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Cleber Guimarães (clebergf)

MMI
Nicholas Veloso (nichendrix)
Thyago Trajano

GRAVAÇÕES: DESMISTIFICANDO
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NOSSA CAPA

Objeto indispensável, em qualquer profissão, o Microfone, que converte


vibrações na gama audível (20Hz-20kHz), seja no ar, água ou num material sólido,
numa forma de onda elétrica(que é o caso). Sendo utilizado para simples captação, ou
para amplificação, o Microfone está sempre presente em nosso cotidiano, no celular,
no elevador ou nas cameras de segurança.

Podemos ter como data referência, o dia 4 de março de 1877, quando Emile
Berninder criou o primeiro microfone. Entretanto, o primeiro microfone utilizável foi
criado na mesma época por Alexander Graham Bell(que depois inventou o
telefone), que em seus laboratórios conseguiu dar um Up-Grade no instrumento.

A criação e desenvolvimento do microfone foram importantíssimos para o


surgimento de outras invenções, como o rádio e a televisão. Além disso, a invenção foi
intensamente aplicada e necessária nas guerras e combates de qualquer fim, para
emitir mensagens. Alguns críticos acreditam que sem o microfone, não existiria a
popularização de bandas musicais, e muito menos a ocorrência de shows e palestras.

AUTORES

Apostila criada por, Cleber Guimarães (clebergf), MMI, Nicholas Veloso (nichendrix) e
editada por Thyago Trajano.
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PREFÁCIO

A intenção da apostila não é ditar regras, dizer como se faz, mesmo porque
tem pessoas muito mais experientes e os gostos variam. A intenção é colocar o pouco
que sei, junto com o colega Cleber que faz curso e estuda o assunto, já que muita
gente tem dúvidas e faz perguntas sobre o assunto. Como muita gente gostou e
aproveitou algumas ideias, revi o texto e outros colegas vieram para acrescentar e
deixar o texto mais rico, como o Nichendrix. É bom saber de alguns detalhes quando
se grava em casa ou mesmo quando se vai para um estúdio e se pode conversar com
o pessoal da técnica. Talvez possa ajudar muita gente e mesmo orientar para mais
leituras em algum determinado interesse.

Em guitarra, a diversidade de tipos, modelos e sons, o músico e o amplificador


fazem muita diferença, ao se acrescentar as técnicas de gravações vira uma
diversidade tão grande e interessante que tudo isso vira uma das grandes atrações do
instrumento e tema de discussões intermináveis para se chegar no "timbre ideal". Para
começar a gravar, comece checando a regulagem de sua guitarra, a afinação, se as
cordas estão novas, e mãos à obra!

É bom que se tenha atenção ao local onde se grava, falando especialmente


para quem grava em casa. O computador gera ruídos e isso pode atrapalhar. Não só o
ruído da ventoinha, quando se vai microfonar, como da interferência gerada por
transformadores e monitores, mais acentuado quando se usa captadores single. As
vezes um notebook é vantajoso por ser portátil e poder levar para mais longe na hora
da gravação, além de reduzir ruídos.

A não ser que se tenha o timbre pronto e ideal nos seus efeitos (pedais), sugiro
não gravar com efeitos. Não digo wah wah e drive, talvez delay, muitas vezes os de
modulação e quase sempre o reverb e compressão é bom deixar para a mixagem.
Apesar da compressão dar mais sustain e ajudar a um timbre bacana com menos
overdrive, além de que a compressão depois do drive ajuda no controle do drive pelo
pot de volume da guitarra sem grandes variações de nível de volume, prefiro deixar
para depois, mas com essas considerações. Não existe uma receita mágica de
compressão, o fato é que ela melhora e nivela o som, usando com moderação numa
dose ideal fica muito bom, se exagerar acaba com a dinâmica da música e não fica
legal. Só não sei dizer o que é essa dose ideal, aí entra o bom gosto de cada um e
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principalmente o bom senso. No final há uma parte mais específica e mais técnica a
respeito de compressão e ferramentas de mixagem, efeitos e masterização.

