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Original

Sete anos de pastor Jacó servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
No lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


Lhe fora assi negada sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,


Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.

Versificação
Se|te a|nos| de| pas|tor| Já|có| ser|vi|a
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
La|bão|, pai| de| Ra|quel|, se|rra|na| be|la;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mas| não| ser|vi|a ao| pai|, ser|vi|a a| e|la,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
E a| e|la| só| por| prê|mio| pre|ten|di|a
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Os| di|as|, na es|pe|ran|ça| de um| só| di|a,,


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pa|ssa|va,| con|ten|tan|do|-se| com| vê|-la;
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Po|rém| o| pai|, u|san|do| de| cau|te|la,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
No| lu|gar| de| Ra|quel| lhe| da|va| Li|a.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Ven|do o| tris|te| pas|tor| que| com| en|ga|nos


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Lhe| fo|ra a|ssi| ne|ga|da| sua| pas|to|ra,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Co|mo| se a| não| ti|ve|ra| me|re|ci|da,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Co|me|ça| de| ser|vir| ou|tros| se|te a|nos,


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Di|zen|do|: - Mais| ser|vi|ra|, se| não| fo|ra
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Pa|ra| tão| lon|go a|mor| tão| cur|ta a| vi|da.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Morfologia
Sete anos de pastor Jacó servia

Sete - numeral
Anos - substantivo
De - preposição 
Pastor - substantivo (precisa ver o referente, o ser referente de pastor é jacó e o de
pastora é raquel, diferente de bonito que pode se acoplar a todos os tipos de seres)
Jacó - substantivo 
Servia - verbo

O menino pastor - nesse caso pastor é um adjetivo que qualifica menino

Labão, pai de Raquel, serrana bela;

Labão - substantivo 
Pai - substantivo 
De - preposição 
Raquel - substantivo 
Serrana - substantivo (serrana pode ser usada como adjetivo, serrana e raquel são a
mesma coisa só troquei o nome, é como se fosse um apelido de raquel)
Bela - adjetivo 

Mas não servia ao pai, servia a ela,

Mas - conjunção
Não - advérbio 
Servia - verbo 
A - preposição 
O - artigo 
Pai - substantivo 
Servia - verbo 
A - preposição 
Ela - pronome 

E a ela só por prêmio pretendia.

E - conjunção 
A - preposição 
Ela - pronome 
Só - adv
por - prep
prêmio - subst
pretendia - verb
Os dias, na esperança de um só dia,

Os - art
dias - subst
em - prep
a - art
esperança - subst
de - prep
um - numeral
só - adv
dia - subst

Passava, contentando-se com vê-la;

Passava - verb
contentando-se - verb pronominal
se - pronome
com - prep
vê - verb
la - pronome

Porém o pai, usando de cautela,

Porém - conjunção
o - artigo
pai - substantivo
usando - verb / gerúndo
de - prep
cautela - substantivo

No lugar de Raquel lhe dava Lia.

No lugar de - loc prepositiva


Raquel - subst
lhe - pronome
dava - verbo
Lia - subst

Vendo o triste pastor que com enganos

Vendo - verbo
o - artigo
triste - adj
pastor - subst
que - conjunção
com - prep
enganos - subst

Lhe fora assi negada sua pastora,


lhe - pronome
fora - verbo
assi - advérbio
negada - particípio
sua - pronome
pastora - subst

Como se a não tivera merecida,

como se - locução conjuntiva (expressão fechada que indica hipótese / como é


comparação e se condição, mas usa fechada)
a - pronome
não - advérbio
tivera - verbo
merecida - particípio (tivera merecida é locução verbal)

Começa de servir outros sete anos,

começa - verbo
de - prep
servir - verbo (começa de servir - loc verbal)
outros - pronome
sete - numeral
anos - substantivo concreto

Dizendo: - Mais servira, se não fora

Dizendo - verbo gerúndio


Mais - advérbio
servira - verbo
se - conjunção
não - advérbio
fora - verb

Para tão longo amor tão curta a vida.

para - preposição
tão - advérbio
longo - adj
amor - substantivo
tão - advérbio
curta - adjetivo
a - artigo
vida - substantivo abstrato

Análise
A princípio parece muito simples. O problema não é o literal, diferente de Lusíadas em
que a gente precisa procurar no dicionário. É próprio da lírica parecer simples, mas ter
muitos sentidos escondidos. Já a epopéia parece muito difícil a princípio, mas se torna
fácil depois em função da narrativa mais simples, pois entendemos ajudados pelo
contexto cronológico. Para entender o poema, precisamos focar nas escolhas feitas pelo
poeta.

