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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL

HISTÓRIA – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PPDP - Projeto Político de Diretrizes Pedagógicas

TUTORA:

Profa. Dra. Ana Paula Torres Megiani

BOLSISTAS 2010:

Anna Luisa Veliago Costa

Caio Mendes dos Santos

Daniel Mota Cavalcante

Eduardo Gomes Martins Filho

Filipe Amado

João Pedro Gonçalves Munhoz

Luma Ribeiro Prado

Márcia Adalgisa dos Santos

Matheus Cury Vieira

Nadiesda Carolina Dimambro Capuchinho

Ricardo Cardoso

Yaracê Morena Boregas


Sumário

1) Apresentação e Histórico

2) Princípios e fundamentos
2.1) Formação docente e discente
2.2) Recursos Humanos

3) Metodologia Pedagógica
3.1) Ações Colaborativas

4) Processo avaliativo
1) História do PET-História USP

O Programa de Educação Tutorial – anteriormente, Programa Especial de


Treinamento e doravante denominado neste texto pela sigla PET – foi criado em
1979 com o intuito de fomentar e privilegiar a formação integral dos alunos de
graduação nas universidades brasileiras, públicas ou privadas. As diretrizes do PET
buscam, desde seus primeiros tempos, promover a excelência dos cursos opondo-
se a práticas como fragmentação do ensino e especialização precoce, considerando
sempre a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão.

Tendo em vista essas diretrizes, em 1995, após a consolidação do


Programa, em âmbito nacional, logo, em meio às melhores expectativas, o PET-
História foi instalado. Implantado em agosto daquele ano, o grupo foi um dos três
aprovados entre os nove projetos encaminhados à CAPES pela USP que, até então,
contava com quinze grupos.

O primeiro tutor do PET-História foi o Prof. Dr. István Jancsó (1995-2002),


que acreditava que por mais trabalhoso que fosse o atendimento das exigências
institucionais (relatórios, programações, prestações de contas etc.) fazê-lo
justificava-se pelo enorme ganho de qualidade que o Programa abria para a
formação de estudantes, direta e indiretamente nele envolvidos, além do que
impunha o compromisso de integração de estudantes e professores no cotidiano do
departamento e, acima de tudo, garantia a dimensão coletiva tão fundamental para o
desenvolvimento da crítica no âmbito acadêmico. Além do mais, o Programa,
segundo Jancsó, carregava o potencial de subversão da rotinização da vida
universitária, deste modo, contrariando a patologia dissolvente tanto da tensão
intelectual quanto da cívica, a primeira sendo condição da critica, a segunda
indispensável para conferir estatuto de espaço de liberdade à universidade pública 1.

O grupo institui-se mediante o trabalho na dimensão prática do ofício –


coleta e organização de informações com vistas a superar a ação mecânica,
exemplificadas pela organização de conjuntos documentais, pelo trato com a linha
1
JANCSÓ, István. “Andanças com Ilana Blaj”. In: Revista de História. N. 142-143 (2000), pp. 363-
370.
do tempo e pela sistematização relativa à documentação material 2 –; e na dimensão
teórica – essencial para a análise das múltiplas interpretações, bem como para a
garantia do respeito ao outro sem prejuízo das convicções pessoais – organizando-
se, assim, com vistas ao desenvolvimento do aprendizado como exercício da
cidadania.

O PET-História deste modo estruturado - que sempre teve o hábito de


pensar a longo prazo - foi tomado por uma fatalista sensação de derrota antecipada
quando das dificuldades resultantes das medidas tendentes à desestabilização do
programa nos anos de 1997-1998. Pensamento, no entanto, que rapidamente
cristalizou-se no empenho do grupo em defender o formato original do Programa
negando veementemente as transformações propostas pela CAPES. À medida que,
segundo o Ofício Circular N° 030/99/PR/CAPES de março de 1999, mudanças
seriam feitas para adequar o Programa à melhoria do ensino na graduação, seria
mantido o funcionamento do mesmo conforme o modelo utilizado somente até
dezembro de 1999.

