Você está na página 1de 29

Sociologia Urbana

Apontamentos de: Irene


E-mail:
Data: 2012
Livro: Horta, Ana Paula Beja (coord.) 2007. Sociologia Urbana. Lisboa: Universidade Aberta.

Nota: Disponibilidade online de bibliografia adicional.

Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O
autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende
substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo
possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades.

Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da
Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.
1 - Sociologia Urbana – Âmbito disciplinar A Sociologia Urbana como cruzamento de Saberes
Âmbito das disciplinas sociológicas com “contornos atenuados”, O elemento estruturador do desenvolvimento da sociologia
porque a sociologia urbana é uma linha de pesquisa que não urbana tem sido a ausência de um “núcleo duro
possui um quadro técnico e interpretativo próprio. epistemológico” e de uma estrutura científica assente num
Área científica que se situa no âmbito das disciplinas conjunto de paradigmas e de teorias constituindo um todo
sociológicas e tem como principal objectivo o estudo da unitário e bem delimitado.
organização espacial e ambiental das cidades, o estudo das Assim, a Sociologia urbana apresta-se c/ um agregado de
cidades como um sistema próprio incluindo diversos sub- perspectivas teóricas, conceitos, análises e interpretações de
sistemas especializados. fenómenos e de problemas sociais e territoriais históricamente
Contribuições para a sociologia urbana: de sociólogos, contingentes.
antropólogos, geógrafos, economistas, historiadores, filosóficos, Para além da literatura, do cinema, da história, da psicologia,
arquitectos, urbanistas, escritores, poetas e teóricos sociais em das ciências económicas e políticas da engenharia, da urbanista
geral têm sido decisivas p/a um cruzamento transdisciplinar de e da arquitectura e de outras disciplinas c/ as quais a sociologia
saberes e p/a o desenvolvimento de novas teorizações sobre o urbana tem colaborado, salienta-se os seguintes campos
universo da sociedade urbana. científicos:
Por um lado, esta multiplicidade de perspectivas e a crescente Sociologia rural: trata de todos os aspectos das sociedades
permeabilidade entre fronteiras disciplinares na produção de rurais. Tal c/o na sociologia urbana este domínio disciplinar
narrativas urbanas são reveladoras da emergência da cidade c/o define-se mais pela sua transdisciplinaridade e pelo seu campo
“locus” privilegiado de análise. de acção do q por uma “escola de pensamento” propriamente
Por outro lado, a diversidade de abordagens aponta p/a a dita.
complexidade de uma área de estudo de múltiplos contornos, Sociologia das comunidades ou dos estudos de comunidade:
discursos e imagens q se entrecruzam num diálogo crítico e estudo das dinâmicas sócio-culturais, estilos de vida,
reflexivo sobre a realidade urbana. mentalidades e formas de organização social q se forjam em
O domínio da Sociologia Urbana é caracterizado pelas suas comunidades de pequena e média dimensão.
fronteiras ténues e flexíveis tem sido atravessado, nas últimas Sociologia de habitação: estudo das relações dos indivíduos e
décadas, por uma crescente pluralidade de narrativas e de dos agregados residenciais onde vivem e das dinâmicas sociais q
pesquisas empíricas vindas de outras disciplinas. Estas se estabelecem entre as uni//s residenciais e as estruturas
abordagens têm desafiado noções positivistas do urbano e habitacionais.
conduzido à produção de novas perspectivas sobre a cidade e Sociologia do ambiente: estudo do território e da cidade,
sobre a urbanidade. atendendo ao frágil equilíbrio entre as actividades sociais e s
Área disciplinar q visa o estudo da cidade nas suas dimensões recursos naturais.
sociais. Os padrões do comportamento da população urbana, as Sociologia das migrações: trata de um conjunto de problemas
relações entre populações urbanas e rurais, a emergência de sociais, culturais, económicos, políticos e simbólicos q
grupos sociais, movimentos, organizações, instituições e as estruturam as migrações humanas.
interacções entre estes diferentes actores constituem objectos Antropologia Urbana: sub-disciplina da antropologia,
de estudo centrais à disciplina. Objecto de estudo: estudo das desenvolve uma linha de inquérito antropológico sobre a
cidades como sistemas sociais. Estudo do comportamento das cidade. As abordagens adoptadas tendem a incluir modelos de
populações urbanas. A sua especificidade funda-se na análise ecologia urbana, de comunidade e de rede sociais. Um espaço
de fenómenos sociais (principal objectivo) q emergem numa privilegiado da antropologia urbana é a perspectivação da
dimensão espácio-temporal particular, a da cidade e a do cidade c/o espaço de manifestações simbólicas, culturais e
mundo urbano. sócio-políticas dos modos de vida urbanos. Um vasto conjunto
Para Mela, a sociologia urbana trata de uma realidade de etnografias urbanas sobre “culturas populares urbanas”,
multifacetada, constituindo um sistema social global q se identidades, migrações, etnicidade, pobreza e género no
imbrica e intersecta c/ os paradigmas e temas de interesse da contexto urbano tem vindo a problematizar novas formas de
tradição sociológica e das C.S. em geral. A sua especificidade inquérito antropológico sobre o fenómeno urbano.
funda-se na análise de fenómenos sociais (principal objectivo) q Geografia: a geografia urbana e a ecologia urbana têm sido
emergem numa dimensão espácio-temporal particular, a da áreas de grande intersecção c/ os estudos urbanos. Na geografia
cidade e a do mundo urbano. urbana, a investigação tem-se centrado em torno de múltiplas
Com a dificuldade em definir o q é o urbano e em delimitar o temáticas q visam a análise da estrutura espacial da cidade e
objecto de estudo da sociologia urbana, um conjunto de temas dos seus recursos. A ecologia urbana tem incidido sobre a
tem vindo a ser pesquisado de forma sistemática neste âmbito distribuição de populações e as suas actividades no espaço
disciplinar: história da urbanização e morfologias territoriais, urbano.
experiência de vida na cidade moderna, identidade e dinâmicas O domínio da sociologia urbana tem sido configurado por uma
de pertença territorial, impacto das desigual//s sociais, culturais rede de saberes multidisciplinares, q tem possibilitado a
e de género na organização sócio-espacial das cidades, pluralização de conhecimentos sobre a cidade e a experiência
processos de sociabilidade e na sua articulação c/ a pertença de vida urbana.
territorial, culturas urbanas e experiência de vida nas cidades Nesta estrutura pulverizada da sociologia urbana, os
modernas, problemas sociais q emergem nas cidades modernas paradigmas, teorizações e abordagens empíricas têm sido
tais c/o a pobreza e a violência urbanas, a delinquência, a influenciadas por contextos históricos, locais e nacionais
guetização, as tensões raciais e étnicas, a participação política e específicos.
movimentos sociais urbanos assim c/o no impacto das políticas
locais no quotidiano dos cidadãos.

1
Re-Imaginar a Cidade: Novas Perspectivas
Novos tipos de urbanização e urbanismo q caracterizam as
grandes metrópoles na América do Norte e do Sul, na Europa,
em África, na Ásia e na Austrália:
As profundas mudanças decorrentes dos processos de
globalização, da reestruturação sócio-económica, da
intensificação das migrações internacionais, dos fluxos de
informação em larga escala e das redes financeiras globais têm
reconfigurado a organização económica, social e espacial das
cidades. Cidades como Nova Iorque, Tóquio ou Londres são
citadas como exemplos paradigmáticos de cidades globais, ou
seja, centros de tecnologia, de informação, de finanças e de
serviços nos quais as dinâmicas das economias globais se
articulam com economias locais, afectando não só a base
económica das cidades mas também a sua estrutura espacial e
organização social.
Uma outra manifestação da cidade global é o q Castells (1989)
denomina por cidade da informação. A tecnologia da
informação assume uma centralidade sem precedentes na
história da humanidade, sendo um instrumento fundamental de
novas lógicas organizacionais e de mudança social no mundo
contemporâneo. Numa cidade de informação a indústria e os
serviços, as relações entre ricos e pobres, capital e trabalho,
organizações governamentais e não governamentais, indivíduo
e sociedade passam a ser reguladas por multinacionais
detentoras de tecnologias da informação q funcionam a nível
global.
No artigo, “Cidades europeias, sociedades da informação e
economia global”, Castells (1993) analisa o impacto da
sociedade de informação na estruturação das cidades
europeias. A emergência de um “dualismo urbano” q opõe uma
elite cosmopolita a comunidades locais q se debatem contra
forças macrológicas que dominam as suas vidas, é visto como
um factor de importância crucial na reconfiguração das cidades
europeias. Estes processos económicos e políticos têm
implicado novas formas de segregação espacial.
Cidades global e da informação: Los Angeles, Nova Iorque,
Londres ou São Paulo.
A construção de muros e de grades em áreas residenciais, a
privatização dos espaços públicos, a proliferação de sistemas de
vigilância e policiamento nas cidades, têm contribuído para a
criação de um “urbanismo fortificado” (Davis, 1992). Cidade
fortaleza, articulação entre relações sociais, estruturadas por
factores de género, classe, etnicidade, “raça” e a construção de
determinadas identidades espaciais q configuram as cidades
contemporâneas.
Os novos padrões de organização social do espaço público são
marcados pela crescente fragmentação da cidade em espaços
segregados q opõem “enclaves fortificados” das classes média
alta e alta a isolamentos e a zonas degradadas onde se
concentram populações de diversas origens étnicas, marcado
por práticas discriminatórias, racistas e por grandes
desigualdades de redistribuição social de riqueza.
Temáticas principais que sobressaem nos múltiplos discursos
sobre a cidade: as culturas urbanas, as experiências de vida, as
mudanças de percepção do tempo e do espaço, a fragmentação
do espaço urbano, as culturas visuais, a economia simbólica da
cidade e as novas formas de governação.

2
2 - As Origens das Cidades Este período foi marcado pelo desenvolvimento de sistemas de
Modelo teórico (Childe), referência paradigmática da história da irrigação, de cultivo e intensificação de redes comerciais com
urbanização e do urbanismo. A partir de uma perspectiva outros povoados.
evolucionista da sociedade, identifica três momentos no seu Kenyon sugeriu que a cidade como um espaço concretamente
processo de evolução: definido pelas muralhas emergia como uma unidade territorial,
1º Revolução neolítica ou agrícola (IX e VIII milénios a.C.): económica, social, e política capaz de criar uma cultura urbana e
passagem de sociedades de caçadores-recolectores para regional.
sociedades sedentárias e agrícolas. O desenvolvimento da Em Jericó o conhecimento do meio ambiente, a tecnologia, a
agricultura inicia a transformação da base económica, que dá capacidade artística e a organização social materializam-se na
origem a uma nova divisão social do trabalho. construção de um projecto público conscientemente desenhado
2º Revolução urbana: passagem da agricultura neolítica para e planeado, iniciando assim um processo de grande
sistemas complexos de manufactura e de comércio durante o IV transformação do sedentarismo e da produção social do espaço
e III milénios a.C. Para o Childe, a revolução urbana implica um edificado.
novo modelo social com características muito distintas da Por volta de 6000 a.C. a cidade foi abandonada, e povoada um
organização social neolítica: milénio mais tarde por populações menos avançadas. Na idade
1. Grande densidade populacional no espaço urbano. do Bronze (3000 a.C.) uma cultura mais sofisticada estabeleceu-
2. Surgimento de uma divisão de trabalho especializada, se na cidade evidenciando grandes capacidades artísticas e
artesãos, comerciantes, sacerdote e funcionários do estado. artesanal.
3. Controlo de terrenos agrícolas e armazenamento dos A história das cidades não é de forma alguma simples e linear,
excedentes. ela é caracterizada por padrões de desenvolvimento complexos,
4. Existência de uma classe dirigente com poder absoluto. por continuidades, descontinuidades, rupturas e por grandes
5. Invenção da escrita e de sistemas algébricos para transformações.
processamento de informação. Çatal Huyuk: Por volta dos 6000 anos a.C. era o maior
6. Desenvolvimento de formas culturais sofisticadas, arte, aglomerado urbano do neolítico. Chegou a atingir 6000
arquitectura e música. habitantes revelando o lugar a partir do qual é possível
7. Existência de rotas comerciais inter-regionais com outros percepcionar o início da evolução do urbanismo como modo de
centros urbanos. vida.
3º Revolução industrial (séc. XVIII XIX): aumento da população, O espaço urbano era denso aglomerado de casa com paredes
da produtividade do trabalho nos sectores industriais e na encostadas umas às outras. Sem ruas ou caminhos, as
agricultura – factores determinantes da expansão e do comunicações entre habitações eram feitas pelo terraço, assim
desenvolvimento do fenómeno urbano. como o acesso com uma escada de madeira por não terem
Para Childe, a emergência da vida urbana é o momento chave e portas para o exterior. Havia uma praça pública que servia de
revolucionário na história da civilização. mercado e átrios para depositar lixo. A expressão de práticas
Urbanização (Gottdiener): processo de formação e de religiosas revela-se na descoberta de oratórios. As pinturas
construção da cidade. O objectivo principal é estudar o modo revelavam o processo de transição de comunidades de
como as actividades sociais se organizam no espaço, explorando caçadores-recolectores para agricultores e sugerem a
a interdependência dos processos de desenvolvimento e de emergência e consolidação de uma ordem social marcada pelo
mudança social. género e possivelmente matricêntrica. Outras reconstruções
Urbanismo (Gottdiener): pretende compreender os modos de fornecem informações acerca da divisão social e espacial do
vida urbanos. Análises sobre as dimensões culturais, simbólicas, trabalho, criação de gado e ao trabalho agrícola. A descoberta
nos comportamentos do dia-a-dia e nos processos de adaptação de um mural num dos santuários, representava a paisagem
à cidade, na organização política, nos conflitos e tensões urbana de Çatal Huyuk, este mural revela uma panorâmica da
emergentes na cidade. cidade e constitui o primeiro fresco do género na história da
Outros autores – urbanidade: para designar os estilos de vida humanidade.
urbana, ou seja, a própria qualidade da cidade. Jericó e Çatal Huyuk representam uma mudança radical e
revolucionária no desenvolvimento social e espacial das
Primeiros povoamentos de grandes dimensões do período sociedades humanas.
neolítico: Soja (2001) – as interdependências e interacção social e cultural
Jericó: Os registos arqueológicos revelam e existência de um decorrentes da aglomeração populacional foram a força motriz
conjunto de casas circulares construídas com adobe, a rápida para o desenvolvimento económico, social, cultural, político e
expansão é acompanhada pela construção de uma muralha, simbólico.
flanqueada por uma torre. A população dedicava-se à A proximidade e a concentração espacial proporcionam formas
agricultura porque ainda predominava a recolha de alimentos. mais eficazes de colaboração social não só para a defesa e
As muralhas e a torre materializam já a construção social de um protecção das populações mas também para produção e
espaço bem delimitado e confinado. A existência de muralhas consumo de bens e serviços.
defensivas, de torre e de uma grande vala, sugeria a existência Aglomeração populacional papel importante na organização
de uma avançada divisão de trabalho e de uma ordem social colectiva do espaço, na divisão social do trabalho, na expansão
hierarquizada. A descoberta de crânios humanos nas torres da do comércio, nos rituais e práticas religiosas e na criação de
muralha, as quais têm vindo a ser consideradas como lugares múltiplas formas de arte, de criatividade e de inovação.
possíveis da prática do culto de caveiras. Foram encontradas Jericó e Çatal Huyuk permitem a exploração dos primórdios do
outras duas estruturas com vários vestígios, que apontavam desenvolvimento urbano e da cultura urbana como um novo
para a existência de práticas religiosas. modo de vida.