Atente para os tipos de entrada das interfaces. A entrada de instrumento (ou


Hi-Z) é a que se usa para plugar um baixo ou uma guitarra de captadores passivos, é
a entrada de alta impedância. A entrada de microfone já é uma de baixa impedância.
Alguns prés se pode selecionar a impedância dessa entrada, é só selecionar uma
impedância compatível com o seu sinal. As entradas de linha podem ser +4 dBu ou -
10 dBV, explico isso mais a frente quando falo de gravação em linha.

Ao gravar, é de suma importância captar bem o som. Então é preciso caprichar


na guitarra, nas cordas, na técnica, na regulagem dos pedais e amplificador, isso é, o
som que chega aos ouvidos tem que estar excelente antes de se pensar em apertar o
botão de Rec.
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SUMÁRIO

I. GRAVAÇÕES: ASPECTO GERAL

1.1. Gravando em linha ........................................................................................05

1.2. Gravando com microfone .............................................................................08

1.2.1. Escolhendo microfones ...............................................................................09

1.2.2. Posicionando o microfone ...........................................................................13

1.3. Monitorando o som .......................................................................................15

1.3.1. Fones de ouvido .........................................................................................16

1.3.2. Caixas para monitoração ............................................................................16

II. ACÚSTICA

2.1. Acústica em ambientes residenciais ...........................................................18

2.2. Tratamento acústico em ambientes residenciais........................................20

2.3. O Isolamento acústico ..................................................................................21

2.4. Melhorando a acústica da sala .....................................................................24

2.5. Considerações finais sobre acústica ...........................................................28

III. MIXAGEM

3.1. Dicas de mixagem e efeitos ..........................................................................30

3.2. Equalização....................................................................................................31

3.2.1. Violão e guitarra limpa ................................................................................33

3.2.2. Guitarra distorcida.......................................................................................33

3.2.3. Baixo e bumbo ............................................................................................34

3.2.4. Caixa (snare) ..............................................................................................34

3.2.5. Piano ..........................................................................................................35

3.3. Compressão...................................................................................................35
5

3.3.1. Threshold ....................................................................................................35

3.3.2. Attack..........................................................................................................36

3.3.3. Release ......................................................................................................36

3.3.4. Ratio ...........................................................................................................36

3.3.5. Knee ...........................................................................................................36

3.4. New York Trick, New York Compression ou Compressão Paralela ...........38

3.5. Reverb ............................................................................................................38

3.6. Questões de fase ...........................................................................................39

IV. GRAVANDO VIOLÃO

4.1. Violão elétrico ................................................................................................41

4.2. Microfonando o violão ..................................................................................42

4.3. Posicionando o microfone ............................................................................43

4.4. Gravação em estéreo ....................................................................................44

ANEXO A ...................................................................................................................49
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I. GRAVAÇÕES: ASPECTO GERAL

1.1. Gravando em linha

Gravar em linha a guitarra não é demérito, nem coisa de produção barata,


principiante ou algo que o valha. É uma idéia interessante especialmente em home
studio, quando não se tem uma sala com acústica adequada nem microfones legais,
tem ruídos vazando de tudo que é tipo. Nessas situações uma gravação em linha é
bem aceitável.

Costumo dizer que um grande diferencial da guitarra é o uso de distorção,


quase nenhum instrumento consegue tirar proveito disso. Quanto mais se põe
overdrive, mais se precisa de ganho, que vem de captadores mais fortes, pedais e de
um bom amplificador. Então, quanto mais distorção no som, mais vai ser dependente
do captador da guitarra, do pedal de drive e do amplificador, ou seja, mais se vai para
o "lado guitarra" da coisa. Quanto mais perfeito o som limpo, mas se vai para o "lado
violão", ou seja, mais depende da construção, madeiras e menos se precisa de
captador, pedais e amplificador, não se quer ganho. No extremo desse lado muitos
técnicos de gravação e guitarristas preferem suas guitarras archtops plugadas em
linha no pré, direto, sem amplificador, sem simulador de falantes. E podem dispensar
até o captador, podendo gravar simultaneamente o som acústico e elétrico ou mesmo
só o acústico (ou só o elétrico). Eu prefiro sons bem limpos exatamente assim, em
linha, num bom pré, no máximo com alguma equalização entre 1,5 e 3 kHz que dá
certa "clareza" no timbre para jazz.

