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1. ESPAÇO
NOTAS:
▪ assuntos:
● Estrutura interna
• Maria de Noronha:
• D. Madalena:
• Telmo Pais:
A partir de uma fala de Telmo (“Já o estava, se ele quisesse dizer que o
fogo tinha pegado por acaso.”), ficamos a saber que Manuel, se tivesse
mentido, dizendo que o incêndio se ateara acidentalmente, poderia ser
ilibado mais rapidamente, porém essa atitude levaria a que o seu ato
patriótico perdesse grandeza (“… era desculpar com a vilania de uma
mentira o generoso crime por que o perseguem”).
● Elementos trágicos
▪ A presença do fatum.
▪ Pathos de D. Madalena:
- crença em agouros/presságios:
. de Maria:
- “Creio, oh, se creio! Que são avisos que Deus nos manda para
nos preparar. E há… oh! há grande desgraça a cair sobre meu
pai… decerto! E sobre minha mãe também, que é o mesmo.”;
▪ Agón:
- de Telmo:
- de Maria:
. com Telmo, a propósito da identidade da personagem do retrato:
3. Maria insiste: “Mas o outro, o outro…quem é este outro, Telmo? Aquele aspeto
tão triste, aquela expressão de melancolia tão profunda… aquelas barbas tão
negras e cerradas… e aquela mão que descansa na espada, como quem não tem
outro arrimo, nem outro amor nesta vida.”
TELMO (deixando-se surpreender) – “Pois tinha, oh! se tinha!” (Maria olha
para Telmo, como quem compreendeu, depois torna a fixar a vista no retrato).
Que é que Maria intuitivamente compreendeu?
Maria compreendeu nesse momento que (1) o único ser que amou o
primeiro marido de sua mãe foi Telmo,(2) a mãe nunca lhe tivera amor, (3) a
origem de todos os sofrimentos da mãe provinham dos remorsos da sua
consciência atormentada. Assim, quando alguém (Manuel de Sousa) identifica a
figura do retrato (II, 2), Maria não fica surpreendida: “Bem mo dizia o coração!”;
. com D. João:
● Linguagem
Já nesta cena do Ato II, Maria cita o início de Menina e Moça, romance de
Bernardim Ribeiro, em consonância com o seu perfil psicológico: obra misteriosa
e sentimental, como misteriosa e sentimental é Maria.
▪ Indícios trágicos:
- doença de Maria;
▪ O caráter histórico.
● Assunto: Manuel de Sousa Coutinho revela a Maria a identidade do retratado (D. João
de Portugal) e aconselha a filha a dedicar-se mais a atividades próprias da sua idade.
● Esta cena é uma continuidade da anterior: Maria tinha questionado Telmo sobre o
retrato de D. João; Telmo é evasivo e não a elucida; Manuel de Sousa entra em cena e
é ele que lhe responde, sem subterfúgios.
● Maria não reconhece o pai pela voz, apenas quando o vê, porque se encontrava
obcecada pela imagem de D. João.
● Manuel de Sousa veio a casa de dia, embora encoberto com uma capa e um chapéu.
Anda escondido para escapar à perseguição dos governadores. A afronta dos incêndios
leva a que tenha de ir a sua casa disfarçado e de forma oculta. Perante a preocupação
e a inquietação da filha (“Mas de dia!... Não tendes receio, não há perigo já?”), Telmo
tranquiliza-a, dizendo-lhe que o maior perigo de represálias por parte dos
governadores castelhanos já tinha passado: “(…) sei pelo senhor Frei Jorge que está, se
pode dizer, tudo concluído.”
● Mais uma vez, Maria revela ser uma jovem marcada pela doença: as mãos quentes e a
testa a escaldar (hipérbole) de febre são sintomas de tuberculose. Tal como sucede
noutros passos da obra, o pai pede-lhe que não pense tanto, que se divirta. De facto,
os progenitores consideravam que a reflexão em excesso e o estudo a debilitavam
ainda mais. Na realidade, Maria dedicava-se imenso aos estudos, lia muito,
questionava tudo, o que era invulgar para a sua idade. Por outro lado, era uma jovem
doente e a falta de distrações, de brincadeiras adequadas à sua idade acentuam a sua
debilidade. Além disso, os estudos eram ocupação de homens, não de mulheres,
mesmo aristocratas, que apenas deviam saber o necessário para a sua condição na
época: bordar, tocar harpa, organizar o trabalho dos serviçais.
