarações que A prestou no contexto do interrogatório
policial? Justifique.
As declarações dadas à policia não podem ser usadas em julgamento a não ser que haja o
consentimento ou tenham sido prestadas perante a autoridade judiciaria e com o defensor presente, o
que no caso não se encontra cumprido. Estas não são valoradas na decisão final, porque é muito difícil
provar que num interrogatório judicial houve condicionamentos, enganos e tortura. Por exemplo, a
mãe da joana disse que foi torturada, segundo os relatórios do hospital, mas nas alegações da policia
ela disse que tinha caído, até quando há prova é difícil provar. É por isso que o legislador só autoriza
as declarações prestadas perante autoridade e defensor que tem de lá estar a acautelar os interesses da
decisão final. É para esses que a pergunta serve e não para a decisão final – artigo 357º/1 d) CPP.
O facto de ter assumido que agrediu o B não significa que o tenha matado. Os meios enganosos de
prova também são proibidos tendo em conta o artigo 126º/2 b) CPP. Neste caso, estamos perante meios
enganosos, porque os três requisitos encontram-se verificados. O elemento intencional está verificado,
pois a entidade inquirente tem a intenção de enganar, uma vez que a policia tinha intenção de fazer A
falar. Neste caso, há a convicção errónea, tratando-se de um engano por ação e não por omissão, uma
vez que não há aproveitamento de um estado de erro. Trata-se de um engano por ação, pois o policia
disse alguma coisa e ao meso tempo colocou em cima da secretaria um relatório de autopsia. Por fim,
a convicção errónea é determinante para estas declarações. A convicção é determinante quando uma
pessoa normal, colocada na situação do arguido real, em face da convicção criada também prestasse
declarações naquele sentido e naqueles termos. Assim sendo, incidia sobre as declarações de A uma
proibição de valoração, pois os requisitos do artigo 126/2 a) CPP estão cumpridos.

12
b) Suponha, em alternativa, que o investigador se limitou a afirmar que a carrinha de B foi
encontrada, sem esclarecer o arguido de que nela não foi encontrado nada de relevante.
Erroneamente convencido de que tinha deixado impressões digitais na carrinha, A
«confessou» ter estado com a vítima no dia do seu desaparecimento. Quid iuris?
A pergunta que se coloca, neste caso prático, é se existe uma proibição de valoração, pois a carrinha
foi encontrada, mas o sujeito não foi esclarecido que lá não foi encontrado nada de relevante. Tendo
em conta que, para haver engano tem de se verificar três requisitos cumulativos (artigo 126º/2 a) CPP)
e neste caso não se verifica o elemento intencional, não iria haver engano e as declarações podiam ser
valoradas. O elemento intencional não se verifica, uma vez que a policia não se diz aqui que tivesse
intenção de se aproveitar do estado de erro que espontaneamente laborava o arguido. Para além disso,
criação de uma convicção errónea ou o aproveitamento de um estado de erro prévio em que labora
espontaneamente o agente, omitindo a polícia um dever de esclarecimento legalmente imposto também
não se verifica uma vez que o próprio agente labora me erro, mas não há um dever de esclarecimento.
O terceiro requisito, da convicção determinante estaria preenchi, mas não releva, pois tem de se
verificar os três requisitos cumulativamente.
Portanto, aqui não há engano e as declarações podiam ser valoradas.
c) E se o agente policial tivesse simplesmente omitido os esclarecimentos sobre o direito ao
silêncio no início do interrogatório?
A lei impõe um dever de esclarecimento sobre o direito ao silêncio, sendo assim a cada interrogatório
que seja feito deve ser explicado de novo os seus direitos processuais ao arguido – artigo 141º/4 a)
CPP por remissão do artigo 144º CPP. Por isso, em todos os interrogatórios na fase de inquérito é
obrigatório esclarecer o arguido de todos os seus direitos processuais no qual se inclui por força do
art.61º nº1 d), o direito a não responder a perguntas sobre os factos que lhe sejam imputados. E é
obrigatório ainda que o arguido já o saiba por não ser o primeiro interrogatório.
Tendo isto em conta, aplicaríamos o artigo 58º/5 CPP, que a doutrina tem entendido valer para todos
os casos em que tenha sido omitido o direito ao silêncio. A omissão dessa informação torna não
valoráveis as declarações que sejam prestadas. Entre nós temos uma norma em que se diz que não pode
valorar-se as declarações, sendo que isso resulta da aplicação conjugada o artigo 141º/4 a) CPP + artigo
44º CPP + artigo 58º/5 CPP. Na Alemanha não existe esta norma tendo de se verificar se esta omissão
foi deliberada, sendo preciso que o arguido estivesse erroneamente convencido de que tinha um dever
de falar. Se o arguido tivesse incorrido neste erro existia um dever de esclarecimento pelas autoridades
e, por isso, um engano por omissão relevante. E, por fim, seria preciso ver, se esta convicção errónea
era determinante da prestação de declarações. É de salientar que, não temos de fazer isto, uma vez que
temos uma norma que diz que não se pode valorar as declarações quando o dever de esclarecimento
sobre o direito ao silêncio não foi cumprido.
Caso Nº10
No contexto das investigações de uma rede de narcotráfico a operar em Portugal, foi
regularmente autorizada a intervenção de D, investigador da Polícia Judiciária, como agente
encoberto. Nessa qualidade, D passou a frequentar, com assiduidade, locais conotados com o
tráfico de estupefacientes, deslocando-se em automóveis de elevada cilindrada e levando consigo
quantidades significativas de cocaína e heroína, de modo a criar a aparência de se dedicar ao
tráfico de drogas.

13
a) É processualmente admissível a intervenção de agentes encobertos na situação descrita?
Em que termos?
Neste caso prático, temos de verificar se os requisitos formais e materiais se encontram preenchidos.
Quanto aos requisitos formais é preciso que o crime seja um crime de catálogo, sendo que isto está
cumprido, uma vez que estamos perante o crime verificado no artigo 2º7 l). Para além disso, quanto
aos requisitos materiais era preciso que a ação encoberta fosse adequada aos fins de prevenção ou
repressão penal e fosse proporcional a esses fins e à gravidade, neste caso estão presentes fins de
repressão penal, uma vez que que se trata de recolha de provas num processo já em curso. Para além
disso, o agente encoberto é um agente da PJ, o que faz com que outro requisito esteja verificado, uma
vez que estas ações devem ser lavadas a cabo por um funcionário da PJ ou por um terceiro atuando
sobre o controlo da PJ, este terceiro pode ser um particular ou um membro de outra força policial.
Relativamente à autorização, esta deveria ser dada pelo MP, mas estaria sujeita a validação judicial o
prazo de 72 horas, sendo que esta validação pode ser tácita.
Tendo tudo isto em conta, podemos considerar que a ação encoberta é admissível. Porém, há limites à
atuação do agente encoberto que são os do artigo 6º da lei 101/2001. Aqui como D teria de transportar
quantidades de cocaína e heroína, estaríamos perante a prática de um crime que o faz incorrer em
responsabilidade penal, mas aplicando o artigo 6º da lei 101/2001 é possível praticar atos preparatórios
e atos de execução de um crime. Por vezes, pergunta-se se esses atos de execução devem ficar pelo
estádio da tentativa ou se se admite a consumação do crime. Tratando-se de crimes de perigo abstrato
admite-se a consumação do crime, porque as consumações do crime não põem necessariamente em
causa ou não cria necessariamente perigo para o bem jurídico e basta isto para que se dê como
verificada esta exigência do artigo 6º/1 1ª parte. Para além disso, se se tratar de instigação ou autoria
mediata a conduta é sempre possível e as provas não podem ser aproveitadas, contudo caso a atuação
do agente encoberto configure outra modalidade de comparticipação diversa destas a conduta não será
punível desde que a atuação do agente encoberto seja proporcional à finalidade da ação encoberta.
Portanto, uma vez que o agente encoberto apenas transportava consigo a droga o que em si consuma
um crime, se este se revelar proporcional às finalidades da ação encoberta o agente não será punido
porque beneficia de uma causa de exclusão da ilicitude. As provas que o agente venha a obter podem
ser valoradas e atuação do agente é legitima.

b) Finda a fase de inquérito, o magistrado do Ministério Público competente considerou


desnecessária a junção do relato do agente encoberto, por entender que as «provas
materiais recolhidas aquando da detenção dos suspeitos tornam supérflua, em termos
probatórios, a junção de um relatório descritivo das operações». Quid iuris?
O relato da ação encoberta não tem uma finalidade probatória, mas sim destina-se a contextualizar a
investigação e a permitir o controlo por parte do juiz e por parte do próprio arguido da regularidade da
operação. Aqui teríamos de aplicar o artigo 4º/1 da lei 101/2001. Neste caso, a junção do relato é
obrigatória. Porem, este pode não ser junto se houver perigo de vida, integridade física ou outros bens
jurídicos pessoais do agente ou da sua família ou o agente encoberto intervenha numa outra ação e seja
necessário preservar a sua identidade para assegurar a eficácia dessa ou nos casos em que a ação
encoberta não tenha produzido quaisquer frutos.
Neste caso, a ação encoberta conduziu à detenção de suspeitos, sendo que há provas suficientes, não
sendo necessário o aproveitamento das perceções do próprio agente encoberto. Porém, como a ação

