MMI
Nicholas Veloso (nichendrix)
Thyago Trajano
GRAVAÇÕES: DESMISTIFICANDO
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NOSSA CAPA
Podemos ter como data referência, o dia 4 de março de 1877, quando Emile
Berninder criou o primeiro microfone. Entretanto, o primeiro microfone utilizável foi
criado na mesma época por Alexander Graham Bell(que depois inventou o
telefone), que em seus laboratórios conseguiu dar um Up-Grade no instrumento.
AUTORES
Apostila criada por, Cleber Guimarães (clebergf), MMI, Nicholas Veloso (nichendrix) e
editada por Thyago Trajano.
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PREFÁCIO
A intenção da apostila não é ditar regras, dizer como se faz, mesmo porque
tem pessoas muito mais experientes e os gostos variam. A intenção é colocar o pouco
que sei, junto com o colega Cleber que faz curso e estuda o assunto, já que muita
gente tem dúvidas e faz perguntas sobre o assunto. Como muita gente gostou e
aproveitou algumas ideias, revi o texto e outros colegas vieram para acrescentar e
deixar o texto mais rico, como o Nichendrix. É bom saber de alguns detalhes quando
se grava em casa ou mesmo quando se vai para um estúdio e se pode conversar com
o pessoal da técnica. Talvez possa ajudar muita gente e mesmo orientar para mais
leituras em algum determinado interesse.
A não ser que se tenha o timbre pronto e ideal nos seus efeitos (pedais), sugiro
não gravar com efeitos. Não digo wah wah e drive, talvez delay, muitas vezes os de
modulação e quase sempre o reverb e compressão é bom deixar para a mixagem.
Apesar da compressão dar mais sustain e ajudar a um timbre bacana com menos
overdrive, além de que a compressão depois do drive ajuda no controle do drive pelo
pot de volume da guitarra sem grandes variações de nível de volume, prefiro deixar
para depois, mas com essas considerações. Não existe uma receita mágica de
compressão, o fato é que ela melhora e nivela o som, usando com moderação numa
dose ideal fica muito bom, se exagerar acaba com a dinâmica da música e não fica
legal. Só não sei dizer o que é essa dose ideal, aí entra o bom gosto de cada um e
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principalmente o bom senso. No final há uma parte mais específica e mais técnica a
respeito de compressão e ferramentas de mixagem, efeitos e masterização.
SUMÁRIO
II. ACÚSTICA
III. MIXAGEM
3.2. Equalização....................................................................................................31
3.3. Compressão...................................................................................................35
5
3.3.2. Attack..........................................................................................................36
3.4. New York Trick, New York Compression ou Compressão Paralela ...........38
ANEXO A ...................................................................................................................49
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Alguns colegas tiram sons bem legais com drive usando VST, é sempre uma
opção. Aqui no fórum, alguns tiram timbres com drive muito bons plugando a guitarra
em linha. Mas se for pensar em profissionais, no álbum 6 String Theory do Lee
Ritenour, onde foi feito um concurso (está tendo de novo) e este álbum com vários
convidados, entre eles George Benson, Joe Bonamassa, Robert Cray, BB King e o
indefectível Slash, foi incluído o equipamento que cada um fez as gravações. Taj
Mahal gravou em linha e VST, Neal Schon gravou em linha com uma GT6 com sua
Gibson Les Paul Signature, obviamente por opção por gravar assim e sem deixar a
dever no timbre. Então é bem óbvio que hoje é possível gravar em linha em excelente
nível, depende do equipamento e uma boa regulagem, mesmo se for com drive. Como
o alto-falante atua como um filtro de frequências e acaba por timbrar o som, é preciso
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algum cuidado para gravar assim, há uma tendência de ter muitos agudos e muitos
harmônicos agudos, o que o pessoal chama de "abelhas" no som, o que incomoda
bastante se não for bem cuidado, mesmo quando se coloca uma caixa com falantes
virtuais.
Quem quiser refinar suas gravações, uma ideia legal é sempre gravar um canal
em linha junto com a track principal usando um DI por exemplo, isso vai permitir
depois dobrar ou fazer um pan com outro timbre, cuidando na mixagem com o
cancelamento de fases. Neste canal extra se pode usar todas as técnicas de
gravação.
O mais comum entre a rapaziada é gravar em linha usando uma entrada Hi-Z
(instrumento, de alta impedância) de uma interface, com o pré dela e VSTs como
Guitar Rig ou Amplitube, por exemplo, com simulação de amplificador, falantes e
efeitos. Outros usam multi-efeitos, como pedaleiras Boss, Zoom, Digitech (nesses
casos, algumas já mandam o sinal por saídas USB). Mas vamos complicar um pouco
mais...