3
As cidades da Antiguidade – Cidades-Estado e Impérios Atenas e Roma: salientar a relação complexa entre a dimensão
Cidades-estado: cidades que controlavam áreas e regiões económica e factores de ordem política, religiosa e simbólica
vizinhas, incluindo outros aglomerados, pequenos povoamentos que se entrecruzam na produção social do espaço urbano. Em
e áreas agrícolas. Vão conquistando e fazendo alianças com Atenas o espaço foi construído por razões cosmológicas e
outras cidades, dando origem aos primeiros impérios urbanos. políticas. Em Roma, a organização espacial tem por base a
Estes dominavam extensos territórios sob a égide de uma única glorificação dos imperadores e do império.
cidade central.
Cidade de Ur – caso ilustrativo da emergência de um novo tipo As Cidades da Antiguidade – Reflexões Críticas
de urbanização e de urbanismo, característico das cidades- Childe – Perspectiva evolucionista: a base do aparecimento da
estado antigas. Exemplo da cidade-estado da Antiguidade. Um cidade tem a ver com a transformação da base económica, da
dos principais centros onde se desenvolveu uma nova divisão caça, da pesca e das colheitas para a produção agrícola e
social e espacial do trabalho. Esta deveu-se à emergência de pastorícia. O fenómeno social é explicado a partir das
novas relações de produção fundadas na propriedade privada, transformações na base material da sociedade, ou seja, nos
no regime patriarcal e na formação de uma ordem hierárquica meios de produção e nos recursos físicos e tecnológicos
de classes sociais associada ao processo de desenvolvimento da existentes em determinadas épocas.
cidade-estado. A sua morfologia fornece dados importantes Eisentadt e Shachar: as cidades não são necessariamente
sobre a organização espacial da cidade, existência de redes de resultantes de aglomerados agrícolas. A disponibilidade de
relações com o exterior, comércio inter-regional, troca e difusão excedentes agrícolas e o aumento de população estão na base
de tecnologias, movimentos populacionais e conquistas do nascimento da cidade e da urbanização no mundo Antigo.
militares. Era uma cidade murada com um aspecto mais oval. Soja – surgimento da urbanização e do urbanismo: reconhece as
Os primeiros centros urbanos surgem: da conjugação de um virtualidades de uma abordagem do desenvolvimento histórico
conjunto de factores: condições ecológicas, excedentes das sociedades humanas fundada numa dialéctica sócio-
agrícolas, comércio e complexa estrutura social (existência de espacial, a agricultura, a pastorícia, o comércio e a indústria, o
uma divisão social de trabalho e de relações hierárquicas de planeamento, a centralização da autoridade política, a formação
poder. de classes sociais e lutas de classes surgem nas cidades e das
Similaridades e diferenças: 1- a história das primeiras cidades cidades e estiveram sempre relacionadas coma as
obedece a padrões de desenvolvimento marcados por especificidades urbanas da divisão social do trabalho. A
continuidades, descontinuidades, mudanças radicais, avanços e produção e reprodução das relações sociais, o autoritarismo
recuos. 2- a densidade populacional das cidades antigas era patriarcal e a exploração de classe ganham expressão material e
relativamente baixa em relação com as do presente. 3- a simbólica nas espacialidades urbanas e desempenham um papel
maioria destas cidades eram muradas e os desertos fundamental nas dinâmicas de produção e reprodução social.
circundantes eram vistos como uma forma de defesa e de Espacialidade urbana (Soja): diz respeito quer ao ambiente
protecção e todas tinham uma cidadela murada com um edificado (edifícios, monumentos, ruas, parques) quer aos
templo, um palácio e um celeiro central. 4-em relação à padrões do uso da terra, riqueza económica, identidade
estrutura as primeiras eram teocracias (predominava o clero), cultural, divisões de classe e a todo um conjunto de atributos,
governadas por ”reis-deuses” totalitários e fortemente relações sociais e práticas individuais e colectivas dos habitantes
hierarquizadas, noutras cidades as estruturas de poder eram dos espaços urbanos.
menos rígidas, mas os primeiros centros urbanos são Soja – Perspectiva espacial crítica: interpreta a sociedade
caracterizados por acentuadas desigualdades sociais. 5- as humana como sendo “Intrinsecamente urbana”. Identifica três
condições de vida nas cidades eram muito precárias, nas principais momentos “revolucionários” na história da
cidades onde as divisões das classes eram menos marcadas, os humanidade:
habitantes tinham um melhor nível de vida. 1- Primeira revolução urbana: os estímulos da
aglomeração urbana estiveram na base do surgimento
Atenas e Roma de uma nova produção social através da invenção da
Atenas: construída em honra da deusa Atena. Era designada por agricultura, criação e desenvolvimento do artesanato e
um círculo e no centro encontrava-se a ágora que era o das actividades de troca e comerciais.
mercado que era o centro da comunidade. 2- Segunda revolução urbana: mais uma vez os estímulos
A Pólis traduzida como cidade-estado ou comunidade auto- do aglomerado urbano foram instrumentais para o
governada constituía-se como uma comunidade de pertença e desenvolvimentos de inovações tecnológicas.
como organização política e social fundada num ideal Inovações na esfera da reprodução social geraram
comunitário, a partir do qual se definia a condição de cidadania novas formas de governação e de administração de
dos seus residentes. Simbolizava o ideal de “vida boa” a qual se territórios e de populações, possibilitando a
materializava na cidade como espaço de igualdade, equilíbrio, manutenção de sociedades coesas e a reprodução de
harmonia e moderação. práticas culturais. Paradigma: constituição do “estado
Roma antiga: caracterizada por habitat favorável, pela imperial” e de todo o seu aparelho administrativo
capacidade de produzir mais-valias económicas e uma complexa associado à criação das cidades-estado.
estrutura social. Roma exibia um modelo social e politico 3- Terceira revolução urbana: a inserção no espaço
fundado num código imperial que privilegiava o poder militar, a urbano da manufactura industrial. A industrialização e
riqueza e excesso. Tal como Atenas, apresentava uma teia as migrações para as cidades obrigaram a uma
complexa de espaços funcionais que se entrecruzavam com reorganização do espaço urbano, de forma a fornecer
espaços construídos por uma simbologia política e cultural. O as infrasestruturas para a reprodução social capitalista
centro era constituído por um mercado, um fórum e edifícios a nível local, regional, nacional e global. O capitalismo é
monumentais. A partir do centro a cidade desenvolvia-se de assim, concebido como um modo de produção
forma radial e bem organizada. “essencialmente urbano”.
4
Gottdiener – Abordagem sócio-espacial: privilegia a relação dual Mumforf: sugere que foi precisamente a formação das cidades,
entre as pessoas e o espaço. Os actores sociais não são só tanto na Europa como na Ásia, que está na base da expansão
agentes de mudança, são também, influenciados pelos espaços comercial.
em que habitam. As cidades da Antiguidade são concebidas Desenvolvimento do comércio e da manufactura são
como o resultado de mecanismos culturais e sociais e das considerados como fortes estímulos para a expansão da vida
dinâmicas da sua base económica. urbana na Idade Média.
Benevolo: a organização social e política da cidade medieval
Cidades Medievais e Renascentistas tem implicações directas na configuração do espaço urbano. A
Factores que contribuíram para os baixos níveis de urbanização estrutura da cidade reflecte a presença e o equilíbrio entre
registados na Europa desde o séc. VII até ao séc.X: vários poderes (episcopado, governo civil, ordens religiosas
desorganização politica e social, falta de condições económicas corporações, classes) e vários centros (religioso, civil, um ou
e administrativas para gerir as grandes cidades, o declínio das vários centros comerciais). O espaço urbano é igualmente
actividades comerciais e um clima generalizado de insegurança dividido em quarteirões, paróquias e bairros, cada um com a
provocado pelas sucessivas invasões bárbaras. sua organização própria, símbolos e uma organização política
O período da Idade Média é caracterizado por um grande individualizada.
desenvolvimento de centros urbanos: A partir do séc. XV durante todo o período da Renascença as
Médio Oriente: no séc. XV, a hegemonia islâmica conquista cidades ganham uma nova proeminência. Desenvolvimento da
antigas cidades construídas pelos romanos, tais como cultura, das artes, das ciências e da arquitectura.
Constantinopla. Surgem mais dois outros tipos de aglomerados
urbanos a “Villes Crées” e as “Villes Spontanées” que O Capitalismo e a Cidade Industrial
constituíram centros estratégicos de comércio e de No séc. XVII, regista-se aumento de produtividade nos sectores
administração que os soberanos islâmicos utilizavam para industriais e na agricultura, alguns autores denominam o
controlar e expandir o seu domínio por grandes áreas terceiro “momento revolucionário” da história da civilização – A
territoriais. Revolução Industrial séc. XVIII
Índia: Séc. XI e XVIII, as cidades surgem como centros onde o A emergência de uma economia capitalista, a industrialização e
poder real e o comércio se intersectam. A sobrevivência dos a explosão demográfica são as principais razões para a expansão
núcleos urbanos está mais dependente do poder do Estado do do fenómeno urbano.
que da riqueza gerada no seio do próprio espaço urbano. A deslocação maciça das populações do campo para a cidade
América Latina: Azteca e Inca registam um grande assume um papel crucial na evolução de novos padrões de
desenvolvimento e expansão. Surgem associadas às actividades urbanização.
agrícolas de clãs familiares e a sua organização estrutura-se em O nascimento da cidade industrial assenta num conjunto de
torno destas divisões sociais. Com uma economia fundada num pressupostos de ordem económica que estão na base do
sistema comercial de troca e no artesanato, a grandiosidade de fenómeno urbano. Se as causas económicas têm sido
Tenochtitlán advém, sobretudo da sua função enquanto centro fundamentais para a criação dos espaços urbanos (revolução
do poder azteca e de todo o seu aparelho administrativo. neolítica e revolução urbana) é também verdade que factores
Processos de urbanização na Europa da idade Média: de ordem política, cultural e religiosa intervêm igualmente, de
Durante vários séculos as pequenas cidades, vilas e outros forma decisiva na formação das cidades (Gottdiener).
aglomerados urbanos existentes na Europa eram lugares Alguns autores: a inclusão no espaço urbano das manufacturas
fortificados e centros administrativos, políticos e religiosos. Com industriais constitui a força motriz para aquilo que denominam
um número baixo de habitantes, os níveis de produção eram por “terceira revolução urbana”.
reduzidos, levando à estagnação social e urbana. Soja - No séc. XVIII os processos de urbanização e de
Organização social e simbólica do espaço urbano: os industrialização assumem tal amplitude que o capitalismo
aglomerados desta época revelavam o modo como o industrial é visto como sendo fundamentalmente um modo de
património antigo é apropriado e modificado assim como novas produção urbana”.
racionalidades emergem como eixos estruturados das cidades
da alta Idade Média. Crescimento da População Urbana na Europa (Séc. XVIII-XX)
Durante a alta Idade Média a vida urbana conheceu um período Final do séc. XVIII cidades europeias com população reduzida.
de estagnação. Séc. XIX com o desenvolvimento da industrialização capitalista
A partir do séc. X as cidades europeias começam a crescer a as cidades aumentam a sua densidade populacional.
nível económico, social e político. As maiores mudanças registam-se na Inglaterra e no país de
Várias razões que subjazem ao renascimento das cidades: Gales, o grau de desenvolvimento do sistema capitalista e
Pirenne: a intensificação do comércio constitui um factor industrial é o mais avançado da Europa.
determinante na criação das cidades medievais. A sua análise
sobre as cidades da Idade Média é reveladora de um processo Manchester no centro do capitalismo Industrial – Estudo de Caso
inicial de fixação da população mercantil em aglomerados Entre 1770 e 1850, Manchester transformou-se na primeira
urbanos, e consequentemente da formação e florescimento das cidades industrial capitalista, a “chaminé do mundo”, a segunda
cidades medievais. maior cidade inglesa. Um primeiro factor tem a ver com a
Max Weber: defende o imperativo económico das cidades da implantação na cidade do sistema industrial. A concentração
Idade Média, ao contrário da polis da Antiguidade, cuja da indústria na cidade teve profundas implicações na
estrutura económica é orientada para o expansionismo militar reorganização do espaço urbano.
as cidades medievais fundam-se na actividade económica e Soja – Três anéis principais que caracterizam a organização
visam o lucro. Segundo Weber, a guerra é um instrumento ao sócio-espacial da cidade de Manchester nos princípios do séc.
serviço dos interesses económicos dos burgueses. XX:

5
1- Área concêntrica no centro da cidade, onde fica a
classe trabalhadora e o “exército de reserva”.
2- Anel mais regular e menos povoado, onde predomina a
classe média burguesa.
3- Subúrbios da cidade onde se concentra a alta
burguesia, detentora de grandes propriedades.
O exemplo de Manchester é bem ilustrativo do modo como o
capitalismo se traduziu numa matriz de segregação bem
definida, como expressão material das desigualdades sociais e
de classe.
Esta nova estrutura espacial é caracterizada pela fixação da
população nos centros urbanos, produção, emprego e uma
concentração residencial concêntrica coincidente com as
divisões sociais de classe.

6
3 -Karl Marx e Friedrich Engels: As Teorias do Conflito e a 2- Gesllschaft ou Sociedade. Baseia-se em atitudes e
Cidade valores individualistas, calculistas e racionais. Este
Para Marx e Engels, o fenómeno humano era perspectivado a modo de vida é típico das metrópoles com um
partir de duas dimensões fundamentais: “agregado mecânico” caracterizado pelo
1- A cidade era entendida como a expressão da lógica individualismo, egoísmo e hostilidade. Para Tonnies a
capitalista, ou seja, o modo como o sistema capitalista evolução das sociedades europeias é marcada por um
determina os padrões de urbanização. processo gradual de substituição de modelos
2- O processo de urbanização é interpretado como uma comunitários por modelos societários.
condição necessária para a construção do socialismo, Uma das virtualidades da teoria de modelos comunitários de
pois, as cidades constituem-se como espaços de Tonnies: possibilidade de analisar a evolução de diferentes tipos
consciencialização e de emancipação. de sociedade e de problematizar diferentes formas de
O interesse na questão urbana reside nas dinâmicas do modelo organização social, num mesmo tempo e em diferentes espaços.
de produção capitalista e n modo como estas criam Durkheim também desenvolve categorias dualistas para explicar
determinados padrões de urbanização. as rápidas mudanças sociais ocorridas nos finais do séc. XIX.
O sistema capitalista é entendido como sendo um factor Seguindo a perspectiva de Tonnies, Durkheim elabora um
determinante na emergência de cidades como espaços de quadro conceptual que tem como eixos fundamentais as noções
desigualdade, de exclusão e de segregação das camadas dicotómicas de Solidariedade Mecânica e de Solidariedade
populacionais mais pobres e desfavorecidas, às mãos de uma Orgânica.
burguesia dominante e poderosa. Solidariedade Mecânica refere-se aos laços sociais que unem as
Engels – análise aprofundada da cidade industrial de pessoas com base numa comunhão de crenças, costumes,
Manchester, da extrema pobreza, degradação e privação em rituais e símbolos. Este modelo social é caracterizado pelo
que a classe trabalhadora se encontrava. Analisa a cidade predomínio de uma consciência colectiva, pela homogeneidade
industrial como um “ microcosm” da sociedade capitalista, e indistinção entre os seus membros.
Engels salienta três principais aspectos: Oposto a esta noção, o conceito de Solidariedade Orgânica
1- O modo de produção capitalista tende a produzir um pretende explicar a sociedade moderna como o resultado de
modelo de dupla concentração de capital e de um processo de evolução e de diferenciação social.
trabalhadores. A cidade é concebida em termos de um modelo fundado na
2- O desenvolvimento da cidade industrial está interdependência funcional, decorrente de uma complexa
directamente associado à emergência de uma nova divisão social do trabalho. A sociedade moderna é entendida a
organização espacial. O modo de produção capitalista partir das relações de dependência que os seus membros
não permite a resolução dos problemas habitacionais estabelecem entre si para poderem sobreviver.
com os quais s trabalhadores industriais e a “petty Esta forma específica de organização social, para Durkheim, é
bougeoisie” se deparam. A renovação urbana é central na compreensão das profundas mutações sociais e
inviabilizada pela própria lógica do sistema capitalista. económicas provocadas pelo rápido crescimento do capitalismo.
3- Engels centra a sua análise nos problemas sociais Durkheim valoriza as formas modernas de solidariedade
resultantes das rupturas ocorridas nas sociedades orgânica em detrimento do modelo mecânico.
tradicionais e na emergência da sociedade capitalista. Comparação das perspectivas de Durkheim e Tonnies:
Ao articular as condições de trabalho com as condições 1- No estudo dos processos de mudança de sociedades
habitacionais sublinha o modo como a reprodução das pré-modernas para sociedades modernas, tanto
relações sociais está estritamente ligada à reprodução Tonnies como Durkheim introduzem uma tipologia
do sistema capitalista. Dada a incapacidade do dicotómica com base em categorias dualistas
capitalismo em fornecer condições de habitação dignas (Sociedade/Comunidade; Solidariedade Mecânica/
aos trabalhadores, e dada a situação de extrema Orgânica).
pobreza em que estes se encontram, a capacidade de 2- Esta classificação implicou a hierarquização
reprodução social das futuras gerações proletárias representacional da realidade, em termos de valores e
seria seriamente comprometida, o que constituía uma de ideias. Os modelos de classificação e de hierarquias
ameaça para o futuro do próprio modelo capitalista. de Durkheim marcou o pensamento sociológico ao
Marx e Engels: se as grandes cidades são o reflexo dos conflitos longo dos tempos.
e antagonismos entre classes sociais, elas são, igualmente, 3- Para Tonnies, a modernidade e a vida urbana
perspectivadas como espaços de consciencialização e de implicavam a destruição de formas tradicionais de
emancipação da classe trabalhadora. integração social, provocando rupturas sociais,
conflitos e alienação.
Ferdinand Tonnies: Entre a Comunidade (Gemeinschaft) e a 4- Durkheim valoriza a modernidade como um modelo
Sociedade (Gesellschaft) superior de organização social que permite novas
Émile Durkheim: Solidariedade Mecânica e Orgânica formas de coesão, de desenvolvimento e de liberdade,
Na análise dos processos de mudança social Tonnies e Durkheim resultantes de acordos estabelecidos entre os
introduzem tipologias dualistas: membros da sociedade. Mas, além dos acordos sociais,
Tonnies descreve dois tipos de vida social: as sociedades necessitam de uma regulação moral que
1- Gemeinschaft ou Comunidade. Este conceito pretende as sustente.
caracterizar espacialmente a aldeia rural e socialmente
a comunidade rural, baseada em relações de
parentesco, de amizade e de vizinhança existentes num
determinado território.

