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Bem aventurados são aqueles que conseguem, no pequeno espaço de tempo

que reside entre o abrir e o tornar a fechar os olhos (espaço esse que
convencionalmente chamamos de "vida"), mesclar de maneira inextricável sua
breve existência com a grandiosidade da experiência coletiva humana. Seja
pelos importantes acontecimentos que marcaram sua história ou simplesmente
pelo seu caráter irrepreensível que reflete dos valores humanos os melhores,
podemos afirmar sem temor de incorrer em erro que Braz Alves de Siqueira
Filho, o Braizinho, é um desses raros bem aventurados.

O hoje avô Braz carrega orgulhosamente a alcunha de seu progenitor.


Progenitor, aliás, que tinha tanta vocação para o exercício de seu ofício de
eletricista quanto para criar herdeiros: levando em conta Braz (falecido em
2001) somam-se ao todo 14 irmãos, sendo 8 homens e 6 mulheres . Família
numerosa e nômade que veio a residir em quase todos os cantos de São José
dos Campos. Primeiramente na casa alugada do comerciante Amin
Assad,localizada próximo onde é hoje entrada do CTA na Vila Santa
Terezinha, passando posteriormente a morar na Vila Ema e Jardim Maringá.
Braz parece ter eternizado em suas retinas a imagem da Sra Iolanda
Domingues de Oliveira sua mãe (falecida em 2005), empacotando caixas e
mais caixas de pertences em preparo para mais uma mudança. Dona Iolanda,
que no esmero do cuidado com os filhos alçou seu nome ao patamar de Santa
para toda a família.

Na infância, Braz frequentou a escola Ângelo de Siqueira Afonso quando a


mesma ainda se localizava próxima ao prédio da caixa d'água, onde hoje é o
prédio da faculdade de Direito do Vale do Paraíba, em seguida, teve uma breve
passagem pelo Olímpio Catão, vindo posteriormente a estudar no colégio
Olavo Bilac e se formou em eletrônica na ETEP. Neste último engajou-se em
atividades extracurriculares que ajudaram o então franzino menino a descobrir
alguns de seus talentos. No âmbito artístico, fez parte à época, como
corneteiro, da banda marcial do colégio Olavo Bilac, que conquistou o
bicampeonato estadual em 1962. Entre ensaios e estudo, para fazer algum
dinheiro, atuava como gandula no Tênis Clube. Tamanha foi a surpresa do
então técnico Valdir Bocarda quando em um treino rotineiro, o menino pouco
atlético encestou uma bola de fora da quadra. A bela jogada foi seu passaporte
para ingressar no time de basquete mirim do Clube. Porém, tão repentinamente
quanto entrou para a equipe, se retirou, devido à baixa estatura.

Questionamentos e hipóteses a parte, fato é que após o ocorrido, Braz passou


a tomar gosto pelas práticas esportivas. Ajudou a construir a sede do Clube
Recreativo Orion no Monte Castelo onde passou a conviver com a colônia
nipônica, o que lhe rendeu um convite para jogar beisebol no recém fundado
Clube BBC. Se destacava dentre os demais, não necessariamente pelo seu
talento para a modalidade, mas por se tratar do único ocidental em meio aos
numerosos descendentes japoneses. Da experiência com a colônia, retém
amizades e apreço pela cultura, porém não tanto pela culinária, repleta de
iguarias cruas. "Quando o assunto é comida, sou dos brasileiros o mais verde e
amarelo: nada como o bom e velho feijão com arroz", confessa Braz. Atuou no
futebol, como esforçado e disciplinado ponta direita no Oratório e no Vila Ema,
juntamente com muitos nomes famosos do futebol Joseense. Humilde o
bastante para reconhecer sua pouca habilidade futebolística, Braz aponta
Zezinho Friggi como um dos grandes craques de São José dos Campos seu
ídolo e ídolo da garotada da época.

Seu ímpeto no esporte já prenunciava a vocação para a vida militar. Ainda


jovem, ingressou nas Forças Armadas, na unidade de Caçapava,(6°RI) para
cumprir o serviço obrigatório, ocasião em que teve a oportunidade de se alistar
como voluntário das Nações Unidas para integrar a Força de Paz da ONU no
Oriente Médio, formada por soldados brasileiros, canadenses, dinamarqueses,
noruegueses, iugoslavos, suecos e indianos (Os Boinas Azuis). A época, ou
seja, no início da década de 1960, a conjuntura sócio política da região era
extremamente turbulenta, marcada pelas crescentes tensões entre os países
árabes e o recém criado Estado de Israel. "Partimos do porto de Santos em
uma manhã ensolarada de janeiro de 64, rumo a Porto Said, no Egito, a bordo
do navio transatlântico Soares Dutra", relembra Braz.

