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ANÁLISE COMPARATIVA DE CUSTO-BENEFÍCIO DE SISTEMAS DE

PISOS COM DIFERENTES DESEMPENHOS ACÚSTICOS

Meller, Gabriela1; Paixão, Dinara Xavier2; Lima, Rogério Cattelan Antocheves3; Lübeck,
André4; Grigoletti, Giane de Campos5.
(1) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, gabrielameller0@gmail.com.
(2) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, dinaraxp@yahoo.com.br.
(3) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, rogerio@ufsm.br.
(4) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, andrelubeck@gmail.com.
(5) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Arquitetura e Urbanismo, ggrigoletti@gmail.com.

RESUMO
A arquitetura das edificações brasileiras vem apresentando constantes modificações nas técnicas
construtivas e materiais empregados que refletem diretamente no conforto das edificações. Tais
mudanças podem ser benéficas ou prejudiciais ao empreendimento. O isolamento do ruído de impacto
em pisos de edificações é de extrema importância para se obter conforto, principalmente em
residências. Edificações residenciais são produtos a serem comercializados, em que os construtores
procuram reduzir os custos e otimizar sua aplicação de recursos financeiros, concentrando os
investimentos em atributos que sejam valorizados pelo público-alvo. O ruído é um dos fatores que
podem interferir na venda do imóvel e, consequentemente, na satisfação ou insatisfação do usuário.
Por essas razões, foi analisado o custo de construção por metro quadrado e desempenho acústico de
diferentes sistemas de pisos, incentivando, assim, o uso de elementos com desempenho acústico
adequado. Neste estudo, foram utilizados dados sobre isolamento acústico de ruído de impacto,
determinados em ensaios em campo, obtidos por meio de artigos e dissertações. A orçamentação foi
realizada com um software comercial. Ficou ressaltada a importância da execução de sistemas
construtivos de piso flutuante para atendimento a bons desempenhos acústicos, segundo à norma de
desempenho (ABNT NBR 15575). Observou-se que em diversos casos o custo adicional com a
aplicação do piso flutuante se torna irrisório quando diluído em uma edificação com diversas
unidades, tendo em vista o acréscimo no valor final de venda de um apartamento com desempenho
diferenciado (mínimo/superior).
Palavras-chave: acústica, orçamento, isolamento sonoro, ruído de impacto, desempenho de
edificações.

ABSTRACT
The architecture of Brazilian buildings has been presenting constant modifications in the construction
techniques and materials used, which reflect directly in the comfort of the buildings. Such changes
may be beneficial or detrimental to the enterprise. The insulation of impact noise in building floors is
extremely important to obtain comfort, especially in homes. Residential buildings are products to be
marketed, where builders seek to reduce costs and optimize their application of financial resources,
concentrating investments on attributes that are valued by the target audience. The noise is one of the
factors that can interfere in the sale of the property and, consequently, in the satisfaction or
dissatisfaction of the user. For these reasons, it was analyzed the cost per square meter and acoustic
performance of different floor systems, thus encouraging the use of elements with adequate sound
performance. In this study, were used data on acoustic noise impact insulation, determined in field
tests, obtained through articles and dissertations. The budgeting was done with commercial software.
It was emphasized the importance of constructing floating floor systems to meet good acoustic

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performances, according to the performance standard (ABNT NBR 15575). It was observed that in
several cases the additional cost with the application of the floating floor becomes derisory when
diluted in a building with several units, in view of the increase in the final sale value of an apartment
with differentiated performance (minimum / superior).

Keywords: acoustics, budget, sound insulation, impact noise, building performance.

1. INTRODUÇÃO

Há algum tempo, a preocupação acústica não é apenas uma questão de condicionamento


acústico do ambiente, mas também de controle de ruído e preservação da qualidade ambiental.
Com isso, constata-se que a importância da acústica urbana aumenta em virtude do
crescimento do número de fontes produtoras de ruído, o que acarreta consequências cada vez
mais prejudiciais ao ser humano, visto que a poluição sonora é um problema crescente da
sociedade moderna e está diretamente ligada com o desenvolvimento dos centros urbanos [1].

