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ILHÉUS - BA
2020
MARIANE PORTO LIMA
ILHÉUS - BA
2020
A Deus, por ter me dado forças e mostrado o
valor das pequenas coisas. Aos meus pais, por
todo o amor e carinho e por me ensinarem a
importância dos estudos. Ao meu noivo
Gabriel, por todo apoio incondicional.
AGRADECIMENTOS
Como de praxe e assim deve ser, agradeço primeiramente a Deus pela permissão de
encerrar mais este ciclo. Sem a fé de que tudo daria certo, não seria possível, desistiria na
primeira concretagem!
Agradeço a minha família, aos meus pais, padrasto e madrasta, por terem me incentivado
e sempre me ensinado a importância do estudo desde pequena, me mostrando que eu posso
chegar onde eu quiser.
Ao meu noivo Gabriel pelo amor e apoio incondicional, estando comigo nas
concretagens e em todos os momentos em que foi “convocado”, não me deixando desistir
mesmo nos momentos mais difíceis.
Aos meus sogros, Nara e Daylton, por todo o apoio e estrutura que vocês me
proporcionam.
A todos da minha família que contribuíram de alguma forma para que eu alcançasse
mais esta vitória.
Ao meu gatinho Sequilho por ficar ao meu lado nas longas madrugadas.
Aos meus dois orientadores por toda a mentoria durante este processo, ao professor
Joaquim, por toda sua experiência e disponibilidade em contribuir com o trabalho e nos ensinar
sobre a importância do trabalho em grupo. Ao professor José Renato, que foi um verdadeiro
mentor, sempre preocupado com todos do LEMER, passando a calma e tranquilidade que lhe é
peculiar e ao mesmo tempo cheio de energia para produzir e nos ensinar sobre a vida e a carreira
acadêmica.
Aos amigos da vida, pela presença, pela compreensão nas ausências, por sempre estarem
por perto quando preciso, em especial a Isabelle, Mayne, Raíza, Natálias (no plural mesmo) e
todos aqueles que vão me perdoar por eu não ter lembrado.
Aos amigos e colegas do PROCIMM, em especial Jennifer, Kleber e Saulo que me
ajudaram muito durante o mestrado.
Aos amigos e colegas do LEMER, pelo esforço de cada um na construção do grupo de
pesquisa, em especial Marina e Suian. Destaco aqui também a contribuição gigantesca de Laio
que sempre esteve disposto a ajudar mesmo tendo que medir quase 500 corpos de prova sem
respirar para não dar errado!
Aos alunos de iniciação científica Ellen, Ana e Gustavo que fizeram a diferença nesta
pesquisa, me ajudando, analisando resultados e sofrendo junto comigo.
Ao laboratório Axis, em especial ao Gustavo e seus funcionários, pela disposição em
realizar todos os ensaios pedidos sempre que solicitados.
Ao Augusto, por ter contribuído na fabricação de um dos suportes utilizados na
pesquisa.
Ao Marcelo Martins pela colaboração.
Aos laboratórios LMCC e LAMMA por disponibilizarem o espaço e equipamentos para
a realização de ensaios.
Aos professores Franco e Aprígio, que fizeram parte da banca de qualificação e defesa,
pelas considerações que tanto contribuíram para o trabalho.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela concessão da
bolsa de estudo.
À Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), por conceder a infraestrutura para o
desenvolvimento do trabalho.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência, Inovação e Modelagem em Materiais
(PROCIMM), pela oportunidade de cursar o mestrado.
Aos servidores técnicos e professores do PROCIMM pelo apoio.
Grata a todos que se esforçaram, me motivaram, torceram por mim para que este
momento chegasse. Essa vitória também é de vocês!
“A ciência é sobre saber, a engenharia é sobre fazer".
Henry Petroski
CARACTERIZAÇÃO DE CONCRETOS DE CIMENTO PORTLAND POR MEIO DA
VELOCIDADE DE PULSO ULTRASÔNICO
RESUMO
ABSTRACT
The search for mechanisms for inspection and characterization of different types of materials
and structures has been increasingly encouraging studies involving non-destructive tests,
including in civil construction. In this sense, the present work aims at the development of
ultrasonic pulse velocity test for the characterization of cementitious composite materials,
particularly concrete. This study consists of establishing correlation curves between the
mechanical resistance to concrete compression (fck) and the ultrasonic pulse velocity (UPV) for
concretes of different density. For this purpose, 65 cylindrical specimens of 10 cm in diameter
and 20 cm in height were produced, varying the mixture proportions of the series produced for
different densities. The method of dosing by packaging of particles was used, the method of
Alfred. Thus, three groups of samples were established. In groups A, B and C, water
consumption was varied so that groups A and C reached the same density and group B had a
different density. Groups A and B were composed of three series and group C by one series.
Within groups A and B, the mixture proportions were determined with different values of w/c
ratio to achieve different values of mechanical resistance to compression. For the UPV
determination test, based on ABNT NBR 8802:2019, the Pundit Lab Proceq portable equipment
with 54 Hz transducers coupled in the form of direct transmission was used. The densities and
specific masses of the specimens produced were determined by ABNT NBR 9778:1987, even
as the mechanical resistance to compression by ABNT NBR 5739:2018. The results obtained
show that concretes of the same UPV can present significantly different mechanical resistance
to compression due to density. Like this, concretes of higher density are characterized by higher
values of UPV even though they are less resistant. When analyzing each group individually, it
is noticed that as the w/c ratio decreases, the UPV increases as well as the mechanical resistance
to concrete compression. From the results of groups A and B, two correlation curves UPV x fck
were established for concretes of the same density. Through these curves, it is possible to
estimate the mechanical strength for concretes of density 2.36 and 2.44 g / cm³. The equations
determined for these curves have a standard error of 6.48% and 6.87% considering the data set
of each group. The standard error of one of these equations was also evaluated based on the
UPV values of the group C samples, obtaining an error of 7.64%. Therefore, the determined
equations can be used to estimate the mechanical resistance to compression and the curve
should be chosen according to the density of the studied concrete. Thus, the work is contributing
to the characterization process of Portland cement concretes using VPU, since the density of
the concrete becomes a conditioning parameter for the test and not the type and quality of the
inputs that vary from one region to another.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
1.1 Objetivos ............................................................................................................................11
1.1.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 11
1.2.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 12
2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 13
2.1 Concreto ............................................................................................................................13
2.1.1 Constituintes .................................................................................................................... 13
2.1.2 Propriedades do concreto ................................................................................................ 14
2.2 Método de dosagem por empacotamento de partículas (mÉtodo de alfred) ..............16
2.3 Ensaios não destrutivos para o concreto ........................................................................20
2.4 Utilização do ultrassom no concreto ...............................................................................23
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 35
3.1 Considerações Iniciais ......................................................................................................35
3.2 Caracterização dos materiais ..........................................................................................36
3.2.1 Cimento ........................................................................................................................... 36
3.2.2 Agregado graúdo ............................................................................................................. 37
3.2.3 Agregado miúdo .............................................................................................................. 38
3.2.4 Água ................................................................................................................................ 38
3.2.5 Sílica ativa ....................................................................................................................... 39
3.2.6 Aditivo ............................................................................................................................. 39
3.3 Determinação dos traços dos corpos de prova de concreto ..........................................40
3.4 Preparação dos corpos de prova de concreto .................................................................43
3.5 Ensaios laboratoriais ........................................................................................................46
3.6 Análise estatística ..............................................................................................................49
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 53
4.1 Caracterização dos agregados .........................................................................................53
4.2 Determinação da densidade de empacotamento dos traços desenvolvidos .................56
4.2 Análise dos resultados para concretos do grupo A........................................................58
4.3 Análise dos resultados para concretos do grupo B ........................................................60
4.4 Análise dos resultados para concretos do grupo C ........................................................62
4.5 Comparação de médias entre os grupos .........................................................................62
4.6 Curvas de correlação para os dados dos grupos A e B .................................................67
4.7 Verificação das curvas de correlação .............................................................................71
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 76
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 78
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79
9
1 INTRODUÇÃO
presença das diversas regiões heterogêneas, o concreto também possui uma composição
variada, bem como um processo de fabricação não padronizado (AMARAL et al., 2018).