7
Max Weber: Perspectiva Histórica e Comparativa das Cidades resposta a uma economia de dinheiro. Este “espírito
Visão mais alargada dos processos da modernidade e do calculista” que permeia as interacções sociais dos
fenómeno urbano. habitantes da metrópole associa-se a pontualidade, a
A partir da análise histórica e comparada das cidades na Europa, exactidão e a interdependência. A racionalidade da
no Médio oriente, na Índia e na China, Weber propõe uma sociedade urbana impõe novas modalidades e ritmos
tipologia das cidades. de vida regidos pelo cumprimento de horários que
Ao estudar o desenvolvimento das cidades europeias, defende tendem a configurar a personalidade de cada
que estas se foram especializando em certas funções que indivíduo. A sua análise sobre as consequências
passaram a dominar as suas actividades: culturais de uma economia de dinheiro é um
Umas constituíram-se como verdadeiras cidades do Príncipe, importante contributo para a abordagem da
com o tempo estes núcleos urbanos passaram a ser espacialização de formas culturais como elementos
denominados por cidades sede de governo. Identifica também, constitutivos das relações sociais.
as cidades-fortalezas, para abrigar tropas e regimentos inteiros. 3- Simmel refere o objectivismo que a economia
Outras tornam-se grandes centros de comercialização de monetária imprime nas dinâmicas pessoais e nas
mercadorias – cidades comerciais, ex: Frankfurt. Outras devido condutas sociais que caracterizam a vida nas
às boas infraestruturas portuárias passaram a especializar-se no metrópoles. A divisão social do trabalho e a progressiva
intercâmbio comercial – cidades portuárias. especialização a que estão sujeitos os indivíduos são
Com base nos estudos sobre história urbana no contexto responsáveis por uma perda de “espiritualidade e de
europeu, Weber propõe um modelo ideal (tipo ideal) de uma subjectividade”. Assiste-se a um processo de
comunidade urbana: despersonificação e de impessoalização. O contexto
1- Numa comunidade urbana predominam as relações urbano potencia uma “cultura impessoal” onde
económicas e comerciais. Weber salienta a persistem racionalidades individualistas, economicistas
interdependência económica. e objectivas.
2- A comunidade urbana é caracterizada por uma certa 4- Em reposta aos estímulos, tensões, contradições e às
autonomia política, militar e administrativa. rápidas mudanças da vida nas metrópoles, os
Importante para criar vínculos de pertença e de indivíduos desenvolvem uma “atitude blasé”:
lealdade nos habitantes e gerar um processo de estratégia de adaptação aos estímulos constantes d
identificação com o espaço urbano. mundo urbano, implicando uma atitude de indiferença
3- A comunidade urbana implicava a existência de e de distanciamento face à realidade do dia-a-dia nas
associações e de organizações através das quais os grandes cidades. Emerge como expressão do
seus habitantes participariam nas dinâmicas sociais, anonimato, da solidão, da fugacidade dos encontros e
culturais e políticas da cidade. desencontros e da instrumentalização das relações
Ao contrário de Durkheim, a cidade moderna para Weber não sociais que caracterizam a cultura moderna.
constituía um exemplo de uma “vida boa”.
Contributos mais importantes destes teóricos:
George Simmel: A Metrópole e a Experiência da Modernidade Um traço comum – a cidade não constitui um objecto de
A abordagem sociológica da cidade proposta por Simmel centra- análise, mas sim, apresenta-se como a manifestação visível de
se nas vivências dos seus habitantes, nas suas representações processos sociais mais abrangentes que se prendem com o
mentais, códigos e modos de percepção que emergem no contexto histórico das sociedades industriais.
contexto urbano e que resultam da cultura da modernidade. Tonnies, Simmel e Weber analisaram os contrastes entre o
Reacções dos indivíduos às dinâmicas urbanas são geradoras de mundo rural e o urbano, salientando a estrutura social da
um modo de vida e de uma cultura urbana específicas – traços cidade.
mais importantes: Simmel oferece-nos uma abordagem sócio-psicológica da
1- A vida urbana é caracterizada por processos de cidade, evidenciando os processos de adaptação dos habitantes
intelectualização e racionalização. Carácter racional das grandes metrópoles às novas lógicas da modernidade. A
da vida mental da metrópole torna-se compreensível experiência urbana é marcada por uma sociedade industrial,
por oposição ao da pequena localidade que se baseia caracterizada por uma complexa divisão de trabalho e assente
mais em sentimentos e emoções. O sujeito em racionalidades económicas, individualistas e calculistas.
metropolitano reage de modo racional pelo Para Tonnies a comunidade (Gemeinschaft) era caracterizada
aprofundamento da sua consciência e a criação de uma pela sua humanidade e a (Gesellschaft) a sociedade pelo
reserva mental. A qualidade intelectualista afigura-se individualismo e brutalidade.
como uma estratégia de protecção da vida interior, Durkheim inverte esta ordem, categoriza a vida rural e tribal
desenvolvida pelos habitantes dos grandes centros como sendo arcaica e primitiva em oposição à vida urbana que
urbanos face às mudanças bruscas e aos estímulos é concebida como uma forma organizacional mais evoluída e
constantes a que são sujeitos. Esta atitude de reserva potencialmente libertadora. Chama a atenção para a cidade
traduz-se em comportamentos de distanciamento moderna como um espaço de conflito e de alienação.
social, de indiferença e de insensibilidade., Para Marx, Engels e Simmel, por um lado existe um
privilegiando o anonimato como estratégia para a determinado grau de valorização da estrutura social urbana que
preservação de um espaço pessoal e de fuga à hiper- potencia o desenvolvimento pessoal e espiritual
estimulação das interacções sociais. proporcionando um maior grau de liberdade, por outro lado, o
2- Os efeitos da industrialização e da monetarização da modo de vida na cidade tende a promover o anonimato e a
economia são elementos fundamentais na indiferença.
estruturação das relações sociais na cidade. As
relações sociais assumem um carácter “calculista” em
8
Para Marx, Engels e Weber o modo de produção capitalista é McKenzie a estrutura espacial da cidade é entendida como um
responsável pela natureza das relações sociais específicas à sistema ecológico, no qual a posição ou localização assumia
cidade industrial. uma dimensão central na luta pela sobrevivência tanto ao nível
Para Simmel as grandes metrópoles tendem a produzir uma do indivíduo, como do grupo, da empresa u da instituição no
cultura urbana que lhes é específica. espaço urbano.
Ernest Burgess Modelo das Zonas Concêntricas (teoria de
A Tradição Americana: 1915-1938 crescimento e de diferenciação urbana e enquadrado na
Robert Park e a Escola de Chicago de Sociologia Urbana perspectiva teórica da Escola de Chicago de Sociologia urbana):
Com a industrialização, o rápido crescimento urbano e os O modelo de zonas concêntricas proposto por Burgess, funda-se
constantes fluxos migratórios para as cidades no séc. XX, na perspectiva da ecologia humana, desenvolvida pelos
transformaram Chicago um exemplo paradigmático da nova sociólogos da Escola de Chicago, nos princípios do séc. XX. De
sociedade moderna industrializada e urbana. especial importância é a análise dos processos de invasão,
No Departamento de Sociologia criado em 1892 na sucessão, centralização e descentralização, no estudo do
Universidade de Chicago, os teóricos e cientistas sociais fenómeno urbano. Com base na teoria da competição pelo
fundaram a Escola de Chicago de Sociologia Urbana que ficou espaço, o modelo explica a distribuição espacial dos diversos
associada às origens da sociologia urbana nos Estados unidos da sectores da população, da indústria e do comércio na cidade de
América. Chicago. O modelo explica os movimentos populacionais em
Os autores da Escola de Chicago fundaram uma verdadeira termos de centralização e descentralização. O modelo mostra
escola de Sociologia Urbana, desenvolvendo uma série de como a organização social da população está inscrita. Zona I –
teorias que procuravam interpretar o desenvolvimento das Distrito de negócios situado n centro da cidade. Zona II – Área
cidades americanas e o modo de vida urbano. Articularam os de transição onde se concentra a indústria e negócios, zona
padrões da organização social com a dimensão espacial. As degradada e ocupada por migrantes e outros grupos. Zona III -
pesquisas fundaram-se na observação directa de interacções Área habitacional povoada por trabalhadores, sendo a maioria
sociais, a partir das quais se pretendia identificar as novas descendentes dos primeiros fluxos de migrantes. Zona IV – Área
formas de organização social. Basearam-se muitos deles em habitacional da classe média, existência de áreas residenciais
métodos de natureza etnográfica e procuraram entender fechadas a comunidades étnicas e raciais.
dinâmicas sociais associadas a comunidades e grupos Críticas: - Estudos desenvolvidos nesta área viriam a questionar
marginalizados (por ex. emigrantes) e a fenómenos sociais a sua dimensão universal, assim como a sua aplicabilidade a
problemáticos. Esta sua actividade científica articulava-se com qualquer cidade nos Estados Unidos da América. – Os conceitos
uma crença na possibilidade de reformar a sociedade, no de competição acentuada entre indivíduos e grupos e com
sentido de produzir melhorias substanciais nas condições de movimentos populacionais de grande dimensão: a natureza e a
vida urbanas. Os investigadores da Escola propõem formas amplitude desta competição não são aspectos intrínsecos à
inovadoras de investigação e novas metodologias baseadas no cidade industrial, mas sim têm de ser entendidos histórica e
trabalho de terreno e no contacto directo com a cidade e com espacialmente. – O aspecto biológico como factor determinante
os diferentes grupos que a constituem. Os processos de na teoria ecológica da cidade, a qual tende a relegar para
integração cultural e social e a desagregação social estão na segundo plano as questões culturais e a representação dos
base de um conjunto de trabalhos empíricos célebres. processos de urbanização com uma realidade equilibrada tende
Robert Ezra Park, foi o fundador da escola. a ofuscar as desigualdades, conflitos e tensões que estruturam a
Os cientistas da escola demonstravam interesse no estudo da organização social e espacial da cidade.
sociedade e da vida urbana a partir de uma perspectiva
ecológica. Debate sobre a Ecologia Humana
Park: a organização social da cidade era entendida com base nos Ecologia Humana: teorização da cidade a partir de uma
pressupostos da biologia evolucionista. Influenciado por Darwin, perspectiva ecológica, constitui a primeira tentativa de
defende que as forças que estruturam as comunidades no reino estabelecer uma teoria social urbana.
animal e vegetal desempenham um papel importante no Warde e Savage: os contributos dos sociólogos da Escola de
desenvolvimento das comunidades humanas. Chicago não se esgotaram numa abordagem ecológica da
Park - A sociedade compreendia dois diferentes níveis de cidade, penetraram nas diferentes áreas do social, do cultural,
organização: o biótico: diz respeito às formas de organização do económico e do político. Principais áreas de investigação e
resultantes da competição entre as espécies na luta pela de intervenção da Escola de Chicago: - A análise dos padrões de
sobrevivência e o cultural: refere-se aos processos simbólicos e interacção social e códigos morais - A pesquisa sobre o
psicológicos de adaptação do indivíduo à vida urbana, os quais desenvolvimento da modernidade e o seu impacto na
se prendem com a existência de laços de pertença e de partilha organização espacial da cidade moderna - A integração social e
de sentimentos em comum. a adopção de políticas com vista à constituição de formas
Park Modelo social denominado por o ciclo de relações raciais: sociais de cooperação.
explicar a natureza das relações raciais em termos de quatro
fases: competição, conflito, acomodação e assimilação. Louis Wirth e a Problemática do Urbanismo
As comunidades imigrantes e a sociedade americana eram Louis Wirth propõe uma abordagem diferente sobre as
caracterizadas por situações de competição por um conjunto de questões urbanas. Para ela a questão fundamental é de saber o
recursos necessários à sobrevivência do grupo, o contacto que é que existe de específico à cidade que produz o que se
directo entre os grupos com estatutos diferentes conduziria a poderia chamar de um estilo de vida urbano.
conflito social, o conflito daria lugar a acomodação e relações Wirth centra-se no estudo das características das pessoas que
consensuais entre grupos. Por fim culminaria na assimilação das vivem na cidade e no modo como as vivências na cidade
comunidades étnicas e raciais aos valores, crenças atitudes e produzem uma cultura distinta – a cultura urbana.
práticas da sociedade dominante.
9
Para Wirth as mudanças nos modos de vida urbana deviam-se a
três factores principais:
1- Dimensão do agregado populacional
2- Densidade
3- Heterogeneidade
Factores estreitamente relacionados entre si e contribuem para
o modo de vida urbano. Wirth não se apresentava optimista
relativamente à vida na cidade: esta era caracterizada pela
erosão das relações primárias, as quais tendiam a ser
substituídas por relações secundárias, utilitárias e impessoais.
Quanto maior fossem a dimensão do agregado populacional, a
densidade e a heterogeneidade, maior seria a possibilidade de
se verificar as seguintes condições de vida urbana:
Dimensão do Agregado populacional:
- Diversificação e individualização
- Competição e mecanismos formais de controlo social.
- Grande especialização e segmentação dos papéis sociais.
-Anonimato, superficialidade e utilitarismo nas relações
interpessoais.
Densidade:
-Intensifica os efeitos da dimensão do agregado populacional.
-Intensificação da atitude blasé.
-Maior capacidade para viver com desconhecidos e maior stress
-A fuga de espaços com grandes densidade procura o
desenvolvimento de espaços periféricos e o aumento do custo
do solo nos subúrbios.
-A densidade intensifica competição.
Heterogeneidade:
-Quanto maior, maior a tolerância entre grupos.
-Permite diluir as fronteiras entre classes e grupos étnicos.
-Compartamentalização dos papéis individuais e sociais de
acordo com diferentes círculos de contacto. Intensificação do
anonimato e despersonalização na vida pública.

