Você está na página 1de 9

Democracia e Igualdade: Uma Abordagem Constitucional dos

Direitos dos Portadores de Deficiência.

Resumo
O sumo trabalho foi idealizado a partir da advertência das desigualdades
existentes no Brasil com enfoque nos portadores de deficiência, e as
constantes violações aos direitos humanos que estas pessoas vêm
sofrendo. O juízo de igualdade está acoplado com a democracia. Trata-se
do principio que orienta a discussão de como se abrange o Estado
Democrático de Direito. Para tal objetivo, abordaram-se o tema sob a
perspectiva dos direitos dos cidadãos, tendo sido apresentados as bases
teóricas existentes, bem como a legislação brasileira pertinente. O
trabalho está voltado para a dignidade da pessoa humana, assim intenta
fornecer subsídios para pesquisas e a busca do bem estar do homem.

Palavras chaves: Igualdade. Estado Democrático de Direito. Portadores de


deficiência. Democracia. Inclusão social.

1. Introdução
As mais recentes informações sobre o Principio da Igualdade em relação
aos portadores de deficiência mostram o vigor do mesmo em se adaptar a
realidade social. Entretanto, o Principio, tem por ideal acelerar os
processos que conduzem à igualdade não apenas de Direito, mas também
buscar proteção para os grupos vulneráveis, como os portadores de
deficiência, mulheres, negros entre outros.

Uma pessoa só é igual (ou desigual) se houver outra a ser comparada com
ela. A igualdade é uma relação entre dois termos, pressupõe o
reconhecimento do outro, enquanto pessoa, enquanto ser humano. É de
extrema importância discutir e defender a igualdade atualmente. A
doutrina neoliberal difundiu sua hegemonia ao decorrer das duas ultimas
2

décadas, mas precisamente em oitenta e noventa. Desta maneira,


devemos advertir quaisquer ações de defesa da igualdade como principio
cogente para a estruturação da democracia.

O Estado como associação que se qualifica ao exercício cabível de


coerção, gere a existência de instrumentos, de mecanismos – de leis - que
garanta a isonomia. O que se busca não é a igualdade e direitos previstos
na lei, mas condições comuns para os cidadãos, que se tornaria um meio
de promover justiça social.

2. Uma sociedade igualitária

Para melhor abordar o tema sobre o papel dos deficientes numa


democracia solidária, é de suma importância à apresentação do Princípio
da Igualdade como valor a ser alcançado através de um processo
histórico. Tal princípio coloca em relevo os problemas de tratamento
diferenciado que persistem no sistema democrático, como no caso dos
deficientes, excluídos de muitos processos sociais devido a essa
característica.

Ao longo do tempo configuraram-se diversos acontecimentos que


contribuíram para a concepção atual de igualdade e que marcaram a
história. A Revolução Francesa pode ser colocada como o ponto de
partida devido à sua relevância para o processo. Foi através dela que à
burguesia travou uma luta política e uma guerra civil de grandes
proporções, com a ajuda do povo, para alcançar a isonomia. Porém, o
reconhecimento legal de que todos eram iguais não foi o suficiente para
eliminar as desigualdades pragmáticas.

Na realidade, com o surgimento de grandes centros urbanos, tornou-se


mais evidente a contradição existente entre a igualdade formal – que é
aquela na lei – e a igualdade material – correspondente ao ideal de justiça
social e distributiva; esta por sua vez expressa na obra de Thomas
3

Hobbes, O Leviatã. No qual, visava à distribuição de um beneficio igual a


todas as pessoas. Os ricos industriais exploravam exarcebadamente a
mão de obra dos “operários livres e iguais juridicamente”. Porém, não
demorou muito tempo para que os trabalhadores se manifestassem contra
a exploração. Os movimentos operários foram se estruturando e ganhando
atenção da burguesia industrial, fazendo com que cedessem a suas
reeinvidicações. Com o operariado conquistando seu espaço, o Estado se
reestruturou mais sensível às causas sociais e à desigualdade econômica.

Sobre a interpretação do principio da igualdade, o distinto Professor Paulo


Bonavides encontra problema em conceituá-lo “os domínios da
interpretação constitucional testemunha controvérsias inumeráveis com
relação ao conceito de igualdade, sobretudo em razão do prestigio que a
igualdade fática ou material entrou a desfrutar naqueles sistemas onde a
força do social imprime ao Direito os seus rumos”.

Logo, enfatiza-se, que não se pode deixar de analisar que a igualdade


impressa na nossa Constituição deve ser compreendida, absorvendo sua
dupla grandeza, ou seja, os dois característicos principais: igualdade
formal e material.