Alguns colegas tiram sons bem legais com drive usando VST, é sempre uma
opção. Aqui no fórum, alguns tiram timbres com drive muito bons plugando a guitarra
em linha. Mas se for pensar em profissionais, no álbum 6 String Theory do Lee
Ritenour, onde foi feito um concurso (está tendo de novo) e este álbum com vários
convidados, entre eles George Benson, Joe Bonamassa, Robert Cray, BB King e o
indefectível Slash, foi incluído o equipamento que cada um fez as gravações. Taj
Mahal gravou em linha e VST, Neal Schon gravou em linha com uma GT6 com sua
Gibson Les Paul Signature, obviamente por opção por gravar assim e sem deixar a
dever no timbre. Então é bem óbvio que hoje é possível gravar em linha em excelente
nível, depende do equipamento e uma boa regulagem, mesmo se for com drive. Como
o alto-falante atua como um filtro de frequências e acaba por timbrar o som, é preciso
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algum cuidado para gravar assim, há uma tendência de ter muitos agudos e muitos
harmônicos agudos, o que o pessoal chama de "abelhas" no som, o que incomoda
bastante se não for bem cuidado, mesmo quando se coloca uma caixa com falantes
virtuais.

Quem quiser refinar suas gravações, uma ideia legal é sempre gravar um canal
em linha junto com a track principal usando um DI por exemplo, isso vai permitir
depois dobrar ou fazer um pan com outro timbre, cuidando na mixagem com o
cancelamento de fases. Neste canal extra se pode usar todas as técnicas de
gravação.

O mais comum entre a rapaziada é gravar em linha usando uma entrada Hi-Z
(instrumento, de alta impedância) de uma interface, com o pré dela e VSTs como
Guitar Rig ou Amplitube, por exemplo, com simulação de amplificador, falantes e
efeitos. Outros usam multi-efeitos, como pedaleiras Boss, Zoom, Digitech (nesses
casos, algumas já mandam o sinal por saídas USB). Mas vamos complicar um pouco
mais...

Existem muitos amplificadores, pré-amplificadores e efeitos que tem saída de


linha (line level), assim como eventuais aparelhos onde se pode conectar a guitarra e
que tem uma saída de linha. Preste atenção se essa saída de linha é +4 dBu ou -10
dBV. O mais comum para equipamento profissional de áudio é +4 dBu, enquanto para
equipamentos comuns (maioria dos CD players, MP3 player) é - 10 dBV. A diferença é
que +4 dBu é bem mais forte que -10 dBV, na dúvida leia o manual do equipamento.
Para usar essa saída do seu equipamento o certo é ligar numa entrada de linha
correspondente de sua interface, uma que não passa pelo pré. Essa é a entrada certa
para conectar um sinal de linha na sua interface. Como já disse antes, sempre que se
desliga o alto-falante, se tira algo que está funcionando como um filtro, o som tende a
ficar com mais agudos. Mas isso dá para acertar com um equalizador. Vários
amplificadores tem saída em linha, especialmente os menores e muitos dos mais
simples transistorizados tem uma conexão dessas, que se pode ligar diretamente
numa interface e gravar em linha. Dá para usar os pedais e efeitos no amplificador.

