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Mantras

Os sons que criam e libertam

LÚCIO VALERA
(Loka Sākṣi Dāsa)

NÚCLEO DE ESTUDOS BHAKTIVEDANTA


PINDAMONHANGABA
2020
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Copyright © 2020 by Lúcio Valera

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NÚCLEO DE ESTUDOS BHAKTIVEDANTA

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MANTRAS
Sons que criam e libertam
INTRODUÇÃO
Existem categorias inimagináveis de sons. A ciência reconhece a existência de vi-
brações sonoras imperceptíveis pelas pessoas comuns. Por exemplo, os seres humanos
são capazes de perceber as ondas sonoras de 20 a 20.000 hz (hertz ou ciclos por se-
gundo). Por sua vez, cachorros e gatos podem ouvir sons de até 40.000 hz. Outras cria-
turas, como os morcegos e golfinhos podem emitir e ouvir ondas sonoras acima de
100.000 hz.
Ainda assim, essas são partes do espectro vibratório conhecido; o que dizer da
vibração sonora em outras dimensões, para nós inimagináveis? Seria exatamente com
essas dimensões que os ṛṣis ou sábios, em todos os tempos, têm trabalhado; com a zona
desconhecida e não manifesta do som.
Nosso curso pretende introduzir os buscadores da Verdade nesse aspecto miste-
rioso da realidade. Vamos estudar sobre a natureza do som. Mas, não qualquer som,
mas, sim aquele som primordial que se identifica com a própria raiz da existência, aquele
som que seria a energia criativa da Divindade Suprema.
Nosso estudo, terá por objetivo conhecer os diferentes estágios de manifestação
do som primordial em nossa dimensão material em todas as formas de sons. Mas vamos
estudar aqueles sons manifestos que ainda estão conectados com seus aspectos mais
sutis e espirituais, ou seja, vamos estudar os mantras.
Apesar de o dicionário definir mantra como um “instrumento para conduzir o
pensamento”, ou uma “formula encantatória que tem o poder de materializar a divin-
dade invocada” (Ferreira, 1999, p. 1276), uma única definição não pode expressar ple-
namente o seu sentido.
Os Āgamas ou Tantras védicos definem mantra como uma potência (śakti) do
Senhor Supremo e Absoluto na forma de som. Etimologicamente a palavra mantra é
constituída de man “mente” e tra “libertar ou proteger”. Definindo mantra, Jaimini Ṛṣi
afirma que mananāt trayate iti mantraḥ “Aquilo que protege e liberta a mente é man-
tra”. Destarte, iremos conhecer alguns dos mantras védicos e tântricos, suas naturezas,
efeitos e utilização.
Para o aspecto prático de nosso curso, estudaremos o alfabeto fonético do sâns-
crito, em sua ordem de manifestação, e noções básicas de pronúncia e métrica que nos
permitirá cantar os mantras objetos de nosso curso.

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VEDAS – O VERBO DA CRIAÇÃO-
“No princípio era o Verbo e o verbo estava com
Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava
com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele
nada foi feito” (João 1:1-3).

A Bíblia nos fala de um som primordial, do Verbo, que dá origem ao mundo.


Essa mesma narrativa, da criação pelo som, já estava presente nas escrituras védicas. O
Śrīmad-Bhāgavatam, por exemplo, descreve minuciosamente esse processo, quando
nos fala de uma forma sutil de som criativo, conhecido como nāda. Essa palavra vem da
raiz verbal sânscrita nad (1P - nadati), que significa “soar, ressonar, rugir ou vibrar”.
Nāda significa som e indica a primeira vibração na Energia Espiritual, quando
ela se expressa na criação do mundo material. A forma abreviada de nāda é chamada
de bindu (gota). Nāda, a vibração sutil do som transcendental, apareceu primeiramente
no éter do coração do demiurgo Brahmā. O primeiro ser criado diretamente de Deus.
Ali encontramos que,
brahmaṇaḥ parameṣṭhinaḥ hṛdy ākāśād abhūn nādo
“A vibração sutil do som transcendental pareceu no éter do co-
ração do sublime Senhor Brahmā” (Śrīmad-Bhāgavatam,
12.6.37).
A seguir, descreve-se que: tato’ bhūt tri-vṛd oṁkāro, “Daquela vibração sutil
transcendental surgiu o oṁkāra composto de três sons” (Śrīmad-Bhāgavatam,
12.6.39). Esses três fonemas representam a Verdade Absoluta em todas as suas três
fases: a Personalidade de Deus, a Alma Suprema e o Ser Absoluto.
yat tal liṅgaṁ bhagavato brahmaṇaḥ paramātmanaḥ
“É a representação da Verdade Absoluta em todas as Suas três
fases: Bhagavān “a Personalidade Suprema”, Paramātman “a
Alma Suprema” e Brahman “o Ser Supremo” (Śrīmad-Bhāgava-
tam, 12.6.39).
Essa sílaba transcendental, sendo uma das potências do Senhor Supremo, e, por-
tanto, não diferente dEle, forneceu para Brahmā, o demiurgo, todas as sementes da
manifestação material.
tato’ kṣara-samāmnāyam asṛjad bhagavān ajaḥ an-
tasthoṣma-svara-sparśa-hrasva-dīrghādi-lakṣaṇam
“Desse [oṁkāra] o não nascido [Brahmā] criou todos os sons do alfa-
beto – vogais, consoantes, semivogais, sibilantes e outros – distintos
por características tais como a medida longa e breve” (Śrīmad-Bhāga-
vatam, 12.6.43).
. Por isso afirma-se que o alfabeto sânscrito surgiu do Senhor Nārāyaṇa, quando
Ele primeiramente manifestou o conhecimento védico no coração de Brahmā. Śrīla Jīva
Gosvāmī afirma que ele, nārāyaṇād udbhūto ’yaṁ varṇakramaḥ,” Surgiu de Nārāyaṇa
em sua ordem alfabética” (Śrī Harināmāmṛta-Vyākaraṇa, Laghu, 1).

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Consequentemente, valendo-se das sementes sonoras (bījas) na forma do alfa-
beto fonético sânscrito, Brahmā, tendo sido iniciado pelo Senhor Supremo no conheci-
mento védico, deu sequência à criação secundária (visarga).
Na sequência, iremos ver outro aspecto do som espiritual. Além da função do
som védico no “processo criativo” (pravṛtti-marga), vamos falar de sua função no pro-
cesso de solução definitiva do problema da existência material, que é por natureza
duḥkhālayam aśaśvatam “plena de sofrimento e temporária”(Bhagava-gītā, 8.15), no
que é conhecido como “processo de libertação” (nṛvṛtti-marga).
A teoria de que Brahman, a Realidade Última seria o som (śabda) ou palavra
(vāc), a essência idealizada da linguagem, foi desenvolvida pelos filósofos da linguagem
e dos pensadores da escola mīmāṁsa. Esse conceito de śabda-brahman teve grande in-
fluência nas cosmologias dos Āgamas ou Tantras.
Os vaiṣṇavas e seguidores do Pāñcarātras, por serem monoteístas, que acredi-
tam na posição suprema da Personalidade da Divindade, como Paramātmā ou Bhagavān,
não aceitam a teoria de que a realidade última seja um śabda-brahman impessoal. Con-
tudo, eles relegam śabda-brahman a uma posição secundária, em suas cosmologias e
cosmogonias, igualando-o a uma das potências (śaktis) da Divindade.
Mais precisamente, śabda-brahman, seria vāk “o verbo” identificado com jñā-
na ou saṁvit śakti “a potência de conhecimento” do Senhor Supremo. Essa potência
(saṁvit śakti) e as potências de existência (sandhini śakti) e de bem-aventurança (hlad-
hini śakti), constituem a potência pessoal interna (svarūpa ou antarāṅga śakti) da Divin-
dade.
Śabda-brahman em sua natureza absoluta chama-se parā, ou parā-vāk. Sendo
a dimensão mais sutil da realidade, é dele que se manifesta as outras três formas mais
densas, ou menos sutil, de som. Isso iremos ver detalhadamente mais para a frente.
“De acordo com o conhecimento védico, o som védico divide-se em quatro
fases, que podem ser compreendidas apenas pelos brāhmaṇas mais inteli-
gentes. Isto acontece porque três das divisões situam-se no interior da enti-
dade viva e só a quarta divisão se manifesta externamente como a fala.
Mesma essa quarta fase do som védico, chamada vaikharī, é muito difícil de
compreender para os seres humanos comuns” (Prabhupada, Vol. 11.2, 1995,
p. 409).
A criação e a origem do som
No início tudo era a escuridão do estado imanifesto e primordial da Natureza
material, conhecido como prādhana. Sendo agitada pelo poderoso olhar do Senhor
Viṣņu na forma da energia do tempo (kala-śakti), a Natureza material desperta e se ma-
nifesta em seu primeiro estágio de evolução, o mahat ou “o estado pleno da matéria”,
que, gradualmente, em um processo evolutivo, transforma-se em ahaṁkāra “o ego”,
manas “a mente”, buddhi “a inteligência”, tan-matras “a sutileza dos elementos”, pa-
ñca-bhūtas “os cinco elementos”, jñānendriyas “os sentidos de conhecimento” e kar-
mendriyas “os sentidos da ação”.
Sendo manifestos, esses elementos se congregam e formam o karaṇa-sagara
“oceano causal”, O Senhor, então, se manifesta como Nārāyaṇa, entra e repousa nesse