Primeira estrofe

1º verso - Temos aqui aliteração do "s". Sete anos de pastor. Traz sonoridade ao poema.
Isso poderia aportar sentido ao poema. Por exemplo nos Lusíadas vemos na descrição
da guerra:
A plúmbea péla mata, o brado espanta;
Ferido, o ar retumba e assobia.
Repetição de P e B me dá som de tiros, p é considerado consoante explosiva.
Quando tem um gigante coloca muito a letra A para que fiquemos o tempo todo com a
boca aberta como se estivéssemos o tempo todo gritando em espanto.
Quando Camões faz dizer que o som ecoa ou retumba ele faz rimas que fazem parecer
que o som retumba.
Luta de espadas: muitas consoantes ZZ como se as lâminas estivessem se encontrando.

Por que "pastor" vem antes de Jacó? Sempre em última análise diríamos 10 sílabas e
ritmo heroico. Por que o cargo antes do nome da pessoa? Vidas secas ele fala de família
de retirantes e tem gente que não tem nem nome, vem antes porque a função aqui
importa mais. Foco no que ele faz e não naquilo que ele pretende com aquilo que ele
faz.
Por que sete? Sete tem a simbologia da perfeito. Perfeito é feito até o fim. Dá a ideia de
que está completo e perfeito. Esse sete não é à toa, dois períodos de 7 anos. Há
correspondência entre a vida de Jacó e a vida de um cristão. Todos os períodos de
servidão no AT são simbólicos. Estamos exilados da nossa pátria celeste, a espera de
um dia. Jacó é um símbolo, não posso só entender como um homem que estava
apaixonado. Existe algo . Não é 14 anos que ele serve, são dois períodos de 7 anos.
Perfeição significa que ele viveu perfeitamente o período que lhe foi pedido, não precisa
de outro.
Por que essa descrição longa de Labão?
Quais são as palavras que se repetem?
Servia repete 3x. Repetição é intencional. Pode ser que o servia não tem o mesmo uso
nos dois lugares.
1º verso - servindo de pastor, servindo num sentido de contrato, que trabalha para
alguém. Jacó trabalhava para Labão. Exteriormente vendo estou vendo Jacó servir
Labão.
Pai 2x.
Ela 2x.
Pai de Raquel serrana bela são dois apostos. É uma explicação de Labão. Não é que ele
seja só pai da raquel, ele é pai da Lia, esposo da fulana, também é dono de rebanho. Mas
a escolha de uma palavra que o defina está concordando com o contexto. Poderia dizer
que ele era proprietário de terras, isso faria sentido. Tem uma única característica de
Labão que me interessa aqui, que é ele ser o Pai de Raquel. De tudo o que Labão faz a
única coisa que interessa é que ele é pai de Raquel. Raquel está se aproximando aos
poucos, está dando aos primeiros passos. Vou passando aos poucos: estou falando de
um serviço, de um contrato, de um fazer durante sete anos e nessa escolha do pai eu
estou passando para uma dimensão mais interior. Ele ser pai de Raquel não diz nada
sobre o serviço de Jacó, ele poderia ser pai de qualquer um. Aos poucos Raquel vai
aparecendo. Com o enjabement esperamos quem ele servia: Labão. Parece que é muito
importante, mas vemos que não.
Serrana bela não traz nenhuma informação sobre Labão. Eu dou um aposto inteiro para
Raquel. Isso me mostra que não é Labão que me interessa, mas sim Raquel. Segunda
subida no degrau de Raquel. Labão aparece como um obstáculo, ele esconde, ele tampa
Labão. Tem pessoas que nos interessam apenas pelas suas relações. Eu estou olhando
Labão, mas porque ele está relacionado com Raquel. Percebemos que ele quer falar é de