A intensa militância dos grupos PET - na qual destacamos o papel de nosso


então tutor, István Jancsó, na articulação do movimento USP de defesa do
Programa Especial de Treinamento - surtiu efeito somente no final de 1999. Em
dezembro do mesmo, “o PET teve sua gestão transferida para a Secretaria de
Educação Superior (SESu/MEC), ficando sob a responsabilidade do Departamento
de Projetos Especiais de Modernização e Qualificação do Ensino Superior
(DEPEM)”.

A fragilidade do programa nos dois primeiros anos sob a administração da


SESu revelavam as dificuldades, principalmente financeiras, de se manter a enorme
infra-estrutura que, ao longo dos vinte anos de existência, foi formada para atender o
Programa Especial de Treinamento. Justamente nesse período, entre 2000 e 2002,
o PET-História também passou por intensas transformações, decorrentes da total
renovação de seus membros. Novos núcleos de pesquisa foram constituídos e
novos professores passaram a colaborar. O revigoramento do grupo resultou em

2
Correspondendo, respectivamente, aos trabalhos coordenados pela Prof.ª Dr.ª Ilana Blaj “Catálogo
de fontes impressas sobre a História de São Paulo”, pelo Prof.º Dr.º istván Jancsó “Cronologia de
História do Brasil Monárquico (1808-1889)” e pelos Profs.º Drs.º Norberto Luiz Guarinello e Vera Lúcia
do Amaral Ferlini “Catálogo bibliográfico e iconográfico sobre engenhos de açúcar no período
colonial”.
uma diversificação dos interesses representados pela formação de novos sub-
grupos voltados para pesquisas nas áreas de História do Brasil Colônia, Formação
do Estado Nação, História Contemporânea e História Medieval.

No ano de 2003 novos investimentos trouxeram mais vitalidade ao programa


que, a partir de então, passou a se chamar Programa de Educação Tutorial. O fim
da instabilidade do envio de bolsas permitiu ao PET-História retornar ao antigo
quadro de 12 bolsistas que fora perdido durante a transição administrativa de 1999.

O segundo tutor do PET-História foi o Prof. Dr. Pedro Puntoni (2002-2007)


que, dando continuidade ao seu antecessor, consolidou as atividades de pesquisa
por meio dos subgrupos e os seminários de discussão de obras clássicas da
historiografia, além de desenvolver o perfil do aluno ingressante e o site do PET-
História3, conformando, desta maneira, o grupo como um espaço de reflexão
coletiva.

Paralelamente às mudanças pelas quais passava o PET, a partir do ano


2000 houve profunda reestruturação no departamento de História da USP, com
ampla renovação do quadro docente, fato que contribuiu para maior estabilidade das
disciplinas oferecidas e, principalmente, o aumento da permanência estudantil no
curso e na própria universidade. O PET-História representou, no âmbito dessas
transformações, um espaço significativo de debate acerca das novas diretrizes
político-pedagógicas do curso de História e da formação de seu corpo discente.

A atual tutora, Prof.ª Dr.ª Ana Paula Torres Megiani, desde março de 2007,
dá continuidade às atividades do Programa consolidadas pelos tutores anteriores,
partilhando do encantamento pela História bem como da possibilidade do
desenvolvimento dos fundamentos básicos concernentes ao ofício do historiador no
âmbito do grupo PET-História.

Durante a atual tutoria ocorreu também um movimento de reformulação do


PET na Universidade de São Paulo, voltado para a integração entre os grupos e
intensificação do conhecimento profundo das atividades realizadas nos diversos
PETs, no intuito de aprimorar a relação entre as variadas áreas do conhecimento.
Esta tem sido a marca dos últimos anos, que leva o PET-História a dialogar, não só
3
www.fflch.usp.br/dh/pethistoria/index.htm. No qual mais informações sobre a trajetória e estruturação
do grupo PET-História USP podem ser encontradas.
com seus parceiros das humanidades, mas também com os grupos das áreas de
exatas, biológicas e saúde. Nesse sentido, o Programa tem proporcionado
multiplicidade de contextos e debates, revertendo na ampliação da consciência
cidadã dos bolsistas.