● Retrato de Maria
Maria confirma nesta cena e na anterior que é uma criança curiosa, precoce e
perspicaz, com uma intuição apurada: “(…) é que eu sabia de um saber cá de dentro;
ninguém mo tinha dito, e eu queria ficar certa.” Note-se, por exemplo, que ela não
sabia de quem era o retrato, mas parecia saber que pertencia a D. João de Portugal, o
dono da casa, como se tivesse o dom da adivinhação, daí que o pai lhe chame
«feiticeira» depois de a ouvir dizer que “sabia de um saber cá de dentro”.
Manuel mostra ser bom pai, atento (“esta testa”, “Escalda!”), preocupado com
a filha e o resto da família. Por outro lado, demonstra ser franco e honesto, pois não
esconde a identidade do retratado no quadro, falando dele abertamente. Além disso, é
uma pessoa culta, como o reconhece Maria (“Manuel – Poetas e trovadores padecem
todos da cabeça…” / “Maria – E então pata que fazeis vós como eles? Eu bem sei que
fazeis.”), e revela uma profunda fé (“Valha-te Deus, Maria!”).
▪ Agón: o conflito de D. João com Maria, que se manifesta nesta cena (tal como na
anterior) nos sonhos premonitórios e na sagacidade com que esta perscruta as
palavras e as meias palavras, os silêncios, os olhares, os gestos da mãe e do pai, o
conflito com Telmo, até lhe ser revelada a identidade da figura do retrato.
● Nesta cena, Manuel de Sousa, logo na sua primeira fala, desafia o Destino: “Mas vamos:
não dirão que sou da Ordem dos Pregadores? Há de ser destas paredes, é unção da casa:
que isto é quasi um convento aqui, Maria… Para frades de S. Domingos não nos falta
senão o hábito…”. Estas palavras despretensiosas e risonhas cortam o tom solene, quase
de sermão, com que Manuel de Sousa, momentos antes, interpretara a “grande
propensão (da filha) para achar maravilhas e mistérios nas coisas mais naturais e
singelas”, e lhe dera uma interpretação teológica sobre os segredos inefáveis de Deus.
Estas palavras possuem, contudo, um sentido oculto, talvez até de trágica ironia: com
elas, mais uma vez Manuel de Sousa desafia o Destino. E este pega-lhe nas palavras tão
imprudentemente proferidas: Manuel de Sousa terá de renunciar a tudo e vestir o hábito
de S. Domingos.
● Na primeira fala, Manuel de Sousa procura persuadir Maria de que não faz sentido
acreditar em presságios, dizendo-lhe que a única coisa que não se pode explicar é a Fé;
tudo o resto deve ser analisado à luz da razão.
● Prossegue nesta cena o conflito de Manuel de Sousa com D. João. Ele louva as nobres
qualidades de alma deste, a sua grandeza e valentia, a força de vontade, serena, mas
indomável, que nunca foi vista mudar, mas a realidade é que Manuel entrou naquela
casa, está no ambiente em que D. João vivera com D. Madalena, aparentemente como
senhor da casa, na ambígua situação de usurpador, de intruso.
● Presságios
▪ A comparação irónica de Manuel de Sousa a um pregador – “(…) não dirão que sou da
Ordem dos Pregadores?” – indicia a tomada do hábito.
▪ A referência à capela: “Ainda não viste daqui a igreja? É uma devota capela desta. E
todo o tempo tão grave! Dá consolação vê-la.”. Será nela que Manuel e Madalena
tomarão o hábito.
▪ A resposta de Manuel à fala de Maria, que afirma ter pena de D. João ter morrido na
batalha de Alcácer Quibir: o pai lembra-lhe que, se ele estivesse vivo, ela não existiria e
a família seria destruída, o que deixa Maria angustiada: “Manuel – Mas se ele vivesse…
não existias tu agora, não te tinha eu aqui nos meus braços. / Maria (escondendo a
cabeça no seio do pai) – Ai, meu pai!”. Isto indicia o desfecho trágico: a alusão ao facto
de a vida de D. João implicar a não existência de Maria. Se, no passado, o regresso do
cavaleiro inviabilizaria o seu nascimento, no presente, acarretará a sua morte, ou seja,
ela sofrerá a vergonha de ser filha ilegítima.
