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Fundamentos da Astrologia

Aula 2

Os planetas
Eduardo Gramaglia esclarece, em seu livro "Astrología Hermética" que na Grécia pré-socrática os deuses não eram
considerados seres celestiais, já que habitavam o Monte Olimpo, sua morada divina; e muito antes da época homérica,
os babilônios já acreditavam que seus deuses enviavam mensagens por intermédio dos planetas, ainda que na Grécia
só tenham alcançado um status de divindade depois de Platão, que escreve no Timeu (38 C):

"Assim, o tempo foi, pois, gerado ao mesmo tempo que o céu, para que, engendrados simultaneamente, também
simultaneamente sejam dissolvidos. (...) A partir do raciocínio e do desígnio de um deus em relação à geração do
tempo, para que ele fosse engendrado, gerou o Sol, a Lua e cinco astros, que têm o nome “planetas”, para definirem e
guardarem os números do tempo".

Tal fragmento nos apresenta uma interessante conexão entre o tempo e a natureza dos planetas, relação esta
concebida pela mente grega e estreitamente ligada à criação do complexo sistema de predição astrológica, baseado,
entre outras coisas, em relações numéricas. Esta cosmologia, quando unida à atribuição de uma natureza imortal aos
astros – fixos e errantes – foi um dos caminhos para que a mente racional grega aceitasse a Astrologia.

A base filosófica subjacente à Astrologia do período helenístico – baseada nos princípios herméticos – postulava uma
correspondência ou ressonância entre o mundo sublunar ou inferior (a realidade manifestada, o mundo em que
vivemos) e os reinos celestiais e suas elevadas hierarquias ou entidades, portanto, por trás dos princípios astrológicos,
em sua fundamentação e criação, escondia-se uma percepção profundamente mística do Universo.

A Astrologia emprega, em sua fundamentação e uso pelas vertentes chamadas "tradicionais", apenas os sete astros
visíveis a olho nu - de Lua a Saturno, em ordem de visibilidade aparente a partir da visão do observador, do mais
próximo ao mais distante da Terra: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Gramaglia acrescenta que "o
termo grego planetes asteres significa "estrelas errantes", o qual provem do verbo planao, errar, uma vez que esses
corpos celestes eram vistos vagando pelo céu, em contraste com a imobilidade aparente de outras estrelas que
pareciam estar fixas, ao menos dentro de cada constelação”.

Esses planetas que não são visíveis a olho nu, Urano, Netuno e Plutão, foram descobertos posteriormente, depois de
séculos de um uso perfeito e absolutamente funcional da Astrologia sem eles. O autor argentino prossegue: "ajuda
bastante recordar que na mitologia grega Urano, Netuno e Plutão, por se tratarem de potências perigosas até mesmo
para os deuses, não moravam, como os demais, no Monte Olimpo. A Urano lhe foi designado o céu (Ouranós em
grego), a Poseidón (Netuno) o mar e a Plutão (Hades) a região escura do submundo e a zona luminosa dos Campos
Elíseos. Por outro lado, o fato de que se tratam de três planetas invisíveis a olho nu já é uma prova suficientemente
explícita sobre a qualidade de sua influência na Astrologia".

Em resumo: o mais importante, para a Astrologia, é o céu que pode ser visto. É assim que ela fora fundamentada
enquanto saber hermético. Não há a necessidade de inserir novos elementos em um conhecimento fechado e todos,
TODOS os eventos que são explicados pela Astrologia moderna utilizando tais planetas recém-descobertos são muito
melhor explicados pelo uso apenas dos sete planetas tradicionais. E ainda: não há o menor fundamento em atribuir
características pessoais ao nativo com base nesses planetas - Netuno transitou por Escorpião de outubro 1956 a
Novembro de 1970, portanto, dizer que qualquer característica pessoal possa ser atribuída a alguém por meio deste
posicionamento é afirmar que, por 24 anos, só nasceram pessoas com este mesmo traço.
Veremos adiante que os planetas clássicos possuem dignidades ou debilidades que determinam sua qualidade e força
de ação: movimento, rapidez, triplicidade, termo, face, etc. Essas determinações foram matematicamente atribuídas
aos sete planetas clássicos, jamais de forma arbitrária, formando um sistema fechado. Portanto, afirmar coisas como
“Urano é o regente de Aquário” é ferir sobremaneira os fundamentos sobre os quais a Astrologia foi erigida.