Raquel.
Lia tinha olhos ternos e Raquel era bonita de corpo todo. Veremos efeito da beleza, qual
efeito que a beleza causa sobre o homem. Raquel indica beleza o tempo todo. Jacó se
contenta com vê-la. No canto 9 dos Lusíadas temos o encontro do portugueses com as
ninfas após todo o trabalho do mar, eles têm que ser recompensando e Vênus prepara
ilha mágica onde fará casamento das ninfas filhas dela com os portugueses (alegórico -
eles vão receber honras, vão casar com as honras que carregarão a Portugal entrando em
glória). Eles precisam se atrair mutuamente. Vênus ensina ambos a parecerem atraentes
uns aos outros. Ninfas precisam ouvir o que eles fizeram. Vênus vem junto com cupido
e com a fama (deusa responsável por cantar os feitos de outras pessoas). Fama conta o
que eles fizeram e as ninfas ficaram quase que derretidas apesar deles serem sujos,
fedidos, a questão da segurança e da admiração que a mulher procura. Elas caíram tanto
que estava como que mortas: relação entre amor e doença, cupido (filho de afrodite e
ares, deus da guerra), fere e a pessoa fica doente de amor. E as deusas só precisa se
arrumar: pentear os cabelos, precisavam estar em poses bonitas. Esse é o primeiro
sentido de atração: mulheres precisam admirar, saber quem é e os homens só precisam
mirar, achar belas. Beleza e modéstia: não podem se entregar, precisam se esconder e
fugir, pra eles irem atrás.
Aposto 1º Pai 
De Raquel - função acessória. Completamente dispensáveis. Poderia não ter é só um
adjunto, para restringir. Não precisava disso. Função de acessório. Daqui a pouco vai ter
o upgrade da função dela.
Qual o segundo sentido de servir? Ele se contradisse? Claro que não. Temos um outro
sentido. É um sentido mais interior. Ele não servia subjetivamente ao pai. O primeiro
servia tem um sentido exterior (contrato pastoril). O que nos interessa de Labão, que ele
é pai de Raquel. Raquel é a causa final! Lá no fim eu vejo Raquel. O segundo servir é
de intenção, ele tinha a vontade em Raquel, é alimentar esse amor em alguém.
3º verso - Labão perde o nome. Só se fala Pai. Labão é só o pai, não repito mais o nome
de Labão. Labão vai para dentro de pai e Raquel vai pra dentro de ela. Que é um
pronome. Termo integrante é necessário para completar o serviço do verbo. Não tenho
como dar significado sem ele. de Raquel, Raquel é pai acessório. e a ela torna-se termo
integrante.
Qual o efeito de repetição de bela, ela, ela? Eco da própria beleza de Raquel. Quando
falamos de Raquel lembramos da beleza dela. O próprio ser de Raquel está unido à
beleza dela. O ela puxa sempre o sentido de beleza.
Estou posicionando Raquel toda hora: ela estava atrás de Labão, a trago em serrana
bela, depois digo a ela no último local do terceiro verso, e no quarto eu já a trago para
primeiro plano.
Por prêmio pretendia - efeito musical.
Não estamos apenas contando, estamos vendo o exterior de Jacó, depois o interior.
Raquel primeiro era termo acessório, depois vou puxando e mudando o sentido de
servir. Repetição do ela que carrega o sentido da bela, vai imprimindo o sentido da
nossa alma. Esse tipo de arte mexe com a beleza, o fim último do poema não é instruir,
ele não é um texto que ensina. O fim último do fazer poético é agradar pela beleza. A
beleza faz com que algo se imprima muito mais fácil na alma da pessoa, ele está a
serviço de impressão.