● Frei Jorge abre a cena saudando efusivamente Maria: “Ora alvíssaras, minha dona
sobrinha!” Esta expressão era usada quando alguém pretendia obter uma recompensa
(“alvíssaras”) por trazer boas notícias. Neste caso, Frei Jorge usa-a metaforicamente,
para anunciar à sobrinha que lhe traz uma boa notícia: os governadores perdoaram a seu
pai o facto de ter incendiado o palácio.
● Frei Jorge, de facto, traz a notícia do perdão dos governadores a Manuel de Sousa, pelo
que este não terá mais de continuar escondido, dado que não corre o risco de retaliação.
Poderá, assim, retomar a sua vida normal e movimentar-se livremente.
● Frei Jorge aconselha o irmão a que o acompanhe a Lisboa, porque deseja que Manuel
faça parte da comitiva que trará o arcebispo para Almada, como forma de lhe agradecer
a intervenção no caso, persuadindo os demais governadores a perdoarem-lhe a afronta.
Note-se como repetem a expressão «os outros», referindo-se aos que governam em
nome do rei castelhano, mostrando que não os querem nomear. No fundo, é uma forma
de mostrar desprezo por eles.
● A referência à tia Joana de Castro constitui um presságio de desgraça (vide cena 8, Ato
II), dado que, juntamente com o seu marido (D. Luís de Portugal, Conde de Vimioso),
optou pela vida religiosa. De facto, este casara com D. Joana de Castro e Mendonça,
depois de ter sido resgatado do cativeiro de África. O casal teve filhos. Subitamente,
porém, foram tocados pelo tédio do mundo e da vida, e entrou cada um no seu
convento.
● Outra informação trazida por Frei Jorge diz respeito ao fim do surto de peste em Lisboa.
Na realidade, ela começara em finais de agosto de 1599. Porém, só terminou de forma
definitiva em fevereiro de 1602. Sabe-se hoje que Manuel de Sousa ajudou a debelar o
mal, como guarda-mor da saúde, e por isso foi recompensado pelo rei castelhano, a
quem servia com lealdade.
▪ No entanto, ao saber que o marido tem de ir a Lisboa, fica inquieta e apreensiva (“A
Lisboa… hoje!”). A referência àquele dia (sexta-feira), ao qual atribui uma conotação
muito negativa e considera aziago, deixa-a abatida e aterrorizada[“Sexta-feira!
(aterrada). Ai que é sexta-feira!”]. Após as palavras de Manuel de Sousa, parece entrar
num estado de resignação [“(caindo em si) – Tens razão.”; “(fazendo por se resignar)”].
▪ As razões apresentadas por D. Madalena para a filha (e, no fundo, também o marido)
não ir a Lisboa são todas de cariz sentimental e exageradas. De facto, não apresenta
qualquer argumento racional ou sólido; apenas se lamenta de ficar só, abandonada
por todos, entregue aos seus terrores:
- a sensação de desamparo;
▪ Manuel de Sousa sente-se apreensivo com o estado psíquico da esposa, que, embora
procure disfarçar, está cada vez mais insegura, receosa e vulnerável.
Além disso, mais uma vez fica patente o contraste que caracteriza o casal:
Madalena é uma mulher sentimental/emotiva, perseguida pelos agouros e ligada
ao passado, do qual não se liberta, com problemas de consciência, enquanto
Manuel é um homem decidido e racional, íntegro e sem problemas de consciência
que o atormentem.
▪ Maria fica entusiasmada com a perspetiva de ir a Lisboa, mas fica desiludida e triste
quando lhe dizem que não poderá ir para não deixar a mãe sozinha. A alegria e o
entusiasmo regressam quando tudo se compõe de forma a permitir a sua viagem, no
entanto, acaba por reconhecer, num aparte, que não consegue deixar de pensar e de
se preocupar, daí que a sua cabeça nunca será «fria», isto é, racional. Tal só sucederá
quando estiver «oca», ou seja, sem vida.
▪ Frei Jorge é aquela figura sempre pronta para pacificar os espíritos atormentados, por
isso oferece-se para fazer companhia à cunhada durante a ausência, de modo que
Maria possa acompanhar o pai a Lisboa e visitar Sóror Joana.
● Presságios
▪ A referência à “santa freirinha” (Sóror Joana), “que tanto deixou para deixar o mundo e
se ir enterrar num claustro.” antecipa o destino de D. Madalena.
● Esta é uma cena rápida, girando em torno de Maria, após a sua saída de cena para se
preparar para a viagem a Lisboa.