Dentre os ENDs mais utilizados em estruturas de concreto estão a inspeção visual,
análise de vibrações, radiografia, ultrassom, termografia, esclerometria, penetração por pinos,
ultrassom, microtomografia de Raio X, entre outras (PETRES; LACERDA, 2012).
Apesar das vantagens dos ENDs, como rápida execução, resultados imediatos e a não
necessidade de se extrair testemunhos da estrutura, estes ensaios apresentam uma natureza
comparativa, sendo necessário estabelecer curvas de correlação entre a propriedade medida e a
resistência do concreto (NEVILLE; BROOKS, 2013). Resultados mais precisos são obtidos
com o uso de diferentes métodos não destrutivos, sendo esta técnica conhecida como métodos
combinados (MALHOTRA, CARINO, 2004).
O ensaio por ultrassom é um método não destrutivo que se baseia no espectro acústico
de alta frequência. A onda ultrassônica percorre um meio elástico e, ao incidir em uma falha
interna ou descontinuidade, sofre reflexão. Estas reflexões vindas do interior da peça são
detectadas por meio de aparelhos especiais (ANDREUCCI, 2011).
O método da velocidade do pulso ultrassônico (VPU) permite uma análise do elemento
ensaiado ao longo da sua espessura e altura. Por meio desta técnica, pode-se obter informações
acerca da espessura, presença de descontinuidades internas (fissuras), delaminações, módulo
de elasticidade, início e fim de pega, etc. Todavia, as curvas de correlação entre a VPU e a
resistência mecânica à compressão axial do concreto (fck) sofrem a influência de diversos
fatores, como idade, proporção da mistura, umidade, materiais empregados na fabricação, entre
outros (IRRIGARAY, 2012).
O Brasil optou por utilizar em sua infraestrutura de obras civis o concreto. Vê-se
atualmente que muitas dessas obras estão próximas do final de sua vida útil que segundo a NBR
8681:2004 “Ações e segurança nas estruturas – Procedimento” é definida como 50 anos. Desta
forma, têm-se desenvolvido metodologias capazes de avaliar as condições das estruturas de
concreto existentes abrindo muitas possibilidades de utilização para os ENDs.
A automação de métodos não destrutivos que determinam as propriedades do concreto
sem a necessidade de extração de testemunhos é objetivo de diversos estudos científicos
produzidos (POPOVICS, 2001; LIN et al., 2007; SANTHANAM, 2010; EKOLU; DUNDU;
GAO, 2014). Especificamente relacionada à utilização do ultrassom, diversos trabalhos já
foram realizados estabelecendo curvas de correlação entre a VPU e a Resistência Mecânica à
Compressão do concreto. Nesses trabalhos as curvas desenvolvidas se referem a um concreto
específico utilizado na pesquisa, visto que tais curvas são sensíveis aos tipos e quantidades de
11
1.1 OBJETIVOS
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CONCRETO
O uso do concreto se dissipou pelo mundo por conta de três principais razões. O primeiro
motivo baseia-se no fato deste material apresentar uma boa resistência frente à ação da água
sem grave deterioração quando comparado com outros materiais construtivos, como o aço e a
madeira. A segunda razão refere-se à facilidade do concreto em ser moldado em diferentes
formatos e tamanhos, devido a sua consistência plástica quando no estado fresco e posterior
solidificação, permitindo o reuso da forma. O último motivo principal remete ao baixo custo
deste material aliado à disponibilidade da matéria-prima (MEHTA; MONTEIRO, 2014).
2.1.1 Constituintes
𝐶𝑃𝐹𝑇 𝑑 𝑞
=( ) (01)
100 𝐷𝑚á𝑥
𝑞
𝐶𝑃𝐹𝑇 𝐷𝑞 − 𝐷𝑚𝑖𝑛
= 𝑞 𝑞 (02)
100 𝐷𝑚𝑎𝑥 − 𝐷𝑚𝑖𝑛
Ainda foi proposto que o módulo de distribuição que promove a máxima densidade de
empacotamento é q = 0,37 (FENNIS, 2011). Vale ressaltar que um menor valor do coeficiente
de empacotamento indica uma presença maior de finos na mistura, influenciado assim na
interação entre as partículas (VANDERLEI; GIONGO, 2006). Segundo Oliveira et al. (2000),
o modelo de Alfred apresenta maior eficiência de empacotamento e está mais de acordo com
os sistemas particulados reais, sendo assim o mais utilizado na dosagem de concretos.
Com a equação proposta pelo modelo de Alfred, pode-se determinar a curva teórica de
distribuição granulométrica ideal (q = 0,37) ou desejada a depender do caso específico, haja
vista que concretos autoadensáveis normalmente são dosados com o coeficiente de
empacotamento menor que 0,25. A partir da curva teórica, basta analisar a combinação entre as
partículas do traço que melhor se ajustem à curva teórica (REBMANN, 2011). Para tal, podem
ser utilizadas técnicas computacionais por meio de programas específicos, entre eles, o EMMA
Mix Analyzer desenvolvido pela Elkem, empresa alemã que desenvolve materiais voltados para
diversas áreas, inclusive aditivos e sílica para concretos.
Vanderlei (2004) avalia que, ao adotar o coeficiente de distribuição como sendo
q = 0,37, não se obtém uma mistura fluida, pois os agregados estão muito próximos, interferindo
uns nos outros devido à pouca disponibilidade de matriz para seu afastamento. Assim, para
concretos com boa capacidade de escoamento, deve-se utilizar valores de coeficiente de
distribuição menores que 0,30.
Uma dificuldade em se utilizar o método de empacotamento de partículas está no fato
que o formato dos grãos dos constituintes do concreto normalmente não é esférico, como
proposto pelos modelos. Além disso, não há garantias de reprodução de certo material com
distribuição granulométrica precisa, haja vista que as matérias-primas dificilmente apresentarão
uma distribuição granulométrica contínua e reprodutível durante longos períodos de tempo
(OLIVEIRA et al., 2018).
Atualmente, muitos estudos acerca do empacotamento de partículas estão voltados para
o viés sustentável, uma vez que realizando a dosagem por meio deste método, o consumo de
cimento é reduzido e, como o uso deste material provoca impactos no meio ambiente por conta
das emissões de CO2 na sua produção, esta perspectiva se alia aos preceitos da sustentabilidade
(CAMPOS; MARQUES FILHO; KLEIN, 2016). Esta otimização pode ser realizada com base
nos conceitos do empacotamento de partículas de modo a fabricar misturas com menor índice
de vazios (CASTRO; LIBORIO; PANDOLFELLI, 2009).
Oliveira et al. (2016) realizaram a dosagem de um concreto autoadensável a partir do
modelo de Alfred, comparando-o com um concreto dosado por métodos tradicionais. Os autores
20
mantiveram fixa a quantidade de água em 10% em relação à massa dos materiais secos e o
superplastificante foi sendo adicionado a mistura até que se obtivesse o abatimento esperado
no slump test. Apesar da utilização de agregados de diferentes granulometrias por conta do
método de dosagem empregado, não foi percebido um aumento significativo de resistência
mecânica à compressão axial do concreto produzido devido à ausência de partículas finas na
mistura, fato este que prejudicou a otimização do traço.
Nos estudos de Oliveira et al. (2018) foram produzidos dois tipos de concreto: um
composto por agregados usuais (concreto referência) e outro otimizado a partir do
empacotamento de partículas, o qual apresentou em sua composição alguns materiais como
pedrisco, pó de pedra e areia industrial fina, com o objetivo de sanar a falta de partículas de
certos tamanhos do concreto referência. A dosagem do traço otimizado parte da obtenção do
coeficiente de distribuição do traço referência, mantendo este valor e incorporando esses novos
materiais na mistura.