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oceano e dos poros de Seu corpo surgem sementes de infinitos universos. Expandindo-
se novamente o Senhor entra e repousa no centro de cada um desses universos. Des-
tarte, do umbigo de cada uma dessas expansões do Senhor brota uma flor de lótus que
contêm em seu caule todos os sistemas planetários. No verticilo dessa flor de lótus nasce
a primeira criatura, o Senhor Brahmā.
Estando perplexo sobre a sua origem, ele ouve subitamente duas sílabas vi-
brando ao seu redor: ta-pa (“pratique austeridade”). Assim iniciado pelo Senhor Su-
premo, o Senhor Brahmā, praticando severas penitência e meditação, ouve e recebe a
inspiração do conhecimento védico, para cumprir com sua tarefa de dar sequência à cri-
ação secundária. Esse conhecimento se manifesta do som transcendental, a sílaba oṁ,
de onde brota todos os sons do alfabeto fonético sânscrito.
De acordo com a fonética tradicional (śikṣā), o ser (ātmā) formula intenções por
meio da inteligência (buddhi) e inspira a mente (manas) para falar. A mente impulsiona
o fogo do corpo (kayāgni) que ativa o movimento da respiração (maruta) que movimen-
tando o peito produz um zumbido (mandra) que por sua vez sobe até o palato e alto da
cabeça onde repercute e desce até a boca para produzir os sons articulados como as
vogais e consoantes.
Definição do som
Na tradição védica o som é considerado como um dos principais princípios da
existência, sendo ao mesmo tempo a fonte da existência material e a chave para nos
libertar dela. Quem pode compreender todas as dimensões ou estágios do som, como
explicados na literatura védica, pode fazer uso dessa ciência para se libertar do cativeiro
da matéria. Para que tenhamos uma compreensão dos quatro níveis do som, importante
saber como o Śrīmad-Bhāgavatam define o som:
arthāśrayatvaṁ śabdasya draṣṭur liṅgatvam eva ca
tan-mātratvaṁ, ca nabhaso lakṣaṇaṁ kavayo viduḥ
“Pessoas que são eruditas e que têm conhecimento real definem o som
como aquilo que transmite a ideia de um objeto, indica a presença de um
orador oculto à nossa vista e constitui a forma sutil do éter” (Śrīmad-Bhāga-
vatam, 3.26.33).
Essa pode não ser uma definição absoluta do som, considerando que ele existe
em vários níveis, mas no dá uma base segura para começar nosso estudo nesse tema.
Essa definição do som, encontrada no Śrīmad-Bhāgavatam, tem uma perspectiva bem
diferente da conhecida no Ocidente. Principalmente, porque ela define o som como
algo que transmite a ideia de um objeto. Para isso utiliza-se a palavra artha-aśraya
“abrigo de sentido”.
Segundo o conhecimento védico, as palavras (akṣaras) são sementes (bījas) da
existência. O som audível é categorizado em 50 fonemas, constituídos de vogais e de
vogais e consoantes, começando com “a” e terminando com “kṣa”. Esses fonemas do
alfabeto silábico do sânscrito recebem o nome de akṣara “imperecível”.
Akṣara também é sinônimo da sílaba oṁ (oṁkāra), que é a soma de todas as
sílabas e fonte dos hinos védicos. Isso é conformado na Bhagavad-gītā:

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karma brahmodbhavaṁ viddhi brahmākṣara-samudbhavam
tasmāt sarva-gataṁ brahma nityaṁ yajñe pratiṣṭhitam
“Saiba que o dever se manifesta dos Vedas (brahma). Brahman origina-se do
imperecível. Por isso, Brahman que está em toda parte, reside sempre no sa-
crifício” (Bhagavad-gītā, 3.15).
Os Tantras situam os akṣaras ou “fonemas” ao nível de sua fonte material, rela-
cionando-os com uma das deidades ou aspectos específicos da Śakti divina. Cada um
dos estágios de sua manifestação são fases da evolução do universo. Dessa forma,
akṣaras são sons potenciais, continuamente conectados aos objetos como os sons
(śabda) e seus sentidos (artha). Com isso temos uma distinção entre o som e o ruído. O
ruído, que se distingue do som, não é arthāśraya ou “abrigo de sentido”.
Karma, ou dever prescrito, se manifestou dos Vedas; aqui indicado pela palavra
brahma. Essa manifestação não é exatamente direta. Há dois tipos de manifestações,
uma espiritual e uma outra, material. Isso se indica pela palavra udbhavam “manifesta-
ção”. Os Vedas são uma manifestação direta do prāṇava oṁ-kāra. Por isso, em relação
a esta manifestação, utiliza-se a palavra sam-udbhavam “origem” e não apenas udbha-
vam “manifestação”.
Śrī Baladeva Vidyābhūṣaṇa, comentando sobre o aforismo śabda iti cen nātaḥ
prabhāvāt pratyakṣānumānābhyām, do Vedānta-sūtra (1.3.28), afirma que a criação
dos corpos materiais (de todas as entidades vivas do universo) a partir do som é feita
(pelo Senhor Brahmā) pela recordação das formas eternas e arquetípicas presente nas
afirmações dos Vedas. Essas formas arquetípicas são as ideias, que, sendo eternas, pre-
existem a manifestação de qualquer um dos objetos materiais e corpos das entidades
vivas. Essa é potência do som e a relação entre ele e seu sentido.
Outro aspecto singular da definição de som do Śrīmad-Bhāgavatam é a defini-
ção de som como “aquilo que indica a presença de um orador”. Consequentemente, o
som tem de ser um produto da consciência. Nesse sentido, os textos védicos denomi-
nam o som como vāk ou “fala”, ou seja, a fala de alguém.
O tantra aceita a teoria dos mīmāṁsakas sobre a eternidade do som (śabda) e
o do sentido (artha) e consideram que śabda e artha são personificações de Śiva e
Śakti como o próprio universo. Eles chamam a fonte original de śabdārtha-brahman,
em vez de meramente śabda-brahmani. Pois essa é a fonte tanto dos objetos como de
suas descrições. Palavras e seu sentido – se referindo ao mundo objetivo – são as vá-
rias manifestações da Śakti.
Considerando o som como sendo da natureza dos varṇas (sílabas) que o com-
põe, o tantra afirma que a força criativa do universo reside em todas as letras do al-
fabeto. As diferentes letras simbolizam as diferentes funções dessa força criativa, e
sua totalidade é denominada matrikā “a mãe em essência”. Dessa forma, o tantra vê
os mantras não meramente como uma combinação caprichosa de sons, mas como a
forma sutil das deidades diretoras. Sendo que o verdadeiro propósito da meditação
com mantras seria o de se comunicar com a deidade de cada mantra em particular.

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DIMENSÕES OU MANIFESTAÇÕES DO SOM
Segundo o Ṛg-veda, a Divindade Suprema, em seu aspecto de Paramātmā (a Su-
peralma), ali descrito como o Pūruṣa “a pessoa geradora”, relaciona-se com a dimensão
material. O Ṛg-veda considera que a dimensão material é apenas um quarto da realidade
(eka-pada-vibhuti) e a dimensão espiritual são os seus outros três-quartos (tri-pada-
vibhūti):
etāvān asya mahimāto jyāyāṃś ca pūruṣaḥ
pādo ‘sya viśvā bhūtāni tripād asyāmṛtaṃ divi
“Essa é a manifestação de Seu poder, mas o próprio Senhor é muito
maior que isso. Todas as entidades vivas do universo são somente um
quarto de Seu ser, outros três quartos constituem a Sua natureza
eterna no Céu espiritual” (Ṛg Veda, 10.90.3).
tripād ūrdhva udait puruṣaḥ pādo’ syehābhavat punaḥ
tato viṣvaṅ vyakrāmat sāśanānaśane abhi
“Com Seus três-quartos, o Senhor transcendeu o mundo material. Com
Seu um-quarto Ele manifestou-Se novamente neste Universo. Então,
Ele foi por todas as partes, penetrando todos os seres anima- dos e
inanimados” (Ṛg-Veda, 10.90.4).
Dessa forma, na ontologia vaiṣṇava, considera-se que o mundo material é um
reflexo invertido de um mundo espiritual ideal e arquetípico. A Kaṭha Upaniṣad (2.3.1) e
a Bhagavad-gītā (15.1) também falam sobre isso, quando ilustram a existência de uma
árvore, uma figueira-de-bengala, que pode ser vista refletida em espelho de água, de
uma forma invertida:
ūrdhva-mūlam adhaḥ-śākham
aśvatthaṁ prāhur avyayam
“Raízes para cima, ramos para baixo, se diz, é a árvore aśvattha
imperecível” (Bhagavad-gītā, 15.1).
O mundo espiritual ou reino de Deus, denominado Vaikuṇṭha ou Vraja, é a di-
mensão eterno e arquetípica. O mundo espiritual, apesar de ser descrito como o céu
espiritual, é inconcebível e indescritível, pois sua dimensão é supra material. Essa reali-
dade transcendente é eternamente imanifesta (avyakta). Ou seja, não é um produto das
interações dos modos (guṇas) na natureza material, que traz todas as limitações mani-
festas no tempo e espaço.
Disso tudo, podemos concluir que a criação material se manifesta como um re-
flexo limitado na dimensão de tempo e espaço de uma realidade espiritual plena, que
constitui três quartos (tri-pada-vibhūti) da realidade em sua plenitude.
O processo dessa manifestação é feito pela energia sonora da Divindade, conhe-
cida como śabda-brahman ou vāk “o verbo”. Esse som em seu processo criativo, mani-
festa-se em quatro realidades existenciais: 1) “transcendental”; 2) “intelectual”;
3) “mental”; e 4) “física”. Portanto, quando se manifesta no mundo material, o som
transcendental se divide em quatro fases: parā, paśyantī, madhyamā e vaikharī. Dessas
divisões, as três primeiras situam-se internamente nas entidades vivas, e somente a

