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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR

“JOÃO FERREIRA FILHO”


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO 
RELATOR DA APELAÇÃO Nº. 1003363-81.2017.8.11.0007 - CLASSE 198
CÂMARA DE DIREITO PRIVADO  
 

 
                
                              IGOR PATRICK MORAES BATISTA, (“Agravante”), já
devidamente qualificado nos autos deste recurso de Apelação, vem, com o
devido respeito à presença de Vossa Excelência, atuando em causa própria,
para, na quinzena legal, interpor, com suporte o art. 1.021 do Código de
Processo Civil, o presente
 
AGRAVO INTERNO,
 
contra a decisão que dormita aos autos, a qual concedeu efeito modificativo ao
a Apelação em espécie, cujos fundamentos se encontram nas Razões ora
acostadas.                 
 
                                      Respeitosamente, pede deferimento.
 
                                     Alta Floresta-MT, 13 de março de 2020

 
                                                                              
RAZÕES DO AGRAVO INTERNO
 
Agravante: IGOR PATRICK MORAES BATISTA
Agravado: SEGURADORA LÍDER DO CONSÓRCIO DO SEGURO DPVAT
S/A

 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO
PRECLARO RELATOR
 
I - DA DECISÃO RECORRIDA
 
                                   A Agravada formulara pedido de modificação de
sentença em desfavor do Agravante, com o fito de modificar a decisão do juízo
a quo, que por sua vez, a condenou ao pagamento de complementação de
indenização a título de Seguro Dpvat. Referido pleito, tramita perante o juízo da
PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO da Cidade de Cuiabá-MT, nos
autos do processo nº 1003363-81.2017.8.11.0007. O Agravante apresentara
contrarrazões, pedindo a manutenção da decisão do juízo a quo, e o
cumprimento de sentença.

 
                                      Durante a tramitação processual do recurso de
Apelação, o nobre Desembargador/Relator, decidiu por acatar os pedidos da
Agravada, conferindo o efeito modificativo de sentença, considerando os
pedidos do Agravante improcedentes.

                                   
                                      A partir de então, invariavelmente, o Agravante
mostrou-se “espantado” com o resultado da Decisão Monocrática do
Desembargador/Relator. Todavia, observando-se os autos, verifica-se que, o
enquadramento das sequelas do Agravante na tabela da Lei de Indenização de
Seguro Dpvat foi feito de forma errônea pelo nobre Relator, pois o perito que
realizou a perícia judicial no juízo a quo, descreve as sequelas em membro
inferior, vejamos:

Conforme observado em perícia o autor, tem limitações nos movimentos do pé


esquerdo.
Assim temos que as lesões representam:
No membro inferior esquerdo 25%
4. Quais as sequelas, incapacidade ou limitação existem em relação às lesões sofridas
pela vítima em decorrência do acidente? Limitação do movimento de extensão,
claudicação e hipotrofia.

                                     Neste sentido, a própria tabela indenizatório do Seguro


Dpvat, descreve que as fraturas e lesões sofridas em membro inferior tem o
quantum indenizatório de R$ 9.450,00 (nove mil, quatrocentos e cinquenta
reais). Assim sendo, a porcentagem de 25% de R$ 9.450,00 (nove mil,
quatrocentos e cinquenta reais), perfaz a quantia de R$ 2.362,50 (dois mil,
trezentos e sessenta e dois reais e cinquenta centavos).

Em continuação, percebe-se que o valor pago ao


Agravante na via administrativa, foi menor do que tinha direito, tendo em
vista que, o valor apurado em perícia judicial corresponde a R$ 2.362,50,
já o valor pago em via administrativa foi de R$ 1.687,50, logo, o Agravante
ainda tem o direito ao remanescente de R$ 675,00.