14
encoberta produziu frutos, o relatório deve ser junto, para que a regularidade da ação possa ser
controlada pelo juiz e pelo arguido.
c) Apesar de D não ter sido indicado como testemunha de acusação, o presidente do coletivo
determinou a sua comparência em audiência de julgamento, ao abrigo do disposto no
artigo 340.º do CPP. Diga de que modo poderá ser acautelado o interesse das autoridades
de investigação criminal, que pretendem que a identidade de D seja protegida, de modo
a viabilizar a sua intervenção em futuras operações.
Neste caso, para se proteger a identidade de D existem várias soluções, podendo a audiência ser à porta
fechada – artigo 87º/1 CPP + 4º/4 lei 101/2001. Pra além disso, podem ser aplicados os mecanismos
presentes na lei 93/99, como a possibilidade de inquirição por videoconferência com ocultação da
imagem e distorção de voz. Outra possibilidade é o agente encoberto prestar declarações mantendo a
identidade fictícia que tenha assumido no decurso da operação.
Relativamente ao facto de se inquirir uma testemunha que não tinha sido indicada, isto era possível,
pois segundo o princípio da investigação presente no artigo 340º CPP, basta que se trata de provas
necessárias à descoberta da verdade.
Exame 2013/2014
No âmbito de um processo em que A, B e C eram investigados por crimes de corrupção
relacionados com a obtenção de cartas de condução, a Polícia Judiciária conduziu, sem mandado
ou consentimento do visado, uma busca à casa de A, onde encontrou uma agenda contendo
nomes e datas de exames. Os dados contidos nessa agenda permitiram identificar, entre outros,
D, que foi constituído arguido por suspeitas de corrupção ativa e, sob promessa do Ministério
Público de ser requerida a aplicação em processo sumaríssimo de uma multa de apenas € 400,00
(quatrocentos euros), prestou declarações. Ainda em inquérito, foram ordenadas escutas aos
telemóveis de A, B e C.
Em audiência de julgamento, D, que, entretanto, fora condenado em processo sumaríssimo, foi
ouvido como testemunha de acusação. A e B remeteram-se ao silêncio, mas C prestou declarações
que os incriminavam, embora recusando-se sempre a responder a perguntas que, de alguma
forma, o implicavam nos factos.
Na última sessão da audiência, o presidente do coletivo comunicou aos arguidos a “convolação”
dos crimes de corrupção passiva imputados para crimes de abuso de poder, pelos quais os
arguidos A e B vieram a ser condenados, em concurso, respetivamente, nas penas únicas de
quatro e cinco anos de prisão. A convicção sobre a sua culpabilidade fundou-se no resultado das
escutas telefónicas e nas declarações de C e D. C foi absolvido.
Pontos a ter em conta:
➔ Saber se a promessa do MP cabe no âmbito do 126º/2 CPP.
➔ Direito ao silencio e proibição de valoração, pois C prestou declarações que o incriminavam.
O juiz não valorou o silêncio de ninguém. Só podemos ter em conta coisas que o tribunal tenha
considerado. C prestou declarações que incriminavam A. Não é proibido a confissão de crime,
a questão é se podemos valorar quanto a terceiros quando aquele que declarou não responde às
perguntas todas.
➔ Artigo 345º/4 CPP.

15
➔ Agenda que foi encontrada, saber se pode ou não ser valorada. O que se recolhe é aquilo que
pode ser valorado. A agenda ainda é prova primária, mas há a necessidade saber se pode ser
valorada, por causa da validade da busca. Mas, os dados na agenda permitiram identificar uma
testemunha que falou no inquérito, saber se as declarações que ele prestou na fase de inquérito
podiam ser consideradas, ou se estariam a ser inquinadas.
➔ Falar da agenda saber se estava coberta por reserva de vida privada, mas era discussão teórica
e não podiam ser valoradas.
➔ Saber se se aplica o artigo 133º/2 CPP.
➔ Questão de C que prestou declarações contra A e B.
➔ Saber se as declarações de D em audiência estavam viciadas ou não.
Inconformados com a decisão, A e B pretendem recorrer.
a) Indique o Tribunal (ou Tribunais) competente(s) para o recurso e os respectivos
poderes de conhecimento.
Das decisões de primeira instância recorre-se em regra para o tribunal para a relação, exceto nos casos
em que se interpõe recurso direto para o supremo tribunal de justiça. Evita-se a designação per se alto
porque o recurso não é facultativo, não é faculdade escolher, mas sim uma obrigatoriedade.
Os casos são:
➔ 432º/1 c) CPP - é preciso que esteja em causa só matéria de direito, se recorra de uma decisão
condenatória com pena de prisão superior a 5 anos. Aqui estes requisitos não estavam
preenchidos, porque o recurso era um recurso em matéria de facto, era o estabelecimento da
base factual. Para além disso, nenhuma das penas ultrapassava os cinco anos, sendo que tem
de ser uma pena superior a 5 anos.

b) Que fundamentos poderão A e B invocar para sustentar os seus recursos?


As declarações são declarações esquivas, porque ele evita responder a estas declarações.
O que C é em relação a A e a B? Segundo o artigo 345º/4, C era coarguido em sentido formal e
material, porque responde no mesmo processo e responde pelo mesmo crime ou crimes materialmente
relacionados. São coarguidos em sentido formal, porque respondem no mesmo processo e porque
respondem todos pelos mesmos crimes, uma vez que se trata de crimes de corrupção que se inscrevem
no âmbito da rede criminosa que está a ser investigada. O arguido não pode depor como testemunha,
mas pode falar da sua própria responsabilidade penal e da dos seus coarguidos. O legislador reconhece
como é obvio que as declarações dos coarguidos são mais frágeis, porque estes têm maior interesse
em mentir, maior possibilidade porque conhecem as circunstâncias do caso de apresentar uma versão
plausível sore os factos em investigação e porque tem contacto mais próximo. O coarguido não presta
juramento e se prestar declarações falsas não pode ser crime, isto traduz-se nos constrangimentos
próprios da prova testemunhal, que afastam a verdade, isto falta nas declarações do coarguido, o
legislador sabendo disto. Durante muito tempo discutiu-se se se podia valorar as declarações do
coarguido que dizia que não, pois estas eram exclusivos meios de defesa, uma vez que contribuíram
para meios de defesa. Esta opinião era minoritária na doutrina. Outro autor, dizia que as declarações
dos coarguidos eram meios de prova, sendo que esta não era prova proibida, sendo por isso admissível.
Medina de Seiça defende a exigência da colaboração, e diz que as declarações dos coarguidos eram
meios de prova, porque entre nos vigora o princípio de taxatividade dos meios de prova (artigo 125º
CPP) e esta não era uma prova proibida. Este também defende a corroboração, isto é a existência de