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quarta divisão (vaikharī) se manifesta externamente como a fala. Estas etapas são
mencionadas nos mantras do Ṛg Veda:
catvāri vāk parimitā padāni tāni vidur brāhmaṇā ye minīṣiṇaḥ, guhā trīṇi ni-
hitā neṅgayanti turīyaṁ vāco manuṣyā vadanti
“Há quatro tipos de fala, conhecida pelos brāhmaṇas sábios. Três delas são
ocultas, e a quarta é falada pelas pessoas comuns” (Ṛg Veda, 1.164.45).
Assim como um sankalpa – vontade ou determinação pura – tem de passar por
vários estágios antes de se manifestar como uma força criativa, o som de determinado
mantra tem de passar por esses quatro estágios antes de ser experimentado plena-
mente pelo ouvinte com perfeição.
“Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica essas divisões da seguinte ma-
neira. A fase prāṇa do som védico, conhecida como parā, situa-se no
ādhāra-cakra; a fase mental, conhecida como como paśyantī, situa-se na
área do umbigo, no maṇipūraka-cakra; a fase intelectual, conhecida como
madhyamā, situa-se na área do coração, no anāhata-cakra. Por fim, a fase
sensória manifesta do som védico chama-se vaikharī “(Prabhupada, Vol.
11.2, 1995, p. 409).
Cada nível de som corresponde a um nível de existência e a experiência de do
som depende no nível de refinamento da consciência da pessoa. Por isso, para experi-
mentar a manifestação plena do som, que é a manifestação plena da existência, é ne-
cessário que a consciência esteja plenamente realizada. Somente sábios videntes, com
a visão de yoga, podem compreender os quatro estágios do som.
Temos três formas superiores do som que são guha “ocultas”, ou situadas no
ātmā “si mesmo”, e uma forma manifesta externamente, conhecida como laukika-
bhāṣā “linguagem mundana”.
Esses quatro níveis de som correspondem aos quatro estados de consciência: 1)
parā representa a consciência transcendental; 2) paśyanti representa a consciência intelec-
tual; 3) madhyama representa a consciência mental emocional, e 4) vaikhari representa a
consciência física. Esses estados de consciência correlacionam-se com a in- fluência dos
guṇas “modos da natureza material” na consciência.
Estágio prāṇa ou parā “transcendental”
Sphoṭa, o som elementar primordial ou śabda-brahman, identificado com o Brah-
man Supremo – a essência de toda existência –, se expressa como a transcendental sí-
laba oṁ. Ele é descrito na Bhagavad-gītā (8.13) como oṁ ity ekākṣaraṁ brahma “o Brah-
man de uma única sílaba”, e por Patañjali, que descreve o oṁ como a fala de “Deus”,
quando diz: tasya vācakaḥ praṇavaḥ, “o praṇava oṁ é a fala dEle” (Yoga-sūtra, 1.27).
No Śrīmad Bhāgavatam, Vasudeva, descrevendo a natureza transcendental do Senhor
Kṛṣņa, afirma:
diśāṁ tvam avakāśo ‘si diśaḥ khaṁ sphoṭa āśrayaḥ
nādo varṇas tvam oṁ-kāra ākṛtīnāṁ pṛthak-kṛtiḥ
“Sois as direções e sua capacidade de acomodação, o éter onipenetrante e o
som elementar que reside dentro dele. Sois a forma primordial imanifesta do
som; a primeira sílaba oṁ; a fala audível, por meio da qual o som, em

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forma de palavras, adquire referências particulares” (Śrīmad-Bhāgavatam,
10.85.9).
No estágio parā do som, não se surge até mesmo a questão do relacionamento
entre o som e seu significado, pois no plano espiritual, som, significado e seu conheci-
mento não ocorrem separados.
Agora, parā-vāk é o som transcendental. Parā significa o mais elevado e dis-
tante. Ele indica aquele som que está além da percepção dos sentidos e da mente.
Também conhecido como rava-śabda – uma condição vibratória do som além do al-
cance da mente e inteligência. Ele é imanifesto (avyakta) e somente pode ser realizada
por almas elevadíssimas. Nesse estágio não existe distinção entre o objeto e o som e o
som contem em si todas as qualidades do objeto. Ou seja, não há diferença entre o
nome e o nominado (abhinnatvām nāma nāminoḥ).
O siddha-deha “corpo espiritual” ou svarūpa “própria forma” da alma espiritual
(jīvātma) acontece no estado transcendental de consciência, conhecido como turīya “o
quarto estado” (quando não há influência dos guṇas), onde manifesta-se o som parā.
Este som parā existe na dimensão espiritual do tri-pāda-vibhuti e no corpo aloja- se
imanifesto no ādhāra-cakra “cakra básico”.
Estágio nāda ou paśyantī “visualizado”
A palavra nāda, que vem da raiz verbal √ nad (1P – nadati) “soar, vibrar”, signi-
fica “som” e indica a primeira vibração dentro da energia material, quando se expressa
ainda de forma não manifesta na criação material.
Paśyantī-vāk é o segundo nível do som, sendo menos sutil que o parā-vāk.
Paśyantī em sânscrito significa “aquilo que pode ser visto ou visualizado”. Nesse estágio,
o som possui qualidades como cor e forma e não existem diferenças na linguagem, pois
esse som é intuitivo e está situado além de conceitos rigidamente definidos. No estágio
de paśyantī-vāk, a fala está conectada intuitivamente com o objeto. Existe praticamente
unidade entre a palavra é a experiência descrita.
No processo de manifestação no nível de paśyantī-vāk, quando o som alcança o
coração, ele se conecta com a inteligência assertiva, se carrega com as sílabas a, ka, ca,
ṭa, ta etc., e se manifesta na forma madhyama-vāk do naḍa-rūpa.
Paśyantī-vāk é o impulso mais sutil da fala. Ele vibra na dimensão de svaḥ “pa-
raíso”, estando ainda conectado com a mente, e no corpo se manifesta na região do
umbigo ou manipura-cakra, sem assumir nenhuma sílaba (varṇa) em particular.
Nessa dimensão sonora temos o karaṇa-śarira “corpo causal”, e a consciência
manifesta-se no estado suṣuptī “sonho” (quando tamas “modo da ignorância” predo-
mina). É na dimensão do corpo causal que se manifesta o paśyantī-vāk. O som
paśyantī relaciona-se com iccha-śakti “a potência da vontade” do Senhor.
Estágio bindu ou madhyamī “intermediário”
A terceira manifestação da fala, que emerge depois de nāda, chama-se bindu
“gota”, significa “som” e indica a primeira vibração dentro da energia material, quando
se expressa ainda de forma não manifesta na criação material.

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Madhyama-vāk é estado intermediário não expresso do som, que está situado
no coração. A palavra madhyama significa “entre”, “no meio”. O som intermediário é
aquele som que existe entre o estado de suṣupti “sono sem sonho” e jagrat “vigília”.
Ele se refere à fala mental, em oposição à fala audível externa. É nesse nível que geral-
mente experimentamos o pensamento. Seguindo algumas opiniões o estado de vigília
ainda está no nível de vaikharī.
Esse som vibra na dimensão intermediária atmosférica de bhuvaḥ e situa-se no
corpo na região do anāhata-cakra “cakra cardíaco”. Nessa dimensão sonora temos o
suksma-śarira “corpo sutil”, e a consciência manifesta-se no estado svapna “sono pro-
fundo” (quando rajas “modo da paixão” predomina na consciência), manifesta-se
nessa dimensão por meio do intelecto. Ele relaciona-se com jñāna-śakti “potência de
conhecimento” do Senhor
Estágio vaikharī “articulado”
A quarta manifestação da fala, conhecida como vaikharī, é o nível mais denso
da fala e pode ser ouvido pelos sentidos externos, em especial pela audição. Nesse ní-
vel, as sílabas sonorizadas, as palavras e as sentenças tornam-se claramente identificá-
veis (Lakṣmī Tantra, 18.27). Som e significado não são diferentes, mas ainda estão rela-
cionados. Essa relação, entretanto, é meramente convencional.
Esse som vibra na dimensão terrestre de bhūḥ e situa-se no corpo na região do
viṣuddha-cakra “cakra laríngeo”. Nessa dimensão sonora temos o sthūla-śarira “corpo
físico”, e a consciência manifesta-se no estado jagrat “vigília” (quando sattva “modo
da bondade” predomina na consciência), manifesta-se nessa dimensão, por meio do
corpo. Ele relaciona-se com kriya-śakti “a potência de ação” do Senhor.

Som Fase Situação Śakti - Potência


Parā (Nāda) prāṇa ādhāra-cakra Cit “espiritual”

Paśyantī (Bindu) Manas “mental” maṇipūra-cakra Iccha “vontade”

Madhyamī Buddhi “intelectual” anāhata-cakra Jñāna “conhecimento”

Vaikharī Indriya “sensorial” viṣuddha-cakra Kriya “ação”

O som que liberta


Vāk não é uma manifestação da energia material, pois afirma-se no Vedānta-
sūtra: tat-pūrvakatvād vācaḥ “Antes da criação, já havia a fala” (Vedānta-sūtra 2.4.4).
Isso indica que vāk já existia antes de prādhana. Prādhana é a raiz da manifesta-
ção material, quando não estão manifestos os três guṇas “qualidade ou modos da natu-
reza material” por estarem em uma condição absoluta de equilíbrio. Anterior a essa si-
tuação já havia vāk que, portanto, não é um produto da matéria.
Por esse motivo, encontramos no Vedānta-sūtra a seguinte afirmação: anāvṛt-
tiḥ śabdāt, “A libertação é pelo som” (Vedānta-sūtra, 4.4.22).