Oliveira [2] estima que, nas próximas décadas, o aumento de fonte geradora de ruído das
cidades será proporcional à sua ampliação, pois o aumento do tráfego, a extensão das zonas
residenciais junto aos aeroportos e a alta demanda da construção civil são fatores agravantes
dos ruídos nos centros urbanos.

Em virtude do alto nível de pressão sonora existente, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
afirma que este é um dos problemas ambientais que mais atingem os sentidos humanos,
apresentando menor importância apenas que para a poluição atmosférica [3]. Na construção
civil há uma enormidade de conceitos para o desenvolvimento de uma edificação, em que a
maioria das obras habitacionais é composta por diversos elementos construtivos, como:
pilares, lajes, sistemas de pisos, elementos de vedação verticais (divisórias externas e
internas) e diversos tipos de cobertura. É necessário analisar, ainda, o material a ser utilizado
nos fechamentos, pois, cada vez mais, há novos materiais sendo empregados e muitos deles
são leves, em virtude de que se busca reduzir o carregamento da estrutura, porém,
acusticamente podem apresentar baixo isolamento. Diante disso, é preciso analisar o custo e
os benefícios, buscando-se, além do menor custo e maior agilidade no tempo de construção,
alcançar a qualidade e um nível adequado de conforto acústico para o usuário

Fernandez [4] afirma que os efeitos benéficos de satisfação do cliente não se restringem
apenas ao curto prazo, como na redução de custos durante a construção e ao sucesso de
vendas, mas também na satisfação pós-ocupacional dos usuários, em longo prazo. Clientes
satisfeitos divulgam sobre o bem-estar vivido e realizam, indiretamente, uma efetiva
propaganda para a construtora, acarretando em um melhor conceito frente à concorrência,
trazendo êxitos nas futuras comercializações de empreendimentos.

Silva [5] enfatiza que correções posteriores realizadas na obra, em virtude do mau
planejamento, construção ou instalação, poderão ocasionar uma má isolação sonora se
comparada ao desempenho que teria se caso houvesse um planejamento prévio e, ainda,
envolverão prejuízos financeiros, acarretando, inclusive, o descrédito dos responsáveis pelo
planejamento original do projeto.

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Assim, contribui-se em demonstrar, a partir da orçamentação em um software comercial e
compilação de dados obtidos em artigos e dissertações, que a aplicação de um elemento de
melhor desempenho acústico, nem sempre se caracterizará como aumento de custo, pois se
comparado ao produto final, denota-se que será um investimento que atenderá às necessidades
do usuário, não demandando de correções posteriores que acarretariam em um custo
adicional.

2. DESENVOLVIMENTO

Para a realização da análise comparativa de custo de sistemas de pisos com diferentes


desempenhos acústicos, foram compilados valores de transmissão sonora de diferentes
materiais componentes dos sistemas de pisos. Tais valores foram determinados em ensaios de
campo, cujos valores foram verificados se estavam em conformidade com as exigências da
NBR 15.575 [6] quanto ao ruído de impacto.

Posteriormente, buscou-se orçar os valores e situações mais próximos possíveis dos elementos
pesquisados na bibliografia, os quais foram obtidos com o uso do software Orçafascio. A
delimitação da pesquisa de campo do valor dos insumos foi para o Rio Grande do Sul, cujas
lojas fornecedoras não foram identificadas a fim de preservar sua privacidade. Os valores
unitários foram orçados durante os meses de março a junho de 2017.

O banco de dados principal utilizado na pesquisa foi o do SINAPI-RS (Sistema Nacional de


Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) em virtude de ser utilizado para fins de
financiamento imobiliário da Caixa Econômica Federal, cujos valores unitários são
atualizados mensalmente, porém, quando não se tinha a composição requerida para realizar o
orçamento, buscou-se a composição em outros bancos de dados, como ORSE (Sistema de
Orçamento de Obras de Sergipe), CPOS (Companhia Paulista de Obras e Serviços), FDE
(Fundação para o Desenvolvimento da Educação), SBC (Stablin: Sistemas e Consultorias de
Custos) e SETOP (Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas). Assim, quando
utilizado um banco de dados com valores unitários de outros estados, todos os insumos foram
trocados pelos valores dos insumos do SINAPI do estado do Rio Grande do Sul, uma vez que
era necessário ter um orçamento pré-definido para ter um quantitativo médio dos insumos.