16
outras provas que contribuem para a veracidade da prova apresentada pelo arguido. A lei não fala de
corroboração.
Aqui teríamos de aplicar o artigo 345º/4 CPP. O que a lei diz é que quando no mesmo processo, as
declarações de A valem contra B quando A responde a todas as questões, se ele não responder isto não
vale, porque ele se furta ao contraditório, dificultando o apuramento da verdade, não estando
relacionado com o direito ao silencio de B. A lei procura assegura o contraditório, isto é, que as
declarações prestadas sejam fiscalizadas.
Nos termos do artigo 345º/1 CPP, C pode não responder a perguntas, mas se não o fizer as declarações
dele não são valoradas contra A e B. Mesmo que o juiz ache que C falou a verdade, o que ele disser
não pode ser valorado, uma vez que não respondeu a todas as questões que lhe foram colocadas.
Quanto às declarações de D, as que são valoradas são as que são prestadas na audiência. O que s se
pretende saber é se estas se encontram inquinadas, pois mesmo que as prestadas na audiência de
julgamento, podia ter algum vicio, pois podiam ter sido contaminadas pelas declarações prestadas na
base de inquérito. As buscas são viciadas, uma vez que não houve consentimento – artigo 177º CPP.
A falta de consentimento provoca uma nulidade. Neste caso não há mandato nem consentimento, por
isso estas não são nulas. Trata se de uma nulidade ou proibição de prova? Trata-se de proibição de
prova, porque os requisitos pedidos decorrem do artigo 34º da CRP. Como é uma proibição de prova,
não se pode valorar as provas que se obtenham através destas buscas, o que se encontrou foi uma
agenda. Esta pode ser valorada? Não. Podia referir-se a questão dos diários íntimos, esta agenda era
da esfera intermedia, podendo-se valorar, até se poderia dizer que era da esfera periférica, devido à
atividade comercial.
Relativamente à promessa feita a D, nos termos do artigo 126º/2 e) CPP, as provas mediante promessa
são inadmissíveis. Na interpretação d que seja promessa inadmissível, estas são aquelas em que o que
se promete é em si mesmo proibido, mas a ilegalidade também pode resultar se se oferecer uma
vantagem, aqui não é proibido a aplicação de pena de multa, o que é proibido é a negociação. Tendo
em conta isto, as declarações não podiam ser valoradas, mas não foram estas que o tribunal valou, mas
sim as que foram prestadas na audiência de julgamento. Temos de ver se as declarações prestadas na
audiência têm vicio ou se são atingidas pelo vicio das declarações prestadas no inquérito. Pode D
prestar declarações como testemunha? Segundo o artigo 133º/1 a) CPP, não podia ser testemunha, mas
segundo o artigo 133º/2 CPP, se fosse no mesmo processo o impedimento seria relativo.
D é coarguido em sentido material e formal, mas, entretanto, ele já não é arguido, não estando a
responder naquele processo. Não se poderia aplicar o artigo 133/1 a) CPP, uma vez que não existe
conexão no caso, o que se aplica é o 133º/2 CPP. D podia depor como testemunha se tivesse consentido
na prestação do depoimento na qualidade de testemunha.
A ideia do legislador no artigo 133º/2 CPP é ressalvar que mesmo nos casos em que D não é sequer
arguido, porque o processo dele já terminou, uma vez que aqui ele foi alvo de processo sumaríssimo,
que é mais rápido, o impedimento continua a existir.
Portanto as declarações de D no julgamento não eram viciadas, mas que apresentou no inquérito
estavam, será que aqui haveria o efeito continuo estando as declarações do julgamento viciadas? A
questão é discutível, poderia dizer-se que ele prestou as declarações porque benéfico de uma vantagem
do MP, mas poderíamos dizer que na audiência de julgamento D recuperou a sua liberdade, porque ele
poderia se ter recusado a declarar, o 133º CPP faz depender a tomada de declarações do consentimento

17
de D. Aqui se D declarar faz-lho livremente, não havendo nenhum constrangimento que justifique que
as declarações prestadas em audiência não sejam valoradas.
Caso Nº12
Num processo em que é imputada a A, presidente da Junta de Freguesia de X, a prática de crimes
de corrupção, peculato, fraude na obtenção de subsídio e participação económica em negócio,
foram notificados como testemunhas de acusação, B, mulher do arguido, C, seu amigo de
infância e D, sacerdote católico. Todos se recusaram a prestar declarações.
a) Poderá B, mulher de A, ser responsabilizada pela recusa em declarar? E se B apenas
tivesse casado com A depois da alegada prática dos crimes imputados?
Trata-se de testemunhas, as testemunhas têm o dever de declarar com verdade. Em geral, a
circunstância de uma testemunha faltar à verdade ou se recusar a declarar faz com que incorra no crime
de falso testemunho, por ação quando falta a verdade e por omissão quando se recusa a falar. Se todos
se recusarem a declarar, podemos dizer que todos cometeram oc rime de falso testemunho por omissão.
Mas, também sabemos que há situações em que as testemunhas se podem recusar a declarar. Há casos
excecionais em que a recusa de depoimento é legitima e depois esta norma aplica-se ao assistente e às
partes civis. Estamos neste caso perante alguma dessas circunstâncias excecionais? Nos termos do
artigo 134º/1 a) CPP, o cônjuge pode recusar-se a declarar.
Quanto à segunda pergunta, a situação retratava não muda nada na resposta, porque a lei diz no artigo
134º/1 a) CPP que o cônjuge tem direito de recusa, não fazendo distinção. Se a pessoa for conjugue
independentemente de os factos serem praticados no tem de casamento ou não o direito de recusa
aplica-se na mesma.
Se a pessoa tivesse sido, mas neste momento já não fosse cônjuge aplicava-se o 134º/1 b) CPP.
Aqui não muda nada, mas isto alerta-nos para uma possível manipulação, que é alguém casar apenas
para não ter de prestar declarações. Outra advertência, é que há o direito de recusa das pessoas casadas,
este aplica-se a todos os factos, enquanto, os unidos de factos têm direito de recusa apenas quanto aos
factos que ocorreram na pendência da coabitação.
b) Pronuncie-se sobre a recusa de prestação de depoimento por C no caso em análise. E caso
a resposta às perguntas feitas fosse apta a gerar a suspeita da prática, pela referida
testemunha, de um crime de falsificação de documentos no início da década de 70 do
século passado? A resposta será a mesma na hipótese de estar em causa a suspeita do
cometimento do mesmo crime, há dois anos, pelo irmão de C?
Quanto à primeira questão, importa dizer que, no elenco do artigo 134º CPP não constam os amigos
de infância, por isso não terá direito de recusa do depoimento, por isso praticará um crime se não
prestar depoimento. O elenco não considera os amigos de infância, por uma questão de controlo, pois
não há uma fiscalização do direito de recusa, podendo haver abuso, outra razão é que também está aqui
em causa a tutela da instituição familiar e é este aspeto da família ser a célula fundamental da sociedade
e por isso merece maior proteção do que qualquer outro tipo de relação.
Quanto à segunda questão, não seria possível, pois o crime já tinha prescrito. Há um direito de recusa
de depoimento no artigo 132º CPP, mas mais limitado do que o artigo 134º CPP. Neste caso o perigo
do artigo 132º CPP não existe, porque dado o tempo da prática do crime a responsabilidade já estaria
prescrita.

18
Quanto à última parte da pergunta, o arguido é A e C é testemunha e esta testemunha não quer
responder, porque se falar as perguntas que lhe estão a ser feitas implicam que ele fale de um crime
que o irmão de C cometeu (este não é A). Esta situação não caberia diretamente no artigo 134º CPP,
só se aplicaria se o irmão de C fosse o arguido. Aqui o caminho é o artigo 13
2º/2 CPP. Quanto ao artigo 132º/2 CPP coloca-se a questão se a testemunha também poderá recusar
responder quando houver o perigo de falando responsabilizar familiares que não são ainda arguindo
no processo? O nosso legislador não estabelece na lei, mas seria razoável que estabelece, por um lado
por uma razão de paridade com o artigo 134º CPP, pois o MP teria de fazer O irmão de C arguido e se
C tivesse de prestar declarações poderia recusar. Por outro lado, outro argumento retira-se do 364º b)
do CP, que diz que pode haver atenuação da pena ou dispensa de pena quando alguém mente para
evitar a incriminação do familiar (tem de ser um familiar que conste na categoria do artigo 134º CPP).
Tendo isto em conta, se C mentisse para proteger o seu irmão, poderia não ser punido, e assim sendo
não faz sentido obrigar alguém a prestar depoimento e a mentir para depois ser alvo de dispensa de
pena.
Portanto, a nossa lei não estabelece diretamente este direito no artigo 132º/2 CPP, mas consideramos
razoável que se aplique com base nos artigos 134º CPP e 364º CP.
Nota: os prazos de prescrição de crimes estão nos artigos 118º e seguintes do CP e os prazos mais
longos estão no 118º/1 a) CP.
c) Diga como deverá proceder o tribunal em face da recusa de prestação de depoimento por
D. E se D, em alternativa, fosse um conceituado advogado?
Aqui está em causa o segredo religioso, que é um segredo profissional, mas mais fortemente protegido,
ou seja, basta provar a legitimidade, isto é, que a, matéria foi obtida no exercício das funções e que o
D exerce de facto essas funções.
E se D fosse advogado? Aqui já etária em causa o regime do segredo profissional e aí já opera o plano
da legitimidade e o plano da justificação, havendo a questão do estatuto da ordem dos advogados, isto
é, saber se o parecer emitido pelo bastonário deve ser ou não tido em conta pelo tribunal. Portanto, a
diferença aqui é que se concluir que a recusa é legitima pode haver quebra do segredo na mesma,
porque tem de se ter em conta a justificação da escusa que tem em conta o interesse preponderante,
podendo o advogado ser chamado.

Caso Nº13
A foi ouvido como testemunha num processo em que se investigava a prática, por X, de crimes
de falsificação de documentos e burla qualificada. X teria falsificado a assinatura dos seus avós
numa procuração, que usou para constituir uma hipoteca sobre prédios que lhes pertenciam e
assim conseguir que Y lhe emprestasse dinheiro. A, que era amigo do advogado que autenticou
a procuração, B, transmitiu ao tribunal factos que este lhe havia contado em violação do segredo
profissional.
a) Poderá o tribunal considerar as declarações de A para formar a sua convicção? Em caso
de resposta negativa, como deverá proceder?