O sinal, que eventualmente foi gravado com um DI, pode ser mandado de volta
ao DI para que transforme o sinal em algo compatível ao sinal de guitarra, para entrar
num amplificador e ser gravado com outro timbre. Essa técnica se chama Reamp,
existem aparelhos desenhados para essa técnica de Reamp, como os da Radial.
Assim , a guitarra é substituída pela gravação na entrada do amplificador. É uma
técnica muito legal porque a execução fica sempre igual e apta a muitas
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experimentações, pode-se regular o timbre infinitas vezes até se achar o ponto ideal.
Essa maneira de gravar foi inventada por John Cuniberti, engenheiro de masterização
do famoso Plant Recording Studios de Sausalito, California, que bolou essa solução
durante gravações para Joe Satriani em 1993 devido a problemas nas faixas com o
baixo. Além de permitir experimentações, depois da performance original é possível
trocar efeitos, amplificação, settings, microfonações, pode-se usar amplificadores reais
em faixas sintetizadas deixando-as mais realistas. Outra coisa legal é que se pode
gravar em casa ou em qualquer lugar e depois num ambiente adequado passar num
amplificador bacana, até num estúdio, mas aí já é uma técnica mista, uma gravação
em linha e microfonada.

Outra possibilidade é desconectar seu falante do amplificador e conectar um


speaker simulator, um atenuador com "dummy load" e saída em linha ou mesmo um
equipamento com "power soak" dos mais variados que existem. A questão é que
continua o problema que sempre que gravar em linha vai existir, ao se tirar o alto-
falante que atua como um filtro de frequências, o timbre muda. Mas é muito útil para
se gravar em home studio porque se pode abrir totalmente o volume do amplificador
sem dó, sem precisar de microfones e sem incomodar ninguém mesmo na
madrugada. É só uma questão de equalizar direitinho, pode até colocar um falante
microfonado por VST, depois de feito deixar gravado um preset básico e inicial para
qualquer canal gravado dessa forma. Assim também dá para gravar com seus pedais
e efeitos do mesmo jeito que faria com o alto-falante ligado.

1.2. Gravando com microfone

O objetivo da gravação é buscar um timbre agradável aos ouvidos. Por isso,


estamos mais acostumados a ouvir o som que vem do amplificador que passou para
os alto-falantes. O desafio é captar o som igual ao que chega aos ouvidos, para isso
existem diversos tipos de microfones e técnicas, é onde surgem diversas dificuldades
e soluções. Um exímio guitarrista, com uma excelente guitarra e amplificador, num
super estúdio vai soar bem com praticamente qualquer microfone. Apesar dos
microfones imporem suas características, um grande músico vai soar bem com a
maioria dos microfones, seja num home studio modesto até num super estúdio.
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O primeiro passo primordial é estar soando bem. Se está muito bom o som, é
fácil qualquer microfone captar e ficar satisfatório. Precisa estar com a guitarra certa e
regulada, cordas em condições, pedais e amplificador regulado e saindo um timbre
legal. O som tem que ser legal antes de se pensar em captar, não adianta tentar fazer
mágica e querer que depois os efeitos, racks e plugins salvem seu som, não rola.

Especialmente para os sons mais graves, tem gente que gosta de tirar o
amplificador do chão, inclinar, isso tem muito a ver com acústica e reflexão de graves.
Dê uma volta pela sala e você notará "sweets spots", pode funcionar colocar o
amplificador numa região que o som soe melhor na sala, depois fica fácil dar outra
volta e achar um posicionamento bom para a microfonação. Lembre também que os
alto-falantes não soam iguais, especialmente para quem usa caixas com mais falantes
como 2x12, 4x12, aqui a chave é experimentação, mesmo porque os diferentes tipos
de microfones também não soam iguais. O posicionamento do microfone muda
bastante o timbre, tente e vá pesquisando a posição ideal. Lembre que o "sweet spot"
de um microfone não costuma ser o mesmo de outro. Geralmente um microfone mais
próximo do chão vai dar um pouco mais de graves que um mais alto.