O significado dos planetas

Os Luminares

1) O Sol

O Sol, que a tudo vê, existente à maneira do fogo e como a luz da mente, o órgão de percepção da alma, em uma
natividade significa realeza, hegemonia, mente, inteligência, movimento, eminência da fortuna, questões oraculares,
juízo, atividade, popularidade, o pai, os mestres, pessoas de alta reputação, sacerdotes da terra natal. Das partes do
corpo, é o Senhor da cabeça e dos sentidos, olho direito, costelas, coração, movimentos respiratórios, tendões. Também
é Senhor da essência do ouro, dos frutos do trigo e da cevada. Pertence à seita diurna, amarelo no que diz respeito à
cor, e forte no que concerne ao gosto. (Vettius Valens).

Assim como os signos, os planetas também são qualificados por qualidades primitivas associadas aos elementos. O Sol
é quente e seco, portanto, associado ao fogo por excelência. Diurno e masculino.

O Sol é considerado um luminar, doador de vida, portanto benéfico, mas tem seu funcionamento maléfico quando
muito próximo de outro planeta – seu calor e sua secura queimam e seus raios invisibilizam o planeta que está
próximo, e isso é considerado uma debilidade. Considera-se até 15° de distância do Sol um planeta sob seus raios,
ainda que a combustão se dê especificamente à distância de até 8° 30.

“Quando Saturno está combusto é similar a um miserável homem velho que não consegue suportar as dores,
sofrimentos e castigos; e quando Júpiter está combusto é semelhante a um homem posto à prova e que, contudo,
consegue suportar as dores e sofrimentos, pois espera tirar vantagem disso. Assim, quando Vénus está combusta
torna-se absolutamente fraca e sem força e não consegue realmente aguentar a combustão; mas quando Mercúrio,
que aguenta a combustão, se torna combusto, é semelhante a um homem acostumado às dificuldades e à miséria e à
pobreza e que suporta tais coisas uma vez que lhe são familiares; depois, diz-se que quando Marte se torna combusto
é semelhante a um homem perverso, cuja perversidade e ofensa aumentam.” Abu Ma’shar (Tradução da versão inglesa
por Paulo Alexandre Silva, DMA)

2) a Lua

A Lua, gerada pelo reflexo da luz solar, possuindo uma natureza espúria, em uma natividade significa a vida do homem,
o corpo, a mãe, a concepção, a aparência, a deusa, a convivência ou o matrimônio legal, o cuidado do lar, a rainha, o
dinheiro, a fortuna, a cidade, agrupamento de multidões, barcos, viagens e trajetos. Das partes do corpo, a Lua é
regente do olho esquerdo, estômago, seios, vesícula, baço, membranas, medula. É Senhora da essência da prata e do
cristal. É o luminar da seita noturna, verde-pálido quanto à cor e salgado quanto ao gosto. (Vettius Valens)

Toda a essência do corpo humano se relaciona com o poder da divindade. Porque depois que o sopro que nos dá a vida
entra completamente no ser humano, o espírito da mente divina se submerge no corpo, e devido aos seus cursos a Lua
mantém a forma do corpo já formado. Quando, com sua habilidade única, Deus O Criador do Homem formou o ser
vivo, o fez com destino à imortalidade da alma do corpo terreno. A alma, derramada no interior deste corpo e atada a
ele pela força da necessidade, governa e serve o frágil corpo mortal. A alma não tem um recipiente perfeito e não será
capaz de demonstrar sua divindade ao menos que o corpo esteja reforçado para sua recepção. Assim, a alma e o corpo
se sustentam um ao outro pela força de sua própria natureza e demonstram que o homem está composto de uma
natureza terrena e divina. (...) As partes mais profundas do ser humano crescem quando a Lua cresce, e quando ela
começa a perder sua luz ou se consome, sentiremos fadiga no corpo; quando ela volta a crescer, seu poder de
crescimento vem de golpe. O corpo da terra é regido pelo poder da Lua. Ela está localizada na parte mais baixa dos
céus, e devido a sua proximidade, foi designado a ela o poder sobre a terra e sobre todos os corpos animados pela
respiração da mente divina. (Firmicus Maternus, Matheseos IV.)

A natureza da Lua é natureza fria e úmida. Noturna e feminina.

A Lua é considerada benéfica quando está crescendo em luz – depois da conjunção com o Sol até a fase Cheia – e
maléfica quando está diminuindo em luz e se aproximando da combustão, ou seja, da fase Minguante até a Lua Nova.
Neste período de muita proximidade com o Sol a Lua não pode ser vista e isto é considerado um malefício.