Após estas etapas, os custos-benefícios dos sistemas de pisos foram analisados com o
software Microsoft Excel.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Esta seção apresenta a compilação do Nível Sonoro de Impacto Padronizado Ponderado


(L'nT,w) para diversas composições construtivas dos elementos de vedações horizontais de
pavimentos-tipo e sua respectiva orçamentação, cujo custo-benefício dos sistemas compilados
foram realizados apenas naquelas situações em que se tinha a mesma condição de contorno.
Os L’nT,w foram coletados em pesquisas realizadas nos trabalhos de Pedroso [7], Brondani [8]
e Neubauer [9].

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3.1 Compilação dos valores de L’nT,w e seu nível de desempenho

Pedroso [7] analisou a diferença do isolamento quanto ao ruído de impacto entre os pisos,
empregando uma laje de 12 cm de espessura, sobre a qual era colocada uma amostra de 1m x
1m, com espessura de 4 cm de argamassa e revestimentos de porcelanato ou laminado
melamínico de madeira. Os ensaios foram realizados em uma estrutura de alvenaria de blocos
cerâmicos construída na Universidade Federal de Santa Maria, especialmente para esta
tipologia de ensaio, cuja câmara de recepção tem as dimensões de 4,36 m x 3,31 m e 3,6 m de
pé direito e laje maciça com 12 cm de espessura. O fato da estrutura não ser padronizada pelas
normas ISO fez com que os ensaios fossem considerados como resultados de campo. Assim,
quanto ao atendimento de sistemas de pisos que separam unidades habitacionais autônomas,
analisado pela NBR 15575/2013 [6], todas as composições analisadas por Pedroso [7], cujos
valores estão exibidos na Tabela 1, apresentaram níveis de desempenho mínimo e não
atenderam aos requisitos mínimos quanto aos sistemas de pisos de áreas de uso coletivo,
quando colocadas sobre recintos residenciais.

Tabela 1: Sistemas de pisos estudados por Pedroso [7].

Sistema de piso Sistema de piso de


separando unidades áreas de uso coletivo
L'nT,w
Pisos habitacionais autônomas sobre unidades
(dB)
posicionadas em habitacionais
pavimentos distintos autônomas
Laje maciça 12 cm 78 Mínimo Não atende
Laje maciça 12 cm +
73 Mínimo Não atende
argamassa 4 cm + porcelanato
Laje maciça 12 cm +
75 Mínimo Não atende
argamassa 4 cm + laminado

Brondani [8] analisou e comparou as composições de diversos tipos de pisos flutuantes, no


qual utilizou lã de vidro e poliestireno expandido como materiais resilientes e cerâmica e
tacos de madeira como revestimentos de piso em uma laje de 12 cm, cujas amostras tinham
1m x 1m de dimensão e foram ensaiadas no mesmo local utilizado por Pedroso [7]. Os
resultados obtidos pelo autor e seus respectivos níveis de desempenho estão compilados na
Tabela 2.

Tabela 2: Sistemas de pisos estudados por Brondani [8] (continua)

Sistema de
Sistema de piso
piso de áreas
separando unidades
L'nT,w de uso coletivo
Pisos habitacionais autônomas
(dB) sobre unidades
posicionadas em
habitacionais
pavimentos distintos
autônomas
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm +
73 Mínimo Não atende
piso cerâmico

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Tabela 2: Sistemas de pisos estudados por Brondani [8] (continuação).