 
                                      Nesse passo, o nobre Desembargador/Relator não se
atentou ao fato de que, a nobre perita classificou as lesões como em membro
inferior, e, não somente no pé, como fez entender a Agravada em seu recurso
de Apelação, e, por assim o ser, deferiu decisão acatando tais alegações e
determinando erroneamente a modificação da sentença do juízo a quo, para
que fosse indeferido o pleito inicial. Haja vista que, supostamente, já teria sido
pago os direitos do Agravante, mas na realidade não o fez, pois ficou uma
complementação em haver, e com a negativa de recebimento da mesma, fere
direito da parte Agravante, tudo em decorrência de equívoco na observância da
classificação correta das sequelas na tabela indenizatória de Dpvat.

                                      Eis, pois, a decisão guerreada, a qual, sem dúvida,


concessa venia, deve ser reformada.
 
                                      Nesse compasso, os fundamentos, acima destacados,
ora são objetados. (CPC, art. 1.021, § 1º)
 

( 1 ) ASPECTOS INCONTROVERSOS
 
1.1. A soma encontrada pela perícia de R$ 000.000,00
 
MOTIVO:  A agravada refutou, apenas, o (i) não pagamento feito pela devedora
e a (ii) ausência de compensação. Nada sobre a quantia, pois.
 
1.2. Preclusão consumativa acerca do fundamento levantado de “não
pagamento do débito” pela mutuária.
 
MOTIVO: O Juiz determinou apurar-se o montante cobrado (e não o pago).
Não houve recurso contra essa orientação.
 
1.3. Preclusão lógica e falta de interesse recursal acerca da compensação
de honorários (embora desnecessária – Súmula 306/CPC, art. 85, § 14).
 
MOTIVO: A perícia, verdadeiramente, fizera a compensação, como ventilado
na sentença e determinado pelo magistrado, processante do cumprimento de
sentença. (vide resposta ao quesito do exequente nº. 12, “f”, item III)
 
1.4. Preclusão lógica quanto ao proveito econômico.
 
MOTIVO: A agravada defendera que o proveito econômico ocorreria somente
no caso da existência de pagamentos feitos pela mutuária-devedora. A decisão
do magistrado, ao determinar como a perícia deveria ser realizada, destacou
que seria sobre o valor cobrado, o que diferente de “pago”. A agravada não
recorreu, portanto precluiu esse tema da defesa.
 
            Dessarte, de todos os fundamentos levantados pela executada, aqui
agravada, todos, sem exceção mesmo, restaram como incontroversos. Não há
interesse recursal, portanto.       
            
( i ) periculum in mora    
     
            Sobreleva ressaltar, de mais a mais, até que ponto essas questões,
antes levantadas, refletiram na decisão concessiva de efeito suspensivo.
            Observe-se, primeiro, o que se afirmara quanto ao risco de dano
(periculum in mora):
( ... )           
            A “vultuosa quantia”, desse modo, serviu como parâmetro para se
conceder o efeito suspensivo.
            Porém, como destacado alhures, essa vertente, quanto ao valor,
pretensamente elevado, fora atingida pela preclusão lógica. É dizer, esse
montante fora revelado na perícia. Contudo, a agravada, ao contrariar o
resultado da perícia, voltou-se, tão só, à falta de pagamento da devedora e,
lado outro, a ausência de compensação. Nada acerca com respeito ao valor.
            Esse, assim como, foi a causa de pedir apontada no presente agravo
de instrumento.  
            Convém assinalar, primeiramente, que, sem qualquer esforço, a
agravante pretende “ressuscitar” matéria preclusa. Demais disso, inverídicos,
pois a perícia contábil desfez essa ardilosa pretensão de levar a erro o
Judiciário. E conseguiu, infelizmente.
            Isso posto, infere-se, seguramente, que jamais essa questão, quanto ao
montante, poderia servir de balizamento à concessão do efeito suspensivo,
máxime atrelado ao periculum in mora.
 
( ii ) fumus boni iuris
 
            Já com respeito ao fumus boni iuris, pontuou-se: 
 ( ... )
            Dessarte, tal-qualmente ao periculum in mora, o pretenso erro da
perícia, que trouxe à tona um “cálculo equivocado”, que, até mesmo, por seu
excessivo valor, “causa assombro”. Inafastável, por isso, que o argumento da
quantia, elevada, do mesmo modo, amparou como fundamento, dessa feita
como fumus boni iuris.
            Dito isso, tanto o periculum in mora, assim como o fumus boni iuris,
assentam-se em premissa equivocada, sem alicerce jurídico, inclusive. A
concessão do efeito, assim, não deve prevalecer, mormente porque se apoiou
em matéria preclusa (preclusão lógica).
 