Dessas descrições das qualidades solares e lunares podemos inferir algumas questões: as qualidades solares fazem
alusão à Alma do Cosmos, que podemos chamar de percepção integral; já a Lua se relaciona com a percepção da
aparência ou da forma: O Sol é a mente, a consciência, o espírito, Deus. A Lua é o corpo, as emoções e uma maneira
mais conectada com nossa coleção de impressões, sentimentos, imagens. Ambos formam a totalidade do homem, a
parte consciente e solar e a parte espontânea e lunar.

Planetas maléficos e benéficos


Estes termos não ofereciam nenhum conflito à mente antiga, pois nenhum astrólogo se via inclinado a relativizar o
bom e o mau. Gramaglia nos aponta que a problemática com tais termos para o astrólogo moderno e sua insistência
em relativizá-los nasce na insistência do culto ao livre-arbítrio e, impulsionados por uma perspectiva psicológica da
Astrologia, acreditam que nada seja essencialmente bom ou mau. Esta abordagem diluiu conceitos que resultavam
numa explicação muito precisa das influências astrológicas.

Tudo aquilo que existe na Terra possui um correspondente dentro do sistema astrológico - absolutamente TUDO. Se
existem guerras, haverá um planeta correspondente para simbolizá-las. Por impossibilidade de afirmações taxativas
sobre a delineação do mapa ou pela tendência new-age em renegar o que é cruel e feio na vida, a Astrologia Moderna
distorceu a real função desses planetas, de simbolizarem por analogia aquilo que é cruel e feio na realidade
manifestada no mundo, tornando suas interpretações algo distante daquilo que eles realmente representam, numa
tentativa de torná-los agradáveis aos olhos e ouvidos do consulente ou do interessado em Astrologia.

Muito além destas nomenclaturas terem um caráter drástico, destacam a beleza e a ordem (Kosmos, em grego) que
se apresentam até nas mais horríveis manifestações. Muito além do bom e do mau, existem leis universais que
governam o cosmos, que governam esta ordem. Este era um conhecimento com o qual o estudante hermético na
antiguidade comungava diariamente.

Quanto a isso, cabe recordar que os textos astrológicos antigos não eram destinados à difusão em massa. Formavam
um legado que um mestre deixava aos seus discípulos como provas de sua experiência. Os verdadeiros códigos de
compreensão deste conhecimento se articulavam secretamente entre mestre e discípulo, geralmente de forma oral,
e nos são desconhecidos até hoje. Aí reside a grande dificuldade na reconstrução deste saber nos dias de hoje: além
da tradução dos textos, é necessário reconstruir o contexto que os rodeava.

Voltando à terminologia em questão, todos os planetas são classificados entre seco ou úmido e frio ou quente. Nesta
classificação, o par "seco ou úmido" se relaciona, diretamente, à capacidade do planeta trabalhar a favor ou contra a
manutenção da vida. Tanto Marte quanto Saturno são planetas SECOS, e a fertilidade - portanto, a manutenção da
vida - necessita de umidade. Precisa, por exemplo, chover para fertilizar a terra. Da mesma forma, os planetas
chamados benéficos e também os signos férteis são úmidos, porque propiciam essa umidade essencial para a vida
acontecer.
Pelas qualidades de Marte - que é quente e seco - este foi o planeta que mais se aproxima das qualidades da guerra,
e por isso a simboliza, assim como simboliza acidentes, cortes, doenças agudas, contendas, trabalho exaustivo e mais
uma lista enorme de questões mundanas que se aproximam daquilo que é quente, seco, ígneo, cortante, etc. Já a
secura de Saturno se manifesta junto da qualidade fria. Saturno é um adstringente. Adstringência é contração,
constrição, redução, aperto, pressão que provoca secura, portanto, uma ação contrária à umidade - e também
contrária à fertilidade e, consequentemente, à manutenção da vida. Por sua distância da Terra, por sua velocidade,
por ter seus domicílios opostos aos domicílios dos luminares - doadores de vida por excelência - é aquele que ceifa a
luz e a vida: o Tempo, a decrepitude, a doença. Saturno representa os idosos, os doentes e as doenças crônicas, os
miseráveis, a escuridão, o peso da obrigação, a retidão, o limite como barreira e como fim, e mais uma infinidade de
questões mundanas de natureza fria e seca que, simbolicamente, possam a ele estarem associadas - já que existem
na realidade manifestada, também estarão simbolizados por analogia na Astrologia.