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Desde que o som é a fonte não material da manifestação cósmica, ele é a chave
pela qual podemos nos libertar do cativeiro material. Ele seria o elo entre as dimensões
material e espiritual.
Esses conceitos são tratados detalhadamente em escrituras como Naḍa-bindu
Upaniṣad, Praśna Upaniṣad, Mundaka Upaniṣad, Mandukya Upaniṣad, Maitri Upaniṣad
e Kaṭha Upaniṣad, bem como no Vakyapadadiya de Bhartrihari, onde também encon-
tramos os conceitos de śabda, vāk, matrikas, hiranyagarbha, quatro estados de consci-
ência etc. Além de serem encontrados nas Upaniṣads, os Āgamas ou Tantras trazem dis-
cussões sobre esses temas.
Aquele que conhecem esses tópicos, poderão também encontrar mais informa-
ção sobre eles no Śrīmad-Bhāgavatam (11.21.35-43). Ali encontramos que:
śabda-brahma su-durbodhaṁ prāṇendriya-mano-mayam
ananta-pāraṁ gambhīraṁ durvigāhyaṁ samudra-vat
“O som transcendental dos Vedas é muito difícil de compreender e se mani-
festa em diferentes níveis dentro do prāṇa, sentidos e mente. Este som vé-
dico é ilimitado, muito profundo e insondável, tal qual o oceano” (Śrīmad-
Bhāgavatam, 11.21.36).
mayopabṛṁhitaṁ bhūmnā brahmaṇānanta-śaktinā
bhūteṣu ghoṣa-rūpeṇa viseṣūrṇeva lakṣyate
“Como a ilimitada, imutável e onipotente Personalidade da Divindade que
reside dentro de todos os seres vivos, Eu mesmo estabeleço a vibração so-
nora védica sob a forma do oṁkāra dentro de todas as entidades vivas. Ela é
assim percebida de maneira sutil, tal como um único fio de fibra num caule
de lótus” (Śrīmad-Bhāgavatam, 11.21.37).
Por exemplo, encontramos no Śrīmad-Bhāgavatam uma explicação completa
dos quatro níveis do som e seu processo de manifestação.
yathorṇanābhir hṛdayād ūrṇām udvamate mukhāt
ākāśād ghoṣavān prāṇo manasā sparśa-rūpiṇā
chando-mayo ‘mṛta-mayaḥ sahasra-padavīṁ prabhuḥ
oṁkārād vyañjita-sparśa-svaroṣmāntastha-bhūṣitām
“Assim como uma aranha gera de seu coração uma teia e a emite através da
boca, A Suprema Personalidade da Divindade manifesta-Se como o reverbe-
rante ar vital primordial, que consiste em todos os metros védicos sagrados
e é pleno de prazer transcendental. Desse modo, o Senhor, do céu etéreo de
Seu coração, cria o grande e ilimitado som védico por meio de Sua mente,
que concebe diversificados sons tais como os sparśas. O som védico ramifica-
se em milhares de direções, adornados com as diferentes letras expandidas
da sílaba oṁ: as consoantes, as vogais, as sibilantes e as semivogais” (Śrīmad-
Bhāgavatam, 11.21.38-39).
vicitra-bhāṣā-vitatāṁ chandobhiś catur-uttaraiḥ
ananta-pārāṁ bṛhatīṁ sṛjaty ākṣipate svayam
“O Veda é então elaborado por muitas variedades verbais, expressas em dife-
rentes metros, cada um tendo quatro sílabas a mais que o anterior. Por

12
fim o Senhor volta a retrair Sua manifestação do som védico para dentro de
Si próprio” (Śrīmad-Bhāgavatam, 11.21.40).
É necessário muito treinamento para discernir o sentido interno das palavras,
pois esses tópicos são tratados esotérica e confidencialmente. Por isso, Kṛṣṇa explica
para Uddhava, no Śrīmad-Bhāgavatam, que:
parokṣa-vādā ṛṣayaḥ parokṣaṁ mama ca priyam
“Os videntes (ṛṣis) tratam desse tema em termos esotéricos, e Eu também
fico satisfeito com tais descrições confidenciais” (Śrīmad-Bhāgavatam,
11.21.35).
Quando vemos palavras com prāṇaḥ, manasā, sparśa-rūpiṇā e chandaḥ-mayaḥ.
Presentes nos versos 11.21.38 e 39, podemos compreender imediatamente a natureza
esotérica da discussão e consequentemente concluir o significado direto que pode ser
inferido por essas palavras. Temos de apreender o código transcendental dos Vedas. Na
verdade, tudo está plenamente explicado no Śrīmad-Bhāgavatam, mas por que não ter-
mos a visão correta para compreender discussões indiretas e esotéricas, temos de estu-
dar e consultar escrituras que sejam mais diretas ou explicitas.
Śabda-vijñāna, a sabedoria sobre as diferentes dimensões do som deve ser bus-
cada nos versos acima descritos do Śrīmad-Bhāgavatam, que também é detalhada nos
versos de Āgamas como o Lakṣmī-tantra.

13
FONÉTICA - PRONÚNCIA E MÉTRICA DO SÂNSCRITO
Para a utilização correta dos mantras será necessário um conhecimento básico
da fonética do sânscrito. Dessa forma a pronúncia e a métrica são dois elementos essen-
ciais para esse propósito. O primeiro ponto a ser compreendido é a ordenação fonética
do alfabeto sânscrito que é composto de 50 fonemas, constituídos de 14 vogais, 2 fone-
mas acessórios (nasalização e aspiração), 33 consoantes e uma sílaba composta especial
(o kṣa). A ordenação desses fonemas é definida com base nas seguintes categorias e
critérios:
Critérios fonéticos e pronúncia
✅ Vogais – são os sons emitidos quando a ar passa livremente pela cavidade bucal. Elas são
“soantes”, ou seja, podem ser pronunciadas livremente.
✅ Consoantes – são os sons produzidos quando o ar é obstruído ou restrito em algum ponto
de sua trajetória pela cavidade bucal. Como o nome indica, as “consoantes” só podem ser arti-
culadas quando combinadas com uma vogal.
✅ Duração – Classifica-se as vogais, quanto ao tempo de duração ou medida (matra) de pro-
núncia, em “breves” e “longas”.
✅ Sonoridade – Uma sílaba ou fonema é considerado “sonoro” quando as cordas vocálicas
vibram em sua pronúncia. Todas as vogais são “sonoras” por natureza.
✅ Aspiração – Um fonema é considerado “aspirado” quando é necessário expelir o ar com
mais força para pronunciá-lo.
✅ Zona de articulação – constitui-se das cinco regiões da cavidade bucal utilizada para a arti-
culação e pronúncia dos fonemas.
• Gutural é o fonema articulado na “garganta”.
• Palatal é o fonema articulado no “palato (duro)”.
• Cerebral é o fonema articulado com a ponta da língua no “palato mole” ou “céu da
boca”.
• Dental é o fonema articulado com a língua nos “dentes”.
• Labial é o fonema articulado nos “lábios”.
✅ Modo de articulação – Segundo o local onde são articuladas, as consoantes se classificam
em:
• Oclusivas – quando se produz o som pelo bloqueio do ar durante a sua pronúncia. Ex.:
ka (oclusão gutural); ca (oclusão palatal); ṭa (oclusão cerebral); ta (oclusão labial); e
pa (oclusão labial).
• Nasais – quando a cavidade nasal é utilizada para pronunciá-las. Ex.: ña (articulada na
garganta e sonorizada na cavidade nasal), na (articulada nos dentes e sonorizada na
cavidade nasal) e ma (articulada nos lábios e sonorizada na cavidade nasal).
• Semivogais – quando o som é produzido por um estreitamento (sem oclusão) da pas-
sagem do ar. Lembra, em sua sonoridade, a pronúncia das vogais, mas são consoantes
e necessitam de uma vogal para serem pronunciadas. Ex.: yo, ri, la e va.
• Sibilantes – quando o som é produzido com a língua estreitando a passagem do ar em
três regiões: a) palato duro (“śa”); b) céu da boca ou palato mole (“ṣa”) e c) os dentes
superiores (“sa”).
• Gutural aspirada – quando a passagem do ar é estreitada na garganta (“ha”).

14
Os critérios fonéticos acima enumerados são encontrados na tabela abaixo:
VOGAIS
SIMPLES

1
अ a 2
आ ā 3
इ i 4
ई ī 5
उ u 6
ऊ ū
7
ऋ ṛ 8
ॠ ṝ 9
ऌ ḷ 10
ॡ ḹ
DITONGOS

11
ए e 12
ए) ai 13
आ o 14
आ au

FONEMAS ACESSÓRIOS
Nasalização 15
आं (a)ṁ Aspiração 16
आः (a)ḥ

CONSOANTES
Oclusivas Não aspirada Aspirada Não aspirada Aspirada Nasal

Gutural 17
क ka 18
ख kha 19
ग ga 20
घ gha 21
ङ ṅa
Palatal Ce- 22
च ca 23
छ cha 24
ज ja 25
झ jha 26
ञ ña
rebral 27
ट ṭa 28
ठ ṭha 29
ड ḍa 30
ढ ḍha 31
ण ṇa
Dental La- 32
त ta 33
थ tha 34
द da 35
ध dha 36
न na
bial 37
प pa 38
फ pha 39
ब ba 40
भ bha 41
म ma
Palatal Cerebral Dental Labial

Semivogais Si- Sonora 42


य ya 43
र ra 44
ल la 45
व va
bilantes Gutu- Surda 46
श śa 47
ष ṣa 48
स sa
ral-aspirada 49
ह ha
SÍLABA ESPECIAL
Gutural/palatal
50
Surda
] kṣa

15
FORMAÇÃO DOS FONEMAS DO SÂNSCRITO

Visão diagramática de um seccionamento pelo nariz, boca e pescoço mostrando as partes da


boca utilizadas na descrição dos fonemas.

Lb, Lábios; D, Dentes; Pd, Palato duro; Pm, Palato mole (céu da boca); Lg, Língua; Cv, Cordas vo-
cálicas.

इ (i), ई (ī) उ(u), ऊ (ū)

ए) (ai) अ ( au)
ए (e) अ (o)
अ (a)

अ (ā)

16
MÉTRICA E TONICIDADE
Para pronunciar e recitar corretamente os mantras em sânscrito e necessário
ter em conta alguns conceitos básicos.
Os textos do sânscrito podem estar na forma de gadya “prosa” ou de padya
“verso” ou “composição métrica”. As estrofes versificadas (padya) são reguladas pela
quantidade (duração da pronúncia da vogal) não pela acentuação, que não existe no
sânscrito.

Força da sílaba
Tendo em vista que, em sânscrito, a sílaba é a menor unidade sonora que pode
ser pronunciada de uma só vez. Ela deve necessariamente conter uma vogal, e às vezes
pode ser constituída de vogal apenas.
As sílabas no sânscrito, conforme sua mātrā “quantidade”, se classificam em:
1. Laghu “leve”, quando contém uma vogal breve que não venha antecedendo um
conjunto consonantal, anusvāra “nasalização vocálica” ou o visarga “aspiração
vocálica”.
2. Guru “pesada”, quando contém uma vogal longa ou qualquer vogal breve que
anteceda um conjunto consonantal, o anusvāra “nasalização vocálica” ou o vi-
sarga “aspiração vocálica”.
Podemos, portanto, entender que força da sílaba é determinada pela quantidade
(mātrā) de sua vogal; se a vogal for breve (uma medida de duração) ou longa (duas me-
didas de duração).
As vogais são breves ou longas por natureza, quando consideramos a sílaba que
ela constitui (sozinha ou com uma ou mais consoantes) fora do contexto da palavra. Mas,
as vogais breves são alongadas na pronúncia em duas situações específicas: 1) quando
ela encontra-se em uma sílaba guru “pesada”, ou seja, antes da nasalização vocálica
(anuśvara), antes da aspiração vocálica (visarga) ou antes de uma sílaba formada de um
conjunto consonantal; e 2) quando ela encontra-se na sílaba onde recai a tonicidade
(vide a seguir).