O atual Projeto Político de Diretrizes Pedagógicas do PET-História pretende


apontar para o futuro, fazendo uso de sua ampla experiência do passado e presente,
mostrando-se extremamente preocupado com o esfacelamento dos campos do
conhecimento acadêmico e científico e com a perspectiva cada vez mais utilitarista
do saber. Nesse sentido, o PET-História pretende trazer uma contribuição voltada
para as questões e angústias da formação dos professores de História, dos
profissionais que atuam nas Humanidades e na participação política dos estudantes
universitários, aspectos que necessitam de ampla, profunda e consistente reflexão.
2) Princípios e Fundamentos

2.1) Formação Discente e Formação Tutorial

O PET-História tem como um de seus pressupostos fundamentais a


valorização das atividades coletivas voltadas para o fortalecimento do debate e a
cooperação, além de estimular a adoção de uma perspectiva crítica por parte dos
alunos-bolsistas. Neste sentido, o grupo busca fazer frente à crescente tendência
de especialização precoce no ensino superior, pois julgamos que a formação
abrangente do historiador pressupõe não apenas a valorização da pesquisa
individual, mas também o oferecimento aos alunos de subsídios teóricos e
metodológicos para atuar nas mais diversas áreas que concernem ao profissional
formado em história, tais como ensino, trabalho em instituições culturais, museus,
arquivos e consultorias. Este caráter de não especialização é proporcionado pela
formação tutorial através do contato com diversos campos do conhecimento e
com a não restrição a um único campo de pesquisa.

Tendo em vista tal característica fundamentalmente coletiva de nossas


atividades, é necessário salientar o princípio fundamental da adoção de múltiplas
práticas metodológicas, capazes de contemplar o amplo espectro de
conhecimentos que contribuem para a formação do historiador. Desta forma, o
PET-História compreende que as atividades desenvolvidas coletivamente não
devem estar apartadas das atividades de pesquisa e ensino, mas sim que ambas
devem estar inter-relacionadas, conformando um processo dinâmico no qual as
reflexões produzidas pelo grupo se relacionam ativamente aos campos de
interesse de cada um dos bolsistas, de forma a não estreitar, mas sim ampliar
seus interesses.

Acreditamos que o produto destas atividades e reflexões coletivas não


devem ser compreendidos e avaliados sob uma lógica utilitarista que enfatize a
obtenção de resultados objetivos facilmente mensuráveis. O trabalho do PET-
História é um processo de formação que pressupõe, sobretudo e principalmente,
a maturação do conhecimento, cuja maior especificidade é demandar tempo na
construção de um saber ao mesmo tempo coletivo e subjetivo.
Além destes aspectos, a educação tutorial tem como uma de suas
principais características o fato de constituir-se como espaço privilegiado no
processo de construção da autonomia dos alunos, na medida em que o tutor(a)
busca estabelecer uma relação horizontal com os bolsistas. Nesse sentido, as
atividades planejadas devem ser resultado de decisões tomadas coletivamente,
construídas por meio do debate de idéias entre todos os participantes do grupo,
sem hierarquias.

O PET tem como elemento central e definidor de sua existência a


indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. No caso do PET-História,
as atividades de leitura e discussão em grupo, mini-cursos e seminários abertos,
colaboram também para o aprofundamento dessa relação, mais consolidada a
cada etapa de desenvolvimento das tarefas. Ao voltarmos nossas atividades
acadêmicas na direção de pensar e atuar junto à sociedade, temos como objetivo
final a articulação entre a reflexão teórica e a atuação dos indivíduos como
sujeitos sociais. A síntese de todas essas atividades configura o PET-História
como um grupo que valoriza o debate construído e as discussões coletivas, bem
como a aproximação entre a graduação universitária e a sociedade, da qual
também nós fazemos parte, sem qualquer distinção.