O sinal, que eventualmente foi gravado com um DI, pode ser mandado de volta
ao DI para que transforme o sinal em algo compatível ao sinal de guitarra, para entrar
num amplificador e ser gravado com outro timbre. Essa técnica se chama Reamp,
existem aparelhos desenhados para essa técnica de Reamp, como os da Radial.
Assim , a guitarra é substituída pela gravação na entrada do amplificador. É uma
técnica muito legal porque a execução fica sempre igual e apta a muitas
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experimentações, pode-se regular o timbre infinitas vezes até se achar o ponto ideal.
Essa maneira de gravar foi inventada por John Cuniberti, engenheiro de masterização
do famoso Plant Recording Studios de Sausalito, California, que bolou essa solução
durante gravações para Joe Satriani em 1993 devido a problemas nas faixas com o
baixo. Além de permitir experimentações, depois da performance original é possível
trocar efeitos, amplificação, settings, microfonações, pode-se usar amplificadores reais
em faixas sintetizadas deixando-as mais realistas. Outra coisa legal é que se pode
gravar em casa ou em qualquer lugar e depois num ambiente adequado passar num
amplificador bacana, até num estúdio, mas aí já é uma técnica mista, uma gravação
em linha e microfonada.
O primeiro passo primordial é estar soando bem. Se está muito bom o som, é
fácil qualquer microfone captar e ficar satisfatório. Precisa estar com a guitarra certa e
regulada, cordas em condições, pedais e amplificador regulado e saindo um timbre
legal. O som tem que ser legal antes de se pensar em captar, não adianta tentar fazer
mágica e querer que depois os efeitos, racks e plugins salvem seu som, não rola.
Especialmente para os sons mais graves, tem gente que gosta de tirar o
amplificador do chão, inclinar, isso tem muito a ver com acústica e reflexão de graves.
Dê uma volta pela sala e você notará "sweets spots", pode funcionar colocar o
amplificador numa região que o som soe melhor na sala, depois fica fácil dar outra
volta e achar um posicionamento bom para a microfonação. Lembre também que os
alto-falantes não soam iguais, especialmente para quem usa caixas com mais falantes
como 2x12, 4x12, aqui a chave é experimentação, mesmo porque os diferentes tipos
de microfones também não soam iguais. O posicionamento do microfone muda
bastante o timbre, tente e vá pesquisando a posição ideal. Lembre que o "sweet spot"
de um microfone não costuma ser o mesmo de outro. Geralmente um microfone mais
próximo do chão vai dar um pouco mais de graves que um mais alto.
Na hora de gravar uma guitarra com mais ganho, é muito legal que se tenha
um amplificador valvulado falando alto, com suas válvulas sendo forçadas. O problema
disso é que não são todos os microfones que aguentam a pressão sonora de um alto-
falante de guitarras, as vezes o som das válvulas saturando é tão alto que o microfone
distorce e não consegue captar bem o som maravilhoso que se quer porque ali perto
do alto-falante chega fácil a 140dB. A essa pressão sonora mesmo um condensador
pode ter seu diafragma tão empurrado que toca os limites de movimentação,
estragando o som. Além disso os falantes criam um campo magnético tão variável que
influi no microfone se ele estiver próximo. Por essa razão é que os amplificadores de
alta potência muitas vezes são preteridos em estúdios, com certeza um amplificador
de menor potência facilita o trabalho e é mais amigável para microfonação.
Vamos começar com uma introdução aos tipos de microfones mais comuns
para microfonar guitarras.
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home studio. Além disso o SM-57 pegou a fama de ser bom para amplificador de
guitarra, o que tem algo a ver com sua frequência de resposta - ele corta muitos
graves, sua curva fica plana lá pelos 200 Hz, o que reduz as "batidas" (em inglês,
"bass-boosting 'proximity effect' ") que saem do gabinetes; tem uma leve queda entre
300 e 500 Hz, que é uma região de médios que dá "peso" mas é bastante crítica e
embola fácil na mix; e tem um ganho entre 3 e 12 kHz que dá presença e brilho no
som, ressaltando harmônicos. Outros microfones dinâmicos para guitarra são o
Sennheiser MD421 (cardióide) ou E609 (supercardióide), Shure SM-58 (parecido com
o SM-57, um pouco menos de brilho), Electro Voice RE20 (cardióide), Beyer M201
(hipercardioide), eventualmente o AKG D770 (cardióide). Muitos produtores escolhem
esses microfones, o Electro Voice RE20 foi usado em gravações de Santana, Rolling
Stones, Hendrix (Electric Ladyland), gravações da Stax, Nirvana (In Utero) e Page &
Plant, por ser bem direcional, ter uma resposta bem mais flat e ser desenhado para o
efeito de proximidade. O Sennheiser MD421 costuma ser usado em combinação com
outros microfones. É fácil achar a curva de frequências desses microfones na internet,
isso dá uma noção do que se fazer se for para mexer na equalização do som na hora
da mix.
todos esses são bem caros. Existem alguns bem mais baratos e que andam
recomendando para guitarra nos sites especializados, como o Nady RSM-4 ou RSM-5
(que são mais baratos que o SM-57) ou o CAD Trion 7000. Não podem geralmente
com phantom power, sob o risco de queimar, mas tenho pouca experiência com o uso
deles.