Sílaba tônica
Em sânscrito não há acentuação, com exceção da acentuação tônica, que se
aplica em especial aos mantras em verso. Contudo, esse critério da tonicidade pode
também ser utilizado para determinar a pronúncia de palavras específicas; pois, uma
palavra pode ser considerada como um verso de uma palavra só.
A regra geral é que o acento tônico cairá na penúltima sílaba se ela for guru. Se ela
for laghu, o acento cairá na sílaba antecedente (antepenúltima), independentemente

17
de esta ser laghu ou guru. Todas as outras sílabas restantes possuem a mesma intensi-
dade. Exemplos:
ahaṁkāra (penúltima guru) govinda (penúltima guru)
rāmāyaṇa (penúltima laghu) himālaya (penúltima laghu)
narasiṁha (penúltima guru) śravaṇa (penúltima laghu)
brāhmaṇa (penúltima laghu) mahārāja (penúltima guru)
mukunda (penúltima guru) arjuna (penúltima laghu)
prajāpati (penúltima laghu varṇāśrama (penúltima laghu)
gṛhastha (penúltima guru) pramāṇa (penúltima guru)

Métrica (Chandas)
Os versos são classificados em uma variedade de chandas “métricas” de acordo
com o número de sílabas em cada pāda “um quarto de estrofe ou metade de linha”,
bem como de acordo com a disposição de sílabas hrasva “breves” ou dīrgha “longas”. O
número de sílabas em cada pāda pode teoricamente variar de 1 a 999.
As métricas podem ser de três tipos: 1) Sama-vṛtta “simétrica” – o mesmo pa-
drão em todo os pādas; 2) Ardha-sama-vṛtta “semissimétrica” – o padrão se repete
em pādas alternados; o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto; e 3)
Viṣama-vṛtta “assimétrica” – o padrão difere em cada pāda.
Dentre as métricas védicas se sobressai a do Gāyatrī, que tem 8 sílabas por
pāda “quarto”, mas apenas 3 pādas, o que soma apenas 24 sílabas. (Para facilita a
identificação, as sílabas laghu estão marcadas com um “”, e as sílabas guru com um
“– “, ambos sobrepostos na transliteração.)
– –   –  – –
oṁ ta-t sa-vi-tu-r va-re-ṇyaṁ |
– – – –  –  
bha-rgo de-va-sya dhī-ma-hi |
 – – –  –  –
dhi-yo yo naḥ pra-co-da-yāt ||
(Ṛg Veda, 3.62.10)

Dentre as métricas simétrica (sama-vṛtta), essas são mais conhecidas:


1. Śloka (ou anuṣṭubh) – esse é a estrofe padrão com 8 sílabas por pāda “quarto” ou 16
sílabas por linha.
– – – –  – – –   – –  –  
dha-rma-kṣe-tre ku-ru-kṣe-tre / sa-ma-ve-tā yu-yu-tsa-vaḥ |
–  – –  – –    –   –  
māmakāḥ pāṇḍavāś caiva / kim akurvata sañjaya ||

18
(Bhagavad-gītā, 1.1)

 – –   – –  –  –  – –
ha-re kṛ-ṣṇa ha-re kṛ-ṣṇa / kṛ-ṣṇa kṛ-ṣṇa ha-re ha-re |
 – –   – –  –  –  – –
ha-re rā-ma ha-re rā-ma / rā-ma rā-ma ha-re ha-re ||

(Kali-santara Upaniṣad, 1.1)

2. Triṣṭubh – essa estrofe tem com 11 sílabas por pāda “quarto” ou 22 sílabas por linha.
 –  – –   –   –
tva-m ā-di-ve-daḥ pu-ru-ṣaḥ pu-rā-ṇa-
 –  – –   –  – 
s tva-m a-sya vi-śva-sya pa-raṁ ni-dhānam |
– –  – –   –   
ve-ttā-si ve-dyaṁ ca pa-raṁ ca dha-ma
 –  – –   –  – 
tva-yā ta-taṁ vi-śva-m a-na-nta-rū-pa ||
(Bhagavad-gītā, 11.38)

3. Jagatī – essa estrofe tem com 12 sílabas por pāda “quarto” ou 24 sílabas por linha.

   –   –   –  –
ni-ga-ma-ka-lpa-ta-ro-r ga-li-taṁ pha-laṁ-
   –   –   –  –
śu-ka-mu-khā-d a-mṛ-ta-dra-va-saṁ-yu-tam |
   –   –   –  –
pi-ba-ta bhā-ga-va-taṁ ra-sa-m ā-la-yam
   –   –   –  –
mu-hu-r a-ho ra-si-kā bhu-vi bhā-vu-kāḥ ||

(Śrīmad-Bhāgavatam, 1.1.3)

4. Śakkarī – essa estrofe tem com 14 sílabas por pāda “quarto” ou 28 sílabas por linha.
– –  –    –   –  – 
ci-ntā-ma-ṇi- pra-ka-ra-sa-dma-su ka-lpa-vṛ-kṣa-
– – –  –  –   –  – 
la-kṣā-vṛ-te-ṣu su-ra-bhī-r a-bhi-pā-la-ya-ntam |
– –  –    –   –  –
la-kṣmī-sa-ha-sra-śa-ta-sa-mbhra-ma se-vya-mā-naṁ
– – – – – – –
go-vi-nda m ā-di-pu-ru-ṣaṁ ta-m a-haṁ bha-jā-mi ||

(Brahmā Saṁhitā, 5.29)

19
CATEGORIAS DE MANTRAS
Vários tipos de mantras são utilizados, principalmente, no processo de bhakti.
Segundo Jīva Gosvāmī, todos eles são considerados nāmātmaka-mantras, ou seja, são o
próprio Senhor presente plenamente em Seus santos nomes.
Basicamente, temos os seguintes tipos de mantras
1) Dhyāna-mantras “mantras de meditação” – utilizados para invocar as formas
(rūpa), atividades (līlā), associados (pāriṣadas), parafernália (upakaraṇa) e mo-
rada (dhama) da divindade na mente do praticante.
2) Bīja-mantras “mantras sementes” – utilizados para manifestar a potência da di-
vindade e purificar.
3) Mūla-mantras “mantras raízes” – utilizados para estabelecer a natureza própria
da divindade.
4) Stutis e stotras “preces e glorificações” – cantados nos rituais para glorificar a
natureza e atividades da divindade.
5) Praṇāma-mantras “mantras de reverência” – utilizados para oferecer reverên-
cias à divindade.
6) Gāyatrī-mantras “mantras de iniciação” – utilizados para a adoração esotérica
da divindade, invocando na consciência do praticante os três princípios de a)
sambandha “estabelecimento da relação”; b) abhidheya “atuação na relação es-
tabelecida”; e c) prayojana “obtenção da meta final”.
Obtenção do mantra - guru-datta-mantra
A potência da maioria dos mantras se manifesta quando eles são recebidos de
um guru ou mestre espiritual genuíno, representante de uma tradição ou corrente de
sucessão discipular. Segundo Baladeva Vidyabhuṣana, o Padma Purāṇa nos fala da inu-
tilidade e impotência dos mantras obtidos de fora de uma tradição discipular genuína:
sampradāya-vihīnā ye / mantrās te niṣphala matāḥ
“Não vindo de uma tradição espiritual genuína, qualquer mantra can-
tado não trará o resultado desejável” (Padma Purāṇa, in Pramaya Rat-
navali).
Os mantras recebidos em revelação pelos videntes védicos não são diferentes
das divindades. Esses mantras são confidenciais, e devem ser transmitidos e revelados
por um guru “mestre espiritual” genuíno. As divindades (devatās) do mantra seriam as
deidades adoráveis da sampradāya “tradição ou sucessão discipular” que o praticante
participa. Esses mantras são utilizados nas cerimônias de adoração (pūjā), nos rituais de
sacrifício (homa) e nos sacramentos (saṁskāras).

Sílabas bīja e mūla mantras


Os mantras possuem dois principais aspectos: bīja “semente” e pada “pé”
(Gupta, 1991, p.235). A sílaba oṁ é o bīja-mantra por excelência, sendo considerado a
representação sonora da Divindade em seu aspecto imanifesto (avyakta) e universal

20
(viśvam); ele, imanente em todas as coisas, está implícito em todos os mantras védicos.
Mas quando a relação mística é considerada do ponto de vista da “alteridade”, em uma
relação pessoal de amor (bhakti-rasa) com a Divindade, temos que utilizar o aspecto
pada do mantra. O pāda-mantra é uma sentença completa, geralmente uma estrofe,
expressando uma prece ou invocação da Divindade. A árvore imanifesta na semente,
agora pode ser vista plenamente manifesta no seu pé, pleno de galhos, folhas, flores e
frutos.
As sílabas bījas representam a forma compacta da Divindade Suprema em Suas
diferentes manifestações e potências. Esses fragmentos sonoros invocam e despertam
energias específicas, tanto dentro como fora do recitador.
Os fonemas do sânscrito, como imagens refletidas no plano material de seu equi-
valente ou arquétipo espiritual, vibram de forma imanifesta dentro das almas condicio-
nadas pela energia material. Essas vibrações constituem as sílabas bījas, que trazem a
natureza e potência das divindades específicas que representam.
O quadro abaixo, por exemplo, nos apresenta algumas das sílabas dos bījas
mais importantes:
Sílabas Nome Deidade Potência invocada
oṁ sat-bīja Brahman Potência de eternidade do ser
aiṁ vag-bhava-bīja Paramātmā Potência de conhecimento
auḥ Sarasvatī Potência de conhecimento
hrīṁ Paramātmā Potência de conhecimento
śrīṁ cit-bīja Lakṣmī Potência de conhecimento
klīṁ kāma-bīja Rādhā Potência de prazer
huṁ Hanumān Potência de serviço
khaṁ Garuḍa Potência de serviço
praṁ Prahlāda Potência de serviço

As sílabas bīja-mantras (uma ou mais) se combinam com os nomes das deidades,


para formarem os mūla-mantras, ou representações sonoras básicas das deidades. Esses
mantras não sendo diferentes das deidades objeto dos mesmos, são mentaliza- dos, pro-
nunciados ou cantados durante as meditações, rituais e purificação dos objetos ritualís-
ticos.