10
4 – A sociologia Urbana no período pós-Guerra - acção do sector público com vista à organização do consumo
Déc. 50, séc. XX desenvolvimento das técnicas de pesquisa colectivo.
quantitativa, utilização de métodos estatísticos. - tentativas de controlo das tensões sociais produzidas pela
A análise ecológica de Hawley – 1950 forneceu informações materialização no espaço dos processos de segregação étnica e
importantes. social (Castells).
Com o objectivo da descrição das desigualdades sócio-
residenciais são desenvolvidos novos métodos quantitativos: A nova Sociologia Urbana
“Social área analysis”, análise de “Cluster” e a utilização de O ressurgimento de análises marxistas, a renovação intelectual
análises factoriais dando origem à Ecologia Urbana. em França (anos 60) e os movimentos sociais (1968),
Déc. 40 50, a pesquisa sobre o fenómeno urbano orientou-se contribuíram para a emergência de novas perspectivas.
para novos estudos: A Escola Francesa integra quatro correntes:
- principal eixo de análise: as propriedades gerais ou quadro 1 – (Henri Lefebvre) A primeira corrente assenta em três
gerais da acção social. dimensões:
Grã-Bretanha, EUA, a investigação urbana tendeu para: - a defesa do conceito de civilização urbana como forma distinta
- análise contextual dos processo de adaptação das pessoas ao de organização social.
ambiente urbana. - a importância do espaço como elemento constitutivo das
Os programas de pesquisa: dominados pela estratificação relações sociais
ocupacional. Interesses: relações sociais com a classe, nação, - o direito à cidade contra a exclusão social.
Estado e as dinâmicas ao sistema de produção capitalista. 2 – O Marxismo Ortodoxo tem por base a teoria do capitalismo
Déc. 70, interesse nas questões de género, raça e etnicidade nos monopolista do Estado, análises do capital e dos interesses
estudos sociológicos urbanos. capitalistas sobre o Estado e através do estado, na dominação
Duas principais tendências na evolução da Soc. Urb. Na Grã- dos interesses capitalistas sobre os processos urbanos. David
Bretanha: Harvey – manifestações do “espaço e da sociedade” a partir da
1- Trabalhos etnográficos na déc. 40 e 50, centram-se no estudo lógica interna do capital, justapondo-lhes as lutas sociais.
empírico de: comunidades rurais e comunidades locais 3 – A Escola de Foucalt – análise da microfísica do poder nas
específicas. Esta orientação teórica sobre as dinâmicas da classe instalações sociais e alargaram esta noção de dominação à vida
social viria a reflectir-se nas abordagens posteriores. quotidiana, moldada pelas instituições urbanas.
2 -Análise de grupos sociais, organizações e instituições. Castells considera esta corrente de investigação a mais
Nos trabalhos sobre as dimensões da classe social não inovadora, a única que se propôs abordar os novos temas
consideravam o espaço como factor importante de análise. Ex: sociais de um ponto de vista crítico.
Glass – 1954, estudos sobre a mobilidade social (análises macro 4 – O marxismo estruturalista (Manuel Castells) influenciado
de mobilidade entre classes a nível nacional) por Althusser e Nicos Poutlantzas.
Privilegiavam as técnicas estatísticas e a amostragem aleatória. Esta corrente propõe uma nova ordem epistemológica para a
A dimensão empírica e contextual de classe foi posta em Soc. Urb. ao integrá-la na análise das contradições do sistema
segundo plano. capitalista.
Na problematização de classe social, a tónica recaiu sobre a Para Castells, a Escola Francesa é um importante marco para o
dimensão económicas, a natureza do trabalho e as relações desenvolvimento da nova Soc. Urb. e para a renovação da
laborais, em vez de uma análise com o contexto social. Com as reflexão sobre a cidade.
práticas da vida quotidiana e os padrões residenciais. Contributos da Escola Francesa:
Posteriormente, influenciados pelas análises estruturais de 1- Com o estudo das relações de poder, o conflito social, os
Althusses a investigação urbana preocupou-se nas forças e valores e os interesses, a comunidade passa a ser entendida
dinâmicas estruturais que afectam as “posições de classe”. Ex: como um espaço de conflito e de tensões. Que se inscrevem
John Glodthorpe – 1980, estudo sobre a mobilidade social, numa lógica de luta de classes e de projectos políticos a um
assente numa abordagem aleatória. nível social mais alargado.
As dimensãoes regionais e espaciais permaneceram ausentes. 2-A procura de um objecto teórico à Soc. Urb. possibilita novas
Nos após-guerra, as pesquisas à escala nacional, tinham carácter interpretações da realidade social e a teoria Marxista
representativo e mais abrangente do que a investigação reconheceu que a lógica de produção e reprodução não
etnográfica, por isso, eram uma forma eficaz de pressão política constituía a única fonte de mudança social.
junto ao poder central. 3-A conceptualização do espaço como força estruturante da
A investigação a nível nacional era vista como sendo da maior organização social é relançada na linha da tradição da ecologia
relevância para as instituições governamentais centrais e para o humana, sem os pressupostos funcionalistas. Os trabalhos da
planeamento urbano. Esc. Franc. forneceram uma forte articulação entre a teoria e a
A Sociologia Urbana no período do pós-guerra foi dominada: investigação empírica. A única excepção foi os contributos
pela produção de análises estatísticas à escala nacional e a teóricos de Henri Lefebvre.
natureza contextual e sócio-espacial da investigação urbana foi Crítica de Castells às abordagens teóricas
perdendo o seu vigor. Argumento principal: a Soc. Urb. sendo uma disciplina científica
Na déc. 70, surgiu nova orientação de investigação resultante de não possuía um “objecto teórico” específico.
transformações económicas, sociais e políticas. Críticas:
Com os agravamentos dos problemas sociais, questões da - Falta de fundamentação teórica,
justiça e a preocupação com abordagens sistémicas, a Soc. Urb. - Dificuldade em distinguir os processos que são urbanos
virou-se novamente para “problemas de gestão do sistema”: daqueles que são rurais,
- organização das interdependências espaciais num meio - A insistência em conhecer o espaço como reflexo de outras
tecnológico complexo. formas de organização social (e não como parte integrante das
estruturas técnicas e sociais).
11
- Ausência de explicações científicas sobre a cultura urbana e o Os circuitos do Capital
espaço. Nova abordagem sobre a cidade num quadro da economia
A nova Soc. Urb. (70 e 80), com as perspectivas da cidade como política. Capital, força de trabalho, lucro, rendas, salários,
lugar de contradições entre os processos de acumulação de exploração e desenvolvimento desigual, para Lefebvre, eram
capital, de redistribuição social, sistemas de regulação noções que se aplicam ao estudo das cidades. Assim,
institucionais e as reivindicações de novos actores sociais, desenvolvimento urbano é visto como um produto do sistema
trouxe para o centro de investigação, as dinâmicas dos novos capitalista. Nesta sequência, o autor introduz a noção de
movimentos sociais urbanos, o papel de regulação do Estado e o Circuitos do capital:
planeamento urbana. Circuito do capital primário – actividade económica da
sociedade capitalista, que se prende com o investimento de
A Economia Política Urbana capital na aquisição dos meios de produção necessários para a
A abordagem crítica da economia política urbana pretendeu produção de bens que são vendidos no mercado e o lucro re-
explicar com base em teorias marxistas as novas realidades investido em actividades industriais com fins lucrativos.
urbanas e o desenvolvimento desigual. Lefebvre ao constatar o desenvolvimento desigual nas cidades
Modelo evolutivo sobre o desenvolvimento da cidade industrial. identifica:
As perspectivas que analisam a relação entre sistemas Segundo circuito de capital – associado à actividade económica
económicos e o desenvolvimento das cidades, tendem a do sector imobiliário. Sustente que a actividade imobiliária
sublinhar as dimensões temporais ou espaciais da diferenciação desempenha um papel fundamental no declínio,
urbana. rejuvenescimento ou na reabilitação de determinadas áreas da
Teorias Evolutivas: sustentam que o desenvolvimento urbano cidade. Os padrões de crescimento da cidade não podem ser
obedece a um padrão de evolução histórica comum a todas as entendidos sem tomar em consideração as dinâmicas desta
cidades. Ex: trabalho de Hall segundo circuito de capital.
(Hall) Período de industrialização: caracterizado por um Para Lefebvre a noção do espaço é o produto de um modo
crescimento rápido da população urbana, seguido de uma fase específico de produção capitalista e está subordinado à lógica
de crescimento da população na cidade e nos subúrbios. Este do capitalismo.
período de expansão industrial dá lugar a uma fase de declínio
urbano, característica dos processos de desindustrialização. A Produção Social do Espaço
Perspectivas teóricas: de inspiração marxista, centrara a Lefebvre pretende desenvolver uma teoria unitária do espaço,
atenção na dimensão espacial do desenvolvimento desigual. uma espaciologia.
Interesse em explicar as dinâmicas do sistema económico e o Diferentes espaços são identificados: espaço físico (natureza),
seu impacto nas formas urbanas. espaço mental (abstracções sobre o espaço) e espaço social
Novas abordagens da economia política urbana: (prática social).
- O desenvolvimento das cidades insere-se num quadro mais Sustenta que as teorias urbanas e as teorias políticas de
amplo de crescimento económico e de dinâmicas políticas, planeamento urbano devem ser entendidas como formas
prendem-se com sistemas económicos e políticos mais vastos. ideológicas, que devem ser desconstruídas e combatidas
- as economias locais não funcionam como entidades através de perspectivas capazes de explicar o espaço como uma
autónomas. Inserem-se em redes nacionais e internacionais que construção da lógica capitalista.
afectam as estruturas urbanas. O espaço não constitui um simples receptáculo social, mas
- (central desta abordagem) O papel dos investigadores na emerge a partir de uma “traíade espacial”:
estruturação da cidade. São responsáveis por transformações - as representações do espaço
cruciais no interior das cidades: a rápida mobilidade do capital, - os espaços de representação
a capacidade de transformação e de construção de unidades - as práticas espaciais
produtivas a nível mundial, processos acelerados de Para Lefebvre, a relação entre estas componentes servem para
deindustrialização e de reestruturação industrial. compreender o modo como o espaço é socialmente construído.
Estas abordagens teóricas também têm sublinhado, o impacto Representação do espaço: regime discursivo de teorias e de
dos conflitos raciais, étnicos e de classe na estruturação social e conhecimento produzidos sobre o espaço por profissionais,
espacial das cidades. técnicos, tecnocratas, urbanistas, arquitectos, engenheiros, etc.
Escola de Chicago – centrados numa abordagem evolutiva e Para Lefebvre, este é o espaço concebido, ideológico, o espaço
naturalista da cidade. dominante em qualquer sociedade.
Abordagem Economia Política Urbana – sublinham a dimensão Espaços de Representação: Dizem respeito ao espaço vivido na
espacial, histórica, económica, política do desenvolvimento das experiência do dia-a-dia. Constitui-se a partir de um conjunto de
cidades e das grandes metrópoles. imagens e símbolos.
Práticas Espaciais: Práticas espaciais que estruturam a realidade
Henri Lefebvre do dia-a-dia e que estão relacionadas com formas de percepção
Marxismo e a Produção Social do Espaço do mundo, do espaço vivido e concebido. Manifestam-se nas
Ponto de viragem nas teorias do fenómeno urbano. Introduziu redes, nas trajectórias e nos padrões de interacção social
nova perspectiva sobre as políticas e ideologias do espaço (trabalho, diversão, práticas de produção, reprodução e
urbano, do “direito à cidade” e da “produção do espaço”. concepção).
(Lefebvre) abordagem crítica e marxista assente em três linhas Esta concepção do espaço cria uma terceira dimensão que
de força: incorpora o material. O simbólico, o real, o imaginário, a fluidez
- Circuitos do capital e a ruptura.
- Produção social do espaço (Lefbvre) Espaço: componente da organização social.
- Papel do estado na regulação espacial.

12
(As interacções sociais implicam uma espacialização que é abandonadas devido às opções e estratégias dos investidores no
estruturada e que estrutura os componentes e práticas sociais e sector imobiliário e às políticas governamentais.
simbólicas). Harvey, no seu estudo sobre a cidade de Baltimore mostra
como as condições de vida em diferentes áreas da cidade estão
O Papel do Estado na Regulação Espacial estreitamente associadas às prioridades dos investidores no
Relação entre o Estado e o Espaço. (forma como o Estado regula sector imobiliário e pelos programas institucionais do Estado.
o espaço urbano e influencia os modos de vida na cidade). Harvey divide a cidade em oito sub-mercados da habitação:
Áreas de intervenção directa do estado (ditam os padrões de 1- a “inter city”
crescimento das cidades e metrópoles): 2- áreas residenciais de etnias brancas
- distribuição de recursos a regiões e municipalidades 3 e 4- áreas de baixo e médio rendimento de população Afro-
- definição de estratégias de desenvolvimento local Americanas na parte oeste da cidade.
- implementação de políticas de planeamento e de reabilitação 5- áreas de grande mobilidade populacional.
urbanos 6 e 7- áreas da classe média na parte nordeste e sudoeste de
Para Lefebvre, o Estado, os interesses e os empresários pensam Baltimora.
o espaço de forma abstracta, em termos das suas dimensões, 8- outras áreas da classe alta.
localização e potenciais lucros. Cada uma destas áreas exibe padrões muito diferenciados de
A este espaço abstracto opõe-se o espaço social. compra e venda de casa e reflectem um conjunto de factores:
Espaço social: forma como as pessoas que vivem s seu dia-a-dia A natureza das transacções, a dinheiro ou empréstimos
e concebem o espaço. privados, financiamento bancário e subsídios do Estado.
As relações entre os dois espaços são marcadas por A análise Havey mostrou como as prioridades do segundo
antagonismos e conflitos de interesses. circuito do capital e a intervenção do Estado, estruturam os
Aqui, Lefebvre afasta-se da perspectiva marxista de conflito de espaços urbanos.
classes e argumenta que o marxismo e o materialismo dialéctico Harvey chama a atenção para o papel desempenhado pelo
deveriam ser aplicados no conhecimento de todos os aspectos Estado na reprodução do sistema capitalista.
da vida sócia e não apenas na sua dimensão económica. Diferentes prioridades e interesses, dos vários actores sociais
As formas de aplicação produzidas pela sociedade capitalista (capitalistas industriais, investidores, comerciantes,
permeiam todas as esferas das relações sociais transformando a trabalhadores, profissionais) no desenvolvimento urbano,
vida num espaço vazio de significados e sentido. conflitos e tensões a ser mediadas pelo Estado.
No mundo urbano capitalista, o conflito fundamental é a luta Intervenção do Estado: reabilitação de áreas urbanas, de forma
por uma experiência do dia-a-dia livre da opressão do a torná-las mais atraentes ao investimento.
capitalismo e a reivindicação por uma intervenção directa das Havey, Análise das forças sociais e políticas e a sua actuação no
populações na gestão do espaço. sistema de acumulação capitalista: Sustenta que os conflitos
(Lefebvre) A expulsão das massas do centro da cidade para a evidenciados na cidade assumem diversas formas (reflectindo
periferia constitui a expressão indelível da subordinação das os interesses da classe capitalista e da classe operária):
necessidades das populações à lógica do capital e do lucro. Classe capitalista: subdivide-se em três categorias:
1-Os investidores financeiros (capital financeiro)
A Acumulação de Capital e Urbanização 2-Comerciantes (Capital comercial)
David Harvey e Allen Scott 3-Proprietários de fábricas (Capital industrial)
David Harvey também desenvolveu a teoria económica marxista Classe operária: dividida em:
e aplicou-a à análise do fenómeno urbano. - Operários industriais
Centra a atenção nas dinâmicas do investimento do capital no - Vendedores
sector imobiliário e no papel desempenhado por este tipo de - Funcionários
investimento nos processos de acumulação do capital. - Analistas financeiros
A partir do conceito de circuitos do capital de Lefbver identifica O trabalho de Havey foi importante para a investigação da
três principais circuitos de capital: diversidade de processos urbanos. A preocupação em articular
1-Produção de bens manufacturados: o processo de as dinâmicas da acumulação de capital com os conflitos de
acumulação capitalista é atravessado por importantes classe e as lutas políticas permite uma análise do
contradições que se manifestam na sobreprodução de bens e na desenvolvimento desigual.
dificuldade da economia em manter níveis de procura Críticas ao Havey (objecções de Savage e Warde-2002):
adequados à oferta. Escassez de investigação empírica que sustente a teorização dos
2-Na sequência da queda dos lucros, o capital tende a ser circuitos de capital, devido às seguintes fragilidades teóricas:
transferido para o circuito secundário onde é investido no meio - A concepção teórica do meio edificado tende a ser estática e
edificado. circular.
3-Directamente associado com a reprodução da força de - A perspectiva reducionista do conflito e das tensões sócias, as
trabalho e no investimento em áreas científicas e profissionais quais são traduzidas na luta de classes.
de forma a potenciar novas formas de acumulação de capital. - o estudo das lutas políticas e sociais e o seu impacto no
As prioridades dos capitalistas envolvidos no segundo circuito desenvolvimento da cidade revela-se determinista do ponto de
do capital são diferentes daqueles que existem no primeiro. Se vista económico.
os investidores para construir fábricas optam por áreas onde os Soja: defende que um dos principais contributos do trabalho de
custos do imobiliário e da propriedade são baixos, o mesmo não Havey é o reconhecimento das dimensões culturais na
se verifica nos investimentos no segundo circuito do capital. teorização da cidade, desenvolvidas a partir de uma perspectiva
Aqui, a classe capitalista tende a investir onde o custo do neo-marxista da economia política urbana. Segundo Soja, a
imobiliário é elevado e os lucros tendem a ser também atenção dada á cultura, comunidade, raça e etnicidade,
elevados. Logo, certas zonas da cidade degradam-se ou são conflitos, redistribuição social e o meio edificado demonstra,
13
sensibilidade às políticas de identidade e de cultura e à luta na estruturação da cidade. Defendem que os processos de
contra as dinâmicas de exploração de classe no espaço urbano. desindustrialização e de globalização da economia tendem a
O modo como os processos de suburbanização e de decisão da enfraquecer o poder dos governos locais, dada a crescente
cidade estão associados às dinâmicas do segundo circuito do mobilidade do capital industrial e o poder das grandes
capital e do desenvolvimento desigual capitalista. corporações tende a aumentar. Por outro lado, com a
Allen Scott: centra a sua análise (como Harvey) nos processos de progressiva perda de empregos no sector industrial, as
produção e os seus efeitos no desenvolvimento urbano. O seu populações locais tendem a perder influência e capacidade de
trabalho está ligado à exploração do sector industrial e à sua reivindicação face à lógica global do capitalismo.
localização. No seu trabalho “Metropolis: From the Division of Tensões emergentes da cidade como “máquina para o
Labour to Urban Form – 1988”, explora a articulação entre o desenvolvimento: (a oposição ao desenvolvimento manifesta-
desenvolvimento industrial e o desenvolvimento urbano. se): Acções de contestação das comunidades locais às
Na sua análise “a anatomia geográfica do capitalismo industrial” actividades económicas que ameaçam a qualidade de vida das
convêm salientar Padrões de reorganização de empresas: populações.
Integração Horizontal: Déc. 30 até à 701) As empresas Áreas mais fortemente contestadas: Degradação do meio
mantiveram as sedes nas grandes metrópoles mas os centros de ambiente, habitação precária, aumento da violência urbana,
produção, de distribuição e de comercialização foram insuficiência de infra-estruturas e o emburguesamento e
localizados em áreas economicamente mais vantajosas para as nobilitação (tornar nobre) de bairros centrais.
empresas. A tendência era a existência de grandes empresas A parir de uma abordagem da economia política urbana, a
que controlam um conjunto de actividades industriais cidade é reconceptualizada como um espaço de contradições
económicas necessárias ao processo produtivo e a formação de entre os sistemas de acumulação de capital e de redistribuição
aglomerados industriais integrando a grandes linhas de sócia, entre a gestão do estado e os interesses das populações.
montagem e unidades de produção complementares.
Desintegração vertical: A partir da déc. 70, a reestruturação Manuel Castells
económica e a emergência de novos padrões de Consumo Colectivo e Gestão Urbana
desenvolvimento industrial são entendidos através das Castells propõe um novo objecto teórico: O processo de
dinâmicas de desintegração vertical. Processo generalizado de consumo. A cidade é concebida como um sistema que
fragmentação e de especialização dos diferentes segmentos do providencia, em articulação com o estado, um conjunto de
processo produtivo os quais se mantêm funcionalmente serviços necessários à economia e à vida do dia-a-dia. I.é, o
associados entre si. consumo de serviços de educação, habitação, saúde e
Ao estudar os processos de formação e expansão industrial, equipamentos sociais, só é possível dada a intervenção do
Scott, sustenta: a adopção de novas estratégias de Estado-providência.
subcontratação e a criação de múltiplas unidades de produção Consumo Colectivo: processos de consumo mediados pelo
em várias áreas com custos de produção baixos favorece a Estado. Constituía a função principal da cidade capitalista no
localização de pólos industriais a nível global. A procura de mão- último quartel do séc.XX.
de-obra barata, menos restrições ambientais, baixos níveis de Castells sublinha o papel fundamental do Estado na gestão
concorrência, tem sido responsáveis pela criação de pólos urbana.
industriais nos países do chamado “Terceiro Mundo”. As políticas de intervenção social centradas nas cidades, têm
como objectivo principal fornecer às populações as infra-
Maquiladoras na fronteira do México com os EUA estruturas e serviços básicos.
Novos processos económicos originam efeitos importantes no Interesse de Castells na crise fiscal. Ele sustenta que o Estado,
desenvolvimento das cidades e nos padrões de desigualdades ao pagar por serviços que o sector privado não financia, vê-se
regionais. obrigado a aumentar as receitas através do sistema tributário. O
aumento de impostos cria oposição das populações e
As Cidades como “Máquinas para o Desenvolvimento” mobilizam-se em estruturas organizadas para defender os seus
John Logan e Harvey Molotch (1987) interesses.
O desenvolvimento urbano é devido às actividades da classe dos Castells chama a atenção para os interesses contraditórios entre
promotores imobiliários. Eles desmpenham um papel capitalistas, Estado e as populações urbanas e estas tensões
fundamental no planeamento e evolução das cidades, as quais potenciam a criação de “movimentos sociais urbanos”
se apresentam como: Máquinas para o desenvolvimento Face à exploração económica, dominação cultural e repressão
Os promotores imobiliários coligam-se com outras elites política num mundo cada vez mais globalizado, os movimentos
urbanas (políticos, empresários, investidores e proprietários sociais tendem a produzir significados e identidades defensivas
fundiários) com o objectivo do crescimento da população
urbana, a valorização da propriedade e o desenvolvimento Economia Global
económico da cidade através do investimento. Anos 30 até finais dos 60 – Fase Fordista
Estas coligações pressionam o governo local para criar um clima A partir dos anos 60 – crise do modelo Fordista
favorável para os negócios. A partir da déc. 80 - rápidas transformações macro-económicas
O governo local, para aumentar as receitas e colmatar e urbanas.
deficiências financeiras, responde favoravelmente. As noções de sociedade pós-industrial, pós-fordita. Pós-
Neste sentido, os governos municipais, optam pelo moderna e sociedade da informação, reflectem diferentes
desenvolvimento urbano como objectivo central. formas de interpretar as novas dinâmicas económicas, sociais,
Logan e Molotch: as dinâmicas da produção industrial culturais e políticas que caracterizam o mundo contemporâneo.
desempenham um papel secundário nas transformações
urbanas. Elaboram uma teoria (perspectiva) tomando em
consideração a dimensão global da economia e o seu impacto
14
Globalização e Espaços Urbanos 8-A economia global do crime funda-se no tecido urbano.
Tese dos sistemas mundiais (Wallerstein-1979): o modelo 9-Insegurança vivida na cidade conduz à segregação residencial.
económico capitalista é concebido como um processo que 10-A emergência de espaços públicos como expressão da vida
tende a englobar progressivamente diferentes áreas do globo local, transformados em realidades urbanas virtuais.
num único sistema económico e político. O mundo é dividido 11-O novo mundo urbano tende a ser dominado por um
por zonas desiguais de especialização e de desenvolvimento. movimento dual de inclusão em redes transterritoriais, ao
Europa – centro mesmo tempo que se evidencia um processo de exclusão
Países menos desenvolvidos – África, Ásia e América Latina – na espacial.
periferia. 12-Emergência de uma nova forma de governação estatal
integrada em instituições supranacionais, constituídas por
Cidade Mundial Estados nacionais, governos regionais e locais e por
Friedmann organizações não governamentais.
- O modo de integração das cidades no sistema mundo e na 13-Novas dinâmicas dos movimentos sociais, estruturam-se em
nova divisão internacional do trabalho é determinante para torno de duas dimensões: a defesa das comunidades locais e o
compreender as mudanças estruturais verificadas na ambiente.
organização sócio-espacial dos centros urbanos. Importante: O carácter fragmentado, polarizado da cidades da
- Importantes cidades espalhadas pelo mundo são utilizadas era da informação. Revela também como um espaço nodal
pelo capital global como bases estratégicas na articulação na numa complexa teia de redes globais.
gestão mundial da população e dos mercados. Carácter dual da cidade na sociedade em rede: Castells defende
- As funções de contrato global desempenhadas por que o dualismo da estrutura urbana se prende com o modelo de
determinadas cidades estruturam as dinâmicas dos seus desenvolvimento tecnológico e económico, que se sustenta em
sectores de produção e de emprego. dois sectores:
- As cidades mundiais são espaços de grande importância para a 1-Sector económico formal: alicerçado nas tecnologias da
concentração de capital internacional. informação, na microelectrónica e no processamento e
- Cidades mundiais são lugares de destino de fluxos migratórios transmissão de dados a longa distância.
internos e internacionais. Tende a recrutar trabalhadores qualificados e com alta
- Cidades mundiais são espaços de contribuição do sistema produtividade, contribuindo para a formação de uma elite
capitalista industrial. urbana enriquecida e com privilégios exclusivos.
Tendem a ter custos sociais superiores à capacidades fiscal do 2-Sector caracterizado pelas actividades informais: empregam
Estado (tal como as desigualdades espaciais e de classe). uma mão-de-obra mal paga, desqualificada, flexível,
característica de estruturas urbanas e sociais dos países menos
Cidade Global desenvolvidos.
Sassen Os impostos do dualismo social e urbano são de vária natureza e
Caracterizadas pela concentração de empresas multinacionais e assumem múltiplas configurações.
de serviços, com destaque para as empresas financeiras, Importante:
comerciais e de marketing. Emergem como pólos estratégicos - a acentuação das desigualdades sociais nas grandes cidades.
na actual economia mundial. Papel fundamental no - a crescente marginalização social de grandes segmentos das
desenvolvimento da economia global. Funções: populações metropolitanas.
1-Pontos de comando na organização da economia mundial. Cidade Dual (Castells): processo de reestruturação espacial
2-Lugares e mercados fundamentais para as indústrias de através do qual diferentes segmentos da força de trabalho são
destaque do período actual. i. é, finanças e os serviços incluídos e excluídos da construção de uma nova história.
especializados destinados às empresas. Para Castells, a cidade informacional é atravessada por este
3-Lugares de produção fundamentais para essas indústrias, dualismo estrutural que cria uma diferenciação clara entre as
incluindo a produção de inovações. camadas mais altas da sociedade da informação e o resto da
população local.
Cidade Informal
Castells Espaço de Fluxos, Espaço de Lugares
Era da informação: nova sociedade, caracterizada pela Castells – matriz conceptual da cidade informacional.
revolução tecnológica centrada nas tecnologias da informação, Era da informação desenvolve-se em torno de fluxos: de capital,
a economia global e os movimentos sociais e culturais. de informação, de tecnologia, de imagens ou de símbolos.
Efeitos da globalização na estrutura urbana: O espaço como “expressão da sociedade” é constituído pela
1-Processo de urbanização acelerada a nível planetário “dinâmica de toda a estrutura social”, possibilitando a
2-Novas metrópoles dispersas, em torno de uma estrutura articulação e realização das novas formas de organização social.
policêntrica. Espaço de Fluxos: a base material que possibilita a efectivação
3-Tecnologias de informação (internet e sistemas de dos fluxos, é descrito em três vertentes:
transportes). 1-Circuito de impulsos electrónicos (microelectrónica,
4-Redes empresariais – nova forma de actividade económica telecomunicações, processamento de computadores, sistema
5-Relações sociais caracterizam-se por processos antagónicos de de telecomunicações e transporte em alta velocidade, com base
individualização e comunalismo. Comunidades virtuais e em tecnologias de informação)
comunidades físicas coexistem e interagem entre si. 2-Centros de importantes funções estratégicas e centros de
6-Crise da família patriarcal provoca mudanças nos padrões de comunicação.
sociabilidade. 3-Organização espacial das elites administrativas.
7-As cidades são caracterizadas por uma crescente componente Espaços de fluxos – forma material de suporte dos processos e
multicultural e multiétnica. funções dominantes na sociedade informacional. Combinação
15
de três camadas de suporte materiais que juntas, constituem o
espaço de fluxos.
Espaço de Lugares: lugares historicamente determinados,
lugares onde as pessoas vivem e interagem com o seu ambiente
(o espaço vivido), imaginado e real, o local de realização da
experiência individual e colectiva.
Castells – é a partir dos espaços de lugares que se torna possível
a mobilização social e a criação de formas alternativas de
governação e de cidadania.
Espaço de lugares é local de resistência, de autonomia cultural e
contra-hegemónico, em oposição ao espaço de fluxos.
Perspectiva da economia política urbana:
1ºA estrutura e o desenvolvimento da cidade – produto de
forças económicas e de modelos tecnológicos. Processos
urbanos integrados em contextos sociais mais amplos.
2ºAs formas urbanas e sociais reflectem conflitos e tensões
geradas em torno da redistribuição e alocação de recursos.
Novas abordagens: conflitos sociais entre classes, entre grupos
e comunidades.
3ºO Estado continua a ter um papel importante para o
desenvolvimento urbano. Importante o papel do governo local e
das suas instituições na gestão da cidade. As políticas urbanas e
o planeamento urbano passam a ser problematizados num
contexto mais vasto de governação e de regulação social.
4ºOs padrões de desenvolvimento urbano – resultantes dos
processos de reestruturação e mundialização da economia. O
modelo tecnológico e económico é determinado na
configuração de novas formações sócio-espaciais. A cidade
emerge como um espaço polarizado, segmentado, marcado
pelas desigualdades sociais e por novas formas urbanas.