É preciso ter paciência para acertar o som que sai do amplificador, depois um
pouco mais de paciência, se for gravar com microfone, para posicioná-los
direito. Encontrar o local ideal para colocar o microfone dinâmico é uma tarefa
interessante, pois iremos equalizar o nosso som acertando a posição do microfone
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Aqui há uma oportunidade bem legal que é gravar com 2 microfones ou mais. A
ideia é captar 2 sons bem diferentes entre si, geralmente um bem agudo e um bem
grave, mas não necessariamente precisa ser assim. Pode ser um dinâmico bem
próximo, que pega bem a presença e o ataque, focando mais agudos e um
condensador mais distante pegando mais ambiência e graves. Pode ser 2 microfones
iguais angulados próximos a 90 graus, numa técnica XY. Aqui dá para testar e ter
bastante liberdade, fica muito interessante quando se tem espaço na mix,
principalmente quando se pode jogar o pan bem separado. Conseguem-se diferentes
texturas e sonoridades num resultado que costuma ser bastante interessante, já que
um canal se pode comprimir mais, ter mais médios, noção espacial, enfim, ter
sonoridades diferentes e bem interessantes na hora de mixar, meio como quando se
usa o "New York Trick" como compressão paralela (explico isso no fim do texto). O
problema é o cancelamento de fases...
Os melhores fones e caixas são aqueles que têm a resposta o mais flat
possível, isso quer dizer que eles não devem valorizar nenhuma frequência, tratando
todas igualmente. Se por exemplo, usarmos um fone que realce os graves, para você
o som estará com uma quantidade boa de graves, mas em um fone/caixa sem essa
característica a pessoa irá sentir a falta dos graves.
Usualmente as brass traps são colocadas nos cantos ou bem próximas a ele.
Existem também formas de se tratar os médios e agudos com armadilhas especificas
para eles, essas são mais simples e baratas, pois normalmente são apenas espumas.
As marcas mais comuns são Alesis, Behringer, M-Audio, JBL, Yamaha entre
outras e os valores a partir de $80.
Outro ponto interessante é cuidar para que não ocorra o feedback, também
conhecido como microfonia.
A microfonia ocorre pela realimentação do sinal sonoro, ou seja, algo está que
está emitindo o som/ruído, capta o som que ele mesmo está emitindo e envia
novamente e assim consequentemente, para evitar a microfonia, a fonte sonora, que
no nosso caso é a guitarra, não pode estar virada para o alto-falante. Isso é ainda
mais importante em guitarras com corpo oco, como nas semi-acústicas ou archtops.
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II. ACÚSTICA
Aqui iremos falar um pouco sobre acústica, uma vez que todo o processo de
gravação se baseia no uso de interpretação de sons, sejam eles ouvidos naturais (o
ouvido da pessoa que vai fazer a timbragem e a mixagem), ou artificiais como é o caso
dos microfones. Por isso, não faz sentido gastar uma fortuna em microfones, mixers,
amplificadores, etc. se o que você ouve não reflete a qualidade do equipamento que
originou o som.
Essa reflexão e absorção pelos diversos materiais e formas que compõe uma
sala, mudam a característica do som que você ouve, pois algumas frequências são
absorvidas, outras são refletidas e reforçadas, e outras ainda são refletidas, mas são
canceladas. Assim o resultado é que o que você ouve em um determinado ambiente,
raramente é o som real do que está saindo dos alto-falantes e sim o resultado da
interação desse som com as propriedades acústicas da sala.
Quando o som é emitido por uma fonte sonora, como falantes, voz, violão, etc.
ele percorre o ambiente e bate nas paredes voltando para a fonte, essa é a
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reverberação que todo ambiente tem naturalmente, como aparece na figura abaixo. A
maioria das pessoas quando vai montar um Home Studio usa um quarto ou sala de
casa ou apartamento, esses ambientes em geral retangulares ou quadrados são
propensos a uma série de anomalias acústicas que tem que ser tratadas para que o
som do lugar fique realmente bom. Existem duas anomalias acústicas comuns
geradas em ambientes com paredes e/ou teto e piso paralelos, são eles o Flutter Echo
e as Ondas Estacionárias (Standing Waves).
O ideal seria ter uma sala já concebida para o uso como estúdio, mas como na
maioria das vezes isso não é possível, esses efeitos tem que ser minimizados por
meio de tratamento acústico do ambiente, adicionando componentes que possam
difundir ou absorver o som e que serão explicados mais a frente neste texto.