Sistema de
Sistema de piso
piso de áreas
separando unidades
L'nT,w de uso coletivo
Pisos habitacionais autônomas
(dB) sobre unidades
posicionadas em
habitacionais
pavimentos distintos
autônomas
Laje maciça 12 cm + poliestireno
expandido 25 mm + argamassa 4 cm + 55 Superior Mínimo
piso cerâmico
Laje maciça 12 cm + lã de vidro 15 mm
49 Superior Intermediário
+ argamassa 4 cm + piso cerâmico
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm +
69 Mínimo Não atende
tacos de madeira

Neubauer [9] que também realizou seus ensaios no mesmo local utilizado por Pedroso [7] e
Brondani [8], estudou a composição de piso flutuante de uma laje maciça de 12 cm de
espessura, juntamente com amostra de 1 m x 1 m de argamassa mais lã de vidro (e = 15 mm)
e revestimento de piso do tipo tábua corrida de ipê com argamassa de assentamento. A mesma
autora também analisou composição de laje maciça de 12 cm de espessura com argamassa de
assentamento de 4 cm e revestimento de tacos de madeira e encontrou o resultado semelhante
ao de Brondani [8]. Os resultados de Neubauer [9] e a classificação quanto ao atendimento de
sistemas de pisos determinados pela NBR 15575/2013 [6] estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3: Sistemas de pisos estudados por Neubauer [9].

Sistema de
Sistema de piso
piso de áreas
separando unidades
L'nT,w de uso coletivo
Pisos habitacionais autônomas
(dB) sobre unidades
posicionadas em
habitacionais
pavimentos distintos
autônomas
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm +
69 Mínimo Não atende
tacos de madeira
Laje maciça 12 cm + lã de vidro 15 mm
+ tábua corrida ipê c/ argamassa de 50 Superior Intermediário
assentamento

3.2 Análise do custo-benefício dos sistemas de pisos

Após o orçamento dos sistemas de pisos compilados, foi construído o Quadro 1, o qual foi
organizado em ordem crescente de custo. Salienta-se que se deve considerar que os resultados
dos desempenhos servem apenas para os locais e dimensões estudados, uma vez que a
envoltória pode modificar o desempenho acústico do ambiente, no qual as dimensões e
características da laje podem interferir na flexão da mesma e no comportamento acústico do

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ambiente. Portanto, é importante haver o conhecimento de que os níveis de desempenho
sonoro atingidos, se aplicados em outro ambiente com condições diferentes das analisadas
pelos autores, seu resultado será alterado, podendo o mesmo se enquadrar em outra categoria
de nível de desempenho. Diante disso, as comparações de custo-benefício foram realizadas
apenas para as mesmas condições de contorno.

Quadro 1: Custo e desempenho dos sistemas de pisos.

L'nT,w Custo do
Pisos Fonte
(dB) sistema
Laje maciça 12 cm Pedroso [7] 78 R$ 224,14
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm + cerâmico Brondani [8] 73 R$ 278,97
Laje maciça 12 cm + poliestireno expandido 25 mm +
Brondani [8] 55 R$ 297,84
argamassa 4 cm + piso cerâmico
Laje maciça 12 cm + lã de vidro 15 mm + argamassa 4
Brondani [8] 49 R$ 319,91
cm + piso cerâmico
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm + porcelanato Pedroso [7] 73 R$ 320,63
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm + laminado Pedroso [7] 75 R$ 327,43
Laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm + tacos de Brondani [8];
69 R$ 341,65
madeira Neubauer [9]
Laje maciça 12 cm + lã de vidro 15 mm + tábua corrida
Neubauer [9] 50 R$ 507,51
ipê c/ argamassa de assentamento

Assim, verificou-se a influência que o tipo de piso escolhido exerce sobre o custo-benefício.
Para o mesmo sistema de laje maciça (e = 12 cm) com contrapiso argamassado (e = 4 cm), em
que se variou o revestimento de piso entre laminado (L’nT,w = 75 dB) e tacos de madeira
(L’nT,w = 69 dB), houve um acréscimo de R$ 14,22 em relação ao piso laminado, para se
aumentar a atenuação do ruído de impacto em 6 dB [7, 8, 9]. É importante destacar que o tipo
e a forma da madeira podem encarecer o sistema, como foi o caso do piso de tábua corrida de
madeira do tipo ipê se comparado aos tacos de madeira. Ressalta-se, também, que estes
sistemas puderam ser comparados entre si em virtude de terem sido realizados em um mesmo
ambiente no qual foram alteradas apenas as amostras, as quais tinham a mesma dimensão
entre elas (1 m x 1 m).