Na gruta da inveja acontece algo similar, mas para causar repulsa. Para que a gente não
queira ter isso na nossa alma. Por isso que ensinar as crianças por meio de figuras é
absolutamente essencial. A criança não tem um grau de letramento que permita entender
o conceito abstrato. Se eu digo que a inveja é um sentimento que nos faz olhar mal para
o outros a criança não sabe nem o que é inveja e nem o que é sentimento. Ela não tem
experiência do que é inveja, ela vê a coisa. Por meio da descrição a coisa fica próxima.
Temos que aproximar todos os aspectos descritos do sentimento abstrato que se está
descrevendo. Por que ela olha desse modo? Vou pegando todos os aspectos da inveja e
vou aproximando. Importância dos heróis é que eles acessem imaginariamente as
virtudes. Por exemplo, Vasco da Gama faz piada em meio a turbulência com o mar.
Características virtuosas sempre se reportagem a Deus e a cristo. Quem descansou em
meio a turbulência da barca? Somos porque participamos de um ser perfeito. Sempre
fazer essas relações com os textos do evangelho. Tudo nos aponta para Cristo.

Todas essas coisas nos causaram um efeito. Sentimos uma repetição, mas ficamos só no
que que acontece. A gente está num modo de operar a toque de caixa, que não aguenta
nenhum tipo de teoria, modo muito prático de viver. Deixa eu procurar as palavras
chave aqui pra captar o sentido geral. Paramos na letra, precisamos parar para capturar
as intenções do autor, para superior essa forma prosaica de pensar. Ao captar essas
intenções, compreender causa um efeito de impressionante. Por trás de um poema genial
descubro um poeta genial. Nisso eu vou buscando adequar a minha inteligência à
inteligência dele e vamos nos parecendo aos poucos com esses autores.
Figurado porque é um uso afetivo de servir. Servir de forma literal, é ser empregado,
relação de contrato. E servir no uso afetivo, uso figurado. Acusativo é o alvo, que sofre
as ações do verbo. Existe uso figurado de chamar atenção. O me miserum - não tem
verbo nenhum aqui. Sendo alvo das atenções. Uso figurado. Amar tem algo de servir e
servir tem algo de amar.

2ª estrofe
Figura de Jacó se assemelha mais ao do Cristão aqui. Quis passar no lugar do irmão
mais velho, e assim quis pegar Raquel antes. Labão não poderia dar Raquel antes e
queria um pastor por mais tempo. A coisa ficou meio mal combinada. Mas depois teve
um crescimento espiritual da parte dos dois. Jacó é um exemplo para quem lê neste
relato. Primogenito que rejeita a primogenitura - a mesma coisa aconteceu com o povo
de Israel. Tinha a primogenitura eles rejeitaram os outros. Recorrência disso no antigo
testamento.
3 virtudes teologais veremos em Jacó:
Fé - acredita que vai receber Raquel por prêmio
Esperança -
Caridade -
Jacó passava os dias x Os dias passavam para Jacó - no primeiro temos que Jacó vivia
aqueles dias, ele caminhava junto com os dias, ele estava vivendo o tempo de espera x
no segundo parece que o tempo passava e Jacó tava fazendo outra coisa. O primeiro
depende de Jacó e o segundo não.
No segundo verso tempos a repetição de dias, cada um numa ponta. Que efeito esse
primeiro verso está causando sendo o primeiro dias e o segundo dia? Dias são a
passagem dos dias de serviço e dia é o dia D de receber o prêmio - existe uma passagem
de tempo no verso. Dias no meio esperança e dia = eu amarro as coisas, Os dias unida a
dia, há um lado, a plataforma sobre a qual os dias passo é a palavra esperança.
Esperança é a mão que joga os dias até um só dia até o dia da união. Aqui temos a
figura da virtude da esperança. Passa todos os dias esperando um só dia. Essa também é
a figura do cristão, esperando um só dia, fomos expulsos da nossa terra, fomos expulsos
da conversa que tínhamso com Deus no paraíso. Durante a tarde conversávamos com
Deus no paraíso terrestre, Deus aparecia para conversar, isso explicaria a melancolia do
final da tarde: a gente como que espera um encontro que não tem. Todas as outras
palavras são palavras pequenas que não tem importância. Esperança joga de dias para
dia. A quantidade de tempo (7 anos) e o dia da união = a quantidade de dias da vida e o
dia do encontro no céu.
O que vocês percebem em relação à beleza? A beleza é suficiente para o alimentar.
Temos sede de beleza. Nossos sentidos buscam aquilo que é belo e afastam aquilo que é
feio. Queremos mais daquilo. Temos sede de beleza. Jacó procurava Raquel o tempo
todo, para olhar. Fica se alimentando daquela visão. Nossa vista descansa na beleza.
Vemos a pureza do amor, não precisava ter. Amava mesmo de longe. Das três virtudes
duas vão passar não precisaremos de fé e esperança.
Até o terceiro verso da segunda estrofe temos o pretérito de duração. Presente do
passado, pretérito imperfeito. Tem esse efeito de duração.
Temos aqui o primeiro choque, estamos admirando a história dos pombinhos, até que
algo rompe a lógica da coisa.
Labão não podia dar Lia, porque se ele desse Raquel antes de Lia pareceria que ela tinha
efetivamente algo de errado. Ele preveniu um mal, mas preveniu através de enganos. O
erro não foi dar Lia, mas ter dado a entender que poderia dar Raquel antes.
Lia é colocada como última palavra, acontece como que a troca.
Temos o ela entre ias - há uma briga ao longo do poema entre Raquel e Lia. E no último
verso da segunda estrofe temos a aliteração do L, como se Lia finalmente aparecesse.