Embora não dê pra dar uma fórmula para fazer a acústica de uma sala ficar
boa e nem para que ela não incomode os vizinhos, aqui vai algumas ideias que podem
ser aplicadas em praticamente qualquer ambiente para se ter um resultado acústico
satisfatório e minimizar os problemas decorrentes da forma dos ambientes com
paredes paralelas.
Todavia uma edificação não tem só paredes, ainda existem quatro pontos de
transmissão do som para fora da edificação, que são o janelas, portas, piso e o teto,
quando se mora em casa, em geral esses elementos tendem a receber menos
atenção, pois a distância entre a janela e a casa visinha atenua bastante o som, e as
pessoas que moram com o músico tendem a ser mais compressivas com o barulho
que escapa das portas. Também há o fato de a massa da laje de piso da casa é
suficiente para impedir o som de sair, e a massa da laje de teto somada a massa do ar
formada entre a laje e o telhado, também tende a isolar bastante o som. Porém em
apartamentos esses são pontos críticos, pois mesmo fazendo o isolamento lateral, não
há isolamento do teto e do forro, o que pode não ser um problema em boa parte dos
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casos, mas pra quem toca com volumes altos, isso vira um problemão, especialmente
se você tem um SPL muito alto ou usa instrumentos que produzem vibração no piso,
como gabinetes 4x12 ou baterias e percussão, etc.
Nesses casos o ideal é usar portas duplas e janelas de vidro duplo (que não
passa de um vidro que é fabricado com duas laminas coladas e separadas por uma
camada de ar, esses recursos por si só já resolvem a maior parte dos problemas, para
quem toca em volumes realmente muito altos, pode ser necessário usar janelas e
portas corta som, que são relativamente caras, mas resolvem bem o problema.
No caso de pisos e tetos, pode-se usar pisos e tetos acústicos, que oferecem
benefícios similares ao dry-wall para essas seções da edificação. O forro acústico ou
forro mineral é montado colocando-se perfis metálicos no teto que é fechado por
placas de fibras minerais, produzindo uma atenuação média de até 38db, para
melhorar o desempenho, pode-se adicionar lã de vidro ao forro.
Para os pisos existem várias opções de pisos acústicos, cada uma com um tipo
de acabamento e eficiência acústica. Entre as opções para o piso existem os pisos
vinílicos que são compostos por uma manta feita de borracha, espuma de PVC e lã de
vidro e que depois recebem o acabamento adequado (podendo até receber o
acabamento normal), existem os pisos de cortiça que segue um princípio similar aos
pisos vinílicos, onde uma manta de cortiça emborrachada é colada sobre o piso que
recebe o acabamento em madeira por cima. Esses dois pisos apresentam uma
redução de ruídos e vibrações de aproximadamente 18 a 25db, e embora sejam os
que apresentem o melhor resultado estético, podem não apresentar o melhor
isolamento acústico em alguns casos, especialmente se você gosta de tocar com
amplificadores com volumes altos ou amplificadores de alta potência.
O tipo de piso acústico mais interessante para quem toca com volumes altos é
o piso acústico elevado que vai existir em diversas configurações, desde pisos
elevados simples, em que se tem uma estrutura metálica ou de madeira que cria um
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colchão de ar entre o piso e a laje, até versões mais eficientes com placas herméticas
com estrutura de compensado preenchidas com espuma de PVC e lã de vidro. Esses
pisos apresentam um melhor desempenho acústico para quem usa volumes muito
altos, mas não esperem milagres, eles não vão muito além de 30db nos melhores
casos. Existe ainda um outro tipo de piso elevado, que é montado sobre molas ou
elastômeros de borracha, mas são caros pra cacete, e muito difíceis de achar no
Brasil.
O primeiro passo para afinar uma sala é entender que existem três formas de
moldar o timbre que vai sair da sala, são elas: reflexão de frequências, absorção de
frequências e difusão de frequências. A reflexão é a mais fácil de entender, o som bate
na superfície e é jogado de volta pro ambiente, como em um espelho. A absorção é
simples de entender, você tem um material que prende aquela frequência e ela não é
refletida de volta para a sala, enquanto as demais frequências são refletidas
normalmente. A difusão ocorre quando uma superfície não é regular e ao bater na
superfície, o som é espalhado em diversas direções ao mesmo tempo.
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Aqui vale um conselho, não compre tudo e bote de uma vez, a menos que você
tenha um arquiteto ou engenheiro especialista no assunto para fazer o projeto, se você
não tem quem faça o projeto, então bote os Bass Traps e pare pra ouvir um pouco o
som na sala, se tiver “normal” bote a espuma de 2”, se achar que tem muito grave,
tente a de 4”. Aqui não tem mistério no posicionamento da espuma, nas paredes
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laterais tem que ser paralelo ao microfone ou ao ouvido, na parede do fundo pode ser
no centro da parede.
