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Brasília-DF, 13 de julho de 2022

A Sua Excelência o Senhor


Ministro ALEXANDRE DE MORAES
Vice-Presidente do C. Tribunal Superior Eleitoral

Assunto: Atos atentatórios contra a propaganda política.

Senhor Presidente,

Dirigimo-nos a Vossa Excelência para manifestar preocupação e


repúdio aos recentes episódios de violência contra os pré-candidatos e seus
apoiadores, nos termos do manifesto anexo, bem como para solicitar a este
C. Tribunal Superior Eleitoral que os atos de violência sejam
apurados e punidos nos rigores da lei.

Como noticiado pelos veículos de comunicação, no último final de


semana um dirigente partidário foi brutalmente executado na frente de seus
familiares durante sua festa de aniversário. Semanas atrás, também foi
amplamente divulgado o caso em que se usou um “drone” para despejar
um líquido malcheiroso contra os participantes de um evento de pré-
campanha.

1
Para garantir que todos possam fazer propaganda em prol de seus
candidatos, o nosso Código Eleitoral estabeleceu, nos artigos 331 e 332, os
crimes contra a propaganda eleitoral.

Art. 331. Inutilizar, alterar ou perturbar meio de propaganda


devidamente empregado:
Pena - detenção até seis meses ou pagamento de 90 a 120 dias-multa.
Art. 332. Impedir o exercício de propaganda:
Pena - detenção até seis meses e pagamento de 30 a 60 dias-multa.

Nas últimas décadas, com o período da estabilidade democrática


inaugurado pela Constituição de 1988, muito raras foram as situações em que
esta Justiça Eleitoral se viu diante dos crimes acima descritos. Tanto assim
que na Sistematização das Normas Eleitorais1, projeto coordenado por
Vossa Excelência, suscitou-se “dúvida sobre a necessidade de manter essa
criminalização”. Ao final, porém, a sugestão de encaminhamento foi no
sentido de que “a inconveniência do dispositivo é matéria confiada ao legislador”.

Diante dos recentes casos de violência dos quais tem sido alvo
todos os políticos, independentemente de seu posicionamento no espectro
político-ideológico, as normas previstas nos artigos 331 e 332 do Código
Eleitoral, infelizmente, vem reclamar maior efetividade.

1 https://www.tse.jus.br/legislacao/sne

2
Norberto Bobbio (Dicionário de Política, 13ªed. Universidade deBrasília,
2010, p. 1080) define propaganda como a “difusão deliberada a sistemática de
mensagens destinadas a um determinado auditório e visando acriar uma imagem positiva ou
negativa de determinados fenômenos (pessoas,movimentos, acontecimentos, instituições, etc.) e a
estimular determinados comportamentos. A Propaganda é, pois, um esforço consciente e
sistemáticodestinado a influenciar as opiniões e ações de um certo público ou de uma sociedade
total.”.

A propaganda eleitoral tem por finalidade precípua convencer a


população de que determinado candidato deve receber o voto e, portanto,
representar o Estado Brasileiro. A propaganda política realizada nos lindes da
lei, independentemente da matriz de pensamento, é de interesse coletivo porque
é por intermédio do voto, da persuasão e não da violência, que se legitima o
Governo.

Portanto, quem busca impedir o exercício, inutilizar, alterar ou


perturbar uma propaganda lícita deve responder penalmente. Não há como
saber se os que assim agem não compreendem o que é Democracia ou,
mais grave, compreendem e desejam erodi-la. Pouco importa. Deve haver a
respectiva retorsão pelo ordenamento jurídico, nos termos das regras dos
artigos 331 e 332 do nosso Código Eleitoral, as quais seguem em vigor e
reclamam maior efetividade.

Uma agressão contra uma legítima propaganda política é uma


agressão contra o próprio processo eleitoral, ferramenta da qual se serve o
Estado para materializar o princípio da soberania popular abrigado no artigo
primeiro da Constituição da República. O ato atentatório ao livre exercício da
propaganda, corolário do direito de reunião e da liberdade de

3
manifestação também consagrados no artigo 5º da nossa Carta
Política, deve ser veementemente reprimido por esta Justiça Eleitoral, com
a abertura dos procedimentos investigativos e a comunicação ao Ministério
Público, titular da ação penal.

Finalmente, cumpre destacar que muito embora os episódios de


violência contra os candidatos e seus apoiadores observados nos últimos
meses tenham sido alarmantes, não se está a tratar de um caso específico.
Está-se a tratar da derrocada democrática e do consequente esgarçamento
do tecido social, conforme os mais recentes estudos dos cientistas sociais.
Assim, antes de se buscar resolver este ou aquele caso, é de rigor que haja
um esforço coletivo, ao qual desde logo os signatários desta aderem, para
evitar o colapso da saúde democrática do Brasil, nos termos do manifesto
anexo.
Ao ensejo, renovamos protestos de estima e consideração.

Respeitosamente,

SIMONE TEBET ROBERTO FREIRE


Senadora e Pré-candidata à Presidência da Presidente do CIDADANIA
República

BRUNO ARAÚJO BALEIA ROSSI


Presidente do PSDB Deputado Federal e Presidente do MDB

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