19
Há factos que a testemunha não verificou, mas que lhe foram contados pelo advogado (B). B é
advogado e contou esses factos violando o seu segredo profissional. Será que o tribunal pode
considerar essas informações para formar a sua convicção e como deverá proceder?
Aqui está em causa o segredo profissional e o depoimento indireto, pois A não fala do que sabe, mas
do que lhe foi contado por outra pessoa. Ora, quando assim é o tribunal não deve valorar, o que deve
fazer é chamar B a depor.
Em relação a B, como deve agir o tribunal? Isto está relacionado com o segredo norma e tem de se
saber se no exercício da sua profissão o advogado teve conhecimento dos factos. Tem de se verificar
da legitimidade da recusa e se a recusa legítima, passamos para o plano de justificação da escusa.
Quando se fala do artigo 129º/1 parte final do CPP diz-se que este artigo estabelece casos excecionais
em que o tribunal pode valorar o depoimento da testemunha indireta quando está indisponível a
testemunha presencial, como por exemplo casos em que a testemunha direta morreu, não pode ser
encontrada, entre outros. Esta enumeração é entendida pela doutrina e jurisprudência, como não
taxativa, sendo ilustrações de um princípio geral que consente às autoridades judiciarias a valoração
do depoimento indireto quando a testemunha presencial não esteja disponível por algum motivo que
não pode se controlado pelas autoridades. Podia aqui perguntar-se se tendo A sido testemunha e tendo
ouvido as declarações de outra pessoa que não quer falar se o tribunal pode valorar o depoimento
indireto? A resposta é não. Se B se recusar a declarar com base na quebra do segredo profissional e
esta se justificar, o tribunal não pode valorar na mesma as declarações de A. Se o tribunal superior
entender que a quebra do segredo profissional não se justifica, não se vai contornar a circunstância de
não se ouvir B com a valoração das declarações de A.
b) Suponha agora que A transmitiu em juízo informações que obteve de C, irmão do
arguido, que também era testemunha no processo, mas se tinha recusado a depor. Diga,
justificando, se estes contributos são valoráveis.
Aqui aplicamos o artigo 356º/7 CPP. A circunstância de inicialmente ter prestado as declarações e
mais tarde recusar-se na audiência a prestar, converte aquelas declarações num tema proibido de prova
e impede não apenas a leitura das próprias declarações, como a prestação de depoimento por quem as
tomou se a testemunha na audiência se recusar a prestar novas declarações. O raciocínio é igual ao do
caso anterior, pois por uma questão de paridade com o artigo 356º/7 CPP não podemos considerar o
depoimento de A. Esta norma é discutível, pois não é bem a mesma coisa, pois uma coisa é falar com
alguém fora do processo e outra é dentro do processo.
Através do artigo 356º/7 CPP, o legislador assegura a liberdade da testemunha até a último instante e
assegurar a prerrogativa da recusa até ao final.
A razão de ser do artigo 134º CPP é proteger a testemunha do conflito de lealdade, o conflito em que
a testemunha se vê colocada se fosse obrigada a prestar declarações, eventualmente incriminando o
seu familiar. A testemunha estaria dividida entre o dever de lealdade e o dever da verdade. Aqui não e
pretende a proteção da verdade, se fosse essa a ideia dir-se-ia que não se valorizam estas declarações,
pois seriam perigosas. O conflito de lealdade não existe neste caso, pois a testemunha quando falou,
falou livremente e não se obriga a testemunha a incorrer neste conflito de lealdade. Mas, para a
professora seria difícil que num caso judicial se pudesse valorar as declarações de A.
Professora disse que as respostas são faceis, o que devemos fazer é analisar, pensar, e discutir as possiveis respostas, comparar.

20
13/04/2021
Exame 2014/2015
A Polícia Judiciária de Lisboa investigava A por suspeitas de burla qualificada. A arguida,
fazendo crer às vítimas que se encontravam sob o efeito de poderosos «maus-olhados»,
convencia-as a entregar-lhe peças em ouro para «purificação», com a intenção concretizada de
se apropriar de tais bens.
Para melhor esclarecer a suspeita, a Polícia Judiciária ouviu como testemunha B, irmã da
arguida, sem a advertir do seu direito de recusa de depoimento. As informações prestadas por B
permitiram localizar os objetos que A usava para simular os pretensos «maus-olhados», bem
como várias peças em ouro (que algumas das vítimas reconheceram como suas). Os referidos
objetos e peças foram examinados, descritos, fotografados e, no caso do ouro, avaliados, tendo
as correspondentes informações sido valoradas como prova.
Ainda na fase de inquérito, foi anexado aos autos outro processo em que se investigava uma
burla cujo autor não tinha sido possível identificar, mas que tinha sido cometida com modus
operandi dêntico. Na audiência de julgamento, por ter dúvidas sobre se teria sido a arguida
cometer também aquele crime, o juiz perguntou à vítima, C, se reconhecia A como a cartomante
que a teria enganado. C respondeu afirmativamente.

➔ Nulidade por causa de não ter sido advertida do seu direito de recusa de depoimento – artigo
134º/1 a) CPP. Saber se é nulidade ou proibição de prova que resulta daqui. No exame teríamos
de explicar este artigo, bem como o facto destas pessoas terem este direito à recusa. Teríamos
também de explicar o motivo de haver este direito de recusa, e de o sujeito ter de ser avisado
deste.
➔ Possibilidade de haver o efeito à distância, pois das declarações resulta o surgimento de uns
objetos que serviram para prova.
➔ Prova por reconhecimento. A pergunta feita pelo juiz não vale como prova por reconhecimento,
se existir uma dúvida sobre a autoria relativamente a essa dúvida tem de ser esclarecida. Aqui
teríamos de aplicar também o artigo 147º CPP.
Exame 2017/2018
Em finais de abril, três encapuzados entraram armados numa dependência bancária em
Espinho, ameaçaram clientes e funcionários e saíram levando consigo cerca de € 30.000,00 (trinta
mil euros) em notas. As imagens dos assaltantes foram captadas nas câmaras de vigilância.
Semanas depois, foi ordenada por juiz a realização de uma busca à residência de A, onde foram
encontrados, num esconderijo, uma arma e cerca de € 7.500,00 (sete mil e quinhentos euros) em
numerário.
A foi interrogado sobre a sua identidade e sobre a proveniência do dinheiro, tendo-se mantido
sempre em silêncio. Foi ainda sujeito a uma diligência de reconhecimento, mas recusou-se a
envergar roupas escuras e uma camisola com capuz como as usadas pelos assaltantes, invocando
o seu privilege against self-incrimination.

21
a) Refira-se ao sentido e alcance da prerrogativa contra a autoincriminação e diga como
deverão as autoridades judiciárias proceder em face da recusa de colaboração de A nas
diligências processuais referidas.
O arguido tem um direito ao silêncio, segundo o artigo 61º/1 d) CPP. O individuo não pode recusar
responder às perguntas sore identificação, tendo um dever de responder com verdade a este, segundo
o artigo 61º/6 b) CPP. Este dever não colide contra a prerrogativa da não autoincriminação, pois não
está em causa prova de autoria, mas apenas estabelecer a correspondência. O arguido tem o dever de
responder. Para Medina de Seiça, o crime é o de falsas declarações – 359º/2 CPP. Isto devido à norma
que equipara a recusa de resposta do artigo 342º/2 CPP. Para Paulo Pinto de Albuquerque não há
responsabilidade penal, para a jurisprudência é crime de desobediência.
Quanto à recusa de colaborar no reconhecimento, pode ser imposta ao arguido ou não pode, porque
colide com a prerrogativa da não autoincriminação? Esta pode ser imposta. A grande dificuldade é
delimitar a prerrogativa contra a autoincriminação, isto é, saber em que situações o arguido está
obrigado ou não a colaborar. O direito norte-americano distingue entre as provas comunicativas e não
comunicativas e assim sendo esta matéria não está abrangida pela prerrogativa da não
autoincriminação, podendo-se obrigar o arguido a colaborar. Por outro lado, os alemães usam um
critério de atividade/passividade, isto é não podem colaborar ativamente, ma podem tolerar a ação d
terceiros e assim trata-se uma tolerância passiva. Para os alemães não se pode obrigar o arguido a vestir
as peças, mas pode-se obrigar o arguido a ter um terceiro que lhe vista as peças. Este critério tem
objeções praticas e teóricas, sendo uma delas o conflito com a vontade. O critério defendido pela
professora, quanto a esta matéria, é de que se deve distinguir a esfera corporal da esfera intelectual e
o arguido deve decidir se transmite aos outros ou não o conteúdo do seu pensamento e como o
transmite. As provas comunicativas estão abrangidas pela prerrogativa e as não comunicativas não e
assim sendo pode-se obrigar o arguido a colaborar.
A prerrogativa da não autoincriminação não responde a tudo, pois há outros direitos fundamentais
como a autodeterminação corporal, liberdade ação que cabem por ser atingidos quando se impõe uma
diligencia probatória quando se obriga o arguido a fazer algo contra a sua vontade, por isso só se pode
impor estas diligencias se houver o respeito do artigo 18º da CRP. Pode-se impor, através da cominação
com a desobediência. Mas, não se pode impor pela força física, pois seria desproporcional.
A professora defende que, nestes casos em que há recusa pode ter lugar ao reconhecimento fotográfico
e esta vale ao contrário do que diz no artigo 147º/5 CPP, pois deve-se fazer uma interpretação restritiva
deste artigo, dizendo que, esta só se impõe quando não tenha sido o próprio arguido a obstar ao
conhecimento formal.
b) Pronuncie-se sobre o valor probatório da gravação feita pelas câmaras de vigilância do
banco.
Neste caso, a instalação das camaras de vigilância os bancos são obrigatórias, por isso seria lícito e
ter-se-ia de valorar, segundo o artigo 31º/2 d) do CP.
As gravações em vídeo podem ser valoradas se não forem penalmente ilícitas devido ao princípio de
continuidade entre ilicitude substantiva e proibição de prova, sendo isto visível nos artigos 167º CPP
e 199º CP.
Exame 2016/2017