Os resultados obtidos por Oliveira et al. (2018) em relação a resistência mecânica à
compressão axial mostram que o traço otimizado, apesar do menor consumo de cimento,
apresentou menores valores de resistência nas primeiras idades por conta de um menor consumo
de agregado graúdo, responsável pelo desempenho mecânico nesta fase. Porém, aos 28 dias, o
concreto otimizado obteve maiores valores de resistência do que o concreto referência.
Acredita-se que o maior consumo de sílica ativa do traço otimizado tenha contribuído, pois este
componente fortalece a zona de transição da interface pasta/agregado, aumentando a resistência
nessa idade. Também pode ser consequência de uma melhor distribuição granulométrica das
partículas, reduzindo a porosidade e melhorando o desempenho mecânico do material.
Lenz et al. (2018) avaliaram a influência do empacotamento de partículas dos agregados
miúdo e graúdo na velocidade de propagação da onda ultrassônica e na resistividade elétrica
para concretos com resistências de 25 e 40 MPa, buscando analisar também a influência do teor
de agregados. No que se refere a velocidade de pulso ultrassônico, os autores observaram que
a VPU aumentou à medida que a relação agregados secos/cimento também aumentou. Em
relação ao módulo de elasticidade dinâmico calculado a partir dos valores de VPU, este
parâmetro aumenta com o incremento da relação agregados secos/cimento.
porém, observa-se um consenso de que estas estruturas se deterioram, fato este evidenciado em
inúmeras situações de ruína envolvendo as obras de arte que compõe a infraestrutura urbana.
A deterioração das estruturas de concreto ao longo do tempo provoca a diminuição da
qualidade do elemento estrutural, fato este notável por danos em seus componentes, como
presença de fissuras, o que leva a insegurança por parte dos usuários. Dessa forma, percebe-se
que a utilização das estruturas de concreto está sendo prejudicada pela necessidade de
restaurações destas estruturas, motivo este que estimula as pesquisas voltadas ao estudo do
desempenho estrutural (FIGUEIREDO; ARAÚJO NETO; ALMEIDA, 2011).
Diante desta problemática, gera-se um impacto econômico devido aos custos envolvidos
nos processos de reparo, manutenção e restauração das estruturas antigas. Nesse contexto, é
crescente a busca pelo desenvolvimento dos métodos não destrutivos na avaliação das estruturas
de concreto tão presentes na infraestrutura urbana (MEHTA; MONTEIRO, 2014). O uso não
invasivo destes ensaios é capaz de fornecer informações acerca da integridade estrutural das
peças ensaiadas. Por meio dos resultados destes ensaios, pode-se estabelecer um plano de ações
corretivas e a melhor forma de intervenção (PERLIN; PINTO, 2013).
Os métodos não destrutivos são definidos como ensaios que não provocam danos ao
elemento ensaiado. Estes métodos têm sua aplicação consolidada na inspeção de materiais
homogêneos, como o aço, sendo comumente empregados na identificação de problemas neste
material. Porém, frente à heterogeneidade do concreto decorrente da variação na composição e
matéria-prima, o uso dos ensaios não destrutivos apresenta um desenvolvimento lento em
relação aos materiais homogêneos (PAIVA, 2017).
Os ensaios não destrutivos são utilizados nos mais variados setores produtivos com o
intuito de caracterizar os materiais e verificar a presença de defeitos nos elementos ensaiados
(EVANGELISTA, 2002). Estes ensaios são empregados nos diversos setores das áreas
petroquímica, siderúrgica, aeroespacial, naval, entre outros. Tais métodos apresentam uma
versatilidade peculiar, haja vista que por não causar danos ao elemento estudado, pode ser
realizado inúmeras vezes no decorrer do tempo, inclusive com a peça em serviço. Porém, na
grande parte dos casos, os resultados representam medidas indiretas das propriedades do
material, o que requer um analista capacitado na interpretação dos mesmos (PAIVA, 2017).
Neste tipo de ensaio pode-se localizar, detectar, dimensionar e até mesmo classificar as
descontinuidades presentes no interior e na superfície do material. Já se utilizam vários tipos de
ENDs com ensaios normatizados pela ABNT e sua aplicação depende do material a ser
analisado, do tipo de descontinuidade a ser detectada, o meio onde o material se encontra, entre
outros (FERREIRA, 2013).
22
Contudo, vale destacar que o emprego destes métodos requer um número mínimo de
ensaios, assim como o embasamento teórico para validar o método e os resultados alcançados
(DA COSTA, 2011).
Segundo Malhotra e Carino (2004), os métodos não destrutivos desenvolvidos possuem
a capacidade de avaliar algumas propriedades do concreto por meio de uma estimativa de sua
resistência, módulo de elasticidade e durabilidade. Sendo assim, os ensaios não destrutivos
podem contribuir na avaliação de algumas propriedades do concreto, tais como massa
específica, módulo de elasticidade, resistência, absorção, permeabilidade, porosidade,
fissuração, entre outras.
Além disso, as estruturas de concreto podem ser analisadas como um todo no que tange
a presença e localização das armaduras, corrosão nas armaduras, reação álcali-agregado,
defeitos localizados (vazios, nichos de segregação, rachaduras), etc. O estudo da propriedade
de interesse varia de acordo com o elemento estrutural analisado devido a diferenças no
processo de adensamento, cura e lançamento (EVANGELISTA, 2002; PESSÔA, 2011).
Ademais, o emprego continuado dos ENDs permite o constante monitoramento das
estruturas de concreto, haja vista que, ao não provocarem danos no elemento ensaiado, pode-se
realizar o ensaio no mesmo local diversas vezes sem perda da capacidade resistente da estrutura.
Assim, as propriedades do concreto podem ser monitoradas durante o tempo e constância
desejados, verificando-se mudanças nessas propriedades (LORENZI et al., 2013).
O desenvolvimento tecnológico em hardwares e softwares de coleta e análise de dados
embasados nos métodos não destrutivos, atrelado aos benefícios econômicos quando se trata da
avaliação de grandes volumes de concreto, contribui na rapidez da obtenção dos resultados,
relacionando-os com a qualidade do concreto, fatores estes que promovem a dissipação destes
ensaios na cadeia produtiva da indústria da construção civil (PAIVA, 2017).
Todavia, o emprego dos métodos não destrutivos no concreto ainda se mostra limitado
diante da heterogeneidade intrínseca a este material compósito, pois estas técnicas são utilizadas
com sucesso em materiais homogêneos. Entretanto, a evolução dos métodos não destrutivos no
23
As ondas sonoras são ondas mecânicas, logo não se propagam no vácuo, sendo
necessária a oscilação de cada partícula em torno de um ponto médio em contato com a partícula
vizinha para que esta onda se propague no meio elástico. Esta movimentação em torno de uma
posição de equilíbrio não é capaz de deslocar a matéria, assim ocorre apenas a transferência de
energia (SANTIN, 2003).
25
Figura 3 – Oscilação das partículas diante da (a) onda longitudinal e (b) onda transversal
(a) (b)
Fonte: Andreucci (2018).
Figura 5 – Posição dos transdutores no ensaio de ultrassom: transmissão (a) direta, (b) indireta
e (c) semidireta.
𝐷
𝑣= (03)
∆𝑡
𝐾𝐸
𝑉=√ (04)
𝜌
(1 − 𝜇)
𝐾= (05)
[(1 + 𝜇)(1 − 2𝜇)]
𝐸(1 − 𝜇)
𝑉=√ (06)
𝜌(1 + 𝜇)(1 − 2𝜇)
concreto e outros fatores. A primeira categoria abrange o tipo, tamanho e teor de agregado
graúdo, sendo que concretos com maior consumo de agregado apresenta maiores velocidades
de pulso ultrassônico. Esta categoria também trata do tipo de cimento, idade do concreto e a
relação água/cimento. O autor afirma que, para um concreto composto pelos mesmos materiais,
aquele que apresentar uma maior relação a/c terá menores valores de VPU.
