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FABRÍZIO RUBINSTEIN
DIREITO PENAL II
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
1. Conceito
É o poder que o Estado tem de aplicar a sanção penal a uma determinada pessoa
que tenha praticado um fato definido como crime, poder este que se manifesta através do
direito de ação e conseqüentemente do regular desenvolvimento do processo. A
punibilidade não é um elemento integrante do conceito de crime. É exógena a este
conceito. Em todos os casos é fator condicionante para a aplicação da pena, porém não
faz parte da estrutura do conceito de crime.
Temos três autores (Basileu Garcia, Mezger e Francisco Muñoz Conde) que
afirmam que a culpabilidade seria o quarto elemento do conceito analítico do crime. Para
essa posição, se não houver a punibilidade, estando presente qualquer causa de
exclusão da culpabilidade, isso faria o delito desaparecer.
Tal posição, entretanto, não deve ser seguida, por uma razão muito simples: você
pode ter crime sem punibilidade e a maior prova disso é o código trazer as causas de
extinção da punibilidade, isto é, o crime não deixou de existir. O crime continua existindo,
pois eu pratiquei um fato típico e antijurídico, culpável, mas tenho a culpabilidade extinta.
Um homicídio praticado há 30 anos atrás ao prescrever provoca a extinção da
punibilidade, mas o crime não deixa de existir.
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Mas, jamais o Estado poderá exercer o jus puniendi sem haver a prática de um
delito. Então, pode muito bem ocorrer a prática de um injusto, culpável, e não haver
punibilidade, por haver, por exemplo, prescrição.
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Ultrapassados esses três pontos, vai-se para a punibilidade, que é aquilo que se
busca com o processo, não mais com o direito penal: possibilidade de punição do agente.
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Pode acontecer que o sujeito tenha praticado fato típico antijurídico, seja culpado,
havendo tudo pronto para condená-lo. No momento em que o juiz vai prolatar a sentença
condenatória, vem aos autos a certidão de óbito do sujeito. Extingue-se, então, a
punibilidade.
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Então, o fato é típico, antijurídico e o agente é culpável, porém, não pode ser
punido. Daí, a conclusão: é preciso que juridicamente possa-se impor a sanção.
A prova da morte é feita por certidão de óbito e é causa personalíssima que não se
comunica aos co-autores ou partícipes.
Art. 61, CPP. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade,
deverá declará-lo de ofício.
Art. 62, CPP. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito,
e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.
Art. 155, CPP. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.
Por que somente se prova por via documental? A regra vem do direito civil e foi
transferida para a legislação processual penal. E a declaração de ausência? Vale como
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“Aquela decisão, como se baseou em um fato inexistente, não faz coisa julgada
material, pois trata-se de ato inexistente, não tendo conseqüência jurídica. Portanto,
poderia ser revista pelo juiz: “o desfazimento da decisão que, admitindo por equívoco a
morte do agente, declarou extinta a punibilidade, não constitui ofensa à coisa julgada.
Habeas corpus indeferido” (HC 60095-6/RJ – Rel. Rafael Mayer).”
A Turma, entre outras questões, entendeu que pode ser revogada a decisão que,
com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do ora paciente, uma vez
que não gera coisa julgada em sentido estrito. A formalidade não pode ser levada a ponto
de tornar imutável uma decisão lastreada em uma falsidade. O agente não pode ser
beneficiado por sua própria torpeza. Precedente citado do STF: HC 84.525-8-MG, DJ
3/12/2004. HC 143.474-SP, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-
SP), julgado em 6/5/2010.
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Embora tenha a sua natureza, hoje, equiparada a dívida de valor (art. 51, CP), a
multa criminal não paga passou a ser tratada como dívida ativa. Apesar desse tratamento,
a multa continua tendo a natureza jurídica de pena. E, assim, aplica-se a ela o princípio
da intranscendência (não pode ultrapassar da pessoa do apenado). Assim, com a morte
do condenado, a pena não mais poderá ser cobrada. Ressalte-se, entretanto, que os
efeitos civis decorrentes da condenação criminal não fica extinta com a morte do
condenado. A obrigação de reparar o dano transmite-se aos sucessores, nos limites da
herança.