O sistema mais oneroso foi a composição de laje maciça (e = 12 cm), com lã de vidro (e = 15
mm) com tábua corrida de ipê, que correspondeu a R$ 507,51 por metro quadrado, cujo
sistema atendeu o nível de desempenho superior à parte correspondente da norma de sistema
de piso separando unidade habitacionais autônomas e nível intermediário para sistemas de
pisos de áreas de uso coletivo localizadas sobre unidades residenciais [9]. Porém, outro
sistema que se encontrou igualmente classificado nestes níveis de desempenho foi a laje
maciça (e = 12 cm) com lã de vidro (e = 15 mm), contrapiso argamassado (e = 4 cm) e
revestimento de piso cerâmico, custando R$ 319,91 por metro quadrado, apresentando R$
187,60 de diferença de custo de execução para o mesmo nível de desempenho [8].

Observa-se no Quadro 1 que o sistema mais econômico de piso flutuante com revestimento de
piso foi o da laje maciça (e = 12 cm) com poliestireno expandido (e = 25 mm), com
contrapiso argamassado (e = 4 cm) e revestimento de piso cerâmico, cuja composição custou
R$ 297,84 por metro quadrado e apresentou o nível de desempenho superior para o

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atendimento à norma de sistema de piso separando unidade habitacionais autônomas e
mínimo quanto ao atendimento à norma de sistema de piso de áreas de uso coletivo
localizadas sobre unidades residenciais [8]. Analisa-se que esta composição é uma boa opção
de custo-benefício em função do nível de desempenho classificado para o ambiente ensaiado e
nível sonoro de impacto padronizado ponderado atingido, pois se comparada à mesma
composição sem o piso flutuante, ela ficou classificada em nível mínimo de desempenho para
sistemas de piso que separam unidades habitacionais autônomas e não atendeu no caso de
áreas de uso coletivo que são localizados sobre recintos residenciais.

Logo, comparando-se o custo entre os sistemas com ou sem piso flutuante, os sistemas com
piso flutuante apresentam maior valor de execução em virtude de necessitarem de contrapiso
com proteção mecânica, material resiliente e equipe treinada para sua execução, mas
apresentam melhor desempenho, proporcionando possibilidade de mudança nessa
classificação. Um exemplo disso é o caso estudado por Brondani [8], no qual foi analisada a
influência da aplicação de 15 mm de lã de vidro sobre a laje maciça 12 cm + argamassa 4 cm
+ piso cerâmico que apresentava L’nT,w = 73 dB e, após receber lã de vidro e contrapiso
específico para piso flutuante (com tela metálica), obteve uma melhora de 24 dB, com o
acréscimo de apenas R$ 40,94 por metro quadrado.

3.3 Análise do custo de outros sistemas de pisos

No XXV Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica – SOBRAC, Nunes, Zini e Pagnussat


[10] publicaram um trabalho analisando, in situ, sistemas de pisos com diferentes tipos de
lajes e revestimentos. Tendo em vista que os autores trabalharam com materiais e tecnologias
construtivas mais recentes, quando comparadas aos estudos que serviram de subsídios para as
planilhas empregadas na elaboração do presente trabalho, optou-se por destacar os dados
mostrados na Tabela 4. Foram escolhidas composições que atendem a NBR 15575/2013 [6].