O curso de História não se reduz apenas ao ensino na sala de aula. Dessa


maneira a pesquisa, atividades de extensão e a vida universitária devem ser
igualmente valorizadas, uma vez que são elementos de vital importância para a
graduação. Nesse sentido, o PET-História busca realizar atividades diversificadas
que colaboram na aproximação entre alunos, docentes e o departamento,
intensificando assim a vivência no espaço universitário e ampliando a formação
discente na graduação. No entanto, para se colocar em prática este projeto é
necessário levar em conta a viabilidade e as dificuldades relativas ao
financiamento das atividades planejadas. Entraves burocráticos, problemas de
organização e comunicação necessitam de especial atenção para que não
venham a prejudicar os trabalhos planejados pelo PET.

Um dos mais importantes princípios que norteiam o PET-História é o de que


a pesquisa, neste campo do conhecimento (e também em outros), não deve ter em
seus objetivos elementos como produtividade e rendimento acadêmicos, eficiência,
controle quantitativo de produção, resultados mensuráveis de modo utilitarista.
Acreditamos que essa é uma distorção que, lamentavelmente, contamina o meio
acadêmico atual. Em oposição a essa busca desenfreada de resultados, temos
como pressuposto que o conhecimento se estrutura sobre uma temporalidade
distinta da que comanda os negócios e o meio empresarial. Construir conhecimento
é, por natureza, um processo lento, realizado com dedicação, debate e reflexão.
Assim, um grupo de estudos ou de leitura geralmente não precisa ter estabelecidos
prazos rígidos e mecânicos de superação de etapas e conclusões, tampouco
relatórios de produtividade, pois, segundo nossa concepção, a construção do saber
se realiza de modo subjetivo e, portanto, individual para cada um que dela participe.
O grande resultado é, em si, a presença atuante de todos os integrantes, de modo a
criar uma rotina de responsabilidades e respeito às características de cada um.

Não está em pauta, portanto, a especialização precoce dos bolsistas e


estudantes em geral, pois entendemos como danoso esse apressado afunilamento
de interesses. Privilegiamos a formação plural, que explore assuntos e pontos de
vista diferentes.

2.2) Recursos Humanos e Materiais

O PET História encontra-se localizado desde julho de 2009 no espaço do


CAPH – Centro de Apoio à Pesquisa Histórica “Sérgio Buarque de Holanda” do
Departamento de História da USP, local onde pode contar com o apoio institucional
da Unidade. Cabe aos 12 bolsistas e ao tutor(a) zelar pelo patrimônio material do
grupo, equipamentos eletrônicos, livros e arquivo, bem como organizar e colocar em
prática as atividades planejadas. As comissões do departamento – graduação,
pesquisa e cultura/extensão -, bem como a chefia, conferem amplo apoio ao grupo,
colocando à disposição do grupo tudo o que for necessário em termos de recursos
humanos e materiais. A maior parte das atividades é desenvolvida no prédio do
departamento, podendo ser utilizadas salas de aula e anfiteatro para realização de
cursos e seminários programados.
3) Metodologia Pedagógica

A formação do profissional em História se dá fundamentalmente através de


leituras, discussão e debates de textos que geram reflexões e questionamentos,
desencadeando um processo de maturação intelectual e desenvolvimento do
pensamento crítico. Além disso, trata-se de um campo de estudo que concebe a
transversalidade entre as ciências como fundamento básico, pois somente utilizando
mecanismos e ferramentas das mais diversas áreas do conhecimento humano
podemos construir relatos sobre acontecimentos, processos e dinâmicas das
diferentes e diversas sociedades que nos antecederam.

