Você está na página 1de 5

Resumo de episódios d' Os Lusíadas (adaptação de João de Barros)

INÍCIO DA NARRAÇÃO E CONSÍLIO DOS DEUSES

Iam os barcos já na costa de Moçambique, rápidos, entre a branca espuma das ondas.
A Índia estava longe, mas o caminho para alcançá-la era aquele e decerto lá chegariam,
se o vento e o mar lhes fossem favoráveis e, sobretudo, se a coragem não os
abandonasse.
Ai deles, porém!
Sempre que um povo tenta desvendar e conhecer paragens até então desconhecidas,
parece que as forças da natureza ou a inveja dos outros homens tudo fazem para os
não deixar vencer...
Assim, os deuses ou forças, que vivem nas coisas e nas almas, discutiam se sim ou não
os deviam deixar triunfar.
Júpiter, Vénus, Baco, Marte, Apolo e Neptuno juntaram-se todos para resolver se
dariam ou não auxílio aos portugueses.
Bastava que Júpiter desencadeasse um grande temporal sobre as frágeis embarcações
para que um naufrágio as engolisse. Vénus e Marte, que eram amigos dos
portugueses, não queriam. Mas Baco, que tivera outrora poder na Índia e receava que
os portugueses lho tirassem, preparava-se para os inquietar...
No Olimpo, grande discussão houve entre os deuses a propósito dos nossos
portugueses e da melhor decisão a tomar sobre o destino das suas naus...

INÊS DE CASTRO

Aconteceu um caso triste, mas que mostra quanto é sincero e terno o coração dos
portugueses...
D. Afonso IV tinha um filho, D. Pedro, que gostava muito de uma dama da rainha,
chamada D. Inês de Castro; mas o príncipe não podia casar com uma senhora
qualquer, mas só com uma princesa de sangue real. Por isso, D. Afonso afligia-se ao ver
o filho tão preso dos encantos de D. Inês e não querendo casar-se com nenhuma
princesa verdadeira.
O Rei aconselha-se com os seus ministros e resolveram tirar a vida à pobre D. Inês,
cujo o único pecado e crime era amar o seu príncipe.
Vão buscá-la a Coimbra e trazem-na arrastada à presença do Rei.
Apertando muito ao peito os filhinhos que tinha de D. Pedro, Inês chora, pede e suplica
piedade, não para ela, mas para os filhos que, ficando órfãos, tudo perderiam.
Ainda se comove o rei, mas não se comovem os conselheiros. Arrancam das espadas
de aço fino e trespassam o seio da formosa Inês.
Assim que ela morreu, chorou-a todo o povo, tão nova e bonita era a apaixonada de D.
Pedro. Este não se esqueceu nunca da sua amada. Assim que subiu ao trono, coroou-a
rainha como se viva fosse, entre festejos e pompas solenes. E castigou com severidade
os ministros responsáveis pela morte da sua amada. Mas nem só a eles castigou.
Enquanto reinou nunca perdoou nenhum crime, e não consentiu já mais que um
homem mau vivesse tranquilo e impune.
Foi justo e, por vezes, cruel. Mas, austero e bravo, soube defender o seu reino das
cobiças alheias.
BATALHA DE ALJUBARROTA

Soa a trombeta castelhana, dando o sinal de batalha. Som horrendo que parece correr
do norte ao sul de Portugal. As mães aflitas apertam os filhinhos ao peito, e rostos há
que mudam de cor.
Trava-se a luta entre Espanhóis e Portugueses, com fúria imensa de parte a parte.
Numerosíssimos, os inimigos crescem sobre a gente de Nuno Álvares Pereira e entre
eles estão os próprios irmãos do futuro Condestável.
D. João grita aos seus soldados que defendam a sua terra ameaçada, pois a liberdade
da Pátria dependia da coragem destes. D. João, vendo em risco os soldados
portugueses, precipita-se em auxílio da hoste já cercada. Todos os seus soldados o
acompanham e, sem medo de perder a vida, atiram-se para o meio dos inimigos.
O rei castelhano e os seus milhares de soldados lutam desesperada e raivosamente,
mas, apesar de serem mais do que os nossos, não resistem à coragem lusitana.
São vencidos os castelhanos que fogem dos campos de Aljubarrota.

DESPEDIDAS DE BELÉM

No porto de Lisboa, onde o Tejo mistura as suas águas com a água salgada do mar,
estão as naus prontas a sair.
Ninguém receia a viagem aventurosa. Ninguém vacila em seguir Vasco da Gama por
toda a parte.
Na praia, guerreiros e marujos passeiam os seus fatos novos. Os ventos sossegados
fazem ondular os estandartes nas fortes e belas naus que prometem tornar-se um dia
estrelas brilhantes no céu da glória...
Estão as naus aparelhadas e os navegadores prontos para todas as traições e lutas do
mar. Pediram a Deus, antes de partir, a protecção e ajuda, favor celeste que os guiasse.
Por fim, saíram da Capela de Santa Maria para bordo. A gente da cidade acompanhou-
os, em grande multidão, chorando e gritando. Suspiravam os homens que ficavam.
Todos receavam a perda dos nautas nos desconhecidos oceanos que iam navegar.
Mães, esposas, irmãs imaginavam já não os tornar a ver.

