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p. 15 – “E lá recebemos as primeiras pancadas, o que foi tão novo e absurdo que não
chegamos a sentir dor, nem no corpo nem na alma. Apenas um profundo assombro:
como é que, sem raiva, pode-se bater numa criatura humana?”
p. 15 – “ Assim opõe-se a ela a certeza da morte, que fixa um limite a cada alegria, mas
também a cada tristeza”.
p. 24 e 25 - Pela primeira vez,então, nos damos conta de que a nossa língua não tem
palavras para expressar esta ofensa, a aniquilação de um homem. Num instante, por
intuição quase profética, a realidade nos foi revelada: chegamos ao fundo. Mais para
baixo não é possível. Condição mais miserável não existe, não dá para imaginar. Nada
mais é nosso: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos
escutarão – e, se nos escutarem, não nos compreenderão. Roubaram também o nosso
nome, e se quisermos mantê-lo, deveremos encontrar dentro de nós a força para
tanto, para que, além do nome, sobre alguma coisa de nós, do que éramos.
p. 25 – “pois quem perde tudo, muitas vezes, perde também a si mesmo; transformado
em algo tão miserável, que facilmente se decidirá sobre sua vida e sua morte, sem
qualquer sentimento de afinidade humana. Duplo significado da expressão Campo de
extermínio.”
p. 39 – “Seu sentido, porém, que não esqueci nunca mais, era esse: justamente porque o
Campo é uma grande engrenagem para nos transformar em anima, não devemos nos
transformar em animais; até num lugar como esse pode-se sobreviver, para relatar a
verdade, para dar nosso depoimento; e, para viver, é essencial esforçar-nos por
salvar ao menos a estrutura, a forma da civilização.”
p. 50 – “As músicas são poucas, talvez uma dúzia, cada dia as mesma, de manhã e á
noite: marchas e canções populares caras a todo alemão. Elas estão gravadas em nossas
mentes: serão a última coisa do Campo ser esquecida: são a voz do Campo, a
expressão sensorial de sua geométrica loucura, da determinação dos outros em nos
aniquilar, primeiro, como seres humanos, para depois matar-nos lentamente.”
p. 55 - “Ninguém deve sair daqui; poderia levar ao mundo, junto com a marca gravada
na carne, a má nova daquilo que, em Auschwitz, o homem chegou a fazer do
homem.”
p. 99 -