2.2.1. Anistia
Trata-se de instituto jurídico que, basicamente, tem aplicação para crimes políticos,
militares ou eleitorais. Mas pode ser aplicada a outros crimes? Duas correntes disputam
esse tema:
Para a primeira corrente, defendida por Cezar Bitencourt, não pode ser aplicada a
anistia a um delito que não tenha natureza de crime político, sob pena de violação da
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mens legislatoris, isto é, aplicar um instituto a um delito para o qual ele não foi criado.
Seria um desvio de finalidade.
Em sentido oposto, Rogério Greco afirma ser possível que a anistia seja aplicada
aos crimes comuns, isto é, que não sejam políticos sob o fundamento de uma ausência
de vedação legal.
Importante saber que enquanto a anistia apaga o fato, a abolitio criminis revoga a
norma.
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se refere mais à graça, mas apenas ao indulto (art. 84, XII). Por essa razão a Lei de
Execução Penal passou a tratá-la como indulto individual, o que não ocorreu na reforma
da Parte Geral do Código Penal.
Assim, a graça e indulto (art. 107, II, CP) constituem uma espécie de indulgência
do Estado e, em regra, são concedidos após o trânsito em julgado da condenação,
através de decreto do Presidente da República, que considera a pena cumprida antes de
seu final.
A diferença entre eles, então, é que a graça é individual (art. 188, LEP) e, em
regra, solicitada pelo agente, enquanto que o indulto é coletivo e espontâneo.
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São tão semelhantes que ambos possuem a mesma natureza jurídica de causas
de extinção da punibilidade e ambos são concedidos pela mesma pessoa, ou seja, pelo
presidente da República. Logo, em razão da enorme semelhança, quando a Constituição
vedou a graça estaria implícita nessa vedação também a vedação do indulto.
Art. 1º, § 6º, Lei 9.455/97. O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia.
Em sentido oposto, afirma-se que não é possível a concessão de indulto, pois a Lei
de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) veda e o crime de tortura é equiparado a hediondo.
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A abolitio criminis (art. 107, III, CP) já foi analisada no estudo da lei penal no tempo
(art. 2º, CP).
Ocorre quando a lei penal retroage, atingindo fatos ocorridos antes de sua
entrada em vigor, sempre que beneficiar o agente de qualquer modo (artigo 5.º,
inciso XL, da Constituição Federal).
Ex.: A Lei 11.106/05, em relação ao adultério. Foi uma lei nova descriminalizadora.
2.4.1. Prescrição
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2.4.2. Decadência
Em regra (art. 103, CP), o prazo é de 6 meses e começa a correr da data em que a
vítima toma conhecimento da autoria (art. 798, CPP) ou, no caso de ação penal privada
subsidiária da pública, do dia em que o Ministério Público passou a estar inerte (16º dia –
indiciado solto; 6º dia – indiciado preso).
Alguns autores defendem que, nesse último caso, porém, o decurso do prazo
decadencial não provocaria a extinção da punibilidade, pois o Ministério Público poderia
oferecer a denúncia enquanto não ocorresse a prescrição.
Mas, há exceções expresssas: art. 41, §1º da Lei 5.250/67 e art. 236, CP. Difere-se
do prazo prescricional porque não se interrompe ou suspende.
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Exemplo: fulano de tal estava preso e quando foi solto voltou para casa. Lá
chegando, encontrou a mulher com outro homem. Chateado com isso tentou entrar na
casa e a mulher não deixou. Com raiva, o fulano pegou alguns papéis e colocou fogo na
casa, respondendo por incêndio culposo. Ontem, passaram-se seis meses da descoberta
da autoria do fato.
2.4.3. Perempção
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b) quando morre o querelante ou torna-se incapaz e nenhum sucessor aparece para dar
prosseguimento à ação, em 60 dias;
2.5. Renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada
2.5.1. Renúncia do direito de queixa na ação penal privada (art. 104, CP)
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a) Expressa: quando houver uma declaração assinada pela vítima, ou seja, é aquela onde
o ofendido declara que não pretende exercer o direito de queixa.