● Manuel argumenta em defesa da filha, afirmando que a ida lhe fará bem, pois ela
necessita de se distrair, de sair de casa, mudar de espaço. Só assim se evitará que
esteja sempre a pensar nos mesmos assuntos.
● D. Madalena declara que quer que Telmo acompanhe Maria: “Telmo que vá com ela;
não o quero cá.” Por que razão deseja ela tal coisa? D. Madalena não quer ficar
sozinha com o velho aio de D. João de Portugal, pois teme que se repita o diálogo da
cena II do Ato I e que a atormente com os seus presságios, nomeadamente com as
dúvidas em torno do regresso de D. Sebastião e D. João. Assim sendo, deseja que ele
esteja longe, sobretudo naquele dia tão marcante para ela. Perante o marido, justifica-
se dizendo que Telmo e Maria necessitam um do outro e que ele, estando velho, a põe
a cismar: “… e entra-me com cismas que…”. Tal como sucede ao longo da peça, D.
Madalena receia a presença de Telmo.
● Tendo em conta que a viagem é curta (de Almada a Lisboa e regresso) e breve
(regressarão naquele mesmo dia), como se justifica todo o dramatismo de D.
Madalena? Ela pressente que esta partida, esta despedida, não é momentânea, de
horas, mas para sempre. As cenas seguintes comprovam que tem razão, já que,
quando se reencontrar com o marido e com a filha, o seu casamento e a sua família
presentes não são mais viáveis, pois está confirmado que D. João de Portugal está vivo
através do seu regresso na pele do Romeiro. Assim sendo, esta é a última vez que se
veem enquanto elementos da mesma família. Por exemplo, D. Madalena e Maria só
tornarão a ver-se no momento em que a primeira se prepara para ingressar no
convento.
● D. Madalena, nesta cena, mostra-se muito carinhosa com Maria e zelosa e preocupada
com o seu bem-estar, envidando todos os esforços para que nada lhe aconteça ou
falte. Maria, por sua vez, procura acalmar a mãe, mas, na realidade, sente-se
profundamente abalada com a tristeza e o sofrimento que D. Madalena deixa
transparecer.
● Estrutura interna
● Caracterização de D. Madalena
▪ Fraca:
- porque se deixa abater pelos seus próprios sentimentos – dominada pelos sentimentos
→ característica da heroína romântica;
- porque não luta para ultrapassar a sua insegurança: “Que queres? Não está na minha
mão.”;
- porque não se considera detentora de coragem semelhante à da Condessa de Vimioso,
que ingressou num convento.
▪ Insegura, tensa, inquieta e receosa de ficar só: “Tenho este medo, este horror de ficar
só…”.
▪ Mostra-se espantada e até indignada com a atitude tomada pela Condessa de Vimioso:
espantada, pois os esposos separaram-se sem razão aparente; indignada, já que essa
separação não lhe parece razoável.
▪ Por outro lado, mostra admiração pela força e pela virtude que a Condessa
demonstrou ao abdicar dos bens e amor terrenos, até porque não se vê capaz de tais
«perfeições», considerando a atitude dos condes como uma assunção de morte em
vida.
▪ Começa por repreender a esposa por esta continuar a mostrar-se crente em achar-se
“só no mundo”, como o demonstra a exclamação «Madalena!».
▪ Mostra-se dedicado, carinhoso e apaixonado pela esposa, o que se nota nas formas de
tratamento utilizadas: “Oh! queria mulher minha”.
▪ Mostra-se também preocupada com a fragilidade e a insegurança de D. Madalena ao
tentar apaziguá-la e ao deixar seu irmão Jorge fazendo-lhe companhia: “Jorge, não a
deixes”.
▪ É um homem seguro, pois sente-se protegido por Deus e convicto de que nada lhes
acontecerá: “A nossa situação é tão diferente (…) Em todas nos pode ele abençoar”.
▪ Os presságios:
- O receio de D. Madalena de ficar só no mundo.
- Os terrores de D. Madalena.
- O comentário premonitório de Frei Jorge, que antecipa a separação de Madalena e a
sua entrega à vida religiosa: “É perfeição verdadeira; é a do Evangelho: «Deixa tudo e
segue-me».”