ADAMASTOR

Cinco dias depois da aventura de Veloso, numa noite em que sopravam ventos
prósperos, uma nuvem imensa, que os ares escurecia, apareceu de súbito sobre as
cabeças dos marinheiros. Tão temerosa e carregada vinha que os seus valentes
corações se encheram de pavor. O mar bramia ao longe, como se batesse nalgum
distante rochedo. Tudo infundia pavor.
Erguendo a voz ao céu, Vasco da Gama suplicou piedade a Deus. Mal acabava de rezar,
um figura surgiu no ar, robusta, fortíssima, gigantesca, de rosto pálido e zangado, de
barba suja, de olhos encovados e numa atitude feroz. Num tom de voz grosso,
começou a falar-lhes.
Arrepiaram-se todos, só de ouvir e ver tão monstruosa criatura. Disse então o gigante,
voltando-se para eles:
- Ó gente ousada, já que vindes devassar os meus segredos escondidos, que nenhum
humano deveria conhecer, ouvi agora os danos que prevejo para vós, para a vossa
raça, que subjugará, no entanto, ainda todo o largo mar e toda a imensa terra. Ficai
sabendo que todas as naus que fizerem esta viagem encontrarão as maiores
dificuldades nestes meus domínios. Punirei a primeira armada que vier aqui depois da
vossa e os seus tripulantes mal sentirão talvez o perigo de me defrontarem. Hei-de
também vingar-me de quem primeiro me descobriu, Bartolomeu Dias, fazendo-o
naufragar aqui mesmo e outras vinganças imprevistas executarei...
Era tão assustador o que ele dizia, que Gama o interrompeu e lhe perguntou quem ele
era e por que estava assim tão zangado.
Ele respondeu:
- Eu sou aquele cabo a que chamam Tormentório, andei na luta contra o meu deus,
Júpiter, fiz-me capitão do mar e conquistei as ondas do oceano. Apaixonei-me então
por Tétis, princesa do mar filha de Neptuno. Mas como eu sou tão feio, ela nem me
podia olhar... Determinei conquistá-la à força e mandei participar esta minha intenção.
Esta fingiu aceitar o meu pedido de casamento... julguei certa noite vê-la e supus que
vinha visitar-me e combinar as nossas bodas. Corri para ela como um doido e comecei
a abraçá-la. Achei-me, no entanto, de repente abraçado a um duro monte, pois Tétis
transformara-se em rocha feia e fria. Vendo um penedo a tocar a minha fronte,
penedo me tornei também de desespero. Para redobrar as minhas mágoas, Tétis anda
sempre me cercando, transformada em onda.
Assim contou a sua história o gigante Adamastor ... E logo a nuvem negra se desfez e o
mar bramiu ao longe.
Gama de novo rezou a Deus, pedindo-lhe que os guardasse dos perigos que o
Adamastor anunciara.

A TEMPESTADE E A CHEGADA À ÍNDIA

...Queria Veloso continuar a heróica narrativa, quando o mestre do navio pediu aos
seus ouvintes e a ele que estivessem alerta...
Desencadeia-se a terrível tempestade. Rompe-se a vela grande da nau de Veloso, pois
não houvera tempo de amainá-la. Alaga-se o navio todo com as ondas, que o
envolvem espumando, e a água entra pelos porões. Os marinheiros correm a dar à
bomba, para evitar o naufrágio, que parece certo.
O navio maior, em que navegava Paulo da Gama, leva o mastro quebrado.
Tão perto da Índia estavam os portugueses e tão impossível se lhes afigurava lá chegar,
nessa hora de tragédia!
Vasco da Gama, entre o fulgor da procela, ergue a alma a Deus e, enquanto os
marinheiros lutam contra a fúria do Oceano, a Deus suplica porto e salvamento.
Sossega o mar, cala-se o vento um pouco, graças à intervenção Vénus e das Nereidas
junto dos Ventos.
As naus portuguesas retomam outra vez o seu rumo para a Índia. Baco fora vencido de
novo e já não poderia contrariar os desígnios da gente lusitana.
A manhã clareava nos outeiros por onde passa o rio Ganges, quando da gávea alta os
marinheiros enxergaram terra, pela proa das naus.
O piloto melindano exclama que a terra que se avista enfim é Calecut, cidade da Índia.

ou«trora

Foi-lhes

intenções

Este livro narra-nos a viagem da frota portuguesa


de Vasco da Gama à Índia.
Após várias traições em terras africanas, os valentes
marinheiros portugueses, apesar de bastantes
dificuldades enfrentadas, vão além do Bojador.
Terminadas as tormentas, a frota de Vasco da Gama
é acolhida em Melinde, onde lhe é concedido um
piloto que os guiará à Índia.
Chegados ao ambicionado destino, Vasco da Gama
informa o Imperador indiano das suas intenções.
Baco, inimigo de Portugal, vendo que o Imperador
confiava nos portugueses, faz com que, em
Calecute, corra o boato das más pretensões
lusitanas. Não obstante, Vasco da Gama consegue
provas de que esteve em terras tão longínquas e
volta a Portugal.
Durante a viagem de regresso, param na Ilha dos
Amores, onde foram recebidos por nereidas e
homenageados com banquetes. Tétis, rainha das
nereidas, narra a Gama feitos futuros dos lusitanos.
Disfrutado o prémio de tão heróica viagem, a frota
regressa a Lisboa, onde é recebida com admiração e
alegria.

Você também pode gostar