No que se refere aos outros efeitos, Malhotra e Carino (2004) chamam a atenção para o
contato entre o transdutor e a amostra, o qual deve ser adequado para permitir uma transmissão
apropriada de energia na interface. Deve-se atentar também para a umidade do concreto
analisado, dado que a VPU no concreto saturado é maior que no concreto seco ao ar. Para
concretos com alta relação a/c, percebe-se um aumento de 4 a 5% na VPU em comparação ao
concreto seco por conta da porosidade de concretos de maior relação a/c. Além disso, a presença
de armadura também é um fator importante, pois a VPU no aço é significativamente maior que
no concreto simples, aumentando a leitura de VPU nas áreas próximas à armadura, podendo-se
utilizar fatores de correção nestes casos.
Lin et al. (2007) investigou a relação entre a Velocidade do Pulso Ultrassônico (VPU)
e a resistência à compressão do concreto, bem como identificou a influência da proporção da
mistura e da idade do concreto na relação entre a VPU e a resistência à compressão. Para tal,
submeteu corpos de prova aos ensaios de ultrassom e resistência mecânica à compressão nas
idades de 3, 7, 14 e 28 dias. Dessa forma, constatou que o teor de agregado graúdo e a relação
água/cimento são fatores determinantes na intensidade de VPU no concreto endurecido. Estes
parâmetros também alteram a massa específica e densidade do material. Além disso,
estabeleceu cinco curvas de correlação da relação entre VPU e resistência mecânica à
compressão do concreto endurecido.
Evangelista (2002) estudou a aplicação do ensaio de ultrassom em concretos de
diferentes composições. A autora demonstrou que a VPU foi maior nos concretos constituídos
por agregados graúdos de dimensões maiores. Os concretos com agregado graúdo de diâmetro
máximo de 19 mm apresentaram VPU entre 2,5% a 11% superiores em relação aos concretos
com agregado graúdo de diâmetro máximo de 9,5 mm.
Ohdaira e Masuzawa (2000) analisaram a variação de umidade nos corpos de prova de
concreto submetidos a cura úmida por 50 dias. Após este período, as amostras foram colocadas
para secar em estufa, sendo averiguada a VPU a cada hora até a secagem completa do corpo de
prova. Foi notável que a VPU é maior quanto maior for a umidade no concreto.
Outro aspecto a ser considerado é a influência de certos parâmetros tecnológicos, como
distância entre transdutores (grid), presença da armadura, operadores e superfície analisada, a
34
qual foi averiguada por Adamati et al. (2017). Os autores demostraram que estas variáveis
influenciaram significativamente nas leituras de velocidade de pulso ultrassônico dos corpos de
prova analisados. Entretanto, a experiência do operador mostrou-se a variável mais importante
e significativa nas análises, já que a falta de treinamento do mesmo pode acarretar em
interpretações errôneas, tendo em vista também que o operador é indispensável para a
realização dos ensaios.
Por meio do ensaio de VPU, pode-se estabelecer curvas de correlação entre a velocidade
de propagação da onda ultrassônica no concreto e a resistência mecânica à compressão axial
deste material. Contudo, há diversas variáveis que afetam diretamente a resistência, como a
relação água/cimento, tamanho e tipo de agregado, tipo de cimento, moldagem e cura. Assim,
estudos comparativos da resistência no decorrer do tempo ou o mapeamento de variações da
resistência em um elemento estrutural têm se mostrado mais eficientes (LORENZI et al., 2011).
Há uma relação entre a VPU e a densidade do concreto que justifica o uso do ensaio de
ultrassom na avaliação do concreto, apesar de determinadas limitações (POPOVICS, 2001).
De acordo com Ekolu, Dundu e Gao (2014), determinar a correlação entre a velocidade
da onda e a resistência de modo que seja única e sirva de parâmetro para todas as demais
estruturas não é possível devido a alterações nas propriedades e variações nas proporções dos
materiais do concreto, a idade e o teor de umidade podem influenciar os resultados, assim como
afirmam Irrigaray, Pinto, Padaratz (2016), que a presença de fissuras, vazios e outras
descontinuidades na matriz cimentícia podem interferir na relação da VPU e a resistência.
Para que se realize uma adequada estimativa da resistência do concreto a partir da VPU,
deve-se estabelecer uma curva de correlação entre estes dois parâmetros, haja vista que os
fatores que afetam significativamente a resistência podem apresentar pouca influência na VPU.
A velocidade de propagação da onda ultrassônica é influenciada por diversas variáveis, como
dosagem, tipo de agregado, idade, umidade, entre outras (LIN et al., 2007).
O desenvolvimento da técnica de ultrassom busca sanar deficiências do método por
meio da utilização de ferramentas computacionais e matemáticas mais complexas. Neste
contexto, tem-se a Tomografia Ultrassônica que faz uso da VPU no concreto como uma medida
física na tentativa de representar melhor as características do elemento ensaiado (PERLIN;
PINTO, 2013).
35
3 METODOLOGIA
3.2.1 Cimento
O agregado graúdo para a produção dos corpos de prova dos grupos A e B foi obtido no
mercado local em Ilhéus-BA, especificamente pedra britada com granulometria determinada
como Brita 1. Vale ressaltar que este material tem origem a partir de uma formação rochosa
metassedimentar (ou gnaisse). No caso do grupo C, foi empregada a pedra britada de mesma
granulometria, porém advinda da cidade de Nova Viçosa/BA (distante 457 km de Ilhéus), a
qual possui origem de uma formação rochosa calcária.
(a) (b)
Fonte: Acervo da autora
3.2.4 Água
3.2.6 Aditivo
Dessa forma, partiu-se do traço da concreteira como referência, o qual apresenta uma
relação água/cimento de 0,6. Em seguida, alterou-se a relação água/cimento para que fossem
obtidas resistências diferentes, escolhendo os valores de 0,5 e 0,4, mantendo o consumo de água
e mudando o consumo de cimento de acordo com a relação água/cimento pretendida. Nos traços
desenvolvidos com adição de aditivo à mistura, a relação água/cimento (a/c) foi determinada
considerando tanto o consumo de água como a quantidade de líquido presente no aditivo, o qual
é formado por 60% de líquido e 40% de sólidos. Logo, se em um traço ocorre a adição de
100 mL de aditivo, sabe-se que 60 mL deste volume são líquidos e os 40 mL restantes são
sólidos.
Em todos os traços, foram mantidos os consumos de areia, brita 1 e sílica ativa para que
os mesmos não influenciassem as medidas de VPU. Estabeleceu-se um abatimento de 100 a
160 mm no tronco do cone (slump) com base na tabela de consistência da NBR 8953:2015
“Concreto para fins estruturais - Classificação pela massa específica, por grupos de resistência
e consistência” para concretos a serem empregados em elementos estruturais com lançamento
convencional (classe S100).
No que se refere ao aditivo superplastificante, manteve-se a proporção determinada pelo
traço referência (concreteira) de 1,10% sobre o consumo de cimento em massa para os
concretos aditivados.
Considerando todos estes aspectos, a nomenclatura utilizada para o grupo A de
densidade estimada de 2,25 g/cm³ foi:
a) A1: série de corpos de prova de concreto com relação a/c igual a 0,60;
b) A2: série de corpos de prova de concreto com relação a/c igual a 0,50;
c) A3: série de corpos de prova de concreto com relação a/c igual a 0,40.
Após esta etapa, determinou-se os traços do concreto para o grupo B. Com o auxílio do
programa EMMA Mix Analyzer, foi realizada uma estimativa da densidade do concreto como
sendo de 2,15 g/cm³. Para se alcançar esta densidade, alterou-se o consumo de água em relação
aos traços do grupo A. Por outro lado, manteve-se o consumo de areia, brita 1 e sílica ativa. Já
o consumo de cimento também foi mantido entre as séries correlatas, alterando a relação a/c.
A nomenclatura para os concretos do grupo B com densidade estimada de 2,15 g/cm³ se
dá da seguinte forma:
a) B1: série de corpos de prova de concreto com relação a/c igual a 0,75;
b) B2: série de corpos de prova de concreto com relação a/c igual a 0,63;
c) B3: série de corpos de prova de concreto com relação a/c igual a 0,50.