3ª estrofe
Momento de maior tensão terceiro verso da terceira estrofe. terceira estrofe não pode ser
só descrição. Poema de Camões que ele chega à terceira só descrevendo e aí na quarta
diz "Circe", diz que a mulher é a Circe, é uma feiticeira, enganou com a poesia dela.
Como que lhe deu veneno.
Há presença de palavras que causam efeito de decepção, que palavras me dizem isso?
Essa estrofe vai nos deixando cada vez mais magoados. Como que vai aumentando a
dose na gente de mágoa. As palavras que nos aumentam a mágoa, que gera o instinto de
vingança:
triste, enganos
negada, sua
- nós já tínhamos um certo laço afetivo com Jacó - ele servia, contentava só com ver a
beleza de Raquel, ele como que foi crescendo em virtude aos nossos olhos - e aí quando
anteponho triste a Jacó tenho mais raiva de Labão que frustou os objetivos de Jacó.  
Como se a não tivera merecida, - verso muito apelativo
Você me tratou mal x Você me tratou como se eu não fosse seu amigo = com hipotese
eu obrigo a pessoa a lembrar que ela era amigo e que merecia ser tratada bem. Você
chama a atenção pro fato de que ele merece, nos obrigada a lembrar da perfeição do
serviço, da doação do serviço de Jacó.
Neste ponto nós leitores já estamos com vontade de nos vingar de Labão. Estamos
esperando que Jacó haja como nós agiríamos, com vingança. Esperamos que ele se
vingue. Não sou virtuosa como Jacó "ou vai roubar raquel e vai ser feliz", esperamos
um certo engano de Jacó para com Labão, ou ele vai embora e desiste de Jacó. Nunca
esperaríamos que ele dissesse, tá bom eu sirvo mais sete anos com essa docilidade toda.
Isso aqui é um espelho de certo modo, para que nos vejamos como nós somos por
contraste. Essa seria a única reação - a de docilidade - que não passaria pela minha
cabeça.

4ª estrofe
Primeiro verso muito parecido com o primeiro verso da primeira estrofe. Quais são as
mudanças?

A fé - ele acreditou em Labão.