Os maléficos
Saturno

A estrela de Kronos (Saturno) faz os nativos nascidos sobre ela preocupados, caluniadores, que caem em descrédito,
solitários, enganadores, que escondem sua falsidade, austeros, de aparência lamentável, esquálidos, inoportunos,
miseráveis, aficionados pela navegação ou que trabalham próximos à água. Causa depressões, obstáculos, falta de
atividade, interferências, restrições, dores, acusações, lágrimas, orfandade. Faz trabalhadores rústicos, agricultores,
granjeiros, já que Saturno tem autoridade sobre a terra. Produz os coletores de impostos e ações violentas ou forçadas.
Anseia por grande reputação, faz guardiões ou administradores dos assuntos alheiros, bem como pais de filhos alheios.
é o Senhor do chumbo, das árvores e das pedras. Das partes do corpo, rege as pernas, joelhos, tendões e vesícula.
Indica qualquer ferida gerada pelo frio, hidropesia, dor nos tendões, gota, tumores, espasmos, possessão demoníaca,
luxúria excessiva, depravação. Não favorece o matrimônio, produz viuvez e esterilidade. Provoca mortes violentas na
água. É da seita diurna. (Vettius Valens)

Chamado de “o grande maléfico”. De natureza fria e seca. Masculino e diurno.

Marte

A estrela de Ares (Marte) significa violência, guerras, vandalismo, gritos, insolência, adultérios, usurpação de
pertences, quedas, fugas, afastamento dos pais, cativeiro, ruína das mulheres, aborto, mentiras, situações sem
esperança, roubos, pirataria, brigdas na amizade, fúria, combate, inimigos, litígios. Assassinatos violentos, cortes,
derramamento de sangue, ataques de febre, úlcera, pústulas, inflamações, torturas, perjúrio, vilania. Aqueles que
ganham sua subsistência por meio do fogo ou do ferro, que trabalham com as mãos ou com materiais duros. Líderes
militares, generais, guerreiros, quedas de alturas ou danos por animais de quatro patas, visão debilitada, apoplexia.
Das partes do corpo, é Senhor da cabeça, genitais, órgãos internos, é Senhor do sangue e de tudo o que é duro e severo.
É o Senhor da essência do ferro, da seita noturna, vermelho na cor e ácido no gosto. (Vettius Valens)

Conhecido como “pequeno maléfico”. De natureza quente e seca, masculino e noturno.

Os benéficos
Júpiter

A estrela de Zeus (Júpiter) significa o parto e o nascimento de filhos, alianças, conhecimento, amizade com grandes
homens, abundância, aquisições, grandes dons, justiça, magistratura, reputação, ordenação de sacerdotes, mediação
de disputas, fidelidade, heranças, comunidade, obras de benfeitorias, confirmação das coisas boas e cessação das más,
liberdade, posses e propriedades. Rege os músculos, os pés, o sêmen, o fígado e o lado direito. É Senhor da essência do
cobre. Da seita diurna, quase branco no que concerne à cor, doce quanto ao gosto. (Vettius Valens)
Masculino, diurno, quente e úmido.

Vênus

Afrodite (Vênus) é o desejo e o amor erótico, significa mulheres e nutrição. Faz ritos sacerdotais, o ofício de conduzir o
ginásio, o emprego de ornamentos dourados, o uso de coroas, entretenimentos, amizade, companheirismo, aquisições
e pertencimentos, compras, reconciliações benéficas, bodas, artes purificadoras, sons harmônicos, atividades
relacionadas à música, doçura da melodia, beleza da forma, pinturas, combinações e variedades de cores, pedras
preciosas, trabalho em marfim. Aqueles que se adornam com ouro, peruqueiros, viciados em jogo. Chefes de mercado,
pesos e medidas, negócios, festas, felicidade, prazer. Vantagens por parte de mulheres. Rege o colo, rosto, lábios, o
olfato, as juntas. É Senhora das frutas e das oferendas frutais. De seita noturna, branca, graciosa quanto ao gosto.
(Vettius Valens)

Fria, úmida, noturna e feminina.