Os traços desenvolvidos para o grupo B estão descritos na Tabela 7. Para este grupo,
também foram produzidos 30 corpos de prova de concreto, com 10 corpos de prova por série.
Vale destacar que, por conta da alta relação a/c para estes traços, optou-se por não utilizar
aditivo.
Esta parte da pesquisa abrange desde a produção dos corpos de prova de concreto até o
final do processo de cura dos mesmos.
A primeira etapa deste processo trata-se da secagem dos agregados, na qual os agregados
miúdo e graúdo foram colocados em estufa para secar durante 24 horas a 105°C de modo a
reduzir ou mesmo eliminar o teor de umidade presente nestes insumos.
Posteriormente, realiza-se a pesagem em que os materiais necessários para a fabricação
foram pesados de acordo com o quantitativo apresentado anteriormente. Durante a pesagem,
houve a separação dos insumos por série em que seriam utilizados, armazenando-os em sacos
plásticos, sendo que a água e o aditivo foram pesados apenas no momento da concretagem.
Foram utilizadas uma balança eletrônica e uma balança de precisão 0,01g.
A Figura 9 apresenta a separação dos insumos utilizados na confecção das amostras.
Após a pesagem, foi realizada a etapa de mistura dos materiais constituintes do concreto
na betoneira com capacidade de 130 L. Foi utilizada a metodologia apresentado por Pêssoa
(2007):
1 – A betoneira foi molhada;
2 – Colocou-se a brita na betoneira com metade da água, rodando a betoneira apenas
para umedecer a brita;
3 – Acrescentou-se, nessa ordem, o cimento, a sílica (se for o caso), a areia e 40% da
água, deixando a betoneira girar por dois minutos;
4 – Se for o caso, coloca-se o aditivo juntamente com o restante da água.
Figura 11 – Slump test: (a) lançamento da mistura para execução; (b) adensamento por 25
golpes; (c) medição do abatimento.
A moldagem dos corpos de prova seguiu o procedimento estabelecido pela ABNT NBR
5738:2016 “Concreto – Procedimento para moldagem e cura dos corpos de prova”, realizando
adensamento manual com 12 golpes por camada, sendo duas camadas para este tipo de molde,
atentando-se para o rasamento da superfície com a forma. Finalizado o adensamento, as
amostras foram etiquetadas segunda a nomenclatura estabelecida para a série. A Figura 12
apresenta alguns corpos de prova moldados.
As formas, então, foram colocadas em um piso rígido, livre de qualquer ação capaz de
provocar perturbações no concreto. O concreto permaneceu na forma por 24 h. Após este
período, os corpos de prova foram cuidadosamente desenformados para que não fossem
46
causados danos às amostras. Os mesmos foram colocados em um tanque de cura úmida com
solução saturada de hidróxido de cálcio. O processo de cura está denotado na Figura 13.
Os corpos de prova produzidos foram submetidos aos ensaios para determinação dos
seguintes parâmetros: resistência mecânica à compressão axial, velocidade de pulso
ultrassônico, densidade e massa específica.
Primeiramente, os corpos de prova foram submetidos ao ensaio para determinação da
massa específica de acordo com a norma NBR 9778:2009. Os corpos de prova, após a cura
úmida por 28 dias, foram secos em estufa à 110 ± 5 °C, registrando-se a massa da amostra após
72 h com uma balança digital, sendo esta a massa seca (ms).
Posteriormente, as amostras foram colocadas em imersão em água à temperatura de 23
± 2°C pelo período de 72 h. Decorrido este período, os corpos de prova foram pesados em uma
balança hidrostática, de modo a determinar a massa da amostra imersa em água (mi).
Em seguida, as amostras tiveram sua superfície enxugada e foram pesadas,
determinando-se a massa da amostra saturada (msat). De posse destes valores, a massa específica
(μ) do material foi determinada por meio da equação (07):
47
𝑚𝑠
𝜇= (𝑔/𝑐𝑚³) (07)
𝑚𝑠 − 𝑚𝑖
em que μ é massa específica (g/cm³), ms é a massa (g) do corpo de prova após secagem em
estufa e mi é a massa (g) do corpo de prova quando imerso em água.
A Figura 14 mostra as etapas de secagem em estufa e pesagem para determinação da
massa imersa em água utilizando a balança hidrostática.
Figura 14 – (a) Secagem em estufa e (b) determinação da massa imersa em água dos corpos
de prova.
(a) (b)
Fonte: Acervo da autora.
Para determinar a densidade (ρ) dos corpos de prova, foram medidas a massa (m), o
diâmetro (d) e a altura (h) no momento anterior ao ensaio de ultrassom. Com esses dados, se
obtém a densidade por meio da equação (08):
𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑚
𝜌= = (𝑔/𝑐𝑚³) (08)
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑2
𝜋 .4 .ℎ
PUNDIT Lab Ultrassonic Testing Instrument fabricado pela Proceq ligado por meio de dois
cabos coaxiais aos dois transdutores de frequência 54 kHz. Este equipamento está mostrado na
Figura 15.
Antes da realização do ensaio, o equipamento foi calibrado com o uso de uma barra de
referência. Após a calibração, foi realizado o ensaio com o posicionamento dos transdutores na
transmissão direta, ou seja, os transdutores foram acoplados nas faces opostas do corpo de
prova, como pode ser visto na Figura 16.
NBR 5738:2016, os corpos de prova passaram pelo processo de retificação de suas faces de
modo a se obter uma superfície lisa e livre de ondulações e abaulamento.
As amostras foram ensaiadas em uma máquina de ensaios EMIC de modelo PC200CS,
exibida na Figura 17, a qual mostra a execução do ensaio de compressão axial em um corpo de
prova.
(a) (b)
Fonte: Acervo da autora.
(mediana), a dispersão dos dados por meio dos primeiro e terceiro quartis (intervalo
interquartílico), a simetria dos dados da amostra considerando os valores pontuais máximo e
mínimo, valores extremos e os outliers.
A partir desta análise, foi possível excluir os outliers presentes nos resultados de
velocidade de pulso ultrassônico, resistência mecânica a compressão axial, massa específica e
densidade. No caso das variáveis resistência, massa específica e densidade, como foram
realizadas apenas uma medida por cada corpo de prova, ao detectar outliers, a amostra
discrepante em relação às demais foi descartada.
Após a retirada dos outliers, foram determinadas as médias para as dez medidas de VPU
realizadas em cada corpo de prova, obtendo-se a VPU média. Também foram determinadas as
médias dos valores de fck, massa específica, densidade e VPU média de cada série.
A média dos dados de cada série, composta de x1, x2, x3, ..., xn, foi calculada por meio da
equação (09):
∑𝑛𝑖=1 𝑥𝑖
𝑥̅ = (09)
𝑛
∑𝑛𝑖=1(𝑥𝑖 − 𝑥̅ )2
𝑠=√ (10)
𝑛
𝑠
𝐶𝑉 = . 100 (%) (11)
𝑥̅
Wilk como teste de normalidade das séries de corpos de prova de concreto estudadas em relação
aos valores de VPU média, fck, massa específica e densidade a um nível de significância de 5%.
Desse modo, a hipótese nula de que os dados seguem uma distribuição normal, é aceita caso o
valor-p para cada série, determinado na aplicação do método, seja maior do que nível de
significância de 5% considerado (p > 0,05).
Realizou-se este teste de normalidade porque a distribuição normal (ou gaussiana) se
consagrou como uma das mais importantes distribuições de probabilidade na área de estatística,
haja vista que muitos fenômenos da natureza podem ser descritos segundo uma distribuição
normal (WALPOLE et al., 2009). Além disso, para os testes de comparação de médias, é
necessário que a variável estudada assuma uma distribuição normal, principalmente para
populações pequenas.
O teste de Levene foi realizado com o intuito de verificar se as amostras cumprem os
critérios para a utilização dos testes paramétricos. Neste sentido, ao aplicar este teste estatístico,
se avalia a homogeneidade de variância (homocedasticidade). A hipótese nula de igualdade de
variâncias será aceita se o valor-p do teste for maior que o nível de significância de 5%. Caso
as séries não apresentem variâncias homogêneas, a interpretação dos resultados do teste t para
comparação entre as médias se dá de forma diferente.