Na hora de gravar uma guitarra com mais ganho, é muito legal que se tenha
um amplificador valvulado falando alto, com suas válvulas sendo forçadas. O problema
disso é que não são todos os microfones que aguentam a pressão sonora de um alto-
falante de guitarras, as vezes o som das válvulas saturando é tão alto que o microfone
distorce e não consegue captar bem o som maravilhoso que se quer porque ali perto
do alto-falante chega fácil a 140dB. A essa pressão sonora mesmo um condensador
pode ter seu diafragma tão empurrado que toca os limites de movimentação,
estragando o som. Além disso os falantes criam um campo magnético tão variável que
influi no microfone se ele estiver próximo. Por essa razão é que os amplificadores de
alta potência muitas vezes são preteridos em estúdios, com certeza um amplificador
de menor potência facilita o trabalho e é mais amigável para microfonação.

1.3.1. Escolhendo microfones

Vamos começar com uma introdução aos tipos de microfones mais comuns
para microfonar guitarras.
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Os dois grupos principais são os microfones dinâmicos e os condensadores,


onde os dinâmicos são conhecidos como microfones “duros” pelo fato de captarem
bem apenas a fonte sonora que está direcionada para ele e são mais usados para
sons de maior intensidade e pressão. Os condensadores são mais sensíveis e captam
um ângulo maior de som, sendo mais indicado para captar ambiência. Eles requerem
a utilização de alimentação externa, conhecida como Phantom Power.

Existe uma infinidade de microfones, de vários tipos, cada um com sua


característica. Basicamente para gravar guitarras, vamos falar dos dinâmicos,
condensadores e ribbon (de fita). Uma característica importante para microfonar um
amplificador de guitarra é que o microfone precisa ser resistente a altos níveis de
pressão sonora, essa é uma das principais características para isso. A guitarra é um
instrumento de característica bastante vocal, tanto no timbre quanto na articulação,
então um bom microfone para guitarra geralmente é um microfone para voz também.
Se for gravar em home studio, numa sala sem tratamento acústico, prefira um
microfone mais direcional, padrão cardióide, pois haverá muito menos problema com
reverberação, ele vai captar quase que só para onde está apontado. Já se a sala é
bem tratada, pode-se pensar num microfone mais bidirecional ou supercardióide (leia
sobre "microphone polar patterns" para entender melhor o assunto), pegando
ambiência. Conseguir captar ambiência real da sala, sem simular, é muito legal porque
é bem realista e autêntica, especialmente se os outros instrumentos e vocais forem
gravados assim, o conjunto fica bem verdadeiro. Hoje em dia é difícil de usar num
álbum todo, mas antigamente era assim que se fazia e ficava bacana - fica a dica para
quem se aventura no seu home ou estúdios mais modestos.