De Porto Said, no Egito, a tropa seguiu de trem para a conflituosa região da


Faixa de Gaza, repetindo grande parte do caminho que o liberto povo hebreu
fizera há alguns milhares de anos. Na fronteira entre Israel e Egito, Braz
permaneceu por 13 meses. Apesar da situação desfavorável, seu interesse
desportivo se manteve na linha de frente: tornou-se campeão internacional de
futebol pela seleção da ONU, jogando contra a seleção da RAU (República
Árabe Unida) em estádio na Faixa de Gaza, no dia 24 de Outubro de 1974 (Dia
das Nações Unidas) onde venceram por 2 tentos a 1.

O papel das Forças de Paz da ONU no conflito foi capital, tanto no âmbito
humanístico, evitando que uma guerra mais longa e sangrenta ocorresse entre
os Países Árabes e Israel iniciando uma possível 3ª Guerra Mundial. A
experiência marcou para sempre a vida de Braz. Aquele que voltava a São
José dos Campos sendo condecorado pelas autoridades devido a seus feitos
heróicos - vindo a receber em 1968, junto a seus demais companheiros de
tropa, o honroso Prêmio Nobel da Paz (Menção Honrosa e a Medalha da Paz)
não era o mesmo Braz que havia deixado a cidade alguns anos atrás. Assim
também não o era o Brasil que havia deixado em 64, agora sob o julgo da mão
de ferro da Ditadura Militar, onde o espírito de liberdade fora ceifados e os
idealistas eram perseguidos presos e torturados pela repressão.
O mecanicismo e a dureza dos anos de chumbo contrastavam com a leveza do
coração extremamente humano de Braz, agora ainda mais motivado a atuar
por causas humanitárias devido à experiência no Oriente Médio. Não poderia
permanecer nas Forças Armadas por uma questão de princípios. Decidiu então
largar as armas e atuar em outro campo de batalha, a política.

Paralelamente a sua carreira profissional na Johnson, empresa na qual


permaneceu por 19 anos, crescia seu interesse pela vida pública. Em 1985
deixou a companhia, tornando-se empreendedor e filiando-se ao PCB, no
período sob a liderança do Deputado Federal Roberto Freire. Se distanciando
do paradigma vidente no cenário político partidário brasileiro, Braz permanece
até os dias atuais no mesmo partido, que teve aliás sua sigla modificada para
PPS em seu 10º Congresso Nacional em 1989. Braz orgulhosamente ocupa
hoje a presidência de honra do PPS. Tendo na administração de Emanuel
Fernandes exercido a função de Secretário Municipal de Desenvolvimento
Social, lutando incansavelmente para a diminuição das injustiças sociais que
ainda vitimam uma parcela do povo Joseense.

Com suas experiências, escolhas e ações, pinta-se a imagem de Braz. Querido


pela família e por todos que um dia tiveram a feliz oportunidade de compartilhar
algum momento de sua vida com essa icônica figura de São José dos Campos.

"Famoso por ter levado o nome da cidade para lugares tão inóspitos quanto
frentes de batalha no Oriente Médio a serviço da paz. Conhecido por sua
atuação no âmbito político no município e pelo sua auto determinação em lutar
por uma sociedade justa e fraterna, sem sofrimento e sem miséria.

Ao vermos sua história, talvez sejamos tentados a pensar que Braz é hoje essa
figura querida devido aos seus grandes feitos públicos, Porém, se pensarmos
com clareza, veremos que seu real mérito é seu caráter. Em um mundo onde
os rótulos simplificadores reinam, muitos tentariam impor aos esforços de Braz
as alcunhas mais diversas. Um Humanista? Um Idealista? Um Socialista? Os
adjetivos se amontoam.

Fato é que, em um contexto no qual a desumanização e a exploração são


paradigmáticas, aquele que continua a lutar por uma sociedade melhor é, por
excelência, um ser humano na mais pura acepção da palavra.

Os reais bem aventurados são aqueles que, apesar das gritantes injustiças que
assolam a humanidade no presente e tentam colonizar também seu futuro,
ousam em sonhar com um mundo mais livre, justo e igualitário. E por nomear
essas raras pessoas, ainda não foram inventados adjetivos. Por ora, que
permaneça sendo Braz, idealista que sonha com a Utopia do bem comum e de
um mundo melhor a todos. Para ele nada é Utopia.

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