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Gustavo Javier Figliolo

Resumo texto Um estudo de follow up em psicoterapia


psicanalítica de casais

Londrina
2021
Gustavo Javier Figliolo

Resumo texto Um estudo de follow up em psicoterapia


psicanalítica de casais

Trabalho apresentado à disciplina Modelo


de atuação em psicologia psicodinâmica II,
profª. Isabel de Negri Xavier

Londrina
2021
O seguinte trabalho é um resumo do artigo Um estudo de follow up em psicoterapia
psicanalítica de casais, de Maria Galrão Rios e Isabel Cristina Gomes, da Universidade de
São Paulo, publicado na revista Paideia, no volume nº 21 de janeiro-abril de 2011.
Como o próprio nome em inglês o indica, o follow up consiste em um seguimento,
neste caso da verificação dos resultados de uma terapia. No caso de uma clínica específica
com casais, a ideia é a de que os sintomas muitas vezes aparecem nos filhos desses casais, que
funcionam como emergentes dos distúrbios na dinâmica familiar, por isso é que a terapia se
realiza não com os filhos propriamente ditos, mas com os casais, visando uma terapia que
consiga não somente eliminar os sintomas do filho, como também amenizar os conflitos
conjugais e criar um ambiente familiar mais saudável. A ideia subjacente a essa intervenção
reside no fato de que muitas vezes a verdadeira natureza do conflito é negada, colocando-se o
filho como o “doente” na família, quando na verdade ele é simplesmente o emergente de uma
família cujos relacionamentos maritais estão adoecidos.
Esses relacionamentos vão diferenciar o conjugal do parental, em que o primeiro diz
respeito à saúde emocional advinda da relação do casal, enquanto que o segundo concerne à
relação entre todos os membros da família; a dinâmica familiar determinará um espaço
específico para a relação entre os filhos e o casal, de maneira conjunta ou individual. Daí que
o atendimento de casal ou familiar possa ser mais eficiente do que o atendimento individual à
criança, por exemplo. Nesse sentido, a demanda é “transferida” do filho para o casal: a
“doença” da criança passa a ser o “resgate conjugal”, cujo sucesso implicará também na
eliminação (ou o alívio, a melhora) dos sintomas do filho.
Assim, a estratégia do follow up visa fazer um seguimento após o tratamento
terapêutico, normalmente entre dois e três anos após o processo analítico, com o intuito de
verificar se os resultados positivos se mantiveram e se os relacionamentos, tanto conjugais
como parentais, sofreram mudanças benéficas. No caso de terapias com base psicanalíticas há
vários fatores que devem ser levados em consideração para a verificação desses resultados
obtidos na análise: condições de vida do casal, ambiente familiar, racionalização por parte do
casal de que o sintoma do filho pode provir da relação conjugal adoecida (ou não
estabelecida, em muitos casos), as circunstâncias do fim da análise etc.
Por outro lado, existe uma importância evidente na estratégia do follow up para a
psicanálise que está ancorada em duas razões: primeiro, pela falta de pesquisas existentes
sobre os benefícios dessa abordagem psicoterapêutica, em termos de mensurar (e aqui o
espírito cientificista freudiano se faz presente) o valor e a efetividade do tratamento
psicanalítico; segundo, as possibilidades que essa estratégia oferece para se pensar em novas
técnicas e métodos no exercício da psicanálise.
O artigo comenta dois casos em que se utilizou o seguimento após terminada a análise.
Em ambos casos os resultados foram frutíferos. Verificou-se que o problema estava na relação
entre os cônjuges que repercutia no comportamento dos filhos. No caso A, a filha (Lúcia)
cometia pequenos roubos e mentia. O marido era omisso e a mulher se irritava com isso. Após
a terapia cada um adotou um novo papel no relacionamento, dividindo-se a tarefa de educar a
filha e conseguindo se comunicar entre eles, coisas que faltavam antes da terapia. Ambos
reconheceram que a terapia lhes trouxe muitos benefícios, embora no início estivessem “com
um pé atrás”. “A Lúcia está bem! É com a gente mesmo”, foi a confissão da esposa, ao falar
com o terapeuta tempo após o fim da análise. No caso B, o casal conseguiu que Karla (a
filhinha que acabava de nascer) fosse retirada do lugar que a haviam colocado em função da
morte prematura de um irmãozinho (Carlos) uns anos atrás. Na visita de verificação após a
terapia o marido disse que “agora eu não preciso mais me preocupar com as coisas, ela que
cuida”; e Anita (a esposa), frente a essa colocação, “não abaixou a cabeça e nem se calou,
como ela fazia no início dos atendimentos, e comentou que o marido também estava melhor, e
que ela não era a única que havia mudado”.
Não temos espaço aqui para tratar de maneira pormenorizada os dois casos, mas a
intenção é mostrar que a técnica de follow up pode ser muito benéfica tanto para a verificação
dos resultados da terapia no tempo, quanto para o estabelecimento de uma nova maneira de
exercer a psicanálise, uma espécie de método de verificação que mostra a validade da terapia
psicanalítica. E dentro das psicodinâmicas das famílias observamos que não existe um sujeito
doente isolado, cuja “cura” estaria na mudança de esse ou aquele comportamento, mas há um
processo dinâmico de inter-relação entre os membros, que inclusive envolve aspectos de
transmissão psíquica transgeracionais na construção da subjetividade e que demanda que
todas as vozes sejam ouvidas, todos os erros sejam assumidos e todos os desejos tenham a
mesma hierarquia. Ackerman o coloca da seguinte maneira:

A família pode ser legitimamente considerada como um tipo de unidade de troca; os


valores trocados são amor e bens materiais. Dentro da esfera familiar há um fluxo
desses valores em todas as direções. Geralmente, entretanto, os pais são os doadores
primários. Depende largamente deles se as expectativas de cada membro a partir de
qualquer outro estão destinadas a ser razoavelmente satisfeitas. Na melhor das
hipóteses, esse processo é de movimento suave, e prevalece uma atmosfera geral de
amor e devoção mútuos. Se, entretanto, a atmosfera familiar é plena de desvios e
mudanças repentinos, podem ocorrer sentimentos profundos de frustração,
inevitavelmente acompanhados por ressentimento e hostilidade. O intercâmbio de
sentimentos entre os membros da família gira em torno dessa oscilação entre amor e
ódio. (ACKERMAN, 1971, p. 33).

O intercâmbio de sentimentos é automaticamente detectado pela criança, pura emoção.

Referências

ACKERMAN, Nathan. Diagnóstico e tratamento das relações familiares. Porto Alegre:


Home, 1971.

GOMES, Isabel Cristina; RIOS, Maria Galrão. Um estudo de follow up em psicoterapia


psicanalítica de casais. Paidéia jan.-abr. 2011, Vol. 21, No. 48, 101-109

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