Esperança - nos leva de todos os dias da nossa vida para um dia só. Como se nós já
vivessemos para aquele dia.
União com Raquel é prefiguração da vida eterna. Nos foi negada a permissão de entrar
numa terra que não é nossa. O cristão que caminha todos os dias, está no exílio e
começa a servir. Trato com Deus no desterro é o que nos alimenta. 
Unidade em Camões, fala do novo período de sete anos retomando com perfeição de
fechamento o poema.
Começa - mudança do tempo presente. Certa característica do amor que é serviço que é
a prontidão. Não é um homem que pensou em começar ou refletiu sobre fazer ou não.
Ele começa agora, não tem demora para esse serviço. Não é o homem que diz espera um
pouquinho, deixa eu terminar de gastar os meus bens. Característica da prontidão.
Mesma prontidão que os discípulos tiveram à chamada de Jesus. Pedro larga as redes no
mesmo instante e começa a servir Jesus. Descrição toda no passado, estamos ouvindo
tudo o que narrador fala de Jacó, e de repente o vemos com a avena, já guiando as
ovelhas. Ele não esperou. Exemplo contrário do homem que diz já vou mas deixa
enterrar (passar os dias até morrer).
Outros indica uma certa renovação do ânimo. Na segunda coisa já deu errada, na
segunda nada mais. No primeiro ele estava querendo alcançar. Não é mais para somente
percebê-la era para demonstrar o seu amor. O amor é maior do que a vida.
Dizendo = se vocês não acreditam que ele serviria mais, deixa eu passar o microfone
para ele e ele mesmo diz, não é o narrador que está enfeitando a história. A coisa ganha
um selo de é verídico, não é enfeite.
Se não fora a vida tão curta, para tão longo amor. Na hora que ele fala da duração do
amor ele utiliza a maior quantidade (6 sílabas poéticas) - pa ra tão lon goa amor / e curta
a seguinte tão cur ta vi da (4 sílabas poéticas). Poderia amar mais não sei quantos anos
para demonstrar o amor. O amor não passa. Duas personagens amam como quem crê,
como quem espera, como quem ama.

É muito melhor ensinar pela literatura qualquer coisa. A beleza ela imprime algo na
alma. é totalmente diferente de ensinar assim do que falar "a virtude da fé é tal" a da
esperança é tal. Relação intrinseca entre a coquista do amor e do serviço. Diferente do
que é hoje. Hoje o amor é um serviço. Vingança, está esperando para si mesmo, vai se
vingar porque "eu servi, eu mereci, vocês estão me devendo isso". Ele não pensa em si
nenhuma vez "ele não pensa em se vingar, ele não se arrepende de ter servido, ele não
pensa em si mesmo, ele vai lá e serve. O único problema é que a vida é curta, mas ele
pode multiplicar esse serviço. Pode me mandar servir mais um pouco. Amor de Jacó é
maior que a vida. O amor é maior do que a vida. Só vai entender quando vê a postura de
alguém que ama de maneira gratuita. A mulher dá vida e o homem sacrifica a vida. O
homem tem o aspecto bruto e mal acabado, primeira criação. Mulher é mais sensível e
mais bem acabada, por isso ela vem depois e deu os últimos retoques. Por isso que
Cristo quis nascer da mulher: terceira geração totalmente purifica. Deus não criou o
homem do nada: criou uma primeira espécie que sacrifica e briga, depois criou a
mulher, mais bem acabada e bem centrada e depois tirou Cristo uma terceira geração.

Camões: como este homem era católico como nós, espírito muito mais sensível.

Usem esses exemplos da literatura para dar exemplo de virtude. A criança não acessa
conceito. Conceito de serviço e esperança não me daria essa impressão na alma. Poema
foi feito para ser memorizado e ser repassado. Você não faz poema de qualquer coisa,
só aquilo que precisa ser repassado.

MINHA ANÁLISE

Vendo (ger) o triste pastor que com enganos


Lhe fora (pret+perf) assi negada sua pastora,
Como se a não tivera (pret+perf) merecida, [oração subordinada adverbial de modo -
modifica servir, fala sobre o modo como ele serve outros sete anos]

Começa (pres) de servir (inf?) outros sete anos,


Dizendo (ger): - Mais servira (pret+perf), se não fora (pret+perf)
Para tão longo amor tão curta a vida.