O primeiro microfone que se pensa quando se fala em guitarra é o Shure SM-


57, um clássico. É o microfone mais utilizado no mundo para microfonar ampli, que é
dinâmico, ele tem um excelente custo-benefício, pois além de ter um preço razoável, a
qualidade e durabilidade são inquestionáveis e aguenta muita pressão sonora.O bom
é que entre esses microfones de marcas famosas ele é muito barato, custa nos EUA
uns U$ 99,00. O problema é que chegam aqui no Brasil bastante inflacionados, mas
aqui se encontra várias cópias, com maior e menor qualidade (vale a pena testar), mas
vou falar do padrão, o SM-57, tem cópias melhores e piores. Esse tipo de microfone é
o que geralmente é usado para "close-miked", ou seja, o microfone bem próximo da
tela do amplificador. Nessa técnica, lembre-se que a captação não tem informação
espacial, isso é, não é captado reverb natural da sala e o volume é altíssimo onde o
microfone vai ser colocado e nisso o SM-57 se destaca - o que é uma vantagem em
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home studio. Além disso o SM-57 pegou a fama de ser bom para amplificador de
guitarra, o que tem algo a ver com sua frequência de resposta - ele corta muitos
graves, sua curva fica plana lá pelos 200 Hz, o que reduz as "batidas" (em inglês,
"bass-boosting 'proximity effect' ") que saem do gabinetes; tem uma leve queda entre
300 e 500 Hz, que é uma região de médios que dá "peso" mas é bastante crítica e
embola fácil na mix; e tem um ganho entre 3 e 12 kHz que dá presença e brilho no
som, ressaltando harmônicos. Outros microfones dinâmicos para guitarra são o
Sennheiser MD421 (cardióide) ou E609 (supercardióide), Shure SM-58 (parecido com
o SM-57, um pouco menos de brilho), Electro Voice RE20 (cardióide), Beyer M201
(hipercardioide), eventualmente o AKG D770 (cardióide). Muitos produtores escolhem
esses microfones, o Electro Voice RE20 foi usado em gravações de Santana, Rolling
Stones, Hendrix (Electric Ladyland), gravações da Stax, Nirvana (In Utero) e Page &
Plant, por ser bem direcional, ter uma resposta bem mais flat e ser desenhado para o
efeito de proximidade. O Sennheiser MD421 costuma ser usado em combinação com
outros microfones. É fácil achar a curva de frequências desses microfones na internet,
isso dá uma noção do que se fazer se for para mexer na equalização do som na hora
da mix.

Os microfones de fita (ribbon) são bastante usados na gravação de guitarras.


Eu não recomendaria muito para se gravar em casa, onde não se tem uma acústica
muito adequada, pois a maioria é "bidirecional" ("figure 8") e vai captar reflexões e
ambiência. São mais sensíveis que os dinâmicos, então o ideal é afastar um pouco do
alto-falante, não exatamente "close-miking". Eddie Kramer, que gravou Hendrix, Led,
Kiss, Beatles, Stones, Santana, Red Hot Chilli Peppers e Peter Frampton entre outros,
diz que o melhor microfone para guitarra ntre todos os existentes é o Beyer M160.
Muitas vezes não é usado isoladamente, mas em conjunto com outro que muitas
vezes é um SM-57. Outros ribbons famosos são o Royer R-121 e o Coles 4038, mas
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todos esses são bem caros. Existem alguns bem mais baratos e que andam
recomendando para guitarra nos sites especializados, como o Nady RSM-4 ou RSM-5
(que são mais baratos que o SM-57) ou o CAD Trion 7000. Não podem geralmente
com phantom power, sob o risco de queimar, mas tenho pouca experiência com o uso
deles.

Os microfones condensadores são microfones que tem uma resposta melhor


para graves em relação aos dinâmicos, mas também geralmente são mais sensíveis e
precisam de phantom power para funcionar. Alan Parsons, que “só” gravou Abbey
Road dos Beatles e Dark Side of the Moon do Pink Floyd, sempre usa condensadores
e nunca dinâmicos, ele e os que são contra os dinâmicos dizem que tem “som de
telefone”. Muitas vezes são microfones mais delicados e sensíveis, então são
posicionados um pouco mais longe ainda que os ribbon geralmente. Existem
condensadores de diafragma grande e pequeno, sendo que os de diafragma grande
são os escolhidos normalmente quando se fala em microfonação de amplificadores.
São praticamente os únicos na hora de gravar em estúdios quando se coloca um
microfone para captar a ambiência, bem longe do amplificador. Os modelos mais
citados são o Neumann U87, U67 e U47, que são bastante caros, junto com o AKG
C414. Citam também o Lawson L47MP (menos caro), Shure KSM 32 até mesmo o
Behringer B1, mas para por na frente de um amplificador o ideal é um que tenha uma
chave de -10dB acionável. Lembre que picos de 130-140 dB um amplificador chega
fácil quando se põe um mic bem próximo do falante. Se seu microfone não aguenta
isso tudo afaste-o do falante!
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Os condensadores de diafragma pequeno são mais raros de se ver com


amplificadores, mas tem uma resposta mais plana e um som mais “focado” na hora
que fica na frente de um alto-falante. Os mais citados são o Neumann KM84 e KM184
(a diferença é que o KM84 tem transformador e um switch de -10dB), as vezes o
Sennheiser MKH40 (tem um HPF e switch -10dB). São microfones de alto ganho e
baixo ruído, contando ainda com alguma capacidade de suportar altos volumes.

