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Gustavo Javier Figliolo

A Representação da Morte na Arte

A categoria da Morte, do ser humano diante da morte, enfrentado,


confrontado a ela, encerra ou abarca uma série de atitudes comuns a todos os
homens, a todos os mortais que, além de mostrar o seu viés democrático, no
sentido de uma distribuição justa e equitativa das emoções 1, informa o homem
de maneira definitiva acerca de sua finitude, o pó que ao pó torna.
Em seu estudo sobre casos de homens e mulheres que sabiam iriam
morrer, tiveram em determinado momento e por revelação médica e científica
consciência de que suas vidas estavam chegando ao fim, Elisabeth Kubler-
Ross enumera uma série de estágios emocionais adotados como resposta
aparentemente natural a essa instância.
Antes da notícia final existe naturalmente um temor da morte, uma
primeira aproximação à possibilidade de que em nós caia, a primeira imagem
talvez da tomada de consciência de nossa condição de mortais. Segue-se a
este temor uma negação e isolamento, como uma resposta preventiva que nos
permita “ganhar tempo” emocional para lidar com a situação.
O primeiro estágio, uma vez a chegada da morte ser um fato,
compreende uma sensação de raiva, acrescida pela impotência na busca de
uma solução, o que dá lugar à depressão.
Finalmente, há uma aceitação do inevitável que contém uma profunda e
secreta esperança, presente ou futura, aquém ou além, tendentes à aquietação
do sofrimento.
O artista, por meio de seu objeto artístico, tem manifestado através dos
séculos sua visão do acontecimento em representações das mais diversas, que
nos deixam entrever o posicionamento do homem diante da morte.
Este objeto artístico, para transmitir a essência emocional por meio do
semblante do texto imagético, seja um rosto, uma paisagem, uma postura,
deverá ser singular.

1
Das quatro emoções básicas descritas pela psicologia: alegria, tristeza, raiva e medo, somente não se
tem registro de um sentimento de alegria diante da Morte.
O conceito de singular está associado ao conceito de particular; são,
porém, coisas distintas.
O particular é oposto ao conceito de universal.
O particular concerne a um indivíduo: “isto lhe é particular”; o que não
pertence a todos os indivíduos de uma só espécie; o que é eminente,
destacado, notório. Afasta-se do imperativo categórico por fugir das
convenções ético-morais pré-estabelecidas, ou por não atrelar-se à
necessariedade da visão unívoca; persegue, no entanto, a eminência, a
ruptura; é contestatário, beligerante.
O singular refere a single, solteiro, aquilo que cria um indivíduo, aquilo
que um indivíduo é, não divisível, coeso, uno, único em sua espécie, aspecto,
semblante; a singularidade como não correspondência, como dessemelhança.
A singularidade denota, então, o raro, a estranheza, a surpresa.
Tem, por outro lado, duas conotações, enfrentadas.
A conotação encomiástica do singular o considera como único,
extraordinário, excelso.
A conotação pejorativa como estranho, perturbador, chocante, esquisito.
Esta estranheza, esta perturbação, este choque devem ser condição da
obra artística para representação da Morte, estará canalizada por:
 Perdas e Consolações; na verdade não há morte, ela não existe
como algo que acontecerá; metafisicamente existe o antes e o
depois, por isso é que se lida com o preparo e a perda. A morte
acontece somente como uma ideia cíclica, de reinício, de
reconstrução, isto permite o preparo, a aceitação, a calma e o
sofrimento contido diante da perda, do que já não mais será;
 Pesares e Melancolias; representando a perda do objeto de amor,
no sentido freudiano; o luto nos permite recuperar o objeto, a
melancolia nos submerge num estado de irrevogabilidade, sem
possibilidade de volta atrás, daí ser um atalho para o suicídio: o
objeto de amor (o objeto libidinal, psicanaliticamente falando), não
é recuperável. A imagem da Melencoliah, de Albrech Durher,
representa com bastante precisão este estado: a criatura alada
absorta em pensamentos que dá as costas à luz, acompanhada
de um anjo com um semblante pesaroso e de um cão inerte;
 Ausências; indicando a nostalgia pelo amor que nunca se teve e
melancolia por aquele que se perdeu;
 A presença ausente; o lamento pela ausência, pela mudança, a
obstinação à perda;
 Moral e Destino; que reflete as atitudes, as virtudes (a fama da
visão medieval) e a sina do mesmo fim para todos.
Estas são algumas das maneiras de se representar a morte na Arte.

BIBLIOGRAFIA

KUBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a Morte e o Morrer. São Paulo: Martins


Fontes, 1996.

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