O teste t de Student, ou apenas teste t, é um método estatístico que pode ser utilizado na
verificação das diferenças entre as médias considerando dois grupos. Realizou-se o teste t entre
os grupos estudados de modo a determinar quais séries eram diferentes entre si. Este teste
comparativo indica se há diferença significativa entre as séries analisadas ao nível de
significância de 5%. Caso a hipótese nula seja aceita, a média de todas as séries podem ser
tomadas como iguais. Ao contrário, se a hipótese alternativa for aceita, indica que as médias
entre os grupos são diferentes.
Após o tratamento estatístico dos resultados, os dados coletados foram então dispostos
na forma de diagramas de dispersão, sendo traçadas duas curvas que melhor representaram os
dados analisados para cada um dos grupos A e B. Sabendo-se que existe uma relação de
causalidade entre a VPU e a resistência mecânica à compressão, realizou-se uma regressão
linear embasada no entendimento que a variável independente é a VPU e a variável dependente
é fck. Foi determinada a equação da reta que associa estas variáveis, bem como o coeficiente de
determinação (r²).
De acordo com Dancey e Reidy (2005), o valor de r² aponta a qualidade do ajuste linear
baseada em uma equação para fundamentar a relação entre as variáveis dependente e
52
independente. Quanto mais próximo de 1 for esse coeficiente, melhor os dados estão ajustados
à reta determinada. Dessa forma, os autores classificam o r² como mostrado na Tabela 9.
Após a definição das equações das retas que melhor se ajustam aos dados dos grupos A
e B, analisou-se o erro da equação conforme metodologia realizada por Irrigaray, Pinto e
Padaratz (2016). Esta análise também foi realizada para os concretos do grupo C em relação a
equação estabelecida para concretos do grupo A. Por meio dela, é possível estabelecer um
comparativo entre os valores observados nas amostras e os valores estimados utilizando as
equações estabelecidas para os grupos A e B.
Primeiro, foi determinado o erro absoluto a partir da diferença entre o valor estimado
pela curva e o valor observado para a resistência mecânica à compressão dos corpos de prova
produzidos, como denotado na equação (12):
em que ∆𝑖 é o erro absoluto para cada amostra, (𝑠𝑖 )𝑒𝑠𝑡 é o valor estimado com base na equação
analisada e (𝑠𝑖 )𝑜𝑏𝑠 é o valor observado para a amostra em estudo.
Posteriormente, o erro padrão de cada corpo de prova de concreto foi calculado
utilizando a equação (13):
em que ∆𝑖 é o erro absoluto para cada amostra, (𝑠𝑖 )𝑒𝑠𝑡 é o valor estimado com base na equação
analisada e (𝑠𝑖 )𝑜𝑏𝑠 é o valor observado para a amostra em estudo.
Com base nos resultados encontrados, foram realizadas as análises pertinentes
embasadas no conhecimento difundido na comunidade científica.
53
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como pode ser visto, o agregado miúdo utilizado está dentro dos limites
granulométricos impostos pela norma (zona utilizável inferior e superior). A partir da
composição granulométrica, obteve-se o módulo de finura da areia. Também foi determinada a
massa específica para este material. A Tabela 10 apresenta os resultados encontrados.
Considerando o módulo de finura deste agregado miúdo pode-se afirmar que o mesmo
é uma areia muito fina.
O agregado graúdo também foi caracterizado em relação a sua composição
granulométrica. Para a confecção das séries de corpos de prova de concreto dos grupos A e B,
foi utilizado o agregado graúdo caracterizado pela curva granulométrica exposta na Figura 19.
Para este agregado, também foram determinadas algumas propriedades, como mostra a
Tabela 12. Percebe-se que, para os dois tipos de agregado graúdo utilizados neste estudo,
considerando a dimensão máxima denotada nas Tabelas 11 e 12, pode-se classificar estes
materiais como pedra britada n°1.
56
(a)
57
(b)
(c)
Fonte: Dados da pesquisa.
A partir da curva teórica mais similar com a curva do traço, determinou-se a densidade
de empacotamento do traço como sendo 0,30. Essa densidade de empacotamento foi adotada
para todos os traços desenvolvidos nesta pesquisa.
A densidade de empacotamento determinada indica que este traço não foi desenvolvido
para um concreto autoadensável, pois os concretos autoadensáveis normalmente apresentam
uma densidade de empacotamento menor do que 0,25 (REBMANN, 2011). Todavia, trata-se
de um concreto com boa capacidade de escoamento, propriedade esta alcançada em concretos
com q menores que 0,30 (VANDERLEI, 2004).
58
Tabela 14 - Resumo dos resultados obtidos nos corpos de prova de concreto do grupo A
Resistência mecânica VPU Massa Slump
Densidade
Série Parâmetro à compressão axial média específica a/c obtido
(g/cm³)
(MPa) (m/s) (g/cm³) (mm)
Média 38,49 4573 2,629 2,357
Desvio
A1 2,40 33,20 0,042 0,011 0,6 130
padrão
CV 6,23% 0,73% 1,58% 0,45%
Média 43,82 4744 2,635 2,362
Desvio
A2 3,81 22,69 0,030 0,020 0,5 135
padrão
CV 8,69% 0,48% 1,12% 0,83%
Média 52,72 4818 2,657 2,364
Desvio
A3 3,90 74,29 0,024 0,019 0,4 150
padrão
CV 7,39% 1,54% 0,92% 0,78%
Legenda: CV – coeficiente de variação.
Fonte: Dados da pesquisa.
Com o intuito de produzir corpos de prova de concreto com densidade diferente das
amostras do grupo A, determinou-se uma densidade estimada de 2,15 g/cm³. Para o grupo B,
também foram adotados três valores diferentes de relação a/c de modo a se obter medidas
diversas de resistência mecânica à compressão do concreto.
De forma análoga ao grupo A, realizou-se o teste estatístico por boxplot para analisar as
medidas de VPU em cada corpo de prova, bem como dos corpos de prova fabricados em relação
à VPU média, resistência mecânica à compressão, massa específica e densidade. Também
foram descartadas amostras com resultados discrepantes, restando 7 corpos de prova de
concreto por série. A Tabela 15 traz os valores encontrados para cada amostra do grupo B.
Tabela 16 - Resumo dos resultados obtidos nos corpos de prova de concreto do grupo B
Resistência
VPU Massa Slump
mecânica à Densidade
Série Parâmetro média específica a/c obtido
compressão axial (g/cm³)
(m/s) (g/cm³) (mm)
(MPa)
Média 26,83 4623 2,667 2,434
Desvio
B1 1,99 76,19 0,026 0,019 0,75 130
padrão
CV 7,40% 1,65% 0,96% 0,76%
Média 34,54 4850 2,643 2,443
Desvio
B2 2,40 62,07 0,029 0,014 0,63 135
padrão
CV 6,93% 1,28% 1,36% 0,59%
Média 38,01 5038 2,615 2,454
Desvio
B3 1,99 41,08 0,029 0,036 0,50 150
padrão
CV 5,23% 0,82% 1,13% 1,45%
Legenda: CV – coeficiente de variação.
Fonte: Dados da pesquisa.
Assim como no grupo A, nota-se que à medida que a relação a/c diminui, ocorre um
incremento nos valores de resistência mecânica à compressão do concreto e VPU, conforme
teorias já consolidadas na comunidade científica.
No que se refere à densidade, também há uma diferença no valor estimado de 2,15 g/cm³
para as densidades médias das séries que variam de 2,434 a 2,454 g/cm³. Essa diferença é mais
significativa do que no grupo A, estando o erro relativo em torno de 11,7% a 12,4%. Essa
discrepância também deve ser decorrente do emprego de adensamento manual, da mesma forma
que para o grupo A.