22
A foi vítima de um crime de roubo com arma branca e apresentou queixa-crime contra
desconhecidos. No inquérito, foram-lhe exibidas várias fotografias de pessoas investigadas por
crimes da mesma natureza. A reconheceu sem quaisquer hesitações B como o autor do roubo,
mas este recusou sujeitar-se ao reconhecimento formal com o argumento de que não era
obrigado a contribuir para a própria incriminação.
a) Diga se e em que termos poderá valorar-se o reconhecimento por fotografia feito no
processo.
É admitido o reconhecimento por fotografia, mas o 147º/5 CPP diz que tem de ser seguido de
reconhecimento formal, mas como devemos interpretar o artigo 147º/5 CPP de forma restritiva, não é
necessário aqui o reconhecimento formal.
b) Suponha que, sem mandado judicial ou outro, a polícia foi ao apartamento onde B residia
com a irmã e, (apenas) com autorização desta, efetuou uma busca de que resultou a
apreensão dos objetos subtraídos a A. Encontra algum vício nesta atuação? Qual a sua
consequência?
Neste caso, há falta de despacho judicial e de consentimento, havendo por isso uma proibição de
valoração relativa – artigo 126º/3 CPP.

c) Por fim, imagine que, em escutas regularmente autorizadas noutro processo em que B
era investigado por homicídio, foi captada uma conversa em que este dizia ao defensor:
«fui apanhado pela polícia por ter roubado A». Poderá valorar-se o resultado destas
escutas como prova do roubo?
Critérios de correção: A «danosidade social polimórfica» das escutas e os requisitos da sua
admissibilidade. O problema dos «conhecimentos fortuitos»: concetualização; o «princípio da
intromissão sucedânea hipotética» como critério orientador (artigo 187º/7). A proibição de interceção
de comunicações entre o arguido e o seu defensor (artigo 187.º/5 do CPP): sentido e alcance da
proibição. As conversações captadas não poderiam, no caso concreto, ser valoradas.
23/04/21
Caso Nº15
No âmbito de um inquérito aberto pelo DIAP do Porto, suspeitava-se do envolvimento de A, B e
C numa rede de furto e viciação de veículos. Em face das suspeitas da prática de crime de
associação criminosa (art. 299.º, n.º 1, CP) e de vários crimes de furto qualificado (art. 204.º, n.º
2, CP), furto simples (art. 203.º, n.º 1, do CP), roubo (art. 210.º, n.º 1, CP) e falsificação (art.
256.º, n.º 1, al. a), e n.º 3, do CP), o Ministério Público requereu ao Juiz de Instrução Criminal
autorização para a realização de escutas aos telemóveis dos suspeitos, bem como dos seus
familiares mais próximos (cônjuges e irmãos), que se supunha transmitirem informações com
interesse para a descoberta da verdade. A referida autorização para a realização de escutas foi
imediatamente concedida, em despacho fundamentado, pelo prazo de 60 dias, relativamente aos
aparelhos telefónicos identificados pelo Ministério Público.
Responda, separadamente, às seguintes questões, fundamentando sempre as respostas com a
indicação das normas aplicáveis:

23
a) Estão cumpridos no caso em apreço os pressupostos de admissibilidade de escutas
telefónicas enunciados no artigo 187.º do CPP?
As escutas são meios dotadas de grande potencial de devassa, podendo também atingir a esfera de um
grande número de pessoas, não sendo possível controlar quem vai ser atingido. O legislador estabelece
requisitos apertados, porque tem consciência do facto deste meio ser evasivo.
Neste caso, teríamos de ver se os crimes pertencem ao catálogo do 187º/1 CPP e se trata de penas de
prisão cujo limite máximo da moldura é superior a 3 anos, bastando isso para que se trate de crimes de
catálogo, exceto o fruto simples. Todos os crimes presentes no enunciado são crimes de catálogo. O
catálogo do 187º/1 CPP é um elenco taxativo, mas tem de ser integrado com o artigo 18º da lei do
cibercrime.
Quanto ao furto simples, este pode ser valorado se tiver uma relação material com os crimes que
legitimaram as escutas, pode-se aproveitar as escutas para este crime também. O juiz pode autorizar
as escritas para os restantes crimes, mas não pode autorizar com base em furto simples, pois este não
é crime de catálogo.
Outro requisito é o requerimento do MP, que existiu. Para além disso, tinha de haver uma autorização
do juiz de instrução criminal, tendo esta sido concedida. Outra questão é a fundamentação do despacho
(97º/5 CPP), sendo que no artigo 187º CPP o legislador esclarece isto, dizendo que o juiz deve fazer
uma análise do caso, de modo garantir a representação do arguido, fazendo a ponderação entre os
interesses fundamentais e o interesse penal. Outra questão é o prazo, o prazo máximo é de três meses,
por isso não podem ser autorizadas por mais de três meses de cada vez. Para além disso, temos de
verificar o âmbito subjetivo das escutas, pode-se fazer escutas ao suspeito (187/1 a)), mas e quanto aos
familiares? Pode, pois não está em conflito anímico.
As escutas só podem ser autorizadas no inquérito (artigo 187º/1 CPP) e só são admitidas em matéria
criminal, segundo a CRP. Estes requisitos também estão preenchidos.
Por fim, outro aspeto diz respeito ao estado de necessidade, é necessário que as escutas sejam
necessárias, estas só são autorizadas quando indispensáveis para a descoberta da verdade. Há aqui uma
prioridade valorativa, isto é, havendo outros meios mais benignos deviam ser usados primeiros estes e
só depois as escutas. Não se trata de uma prioridade cronológica. Outro aspeto, é que se tem entendido
na jurispudencia e doutrina é que não basta crime de catálogo, tem de haver suspeitas fundadas desse
crime, este requisito é conciliado com o princípio do artigo 18º da CRP, não devendo usar-se meios
intrusivos sem suspeitas fundadas. Este artigo está também verificado.
b) Admita que, no decurso das interceções telefónicas judicialmente autorizadas, é gravada
uma conversa mantida entre B e o seu defensor, D, na qual o suspeito relata os factos
criminais que terá praticado, e D se dispõe a prestar-lhe auxílio material. Poderão tais
escutas telefónicas ser valoradas como prova para a eventual condenação de D pelo crime
p. e p. no artigo 232.º do CP? E se a conduta de D for subsumível ao tipo legal do artigo
231.º CP?
Não podem ser valoradas, a não ser que o defensor tenha praticado um crime. As escutas não podem
ser autorizadas entre as conversações mantidas entre o suspeito, arguido e seu defensor, mas dizer isto
não basta. Estas escutas que envolvem o defensor podem ser valoradas se o defensor tiver cometido
um crime, porque não está aqui consagrado proteção do defensor, fora isto todas as formas de
conversação do defensor, devem ser privadas para que se garanta a defesa. Mas se o defensor for