Não se deve confundir renúncia com desistência, tendo em vista que aquela ocorre
antes da propositura da ação e esta depois da propositura da ação. A única situação de
desistência da ação está prevista no artigo 522, CPP.
Resposta: Não, por expressa previsão do artigo 104, parágrafo único, CP. No caso de
infração penal de menor potencial ofensivo, contudo, a homologação judicial do acordo
civil, realizada na audiência preliminar, implica renúncia ao direito de queixa ou
representação (artigo 74, parágrafo único, da Lei 9.099/95).
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2.5.2. Perdão aceito nos crimes de ação privada (arts. 105 e 106, CP)
É possível somente na ação penal privada, tendo em vista que o Ministério Público
não pode perdoar o ofendido. O perdão aceito obsta o prosseguimento da ação,
causando a extinção da punibilidade (art. 107, V, CP). Em decorrência do Princípio da
Disponibilidade, verifica-se o perdão após o início da ação, pois, tecnicamente, o perdão
antes da ação configura renúncia.
Apesar de pressupor ação penal privada em curso, pode ser feito dentro do
processo ou fora dele e é admitido até o trânsito em julgado.
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A doutrina entende que é possível o perdão parcial, como, por exemplo, perdoar
por um crime e não perdoar por outro, embora a lei seja omissa a esse respeito.
2.6. Retratação do agente, nos casos em que a lei admite (art.107, VI, CP)
Quando crime for de falso testemunho (artigo 342, § 2.º, do Código Penal):
poderemos ter a retratação do agente até a sentença de 1.ª grau do processo em que
ocorreu o falso testemunho. A retratação nesse caso comunica-se aos partícipes, pois o
artigo diz que “o fato deixa de ser punível”. Lembre-se que o crime de falso testemunho
não admite co-autoria, pois se trata de crime de mão-própria.
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2.7. Casamento do agente com a vítima, nos crimes dos arts. 213 a 220 do CP (art.
107, VII, CP)
O casamento do agente com a vítima nos crimes contra os costumes (art. 107, VII,
CP) extinguia a punibilidade desde que não houvesse resultado de tais crimes lesão
corporal grave, incluindo-se o estupro e o atentado violento ao pudor.
2.8. Casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no item anterior, se
cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não
requeira o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60
dias a contar da celebração.
O casamento da vítima com terceiro (art. 107, VIII, CP) era outra causa de extinção
da punibilidade, mas dependia da inexistência de violência ou grave ameaça, o que
excluía, portanto, o estupro e o atentado violento ao pudor, a não ser nos casos de
violência presumida.
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Para Damásio de Jesus, "é a faculdade concedida ao juiz de, comprovada a prática
de uma infração penal, deixar de aplicar a pena imposta pela lei, em face de justificadas
circunstâncias excepcionais”.
Hipóteses Legais
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No Código de Trânsito Brasileiro, o artigo que previa o perdão foi vetado pelo
Presidente da República.
Para Rui Stoco, o perdão judicial não pode ser aplicado ao Código de Trânsito
Brasileiro, por ausência de previsão legal, uma vez que o artigo desta lei foi vetado.
Mas as razões do veto indicam em sentido contrário, pois o motivo foi a existência
de hipótese mais ampla no Código Penal. Luiz Flávio Gomes, Rogério Greco e Damásio
de Jesus e o STJ entendem que é possível a aplicação do perdão judicial nesses crimes,
pois, muito embora o art. 300 tenha sido vetado, a intenção do Presidente da República
foi aplicar o perdão judicial, ao fundamento de o instituto já estar previsto na Parte Geral
do CP, podendo ser aplicado pela norma contida no art. 291 do próprio CTB. Esta é a
posição amplamente majoritária.
Além disso, o homicídio culposo e as lesões corporais culposas são tipos penais
remetidos, o que faz com que sua definição típica esteja no próprio Código Penal, que, ao
definir tais crimes, permite o perdão judicial.
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