Uma opção de baixo custo pra quem quer fazer isso é só botar um sofá para
absorver o som e prateleiras com livros e outros objetos para fazer a difusão dele, ou
colocar uma estante daquelas maiores com livros colocados aleatoriamente tanto em
pé quanto deitados, assim você tem tanto absorção, quanto reflexão por um custo
mínimo.
Para uso residencial em gravações eu prefiro montar a sala como uma sala de
técnica e usar um iso-box, uma cabine de isolamento ou mesmo só gravar em linha e
assim ter o espaço organizado para ter o melhor desempenho em edição de som e
mixagem, fica mais barato, já que praticamente não vai precisar de isolamento sonoro
e mesmo que precise, será algo bem simples, como também é mais simples e rápido
de se fazer. Se o objetivo for um ambiente para praticar, o custo é maior, já que será
necessário um melhor isolamento sonoro, também gastaria um bom tempo brincando
com os difusores pra chegar na melhor configuração.
Para quem ficou curioso, o preço de uma sala com todos os tratamentos
descritos aqui vão ter um valor variando de 3mil a 15mil reais, dependendo das
necessidades de isolamento e tratamento da sala.
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III. MIXAGEM
Evite mixar, masterizar ou mexer nas suas trilhas com som alto. Além de fazer
mal para o ouvido, o alto volume engana os ouvidos e dá mais "cansaço auditivo". O
sujeito passa horas deixando o som perfeito, no dia seguinte quando ouve descobre
que está uma bela porcaria. O ouvido submetido a altos níveis de pressão sonora
começa a perceber menos os agudos principalmente ao redor de 4 kHz, geralmente
de caráter transitório, mas que podem virar definitivos. Muitos estúdios tem
decibelímetros, que "medem o volume", mas em home studios é possível usar a
"versão tabajara" e baixar no celular um aplicativo de medição de decibéis não muito
preciso, mas já resolve o problema - tem versões gratuitas até. Muitos produtores
recomendam mixar e masterizar com o som ao redor de 80 a 85 dB. Isso é baixo, não
aumente o volume que som alto faz muita coisa soar bem quando não devia. Se soa
bem baixo é porque alto vai soar melhor ainda. Faça pausas, descanse seus ouvidos,
esse não é um trabalho para poucos minutos. (ver Anexo A)
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Quando for gravar em casa, evite gravar com níveis altos, a "luzinha" do seu
DAW não pode bater em 0 ou acender o clip em hipótese nenhuma para uma boa
gravação. Clipping digital (distorção) é horrível. Na sua interface, tem um parâmetro de
sample rate, seria quantas "fotos" seu computador tira da onda sonora por segundo. O
sample rate de 44.1 kHz está de bom tamanho, são poucos aparelhos (DVD ou Blu-
Ray) que suportam mais que isso, mas o ouvido humano, teoricamente, consegue
perceber no máximo algo menor que a metade disso. Gravar com maior taxa para
depois reduzir não é uma boa ideia, pode estragar seu som, além de ocupar mais
espaço de memória e mais processamento de seu computador. A quantidade de bits
já faz diferença, isso dá a margem de quantos passos de volumes diferentes seu DAW
vai gravar, por isso é legal que se grave com um parâmetro alto aqui, se der, vai de 24
bits. Isso significa que terão 224 volumes diferentes, uma dinâmica bem alta (mais de
16 milhões de níveis de volume). Lembrem que um CD tem 16 bits de "dynamic
range". Com o parâmetro acertado em 24 bits, dá para gravar com o VU (a "luzinha")
batendo em -12 dB que ainda teremos 22 bits sobrando para faixa dinâmica, ou seja,
4.194.304 volumes diferentes, que já está muito bom e bem longe da possibilidade de
clipar. Depois de gravado sem nenhum clip, você pode juntar suas faixas, mixar, botar
um compressor e um limiter fazendo até bater no 0 dB do seu "VU meter" sem
problemas se quiser, aproveitando toda faixa dinâmica. Não haverá problemas em
passar para um CD ou MP3 com faixa dinâmica menor. E sempre fuja de clipar seu
som, preste atenção ao adicionar plugins de efeitos, sempre podem dar um aumento
no volume e clipar, até mesmo jogar para um dos lados do pan.
3.2. Equalização
sempre tem esses equalizadores VST e para isso tem algumas dicas. O legal é que
nos equalizadores das DAW tem algumas versões combinadas, que o paramétrico tem
a visualização gráfica também o que facilita bastante até que se acostume. Os
equalizadores paramétricos são preferidos nos estúdios e por profissionais não por
acaso. A grande vantagem do paramétrico é o "Q", uma vez escolhida uma frequência
e o aumento ou redução de ganho, o Q regula quanto das frequências vizinhas serão
afetadas. Um Q de 1 é o meio da regulagem, então entre 0,9 a 1,4 é um Q médio.