2.2. Risco de grave lesão
 
            Não fosse isso o suficiente, na espécie, longe de se apresentar risco de
grave lesão à agravante.
            Afirma-se no agravo de instrumento, como supedâneo à concessão do
efeito suspensivo, a título de risco de grave lesão que:
 ( ... )
            Então, para o banco recorrente, qual é o risco de grave lesão: “seu
patrimônio pode ser atacado”. Cremos não se faz necessário qualquer
comentário, ou sim?
            Por cautela, comentemos. A constrição judicial é uma fase de todos os
processos, na fase executiva. Não seria para a agravante, pelo visto. Para
essa, é um risco (!).
            Não obstante, surpreenda-se, essa foi, precisamente, o fundamento
levado a efeito à concessão do efeito suspensivo.
            Veja-se o que revela a decisão vergastada:
           ( ... )
            Até aqui não se sabe, ao certo, qual, de fato, é o dano a ser causado ao
banco. São palavras vagas, imprecisas, sem conteúdo. Qual o dano, afinal de
contas? Com a constrição, resultaria ao banco queda abrupta no balanço?
Necessidade de dispensar funcionários, por falta de numerário? Não se sabe,
mesmo. É dano, “por ser dano”, e ponto final.
            Mas, sua Excelência, contradiz-se nesse aspecto.
            Aqui, sinaliza que a quantia, “vultuosa”, a qual se sujeitou à preclusão
lógica, pode “causar um dano ao banco executado”.
            Não faz qualquer sentido.  
            Vê-se, com isso, não demonstrado o risco de grave lesão. Até porque,
apesar de todo esforço feito em sentido contrário, em verdade inexiste esse
risco.
 
2.3. Ausência de impugnação específica
 
            A suspensão fora conferida ante à regência do art. 1.019, inc. I, do
Estatuto de Ritos. Esse, porém, remete às diretrizes delimitadas no art. 932,
incs. III e IV.
            Sequer era razoável o acolhimento do agravo, no mérito até.
            Os temas, ventilados pela Recorrente, foram várias vezes dirimidos.
            É de ser revelado, por isso, ocasiões, dentre tantas outras, nas quais a
instituição financeira repete a mesmíssima tese, já dirimida:
 
1 - Decisão de improcedência da impugnação ao cumprimento de sentença (fls.
436/442) – Anexo I
1.1. Petição do Banco Xista requerendo que o feito fosse chamado à ordem
(fls. 464/465) – Anexo II
2 – Decisão do pedido de chamamento do feito à ordem (fls. 470/472) – Anexo
III;
2.1. Embargos declaratórios opostos pela instituição financeira (fls. 4/7) –
Anexo IV;
2.2. Decisão dos embargos declaratórios (fls. 11/12) – Anexo V.         
 
            Assim sendo, inescusável que inexiste impugnação específica às
decisões, sobretudo tocante à interlocutória que resultara na interposição deste
agravo de instrumento. Jamais, desse modo, o Agravo de Instrumento deveria
ter seguimento (CPC, art. 932, inc. III). Atinge, decerto, o princípio da
dialeticidade recursal.
            Sem dificuldades, é flagrante que as Razões do agravo, sobremaneira
confusas, não atacam, estritamente, os fundamentos revelados no julgado. É
dizer, inexiste confronto direto ao mérito do decisum. Passa longe disso, a
propósito; são totalmente dissociados, sem dúvida. Não se aponta, lado outro,
onde se encontra o erro da decisão judicial combatida; o eventual desacerto,
destarte.
            Em verdade, a peça recursal praticamente repete todo o tema antes
levantado, nas várias peças processuais antes mencionadas. Portanto, aqui,
não há, tecnicamente, razões recursais, pois apenas faz remissões àquelas;
nada acrescem.
            Nesse passo, inafastável que essas “pretensas” razões tão só
colacionam teses totalmente dissociadas do decisum recorrido.
            A legislação adjetiva civil põe de manifesto essa proposição, ad litteram:
 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
 