O PET é um espaço privilegiado para o exercício e aprofundamento da


proposta pedagógica do curso de graduação em História, que conta com uma
multiplicidade de metodologias. A diversidade das atividades do grupo, que são
essencialmente voltadas para o trabalho coletivo, estimula o debate ativo e a
cooperação, intensificando em seus integrantes a perspectiva crítica.

Do ponto de vista da formação estritamente teórica dos bolsistas, o PET


deve possibilitar o desenvolvimento dos interesses individuais de pesquisa em
campos específicos, estimulando o aprofundamento nesse campo e o
compartilhamento, através das discussões periódicas, os conhecimentos de cada
integrante e avanços com os colegas.

Pautando-se pela indissociabilidade do tripé pesquisa/ensino/extensão, a


atuação do PET-História se dá em atividades de diferentes naturezas. O eixo
principal de atuação do grupo está nos seminários de discussão de textos, atividade
que se desenvolve no mesmo formato e metodologia do curso de graduação e é um
espaço permanente, existente desde que o grupo foi criado.

Em paralelo, o grupo desdobra essa atividade reflexiva e analítica para


outros espaços, que exigem um tempo maior de concepção e preparação, e portanto
são mais esporádicos e têm duração mais curta, mas constituem-se como
possibilidades de experimentação de novas metodologias, com atuação e diálogo
mais efetivo com outras áreas do conhecimento e outros setores da sociedade.
Nesse campo podemos citar a participação em grupos de estudo sobre temas do
interesse dos bolsistas (com professores colaboradores do departamento), a
produção da Revista Humanidades em diálogo (de lançamento anual), os encontros
de pesquisa na graduação, as palestras e mini-cursos e as atividades de extensão,
as quais abordaremos no próximo tópico, de “ações colaborativas”.

Há, ainda, a oportunidade de integrar a pesquisa à extensão, através da


realização de atividades, como por exemplo, seminários abertos para o público em
geral, relativos aos temas de pesquisa ou de interesse dos integrantes.

O seminário de discussão de textos, em que são lidas obras de referência,


sejam historiográficas ou de outras áreas das humanidades, é a principal atividade
em que todos os bolsistas e o(a) tutor(a) participam juntos, podendo contar ainda
com a presença de outros alunos não bolsistas. Nosso objetivo é materializar, nesse
grupo, os conceitos de temporalidade específica da pesquisa (há apenas uma ou no
máximo duas obras a serem lidas e discutidas por ano), acompanhando o
amadurecimento do estudante no curso de graduação, conferindo importância ao
debate e à formulação coletiva do saber. Trata-se de um espaço bastante
democrático, com debates frutíferos, em que todos têm a oportunidade de confrontar
suas perspectivas com as diferentes leituras dos colegas. Cada bolsista enriquece
sua opinião ao ouvir algo diverso, ao mesmo tempo em que desenvolve sua
capacidade argumentativa e, sobretudo, desenvolve a tolerância e o respeito às
diferenças, sejam elas entre os indivíduos, culturas ou sociedades. Todos esses
aspectos são fundamentais, não só para o acúmulo teórico, como para a formação
do historiador e mais à própria formação humana.

Além dessas atividades, o PET-História também participa da organização e


funcionamento do departamento por meio dos representantes discentes em
comissões internas (possibilitando ao bolsista um contato mais intenso com as
questões mais importantes em debate no curso e com o corpo docente) e dos fóruns
de discussão mais amplos da universidade, como os encontros dos PETs da USP e
do CLA (Comissão Local de Acompanhamento). Desse modo, o grupo está sempre
presente, através de seus representantes, na vida da universidade, tendo a
oportunidade de debater seus temas em fóruns diversos, o que fortalece a atuação
indissociável do tripé universitário.
Um ponto importante a ser ressaltado, em termos de contato com o
departamento e o meio acadêmico, é o papel do(a) professor(a) tutor(a). A
oportunidade de ter contato próximo e regular com um pesquisador fora da sala de
aula e independente da especialidade dele é, para nós, extremamente importante,
pois traz a reflexão e a discussão para a vida dos alunos de forma mais cotidiana e
até mesmo informal em certos momentos, fazendo com que as rotinas acadêmica e
extra-acadêmica dos bolsistas se aproximem e as fronteiras entre elas se tornem
mais permeáveis.