24
cúmplice do crime investigado ou tiver cometido outro crime do catálogo, as escuta podem ser
valoradas cotra o defensor. Neste caso, como este crime não é crime de catálogo, pois a pena de prisão
só vai até aos dois anos, as escutas em relação ao defensor, não podiam ser valoradas as escutas em
relação a este.
Costa Andrade fala da divisão da defesa, que é a dividir na conversa s apeto que dizem respeito à
defesa, não podendo essa parte ser valorada e o resto da conversa em que é revelado crimes praticados
essa parte já poderá ser valorada.
c) Suponha que, ouvidas as gravações, o MP se apercebe de que C havia praticado, um ano antes
do início da atividade delitual em investigação, um crime de ofensas corporais negligentes (art.
148.º, n.º 3, CP) e omissão de auxílio (art. 200.º, n.º 2, CP). Poderá, de alguma forma, utilizar-se
estas escutas na investigação de tais crimes?
As escutas podem ser valoradas em processos diferentes. Para Costa Andrade, as informações sobre
crimes captadas nas escutas são informações que dizem respeito à reserva da vida privada, estando
dessa forma protegidas pelo direito à autodeterminação informacional, o que significa que só podem
ser essas informações aproveitadas para fins diferentes das escutas se houver consentimento ou
habilitação legal bastante. O artigo 187º/7 CPP, fornece habilitação legal para certos conhecimentos
probatórios o aproveitamento das escutas para outros crimes diferentes. Pode ser se os requisitos do
artigo 187º/5 CPP estiverem verificados que estes conhecimentos obtidos com as escutas possam ser
valorados noutros processos, mas aqui isso não acontece, porque trata-se de informação obtida por
mero acaso e assim sendo tínhamos de aplicar o artigo 187º/7 CPP e ver se os requisitos nele presentes
estão preenchidos. Neste caso, não são crimes de catálogo, por isso os requisitos não se encontram
preenchidos. Quanto ao requisito de ter sido a escuta feita por um meio de comunicação de alguma
das pessoas do artigo 187º/4 CPP. O que se quer exigir com este artigo é que a conversa tenha sido
estabelecida por meio de um dos telefones por onde foi ordenada a escuta e que esse telefone tenha
sido usado pela pessoa que é suspeita. A escuta tem de ser feita por uma dessas pessoas e por um
telefone de uma dessas pessoas. O que se pretende evitar com esta norma é o abuso das escutas. Por
exemplo, o magistrado do MP está a investigar um processo com este contornos, mas há alguém que
ele suspeita que poderá ter praticado crimes de corrupção e então como isto é um pouco difícil de
controlar, ele indica o numero de telefone de uma pessoa, o juiz não vê bem e julga que é um telefone
do suspeito e autoriza e depois captam-se conversa de uma outra pessoa não ligada com o caso e onde
a pessoa admite um crime de corrupção, aqui estas escutas não poderiam ser valoradas num caso contra
a pessoa de quem era o telemóvel, se fossem haveria um abuso das escutas. Se se tratar de um número
de telefone que não é usado por um dos alvos das escutas não se podem valorar as escutas. Só se pode
valorar conhecimentos furtuitos de escutas que foram licitamente autorizadas.
Nota: não se pode valorar como prova os conhecimentos furtuitos, mas há remissão para o 148º, que
diz que não se pode valorar a informação como prova, mas que se pode usar a escuta para abrir
inquérito sobre aqueles factos, desde que seja crime publico. Ou seja, podem ser usadas como noticia
de crime.
c) Poderão as escutas ser valoradas em juízo para a prova dos factos que consubstanciam
furto simples, se o crime que justificou as escutas tiver sido apenas o de associação
criminosa e o tribunal entender que se justifica a absolvição dos arguidos nessa parte?
O crime de furto simples, não legitimaria em si mesmo as escutas. Mas será que se pode valorar as
escutas para a prova do crime de furto simples? Isto tem haver com o problema de aproveitamento dos

25
conhecimentos de investigação, sendo que pode ser valorado porque tem uma conexão material com
o crime de associação criminosa.
Quanto à segunda questão, há duas posições doutrinais e Roxin diz que é preciso que a suspeita tenha
existido não apenas no momento de autorização, mas que tenha servido até ao momento da acusação
e assim sendo podia-se ter valorado as escutas, mesmo o crime de associação criminosa não se ter
provado. Costa Andrade, por outro lado, entende que tem de existir o crime de catálogo quer no
momento de autorização das escutas quer no momento de acusação e assim sendo as escutas não
poderiam ser valoradas se o crime de catálogo não se verificasse nestes dois momentos. Aqui não há
um critério certo, apenas sendo certo que não é o critério da conexão processual que releva, tem de ser
um critério material e depois outro aspeto que é tido como certo é que os crimes de associação
criminosa legitimam que se possa afirmar estar se perante conhecimentos da investigação em outras
situações que são chamadas de pós delito, como o favorecimento pessoal. Outra coisa que se podia
entender é a situação que se imputa inicialmente ao arguido um crime, cuja a prova não se faz porque
alguns dos elementos do crime não se verificam, por exemplo imputa-se a pratica de um crime de
corrupção, mas depois não se consegue provar a corrupção porque não se prova a vantagem recebida
e a conexão com o crime e a única coisa que haveria era um crime de favorecimento (vamos imaginar
que não é crime de catálogo), aqui tem se entendido que isto também será conhecimentos da
investigação.
d) Admita agora que as escutas se revelaram infrutíferas em relação às infrações
investigadas, mas permitiram descobrir que A recebera de E, magistrada judicial,
informações sobre vários processos-crime ainda em segredo de justiça. Poderá o
resultado das escutas ser usado contra E no processo que lhe venha a ser movido por
crime de violação de segredo (art. 195.º do CP)? E se o crime imputado fosse o de
prevaricação agravada (art. 369.º, n.º 2, do CP)?
Não havendo relação material entre as infrações materiais que se descobre através das escutas e as
investigadas estamos perante conhecimentos furtuitos, por isso aplicamos o artigo 187º/7 CPP
(princípio da intromissão sucedânea hipotética). É preciso ver em primeiro lugar se se trata de crimes
de catálogo, sendo que neste caso o crime de violação de segredo profissional não é crime de catálogo,
mas o do 299º CP é crime de catálogo. Aqui como não se podia valorar, as escutas poderiam servir
como noticia de crime, não valendo como prova e sendo preciso investigar e apurar através de outros
meios de prova valoráveis se efetivamente o crime foi ou não cometido. Neste caso dariam lugar à
abertura de inquérito, pois trata-se de um crime de violação de segredo que é um crime publico.
A prevaricação agravada é crime de catálogo, mas é preciso que sejam indispensáveis as escutas para
a prova do crime e que não se possa obter a prova por outras vias mais benignas. Para além disto, é
preciso que se trata de escutas feitas num meio de comunicação usado por um dos suspeitos, neste caso
isto esta cumprido. As provas, neste caso, poderiam ser valoradas.
Sendo E magistrada judicial, não se exigirá mais? Se fosse E a suspeita só poderia haver a autorização
de um desembargador das secções criminais do tribunal da relação – artigo 12º/6 CPP. Quanto à
competência para o julgamento de magistrados aplica-se o artigo 12º/3 a) CPP. Relativamente às
escutas, tratando-se de conhecimentos fortuitos trata-se de algo que não se vai obter, por isso é que o
artigo 187º/7 CPP não exige mais nada, são os únicos requisitos que se adequam à situação, se houvesse
um despacho do desembargador só por se tratar de magistrados seria estranho, pois são conhecimentos
que não se sabia que ia obter. Quando acontece o que se verificou neste enunciado deve ser um juiz
das secções criminais da elação a decidir se os conhecimentos fortuitos podem ser aproveitados ou

26
não, mas não se pode exigir que haja despacho a autorizar as escutas, porque são escutas que não são
previstas, que não se sabia que ia obter.
f) Como deveria proceder o Ministério Público caso pretendesse obter, durante o inquérito, a
«faturação detalhada» relativa a determinado cartão de telemóvel usado por A? E se em causa
estivesse a obtenção de informação sobre a titularidade do contrato associado a determinado
cartão que o mesmo A utiliza?
A obtenção de dados de faturação detalhada não ofende a palavra, mas ofende o sigilo das
telecomunicações, porque este não inclui apenas o conteúdo das telecomunicações, mas inclui também
as faturas. Esta proteção resulta da lei, mas Costa Andrade, diz que a comunicação deixa um lastro de
informação, que também é reportada à tutela do sigilo das telecomunicações, a hora da chamada, a
duração dela, a frequência das telecomunicasse fornecem informações que têm um potencial de
informação na vida privada quase tão grande como a valoração do conteúdo da chamada. Tem, deste
modo, entendido que também se aplica aqui a tutela da comunicação. Mas, a questão que se coloca é
se a lei manda aplicar os mesmos requisitos ou não? Temos uma norma de extensão no artigo 189º/2
CPP, segundo a qual à obtenção de faturas detalhadas aplica-se com as devidas adaptações as regras
das escutas telefónicas. Contudo, há algumas diferenças, pois estas podem ser ordenadas em qualquer
fase do processo, as escutas telefónicas só podem ser feitas no inquérito e estas informações podem
ser ordenadas em qualquer fase do processo. A lei 32/2008 também se refere á obtenção de dados de
tráfego, sendo estabelecido um dever das operadoras de telecomunicação de conservar certos dados
durante um ano e depois essas operadoras devem transmitir em processos penais por ordem de
autoridades judiciarias essas mesmas informações – artigo 9º da lei 32/2008. Os requisitos da lei
32/2008 não são iguais aos do CPP, sendo necessário um despacho do juiz, por isso estas não podem
ter lugar durante o julgamento, por isso esta possibilidade só existe na fase de instrução ou inquérito.
Outra diferença tem haver com o facto de segundo esta lei o requerimento ter de ser do MP ou de uma
polícia criminal competente, ou seja, à uma competência mais alarga para requerer. Por fim, há um
catálogo nesta lei mais apertado de crimes. Na lei do cibercrime, no artigo 18º/3 CPP regula-se a
recolha e registo de dados de tráfego, mandando aplicar-se as mesmas regras que valem para a
intercessão de telecomunicações. Temos aqui 3 diplomas, qual se aplica? À obtenção de dados
conservados (por exemplo, saber com quem A conversou durante um período de tempo) aplica-se a lei
32/2008 (artigo 9º), no caso de dados em tempo real (dados de faturação da pessoa para o futuro)
aplica-se o CPP ou a lei do cibercrime, sendo as duas normas potencialmente aplicáveis e sendo uma
mais recente que a outra aplica-se a mais recente, por isso aplica-se a lei do cibercrime.
Quanto à segunda questão desta alínea, aqui já não se trata de dados de tráfego, mas de dados de base
e quanto a este já não se justifica a tutela do sigilo das telecomunicações, sendo o regime aplicado o
do artigo 14º/4 da lei do cibercrime. Quando as autoridade judiciarias queiram obter dados para o
processo eu sejam guardados em suporte informático existe a injunção, que consiste em a autoridade
judiciaria pedir a quem tem os dados em seu poder para facultar os dados, podem ser qualquer dados,
com exceção dos dados de trafego ou de conteúdo das telecomunicações, porque já vimos que esse
seguem um regime mais descritivo, mas os outros dados todos seguem este regime do artigo 14º da lei
do cibercrime incluído os dados de base, por isso o que se faz é uma injunção, que é da competência
da autoridade judiciária. Pode-se invocar o segredo profissional e assim sendo aplica-se o artigo 135º
e 182º CPP.