16
5 – Metrópoles, Dinâmicas económicas e Reconfiguração Com a relocalização das indústrias em espaços industriais
espacial suburbanos e peri-urbanos, as cidades-centro e as periferias
Regime de acumulação: conjunto de princípios de organização tiveram um declínio do emprego industrial e um acréscimo do
da economia, que asseguram determinadas condições de sector dos serviços.
produção (forma de organização do trabalho, tecnologia Anos 80 e 90 – afirmação do sector dos serviços, que
empresa, base energética, opções de localização, estratégias de contribuem para acentuar as dicitimias sócio-profissionais e dos
armazenagem, etc.) e de ligação desta ao consumo (circuitos e salários nas grandes cidades.
formas de distribuição, formas de marketing e publicidade, etc.) Novo regime de acumulação flexível = pós – fordista: associado
(Harvey) Sucesso de um regime de acumulação depende do a um novo quadro regulador, em que o Estado pressionado
modo como a sociedade funciona, do modo como as pelas grandes empresas, U.E., autarquias regionais e locais,
instituições e os consumidores se comportam. partilha poderes e regista-se uma redução no intervencionismo
Modo de regulação: se não existir sintonia entre as directo. Procurou transferir serviços para a esfera privada e as
características do regime de acumulação e o conjunto de regras actividades sociais para o 3º sector.
(leis), valores (competição, consumo) e processos sociais, que
consubstanciam o modo de regulação, as possibilidades de êxito O Urbanismo e as dinâmicas urbanas
do ciclo económico em causa diminuem. Urbanização: processo de alargamento da rede urbana,
Entre 1950 e 1970, América do Norte e Europa Ocidental: expansão das cidades, devido ao aumento de residentes.
-forte expansão económica, Urbanismo: modo de conceber a materializar os centros
-regime (bem sucedido) de acumulação fordista, com um modo urbanos.
de regulação associado à emergência do Estado-providencia na
base de Keynes. O período fordista: cidades, planeamento e subúrbios
Fordismo – Keynesianismo: Urbanismo modernista: bases que viriam a sustentar a lógica de
1-Incorporação do princípio da racionalização na organização do intervenção nas cidades ocidentais – período posterior à IGM.
processo de trabalho (estabelecimento de horário de trabalho) Pilares do planeamento modernista (Holston):
e de princípios do Taylorismo. 1-Base igualitária (e anti-capitalismo)
2-O princípio da racionalização implicou poucas variações e 2-racionalismo e metáfora “da máquina”
grandes quantidades produzidas de bens. 3-Redefinição das funções sociais da organização urbana
3-Novo quadro de relações entre capital e trabalho, conferindo 4-tipologias de edifícios e de regras de planeamento como
às empresas industriais uma forte centralidade. instrumentos de mudança social
4-Novo papel para o Estado: estimular a procura através de 5-Descontextualização e determinismo ambiental
actividades, como a reconstrução, expansão das cidades 6-Confiança nas entidades públicas em matéria de
europeias e criação de infra-estruturas e equipamentos, criar planeamento.
condições para o sucesso das empresas, garantia das 7-Técnicas de “choque”
necessidades sociais básicas e estabelecimento de regras para 8-Confluência de artes, política e vida quotidiana
assegurar a paz social. O modernismo criou um novo estilo de planeamento urbana.
Produção flexível (Harvey, 1970-1980): transição para um novo Gaspar – “Os princípios de renovação urbana implementados
regime de acumulação, regime de acumulação pós-fordista, caracterizaram-se pelo zonamento funcional e pelas
regime de acumulação pós-industrial. A primeira designação é a intervenções de grande escala”
mais apropriada. Modificações associadas ao regime de Planeamento modernista: contribuiu para construir um
acumulação flexível (ou pós-fordista) (finais anos 70): território marcado pela pendulação diária que ajudou à
1ºFinal dos anos 60, pouca procura por novos produtos duráveis expansão do automóvel e por áreas de expansão residencial
(automóveis, electrodomésticos) e necessidade de procurar nova que alimentaram a construção civil e exigiram a produção
novos mercados de exportação de um esforço de redução da de mais bens de consumo durável. Deu o seu contributo para a
duração dos produtos para assegurara a sua substituição. lógica intervencionista e reguladora do Keynesianismo,
2ºAmérica Latina e a Ásia, com políticas de substituição de determinando a acesso das diferentes actividades ao espaço e
importações, diminuíram as necessidades de adquirir produtos. das próprias classes sociais.
Com mão-de-obra numerosa e baixos salários e com sistemas Zonamento: principal instrumento de ordenamento do
de protecção social frágeis, justificam importantes processos de território, atribuindo a cada parcela um uso específico.
relocalização industrial. As grandes empresas nas metrópoles Subúrbio: para a definição pode-se assumir 3 critérios:
ocidentais começam a relocalizar com mais frequência em 1º Critério Funcional: áreas exteriores aos limites
países não europeus, exportando a partir daí. administrativos da cidade, fortemente dependentes desta, quer
3ºRigidez nas várias dimensões do funcionamento da economia. em termos de emprego, quer em termos de acesso a bens e
A contratação colectiva e os contratos a longo termo, tornava serviços de nível superior.
difícil os processo de segmentação das empresas a o às 2º Critério baseado nas mobilidades: o subúrbio corresponde à
oscilações da procura. A produção assente nas economias de área de pendulação originada por um grande centro urbano.
escala e de aglomeração, trazia problemas de gestão, pois, 3ºCritério morfológico: o subúrbio corresponde ao continuum
qualquer dificuldade se repercutia sobre todo o conjunto. A construído que se prolonga para lá dos limites “administrativa”.
pouca diversificação dos produtos e os stocks tornava difícil a Etapas das políticas de renovação urbana (Gibson e Landstaff-
procura a níveis elevados. 1982):
Face a estas modificações as empresas passaram a incorporar 1-Eliminação dos bairros de barracas e expansão
novas estratégias reduzindo a dimensão das unidades 2-Melhoria das condições habitacionais e ambientais
produtivas e segmentando espacialmente a produção. 3-Renovação gradual, combinando eliminação selectiva de
O sistema Just-in-time, substituiu a lógica das esconomias de determinados elementos e a sua substituição
escala.
17
4-Erradicação de áreas degradadas baseada em iniciativas
dirigidas e experimentais.
5-intervenção integrada, incorporando renovação económica e
social
Regeneração: perspectiva mais abrangente e integrada que
envolve várias dimensões (físico - ambiental, social,
económica…) e pretende dar nova vitalidade à cidade.
Reabilitação: recuperação física das estruturas antigas,
conferindo-lhe maior qualidade.
Fragmentação social: consequência do incremento das
desigualdades no mundo urbano e das ameaças à coesão social.
Fragmentação das metrópoles (Teresa Barata Salgueiro-2001):
as metrópoles têm as seguintes características:
-estrutura policêntrica
-desenvolvimento de complexos de grandes dimensões
-presença de enclaves socialmente diferenciados e dissonantes
do tecido sócio-urbanístico envolvente, que reflectem situações
de contiguidade sem continuidade
-dessolidarização relativamente ao entorno, afirmando-se as
relações sociais à distância e quebrando-se as relações de
vizinhança, o que evidencia a desenvolvimento de comunidade
sem propinquidade.
Nobilitação: instalação de grupos sociais abastados em
habitação nova ou reabilitada situada em áreas antigas onde
reside população de grupos sociais menos favorecidas.
Resultam dos processos de intervenção nas áreas antigas do
centro da cidade e também noutros espaços urbanos que têm
boa qualidade ambiental potencial e frequentemente uma certa
memória e um significado histórico. Podem resultar
exclusivamente da acção da iniciativa privada que procede à
reabilitação de edifícios numa determinada área, mas, com
frequência, decorre também de intervenções públicas que
reabilitam o espaço público e disponibilizam financiamento para
que os privados procedam à recuperação de fachadas ou à
melhoria das coberturas. Do ponto de vista social, em muitos
casos levam a processos de transição populacional, uma vez que
os antigos residentes, muitas vezes de camadas sociais menos
favorecidas, vão sendo progressivamente substituídos por
população das classes média-alta e alta que podem pagar as
habitações reabilitadas por ex: Bairro Alto e Junqueira.
Totalização (Marcuse e Kempen): implementação de projectos
urbanísticos caracterizados por um mix funcional que conjugam
actividades económicas e residenciais e que tendem a localizar-
se em vários locais das áreas metropolitanas.
Novas formações espaciais associadas ao pós-fordismo:
a)Área gentrificadas (nobilitadas), no contexto dos processos
reabilitação de áreas antigas.
b)Enclaves de ricos/condomínios fechados
c)Enclaves étnicos e guetos de exclusão ou guetos de pobres
d)Tendências para processos de realojamento marcados pela
dispersão espacial
e)Novos subúrbios caracterizados pela mistura de usos e “Edge
cities”.
Edge Cities (Garreau): cidades que ficam nos limites do espaço
metropolitano, a partir de um conjunto de factores que
incluem:
-existência de uma superfície destinada a escritórios substancial
-existência de uma superfície destinada ao comércio de
dimensão média
-um maior número de empregos do que de quartos
-possuir a imagem de um espaço único
-não ter quaisquer características de cidade no inicio dos anos
60.