62
No grupo C, foi estabelecido apenas um traço que deve apresentar densidade similar à
do grupo A de forma a permitir a verificação da curva de correlação estabelecida para concretos
com esta mesma densidade. Assim, partiu-se de uma densidade estimada de 2,25 g/cm³. Para
este grupo, também foram realizados os testes estatísticos, dando início pelo boxplot para
analisar as medidas de VPU em cada corpo de prova, bem como dos corpos de prova fabricados
em relação à VPU média, resistência mecânica à compressão, massa específica e densidade. De
acordo com os resultados dos testes estatísticos, nenhuma amostra foi descartada.
Contudo, dois corpos de prova de concreto foram desconsiderados porque a superfície
com rugosidades, não se mostrando adequada para o ensaio de VPU por conta de falhas no
adensamento. Dessa forma, para este grupo tem-se apenas três corpos de prova de concreto. A
Tabela 17 denota os valores encontrados para cada amostra do grupo C.
As médias das diferentes séries de corpos de prova de concreto estão descritas na Tabela
18 para uma melhor visualização dos dados em conjunto.
Também se faz importante realizar o teste de comparação das médias por meio do teste
t de Student com o intuito de avaliar a variação dos parâmetros estudados entre os diferentes
grupos. À vista disso, foram elaboradas quatro tabelas comparando as diferentes séries em
relação às propriedades avaliadas, sendo elas, velocidade do pulso ultrassônico, resistência
mecânica à compressão do concreto, massa específica e densidade. Assim, as Tabelas 19 a 22
trazem os resultados do teste t, indicando se há ou não diferença significativa entre as séries
estudadas segundo a legenda adotada.
Tabela 19 – Resultado do teste t de Student na avaliação das médias das séries de corpos de
prova em relação à velocidade de pulso ultrassônico
Séries A2 A3 B1 B2 B3 C1
A1 ● ● □ ● ● ●
A2 ● ● ● ● ●
A3 ● □ ● ●
B1 ● ● ●
B2 ● ●
B3 ●
Legenda: □ – não há diferença significativa; ● – há diferença significativa.
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 20 – Resultado do teste t de Student na avaliação das médias das séries de corpos de
prova em relação à resistência mecânica à compressão
Séries A2 A3 B1 B2 B3 C1
A1 ● ● ● ● □ ●
A2 ● ● ● ● ●
A3 ● ● ● ●
B1 ● ● □
B2 ● ●
B3 ●
Legenda: □ – não há diferença significativa; ● – há diferença significativa.
Fonte: Dados da pesquisa.
64
Tabela 21 – Resultado do teste t de Student na avaliação das médias das séries de corpos de
prova em relação à densidade
Séries A2 A3 B1 B2 B3 C1
A1 □ □ ● ● ● □
A2 □ ● ● ● □
A3 ● ● ● □
B1 □ □ ●
B2 □ ●
B3 ●
Legenda: □ – não há diferença significativa; ● – há diferença significativa.
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 22 – Resultado do teste t de Student na avaliação das médias das séries de corpos de
prova em relação à massa específica
Séries A2 A3 B1 B2 B3 C1
A1 □ □ □ □ □ □
A2 □ □ □ □ □
A3 □ □ □ □
B1 □ □ □
B2 □ □
B3 □
Legenda: □ – não há diferença significativa; ● – há diferença significativa.
Fonte: Dados da pesquisa.
De acordo com a Tabela 18, não se pode relacionar as medidas de VPU média com a
relação a/c das séries produzidas se considerar todo o conjunto de dados. Observa-se que o traço
A2 apresenta a mesma relação a/c da série B3. Contudo, há uma diferença significativa nos
valores de VPU e resistência mecânica à compressão dessas séries, conforme mostram as
Tabelas 19 e 20.
Além disso, concretos com baixa relação a/c apresentam valores mais altos de VPU, já
que apresentam um volume maior de sólidos (agregados e cimento). A depender, estes
concretos também apresentarão um maior teor de agregado que, por possuir uma VPU maior
que a pasta, irá aumentar a VPU do concreto. Nas primeiras idades, a influência da relação a/c
não se mostra muito forte por conta da quantidade significativa de poros nesse período
(PANZERA et al., 2011).
Dessa forma, era esperado que a VPU dos concretos do grupo A, que apresentam
menores valores de relação a/c, fossem maiores do que os concretos do grupo B. Contudo, o
65
que se observa é a situação contrária, pois os concretos do grupo B apresentam maiores valores
de VPU média, variando de 4624 a 5038 m/s, enquanto que para o grupo A, a variação da VPU
média é de 4573 a 4819 m/s. Este comportamento provavelmente advém da diferença na
densidade das amostras destes dois grupos. À vista disso, os resultados encontrados indicam
que quanto maior for a densidade, maiores serão os valores de VPU. Todavia, ao considerar os
resultados dentro de cada grupo, a proporcionalidade direta entre a VPU e a relação a/c se
mantém.
Ao se analisar os valores de fck (Tabela 20), percebe-se que quanto maior a relação a/c,
menor a resistência mecânica à compressão do concreto. Isto é verdade para as séries dos grupos
A e B, porém no grupo C, ainda que o traço C1 apresente um baixo valor de relação a/c de 0,45,
o valor de fck foi o menor entre todas as séries. Além disso, ao comparar a resistência mecânica
à compressão da série C1 com a série B1, não há diferença significativa, porém no que tange à
VPU, são significativamente diferentes entre si. O traço C1 foi determinado com um baixo
consumo de água, o que diminuiu significativamente a trabalhabilidade do traço, dificultando
o adensamento apesar do uso de aditivo. Ademais, nas primeiras horas após a concretagem, foi
observado o fenômeno da exsudação nestes corpos de prova.
A exsudação provoca um acúmulo de água na superfície do corpo de prova após o
adensamento. Como consequência, o topo do corpo de prova normalmente apresenta uma
camada de nata porosa e frágil. Além disso, uma parte da água fica aprisionada ao redor das
partículas de agregado e a zona de transição pasta/agregado também fica mais frágil
(NEVILLE; BROOKS, 2013). Assim, a exsudação observada pode ter contribuído para uma
resistência menor. Vale destacar que o agregado graúdo utilizado pode ter uma resistência
menor do que nos grupos A e B.
Nesse contexto, Lin et al. (2007) afirmam que o tipo e teor de agregado graúdo
representa um aspecto importante na relação entre a fck e a VPU no concreto endurecido, haja
vista que, para o mesmo consumo de agregado graúdo na mistura, tanto a VPU quanto a
resistência no concreto são proporcionais a densidade. Acrescentam ainda que, para o mesmo
teor de agregado graúdo, a densidade da argamassa aumenta quanto menor for a relação
água/cimento, ocorrendo o mesmo com a resistência e a VPU. Logo, mantendo-se o consumo
de agregado graúdo, pode-se determinar melhor a relação fck x VPU.
Em concordância com os resultados mostrados nas Tabelas 19 e 20, podem ser
realizadas algumas observações sobre a relação entre a VPU e a resistência mecânica à
compressão do concreto. Nota-se que entre as séries A1 e B3 apresentam valores de VPU
estatisticamente diferentes apesar de apresentarem resistência mecânica à compressão do
66
concreto semelhante, o mesmo ocorre entre as séries B1 e C1. De modo análogo, nota-se
também que entre as séries A1 e B1 e as séries A3 e B2 não há diferença significativa nos
valores de VPU. Considerando que os resultados para a VPU são estatisticamente iguais,
esperava-se que os valores de resistência mecânica à compressão do concreto também fossem
semelhantes, porém isto não acontece. Estes resultados indicam que alguma propriedade destes
concretos promove essa diferença no fck mesmo frente a valores similares de velocidade de
pulso ultrassônico.
Corroborando com esta análise, as características do concreto (porosidade, idade,
constituintes e cura) são fortemente relacionadas à resistência mecânica à compressão do
concreto, assim como à velocidade do pulso ultrassônico, uma vez que estas características
alteram a estrutura interna do material. Porém, estabelecer uma correlação entre essas
propriedades não se mostra tarefa fácil, pois concretos de resistência similar podem apresentar
valores de VPU diferentes (LORENZI et al., 2011).