Tabela 4: Sistemas de pisos estudados por Nunes, Zini e Pagnussat [10]

Sistema de piso Sistema de piso


separando unidades de áreas de uso
L'nT,w habitacionais coletivo sobre
Pisos
(dB) autônomas unidades
posicionadas em habitacionais
pavimentos distintos autônomas

Laje maciça 10 cm + argamassa 5 cm +


laminado de madeira 7 mm + manta 56 Intermediário Não atende
polietileno expandido 2 mm
Laje maciça 10 cm + argamassa 5 cm +
laminado de madeira 7 mm + manta de 54 Superior Mínimo
fibras de polipropileno 5 mm
Laje nervurada com EPS (h = 27 cm) +
argamassa com brita leve (1:1:4) 5 cm +
argamassa comum 2 cm + laminado de 50 Superior Intermediário
madeira 7 mm +manta polietileno
expandido 2 mm

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Observa-se que, mantendo-se os demais atributos, a alteração das características da manta
significou uma diferença de 2 dB, o que diferencia o atendimento ou à norma, ou não, quando
o sistema de piso separa áreas de uso coletivo das unidades habitacionais autônomas. O outro
sistema escolhido para análise foi a laje nervurada, que atingiu o nível superior e o
intermediário, como identificado na Tabela 4.

Para esses três sistemas foram calculados os custos de construção, utilizando a mesma
metodologia empregada no item 2, com a finalidade de obter dados para construções com
metodologias construtivas e materiais mais empregados atualmente. O Quadro 2 apresenta os
resultados obtidos.

Quadro 2: Custo dos sistemas de pisos ensaiados por Nunes, Zini e Pagnussat [10]

L'nT,w
Pisos Custo do sistema
(dB)
Laje Nervurada com EPS (h = 27 cm) + argamassa com brita
leve (1:1:4) 5 cm + argamassa comum 2 cm + laminado de 50 R$ 303,64
madeira 7 mm + manta polietileno expandido 2 mm
Laje maciça 10 cm + argamassa 5 cm + laminado de madeira
56 R$ 322,71
7 mm + manta polietileno expandido 2 mm
Laje maciça 10 cm + argamassa 5 cm + laminado de madeira
54 R$ 329,59
7 mm + manta de fibras de polipropileno 5 mm

Com base no Quadro 2, verifica-se que o sistema de laje nervurada com preenchimento de
EPS, manta de polietileno expandido (e = 2mm), com contrapiso argamassado contendo brita
leve (e = 5 cm), argamassa comum (e = 2 cm) e revestimento de piso laminado de madeira (e
= 7 mm), apresentou o custo de R$303,64 por metro quadrado e atendeu ao nível de
desempenho superior correspondente à parte da norma de sistema de piso que separam
unidades habitacionais autônomas e nível intermediário quanto à sistemas de pisos de áreas de
uso coletivo sobre unidades residenciais. Ressalta-se que os autores Nunes, Zini e Pagnussat
[10] apontam que a transmissão por flancos é um dos principais fatores limitantes quanto ao
isolamento do ruído aéreo em lajes nervuradas.

Brancher et al. [11] mencionam sobre a eficácia da incorporação de agregados de EVA no


concreto, pois o custo é reduzido, aumentando o índice de vazios do sistema, diminuindo a
massa específica do sistema de piso, reduzindo o carregamento estrutural e aumentando o
isolamento sonoro entre os pavimentos.

Denota-se que com as comparações de custo-benefício efetuadas, deve-se realizar simulações


computacionais de desempenho acústico das edificações, em virtude de que o desempenho
acústico de um sistema pode mudar de acordo com o coeficiente de absorção dos materiais,
tempo de reverberação, ruído de fundo, resiliência dos materiais, sua densidade, dimensões,
entre outros. Assim, quanto mais complexos forem os sistemas, mais difícil é a aplicação de
modelo teórico e análise dos meios de propagação, sendo necessário o conhecimento das
diferenças entre os materiais utilizados e o tipo de laje empregado [12].

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Ratifica-se, com esta análise, a importância da execução de sistemas construtivos de piso
flutuante para atendimento a bons desempenhos acústicos quanto à norma de desempenho.
Nunes e Patrício [13] corroboram, mencionando que a eficiência dos pisos flutuantes pode ser
amparada nos sistemas massa-mola-massa, em que a massa da base do sistema está
relacionada à rigidez da laje, a mola seria a aplicação de um material resiliente, que atenue as
vibrações causadas pelo impacto e a massa da parte superior retrata a rigidez e massa do
contrapiso.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos, denota-se a importância dos projetistas analisarem os


parâmetros de desempenho acústico das edificações ainda na etapa de planejamento da
edificação, uma vez que correções posteriores são menos eficientes e mais onerosas.