18
6 – A Urbanização nas regiões desenvolvidas e nas análise tem como base uma elaboração histórica-geográfica de
regiões em desenvolvimento. base económica mais aprofundada em que se identificam três
Urbanização planetária: O séc. XXI evidência a transformação da regiões, a central, a semi-periférica e a periférica.
população mundial em população urbana. Uma crescente Rede global de cidades (Friedmann e Wolf – déc. 80 e 90): ao
percentagem da população mundial vive em cidades. aceitarem as multinacionais como centros de comando da nova
Europa, América do Norte, América Latina e Caraíbas são divisão internacional do trabalho introduziram este conceito.
largamente urbanizadas. Cidades-mundo centrais e primárias = Friedmann-1986
Ásia – região em crescente urbanização Verdadeiros centros internacionais = Thrift-1986
África – permanece rural. Cidades globais = Sassen-1991
O planeta urbano não é uniforme e as diferenças estatísticas Déc. 90: divisão tradicional do planeta em Estados-Nações,
reflectem diferenças sociais e culturais. divisão entre regiões mais desenvolvidas e regiões menos
Planeta Urbano: grande revolução antropológica após o desenvolvidas e começa-se a delinear a perspectiva de uma
sedentarismo, a do Urbanismo Planetário (segunda maior Rede Global de Cidades ou Arquipélagos Urbanos.
revolução). É uma construção desigual num Urbanismo Regional O Urbano é um factor de produção de globalização e de
diferenciado e mesmo num Urbanismo Global de Arquipélagos desglobalização, tendo na sua forma de cidade-mundo o seu
Urbanos que funcionam como complexo de cidades centrais de agente.
comando e controlo que se apresentam como modelos de Análises à cidade-mundo ou à cidade global, (Smith):
projecto e até de utopia, por oposição a um Urbanismo Local 1.A globalização da economia internacional é acompanhada por
feito de cidades periféricas de grandes aldeias e de quase- um processo de transnacionalização da economia.
cidades, votadas, as mais das vezes, ao esquecimento. 2-Elevada mobilidade do capital cuja aplicação está concentrada
Para compreender a construção do planeta urbano: é preciso num grupo de cidades globais.
termos em conta três escalas: a urbana, a regional e a global, 3-Mudança da indústria para os serviços comerciais e
pois o planeta Urbano em construção produz-se em função financeiros em grandes cidades de “países centrais”
essencialmente do “espaço de fluxos” translocal/transnacional e 4-A concentração dentro das cidades globais do comando e
global/regional. controlo das funções que são coordenadas numa escala global
Tradição Ecológica: o seu percurso foi a de ir complexificando e pelos sectores produtivos de serviços destas cidades.
esbatendo dicotomias mais ou menos simplistas como 5-Organização hierárquica das cidades centrais num sistema
determinantes da estrutura e dos processos urbanos. Ex: global de cidades cujo objectivo é a acumulação, controlo e
Barbarie Vs Civilização, Rural Vs Urbano, Comunidade Vs aplicação de capital internacional.
Sociedade, etc. Smith considera estas análises evidenciam as cidades como
Tradição do Sistema-Mundo: (a partir déc. 70) inicia também subprodutos fabricados pelas transformações estruturais do
com tipologias dicotómicas mais ou menos simplistas e só nos capitalismo global no final séc. XX.
últimos anos começa a complexificar-se e esbater-se tais No final déc 90, a expansão dos serviços nos mercados
oposições abstractas e primárias. internacionais introduziu maior flexibilidade e competição no
Urbanismo Global de arquipélagos urbanos: são um complexo sistema urbano global implicando uma definição como sistema
de cidades centrais de comando e controle que se apresentam flexível de fluxos e redes (Castells e Taylor 2001)
como modelos de projecto e até de utopia, por oposição a um O paradigma Global/Regional centra-se na acentuação dos
urbanismo local feito de cidades periféricas votadas muitas fluxos.
vezes ao esquecimento (urbanismo local). A cidade Global é uma rede de nós urbanos de diferente nível
Urbanismo Transnacional: procura analisar o espaço global com funções distintas que se estende por todo o planeta, e que
como um espaço de conexões transnacionais, um espaço de funciona como um centro nervoso da nova economia num
fluxos, uma arena discursiva e um terreno de contestação, sistema interligado à qual devem adapta-se de forma flexível
sendo as cidades palcos privilegiados destes jogos de actos e empresas e cidades – Castells
textos de política económica e cultural em que se entrecruza o Os trabalhos de David Harvey e Castells enfatizaram a relação
local e o global em processos concretos e analisáveis translocais Global-Local, colocando a acentuação nos fluxos e com
e transnacionais. Parte de uma perspectiva mais construtivista e predominância da tecno-economia que leva a um capitalismo
procura estabelecer a parte entre várias escalas (local-cidade, Global.
estado-nação, região transnacional)
Urbanismo regional: é o processo de urbanização de uma dada Cidades e desenvolvimento: as principais questões
região onde a construção é desigual em cada região. Em função dos paradigmas translocal/transacional e o
Urbanismo local: feito de cidades periféricas de grandes aldeias paradigma global/regional, as principais questões que se
e de quase cidades votadas ao esquecimento. colocam na relação entre cidades e desenvolvimento são
Paradigma de urbanização: regional e global: evidenciadas pelos relatórios da UNCHS (HABITAT) e o de
1996/2001.
Cidades Mundo: 1915 - aquelas nas quais uma parte Relatório de 1996 identifica 6 questões para compreender a
deporporcionada dos mais importantes negócio do mundo é situação actual:
conduzida, ou seja, o centro de economias mundo especificas 1-O papel das cidades no desenvolvimento
enquanto centros de gravidade urbanos “o coração logístico da 2-As tendências urbanas
actividade”. 3-A limitação das conquistas sociais
4-As tendências nas condições de habitação
Teoria das Cidades-Mundo (Braudel e Wallerstein): relação 5-A governação
dicotómica de compreensão das diferenças planetárias que 6-Para um desenvolvimento sustentável
deriva da situação pós Guerra-fria e que se começou a Este relatório pode ser enquadrado pelas preocupações de uma
estabelecer entre Centro/Periferia e entre Global/Local, a tradição do sistema mundo, apresentando os dados em função
19
da relação Norte/Sul, a partir das 5 grandes regiões (América fortemente ligadas á economia da globalização mundial. E
Norte, Europa, A. Latina e Caraíbas, Ásia e Pacífico e África). dinâmicas ligadas a funções económicas e políticas do estado-
Evidenciando uma atenção à regionalização dos sistemas nação.
urbanos regionais em função das novas formas urbanas e de América Latina e Caraíbas – a região deixou de ser
uma crítica a uma análise estritamente economicista ao colocar predominantemente rural para ser predominantemente urbana,
ênfase na variável política. com uma alta concentração da população nacional e urbana em
Relatório de 2001: Centra-se na questão da globalização e no cidades. Em relação aos níveis de urbanização pode ser divido
seu efeito sobre as cidades, destacando 7 questões: em três grupos de países:
1-A desigual distribuição dos benefícios e custos da globalização - os mais urbanizados
2-A natureza desequilibrante da globalização - os que tem entre 50/ e 80/ de população urbana
3-A ligação que as aglomerações humanas estabelecem entre a - os que têm menos de 50/ de população urbana
globalização económica e o desenvolvimento humano.
4-A descentralização e o papel crescente dos governos locais Paradigmas sócio-políticos: este paradigma refere: em relação
5-A necessidade de novas redes de cooperação às divisões entre Europa, EUA e África, existem áreas em cada
6-O fortalecimento do processo de desenvolvimento político um desses espaços que não se enquadram na análise dual
7-Novas formas de governância e estratégias políticas para a proposta. Ex: alguns países do Norte de África, pela relação com
vivência urbana. a U.E. e a África do Sul, escapam ao quadro apresentado para a
África. Há áreas da Europa que se debatem com a questão da
O urbanismo nas diferentes regiões planetárias descolonização – estatização (Jugoslávia e País Baixo em
As diferenças ao nível do desenvolvimento entre Norte e Sul Espanha).
tornam-se mais específicas em função da agregação em MDR Regimes representacionais: são projecto – utopia – “Las Vegas”.
versus LDR. Memória – esquecimento – África e algumas regiões Ásia.
De seguida procura-se destacar alguns traços comuns relativos à Este regime parece ser o adequado para compreendermos
urbanização do Norte e do Sul. regiões como a Europa e o Japão.
Em relação à Europa e à América do Norte há algumas Nestas regiões que alguns autores consideram centrais
similaridades em termos de processos urbanos. podemos encontrar cidades mundiais e estados periféricos
A evolução da urbanização na Europa e E.U. implica um ciclo de convivendo numa perspectiva de corredor cultural e numa
4 fases, aplicável a toda a região internacional, a um sistema perspectiva de colonização cultural, que gera consequências
nacional, a uma cidade, a um centro urbano ou a todos ao contigenciais das mais diversas.
mesmo tempo. Estruturas antropológicas urbanas: decorre da noção básica da
A urbanização sucede a suburbanização e por sua vez psicologia e da sociologia e da antropologia de que a identidade
desurbanização para voltar a uma reurbanização de um nível pessoal ou colectiva não tem significado sem a noção de
mais elevado. alteridade. Implica numa estratégia metodológica aberta às
Quanto aos sistemas urbanos nacionais e regionais o padrão é: representações da diferença (discursivas, espaços-
A existência de assimetrias entre uma malha urbana densa, monumentais). A construção de novas estruturas antroplógicas
concentrada e bastante desenvolvida enquanto a restante urbanas evidenciam a arena de novos aparteids e balcanizações
região encontra-se menos desenvolvida. urbanas os quais podem ser indícios de regiões/países divididos
Assim, em relação aos sistemas urbanos parece haver alguma e até decadência de uma civilização.
tendência para o desenvolvimento de novas formas urbanas. Metropolização: fenómeno que se evidenciou de forma
CMSAS – conjunto de áreas metropolitanas interligadas entre si exponencial a partir de: Séc. XX e dos princípios Séc. XXI.
em função de uma ou mais centralidades.
Paradigmas Modernização/Globalização:
África – debate-se com um processo de descolonização
A Europa e a América do Norte – encabeçam o novo paradigma,
o da globalização
A América Latina, Caraíbas e Ásia – debatem-se entre a
influência de processos de descolonização e a dependência face
ao processo de globalização
Paradigma de urbanização: Regional e Global:

Transição urbana da cidade em descolonização: é um processo


de re-construção que vai da destruição/distituição identitária da
cidade colonial herdada à (re)construção da cidade numa nova
integração regional e ou global. Verifica-se em África, a
morfologia urbana levou a uma expansão horizontal da cidade
em si a favor da periferia onde a terra é mais acessível, a auto
construção mais barata e o controlo policial e estatal é menor.
Transição urbana da cidade em Globalização: é um processo de
metropolização que vai da expansão da cidade à sua
reorientação no quadro regional ou mesmo global do processo
de globalização. No caso da Ásia, América Latina e Caraíbas,
estas regiões encontram-se entre dois modelos: a
reestruturação dos sistemas urbanos está relacionada
directamente com a globalização. Ásia - dinâmicas urbanas
20
7 – Portugal. Território e Urbanidade um alastramento em “mancha de óleo” da dita urbanização, em
Urbanização litoralizada: movimento das migrações internas áreas circundantes desencadeando problemas de saturação da
direccionado do interior para o litoral. mobilidade para além de exigências de infra-estruturas do
Litoralização: intensificação sócio-produtiva territorialmente respectivo território. Originando os movimentos pendulares.
orientada. Movimentos pendulares: surgem como indicadores de
Interioridade: zona mais interior do país que por causa das deslocação e de relacionamento de saturação e de dependência
migrações internas ficou desertificada. e revelam especificidades quanto às modalidades do seu
Migrações e assimetrias no quadro territorial: podemos funcionamento. Ao analisar estes movimentos nas duas regiões
sintetizar – Portugal é um país litoralmente ocupado com uma metropolitanas do país, onde se concentram maior intensidade
correspondente condição territorial assimétrica. Grande parte de movimentos pendulares, permite revelar que a
da população do continente distribui-se ao longo da costa modernização das infra-estruturas viárias e de comunicação de
atlântica as duas únicas regiões metropolitanas, Lisboa e Porto apoio às actividades económicas, não têm sido acompanhadas
concentram mais de metade daqueles residentes. de infra-estruturas de suporte à vida social e urbana.
Bipolarização territorial: ao longo dos anos 90 foi possível Novos quadros de intervenção urbana após 1974: Inovação
constatar uma extensa conurbação urbana ligando a península urbana. Programa SAAL (1974) – claramente direccionado para
de Setúbal até à região de Braga. bairros sociais degradados, com a ambição de reconverter e
Por outro lado, a região do Alentejo, e a do centro são regiões qualificar aqueles bairros. A construção ilegal – associada ao
que perderam para as restantes. processo de loteamento de amplas zonas rurais. Com a
Dois movimentos conjunturais de mudanças sócio-económicos e institucionalização das autarquias locais inicia-se um lento
políticos de reordenamento territorial em Portugal são os processo de reordenamento territorial daquelas áreas em
seguintes: termos de saneamento básico e estruturas viárias (estradas) e a
1º Da década de 60 até à década de 80 par da edificação de diversos equipamentos de natureza
(macrocefalia da capital e urbanização litoralizada) colectiva. Esboça-se no quadro democrático os primeiros
2º Década 80 até ao presente instrumentos de intervenção territorial que veio a ser
Acentuada distribuição assimétrica da população. Conurbação consagrado nos planos directores municipais. 1979 – lei das
urbana no litoral, déc. 90, da península de Setúbal até à região finanças locais.
de Braga. Movimentos pendulares das populações. Planeamento territorial a partir de 1985: a partir de 1985 com a
Conurbação Urbana: proliferação de espaços edificados muito integração de Portugal na EU, a par da progressiva assunção
pouco hierarquizados e sem nenhum plano de conjunto. São territorial uma outra componente vai determinar a referida
zonas de densidade demográfica elevada ex: península de conjuntura comunitária – AMBIENTE – o ordenamento do
Setúbal, até região de Braga mas em cachos. território tem vindo a confrontar-se com a necessidade de um
Recomposição sócio-produtivas e novas configurações correspondente equilíbrio ambiental.
territoriais: é nos aglomerados em cachos que se localiza grande A experiência de aplicação dos planos directores municipais
parte d actividade produtiva e que atravessou um processo de tinham uma função restrita do seu uso e foi necessário
modernização tecnológica. Mas, naquela configuração territorial providenciar outras escalas de ordenamento. Surgiu então os
decorreu o processo de recomposição sócio-produtiva ou seja, planos regionais do território, os planos de ordenamento da
este processo implicou uma relativa desindustrialização e um orla costeira e a progressiva consolidação dos parques e
significativo crescimento do sector de serviços que se reservas naturais. Sempre no quadro de frequentes focos de
encontram polarizados no trabalho independente a par de uma tensão e de conflitualidade. Constata-se assim um progressivo
intensificação dos grupos sociais, técnicos, científicos e ainda que contraditório processo de planear. Deste modo,
empresariais. persiste a lógica de urbanização difusa.
O perfil sócio-profissional da população activa portuguesa Litoralização e Urbanização Difusa: em Portugal continua a
mudou profundamente. A este perfil de uma população activa persistir uma lógica de ordenamento territorial marcada por
precocemente terciarizada corresponde o perfil de um território litoralização, a que se vem associar uma urbanização difusa,
supostamente urbanizado. O espaço metropolitano de Lisboa é mas mantendo em grandes manchas territoriais uma acentuada
o que apresenta os valores de rendimento per capita, mais desertificação económica e social. O país aguarda ainda formas
elevados. O porto apresenta o segundo valor mais elevado no mais equilibradas de ocupação do respectivo território ao
entanto em termos comparativos no quadro dos espaços inter- mesmo tempo que se orienta num regresso territorial à Europa.
regionais é o Algarve que se situa na segunda posição. Existem alguns sinais de mudança social nos inícios deste século
Diferenciação Regional: as disparidades regionais diminuíram. XXI onde parece emergir o que designa de “cidades
Portugal atravessou nos últimos 15 anos um importante metropolitanas”. Falta a consolidação de projectos institucionais
processo de mudança, sendo contudo muito desiguais os das metrópoles de Lisboa e Porto de uma consolidação e
sectores, as dimensões e o alcance desse mesmo processo. Mas articulação com vilas urbanas e cidades médias, para virem a
esta mudança acentuou-se nos lugares onde a dinâmica do consolidar o Portugal urbano mais equilibrado económica e
desenvolvimento económico, social e cultural já se encontrava socialmente em termos de ordenamento territorial.
em curso, daí que a litoralização do país se tenha vindo a Desenvolvimento metropolitano em Lisboa e no Porto: regista-
acentuar. se um abrandamento do ritmo de crescimento da população
Mobilidade e Urbanização: há uma estreita articulação entre o nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Mas,
sistema de mobilidade e o processo de urbanização do particularmente no caso de Lisboa o relativo abrandamento tem
território. Entre nós os transportes terrestres têm tido o maior vindo a ser contrariado com a progressiva chegada de migrantes
destaque nas relações de mobilidade. Acentuada melhoria das vindos do Leste europeu. Este abrandamento é acompanhado
condições de serviço dos aeroportos. Foi na rede rodoviária que por intensos movimentos de reorganização interna.
se investiu de modo mais intenso. A cada novo eixo de Cidades Metropolitanas: há a necessidade de ter em conta a
acessibilidade (auto-estrada) constata-se o efeito perverso de questão da massa crítica com forma de ir contrariando as
21
assimetrias espaciais e desequilíbrios sociais. É reconhecida a
importância que as cidades de Lisboa e Porto têm vindo a
assumir no actual contexto da globalização do capitalismo. São
espaços regionais com forte componente urbana e
metropolitana, como lugares estratégicos de afirmação, de
competitividade, mas também de cooperação no referido
contexto global.
Índice de primazia: é a relação entre a população das duas
principais cidades (Lisboa e Porto), em que Lisboa era detentora
deste índice.
Índice de macrocefalia: é a diferença populacional das duas
cidades (Lisboa e Porto) em relação às restantes cidades do país.
Rede Urbana: reorganização do espaço urbano de modo a
reduzir a expressão dos fenómenos de suburbanização. A
criação ou reconversão de diversas polaridades urbanas num
sistema em rede de modo a que em simultâneo possam vir a
assumir uma centralidade territorial e uma condição urbana,
isto é um estatuto pleno de cidade e uma qualidade de
urbanidade.
Redes de cidades: as redes de cidades constituem-se para
resolver as assimetrias e os desequilíbrios territoriais. É uma
lógica diferente de ordenar o território, procurando contrariar
inércias pesadas nas formas de ocupação do mesmo. No sentido
de desenvolvimento de uma nova dinâmica e de um distinto
enquadramento territorial nomeadamente no contexto ibérico.
Para se criar estas redes de cidades, implica a necessidade de
intervenções estratégicas em determinadas áreas, procurando
criar “massa crítica” territorial para um novo ordenamento
sócio-espacial.
Urbanidade: para haver urbanidade á que ter em conta a
necessidade de organizar o território de Portugal urbano em
rede, redes de cidades. Isto põe em causa a necessidade de
conferir urbanidade plena e consolidada e sustentável, ou seja,
uma urbanidade qualitativamente avaliada ao nível histórica,
económica, social e cultural do sistema em rede do conjunto
daqueles territórios urbanos.
Discuta as principais medidas adoptadas ao longo das últimas
décadas no quadro do ordenamento territorial em Portugal. A
desenvolver tenha em consideração as seguintes esferas de
intervenção: Habitação, Ambiente e poder local.
Referir e desenvolver:
1-A implementação dos planos directores municipais
2-O quadro habitacional e as respostas políticas
3-O impacto do poder local no ordenamento do território
português.
4-Os planos regionais de ordenamento do território
5-A dimensão ecológica do ordenamento do território e os
planos de ordenamento da orla costeira. (p. 300-303)
Discuta os padrões de urbanização em Portugal, tendo em
consideração os seguintes aspectos: Bipolarização territorial
dominante, Conurbação urbana e Recomposição sócio-
produtiva.
Referir e desenvolver:
1-polarização entre urbanização litoralizada e desertificação
interiorizada.
2-Impacto das migrações no quadro territorial português
3-Conurbação urbana n litoral, ligando a Península de Setúbal à
região de Braga
4-Recomposição sócio-produtiva associada a uma intensificação
de grupos sociais técnicos, científicos e empresariais.
Crescimento de uma nova classe média ligada ao surgimento de
pequenas e médias empresas.
5-Simetrias e desigualdades da mobilidade espacial. (p. 289-
299).
22
8 – Cidades, Sociedades e Cultura não especializados e imigrantes que prestam serviços às
Pós – metrópole: segundo Soja é estruturada por uma complexa empresas e à “elite” a preços baixos (limpeza, industrial e
matriz de desigualdades de poder e de estatuto resultante das doméstica). Com esta tese percebe-se que existem portanto
novas lógicas económicas e de classe, assim como das desigualdades sociais.
crescentes assimetrias da distribuição da riqueza e das Cidade dividida: pretende captar as “fronteiras” simbólicas e
diferenças raciais, étnicas e de género. materiais, visíveis e invisíveis produzidas pela diferenciação de
Perspectivas (Soja): 3 modelos que estabelecem a relação entre classe, raça e etnia.
organização do espaço, as desigualdades sociais, e os processos -Marginalização de populações negras devido a processos de
de reestruturação económica (globalização) a emergência de nobilitação
novas tecnologias da informação e as dinâmicas do processo de -práticas racistas e discriminatórias por parte dos promotores
transição para uma sociedade pós-fordista ou pós-industrial. imobiliários e institutos financeiros
O 1º modelo (perspectiva) é explicado a partir de dois -crescente diversidade etnia e racial que tem estruturado as
argumentos: cidades contemporâneas.
1ºOs ricos estão cada vez mais ricos devido à adopção de novas Perspectivas sobre a segregação étnia e organização espacial:
estratégias associadas á inovação tecnológica, reorganização Duas perspectivas:
empresarial e ao enfraquecimento da regulação estatal e à 1-Modelo de estatuto social: segundo esta abordagem a
localização geográfica. segregação de um grupo étnico está directamente relacionada
2ºParte do pressuposto de que os crescentes fluxos migratórios com o estatuto social do grupo.
originários dos países pobres, aceitam salários muito baixos e 2-Modelo do estatuto étnico: este modelo sustenta que a
condições de trabalho precários, são responsáveis pelo segregação de comunidades étnicas não é necessariamente
decréscimo do rendimento das chamadas pobres nacionais e uma função do estatuto económico destas populações. Ex:
por um aumento de despesa na segurança social. ciganos (é por causas culturais).
2º modelo (perspectiva de Soja): centra-se na relação entre o Segregação étnica e racial: são os processos de separação
sector empresarial e os processos de globalização numa espacial dos grupos que têm por base as diferenças
perspectiva económica-política: e diz: na sociedade capitalista a (percepcionadas) associadas às tradições, atitudes, valores,
redistribuição da riqueza tende a favorecer as camadas mais costumes e estilos de vida de populações de diferentes origens
privilegiadas e as áreas mais ricas das cidades. culturais, etnias e geográficas.
3º modelo (perspectiva de Soja): sobre as causas da nova Segregação sócio-económica: diz respeito às diferenças de
pobreza nos EUA. As comunidades urbanas pobres (negros) estatuto social e de rendimento e o modo como estas se
tendem a concentrar-se em zonas degradadas e marginalizadas reflectem na organização do território com destaque para o
da cidade (cova da Moura – Lisboa), as causas são: território urbano.
-processos de desindustrialização Hipergueto (Wacquant – 1994): refere-se a uma nova forma de
-reestruturação económica registada EUA, com aumento de segregação social e espacial emergente nos guetos negros dos
desempregados entre a população negra EUA caracterizada por:
-dependência de subsídios da segurança social, nascimentos 1-uma crescente violência que afecta o dia-a-dia das populações
fora do casamento, incidência de crimes. 2-o abandono das instituições e organizações oficiais
Underclasse (W. J. Wilson): a estudar as transformações 3-a informalização da economia
ocorridas nas comunidades marginalizadas de Chicago, Wilson 4-o menor grau de diferenciação social
defende que os negros e outras minorias pobres tendem a As transformações do gueto negro nos EUA devem-se a três
concentrar-se mais em zonas degradadas e marginalizadas da factores.
cidade. O aparecimento destas comunidades urbanas pobres, 1-profundas transformações económicas na economia
permanentemente desempregadas, isoladas dos recursos sócio- americana pós-fordista
económicos da sociedade, em geral, e especialmente 2-persistência da segregação racial
segregadas, não se pode dissociar dos processos de 3-retracção do Estado providência
desindustrialização. Segundo Wilson, Estas comunidades que Discurso sobre o espaço: a inserção de uma consciência de
designa por underclass (infraclasse ou subclasse), são ilegalidade nas mentes dos residentes do bairro é reveladora da
resultantes de dois principais factores: construção ideológica desses habitantes como “sujeitos ilegais”.
1ºliga-se com a reestruturação económica registada nos EUA a Esses discursos influenciam as formas de vida assim como a
partir da déc. 70, a qual provocou um aumento vertiginoso de identidades individuais e colectivas dos habitantes. Constrói-se
desempregados entre a população negra. a imagem pública que tende a associar imigração com
2ºprende-se com o aumento daquilo a que se designa “social criminalidade e espaços marginais.
dislocations”, as quais aludem à incidência de crimes, Cidade Fortaleza: surgimento de novos padrões de segregação
dependência permanente nos subsídios da segurança social e à espacial que têm surgido em estreita associação com novas
crescente ocorrência de nascimentos fora do casamento que formas de controlo social, privatização do espaço, governação e
caracterizam a subclasse do gueto. policiamento. O crime, o medo da violência e os sentimentos de
Polarização do emprego e dos salários (Sassen-Koob) insegurança têm gerado um conjunto de estratégias de
“polarização social e económica” – assinala o surgimento de protecção, cujas expressões mais emblemáticas são a
dicotomias acentuadas no mercado de trabalho, resultantes da construção de enclaves fortificados, monitorizados por sistemas
afirmação do sector dos serviços nas cidades em detrimento dos sofisticados de segurança, onde alguns grupos sociais das
sectores industriais em declínio e relocalização. Por um lado, a classes médias e altas se isolam e se protegem dos perigos reais
existência de um grupo de gestores, profissionais e ou imaginários da vida urbana.
trabalhadores especializados nas administrações e nos serviços Cidade carceral (Soja, 2000): configurada pela intensificação do
financeiros e de apoio às actividades económicas (ordenados controlo social e espacial assim como pelo crescente
altos). Por outro lado, verifica-se grande oferta de trabalhadores
23
policiamento do espaço e pela regulação repressiva da vida medida em que as cidades estão em constante mutação. Ao
urbana. longo dos séculos as cidades são construídas, destruídas e
Ecologia do medo Mike Davis (1990) os novos modelos de reconstruídas.
segregação espacial e social que se alimentam de um urbanismo Flânneur (Benjamin): é o reflexo das ambiguidades e das
obcecado com a segurança. perplexidades da modernidade. Para Benjamin é a
A segregação social e espacial em São Paulo, Caldeira (2000) personificação da ambiguidade típica da cidade moderna,
demonstra como a falta do crime e da violência e a violação dos distraída e descomprometida.
direitos de cidadania se têm associado a transformações Narrativas sobre a cidade pós-moderna: a leitura que Walter
urbanas na produção de novos padrões de segregação espacial. Benjamin faz da experiência urbana moderna fornece-nos pistas
O enfoque do seu trabalho recai sobre o modo como os de interpretação importante para a análise do papel do
enclaves fortificados e condomínios fechados constituem uma simbólico nas vivências da cidade numa sociedade de consumo
nova forma de organização do espaço com profundas massificada. As ambiguidades, as perplexidades, a pluralidade
implicações na apropriação do espaço público e na qualidade da simbólica e as relações fragmentadas e multi-estratificadas que
vida pública na cidade de muros de São Paulo. Um dos segundo Benjamin caracterizam a experiência da cidade
argumentos centrais é de que os novos padrões de segregação moderna vão encontrar eco nas abordagens pós-modernas do
espacial tendem a destruir os valores democráticos da urbano.
igualdade, acessibilidade e liberdade de circulação no espaço Construção social do património simbólico urbana (Mela –
público, substituindo-os por novas desigualdades, policiamento 1999): A interacção entre os indivíduos e a cidade contribui para
de fronteiras, distanciamento e exclusão. Ao analisar a a construção identitária dos indivíduos mas também das
organização espacial e social em São Paulo e em Los Angeles, próprias cidades. Ela reconhece-se como real e representacional
Caldeira defende que, apesar das diferenças entre as duas como texto e contexto, como ética e estética como espaço e
cidades, existe um traço comum que as une: o modo como as como tempo socialmente vividos e reconstruídos. É na
mudanças resultantes da globalização, migrações e processos intersecção desta pluralidade de interacções e de
de reestruturação económica em L.A. e a crise e reestruturação representações que a cidade ganha a sua identidade específica
económica e a democratização em São Paulo assumem, e a sua singularidade. É esta relação entre a simbologia urbana e
sobretudo, um carácter anti-democrático, intolerante e as práticas sociais que o autor denomina construção social do
exclusionário. (p-346) património simbólico urbano.
Género e espaço: sustenta que as mulheres, tal como as Espacialização social (Shields – 1991): designa a construção
minorias, crianças e os pobres, ainda não são cidadãos de pleno social do espaço ao nível do imaginário social (mitologias
direito no sentido em que nunca lhes foi concedido o total e colectivas) e do ambiente edificado.
livre acesso às ruas. Têm sobrevivido e desenvolvido nas áreas Destradicionalização (Fortuna - 2001): é o processo social pelo
institucionais da cidade, negociando as contradições da cidade à qual as cidades e as sociedades se modernizam, ao sujeitar
sua maneira. Desde séc. XIX que o espaço público tem sido anteriores valores, significados e acções a uma nova lógica
equacionado com o domínio dos homens, e o espaço privado ou interpretativa e de intervenção. A necessidade das cidades de
doméstico com o das mulheres. Contudo as mulheres criarem vantagens comparativas no contexto da concorrência
continuam a ser confrontadas com situações de grande entre cidades, por causa da globalização, promove a
desigualdade económica, social e espacial. E a ser vítimas do reconversão dos recursos locais nomeadamente património
poder patriarcal e de práticas discriminatórias. histórico e monumental, o qual tende a ser articulado com a
Culturas Urbanas: Interpretação da cidade como construção criação de novas formas simbólicas inovadoras.
cultural e simbólica. Colocando a tónica na interpretação pós- Espaços públicos: o espaço público como noção jurídica remete-
moderna. Walter Benjamin – abordagem sobre a cultura urbana nos para a noção de espaço enquanto propriedade da
moderna, ele capta a experiência da modernidade e a administração pública a qual fixa as condições da sua utilização
experiência urbana. e acessibilidade. Repensar os espaços de modo a que estes
Não Lugar (Marc Auge): com o declínio e a degradação dos sejam instrumentos facilitadores da coesão social e de
espaços públicos, surgem lugares a que o autor designa de “não integração da diversidade num projecto de cidadania activa.
lugares”, caracterizados pelo anonimato e pela transitoriedade Tem-se assistido a mudanças na organização social do espaço
das relações sociais como é o caso dos grandes centros público: (5 mudanças):
comerciais, parques de estacionamento, aeroportos. Estes 1-Declínio de áreas centrais da cidade em prol do
lugares tendem a assumir um carácter desintegrado e desenvolvimento de áreas administrativas
exclusionário, contrariando as dimensões colectivas e 2-Existência de territórios metropolitanos integrados pelo
multifuncionais do espaço público tradicional. automóvel e transportes públicos
A experiência da cidade moderna: (Walter Benjamin), para este 3-Privatização do espaço público por organizações e empresas
autor as formas urbanas são interpretadas a partir de um privadas
conjunto de experiências individuais de fantasias, sonhos e de 4-Difusão de sentimentos de insegurança em relação a espaços
vontades que estruturam a nossa percepção da cidade. Assim, a públicos
interpretação da cidade emerge da negociação constante entre 5-Declínio dos espaços públicos como lugares simbólicos e de
a experiência individual e o simbolismo cultural específico de comunicação e a emergência de novos modelos de
cada cidade. comunicação.
Aura (Benjamin): “o carácter único de uma obra de arte”o qual Urbanidade: “o espaço público é a cidade” no sentido em que
é inseparável do facto de estar associada à edificação da proporciona as condições necessárias e indispensáveis para a
tradição. Em relação à cidade a existência de aura está ligada à vida urbana, como também constitui um factor de identificação,
identidade específica de cada cidade. A aura na obra de arte socialização de encontro, de manifestações cívicas, culturais
está associada à tradição, a determinado período histórico, a sociais e artísticas. O que caracteriza o espaço público é o seu
uma época. No caso das cidades, esta aura seria ténue, na uso e função social integradora, não é tanto o seu estatuto
24
jurídico. Ao perspectivar uma nova cultura urbana os espaços
públicos assumem uma importância central pata a construção
de um novo projecto de urbanidade democrático e inclusivo.
Espaços públicos e estética (Mela – 1999): a estética triunfou
sobre a ética como foco primário de preocupação intelectual e
social, as imagens dominaram as narrativas. A explosão
imagética e as novas expressões estéticas têm-se revestido de
múltiplos significados, criando novos campos de representação
e de intervenção.
(Mela) Três principais dimensões estéticas exemplificativas da
condição pós-moderna:
1ª Tribos urbanas: a emergência de uma grande diversidade de
grupos com estilos de vida, rituais e códigos que acentuam
diferenças e pluralidades. Ex: no campo da música – pop, rock,
rap, metal. É importante realçar o modo como estes novos
actores sociais se apropriam da cidade e nela criam espaços
públicos e reivindicação de cidadania.
2ªPoética da cidade caótica: é uma extrema fragmentação
simbólica no cinema, na literatura, nas artes visuais e artistas e
na arquitectura, novos processos de representação reflectem
novas concepções do tempo e do espaço que sublinham a
fragmentação, a descontinuidade, a ruptura, a conflituosa e
confusa experiência do espaço e do tempo. A fragmentação, o
caos, a esquizofrenia e o pluralismo são os principais eixos que
têm vindo a ser associados à condição da pós-modernidade.
3ªLixo e monumentos: tem-se assistido à utilização de refugo,
de lixo e de outros produtos descartáveis que fazem parte do
dia-a-dia como símbolos de novas expressões estéticas
carregadas de novos significados. Por outro lado, verifica-se a
realização de obras de carácter monumental (edifícios, estádios,
centros de exposição) que pretendem criar novos modelos
simbólicos directamente ligados ao poder corporativo e ao
estado.
Acrescentaríamos também: 4ª Estética subversiva: consiste em
manifestações artísticas com expressão de revolta e uma forte
carga imagética e simbólica que ganha expressão nos espaços
públicos da cidade contemporânea. Ex: rap, graffiti, hip hop.
Aponta para o modo como a cidade pública se constitui como
espaço de expressão e de afirmação daqueles que são
sistematicamente marginalizados e excluídos.