- A história dos condes de Vimioso, referida pela boca de D. Madalena: “Vivos ambos…
sem ofensa um do outro, querendo-se, estimando-se… e separar-se cada um para sua
cova! Verem-se com a mortalha já vestida e… vivos, sãos… depois de tantos anos de
amor… e conveniência… condenarem-se a morrer longe um do outro, sós, sós! E quem
sabe se nessa tremenda hora… arrependidos!” Esta referência antecipa a separação de
D. Madalena e Manuel de Sousa, que serão obrigados a seguir o exemplo de D. Joana e
do marido, estabelecendo-se um paralelo entre os dois casais. De facto, a semelhança
entre os dois casos é evidente: tanto D. Madalena como Manuel de Sousa optaram
pelo afastamento da vida mundana, decidiram professar, tal como sucedeu à condessa
(que entrou no Convento do Sacramento em 1607) e a seu esposo (que professou
pouco depois em S. Domingos de Benfica). A reclusão conventual parece ser a
alternativa, na época, para os responsáveis por atos de menor dignidade ou nobreza –
a constatação do adultério de D. Madalena e a ilegitimidade de Maria e Manuel de
Sousa naquela família.
● Linguagem
▪ Comparação: “… parece que vou eu agora embarcar num galeão para a Índia…” –
sugere a grande angústia de D. Madalena.
▪ Ironia trágica das palavras de D. Madalena e Manuel de Sousa quando se referem aos
condes de Vimioso: “E que temos nós com isso? A nossa situação é tão diferente.” O
casal comenta a entrada dos condes de Vimioso para o convento como sendo um
sacrifício de que eles mesmos não seriam capazes: “… não sou capaz de chegar a essas
perfeições”; “E que temos nós com isso?” A ironia reside no desconhecimento de
estarem tão próximos de uma situação que julgam muito diferente da sua.
● Esta cena é constituída por uma única fala, sob a forma de monólogo, de Frei Jorge.
Nela, o frade, que até ao momento se tinha mantido distante de agouros e sempre
racional, qual coro da tragédia clássica, deixa-se contaminar pelo clima ominoso criado
e também ele começa a adivinhar que se aproxima uma tragédia.
● Deste modo, podemos concluir que a função deste monólogo é a seguinte: Frei Jorge
transmite os seus pensamentos mais íntimos, reafirmando, angustiadamente, o
pressentimento de uma iminente tragédia, que ele quer esconder a todo o custo da
sua família. Por outro lado, o monólogo, para o leitor, constitui uma preparação, um
indício trágico de uma desgraça futura.
● Frei Jorge desempenha, de novo, uma função idêntica à do Coro da tragédia clássica.
As suas palavras lembram-nos mais uma vez a sua atuação moderada e sensata ao
longo da peça, procurando sempre minimizar as preocupações da família e moderar as
suas reações. A apreensão que, agora, manifesta é, inevitavelmente, de mau agouro.
● Assunto
● Assunto
NOTA:
D. Madalena, geralmente tão sensível à previsão da desgraça, não é agora capaz
de estabelecer qualquer relação entre o Romeiro e a situação dramática que
sempre receou. De facto, o seu conflito com D. João, embora invisível, está
sempre presente (I, 1, 2, 3, 7 e 8; II, 1 e 10) e, nesta cena, é intrigante a quase
anestesia moral, em presença do Romeiro, de D. Madalena que, não obstante
todos os elementos de identificação por ele fornecidos, de forma direta,
embora velada, não reconhece o próprio marido, nem sequer pela voz.
▪ 1.ª parte (do início até “… logo, amanhã…”): o Romeiro revela o local onde viveu durante
os últimos vinte anos, os padecimentos que sofreu, a perda da família e a
certeza de ter um só amigo.
▪ 2.ª parte (de “Hoje há de ser…” até ao fim): a noção de que D. João está vivo e o estado
emocional de D. Madalena vão crescendo até
● Caracterização de D. Madalena
NOTAS:
6. D. Madalena grita pela filha e parece esquecer Manuel de Sousa. É que a filha é
ilegítima e Manuel de Sousa já não existe como marido. De facto, D. Madalena
grita que ela e a filha estão perdidas, pois o facto de D. João, o primeiro marido,
estar vivo a reduz à condição de mulher adúltera e bígama e torna a filha
ilegítima.
● Comentário da cena
NOTAS:
4.ª) Comparando esta cena com a última do primeiro ato, constata-se que
são ambas espetaculares e que o paralelismo de construção é uma constante no
Frei Luís de Sousa.
2.ª) a forma como Garrett segue o preceito aristotélico: "A mais bela forma de
reconhecimento é a que se dá com a peripécia".