Desta forma, percebe-se que não é mais suficiente considerar todos iguais
perante a lei; agora é preciso tratar os iguais igualmente e os desiguais
desigualmente dentro do direito que lhes é concedido, como aconteceu
quando foram criadas as leis trabalhistas. A partir desse momento,
surgem instituições que vão garantir e orientar para que não haja
desigualdade, ou seja, direitos sociais que vão impor ao Estado uma forma
diferente de agir.

O Estado não é mais um coordenador de interesses. É um órgão que vai


promover um bem comum na formação de uma sociedade igualitária,
agindo como promotor do ser humano e das suas capacidades, bem como
às daquelas portadoras de qualquer deficiência, que têm competências
4

úteis à sociedade e que devem ser reconhecidas. Não permitindo que se


atente o erro de idealizar a isonomia como fator que antepare a
consignação de circunstâncias jurídicas distintas entre as pessoas. O
principio demanda que as desigualdades de fato derivam das diferenças
das competências pessoais, abonando tratamento diferenciado as pessoas
diferenciadas. Nesse sentido, assegura Alexandre de Moraes: “A
constituição Federal de 1988 adotou o principio da igualdade de direitos,
prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades
virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm direito de tratamento idêntico
pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento
jurídico. Dessa forma, o que se veda são as diferenças arbitrarias, as
discriminações absurdas, pois o tratamento desigual dos casos desiguais,
na medida em que se desigualam, é exigido do próprio conceito de
justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se
tendo lesado o principio constitucional quando o elemento discriminador
não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito (...).”

A pessoa portadora de deficiência mental ou física tem direito ao trabalho,


como qualquer indivíduo. Nesse direito está compreendido o direito à
própria subsistência, forma de afirmação social e pessoal do exercício da
dignidade humana. “O trabalho pode tanto se desenvolver em ambientes
protegidos (como as oficinas de trabalho protegidas), como em ambientes
regulares, abertos a outros indivíduos”. (ARAUJO, 1994, p. 54).

Desta forma, o trabalho está vinculado à dignidade da pessoa humana, e o


acesso das pessoas com deficiência ao labor é uma questão de cidadania
e principalmente de desfrutar a dignidade que lhes é próprio.

A democracia e a cidadania têm fundamental importância à integração


dos deficientes. Apenas leis não bastam, é preciso a concretização dos
direitos. De acordo com Karl Loewenstein a Constituição Brasileira de
1988, quanto à sua essência ou ontologia é Nominal, ou seja, legitima,
porém não eficaz.
5

Toda pessoa necessita de espaço, saúde, trabalho, lazer. Ser cidadão é


poder escolher a escola, o hospital, o espaço público ou privado, que
deseja estar. É ter o livre arbítrio – poder ir, vir e permanecer – com
integração, respeito e dignidade.

Em 1988, com a nova Constituição Brasileira - a Constituição Cidadã- o


Brasil se proclamou Estado Democrático de Direito, sancionando em seu
artigo primeiro os elementos de suma de sua expedição: formar e
concretizar seu novo paradigma de Estado; tendo como princípios altivos a
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores do
trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Alem do objetivo
basilar a ser alcançado ao construir uma sociedade livre justa e igualitária,
como ratifica em seu artigo 3º, I CF/88.

Para alcançar tal meta, o estado se coloca como promotor de políticas


inclusivas que eliminem qualquer discriminação, em especial aquelas
contra as pessoas com deficiência. Sem inclusão é impossível haver
igualdade.

Assim, as posições estabelecidas pela Constituição Federal de 1988 -


primeiro Texto Constitucional que ressalta, a inserção da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho - busca facilitar o máximo de
desenvolvimento das potencialidades das pessoas portadoras de
deficiência vinculando o princípio da dignidade da pessoa humana, da
igualdade, da solidariedade e da justiça social. Cabe a constituinte de
1988 determinar a competência comum entre a União, Estados, Distrito
Federal e Municípios conforme dispõe seu artigo 23, inciso II, in verbis:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal


e dos Municípios:
(...)
II – cuidar da saúde e assistência publica, da proteção e garantia das
pessoas portadoras de deficiência. (...) ”
6

O artigo 24, inciso XIV aborda esta mesma idéia para proteção e
integração social das pessoas portadoras de deficiência:

“Art. 24. Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
(...)
XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
(...) ”

A cidadania traz consigo direitos e deveres e depende da educação, e do


acesso a assistência social, além do trabalho de integração, que
asseguram ao portador de deficiência que suas necessidades particulares
sejam supridas. O Texto Constitucional de 1988, respectivamente,
garante:

“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
(...)
III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino; (...)”.

“Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios
de uso publico e dos veículos de transporte coletivo atualmente existente
a fim de garantir o acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência
(...)”.

“Art.203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social (...)”.

“ Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alem de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
7

XXXI - proibir de qualquer discriminação no tocante a salário e critério de


admissão do trabalhador portador de deficiência. (...)”.

O Estado não pretende e nem deseja tratar o excepcional como


privilegiado. A interpretação que se deve fazer desses artigos é que o
portador de deficiência deve ser incluso a sociedade de acordo com suas
necessidades, que são especiais.

Todo ordenamento jurídico de um Estado Democrático de direito cogita-se


por meio de uma contextura de preceitos medulosos que tem como base o
esqueleto de sua Constituição. Esta apresenta em seu conteúdo atitude
intrigante de sua competente concepção. A Constituição é um diagrama,
um ideal a ser cursado, logo, tem um caráter principiante que inova o
linear de nação com objetivos e valores, instituindo ate mesmo, caráter
aberto e político.

3. Conclusão

A idéia da democracia está intrinsecamente ligada ao tema da igualdade


da forma que não se pode desejar, ainda que sob diversos olhares, um
sistema democrático que desconsidere uma demanda por igualdade nas
relações; vinculado com os fundamentos e finalidade do Estado
Democrático de Direito, que zela pela pluralidade e pela democratização
do acesso às oportunidades, condição essencial para o fim das formas de
discriminação. A contração dos aspectos formais e materiais, a
Constituição de 1988, aferem tratamento igual aos iguais e desigual aos
desiguais. Verifica-se assim que a Carta de 1988 trouxe integração aos
que não estavam no seio de privilégios da sociedade. Nos presentes dias,
nota-se marcas emergentes de melhorias na procura da aquisição efetiva
desses direitos. No Brasil, a Constituição de 1988 foi à conquista inicial de
uma restauração, da esperança de uma nova historia. Bem como frisa
Streck, “ sendo a Constituição brasileira, pois, uma Constituição Social,
dirigente e compromissaria – conforme o conceito que a doutrina
8

constitucional contemporânea cunhou e que já faz parte da tradição-, é


absolutamente lógico afirmar que o seu conteúdo esta voltado/dirigido
para o resgate das promessas da modernidade. Daí por que o Direito,
enquanto legado da modernidade –ate porque temos (formalmente) uma
Constituição democrática – deve ser visto, hoje, como um campo
necessário para implantação das processas modernas (igualdade, justiça
social, respeito aos direitos fundamentais, etc.”

Dessa máxima, decorre a legitimidade para se originar medidas sociais


para a inclusão dos portadores de deficiência que, encontram juridicidade
no principio constitucional da igualdade.

4. Referências
ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional das pessoas
portadoras de deficiência. Brasília: Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portador de Deficiência – CORDE, 1994

DELGADO, Mauricio Godinho. Democracia e Justiça: Sistema Judicial e


Contrução Democrática no Brasil. 1.ed. São Paulo : São Paulo, 1993. P. 20
– 27.

FRISCHEISEN, Luiza Cristina Fonseca. Igualdade Disponível.


http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Igualdade.
Acessado em: 30 de outubro de 2010

LEAL, Rogério Gesta. Direitos humanos no Brasil: Desafios à democracia.


1.ed. Porto Alegre : EDUNISC,1997. P. 99- 112.

NICODEMOS, Carlos et al. Direitos Humanos: Uma Abordagem


Interdisciplinar. 1 ed. Rio de Janeiro : América Jurídica, 2002. P. 183 – 210

ROMITA, Arion Sayão et al. Comentários à Legislação Federal Aplicável às


pessoas Portadoras de Deficiência. 1.ed. Rio de Janeiro : Forense, 2001.
223 p.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13ª ed. São Paulo:


Malheiros Editores, 2003. P. 378
9

MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: Teorias Gerais –


Comentários aos artigos 1º ao 5º da Constituição Federal do Brasil,
Doutrina e Jurisprudência, 2ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 1998, vol. 3.

HABERMAS. Jurgen. Direito e Democracia – entre facticidade e validade,


volume II, 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. P. 123-126

GOYARD-FABRE, Simone. O que é democracia? A genealogia filosófica de


uma grande aventura humana, 1ª ed. São Paulo: Editora Martins Fontes,
2003.

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e Hermenêutica – Uma Nova


Critica ao Direito. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2004. P.15.

Você também pode gostar