25
9- O reconhecimento de direitos ao nível da cidade ou da região é
Relação histórica entre cidade e cidadania: ao longo dos tempos importante para o exercício pleno da cidadania. A relação entre
a cidadania tem estado directamente associada às cidades o local e o global obriga à criação de um conjunto de direitos
sendo estas caracterizadas pela densidade populacional, redes que se designa por “Direitos complexos” ou de 4ª Geração.
de sociabilidade, actividades económicas, diversidade cultural, Cidadania de proximidade:
estética, memória colectiva, pelo exercício da política e por Segundo Borja (2002) a cidadania de proximidade implica um
formas de governação próprias. Os termos cidade, cidadãos e projecto de inovação política e de legitimação de valores que
cidadania tem uma raiz epistemológica comum: “lugar do estão na base de um conjunto de direitos associados à cidade e
civismo” onde os cidadãos tem um conjunto de direitos e ao território. Vejamos alguns dos exemplos propostos:
deveres. Em Atenas, o exercício da cidadania inscrevia-se numa 1. O direito à cidade. Estes direitos estão associados a novos
relação complexa entre política e cidade/comunidade. Em Roma projectos urbanos, assim como a projectos de habitação social
a noção de cidadania ganha novos sentidos, o direito romano para as populações mais desfavorecidas, devendo promover a
atribuído aos povos conquistados, os direitos de cidadania participação directa da população, incorporando actividades
alargados ao nível social. sociais e culturais, trabalho e programas de inserção no tecido
Evolução dos direitos de cidadania: o processo histórico da urbano. Uma outra dimensão destes direitos tem a ver com o
cidadania é visto como uma sucessão temporal de direitos direito à cidade que se traduz na valorização dos bairros e dos
cívicos políticos e sociais. lugares como partes integrantes da cidade. No âmbito destes
Séc. XVII – emergência de direitos civis que correspondem ao direitos Borja refere com especial enfoque o direito a um
direito da profissão privada à justiça e à liberdade pessoal. espaço público de qualidade, que é visto como um “direito
Séc. XVIII e XIX – os direitos políticos acompanham o humano fundamental nas nossas sociedades”. Assim, o direito
desenvolvimento da democracia parlamentar: direito de voto, ao lugar, à mobilidade, à beleza, à qualidade de vida, à
de associação e de participação. integração na cidade formal e ao auto-governo são
Final do séc. XX – reflecte-se nos direitos sociais nas áreas do indissociáveis do direito à cidade.
trabalho, habitação, educação, saúde, seg. social, etc. Ao longo 2. O direito à cidade como refúgio aponta para a criação de
do séc. XX os direitos de cidadania têm sido objecto de espaços que funcionam como refúgios para aqueles que
expansão: liberdade religiosa, igualdade perante a lei, proibição temporariamente necessitam por diversas razões (legais,
de práticas discriminatórias com base no género, raça, culturais ou pessoais) de se proteger de instituições que se
nacionalidade, cultura, religião, etc., a igualdade civil das mostraram incapazes de proteger os cidadãos.
mulheres (adquirido muito recentemente). Nos direitos 3. O direito à diferença, à intimidade e à liberdade sexual. Nas
políticos: sufrágio universal, legalização de todos os partidos cidades contemporâneas ninguém deve ser discriminado em
políticos, autonomias regionais, desenvolvimento (embora função da sua cultura, crenças nacionalidade, raça ou
incompleto) da democracia participativa. Por último os direitos orientações sexuais.
sociais associados ao estado-providência (reivindicações de 4. O direito à educação e à formação contínua como garantia de
direitos económicos feitos pelos movimento operário e inserção social e profissional possibilita a criação de trabalhos
socialista) tem vindo a sofrer um considerável retrocesso. mesmo em períodos de grande transformação económica.
Os direitos de cidadania tradicionais têm-se mostrado ineficazes 5. O direito ao emprego e ao salário do cidadão. Numa época
para combater as múltiplas formas de exclusão social e de em que o direito ao trabalho se tornou mais e mais num
violência. A crescente mobilização de fluxos migratórios privilégio, o conceito de salário do cidadão é entendido como
caracterizados por diferenciação étnico-cultural, por múltiplas um direito para todos, mesmo aplicável em períodos de
lealdades de pertenças e por diversas formas de identificação desemprego ou em troca de trabalho social.
territorial, desafiam a ideia de cidadania com um conjunto de 6. O direito à justiça local e à segurança. A dificuldade em
direitos e deveres associados exclusivamente à nacionalidade aceder à justiça por parte da maior parte dos cidadãos e a
como vínculo a um território, a uma cultura e a uma nação noção de segurança enquanto repressão obrigam a encontrar
específicas. formas mais inovadoras que compreendam uma actuação
Globalização e novos desafios políticos para a cidade: as cidades concertada entre as instituições locais e a sociedade civil de
têm sido palco, nas últimas 3 décadas, de profundas modo a assegurar um sistema de justiça local mais eficaz,
transformações decorrentes dos rápidos processos de assente na prevenção e na segurança dos cidadãos.
globalização. Castells e Borja identifica, 3 áreas onde a cidade 7. O direito à inovação política refere a necessidade de os
pode intervir e gerir o global: governos locais e regionais de reconhecer as reivindicações
1ºProdutividade económica: as cidades contribuem paa a sociais e políticas de forma a inovarem os regimes de
competitividade económica fornecendo as condições para a participação política.
existência de mão-de-obra qualificada (educação, habitação, 8. O direito à igualdade de estatuto jurídico-politico para todos
saúde, serviços públicos, alta finança, tecnologia de informação, os residentes da cidade. A consagração deste direito está
mercados, administração e serviços de ponta. directamente associada à ideia de que a cidadania é distinta da
2ºIntegração sócio-cultural: a cidade pode constituir-se como nacionalidade e que a relação com uma realidade sócio-
um lugar privilegiado de reivindicação e mudança mas também, territorial deve determinar o estatuto legal dos residentes.
de solidariedade social e tolerância cultural e religiosa. 9. O direito de participação dos representantes directos dos
3ºRepresentação e gestão política: refere-se às cidades como cidadãos. Tanto os representantes institucionais ligados ao
lugares de participação e de inovação política, com vantagem governo local e/ou regional como os representantes de
de maior proximidade à população, maior capacidade de organizações não-governamentais devem ter acesso ao espaço
integrar políticas públicas, a consciência de vida identidade político internacional no que respeita a decisões que os afectam
local-regional como forma de reacção às formas de globalização directamente.
cultural. 10. O direito dos governos locais e regionais de constituírem
redes e associações que actuem e que sejam reconhecidas
26
internacionalmente. Este novo modelo de actuação pretende movimentos de cariz humanitário, associação aos processos de
trazer as cidades e as regiões para o espaço de regulação da globalização e criação de grupos ligados à defesa dos direitos
globalização dominada pelos Estados-nação e pelas grandes humanos (ambientalistas, femininistas, sindicalistas).
corporações económicas e financeiras. Movimentos sociais urbanos: são processos de mobilização
Para Borja, a estes direitos estão necessariamente associados social com objectivos pré-definidos, organizados num território
um conjunto de deveres por parte dos seus titulares que e visando objectivos específicos. As suas reivindicações
permitem o exercício efectivo da cidadania. Uma democracia baseiam-se: melhoria das condições de vida urbana, afirmação
territorial de proximidade implica, pois, a criação de uma nova de identidades culturais e locais, conquista de espaços mais
cultura de cidadania e a conquista de direitos urbanos que alargados de cidadania e de autonomia política.
possibilitem reequacionar de forma inovadora a relação milenar Movimentos sociais urbanos – Novas tendências: quatro
entre cidade e cidadania. principais vertentes de mobilização e de mudança social:
Cidade multicultural e de participação política: nas últimas 1-Vários movimentos sociais, organizações e associações que
décadas a aceleração dos processos de urbanização tem foram integradas na estrutura política local.
acentuado a pluralidade cultural e étnica nas cidades através da 2-comunidades locais e associações que têm actuado na esfera
intensificação das migrações. É no local que se produzem novas ambiental (áreas habitacionais, subúrbios, regiões do interior).
formas de identidade e de pertença e de comunidade. As 3-comunidade de baixos rendimentos de todo o mundo,
cidades são receptáculo de diversidade e de contrastes. Com o organizam-se para assegurarem a sobrevivência colectiva.
desenvolvimento da tecnologia da informação surgem (movimentos dos sem terra, cozinhas comunitárias)
comunidades virtuais ligadas entre si e interagindo em tempo 4-surgimento de Gangs que têm impacto nas comunidades
real. As novas configurações de território e indivíduos originam locais que se sentem temerosas a estes grupos. Os gangs
a formação de novas identidades que não se fundem na possuidores de uma “cultura de urgência” da recompensa
pertença a uma única nação, religião, cidade ou aldeia. A cidade imediata e da vida experimentada até ao limite.
é um espaço de concentração de culturas e um lugar As novas tendências dos movimentos sociais assumem um
privilegiado para a formação de identidades e de comunidades carácter mais heterogéneo fragmentado e polarizado.
transnacionais. As reivindicações destes novos actores são Políticas urbanas na era Fordista: o Estado assumiu o papel na
múltiplas. O carácter multicultural das cidades faz reconhecer a regulação e no apoio social – Estado-providência:
necessidade de políticas locais para a integração das populações -Na organização e gestão de serviços públicos (habitação,
migrantes. Neste sentido, há um conjunto de recomendações educação, saúde, transportes).
dirigidas à participação efectiva dos migrantes na vida política -Na concessão de direitos sociais (subs. Desemprego, pensões,
local. Necessidade dos migrantes serem ouvidos nos processos reforma e invalidez).
de decisão política. Criar concelhos consultivos, direito de voto Isto gera aumento da despesa pública, os conflitos sócias
em eleições locais e flexibilização nas leis de nacionalidade. A tendem a ser resolvidos através do “Pacto social”. As lutas
declaração de Estugarda de 2003 estabeleceu um conjunto de reivindicativas são dirigidas para um conjunto de garantias
princípios para a construção de uma política europeia comum sócias e serviços públicos e encontram eco na adopção de
para a integração local das comunidades migrantes. A nova políticas de bem-estar e de segurança social.
cidadania local implica a gestão de uma política local orientada Ao nível do Governo da cidade:
para combater as desigualdades sociais e a discriminação. Por -As cidades concentram mão-de-obra industrial é portanto nas
outro lado, a valorização da igualdade, da multiculturalidade, do cidades que o Estado-providência se desenvolve
intercâmbio cultural e étnico e religioso assume carácter -O êxito do Estado-providência depende do êxito entre as
prioritário para o desenvolvimento das cidades mais empresas, sindicatos e trabalhadores
democráticas. -O exercício do poder local apresenta um carácter ambivalente.
Movimentos sociais e redes organizativas locais/globais: surgem 1-As políticas de intervenção concentram-se nas grandes
movimentos sócias urbanos da articulação complexa entre o cidades. O governo local torna-se um instrumento para a
global e o local. A partir da década de 60 surgem acções de aplicação de tais políticas públicas.
protesto tendo por base reivindicações norteadas pela luta de 2-As administrações locais têm uma margem de manobra
classes com desejos de bem-estar material. Tourain diz que reduzida no que diz respeito à definição de áreas prioritárias de
estas novas conflitualidades transcendem a luta de classes e intervenção, assim como às estratégias de desenvolvimento
que antes assentam em: o princípio da identidade, o princípio económico e urbano.
da oposição, o princípio da totalidade. Acrescenta: o que está na Políticas urbanas na era Pós-Fordista: Transformações
base dos novos movimentos sociais é a procura e a formação de económicas, sociais e espaciais. Crise no sistema político e das
uma nova identidade. Os novos paradigmas sociais assentam na instituições estatais. Três principais tendências:
qualidade de vida e na cultura. Os novos movimentos sociais 1º Acentuação do poder local como interlocutor privilegiado a
tem uma orientação ideológica, de valores, modelos nível inter-regional e internacional. Ex: combater o desemprego,
organizativos e formas de intervenção. Os novos movimentos estimular o desenvolvimento económico. – Parcerias.
sociais tem como actores as ONGs. Inscrevem-se na esfera da 2º Os governos locais têm vindo a privilegiar o desenvolvimento
sociedade civil intervindo em múltiplas arenas da vida social, económico em detrimento da implementação de políticas
cultural e política. sociais e da prestação de bens de consumo colectivo.
Sociedade civil global: é uma esfera de ideias, valores, (flexibilidade da mão-de-obra)
instituições, organizações, redes e indivíduos que se situam 3ºImplicado novas formas de negociação e de governação que
entre a família, o Estado e o mercado, funcionando para além privilegiam as ONGs e novas coligações de interesse.
das fronteiras das sociedades nacionais e das instituições Na era pós-Fordista, verifica-se uma fragmentação das políticas
políticas e económicas. Ex: acções levadas a cabo por de assistência social e um acentuado envolvimento das
organizações como a Greenpeace, questões ligadas ao empresas locais e de organizações privadas e voluntárias na
desenvolvimento e à democratização da cidade, novos gestão da cidade.
27
Governação Urbana: existe uma crescente tendência para a -Planeamento estratégico da região de Lisboa, Oeste e Vale do
fragmentação e difusão do poder territorial e sublinha a Tejo.
necessidade de uma gestão urbana plural e estratégica capaz de -Plano estratégico do Oeste
ordenar os diferentes actores urbanos e de regular e legitimar -Plano estratégico para a Península de Setúbal
os processos de negociação. Em Portugal tem-se vindo a assistir a uma crescente
-Novas dinâmicas do poder local envolvimento dos cientistas sociais, quer na definição,
-Novas realidade urbanas implementação e monitorização destes planos urbanos, quer no
-Reforço da autonomia local e menos uniformização política- estudo dos processos de implantação dos mesmos.
administrativa Perspectivas futuras da sociologia urbana, quadros analíticos e
-Maior competitividade entre governo local e territorial face ao temática: o desenvolvimento capitalista e a experiência da
central modernidade e o modo como esta relação configura as relações
-Participação política e relação entre partidos políticos e sociais e a organização espacial, passam a constituir uma
cidadãos problemática central no seio da sociologia. A cidade revela-se
-O modelo de participação política tem um espaço privilegiado como um espaço de conflito entre a acumulação de capital e a
-Acesso às novas tecnologias informação como elemento crucial redistribuição social. O direito à cidade, o consumo colectivo e
no funcionamento da administração local os movimentos urbanos, emergem como problemáticas centrais
Cidades com espaço de inovação política: nas últimas décadas no inquérito do sociólogo sobre a cidade e a urbanidade. Os
novas formas de gestão urbana e modelos de democracia novos paradigmas e desafios que se colocam presentemente
participativa têm estado no centro de projectos experimentais aos sociólogos são imensos e exigem novos instrumentos de
desenvolvidos em várias cidades com maior ou menor análise e novos métodos de pesquisa.
intensidade. Os dois casos mais paradigmáticos são as
experiências de gestão em:
-Barcelona – participação cívica, cooperação pública-privada.
-Porto Alegre no Brasil
Gestão participativa: ou “orçamento participativo”. Constitui
um processo pelo qual os cidadãos participam directamente nos
processos de decisão no que respeita à mobilização,
redistribuição de recursos e de serviços e fiscalidade. Este
modelo tem-se revelado eficaz de democracia de proximidade.
Planeamento territorial urbanístico: tem conhecido diferentes
fases de desenvolvimento e diferentes interpretações. Em geral
designa: A planificação territorial urbanística designa o uso de
instrumentos (aplicáveis a diversas escalas espaciais) que se
consideram capazes, em função de determinados objectivos,
coerência no espaço e no tempo às transformações territoriais.
É ao mesmo tempo instrumento regulador de aspectos
específicos ao desenvolvimento e bem-estar, no respeitante ao
uso do solo, às interligações e às obras públicas.
Modelo de planeamento racional-compreensivo: dominante nas
déc. 60 e 70. 1-A cidade e o território são vistos como sistemas
e o planeamento tem como principal objectivo a regulação
global do seu funcionamento. 2-A realidade urbana é
interpretada de uma forma funcional, com especial enfoque na
habitação e obras públicas. 3-O processo de planificação é
desenvolvido a partir de um esquema global para formas de
intervenção mais localizadas.
Planeamento estratégico: inclui um conjunto de importantes
dimensões:
1ºDiz respeito à visão global da realidade territorial que
combina os seguintes elementos:
-Identificação das vantagens comparativas de determinado
território face ao ambiente externo.
-Identificação de áreas chave para o desenvolvimento e o
reconhecimento de vantagens competitivas. Levando a uma
hierarquização dos projectos das acções de intervenção no
território.
2ºDiz respeito à sua dimensão temporal:
-O planeamento estratégico enquanto processo vai-se
desenvolvendo ao longo de um período de tempo alagado.
Críticas ao Planeamento estratégico:
1-Tendência para a discricionaridade da acção colectiva.
2-secundarização do papel do estado. Como agente regulador
do desenvolvimento do território.
Em Portugal:
28

Você também pode gostar