Vale considerar também que o curso de graduação em História da USP é


referência nacional, sobretudo pela amplitude e diversidade de áreas de estudo
existentes, possibilitando aos graduandos um leque de opções de pesquisa bastante
variado. Não obstante, um dos debates em curso no departamento busca
justamente repensar de modo crítico a tendência atual de privilegiar a formação de
pesquisadores, em detrimento de outras áreas de atuação profissional, de igual
importância e relevância acadêmica, para as quais se encaminham a maior parte
dos egressos do curso, como é o caso do ensino.

Assim, alguns desafios se apresentam urgentes para uma preparação mais


completa dos estudantes, no sentido de oferecer-lhes subsídios para uma atuação
plena na área da educação, como também em outras áreas concernentes ao
historiador, como o trabalho em museus, arquivos, ONGs, consultorias, dentre
tantas outras. O PET se constitui um dos meios possíveis, de singular importância,
para a contribuição neste processo. Seus bolsistas, portanto, têm um espaço
diferenciado onde podem planejar, desenvolver e avaliar habilidades que ampliem
seu leque de opções de atuação na sociedade, favorecendo a melhoria de nosso
próprio campo de conhecimento.

3.1) Ações colaborativas

O grupo deve enfatizar a geração de debate e discussões que visem


reflexões e aprendizados através de suas atividades. Atividades essas que devem
alcançar o departamento no qual está inserido(o PET-História é uma Comissão
Permanente do Departamento de História), a comunidade USP e a comunidade em
geral. O PET estabelece-se assim como mais um início de cadeia possível de
transmissão de idéias.

Faz-se necessária a articulação com os demais estudantes (futuros


professores e pesquisadores) e professores do departamento em atividades
integradas, interdisciplinares e abertas, para que essas atividades (a serem
realizadas pelos bolsistas) contribuam para a consolidação e aprimoramento de
discussões que transitarão por essas e outras salas de aula. É importante destacar
que todas essas ações não visam um produto material final, uma vez que, como
citado anteriormente, há discordância com o sistema produtivista e quantitativo
instaurado hoje no meio acadêmico.

Como colaborador do Departamento de História, o PET elabora um


levantamento do perfil dos estudantes ingressantes no curso há vários anos. Este
tipo de atividade, voltada para um fim mais pragmático, colabora com Departamento
e com nossa integração ao mesmo, na medida em que esse trabalho é uma fonte
importante para saber, em linhas gerais, quem são os alunos, de que condições
socioeconômicas são oriundos e quais são algumas das suas idéias sobre o curso
que escolheram. É, portanto, uma forma de canalizar a disposição dos bolsistas para
a construção de um bem coletivo, já que só conhecendo um perfil geral dos
estudantes os dirigentes e as comissões departamentais poderão fazer o possível
para melhorar a experiência universitária de todos.

O grupo também realiza uma importante atividade que tem diálogo direto
com o departamento, o EPEGH (Encontro de pesquisa na graduação em História)
que ocorre a cada dois anos, e reúne todos os alunos que desenvolvem pesquisa na
graduação, bolsistas ou não. Trata-se de um espaço onde os estudantes têm a
oportunidade de trocar experiências e publicizar, a seus colegas e interessados em
geral, o andamento de pesquisas.