27
g) Suponha que o MP pretende saber que percurso realizou A em determinado dia para
se apurar o seu envolvimento num concreto crime de roubo. Como se pode obter essa
informação?

Pode fazer-se a localização celular, que não é bem a do GPS, pois a do GPS pressupõe que a pessoa
tenha acionado o GPS do telemóvel. A obtenção de dados pela localização celular está regulada no
artigo 189º/2 CPP, mandando aplicar o regime paralelo ao das escutas telefónicas, mas não é
exatamente o mesmo regime pois pode-se obter em qualquer fase do processo. Neste caso não há a
exigência da competência bicéfala. Costa Andrade critica esta disposição, pois diz que o legislador
manda aplicar o regime paralelo ao das escutas, mas não se justificaria, pois aqui não é necessária uma
comunicação tentada e falhada, não é preciso que alguém ligue para uma pessoa para se obter dados
de localização celular e por isso não seria merecedora da mesma tutela, o legislador estabeleceu esta
disposição por razão mais técnica.
Também temos de ter em consideração aqui o artigo 252º A CPP. Trata-se de uma norma que tem uma
finalidade de prevenção de crime. Por exemplo, alguém foi sequestrado e acedesse à localização celular
para evitar o perigo da pessoa. Muito embora, o legislador no artigo 252º A/4 CPP não seja muito
claro, pois deste artigo parece resultar que o fim primeiro é evitar o perigo para a vida da pessoa, mas
depois de obter essa informação, essa informação pode valer como prova. A finalidade primaria é a
prevenção de perigos, mas o legislador no Nº4 parece associar uma finalidade probatória. De qualquer
modo, neste caso não se aplica o 252º A CPP.
Há diferença entre o 252º A e o 189º2 CPP? No 252º A há competência para obtenção de informação
sem a autorização d juiz tendo um prazo de 48h para comunicar ao juiz.
Outra forma de obtenção desta informação é as buscas ao domicílio, pois pode-se encontrar tickets de
autocarro, por exemplo. Outra forma, é por exemplo, pedir-se informações á via verde, por exemplo.
Este pedido de informações segue os termos do artigo 14º da lie do cibercrime, sendo uma injunção
para pedir informações. Outra forma de obtenção de informação é a pesquisa do histórico do telemóvel.
Por fim, outra forma é a localização por GPS, mas pode-se obter informação desta fora? Há discussão
a este respeito, a professora diria que se deve distinguir, se for informação registada, pode-se obter, se
os dados não forem registados pode dirigir-se a injunção do artigo 14º da lei do cibercrime. Mas será
que se pode instalar um GPS sem que o suspeito saiba no seu automóvel? O GPS é uma intromissão
nos DF análoga à da localização celular aplicando o regime desta. A outra posição defendia que se
trata de uma prova atípica e assim sendo dependeria de uma intervenção do legislador dirigida à
utilização daquele meio de investigação. Ora, para a professora, a colocação do GPS é uma prova
atípica, pois não esta comtemplado nos meios de prova que o legislador regulou. Em relação aos dados
obtidos por GPS que estejam gravados o legislador abriu as portas à sua obtenção nos termos do artigo
14º e 15º da lei do cibercrime.
18/05/21
Exame 2018
Em finais de abril, três encapuzados entraram armados numa dependência bancária em
Espinho, ameaçaram clientes e funcionários e saíram levando consigo cerca de € 30.000,00 (trinta
mil euros) em notas. As imagens dos assaltantes foram captadas nas câmaras de vigilância.

28
Semanas depois, foi ordenada por juiz a realização de uma busca à residência de A, onde foram
encontrados, num esconderijo, uma arma e cerca de € 7.500,00 (sete mil e quinhentos euros) em
numerário.
A foi interrogado sobre a sua identidade e sobre a proveniência do dinheiro, tendo-se mantido
sempre em silêncio. Foi ainda sujeito a uma diligência de reconhecimento, mas recusou-se a
envergar roupas escuras e uma camisola com capuz como as usadas pelos assaltantes, invocando
o seu privilege against self-incrimination.
Suponha, agora, que A é moldavo e não domina a língua portuguesa. Haverá algum vício se no
primeiro interrogatório judicial de arguido detido não estiver presente nem o defensor, nem o
intérprete? Em caso de resposta afirmativa, indique quem tem legitimidade e qual o prazo para
a sua arguição.
A existência de intérprete é obrigatória, segundo o artigo 92º CPP e da diretiva que assegura os direitos
destas pessoas, bem como o direito a interprete. Se procurarmos compaginar a norma com a diretiva
vemos que nesta parte o direito português não viola o direito da EU. O que a li impõe concretamente
e qual o motivo? A lei impõe que haja um assistente para que possa clarificar as perguntas que vão
surgindo ao longo do interrogatório. O propósito é fazer com que arguido entenda, para que o tribunal
possa aproveitar como prova o que o arguido tem a dizer. Se fosse uma testemunha e o juiz entendesse
a língua, não havia necessidade de interprete, mas a lie impõe esta norma para que a pessoa entenda a
dinâmica dos atos processuais. Se fosse um arguido ainda era mais importante, pois é uma forma de
assegurar defesa, é uma dimensão das suas garantias de defesa no âmbito do 32º/1 CRP. O facto de
não ser dada a hipótese de intérprete violaria o artigo 32º/1 CRP, bem como o princípio da igualdade
segundo o artigo 13º CRP. Pode haver dois interpretes, uma para a audiência e outra para as conversas
que o arguido tenha com o seu defensor, o que é uma materialização do artigo 61º/f) CPP.
Segundo o artigo 64/1 a) é obrigatória a presença do defensor, por isso estamos perante uma nulidade
insanável segundo o artigo 119/ c) CPP. A aliena b) do 64º/1 liga-se à possibilidade de se ler na
audiência de julgamento de se ler as declarações do arguido durante o processo na audiência. Este
vicio pode ser conhecido a too o tempo até o transito da decisão e pode ser conhecido oficiosamente
pelo tribunal.
Vamos imaginar que a pessoa ainda não nomeou o defensor? Neste caso e no caso da pessoa ter
possibilidade o que se faz é nomear o defensor, segundo o artigo 64º/3 CPP + artigo 32º/3 CRP. É
obrigada a nomeação do defensor nos caos previstos no número anterior e fora desses casos quando
for deduzida a acusação, mas essa é obrigatória não e preciso esperar pena iniciativa do arguido.
Relativamente à falta de interprete, aplica-se o artigo 120º/2 c) CPP. Só existe nulidade quando o
legislador expressamente cominar a inobservância da lei com a nulidade, quando ele nada diz trata-se
de irregularidade. Para além disso, tem legitimidade para arguir a nulidade é o arguido que pode o
fazer por intermedio do seu defensor. O prazo é o do artigo 120º/3 c) CPP, pois não faria sentido ter
de se arguir no próprio ato em que se verificou.
Exame 2015
A Polícia Judiciária de Lisboa investigava A por suspeitas de burla qualificada. A arguida,
fazendo crer às vítimas que se encontravam sob o efeito de poderosos «maus-olhados»,
convencia-as a entregar-lhe peças em ouro para «purificação», com a intenção concretizada de
se apropriar de tais bens.