Diante dos dados encontrados, é provável que a propriedade em questão é a densidade,
já que os pares de séries A1 e B3, B1 e C1, A1 e B1 e A3 e B2 diferem entre si em relação a
esta propriedade. Os traços A1, A2, A3 e C1 apresentam uma densidade menor e
estatisticamente diferentes da densidade de B1, B2 e B3.
Segundo a análise mostrada na Tabela 21, foi percebido que existe uma congruência nos
valores de densidade entre determinadas séries. Observa-se que não há diferença significativa
entre as densidades das séries A1, A2, A3 e C1. De modo análogo, entre os traços B1, B2 e B3
também não há diferença significativa. Então, os grupos A e C em relação ao grupo B diferem
entre si devido a densidade. Essa diferença entre os grupos pode ser atribuída ao consumo de
água, pois foram mantidos os consumos dos outros constituintes dos concretos produzidos.
Destaca-se também que na produção dos concretos dos grupos A e C, foi utilizado aditivo
superplastificante, o qual pode ter contribuído para esta diferença de densidade.
O grupo B apresenta uma densidade maior, assim como a VPU. Tal resultado está de
acordo com os estudos realizados por Salman (2017) que analisou a relação entre densidade e
VPU para concretos autoadensáveis reforçados com fibras de carbono. O autor constatou que
quanto maior a densidade do concreto, maior será a VPU medida.
Entretanto, o grupo B apresenta menores valores de resistência mecânica à compressão
em comparação ao grupo A. Esta observação diverge dos resultados encontrados por Iffat
(2015) ao analisar a influência da densidade nas propriedades mecânicas do concreto. O
estudioso avaliou concretos produzidos com diferentes tipos de agregado graúdo, pedra britada
67
e tijolo triturado. Os valores obtidos apontam que concretos de maior densidade apresentam
maior resistência.
À vista disso, era esperado que os concretos do grupo A de maior fck apresentassem uma
maior densidade do que as amostras do grupo B, o que não ocorreu. Isto pode ser consequência
da utilização de aditivo plastificante no grupo A na produção dos corpos de prova, já que o
aditivo pode afetar a densidade por promover um índice de vazios maior. Entretanto, a
resistência mecânica à compressão não diminui porque os vazios formados são de menor
tamanho e uniformemente distribuídos (RASA; KETABCHI; AFSHAR, 2009; MEHTA,
MONTEIRO, 2014)
Ressalta-se ainda que todos os traços desenvolvidos apresentam massa específica
estatisticamente iguais, como mostra a Tabela 22, indicando que esta propriedade não
influenciou nos resultados obtidos, uma vez que foi mantida para todas as séries.
Como pode-se constatar, não é possível estabelecer uma curva de correlação abrangendo
todos os dados das amostras dos grupos A e B. Ainda que estes grupos apresentem o mesmo
teor de agregado graúdo, fator este que seria preponderante no desenvolvimento de curvas de
correlação de acordo com Lin et al. (2007), não se mostrou adequado determinar uma mesma
curva que abrangesse as amostras destes dois grupos. Dessa forma, foram determinadas duas
curvas de correlação, haja vista que as séries de corpos de prova de concreto produzidos nesta
pesquisa foram agrupadas nos grupos A e B que se diferem pela densidade.
Para o grupo A com densidade média de 2,361 g/cm³, foi estabelecida uma curva de
correlação velocidade de pulso ultrassônico x resistência mecânica à compressão do concreto,
determinada a partir da regressão linear dos dados encontrados, conforme indicado na Figura
23. Para esta curva, obteve-se um r² de 0,75.
Como pode-se notar, as retas estabelecidas para os dois grupos apresentam diferenças
principalmente nas equações. Para o grupo A, tem-se a reta que melhor se ajusta aos dados está
expressa na equação (14):
Figura 25 – Equações da reta para estimativa da VPU dos concretos dos grupos A e B
sendo produzidos 35 corpos de prova divididos em sete séries. Para os concretos com fibras de
aço, o valor de r² foi de 0,67, enquanto que para os concretos com fibras de polipropileno, o r²
foi de 0,87 e, para os concretos sem adição de fibras, o r² foi de 0,84. Os autores constataram
que pode ser realizada uma estimativa adequada da resistência mecânica à compressão dos
concretos estudados a partir da curva de correlação.
Tabela 23 – Erros das equações estabelecidas com base nas equações das curvas de correlação
𝑓𝑐(2,36) = 0,0513𝑉 − 196,93 𝑓𝑐(2,44) = 0,0246𝑉 − 85,71
Grupo
Equação (14) Equação (15)
Erro absoluto 0,12 a 6,09 MPa 8,88 a 23,90 MPa
A
Erro padrão médio 6,48% 32,23%
Erro absoluto 5,66 a 27,95 MPa 0,34 a 5,44 MPa
B
Erro padrão médio 54,61% 6,87%
Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 26 – Comparativo dos valores estimados e observados para (a) grupo A e (b) grupo B
(a)
(b)
Fonte: Dados da pesquisa.
densidade podem ter sua resistência estimada a partir de curvas de correlação estabelecidas para
esta densidade.
Dessa forma, a Tabela 24 traz os valores de erro absoluto e erro padrão ao aplicar a
equação (14) no conjunto de amostras da série C1 com densidade média de 2,34 g/cm³.
De acordo com a Tabela 24, o erro absoluto ficou em torno de 1,50 MPa ao passo que o
erro padrão médio foi de 7,64%. Estes resultados apontam que a equação (14) determinada para
a estimativa da resistência mecânica à compressão para concretos com densidade igual a 2,361
g/cm³ pode ser empregada em concretos com densidade estatisticamente similar desde que uma
diferença de 7,64% no valor de MPa não traga prejuízos estruturais. A Figura 27 apresenta um
gráfico VPU x fck com os valores observados de resistência mecânica à compressão do concreto
e os valores calculados pelas equações.
Considerando que o teor de agregado graúdo para todos os traços desenvolvidos neste
trabalho é de 1056 kg/m³, foi verificado os erros absoluto e padrão médio oriundos da aplicação
dos dados de VPU no grupo C. A Tabela 25 apresenta estes valores.
Tabela 25 – Valores médios de erro absoluto e erro padrão para os grupos A, B e C com base
nas equações desenvolvidas por Lin et al. (2007).
𝑓𝑐(1000) = 0,00106 × 𝑒 (0,00237𝑉) 𝑓𝑐(1100) = 0,00055 × 𝑒 (0,0025𝑉)
Grupo
Equação (16) Equação (17)
Erro absoluto 32,71 MPa 29,69 MPa
A
Erro padrão 70,61% 63,68%
Erro absoluto 76,79 MPa 74,82 MPa
B
Erro padrão 222% 215,39%
Erro absoluto 5,14 MPa 2,65 MPa
C
Erro padrão 26,93% 14,48%
Fonte: Dados da pesquisa.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
apresentaram valor de r² de 0,75 e 0,74, respectivamente, indicando que estas equações podem
ser empregadas na estimativa da resistência à compressão do concreto por meio da VPU.
Além disso, as equações desenvolvidas foram verificadas em relação ao seu próprio
conjunto de dados, obtendo-se um erro padrão de 6,48% e 6,87% para concretos de densidade
2,36 g/cm³ e 2,44 g/cm³, respectivamente. Também foi estabelecido o erro padrão para
concretos de densidade 2,36 g/cm³ produzidos com um tipo diferente de agregado graúdo,
calculando-se um erro de 7,64% para este caso.
Por fim, uma metodologia de estimativa da resistência mecânica à compressão com base
na densidade do concreto foi desenvolvida, indicando que este parâmetro pode ser melhor
relacionado a VPU e fck do material. Esta metodologia facilita a estimativa da resistência à
compressão do concreto, uma vez que a determinação da densidade se dá de forma simples.
Ademais, ao se considerar a densidade do material, foi possível estabelecer curvas de correlação
entre a VPU e a resistência à compressão axial do concreto de forma mais abrangente,
minimizando a necessidade de ajuste da curva encontrada ao tipo de concreto estudado.
78
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