Mercúrio

Este é considerado um planeta dual em suas características, portanto, beirando a neutralidade. Seu movimento em
relação ao Sol é extremamente variável, passa muito tempo submerso em seus raios, aparece do lado oposto dias
depois, ou seja, é visto de um ou de outro lado do luminar em questão de poucos dias. Esta simples imagem
astronômica já nos aludiria à ideia de um astro inquieto e hábil, astuto já que a rapidez quando associada ao
pensamento têm quase sempre a palavra como resposta, que pode ser tanto reveladora quanto enganosa: está
associado ao filósofo que desestabiliza as crenças alheias, ao comerciante que compete em um mercado e, pela sua
proximidade com o Sol, luminar ativo associado ao espírito divino, representa os tradutores das linguagens dos deuses,
o sacerdote, o astrólogo, etc. A caracterização de Mercúrio entre maléfico e benéfico depende de a qual planeta se
encontre associado, por regência ou aspecto.

A estrela de Hermes (Mercúrio) significa a educação dos jovens, o ensino, argumentos ou refutações, a palavra e o
pensamento, irmãos, interpretações, mensageiros, números, matemáticos, quem conta ou calcula, geometria,
comércio, juventude, questões lúdicas, audição, versatilidade. É o que conhece o intelecto e a sabedoria prática, Senhor
dos irmãos e dos filhos mais novos, o que faz toda a arte mercantil ou intercâmbio. Construtores de templos, fabricantes
de ladrilhos, escultores, médicos, escritores, oradores, filósofos, arquitetos, músicos, adivinhos, quem preside
sacrifícios, intérpretes de sonhos, metódicos, aqueles que vão à frente em ações militares, confusões, aqueles que
chegam a conhecer o céu e se convertem em investigadores do céu com prazer e alegria. Gananciosos. Já que este
astro é capaz de uma multiplicidade de recursos, proporciona atividades de acordo com suas variadas posições no
zodíaco e suas configurações variadamente entrelaçadas com os demais planetas. Em certos signos, proporciona
conhecimento direto (éidesin), em outros faz negociadores, em outros serviçais, intercâmbio comercial, instrução,
cuidado de templos, cargos públicos, declamação rítmica. É o responsável por toda a irregularidade de nossa fortuna
e muitas vezes nos afasta de nossas metas. Em signos ou graus maléficos, fará com que o nativo de voltas até o pior.
Das partes do corpo, rege as mãos, ombros, dedos, articulações, ouvidos, traqueia, língua. É senhor do cobre e da
moeda, do dar e receber. (Vettius Valens)

Mercúrio é considerado de natureza masculina quando oriental ao Sol – quando é visto ascender antes do Sol – e de
natureza feminina quanto ascendente depois do Sol. Outros autores consideram Mercúrio masculino quando está
associado a um planeta masculino e ou num signo masculino, e feminino quando associado a um planeta feminino ou
num signo feminino.
Outras considerações
Compreender a diferença de ação entre os benéficos e os maléficos reside principalmente no modo e até onde
prolongam sua influência. Benéficos atribuem moderação e fluidez àquilo que significam, nunca forçando nada ao
extremo; já os maléficos constituem forças especializadas em suas próprias qualidades. Júpiter e Vênus representam
o ponto justo entre o calor e o frio, entre a secura e a umidade, Marte e Saturno são os extremos de secura e calor,
frio e umidade, respectivamente. Essa ideia pode ser analogamente aplicada nos diferentes planos: físico, emocional
e mental-espiritual. Marte pode atuar muito literalmente por meio do fogo, produzindo guerras, acidentes; Saturno
opera por meio do frio, produzindo abandono, doenças, etc. No plano emocional, Marte é a ira, a cólera, os desejos
violentos, enquanto Saturno é a tristeza, a melancolia, a depressão.

Maléficos em boas condições de dignidade teoricamente agem de maneira menos extrema, sem provocar danos
maiores ao nativo – por exemplo, quando Marte é o significador do exercício de alguma autoridade militar, estratégia,
cirurgiões, trabalho que exige grande esforço; ou Saturno, quando bem no mapa, trazendo ao nativo a posse de terras,
frieza e resiliência para lidar com situações difíceis, o posto de ser o responsável por administrar negócios alheios, etc.
Da mesma maneira, benéficos mal situados mostram uma tendência ao excesso, própria dos maléficos – por exemplo
uma Vênus exilada em Áries, que é o inverso do que observamos em relação ao maléfico dignificado.

