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24/08/2021 AVA UNINOVE

ANÁLISE DE POESIA CLÁSSICA


MOSTRAR AS CARACTERÍSTICAS CLÁSSICAS DAS POESIAS.

AUTOR(A): PROF. ANDRE YUITI OZAWA

Análise do poema de Camões:


Busque Amor novas artes, novo engenho,


para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
 

Olhai de que esperanças me mantenho!


Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
 

Mas, conquanto não pode haver desgosto


Onde a esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
 
Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
 

Constituído de dois quartetos e dois tercetos compostos por decassílabos heroicos, recorrências de
aliteração específica em alguns versos, tônicas nas sextas e décimas sílabas, esquema de rimas abba/ abba/
cde/ cde, obedecendo ao modelo clássico, sua composição permite a ambientação da divisão temática e a
construção de uma unidade sonora rica, a qual, ao passo que atua na familiarização de uma estrofe à outra,

atua também no sentido de promover a ilustração estrutural do discurso, relacionando poeticamente


proposições e argumentos.

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  Busque Amor novas artes, novo engenho/ para matar-me, e novas esquivanças O eu-lírico sugere um

desafio ao amor: novas estratégias e artimanhas. Deseja pagar com desdém, a forma com que o amor o tem
tratado; no entanto, esta atitude aparenta uma segurança, pois está embasada no sofrimento que o amor
lhe trouxe ao longo da vida, como comprovam os adjetivos novas e novo que acompanham artes, engenho e
esquivanças. A determinação em mostrar-se indiferente às  rebeldias  do amor acarreta uma vontade de
vingança do desamor de que tem sido vítima e, desta forma, do amor que lhe tem sido negado.
Como o amor é determinado em dificultar-lhe a vida, o eu-lírico afirma que nada tem a perder, como
explicam os “que” no início dos versos três e quatro:
que não pode tirar-me as esperanças,/ que mal me tirará o que eu não tenho
Já que não há esperança alguma no eu-lírico, o amor não poderá lhe tirar no presente o que lhe falta, o que
contrariamente ocorre no passado, época de desilusões amorosas que o fizeram calejado no momento atual.
 

Por meio dos imperativos Olhai e Vede, nos versos um e dois da 2ª quadra, o eu-lírico pede ao leitor para
compartilhar a sua verdade: o que ficou dito antes não deve ser tomado à letra, a intenção de se mostrar
rebelde face ao amor manifesta um desejo de vingança legítimo, mas impossível de acontecer porque não se
pode viver sem aquilo de que se depende – o amor.

Não se trata aqui de uma busca de alienação no êxito de uma relação amorosa, mas de uma luta pessoal
pela  sobrevivência na vida encarada como realidade imprevisível que acontece ao sujeito e na qual se torna
urgente criar laços afetivos que deem significado àquilo que, pelo menos aparentemente, não parece tê-lo.
E a primeira quadra dá lugar, no último terceto, à constatação de que o ser humano, antes de qualquer outra
coisa, poderá revoltar-se contra si próprio porque, sabendo-se prisioneiro do que sente, se recrimina por
essa dependência que a inteligência lúcida despreza, mas quando leva a cabo essa luta da razão contra o

sentimento, este último vence porque são os sentimentos que nos ligam ao outro e é assim que nos
sentimos realmente humanos.
 
 
 

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Legenda: CAMõES E A POESIA CLáSSICA

Ditoso seja aquele que somente

Se queixa de amoras esquivanças,


Pois por elas não perde as esperanças
De poder n’algum tempo ser contente.
 
Ditoso seja quem, estando ausente,
Não sente mais que a pena das Lembranças,
Porque inda que se tema de mudança,
Menos se teme a dor quando se sente.

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Ditoso seja, enfim, qualquer estado

Onde enganos, desprezos e isenção


Trazem o coração atormentado.

 
Mas triste quem se sente magoado

De erros em que não pode haver perdão,

Sem ficar n’alma a mágoa de secado.


 

Constituído por duas quadras e dois tercetos em verso decassílabo. O texto obedece ao esquema ABBA /
ABBA / CDC / CDC, havendo rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada em CDC.

O soneto aborda o tema do sofrimento e surge como uma espécie de oração.


Nas três primeiras estrofes, há um pedido, que surge em anáfora (ditoso seja), para que um conjunto de

seres seja feliz: todos aqueles que se queixam que o amor lhes foge, aqueles que têm saudades e todos

aqueles que ainda obedecem ao amor: “Ditoso seja aquele que somente/ Se queixa de amor as
esquivanças,”; “Ditoso seja quem, estando ausente,/ Não sente mais que a pena das lembranças,” e “Ditoso

seja, enfim, qualquer estado/ Onde enganos, desprezos e isenção/ Trazem o coração atormentado.”
Contudo, apesar do sofrimento, todos estes ainda podem ser felizes, pois têm esperanças ou aguardam com

saudades, pois não obtiveram ainda o amor, ou estão distantes, mas podem vir a obtê-lo ou recuperá-lo.
Porém, a última estrofe introduz uma oposição, (mas), é triste aquele que comete erros sem perdão, pois

não terá acesso a esperanças de felicidade: “Mas triste quem se sente magoado/ De erros em que não pode

haver perdão/ Sem ficar n’alma a mágoa de secado".

ATIVIDADE FINAL

Alma minha gentil, que te partiste


Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente,

E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,

Memória desta sida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.

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E se vires que pode merecer-te

Alguma cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cd me leve a ver-te,


Quão cedo de meus olhos te levou.
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
No poema de Camões, podemos perceber algumas características da

poesia clássica, são elas:

A. equilíbrio entre os transes existenciais do poeta com a disciplina clássica: emoção e razão, expressão

pessoal e imitação são concebidas por meio de uma dicção sóbria, contida, mas nem por isso menos
comovente. No poema também podemos perceber que, embora o homem sempre queira atingir o

ideal e a perfeição, ele sempre encontra em seu caminho a restrição imposta pela própria condição

humana.

B. o assunto principal do poema é o sofrimento amoroso do eu lírico perante uma mulher idealizada e

distante. Há uma ambientação aristocrática da corte e uma forte influência provençal na lírica
camoniana.

C. predomínio da musicalidade e grande influência da tradição oral ibérica. O assunto principal do


poema é o lamento da moça cujo namorado partiu. Os paralelismos semânticos, o refrão, reiterações

e estribilho estão presentes em seus versos: esses elementos tinham como finalidade facilitar a

memorização do texto para que ele fosse cantado.

D. O poema de Camões é marcado por uma linguagem rebuscada, permeada por figuras de linguagem de

difícil compreensão. Seu tema principal é a luta entre classes sociais e as crises religiosas.

REFERÊNCIA
 Candido, A., O Estudo Analítico do Poema, São Paulo: FFLCH-USP, 1993. 

 Massaud, M., A literatura portuguesa através dos textos, 23ª ed., São Paulo: Cultrix, 1994.

http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/sonetos.html, acesso em 18/06/2016, às

15:40.

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