Ele começa de servir outros sete anos com o mesmo ímpeto que ele serviria no caso de
não a tê-la merecido de fato. Ou seja, ele serviu por um prêmio. Cumpriu a sua parte,
mas não levou a parte que lhe tocava. Ele poderia se revoltar, desistir, jogar o chapéu já
que havia havido uma injustiça com ele na forma como as circunstâncias se deram. Mas
ele não se revolta, não desisti, não se recusa ao trabalho. Por amor, ele se dispõe a servir
de novo, com o mesmo ímpeto que serviria. Momento antes = ainda não é digno,
precisa se sacrificar para que ela seja sua por direito. Momento depois = ela já é sua por
direito, mas não de fato. O amor é tão grande que mesmo tendo o seu que lhe foi tirado,
mesmo tendo ela se tornado o seu direito, ele aceita servir novamente, o mesmo tanto. 
Ele aceita servir sem efetivamente estar numa situação em que isso lhe é devido. É o
amor totalmente gratuito.de Cristo, que escolhe servir sem que isso lhe seja devido.
Verdadeiro amor é escolher servir e não servir porque lhe é devido. É digno servir por
amor. Servir é uma demonstracao de amor. Servir é amar, ele diz que serviria mais, mas
o amor é longo demais e a vida onde se dá o servir curta demais para expressá-lo em
toda a sua extensão. Não há extensão de vida suficiente para servir o tanto que seria
necessário para perfazer efetivamente todo esse amor. Que pouco é uma vida inteira.de
serviço para expressar um amor tão grande quanto o amor de retribuição a Deus pelo
amor que Ele nos dá.  

Ponto 420 de Caminho - Que pouco é uma vida para oferecê-la a Deus

Dificuldade nos Lusíadas é atingir o literal. Mas se eu preciso seguir uma narrativa não
posso ter dados simbólicos tão profundos. Então se eu me treino muito tempo na
epopeia, quando eu chego na lírica o sentido literal é muito fácil de alcançar e você tem
mais facilidade pra ir mergulhar nos demais aspectos.

Pasto - qualquer erva que serve de alimento ao gado, pasto / sustento espiritual / estado
de viva satisfação, alegria / tema sobre o que se conversa, assunto
Pastor - SM indivíduo que leva os animais ao pasto e os vigia / guia espiritual / cão
próprio para proteger rebanho | ADJ que leva vista de pastor
Pastoral - ADJ relativo ou próprio de pastor (guia) / referente ou próprio de pastor de
animais, pastoril / relativo ao próprio campo, campestre, pastoril / circular de conteúdo
religioso emanada de papa ou bispo dirigida a padres ou fieis / teat - séculos XV e
XVIII  tipo de representação com música e dança baseada em temas campestres / lit -
composição poética com tema idílico ou pastoril; écloga
partorar - conduzir, vigiar / observar alguém ocultamente / aguardar alguém
pastorear - conduzir e/ou vigiar o gado no pasto / dirigir como pastor, guia / dirigir
como chefe de governo
partoril - relativo ao pastor e à sua vida / relativo aos costumes do campo / qualquer
auto natalino, apresentado diante de presépios, representando a visita dos pastores ao
estábulo de Belém
Serrana - aquela que nasceu ou vive nas serras

Sete anos de pastor Jacó servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
No lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


Lhe fora assi negada sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,


Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.

Pastor e pastora - 3 vezes 


Pai - 3 vezes 
Servir - 5 vezes 
Raquel - 2 vezes 
Sete anos - 2 vezes (início e fim de frase duas ocorrencias) 

Sete - numeral 
Anos - substantivo 
De - preposição 
Pastor - substantivo 
Jacó - subst próprio 
Servia - verb, 3 pessoa do pret imperfeito (6)
Labão - substantivo
Pai - substantivo
De - Prep
Raquel - substantivo
Serrana - Adj
Bela - Adj (6) 
Mas - conjunção coordenada adversativa 
Não - advérbio
Servia - verb, 3 pessoa do pret imperfeito

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