Um planeta que se encontra no signo oposto àquele que rege encontramos aquilo capaz de ameaçar ou perturbar sua
tranquilidade ou estabilidade. Vênus, cujos domicílios são em Touro e Libra, encontra em Escorpião e Áries tudo o que
possa ser obstáculo para a melhor expressão de sua natureza, se encontra com as forças que se opõem a sua natureza,
já que Vênus é o a união e o prazer e Marte a dissolução e a dor. Júpiter, cujos domicílios são em Peixes e Sagitário,
encontra seu exílio em Virgem e Gêmeos, domicílios de Mercúrio, locais onde o pensamento analítico e concreto
coloca as questões filosóficas jupiterianas, provocando desestabilização das crenças por meio do apelo à razão. Os
domicílios de Saturno, Capricórnio, se opõem aos domicílios dos luminares: enquanto a Lua agrupa pessoas, reúne
coletividades, dá público e popularidade, ancestraliza as questões por meio da representação de lendas e mitos,
Saturno esvazia esses conteúdos, aliena, abandona, exclui. Em relação ao Sol, órgão representante da alma do Cosmos,
é ele quem designa aos membros desta coletividade lunar funções específicas, dá postos de autoridade, distingue cada
um com reconhecimentos individuais, Saturno os exclui da comunidade, discrimina, tira a autoridade, reduz a
reputação, traz o anonimato e o exílio.

As regências planetárias

A Astrologia foi sistematizada tendo como base o hemisfério


Norte. Lá, o Sol atinge seu ápice nos meses de julho e agosto, ou
seja, na estação do verão. São meses de mais luminosidade.
Como o calor é mais intenso durante o período do signo de Leão
– fixo, quente e seco, do período do verão -, atribui-se ao Sol a
regência do signo de Leão e à Lua, o outro luminar, o signo
anterior, Câncer, conforme a imagem ao lado.

Se virarmos um pouco o ângulo da imagem, perceberemos que


as regências dos signos foram atribuídas seguindo a ordem
caldaica dos planetas, para os signos seguintes aos regidos pelos
luminares. A Gêmeos e Virgem, signos antes de Câncer e depois
de Leão, foi atribuída a regência de Mercúrio, o primeiro planeta
após a Lua na ordem caldaica, e o mais rápido dos planetas com
exceção dos luminares; a Touro e Libra, signos antes de Gêmeos
e após Virgem, foi atribuída a regência de Vênus, planeta após Mercúrio na ordem caldaica, e assim por diante, até
chegar à regência de Aquário e Capricórnio por Saturno. É possível visualizar essa relação na imagem abaixo ou no gif
encontrado neste link: https://media.giphy.com/media/l3V0yAoUSq9BbHdEA/giphy.gif

Não se sabe exatamente onde nasce essas atribuições, mas há um famoso mapa chamado de Thema Mundi, um mapa
hipotético que mostra a suposta localização dos sete planetas clássicos no momento da criação do mundo e nele está
expressa toda a lógica do sistema de regências. Há referências neste mapa em todo mundo antigo, de textos
helenísticos ao período medieval e renascentista.

Firmicus Maternus, astrólogo Romano, descreve o mapa em seu Matheseos Livro VIII: “Nesta doutirna, Petosiris e
Nechepso seguiram Asclépio e Hanúbis. A eles, o mui poderoso Mercúrio confiou o segredo. Eles levantaram o mapa
do nascimento do universo como se segue: O Sol no grau 15° grau de Leão, a Lua no 15° grau de Caranguejo, Saturno
no 15° grau de Capricórnio, Júpiter no 15° grau de Sagitário, Marte no 15° grau de Escorpião, Vênus no 15° grau de
Balança, Mercúrio no 15° grau de Virgem e o ascendente no 15° grau de Caranguejo”.

Dá-se o mapa representado ao lado. Observe que, por ser um


mapa com o Sol abaixo do ascendente, trata-se um mapa
noturno. Alegoriamente conta que, enquanto o Sol caminhava de
Leão para Virgem, Mercúrio fugiu para o mais longe possível,
chegando até o signo de Gêmeos – o signo mais distante do Sol e
ainda vazio. Vênus, com a apróximação do Sol em Libra, fugiu
para o mais longe possível, indo parar em Touro, e assim foram
atribuídas as demais regências. Os domicílios dos planetas são
divididos entre diurno e noturno, de acordo com a natureza do
signo – masculino é diurno e feminino é noturno. Por exemplo:
Marte tem seu domicílio diurno em Áries (signo masculino) e
noturno em Escorpião (signo feminino), Vênus tem seu domicílio
diurno em Libra (signo masculino) e noturno em Touro (signo
feminino) e assim por diante.

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