Outras atividades que merecem destaque são de caráter mais extensivo,


como é o caso das palestras e mini-cursos abertos à comunidade, ministrados por
intelectuais, pesquisadores de diferentes posturas metodológicas e especialidades.
As atividades de extensão universitária são de extrema importância para a
realidade cotidiana da Universidade pública em geral, pois entendemos que é
obrigação da instituição e de seus estudantes fornecer uma resposta ao
financiamento que a população nos dá. Essa contrapartida deve ser executada,
também, pelo PET, de forma a ampliar debates e reflexões. Nesse sentido, as ações
de extensão realizadas pelo PET-História devem ter, intrinsecamente, um caráter
não assistencialista. Valorizamos a formação crítica e multilateral, o que não inclui
um posicionamento de privilegiados detentores da “verdade” e dispostos a praticar
qualquer ato de “caridade” para com a população supostamente “carente”.

Enxergamos extensão como uma troca que deve enriquecer todas as partes
envolvidas. Deve haver empenho em levar debates para fora do circuito acadêmico,
bem como em favorecer a colaboração com sujeitos externos comprometidos com a
educação e o ensino, juntamente com a idéia de uma formação integral e
interdisciplinar que acrescente algo à comunidade em geral.

As atividades de extensão, articuladas também à pesquisa e ao ensino,


devem agir em todos os níveis possíveis, ou seja, na integração com os outros
grupos, com os estudantes do Departamento de História, da USP e com a
comunidade externa.
4) Processo avaliativo

A avaliação tem sido utilizada ao longo dos anos como um medidor de êxitos
e fracassos. Embora seja um conceito remetido à educação escolar, nota-se que há
uma apropriação crescente por parte de diversas organizações de âmbito
mercadológico mantendo essa visão conservadora e hierarquizante do que deveria
ser o processo avaliativo. Costuma-se determinar normas de excelência que se
espera que o indivíduo atinja. A partir daí traça-se uma linha. Quem a ultrapassa
obtém êxito e quem não a alcança, fracassa. O que não fica claro com esse tipo de
processo é que toda essa hierarquia de excelência é arbitrária, não passando de
representação de opiniões do que uma instituição ou mesmo alguém entende por
excelência.

Teorias educacionais mais atuais lançam outras idéias a respeito do assunto.


Crê-se que a avaliação deve ser concebida como o instrumento por meio do qual
transpareça um projeto. É por meio dela que se diagnostica o que foi realizado
satisfatoriamente e o que não foi e, principalmente, deve-se usá-la como um meio de
agir: corrigir falhas, manter boas atitudes, atender novas necessidades, pois é nela
que essas coisas vêm à luz. Assim, o teor classificatório fica em segundo plano, pois
o que importa mesmo é usar os resultados para nortear ações, dar continuidade ao
projeto, não hierarquizar e eventualmente apontar fracassados. Obviamente o
caráter arbitrário persiste, mas a reflexão coletiva por parte dos envolvidos no
projeto permite que todos tenham consciência disso, relativizando as hierarquias que
tendemos a criar em processos como esses.

Tendo em mente esses conceitos educacionais brevemente mencionados,


nós, do PET-História, entendemos a avaliação como um mecanismo sinalizador das
demandas e problemas, como uma maneira de analisar criticamente os nossos
trabalhos. Através de reflexões coletivas, a fim de confrontar idéias e opiniões,
buscamos organizar o plano de ação democraticamente. Classificar o que está ruim
e o que está bom, ou quem está agindo bem e quem está agindo mal não está de
forma alguma nos nossos horizontes. Interessa-nos sim ver os motivos: porque está
bom, porque está mau, para que possamos planejar as atitudes a serem tomadas
com base nas experiências e pontos-de-vista de todos, formando assim, de fato, um
grupo, graças à coesão e ao respeito mútuo.

O objetivo principal dos nossos processos avaliativos é a produção de uma


reflexão coletiva, com a participação de todos os membros e do(a) tutor(a) do grupo.
Em relação ao processo seletivo para a entrada de novos membros, essa reflexão é
feita para escolher aquele candidato que apresente as competências e habilidades
que preencham adequadamente os requisitos de ingresso no Programa. Em relação
ao processo de auto-avaliação anual, a reflexão proposta deve ser feita acerca das
atividades desenvolvidas, baseada fundamentalmente na análise das demandas dos
membros do grupo, bem como na incorporação de novas propostas de trabalho.