29
Para melhor esclarecer a suspeita, a Polícia Judiciária ouviu como testemunha B, irmã da
arguida, sem a advertir do seu direito de recusa de depoimento. As informações prestadas por B
permitiram localizar os objetos que A usava para simular os pretensos «maus-olhados», bem
como várias peças em ouro (que algumas das vítimas reconheceram como suas). Os referidos
objetos e peças foram examinados, descritos, fotografados e, no caso do ouro, avaliados, tendo
as correspondentes informações sido valoradas como prova.
Ainda na fase de inquérito, foi anexado aos autos outro processo em que se investigava uma
burla cujo autor não tinha sido possível identificar, mas que tinha sido cometida com modus
operandi idêntico. Na audiência de julgamento, por ter dúvidas sobre se teria sido a arguida
cometer também aquele crime, o juiz perguntou à vítima, C, se reconhecia A como a cartomante
que a teria enganado. C respondeu afirmativamente.
A decidiu recorrer. Quando o seu defensor se preparava redigir as alegações, verificou que não
tinha ficado devidamente gravada a prova produzida na primeira sessão da audiência de
julgamento (art. 363.º do CPP). Poderá a referida circunstância ser ainda invocada como
fundamento do recurso? Justifique.
A gravação da prova deve ocorrer por gravação áudio ou audiovisual. O registo faz-se por áudio, sendo
que se não se fizer o registo destas, existe uma nulidade segundo o artigo 63º CPP, sendo que a nulidade
em causa é relativa ou sanável. Trata-se de uma nulidade sanável, porque o legislador não a qualifica
como insanável, quando ele comina com nulidade, mas não esclarece que tipo de nulidade trata-se de
um a nulidade sanável – artigo 120º e 119 à contrario CPP.
Esta nulidade pode ser arguida pelo interessado, que será A, sendo que pode ser arguida nos 10 dias
subsequentes. Segundo o artigo 120º/3 a), para que o prazo que se verifica na lei seja cumprido o
arguido tem de conhecer da nulidade. Neste caso se a circunstância de o vicio não ser cognoscível
dispensa a arguição no próprio ato, aplicando-se a norma gral do 105º CPP, não se aplicando o artigo
120º/3 a) CPP. Estes 10 dias contam-se segundo o acórdão de jurisprudência 13/2014.
O artigo 101º/4 CPP diz que quando haja gravação não há transcrição, mas o funcionário judicial
entrega ao sujeito processual que o requeira uma copia da gravação, sendo o prazo da entrega de
gravação de 48h.
Sabendo nos que o prazo é de 10 dias, provavelmente este prazo já ocorreu, pois, o prazo é de 30 dias,
não podendo arguir a nulidade. Não temos dados suficientes para arguir isto de forma inequívoca.
Suponha que, além de A, também o Ministério Público recorreu da decisão. Conhecendo dos
recursos, o Tribunal da Relação decidiu agravar a pena para 6 anos de prisão. Poderia tê-lo
feito?
Neste caso, estava em causa a proibição da reformatio in pejus – artigo 409º/1 CPP. Quando o MP
recorre, mas seguindo a pretensão punitiva do estado a proibição da reformatio in pejus não existe. A
proibição da reformatio in pejus não visa impedir o MP de seguir a pretensão de defesa. Nem sempre
quando há agravação há a proibição da reformatio in pejus. Neste caso não há informação, diz apenas
que o MP recorreu, se ele tivesse recorrido no interesse da defesa a proibição existiria, caso tivesse
recorrido no interesse da pretensão punitiva do estado não havia a proibição da reformatio in pejus.
Exame 2019

30
Estava em curso há alguns meses um processo em que se investigavam suspeitas de corrupção,
tráfico de influências e participação económica em negócio envolvendo autarcas e diretores de
serviços públicos. Em face dessas suspeitas, foram requeridas e autorizadas pelo Juiz de
Instrução Criminal, pelo período de 90 dias, escutas aos telemóveis dos suspeitos A, B e C. Uma
das escutas permitiu captar a conversa mantida entre A e um advogado a respeito de um
processo de partilhas. Tratava-se de um processo pessoal, mas A, que era presidente de câmara,
propunha-se pagar os honorários do seu advogado com dinheiro da autarquia.
Suponha que A foi absolvido na primeira instância de todos os crimes imputados. Em recurso
interposto pelo MP, foi condenado pela Relação em 5 anos de pena de prisão suspensa na sua
execução. Poderá recorrer para o Supremo? Justifique.
Neste caso importa dizer que, das decisões da primeira instância recorre-se para a relação, segundo o
artigo 407º CPP. Isto só não acontece se se poder recorrer imediatamente para o supremo, segundo o
artigo 432º CPP. Aqui não estavam preenchidos os pressupostos, pois é recurso de uma decisão
absolvitória e só se pode recorrer para o supremo de decisões condenatórias.
Aqui pode-se recorrer para o STJ? A regra é a do artigo 400º/1 d), e) e f) CPP.
A multiplicação de recursos para o STJ prejudica o supremo na sua função nomofilácica, pois o STJ
deve estar disponível para as suas funções e por isso o legislador estabeleceu mecanismos impeditivos
para o recurso para o STJ, que são construídos em volta dos critérios do merecimento penal e dupla
conforme – artigo 400/1 d), e) e f). Quanto à decisão da relação, esta condena o arguido de penas
superiores a 5 anos, sendo que nestes casos há sempre recurso para o STJ. Para além disso, sempre que
a relação condena em pena de prisão superior a 5 anos, mas igual inferior a 8 anos pode haver recursos
para STJ. Por fim, quando a relação condene numa pena de prisão igual ou inferior a 5 anos nunca há
recurso para o supremo – 400º/1 e) CPP. Esta norma do 400º/1 e) foi condenada inconstitucional,
apenas na sua parte final, que refere a situação em que a relação condenar a pessoa que tinha sido
absolvida em primeira instância não se podia recorrer para o STJ, mas como foi julgado
inconstitucional com força obrigatória geral há sempre possibilidade de recorrer para o supremo -
acórdão 595/2018.
A alínea e) não foi toda eliminada, tendo sido apenas eliminado esta parte, se a pessoa tiver sido
absolvida na primeira instância e na relação foi condenada numa pena de multa, prestação de trabalho
(penas não privativas da liberdade), nestes casos não há recurso para o STJ, porque a norma não foi
declarada inconstitucional com força obrigatória geral. O defensor deve logo no pedido de recurso
colocar esta situação de inconstitucionalidade para haver o recurso para o STJ. Não se pode primeiro
esperar pela decisão do tribunal comum e só depois colocar a questão.
Esta norma também se mantém nos casos em que a pessoa é condenada na primeira instância, mas a
relação entendeu que a pena em vez de ser suspensa era pena de prisão efetiva, aqui continuar-se-ia a
aplicar o 400º/1 e) CPP.
Os recursos entre nós, desde 2007, que são feitos sobre papeis e isto vai de contra a declaração dos
direitos humanos, mas este ano a professora não referiu as diferentes posições quanto a este assunto.
Exame 2020

31
3- Neste caso poderia, pois versa sobre matéria de facto, só poderia se fosse matéria de direito. Neste
caso m concreto podia-se recorrer diretamente ao recurso para o STJ ( recurso per slatum, não é muito
usado, pois esta expressão indica que se salta um recurso, sendo que não se salta, pois são casos em
que o recursos diretos pra o STJ são obrigatórios).
O tribunal singular não pode conhecer de processos em que haja uma situação de concursos de crimes,
em que o agente é punido com pena superior a 5 anos. O tribunal de júri só intervém quando há
requerimento nesse sentido, sendo que o importante é que o limite máximo da moldura seja superior a
8 anos.
Neste caso, tendo em conta os elementos em causa, sabemos que não se tratou de um tribunal singular,
pois este não tem competência para conhecer de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite
máximo seja superior a 5 anos.
Segundo o artigo 427º CPP se o recurso fosse sobre os factos seria para o Tribunal da Relação, sendo
que só se pode recorrer para o STJ dependendo da pena que a relação fixar. Imaginemos que a relação
atribui pena de 6 anos, segundo o artigo 400º CPP poderia recorrer se houvesse divergência.
Como aqui é concurso de crimes, podia haver recurso para o STJ.
Quanto à segunda questão, o STJ só pode conhecer sobre as penas privativas de liberdade, como aqui
se trata de pena de multa, não poderia. A pessoas coletivas nunca são punidas com penas privativas de
liberdade, sendo este é um motivo pelo qual o modelo é criticado. O legislador ao estabelecer como
critério o merecimento penal faz com que a natureza privativa da pena vede o acesso ao STJ deste tipo
de matérias. Há uma posição teórica de acordo com a qual não podemos criar um recurso que o
legislador não estabeleceu, sendo assim não poderia haver recurso das penas aplicadas às pessoas
coletivas. Este argumento era muto usado em 2007. Ora, como não se pode criar recurso com
fundamento na via interpretativa, o que se pode fazer é deixar de aplicar a norma com fundamento de
que ela é inconstitucional, isto vale para este caso. O que podemos dizer é que a norma é
inconstitucional com base na violação do artigo 32º/2 CRP. Se o STJ julgar a norma inconstitucional
e depois de 3 julgamentos declarar com força obrigatória geral ela deixa de ser aplicada.
A professora entende que a solução do legislador não é boa discordando dele, mas isso não que a
solução apresentada seja inconstitucional.

32

Você também pode gostar