Abaixo disso se considera que está abrangendo uma faixa larga de frequências e
acima de 2 é um ajuste bem estreito, quanto mais alto, mais se pega uma só
frequência.
Lembre que o ouvido humano tem uma sensibilidade especial nos sons
médios, em especial entre 500 e 2 kHz. Portanto essa faixa de frequências é a mais
importante numa música, mexer um pouco nessa faixa é bastante notável e o segredo
reside aí. É bom que se tenha uma tabela de frequências dos instrumentos para
referência. Nisso vai se basear muito da mixagem e da masterização. Quando a
música é cantada, a voz precisa ser um ponto chave, então a voz precisa ter espaço
nas frequências, sendo que o principal fica ao redor de 300 Hz a 3 kHz, muito próximo
da faixa principal da audição. Não por coincidência, essa é a largura da faixa de
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Corte um pouco do ganho (até 6 dB) em 3 kHz e Q médio para não competir
com a voz, junto com o cenro da frequência da voz também. O pessoal de estúdio
gosta de falar em "adicionar brilho", aumente em 5 kHz 1 a 2 dB com Q=1,4 mais ou
menos. Se tiver uns médios meio rachados e irritantes, retire um pouco próximo de
800 a 900 Hz com Q médio. Retire uns 3 dB acima de 8 kHz para tirar um pouco do
ataque de palheta.
Uma faixa importante da guitarra é a que fica em 500 Hz. Preste atenção nela,
junto com médios de 200 a 400 Hz. De 800 a 1 kHz fica o ataque. Na dúvida, se
estiver com um equalizador paramétrico, exagere no ganho (para cima ou para baixo)
e com um Q pequeno vá procurando o que sobra e o que falta no controle de
frequências, depois de achada a frequência é só acertar o ganho e o Q. Se o problema
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for em uma nota estourando (geralmente é uma grave que trasteja ou embola),
procure na net uma tabela de frequências de notas musicais, daí é só colocar o
equalizador paramétrico naquela nota e acertar. De toda forma, lembre que o
importante do som fundamental da guitarra vai de E2 (82 Hz) a D6 (1,2 kHz), sendo
que os harmônicos de 1,5 a 5 kHz, eles que dão brilho e aí que excede quando se
grava em linha. Se o problema for que está embolando com o baixo, é comum que o
problema esteja entre 270 (ou um pouco menos) e 300 Hz, essa é uma faixa crítica, o
"peso" está por aí, não pode sobrar que embola, não pode faltar que fica sem peso.
Aqui vale uma ressalva, pense se o baixo vai ficar acima ou abaixo do bumbo.
Geralmente em pop o baixo fica acima, em rock costuma ficar abaixo. De qualquer
forma, comece dando ganho, 3 a 6 dB, ao redor de 70 Hz, Q médio, é aí que dá o
"punch" deles. De um corte lá pelos 400 Hz para não competir com guitarras, violões e
instrumentações, melhora o som deles também. Um ganho mínimo, 1 a 1,5 dB lá para
4 kHz aumenta os harmônicos deles e fica mais distinguível em falantes ruins e
headfones.
Aumente em uns 100 Hz, 3 dB com Q 1,4 mais ou menos. Lá para 1,5 a 2 kHz
diminua para não competir com a voz. Um ganho entre 7 e 8 kHz aumenta o som da
esteira.
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3.2.5. Piano
Lembre que na mixagem e na masterização (até onde se pode chegar com isso
em casa) é importante ser um pouco agressivo. Porém tem limites. Para mim se a
equalização precisar passar de 9 a 12 dB para cima ou para baixo é porque tem coisa
errada na captação. Chegando nesse limite já vale considerar se não teve algo errado
na gravação e se não vale a pena fazer de novo.
3.3. Compressão
3.3.1. Threshold
Esse é o limite máximo de volume que você aceita, acima disso o compressor
começa a atuar. Quando mais para cima, mais próximo do 0 dB, menos seu
compressor vai atuar.
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3.3.2. Attack
Uma vez que o som passa o limite do threshold, esse parâmetro vai regular
quanto tempo vai demorar para o compressor entrar em ação e baixar o volume.
3.3.3. Release
3.3.4. Ratio
3.3.5. Knee
knee é mais arredondado. Um hard knee é menos notado quando se usa altas taxas
de compressão (ratio).