Art. 932.  Incumbe ao relator:
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha
impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida;          
 
Art. 1.010.  A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro
grau, conterá:
[ ... ]
III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade;
 
Art. 1.019.  Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído
imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o
relator, no prazo de 5 (cinco) dias:
 
Art. 1.021.  Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras
do regimento interno do tribunal.
§ 1º - Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente
os fundamentos da decisão agravada.
 
            Nessa levada, é de todo oportuno gizar o magistério de Teresa Arruda
Alvim:
 
3.2. Na verdade, o que se pretende com esse dispositivo é desestimular as
partes a redigir recursos que não sejam umbilicalmente ligados à decisão
impugnada. Não é incomum que a apelação seja uma repetição da inicial ou
da contestação: isto é indesejável. O recurso tem que impugnar
especificamente os fundamentos da decisão recorrida, embora possa, é claro,
repisar alguns argumentos de fato ou de direito constantes nas peças iniciais.
Ademais, recursos que não atacam especificamente os fundamentos da
decisão impugnada geram uma quase impossibilidade de exercício pleno à
defesa, porque dificultam sobremaneira a resposta: de duas uma, ou a parte
responde ao recurso, ou sustenta que deve prevalecer a decisão impugnada
[ ... ]
(destaques contidos no texto original)
 
            No ponto, é conveniente a lembrança de José Miguel Garcia Medina:
 
IV. Juízo de admissibilidade negativo. Não conhecimento do recurso, pelo
relator. O relator não conhecerá do recurso, de acordo com o inc. III do art. 932
do CPC/2015, quando “inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida”. A primeira hipótese
(recurso inadmissível) abrange as demais, pois, em se tratando de recurso
prejudicado, faltará interesse recursal, e, não tendo havido impugnação
específica aos fundamentos da decisão que possam manter sua conclusão,
faltará, também, regularidade formal (a respeito dos requisitos dos recursos, cf.
comentário ao art. 994 do CPC/2015). Cf., no entanto, comentário a seguir [ ... ]
(negritos do original)
 
            E disso não discorda Luiz Guilherme Marinoni, quando revela, verbo
ad verbum:
 
4. Não conhecer. O relator deve inadmitir – isto é, não conhecer – o recurso
quando esse não preencher os requisitos intrínsecos e/ou extrínsecos que
viabilizam o seu conhecimento. Inadmissibilidade é gênero no qual se inserem
as espécies recurso prejudicado e recurso sem impugnação específica –
rigorosamente, portanto, bastaria alusão à inadmissibilidade. Recurso
prejudicado é recurso no qual a parte já não tem mais interesse recursal, haja
vista a perda de seu objeto – enquadrando-se, portanto, no caso de
inadmissibilidade (ausência de requisito intrínseco de admissibilidade recursal).
Recurso sem impugnação específica é aquele que não enfrenta os
fundamentos invocados pela decisão recorrida (ausência de requisito
extrínseco de admissibilidade recursal) [ ... }
 
            A corroborar o entendimento doutrinário, convém destacar:
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE
INSTRUMENTO. JULGAMENTO UNIPESSOAL. NÃO CONHECIMENTO.
FALTA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. ARRAZOADO GENÉRICO.
CÁLCULOS. RECURSO DESPROVIDO.
1. Tratando a decisão que homologou cálculos da contadoria quanto ao método
utilizado para elaboração dos cálculos a resultar no valor final, o arrazoado
recursal que defende de modo genérico desacerto do demonstrativo, sem
indicar em que consiste alegado excesso ou impugnar os fundamentos da
decisão unipessoal, afronta o princípio da dialeticidade e a regra de
impugnação específica dos fundamentos da decisão objeto do agravo. 2.
Agravo desprovido [ ... ]
 
AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL
CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE
EMENDA. PRECLUSÃO.
1. Trata-se de agravo interno contra r. Decisão que não conheceu do agravo de
instrumento interposto por ausência de impugnação específica. 2. A
impugnação recursal deve atacar frontalmente a fundamentação especificada
no julgado recorrido, em homenagem ao princípio da dialeticidade, sob pena de
não ser conhecida. 3. Não há possibilidade de emenda de razões recursais. 4.
Agravo interno conhecido e desprovido [ ... ] 
            Com efeito, infere-se, com tranquilidade, à luz do art. 932, inc. III, do
CPC, que o recurso não deveria, sequer, ser conhecido, muito menos haver
concessão de efeito suspensivo (CPC, art. 1.019, caput).
 
2.4. Verba de caráter alimentar – Periculum in mora inverso
 
            Como se vê, a execução, em sua totalidade, volta-se à cobrança de
verba honorária advocatícia sucumbencial. Logo, tem, por definição de lei,
caráter alimentar (CPC, art. 85, § 14).
            Até o momento, não se levou em conta isso.
            O risco, sem dúvida, é inverso. O impedimento do levantamento de
verba honorária, de caráter alimentar, sobreleva a inversão do perigo.
            No ponto, imperioso colacionar os seguintes arestos:   
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PROVIMENTO
SATISFATIVO.
1. Pelo imperativo do §3º do art. 1º da Lei n. 8.437/92, é vedada a concessão
de medida liminar que esgote, no todo ou em parte, o objeto da ação. 2. É
defeso o deferimento de tutela antecipada, quando se faz presente o periculum
in mora inverso e, portanto, risco à efetiva prestação jurisdicional, em razão da
possibilidade de prejuízo aos cofres públicos, se, ao final, for negada a
demanda. 3. Agravo provido [ ... ]
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. RECURSO CONTRA DECISÃO
QUE DEFERIU A TUTELA DE URGÊNCIA.
Autorização e custeio da internação da agravada em quarto com suporte para
antibioticoterapia do Hospital Memorial Santa Cruz, sem limitação temporal, ou,
caso não haja vaga, em qualquer outro nosocômio credenciado. A antecipação
dos efeitos da tutela jurisdicional tem como objetivo redistribuir o ônus temporal
do processo entre as partes, impedindo a perda do bem da vida pela parte
autora em razão da demora na prestação da tutela jurisdicional. Ocorre que, a
despeito da gravidade e urgência do quadro clínico, o plano de saúde não
autorizou a internação hospitalar de que necessita a agravada, ao argumento
de limitação contratual que prevê assistência médica ambulatorial, não
cobrindo, portanto, internações. O novo Código de Processo Civil, em seu
artigo 300, dispõe que o juiz antecipará os efeitos da tutela pretendida no
pedido inicial, desde que, existindo a probabilidade do direito e haja fundado
receio de dano ou risco ao resultado útil do processo. No caso em tela,
entendeu a magistrada pelo deferimento da antecipação dos efeitos da tutela,
posto que considerou presentes seus pressupostos autorizadores,
notadamente, a necessidade de internação hospitalar e a plausibilidade do
direito invocado. A verossimilhança das alegações da agravada restou
demonstrada mediante a declaração médica, que atesta que a autora é
hipertensa, se encontra na emergência do segundo réu, com quadro de
amigdalite grave e há três dias sem conseguir se alimentar em virtude de dor
intensa, com relato de desmaios por fraqueza, fazendo necessária sua
internação em quarto privativo para iniciar antibioticoterapia venosa, eis que
não tem condições de realizar o tratamento em domicílio, sob o risco de vir a
óbito (fls. 10, autos de origem). Quanto ao perigo na demora, deve o julgador
se valer do princípio da proporcionalidade para verificar qual decisão causará
menor prejuízo às partes, à luz dos fatos narrados e das circunstâncias do caso
concreto. Na hipótese, o risco de dano para o agravante é meramente
patrimonial, enquanto que para a agravada há risco para sua própria vida,
apresentando quadro gravíssimo de saúde comprovado nos autos. Logo, a
revogação da tutela antecipada se mostra capaz de causar prejuízo muito
maior à agravada do que aquele que pode vir a sofrer o agravante com a sua
manutenção, a caracterizar o periculum in mora inverso. Cabe ressaltar, que
embora o plano de saúde da agravada seja ambulatorial, isto é, não
oferecendo cobertura para internação hospitalar, verifica-se que o art. 35-C da
Lei nº 9.656/98, com a redação dada pela Lei nº 11.935/2009, estabelece que é
obrigatória a cobertura do atendimento em casos de emergência, como tal
definidos os que implicarem risco imediato de vida ou de lesões irreparáveis
para o paciente, caracterizado em declaração do médico assistente. Por fim, é
cediço que a concessão ou não da antecipação de tutela funda-se no
convencimento motivado do magistrado, sendo ato adstrito ao seu juízo
discricionário, só sendo passível de reforma quando teratológica, contrária à
Lei ou a prova dos autos, o que não ocorre no caso em análise. Recurso ao
qual se nega provimento [ ... ]
 