O mantra oṁ
Prāṇava, ou a sílaba oṁ, é a representação completa dos quatro estágios de
som e suas contrapartes existenciais. A sílaba sagrada oṁ é composta de três mātras
“medidas”, que seriam 1) a sílaba “a”; 2) a sílaba “ū”: e 3) a nasalização “ṁ”. Relaciona-
se esses três mātras, respectivamente, com 1) os três mundos (lokas): bhūḥ “terra”,
bhuvaḥ “mundos intermediários” e svaḥ “paraíso”; 2) os três corpos (śariras): sthūla
“grosseiro”, sukṣma “sutil” e karaṇa “causal”; e 4) os três estágios do som: vaikharī,
21
madhyamā e paśyanti.
Além desses três mātras (a-u-ṁ), o prāṇava contêm um quarto elemento co-
nhecido como o amātra “imensurável” ou anahata-dhvani “vibração não vibrada” – a
não-sílaba ou o som não emitido. Melhor dizendo, esse amātra seria o zumbido que
segue a recitação da sílaba oṁ. Essa vibração amātra correlaciona-se com o estado
turīya de consciência, ou ao parā-vāk.
Consequentemente, a sílaba oṁ contêm todos os elementos da existência,
sendo o reservatório de todas as potências ou energia do Senhor Supremo. E relação a
isso, Śrī Kṛṣṇa afirma na Bhagavad-gītā: oṁ ity ekākṣaraṁ brahma, “‘Oṁ’ – assim res-
soa a monossílaba que é Brahma” (Bhagavad-gītā, 8.13). Também encontramos que,
yad aksharam veda-vido vadanti, “Os conhecedores do Vedas recitam a sílaba oṁ
(akṣara).”

Por que eles fazem isso? Porque a sílaba oṁ é o Senhor Supremo e a potência de
todos os mantras védicos. Isso é explicado na Bhagavad-gītā: prāṇava sarva vedeṣu, “Em
todos os Vedas, Eu sou a sílaba Oṁ” (Bhagavad-gītā 7.8).
Śrī Caitanya Mahāprabhu, portanto, estabeleceu o prāṇava oṁkāra como o ma-
hāvākya (a grande afirmação) dos Vedas, onde existem todos os sons (śabda) e hinos
védicos. O próprio mundo é uma manifestação dessa sílaba. É a representação sonora
da Verdade Absoluta.

Gāyatrī Mantras
gāyatrī chandasām aham
“Das métricas eu sou gāyatrī” (Bhagavad-gītā. 10.35).
O que é o gāyatrī? Gāyatrī é conhecida como veda-mātā “a mãe dos Vedas”.
Ela é a origem do conhecimento védico. Sem gāyatrī ninguém é qualificado para estu-
dar os Vedas. Esse é o começo, a iniciação, dvija, o segundo nascimento. Primeira-
mente nascemos, pelo nosso pai, de nossa mãe, depois nascemos, pelo mestre espiri-
tual (guru), de Gāyatrī, a nossa mãe espiritual.
O sentido da palavra gāyatrī é “a canção que concede libertação”. Ela é com-
posta de gāyat “o que é cantado” e trāyate “o que liberta”. Segundo Viśvanātha Cakra-
vartī: gāyantaṁ trāyate tasmāt gāyatrī tvaṁ, “Gāyatrī é aquilo que sendo cantado li-
berta” (Mantrātha-dīpikā).
Há muitos mantras gāyatrīs, mas o mais conhecido e utilizado por todas as linha-
gens védicas é conhecido como o brahma-gāyatrī. Ele é encontrado no Ṛg Veda:
oṁ bhūr bhuvaḥ svaḥ
tat savitur vareṇiyaṁ
bhargo devasya dhīmahi
dhiyo yo naḥ pracodayāt.

22
“Om! [Nos planos terrestre, intermediário e celestial] meditemos na
divina refulgência desse vivificador (sol) formidável. Que ele ilumine
(inspire) nossa inteligência” (Ṛg Veda, 3.62.10).
Na tradução desse mantra, a sílaba oṁ é o mantra-bīja (semente) que contém
tudo dentro de si, sendo o começo, meio e fim da existência. As três palavras introdu-
tórias seguintes indicam os três mundos ou planos de existência: bhūr “terra”, bhūvaḥ
“atmosfera”, e svaḥ “paraíso”. Essas três dimensões são planos de existência resumi-
dos e indicados pela próxima palavra do mantra, tat, pronome demonstrativo que sig-
nifica “estes”.
A palavra savituḥ indica o sol, como “aquela que dá a vida”. Vareṇiyam significa
formidável ou pūjya “venerável”. Bhargaḥ significa “esplendor” ou “refulgência. De-
vasya significa “divino”, indicando a graça divina. Dhīmahi significa adoração ou medi-
tação constante; a raiz verba dhī indica cultivo pela inteligência. Dhiyā significa “pela
contemplação” e pracodayāt significa “por dar entusiasmo”.
O mantra se refere ao sol, aqui identificado com o “esplendor de Deus”, indi-
cando, portanto, a consciência. O mistério do gāyatrī não pode ser desvendado sem a
compreensão de que esse “esplendor” ou “refulgência” é o poder iluminante da cons-
ciência. Na verdade, analogias entre o sol e a alma, e entre refulgência e a consciência
estão presente nos Vedas e em muitas outras culturas. O mantra gāyatrī descreve o
poder iluminador da consciência como sendo o próprio esplendor da Divindade. Dessa
forma, a fonte luminosa original seria Paramātmā, a Consciência Suprema, e a emana-
ção esplêndida dessa fonte seria a consciência individual, o ātmā.
O brahma gāyatrī, que se apresenta como a essência de toda sabedoria védica
(brahma), também é conhecido como sāvitrī-gāyatrī, no sentido em que ele descreve a
origem última da vida e criação (savitṛ). Outro denominação desse gāyatrī seria sāras-
vatī-gāyatrī, porque ele é a essência da comunicação verbal (sārasatī / vāk), fazendo
parte do processo de aprendizado védico, sob os auspícios da deusa da educação e cul-
tura (sarasvatī).
Tradicionalmente o mantra gāyatrī era fornecido na cerimônia de iniciação
(upayana) quando o estudante recebia dīkṣa, para poder estudar os Vedas e executar
as cerimônias ritualísticas védicas. Ele deveria ser utilizado para meditação nas três
junções do dia (tri-sāndhya), ou seja, no amanhecer, ao meio dia e ao anoitecer.
Além do brahma-gāyatrī utilizado pela antiga tradição védica smarta dos mem-
bros das três classes sociais superiores (brāhmaṇas, kṣatriyas e vaiśyas), três vezes ao
dia em sua meditação conhecida como sāndhya-vandana, as tradições védicas dos āga-
mas ou tantras śaivas, śaktas e vaiṣṇavas utilizam vários tipos de mantras gāyatrīs
para meditar em suas deidades adoráveis específicas. No vaiṣṇavismo existem vários
tipos de mantras gāyatrīs que são utilizados na adoração pañcarātrika.
Os vaiṣṇavas gauḍīyas, seguidores de Śrī Caitanya Mahāprabhu, não utilizavam
o brahma gāyatrī como parte de seu sādhana até tempos relativamente recentes,
quando Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī (1874-1937) introduziu a cerimônia dīkṣa, pro-
vavelmente como parte de seu esforço de estabelecer os vaiṣṇavas como sendo brāh-
maṇas genuínos. Até então, era utilizado apenas o kāmā-gāyatrī dedicado à meditação

23
na Suprema Personalidade da Divindade Śrī Kṛṣņa como Kāmadeva, o Cupido transcen-
dental.
No plano transcendental o Senhor Kṛṣņa é adorado através do kāma-gāyatrī.
Quanto a isso, o Brahma-saṁhitā descreve a relação entre o gāyatrī e a flauta de Kṛṣņa:
atha veṇū-ninādasya trayī-mūrti-mayī gatiḥ sphu-
ranti praviveśaśu mukhābjāni svayambhuvaḥ
gāyatrīṁ gāyatas tasmād adhigatya sarojajaḥ
saṁskṛtaś cādi-guruṇā dvijatām agamat tataḥ
“Então, a corporificação dos Vedas, o gāyatrī-mantra emanando do
som da flauta de Kṛṣṇa (após entrar em seus ouvidos) apareceu das
quatro bocas de Brahmā. Pronunciando o gāyatrī-mantra, Brahmā,
se purificando, obteve o segundo nascimento do guru original Kṛṣṇa”
(Brahma-saṁhitā, 5.27).
A vibração da flauta de Kṛṣņa é a origem dos hinos védicos. O Senhor Brahmā,
que estava sentado em uma flor de lótus, ouviu a vibração sonora da flauta de Kṛṣņa,
sendo assim iniciado pelo gāyatrī-mantra.