A produção de conhecimento na área de humanidades, em especial na


História, traz algumas demandas importantes como, por exemplo, a necessidade de
uma densa carga de leituras de textos de natureza diversa (historiográficos, teórico-
metodológicos, filosóficos, fontes históricas, etc.), bem como de autores que toquem
em várias áreas do conhecimento humano e de diferentes orientações teórico-
metodológicas. Essas leituras, por sua vez, demandam uma extensa carga horária,
tempo em que o pesquisador faz várias leituras do texto e reflete sobre o conteúdo
apreendido, podendo, assim, criticá-lo. Vale lembrar, também, a importância do
debate coletivo e a rica possibilidade da troca de idéias para a construção do
pensamento do historiador.

Diante dessa natureza abstrata, verifica-se a inoperância da avaliação


baseada em aspectos quantitativos ou passíveis de contabilização. Dessa forma, os
processos avaliativos apresentados por nós a seguir não visam à hierarquização dos
trabalhos desenvolvidos ou do “desempenho” individual dos membros do grupo.
Assim, dados estatísticos como posição de ingresso no curso ou média ponderada
têm importância secundária nos processos avaliativos do PET-História. O aspecto
qualitativo deve ser priorizado no momento da avaliação. Na seleção de novos
integrantes, damos ênfase à capacidade de articular idéias, ao apreço por atividades
coletivas e à demonstração de empenho em relação às atividades do Programa. Em
relação à auto-avaliação, a atividade de maior importância em todo esse processo é
a socialização dos resultados individuais alcançados e esperados.
O processo avaliativo do grupo é feito em dois momentos: auto-avaliação e
processo seletivo para entrada de novos bolsistas. O momento em que a auto-
avaliação é realizada não pode ser definido com clara precisão, uma vez que ao
longo do ano é realizado um balanço do rumo das tarefas e esta constante análise
nos permite aprimorar algumas falhas e corrigir possíveis descaminhos. No entanto,
a elaboração do relatório e do planejamento consiste em dois momentos importantes
para a auto-avaliação do nosso grupo. O primeiro nos permite averiguar se todos os
planos previamente estabelecidos foram cumpridos com sucesso, assim
conseguimos, de alguma forma, avaliar nosso trabalho de um ano. O planejamento
também entra como um processo avaliativo, uma vez que é possível,
antecipadamente, prever o que pretendemos fazer, sempre procurando repetir
sucessos anteriores e corrigir erros.

Uma segunda instância de avaliação é o nosso processo seletivo para o


ingresso de novos bolsistas. Há uma avaliação prévia que procura averiguar
diversas capacidades do candidato, a fim de mostrar se ele se adapta às propostas
do PET, além de perceber suas capacidades argumentativas como futuro
historiador. Para tal, o processo seletivo divide-se em duas etapas: uma prova de
caráter teórico-argumentativo e uma entrevista com os pré-selecionados na prova. A
prova consiste em duas questões: a primeira versa sobre o trabalho do historiador e
uma discussão acerca de algum tema de teoria ou metodologia da História,
enquanto a segunda procura estabelecer uma conexão com assuntos
contemporâneos da sociedade. Importante salientar que não há certo ou errado,
assim a seleção é feita, após a leitura de todas as provas por todos os membros do
grupo, em caráter comparativo. Os aprovados vão para a entrevista que é realizada
por todos bolsistas, o(a) tutor(a) e mais dois professores convidados do
Departamento de História. Procuramos conhecer as intenções e as expectativas dos
candidatos em relação ao grupo e ao curso de História. Mais ainda, é nossa tarefa,
durante a entrevista, tentar perceber quais candidatos se encaixariam melhor no
perfil do grupo, salientando a necessidade de comprometimento e participação ativa
em todas as atividades.

São Paulo, outubro de 2010

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