1.3.2. Posicionando o microfone

É preciso ter paciência para acertar o som que sai do amplificador, depois um
pouco mais de paciência, se for gravar com microfone, para posicioná-los
direito. Encontrar o local ideal para colocar o microfone dinâmico é uma tarefa
interessante, pois iremos equalizar o nosso som acertando a posição do microfone
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com relação ao falante do amplificador.Geralmente na hora de gravar o melhor é


deixar os controles um pouco mais "flat" do que sua "regulagem padrão" para tocar ao
vivo. Essa é a parte mais difícil, fazer soar bem, depois captar bem o som. Se o som
captado está perfeito, não tem mais muito trabalho para mixar e masterizar, é só
algum detalhe pequeno. Se mexer muito, estraga!

Este é um trabalho que deve ser feito individualmente, testando e procurando


encontrar o melhor som para você. Principalmente quando se faz o "close miking" com
um dinâmico, a posição e o eixo em relação ao falante influem muito na sonoridade. É
espantosa como a diferença entre um som ruim e um bom fica a poucos centímetros.
Com o tempo a gente vai pegando a prática e já sabe mais ou menos como posicionar
e acaba fazendo mais rápido, mas principalmente quem não tem muita prática, reserve
sempre um tempo para acertar a posição do microfone. O ideal é que se tenha alguém
para tocar para você, enquanto você posiciona o microfone com auxílio de um
headphone. Nessa hora, se tiver a possibilidade de gravar um som e mandar do
computador para o amplificador, com a técnica de "Reamp" que expliquei atrás, facilita
muito a vida porque quem "toca a guitarra" é o computador, com a mesma dinâmica e
exatamente igual, isso é uma mão na roda para quem grava sozinho em casa. Se
você não tem como fazer "Reamp" e vai gravar sozinho, uma dica é tirar o plugue da
guitarra e ficar com ele na mão, fazendo o amplificador gerar ruído. Procure a região
onde posição do microfone dê o maior volume, depois nesta posição, mexa um pouco
lateralmente e no eixo do microfone onde consiga bastante brilho, mas não coloque na
posição de brilho máximo. É bem próximo desse local que a posição do microfone vai
ficar bacana.

O som do microfone "on axis", ou seja, perpendicular ao plano do alto-falante, e


bem no centro, bem próximo à tela não é legal, é meio estridente, com brilho demais.
Por isso gosto de começar a procurar a posição um pouco deslocada do centro, já de
início. Mais para a borda o som se torna com mais médios-graves. Quanto mais
próximo do cone, mais efeito de proximidade terá, isso é, gera um boost de graves.
Mas quanto mais longe do cone, mais ambiência pegará o microfone também. Achada
a posição que lhe agradou, também é possível inclinar o microfone um pouco ("off
axis"), no sentido do centro cone aparecerão mais agudos. Também é interessante
captar o som da parte de trás do amplificador (se a caixa for aberta), onde ele tem
uma resposta totalmente grave e que pode ajudar na construção da tão falada
“parede” sonora.
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Aqui há uma oportunidade bem legal que é gravar com 2 microfones ou mais. A
ideia é captar 2 sons bem diferentes entre si, geralmente um bem agudo e um bem
grave, mas não necessariamente precisa ser assim. Pode ser um dinâmico bem
próximo, que pega bem a presença e o ataque, focando mais agudos e um
condensador mais distante pegando mais ambiência e graves. Pode ser 2 microfones
iguais angulados próximos a 90 graus, numa técnica XY. Aqui dá para testar e ter
bastante liberdade, fica muito interessante quando se tem espaço na mix,
principalmente quando se pode jogar o pan bem separado. Conseguem-se diferentes
texturas e sonoridades num resultado que costuma ser bastante interessante, já que
um canal se pode comprimir mais, ter mais médios, noção espacial, enfim, ter
sonoridades diferentes e bem interessantes na hora de mixar, meio como quando se
usa o "New York Trick" como compressão paralela (explico isso no fim do texto). O
problema é o cancelamento de fases...