Mahā Mantra
nama cintamaniḥ kṛṣṇaś caitanya-rasa vigrahaḥ
pūrṇaḥ śuddho nitya-mukto ‘bhinnatvān nāma-nāminoḥ
“O santo nome de Kṛṣṇa é de essência espiritual (cintamani) e a forma
plena dos relacionamentos espirituais (caitanya-rasa). Ele é pleno
(pūrṇa), puro (śuddha) e eternamente liberado (nitya-mukta), pois no
plano espiritual não há diferença alguma (abhinna-tvan) entre o nome
(nāma) e o nominado (nāmin)” (Padma Purāṇa,1,2).
Um dos mantras mais conhecido é o mahā-mantra hare kṛṣṇa. Apesar de ter
sido inicialmente divulgado por todo o mundo por Śrīla Bhaktivedānta Swami Prabhu-
pāda, ele não é um mantra exclusivo do Movimento Hare Krishna; todas as linhas védi-
cas o utilizam. Qual é a razão disso? As escrituras védicas, tanto as Upaniṣad como os
Purāṇas, recomendam o cantar do mahā-mantra hare kṛṣṇa como o processo de me-
ditação para Kali-yuga, a atual era de desavenças e caos que vivemos há mais de
5.000 anos:
hare kṛṣṇa hare kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa hare hare
hare rāma hare rāma rāma rāma hare hare
iti ṣoḍaśakaṁ nāmnāṁ kali-kalmaṣa-nāśanam
nataḥ parataropāyaḥ sarva-vedeṣu dṛśyate
“Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare; Hare Rāma, Hare
Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Essas dezesseis palavras agem especifi-
camente contra as contaminações da Era de Kali. Chega-se a essa con-
clusão após se pesquisar todas as escrituras védicas” (Kali-santaraṇa
Upaniṣad,1,2).
kaler doṣa-nidhe rājann asti hy eko mahān guṇaḥ
kirtanād eva kṛṣṇasya mukta-saṅgaḥ paraṁ vrajet

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“Meu querido rei, apesar da era de Kali ser um oceano de defeitos,
ainda assim há uma grande qualidade: Simplesmente por cantar os
santos nomes do Senhor Kṛṣṇa pode-se libertar do cativeiro material e
ser promovido ao mundo transcendental.” (Śrīmad-Bhāgava-
tam,12.3.51).
harer nāma harer nāma harer nāmaiva kevalam
kalau nāsty eva nāsty eva nāsty eva gatir anyathā
“Os nomes do Senhor Hari, os nomes do Senhor Hari, os nomes Senhor
Hari, certamente cantá-los é o único caminho nessa era de Kali. Não há
outra maneira. Não há outra maneira. Não há outra maneira.” (Bṛhan-
nāradīya Purāṇa, 38.126)
O mahā-mantra hare kṛṣṇa é constituído de três palavras hare, kṛṣṇa e rāma,
todas declinadas no vocativo. Hare é a forma vocativa de harā. Harā é um nome de
Rādhā, a energia interna de prazer (hladhini-śaktī) de Kṛṣṇa. Quando nos dirigir à Deus
temos que fazê-lo indo primeiro à sua śakti. Como por exemplo: Lakṣmī-Nārāyaṇa, Śrī-
Viṣṇu, Sītā-Rāma, etc.
O nome Kṛṣṇa significa “todo atrativo.” Segundo a tradição vaiṣṇava, apesar da
Verdade Absoluta (Param brahman) ou o Si mesmo supremo (Param Ātman), quando
considerado no seu aspecto infinito do existência (Brahman), não poder ser definido ple-
namente por nenhum nome ou conceito material (nama-rūpa), ele manifesta-se plena-
mente para os seus devotos, através de suas potências inconcebíveis (acintya- śakti)
como Bhagavān, “aquele que é pleno de opulências ilimitadas”. Porque, devido às Suas
opulências, Bhagavān (a Suprema personalidade da Divindade) atrai a todos, Ele é cha-
mado de Kṛṣṇa. O Mahābhārata (Udyoga-parva 71.4), analisa o nome Kṛṣṇa da seguinte
forma:
kṛṣir bhū-vācakaḥ śabdo ṇaś ca nirvṛti-vācakaḥ ta-
yor aikyaṁ paraṁ brahma kṛṣṇa ity abhidhīyate
“A sílaba kṛṣ é o aspecto atrativo da existência do Senhor, e a sílaba ṇa
significa ‘prazer espiritual.’ Ao acrescentar à raiz verbal kṛṣ o afixo ṇa,
temos kṛṣṇa, que indica a Verdade Absoluta (paraṁ brahma).”
Finalmente, Rāma é outro nome de Bhagavān e significa “a fonte do prazer”:
ramante yogino ’nante satyānanda-cid-ātmani
iti rāma-padenāsau paraṁ brahmābhidhīyate
“Os místicos sentem prazer espiritual ilimitado do Ser eterno, consci-
ente e bem-aventurado, portanto a verdade Absoluta (paraṁ brahma),
e conhecido como Rāma.” (Rāma-pūrva-tāpiny-upaniṣad1.6).
Portanto, segundo a tradição vaiṣṇava, o mahā-mantra hare kṛṣṇa é uma prece que
apela ao Senhor Supremo através de sua energia de serviço e pode ser traduzida livre-
mente da seguinte forma:
hare kṛṣṇa hare kṛṣṇa kṛṣṇa kṛṣṇa hare hare
hare rāma hare rāma rāma rāma hare hare
“Ó energia de amor do Senhor (hare), ocupe-me no serviço daquele
que é Todo-atrativo (kṛṣṇa) e a Fonte do prazer (rāma).”

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APÊNDICE 1
MANTRAS DEVOCIONAIS
Śrī Guru Praṇāma:
oṁ ajñāna-timirāndhasya / jñānāñjana-śalākaya
cakṣur unmīlitaṁ yena tasmai / śrī-gurave namaḥ
“Ofereço minhas reverências a meu mestre espiritual que, com o archote do conheci-
mento, abriu meus olhos que estavam cegos pela escuridão da ignorância”
Śrī Rūpa Praṇāma:
śrī-caitanya-mano ‘bhīṣṭaṁ / sthāpitaṁ yena bhū-tale
svayaṁ rūpaḥ / śrī-gurave namaḥ
“Quando Śrīla Rūpa Gosvāmī, que dentro deste mundo material estabeleceu a missão
para satisfazer o desejo do Senhor Caitanya, me dará refúgio em seus pés de lótus”?
Śrīla Prabhupāda Praṇati:
nama oṁ viṣṇu-pādāya / kṛṣṇa-preṣṭhāya bhū-tale
śrīmate bhaktivedānta- / svāmin iti nāmine
“Ofereço minhas reverências a Śrīla Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que é muito que-
rido pelo Senhor Kṛṣņa, pois se refugiou em Seus pés de lótus”.
namas te sārasvate deve / gaura-vāṇī-pracāriṇe
nirviśeṣa-śūnyavādi- / pāścātya-deśa-tāriṇe
“Reverência a ti, ó servo de Śrīla Sarasvatī Gosvāmī. Estás bondosamente pregando a
mensagem do Senhor Caitanya e libertando os países ocidentais, que estão cheios de
impersonalismo e niilismo”.
Śrī Vaiṣṇava Praṇāma:
vāñchā-kalpatarubhyaś ca / kṛpā-sindhubhya eva ca
patitānāṁ pāvanebhyo / vaiṣṇavebhyo namo namaḥ
“Ofereço minhas reverências a todos os vaiṣṇavas, devotos do Senhor. Eles são exata-
mente como árvores-dos-desejos que podem satisfazer os desejos de todos, e estão
cheios de compaixão pelas almas caídas e condicionadas”.
Śrī Gaurāṅga Praṇāma:
namo mahā-vadānyāya / kṛṣṇa-prema-pradāya te
kṛṣṇāya kṛṣṇa-caitanya- / nāmne gaura-tviṣe namaḥ
“Ó munificentíssima encarnação! És o próprio Śrī Kṛṣņa Caitanya. Assumistes a tonali-
dade dourada de Śrīmatī Rādhārāṇī, e estás distribuindo amplamente amor puro por
Kṛṣņa. Oferecemos-Te nossas respeitosas reverências”.
Śrī Kṛṣṇa Praṇāma :
he kṛṣṇa karuṇā sindhu / dīna-bandho jagat-pate
gopeśa gopikā-kānta / rādhā-kānta namo’ stu te

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“Ó meu querido Kṛṣņa, oceano de misericórdia, és amigo do aflito e a fonte da criação.
És o mestre dos pastorinhos de vacas e o amante das gopīs, especialmente de
Rādhārāṇī. Ofereço-Te minhas respeitosas reverências”.
Śrī Rādhā Praṇāma:
tapta-kāñcana-gaurāṅgi / rādhe vṛndāvaneśvari
vṛṣabhānu-sute devi / praṇamāmi hari-priye
“Ofereço meus respeitos a Rādhārāṇī, cuja tez é como ouro derretido e que é a rainha
de Vṛndāvana. És a filha do rei Vṛṣabhānu, e és muito querida pelo Senhor Kṛṣņa”.
Śrī Tulasī Praṇāma:
vṛndāyai tulasī-devyai / priyāyai keśavasya ca
kṛṣṇa-bhakti-prade devi / satyavatyai namo namaḥ
“Repetidas reverências a Tulasī Devī, que é muito querida do Senhor Kṛṣņa. Ó deusa,
concedes às pessoas bhakti ao Senhor Kṛṣņa e possuis a verdade mais elevada”.
Śrī Tulasī Pradakṣiṇa Mantra:
yāni kāni ca pāpāni / brahma-hatyādikāni ca
tāni tāni praṇaśyanti / pradakṣiṇaḥ pade pade
“Pela circum-ambulação a Śrīmatī Tulasī Devī, todos os pecados que alguém possa ter
cometido são destruídos a cada passo, mesmo que ele tenha matado um brāhmaṇa”.
Mantras de purificação (acamana):
oṁ keśavāya namaḥ
oṁ nārāyaṇāya namaḥ
oṁ mādhavāya namaḥ
oṁ govindāya namaḥ
oṁ viṣṇave namaḥ
Mantras de oferecimento (cantar 3 vezes):
nama oṁ viṣṇu-pādāya / kṛṣṇa-preṣṭhāya bhū-tale
śrīmate bhaktivedānta- / svāmin iti nāmine

namas te sārasvate deve / gaura-vāṇī-pracāriṇe


nirviśeṣa-śūnyavādi- / pāścātya-deśa-tāriṇe

namo mahā-vadānyāya / kṛṣṇa-prema-pradāya te


kṛṣṇāya kṛṣṇa-caitanya- / nāmne gaura-tviṣe namaḥ

namo brahmaṇya-devāya / go-brāhmaṇa-hitāya ca


jagad-dhitāya kṛṣṇāya / govindāya namo namaḥ
“Repetidas reverências a Śrī Kṛṣņa, que é sempre adorado e querido pelos brāh-
maṇas”. Sempre cuidando do bem estar das vacas, dos brāhmaṇas e de todo uni-
verso, Ele dá prazer às vacas, os sentidos e aos brāhmaṇas”.

