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ATIVIDADE AVALIATIVA 1º BIMESTRE

DISCIPLINA: Modelo de atuação em psicologia psicodinâmica I


DOCENTE: Isabel de Negri Xavier
DISCENTE: Gustavo Javier Figliolo

Análise do curta-metragem Piper, à luz da Teoria winnicotiana.

O curta-metragem Piper mostra a história de uma pequena ave bebê, filhotinho,


que dá seus primeiros passos na busca do descobrimento do mundo. Ele vive à beira-
mar com outra grande quantidade de pássaros que são mostrados no conjunto da
natureza que, imponente, dita as regras do jogo da vida. Piper tem a sua mãe, e
inicialmente ele tem medo, ou insegurança, de sair pegar seu próprio alimento, ficando
no aconchego do ninho e abrindo o biquinho para que a mãe lhe traga a comida. A mãe,
no entanto, não faz isso e o incentiva a sair e procurar com suas próprias forças o
alimento de que ele precisa. Relutantemente, ele vai dando os primeiros passos na
terrível empreitada (tudo parece ser enorme, distante e ameaçador para um ego em
constituição) e aos poucos consegue obter o seu sustento. Passa por banhos de mar
propiciados pelas inclementes ondas que o jogam na areia e o aterrorizam. Piper vai se
acostumando à força da natureza, à vida, e finalmente consegue apreender o timing e o
modus operandi para obter sucesso na incipiente caminhada par a vida adulta.
Finalmente, e depois de descobrir que o alimento fica enterrado na areia, dentro das
conchas dos moluscos, ele mostra aos adultos, levando-lhes conchas, como ele “sabe
fazer”, como ele aprendeu a viver, um eu desenvolvido em tempo e harmonia com o
meio ambiente, graças a seus esforços, mas principalmente graças ao incentivo da mãe
ou, dito de outra maneira, “no fornecimento de cuidados facilitadores do
amadurecimento emocional da criança” (SERRALHA, 2009, p. 156). Em seu artigo,
Serralha traz a visão de Winnicot que considerava essencial o tandem maturidade
emocional-idade cronológica, em que o amadurecimento humano está moldado em
grande parte pelas interferências decorrentes de “algumas falhas do ambiente, na
compreensão e no atendimento de necessidades da criança, (que) estão impedindo o
prosseguimento do processo de integração individual desta” (SERRALHA, 2009,
p.158).
É possível verificar, a partir do curta-metragem, alguns dos postulados
winnicotianos a respeito do desenvolvimento psíquico e emocional do sujeito. David
Zimerman faz uma enumeração de dez aspectos técnicos em que são estabelecidos
diálogos entre o entorno ambiental em que o ser humano cresce, o seu desenvolvimento
psíquico (constituição como sujeito) e o setting analítico (a vivência da experiência de
constituição do sujeito trazida para a análise, com as transferências e
contratransferências decorrentes de cada caso). Assim, Zimerman (1999, p. 59) comenta
que “quando as falhas ambientais precoces são repetitivas, há um congelamento da
situação de fracasso”. Não é o caso, felizmente do Piper, uma vez que teve a felicidade
de ter uma mãe “suficientemente boa”, ao dizer de Winnicot; não houve fracasso com a
nossa pequena ave, pelo contrário, adaptou-se ao ambiente de maneira plena. Outro
comentário de Zimerman (1999, p. 59) é o de que “como acontece nos primórdios do
desenvolvimento emocional de uma criança, também nos analisandos há um período de
hesitação”; não há elementos de setting analítica no curta-metragem, porém resulta
evidente a hesitação de Piper para sair, inicialmente, à busca de seu alimento; não há
resistência (Piper sabe que tem que sair), há medo do incerto. Zimerman (2009, p. 59)
também afirma: ”a concepção de que, de forma análoga ao que se passa entre a mãe e a
criança, também entre o analista e o analisando, cada um está sendo “criado” e
“descoberto” pelo outro, o que, parece-me, evidencia nitidamente o enfoque de uma
psicanálise vincular”; aqui podemos traçar a semelhança entre Piper e sua mãe, o
vínculo que se cria entre eles, e que provavelmente é mais importante do que a própria
obtenção do alimento. A criança que estabelece um vínculo forte e saudável com a mãe
desenvolve concomitantemente uma fortaleza psíquica que a ajudará a enfrentar as
situações que o ambiente lhe deparará. A constituição de um eu sadio evitará que o
sujeito precise de ressignificá-lo futuramente na análise, caso haja havido falhas. E o
processo saudável de “descobrimento” mãe-filho servirá para perpetuar o círculo
virtuoso de sujeitos egoicamente bem constituídos. Para terminar, transcreveremos o
aspecto técnico que talvez melhor seja mostrado pelo curta-metragem:
“toda pessoa apresenta algum grau e tipo de dependência, e cabe ao analista ajudar o
paciente a transitar pelas três fases que caracterizam o processo de dependência: a
absoluta, a relativa e aquela que vai rumo à independência”; a mãe de Piper mostrou a
ele (e que melhor analista do que a própria natureza?) o caminho rumo à independência.

Referências
PIPER: descobrindo o mundo. Direção: Alan Barillaro. Roteiro: Alan Barillaro.
Produção: Marc Sondheimer. Disney Pixar, 2016 (6 m.), son., color., 35mm.

SERRALHA, Conceição. Winnicot com Gabrielly e seus pais. Natureza Humana 11(1):
149-164, jan.-jun. 2009

ZIMERMAN, David. Fundamentos psicanalíticos. Teoria, técnica e clínica. Porto


Alegre: Artmed, 1999.

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