Nesse trabalho foi realizada a compilação de diversos estudos que realizaram ensaios de
isolamento acústico em campo, para diferentes sistemas de pisos utilizados no país. As
comparações analisadas servem como exemplo, visto que não é aconselhável utilizar valores
em campo para realizar predições de projeto.

Exemplificando-se a efetividade do piso flutuante, o trabalho mostrou uma laje maciça de 12


cm, sem piso flutuante, que atendeu ao nível de desempenho mínimo quando separa unidades
habitacionais autônomas, segundo a NBR 15575-3 [6], a qual resultou em um custo de
R$278,97 por metro quadrado. Essa mesma laje, ao receber um piso flutuante, obteve
desempenho superior nessa classificação, com um acréscimo de apenas R$ 18,87 por metro
quadrado [8]. Observa-se que esse custo se torna irrisório quando diluído em uma edificação
com diversas unidades, tendo em vista o acréscimo no valor final de venda de um
apartamento com desempenho diferenciado (mínimo/superior).

Destaca-se a importância de se qualificar a equipe de execução de contrapiso para a aplicação


do sistema de piso flutuante, para que busque um método construtivo mais efetivo, pois se
tratando de desempenho acústico, não pode haver pontes acústicas no sistema de piso
flutuante. Além disso, a correta colocação da armadura e o acabamento adequado junto às
paredes são fundamentais.

Essa análise comparativa serve como incentivo para as empresas de engenharia, setor
imobiliário e usuários, demonstrando que a aplicação de um elemento de melhor desempenho
acústico, nem sempre se caracterizará em significativo aumento de custo.

REFERÊNCIAS

[1] SOUZA, L. C. L. de.; ALMEIDA, M. G. de.; BRAGANÇA, L. Bê-a-bá da acústica arquitetônica: ouvindo a
arquitetura. 4 ed. São Carlos: EdUFSCar. 2012. 149 p.

[2] OLIVEIRA, R. S. de. Impacto da poluição sonora urbana no desempenho de indivíduos idosos da
comunidade: estudo experimental. 2014. 97 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) - Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2014.

[3] OMS. Organização Mundial da Saúde. Burden of disease from environmental noise. 2011. Disponível em:
http:/ /www.euro.who.int/en/health-topics/environment-and-health/noise/publications/2011/burden-of-disease-
from-environmental-noise.-quantification-of-healthy-life-years-lost-in-europe.> Acesso em: 23 abr. 2018.

DOI: 10.17648/sobrac-87103
[4] FERNANDEZ, J. A. C. G. Ciclo de vida familiar e o projeto de empreendimentos multifamiliares. 2006, 105
p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006

[5] SILVA, D. T. da. Estudo da isolação sonora em paredes e divisórias de diversas naturezas. 2000. 126 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2000.

[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNINCAS. ABNT. NBR 15.575-3: Edificações –


Desempenho. Parte 3: Requisitos para sistemas de pisos. Rio de Janeiro, 2013.

[7] PEDROSO, M. A. T. Estudo comparativo entre as modernas composições de pisos flutuantes quanto ao
desempenho no isolamento ao ruído de impacto. 2007. 140p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) -
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.

[8] BRONDANI, S. A. Pisos flutuantes: análise da performance acústica para ruído de impacto. 1999. 65 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 1999.

[9] NEUBAUER, P. M. Estudo comparativo entre diversas composições com pisos flutuantes de madeira
natural – assoalho e tacos – quanto ao isolamento do ruído de impacto. 2009. 80 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009.

[10] NUNES, M. F. O.; ZINI, A.; PAGNUSSAT, D. T. Desempenho acústico de sistemas de piso: estudos de
caso para isolamento ao ruído aéreo e de impacto. In: XXV ENCONTRO SOBRAC (Sociedade Brasileira de
Acústica). Anais... Campinas: São Paulo, 2014. p. 140 - 147.

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DOI: 10.17648/sobrac-87103
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