O Iluminar da Escuridão Tallys Santos Mendes – 1221.
Era uma sexta a noite Martinha se recolhia da chuva fria em um pequeno
bar, já havia perdido as contas de quantas vezes viu o sol nascer de uma pequena janela que ficava do lado de sua mesa preferida, tentando fugir da mágoa de seu coração e talvez até de si mesmo, se afundava nas bebidas que traziam uma falsa sensação de paz. Foi nesse mesmo local e circunstância onde Martinha conheceu Roberto, um homem alto, de cabelos grisalhos, aparentava ter cinquenta e poucos anos além de carregar um forte coração cicatrizado do peso que a muito vem carregado, por acaso ou destino houve uma noite onde o bar estava lotado e Roberto sentou-se na mesa de Martinha. -Boa noite. -Boa -Eu sempre te vejo por aqui mas acho que nunca tive a oportunidade de me apresentar, eu sou Roberto, muito prazer. -Martinha, o prazer é meu. Foi assim durante muitas noites os dois dividiam mágoas parecidas, um arrependimento romântico quase que poético, Roberto era viúvo e não desfrutou de seu casamento, era muito ocupado, seu trabalho sempre estava a cima de sua família até que por conta de uma enfermidade sua esposa partiu sem chances de despedida. Pouco a pouco o coração de Martinha ia sendo acolhido por um calor que antes nunca havia sentido, como se finalmente a escuridão de seu peito sumisse perante a forte chama, da mesma forma as cicatrizes iam sendo tratadas por alguém que sabia o que era a dor do arrependimento um romance inesperado surgiu. Cerca de um ano se passou e durante esse período os encontros no bar começaram a avançar para restaurantes, nenhum dos dois precisava mais do álcool que por muito tempo os acompanhou, era sábado a noite após um jantar que fazia até mesmo Martinha nos seus quarenta e nove anos se sentir como em seu primeiro amor, ali iluminado pelas velas Roberto se ajoelha e com um anel de ouro mais belo pela sua simbologia do que pelo seu valor, a pede em casamento. -Eu posso ser mais um, mais um vencedor ou mais um perdedor, mais um sábio ou mais um ignorante, mais um bonito ou mais um feio, pouco importa... Eu não quero ser mais um, para mim basta ser uma metade formando junto a ti, meu amor uma única identidade, aceita se tornar minha mulher? -Óbvio que sim! Finalmente havia chegado a hora, entrava a noiva com seu longo e lindo vestido branco, todos estavam ansiosos ninguém estava esperando por um romance tão repentino, principalmente vindo de Martinha, o padre realizava a cerimônia e os noivos não continham a emoção após tanto tempo finalmente se realizava um sonho de longa data. -Pode beijar a noiva. Com um beijo apaixonado Roberto finaliza com uma frase e um gesto que marcou a memória de Martinha. -Eu te amo. Ele dizia segurando apenas uma flor que apenas Martinha conseguia reconhecer, a flor anônima.