Para fazer seu acerto, é necessário ter atenção aos seguintes fatos. Attack e
release muito rápidos vai distorcer sons graves, quando o compressor mudar o ganho
dentro do período da nota fundamental (no ciclo completo de subida e descida da
onda). Release muito longo também distorce o som. Alguns plugins são capazes de
dar um ajuste automático mais próximo do imperceptível, especialmente com ratios
muito grandes. O attack afeta a percepção de brilho e sons de alta frequência. Se usar
um attack muito rápido a música vai perder ganho de forma geral e o pico incial da
nota (transiente
ansiente da nota) vai ser modificado e acaba incomodando. É preciso acertar o
attack para não perder os transientes, mas um attack muito lento não dá a
compressão sonora adequada, ficando ineficiente.
Para uma compressão bem simples, geralmente começo com attack e release
lentos e ratio ao redor de 4:1, mas isso pode mudar bastante, mesmo porque no fim
geralmente gosto de dar uma comprimidinha (bem leve) mais seletiva com um multi-
multi
compressor (ou paralelo), de frequências mais seletivas, junto com um "stereo
"stere spread"
na master. Para timbres limpos acho legal colocar o equalizador depois da
compressão, mas para timbres bem suaves, equalize antes de comprimir. O noise
gate, quando for usar, sempre antes do compressor, reverb e delay. Especialmente
para timbres limpos de strato, tente um leve exciter depois da compressão e para isso,
é legal que se grave em linha para aumentar os agudos e harmônicos de alta
frequência (tente com e sem speaker simulator) - é assim que se tira um "glassy tone"
bem legal, de preferência
ncia com um Twin microfonado com um Ribbon (pode ser
simulado), se precisar adicionando no equalizador um pouco ao redor de 4 kHz e
tirando agudos em 10 a 12 kHz, claro que depende da guitarra também.
deles. Depois um compressor de attack mais lento e release médio, ratio pequeno
para dar uma acertada nas notas, depois dos transientes. Talvez depois ainda um
último compressor de attack e release lentos e threshold mais baixo para dar uma
"normalizada" geral, cuidando dos graves para não estragar e cuidando também que
este diminui o volume geral. No fim, um limiter em -0,1 dB e attack rápido para segurar
os picos e não estourar de forma nenhuma. Essa série toda, que pode ser feita a gosto
do freguês, é legal de usar direto ou em compressão paralela.
É muito usado para bateria e baixo principalmente, mas nada impede que seja
usado nas guitarras e também não precisa se limitar a compressão, mas vou falar de
compressão basicamente porque os outros efeitos seguem a mesma linha de
raciocínio. A idéia é manter uma faixa dinâmica satisfatória, com um ataque e
transientes bons, mas com o som comprimido e dentro de uma faixa que interesse. O
mais básico é dobrar o áudio, onde uma faixa fica "crua" e a outra, de volume um
pouco mais baixo, bastante comprimida. Isso mantém a faixa dinâmica, o ataque e não
deixa a faixa tão "achatada", subindo o volume médio. É o que faz qualquer
compressor que tenha controle dry/wet, mas é legal usar até para umas técnicas um
pouco mais complexas.
3.5. Reverb
sofisticadas. Também não existe uma quantidade de reverb padrão, cada música é
uma quantidade.
Quando se usa microfones para captar o som, na maioria das vezes entra
alguma ambiência junto, nem que seja mínima. Para gravar em casa não acho legal
usar um microfone específico de ambiência, mesmo porque a maioria não tem um
ambiente tratado acusticamente, mas nada impede as famosas gravações dentro do
banheiro ou cozinha, ou mesmo posicionar um microfone condensador a 40-50 cm de
um amplificador de guitarra - Alan Parsons, que gravou The Dark Side of the Moon do
Pink Floyd e Beatles entre outros, não gosta de microfones dinâmicos, só usa
geralmente 1condensador, e diz que essa é a distância mínima de microfonar um
amplificador com um condensador, mesmo ao vivo.
O reverb tem muita relação com o pan dos instrumentos. Ele dá uma sensação
de profundidade, então quanto mais reverb, mais se tem a sensação que o som vem
de trás, então ele dá a noção de 3 dimensões do som, a profundidade. Pense num
palco, o vocalista ou o solista (quando o som é instrumental), este assume a parte
mais da frente do palco, então o som é "na cara", o mínimo de reverb, talvez nenhum
(no centro costuma ficar a voz, o baixo de rock, o bumbo e a caixa). Entre o centro e a
lateral, geralmente fica o guitarrista e o tecladista, vai um reverb moderado. Quanto
mais para o lado, mais reverb ganha.