            Na mesma toada, Humberto Theodoro Júnior obtempera, in verbis:
 
449. Perigo de dano reverso A lei, como já observado, ao tutelar
provisoriamente o direito de uma parte, não quer que a medida de urgência
crie uma situação de fato e de direito que não possa ser revertida, na
eventualidade de sucumbência do beneficiário no julgamento final do litígio
(NCPC, art. 300, § 3º). O motivo para justificar essa postura normativa funda-
se na natureza provisória da tutela de urgência, que exige sempre a
possibilidade de retorno ao status quo, caso a solução definitiva do litígio se dê
de maneira contrária àquela imaginada ao tempo da providência acauteladora
primitiva. Há, porém, um outro fenômeno, no campo de periculum in mora, que
a ordem jurídica também não aceita. Trata-se daquilo que a teoria da tutela de
urgência denomina perigo de dano inverso (ou reverso), evento que se
aproxima da irreversibilidade, mas que com esta não se confunde. Tanto
aquele como esta são empecilho à obtenção de medidas de urgência, mas por
motivos diversos. Ocorre o periculum in mora inverso, quando o deferimento da
medida de urgência, ao afastar o perigo de dano irreparável enfrentado pelo
requerente, acaba por impor ao requerido que suporte risco igual ou maior,
como consequência imediata da própria providência emergencial decretada [ ...
]       
 
            Não por menos do CPC se extrai:
 
Art. 521 -  A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada
nos casos em que:
I - o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem;
 
            Perceba-se, então, o cuidado que o legislador tivera com aqueles que
perquirem verbas de caráter alimentar.
            Por desfecho, nesse ponto, urge asseverar que, na espécie, trata-se de
execução definitiva de título judicial.
 
2.5. Obtenção de efeito suspensivo, em sede de cumprimento de
sentença, sem a necessária garantia
 
            Existe, data venia, mais um outro gritante error in procedendo.
            Vê-se que o CPC, tanto na execução por título judicial, até mesmo
extrajudicial, exige, para a concessão de efeito suspensivo, que a execução
esteja garantida (CPC, art. 525, § 6º c/c art. 919, § 1º).
            Nos casos de recurso apelatório, também: CPC, art. 1.012, § 4º.
            Todavia, a agravante, de maneira ardilosa, per saltum, obtivera efeito
suspensivo à impugnação ao cumprimento de sentença.
            A execução, em conta disso, não tem sequer um único andamento, pois
o passo a seguir é o da constrição e pagamento do credor, sustado por decisão
judicial.
            Mais longe do que isso: o intento primordial do agravo de instrumento,
máxime a tutela recursal, foi o de não deixar que os recursos saíssem dos
cofres da recorrente. Até mesmo chegou a mencionar o “perigo de ser o último
dia do prazo para depósito”.
            Sem qualquer hesitação, litiga de má-fé. Isso será, mais adiante,
avaliado perante o juízo monocrático de piso (CPC, art. 77, inc. IV, § 2º, 79, 80
e 81). Afinal de contas, restringir o pagamento de alimentos é, por sua
natureza, embaraçar a importância disso à pessoa humana. 

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