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11º Ano – Turma C

Correção do Teste Formativo

Professor Rui Machado

1.

As imagens do incêndio perpetrado por D. Manuel ao seu próprio palácio


inflamam o patriotismo de Maria face ao exemplo de amor à pátria, de coragem e
determinação protagonizadas pelo pai, que pretendia, através desse gesto, dar uma
lição de dignidade aos governadores espanhóis e de patriotismo ao povo, levando-a,
afastando as dúvidas que a atinham atormentado em relação à lealdade à pátria do
pai, a manifestar profunda admiração pelo progenitor. Contrariamente, o incêndio,
para além de implicar o regresso ao palácio de D. João, o que aviventava terríveis
fantasmas que nunca conseguira afastar, impressionou-a imenso, particularmente
face à destruição do retrato de Manuel, que constituía terrível presságio do retorno
do primeiro esposo, entretanto avolumado pela circunstância, no momento em
reentrou nesse espaço, de lhe surgir, claramente iluminado, o retrato de D. João de
Portugal – inequívoco sinal, a seus olhos, de que este quadro substituiria, num plano
real, o anterior.

2.

A troca de papéis entre Madalena e Maria revela, por um lado, a precocidade


e desvelo da filha e, por outro, a extrema fragilidade emocional da mãe. De facto, D.
Madalena de Vilhena, impressionada pela sucessão de terríveis acontecimentos, o
incêndio do palácio de D. Manuel, em que retrato de D. Manuel foi consumido pelas
chamas, e o subsequente alojamento na casa do primeiro marido, com a
particularidade de, ao entrar na sala dos retratos, ver iluminado pela luz de um
pendão que empunhava o quadro de D. João de Portugal, mergulhou num desespero
profundo, temendo que o regresso a uma casa de um passado que a atormentava
pressagiasse o retorno desse tempo, estado de espírito que a clandestinidade do
esposo, que só ia à nova casa durante a noite, alimentava. Face a esta situação,
Maria, anteriormente censurada pela progenitora pelo entusiasmo com que acolhia
a crença no mito sebastianista, assumindo uma atitude protecionista, muito mais
própria de um adulto, desvaloriza os temores da mãe, escondendo o terror que tais
sinais lhe provocavam (“Ela, que não cria em agouros, que sempre me estava a
repreender pelas minhas cismas, agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato
é prognóstico fatal de outra perda maior… “E eu agora é que faço de forte e
assisada… que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé neles”).

3. Na sequência em questão, destaca-se uma enumeração, cujo efeito de


sentido se consubstancia na extraordinária impressão que o incêndio provocou em
Madalena, particularmente decorrente da apropriação visual (“Aquele palácio a
arder”) e auditiva (“”aquele povo a gritar”, o rebate dos sinos”), contribuindo
decisivamente para a angústia e prostração que assolaram a personagem.

4.

Na cena transcrita, emergem inúmeros aspetos que contribuem para o


adensamento do clima de tragicidade que envolve as personagens. Neste sentido,
atente-se que a cena em apreço se desenrola num espaço conotado com o passado,
o palácio de D. João de Portugal, numa altura em que D. Manuel, por receio de
retaliações dos governadores espanhóis, se refugiava durante o dia numa quinta no
Alfeite, apenas indo à nova casa durante a noite, momento em que, aliás, decorre a
ação, numa clara situação de ocultação da sua identidade, encapuzado, de modo a
não ser reconhecido. De igual modo, o afunilamento do espaço também concorre
para a atmosfera de inquietação que as personagens vivenciam.
Ainda sob esta perspetiva, note-se que Maria cita uma frase de Menina e
Moça, uma novela passional de Bernardim Ribeiro, cujo percurso de vida da
protagonista, separada, muito jovem, da família, se constitui num terrível presságio
do destino que se abaterá sobre a criança. Na mesma linha de ideias, sublinhe-se
também a alusão da jovem ao incêndio perpetrado pelo pai, gesto que aterrorizara a
mãe, particularmente face ao simbolismo trágico da destruição do retrato do
marido, devorado pelas chamas, situação que, a par de outras incidências, não lhe
havia permitido descansar nas primeiras sete noites no palácio do primeiro marido.
Finalmente, a par da troca de papéis entre Madalena e Maria, transmitida
através de um significativo quiasmo, releve-se a crença da personagem de que tais
factos constituíam “avisos” divinos para que a família se preparasse para uma
desgraça que tais sinais anunciavam, situação que aterra Telmo, apesar de o velho
aio tentar afastar a infeliz rapariga de tais premonições.

5.

No âmbito da sensibilidade romântica de Garrett, surgem na cena elementos


característicos dessa estética. Neste contexto, pode apontar-se de um ambiente
fatalista, particularmente evidente nos sinais de uma desgraça iminente
determinada pelo Destino (entidade que, na cena, nas palavras de Maria, é, sob os
auspícios do Romantismo, substituída por Deus), e a crença em agouros, o
patriotismo e a religiosidade.

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