Músicas rápidas, com o metrônomo bem alto, não aceita muito reverb, diria que
quase nada,porque ele afeta a clareza das notas. Músicas lentas podem levar um
reverb maior. De qualquer forma, acho que se deve sempre tentar algum reverb, mas
nisso é preciso ser conservador e pegar bem leve.
canais uma mesma fonte. Há risco maior disso quando se grava amplificador ou violão
com 2 microfones, quando se grava violão com linha e microfone e quando se faz
efeitos estéreo, por exemplo. Para se verificar isso existem vários plugins, não é difícil
achar. Procure um "Goniometer" ou "Audio Vector Scope". A imagem é mais ou menos
assim:
Ele mostra como está sua mix em relação ao stereo/mono (no caso ilustrado
neste momento a mix está mais para esquerda, porque está mais forte na linha L). A
linha de baixo é o "medidor de fase", onde 0 significa que os dois lados são
completamente diferentes, o +1 significa que os sinais são idênticos e em fase
(correlação total), o -1
1 significa que
que os dois canais são iguais, com fases invertidas,
cancelando. Isso significa que sua mix precisa estar na parte positiva, entre o e +1,
onde não há problemas de cancelamento. Entrou no vermelho, negativo, tem
problema e precisa ser corrigido.
Evite colocar
ar frequências iguais no mesmo pan da música, desloque um pouco
a posição na mix. Eu gosto de acrescentar um "stereo spread" nas músicas, para dar
uma noção de maior espacialidade.
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Existem vários tipos, modelos e marcas de captadores para violão. Aqui tudo
faz diferença, na qualidade do violão e na forma que é captado.
violão tiver pré, geralmente vai numa entrada de baixa impedância, mas nos modelos
que não tem bateria, costumam ser de alta impedância.
Meus melhores resultados num som plugado são quando uso modeladores
eletrônicos com o piezo. O destaque desse tipo vai para o Fishman Aura, que tem
vários tipos, pedal grande e pequeno, embutido no violão e o Boss AD-8. Ambos tem
equalizador, afinador e anti-feedback. Eles tratam o som plugado do violão simulando
o som dele como se fosse microfonado.
Outros efeitos podem ser usados para tirar o som "fechado" do piezo e dar o
som como se fosse o natural, desplugado, de um violão. Quem não tem um pedal
como o Fishman e nenhum outro similar, pode tentar com o equalizador. Não sei quais
plugins permitem fazer isso também, mas no Logic Pro tem um equalizador que
quebra um galho para isso. É uma dica de equalização para quem tem dificuldade de
acertar uma equalização, apesar de ser específica. No Logic Pro tem um equalizador
chamado Match EQ. Nesse equalizador muito interessante você analisa uma faixa
referência, pode ser um timbre de seu artista referência ou seu som de violão
microfonado (pode ser uma microfonação meia boca). Apertando um botão, o primeiro,
ele analisa o espectro de som da sua track referência. Apertando um segundo botão,
ele analisa o som que você quer que se aproxime daquele primeiro, pode ser seu som
plugado do seu violão elétrico. Finalmente ao apertar um terceiro botão ele dá uma
equalização para seu timbre ficar parecido com a referência. Isso serve para tentar
aproximar seu timbre em relação a um timbre de um músico famoso, vá lá, talvez a
rapaziada possa gostar da ideia mesmo para guitarra. Mas o que é muito legal disso é
na hora de gravar um violão, faz referência com o som microfonado e usa sobre o
piezo para aproximar do som microfonado. Funciona razoavelmente, li na net sobre
isso, depois testei e vi que ajuda sim.
Algum reverb da sua sala captado pelo microfone é até desejável. Muitos
técnicos de estúdios gostam de colocar biombos para que o instrumento fique próximo
de superfícies reflexivas - ás vezes até um porta pode ajudar – deixando o espaço
bem compacto para reverberar.
A regra geral é quanto mais para o bocal, mais graves, e quanto mais para o
braço, mais brilho. Em estúdios um microfone com padrão omnidirecional pode ficar
melhor, mas em quartos pequenos e com a acústica mais limitada (como a maioria
dos home studios), um microfone de padrão cardióide pode resolver melhor o assunto.
Um posicionamento um pouco mais afastado ajuda na captação geral do som, já que
muito próximo pode ocorrer de captar só uma parte da acústica do instrumento,
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especialmente se for próximo do bocal, onde há mais energia sonora. Como gosto de
violões de bom corpo, com boa projeção, o posicionamento frontal a boca do violão
não costuma me agradar muito. Para violões, costumo começar posicionando o
microfone na altura do 12° traste, com alguma incli nação em direção ao bocal. Já
quando microfono guitarra archtop, posiciono próximo da ponte com inclinação para a
região do ataque das cordas, já que os “f holes” são laterais e não direcionam tanta
energia sonora direta ao microfone, captando bastante grave e pouco brilho das
cordas flatwound. Mas isso é gosto, cada um deve testar e achar o posicionamento
ideal.
condensadores de cápsula pequena, num ângulo como 120 graus e quanto mais
próximas as duas cápsulas, menor a chance de cancelamento de fase (diria até que é
praticamente à prova de problemas de fase).
Posicionamento em XY
ANEXO A