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APÊNDICE 2
Bījas e Mūla Mantras

Mahā-mantra (bīja): oṁ

Mūla-mantras:
Guru: aiṁ gurave namaḥ
Guru anterior: oṁ parama-gurave namaḥ
Vaiṣṇavas: oṁ sarva-vaiṣṇavebhyo namaḥ
Śrī Caitanya: klīṁ gaurāya namaḥ
Śrī Nityānanda: klīṁ nityānandāya namaḥ
Śrī Kṛṣṇa: klīṁ kṛṣṇāya namaḥ
Gopāla mantra klīṁ kṛṣṇāya govindāya gopī-jana-vallabhāya svaḥ
Rādhā śrīṁ rāṁ rādhikāyai namaḥ
Rādhā-Kṛṣṇa śrīṁ klīṁ rādhā-kṛṣṇābhyām namaḥ
Balarāma: klīṁ balarāmāya namaḥ
Baladeva : klīṁ baladevāya namaḥ
Subhadrā: śrīṁ subhadrāyai namaḥ
Sudarśana: oṁ sudarśanāya namaḥ
Rāmacandra: rāṁ (ou klīṁ) rāmāya namaḥ
Sītā: śrīṁ sītāyai namaḥ
Sītā-Rāma śrīṁ klīṁ sītā-rāmābhyām namaḥ
Hanuman: oṁ huṁ hanumate namaḥ
Nṛsiṁha: oṁ kṣrauṁ nṛsiṁhāya namaḥ
Prahlāda: praṁ prahlādāya namaḥ
Viṣṇu: oṁ viṣṇave namaḥ
Nārāyaṇa: oṁ namo nārāyaṇāya
Vāsudeva: oṁ namo bhagavate vāsudevāya
Lakṣmī: oṁ śrīṁ lakṣmiyai namaḥ
Garuḍa: oṁ khaṁ khagānanāya namaḥ
Śiva: oṁ śivāya namaḥ
Durgā: oṁ duṁ durgāyai namaḥ
Kālī: oṁ krīṁ kālikāyai namaḥ
Ganeśa: oṁ gaṁ gaṇapataye namaḥ
Sarasvatī: oṁ aiṁ sarasvatyai namaḥ

Bījas-mantras do cakras:
Sahasrāra: oṁ
Ājñā: oṁ
Viśuddha: haṁ
Anāhata: yaṁ
Maṇipūra: raṁ
Svādhiṣṭhāna: vaṁ
Ādhāra: laṁ

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APÊNDICE 3
Mantras Astrológicos
Mantras dos Planetas e āvātaras de Viṣṇu relacionados

Sūrya (Sol) Mantra - Śrī Rāmacandra oṁ


hraṁ hrīṁ hrauṁ saḥ sūryāya namaḥ oṁ
ghṛṇiḥ sūryāya namaḥ
oṁ śrī rāmāya namaḥ

Candra (Lua) Mantra- Śrī Kṛṣṇa


oṁ śraṁ śrīṁ śrauṁ saḥ candrāya namaḥ
oṁ soṁ somāya namaḥ
oṁ śrī kṛṣṇāya namaḥ

Maṅgala (Marte) Mantra (Śrī Narasiṁha)


oṁ kraṁ krīṁ krauṁ saḥ bhaumāya namaḥ
oṁ aṁ aṅgārakāya namaḥ
oṁ śrī narasiṁhāya namaḥ

Buddha (Mercúrio) Mantra (Śrī Nārāyaṇa)


oṁ braṁ brīṁ brauṁ saḥ buddhave namaḥ
oṁ buṁ buddhave namaḥ
oṁ śrī nārāyaṇāya namaḥ

Bṛhaspati (Júpiter) Mantra (Śrī Vāmana)


oṁ graṁ grīṁ grauṁ saḥ gurave namaḥ
oṁ bṛṁ bṛhaspataye namaḥ
oṁ śrī vāmanadevāya namaḥ

Śukra (Vênus) Mantra (Śrī Paraśurāma)


oṁ draṁ drīṁ drauṁ saḥ śukrāya namaḥ
śuṁ śukrāya namaḥ
oṁ śrī paraśurāmāya namaḥ

Śani (Saturno) Mantra (Śrī Kurma)


oṁ praṁ prīṁ prauṁ saḥ śanaiścarāya namaḥ
śaṁ śaniścarāya namaḥ
oṁ śrī kurmāya namaḥ

Rahu Mantra (Śrī Vārāha)


oṁ bhraṁ bhrīṁ bhrauṁ saḥ rāhave namaḥ
rāṁ rāhuve namaḥ
oṁ śrī vārāhāya namaḥ

Ketu Mantra (Śrī Matsya)


oṁ traṁ trīṁ tauṁ saḥ ketave namaḥ
keṁ ketave namaḥ
oṁ śrī matsyāya namaḥ

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APÊNDICE 4
Outros mantras

oṁ pūrṇam adaḥ pūrṇam idaṁ / pūrṇāt pūrṇam udacyate


pūrṇasya pūrṇam ādāya / pūrṇam evāvaśiṣyate

“Oṁ! Aquele pleno é como este pleno. Do pleno vem o pleno.


Vindo do pleno o pleno, permanece apenas plenitude” (Upaniṣads).

(oṁ) sarveṣāṁ svastir bhavatu / sarveṣāṁ śāntir bhavatu sar-


veṣāṁ pūrṇaṁ bhavatu / pūrṇaṁ maṅgalaṁ bhavatu

“Oṁ! Que haja sucesso para todos; que haja paz para todos;
Que todos tenham plenitude; e que tudo seja auspicioso”(Upaniṣads).

(oṁ) sarve bhavantu sukhinaḥ / sarve santu nirāmayāḥ


sarve bhadrāṇi paśyantu / mā kaścid duḥkha-bhag bhavetu

“Oṁ! Que todos sejam felizes; que todos sejam saudáveis;


Que todos só vejam o bem; e que não haja nenhum sofrimento”(Upaniṣads).

(oṁ) saha nāv avatu / saha nau bhunaktu


saha vīryaṁ karavāvahai / tejasvi nāvadhītam astu mā vidviṣāvahai

“Oṁ! Que sejamos protegidos; que sejamos nutridos;


que trabalhemos juntos com grande vigor; que nosso estudo seja vigoroso e afetivo; e
que não haja conflitos entre nós. (Upaniṣads)

(oṁ) svasti prajābhyaḥ paripālayantaṁ / nyāyyena mārgeṇa mahīṁ mahīśāḥ


go-brāhmaṇebhyaḥ śubham astu nityac / lokāḥ samastāḥ sukhino bhavantu

Oṁ! Que todos os seres sejam abençoados, e que os líderes nos governem com justiça.
Que a natureza e os sábios estejam sempre bem, e que todas as pessoas sejam felizes.
(Upaniṣad)

asato mā sad gamaya / tamaso mā jyotir gamaya


mṛtyor mā’mṛtaṁ gamaya

Do irreal conduz-me ao real. Das trevas conduz-me à luz.


Da morte conduz-me à imortalidade.(Upaniṣad)

oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ


Oṁ! Que haja paz, paz e paz.

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Mantra de purificação
oṁ apavitraḥ pavitro vā / sarvāvasthāṁ gato ‘pi vā
yaḥ smaret puṇḍārīkākṣaṁ / sa bāhyābhyantaraḥ śuciḥ
(śrī-viṣṇuḥ śrī-viṣṇuḥ śrī-viṣṇuḥ)

Purificado, não purificado ou em qualquer outra condição, quem se lembra do Senhor que
tem olhos de lótus, se purifica interna e externamente.

Mantra de consagração ao Absoluto


brahmārpaṇaṁ brahma havir / brahmāgnau brahmaṇā hutam
brahmaiva tena gantavyaṁ / brahma-karma-samādhinā

Brahman é o ato sacrificial; Brahman é a oferenda, que é vertida por Brahman no fogo de
Brahman. Unicamente Brahman é para ser obtido por quem medita perfeitamente
nas ações de Brahman.
(Bhagavad-gītā, 4.24)

Mantra de inspiração (Brahma Gāyatrī Mantra)


oṁ bhūr bhuvaḥ svaḥ
tat savitur vareṇyaṁ / bhargo devasya dhīmahi
dhiyo yo naḥ pracodayāt.

Om! Nos planos físico, mental e da consciência, medite-


mos na divina refulgência / desse vivificador (sol) formidável.
Que ele ilumine (inspire) nossa inteligência.
(Ṛg Veda, 3.62.10)
Mantra de Proteção da morte (Mahā-Mṛtyuñjaya Mantra)
(oṁ) tryambakaṁ yajāmahe / sugandhiṁ puṣṭivardanam ur-
vārukam iva bandhanān / mṛtyor mukṣīya mā’mrtāt

Adoremos Śiva, o senhor dos três mundos. Fragrante, ele traz prosperidade.
Que eu me livre da morte, tal como o pepino livra-se da haste e não da imortalidade”.
(Ṛg Veda, 7.59.12)

Pātañjali Mantra (Yoga Mantra)


ābāhu puruṣākāraṁ / śaṅkha-cakrāsi dhāriṇam
sahasra-śīrasaṁ śvetaṁ / praṇamāmi pātañjalim (oṁ)

Àquele cuja forma é humana, na parte superior do corpo e segura o búzio e o disco.
A ele, Patañjali, coroado com a serpente de mil cabeças, ofereço minhas reverências.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAS, Jahnava Nitai. “The Vedic Conception of Sound in Four Features”. SadhuSanga Org.
Spiritual Articles, Feb 16, 2016. Disponível em: <www.sadhusanga.org/the- vedic-
conception-of-sound-in-four-features/ > Acesso em 19 jul. 2020.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
GUPTA, Sanjukta. “The Pāñcarātra Attitude to Mantra”. In ALPER, Harvey P. (edit.) Un-
derstanding Mantras. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers, 1991, p. 224-248.
MURTY, Rani Sadasiva. Vedic Prosody – its nature, origin and development. Allahabad:
Vohra Publishers & Distributors, 1988.
PHILIPE, Rivalt (Prema Rāsa Dāsa); LUC, Sordon (Sāndīpani Muni Dāsa. The Book of
Saṁskāras – Purificatory Rituals for Successful Life (Vaiṣṇava tradition of India).
Chatenois (França): Prema Rāsa Dāsa, 1997.
PRABHUPĀDA, A.C. Bhaktivedanta Swami. (trad.) Śrīmad Bhāgavatam. 19 Volumes, São
Paulo: Bhaktivedanta Book Trust, 1995.

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