Aqui se pode escolher os microfones com bastante liberdade, podem ser


iguais, diferentes como um condensador e um dinâmico ou ribbon, um barato e um
caro, condensadores de diafragma grande e pequeno, um no centro do falante e um
bem na lateral, faça seus teste e experimente, eu gosto de ter sons diferentes.
Gravadas as 2 faixas de microfones, ouça e faça os acertos necessários isoladamente
primeiro. Ao juntar pode acontecer da fase estar coincidindo e ter corte de frequências.
Se isso acontecer, a solução é inverter a fase de 1 canal, atrasar 1 canal em uns 10
ms ou mesmo gravar de novo afastando 1 dos microfones. Se está difícil acertar os 2
sons, experimente fazer cortes de frequências com um equalizador e ouvir por faixas
de frequências para achar o que sobra e o que falta.

1.4. Monitorando o som

É impossível falarmos de gravação sem a preocupação com o fone de ouvido


ou as caixas de monitoração.

Quando utilizamos técnicas de microfonação de ampli, a melhor pedida é usar


um bom fone ouvido, a não ser que você tenha um aquário para isolar o ampli, colocar
ele no armário ou usar uma isobox, para que não ocorra vazamento do som da BT de
acompanhamento no microfone do ampli. Na gravação em linha essa preocupação
não ocorre e fica ao gosto do freguês usar um fone ou caixas...
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1.4.1. Fones de ouvido

Os melhores fones e caixas são aqueles que têm a resposta o mais flat
possível, isso quer dizer que eles não devem valorizar nenhuma frequência, tratando
todas igualmente. Se por exemplo, usarmos um fone que realce os graves, para você
o som estará com uma quantidade boa de graves, mas em um fone/caixa sem essa
característica a pessoa irá sentir a falta dos graves.

Existem muitas marcas de fones e com uma grande variação de valores. Eu


recomendo as marcas Audio-Technica (série ATH) AKG (alguns da série K),
Sennheiser (série HD) entre outros.

Os valores são a partir de $50 em média, possuo um Audio-Technica ATH-M30


e gosto muito dele, ele é um modelo de entrada e tem um custo x beneficio
interessante. Existem diversas outras marcas e dentro dessas marcas podem existir
outros modelos que atendem a necessidade, que lembrando mais uma vez é ter a
resposta o mais flat possível.

1.4.2. Caixas para monitoração

Na utilização de caixas para a monitoração, precisamos entrar em alguns


detalhes sobre as características do som para que possamos posicionar as caixas de
uma forma que faça realmente valer o fato de elas serem flats.

Basicamente, podemos dizer que as frequências agudas não são direcionais e


as graves são direcionais e possuem maior duração (ficam mais tempo “vivas” no
ambiente), isso quer dizer que se deixarmos a caixa de monitoração no chão e sem
nenhuma inclinação não iremos captar as freqüências graves como deveríamos. (Por
isso que é interessante utilizar um suporte para deixar o amplificar inclinado).

A utilização de brass traps (armadilhas de graves) também podem se tornar


interessante em ambientes que as paredes são limpas (sem móveis), pois a
freqüência grave ao chegar aos cantos ela continua para a outra parede e como ela
demora mais tempo viva, poderá encontrar outras freqüências e embolar o som.
17

Usualmente as brass traps são colocadas nos cantos ou bem próximas a ele.
Existem também formas de se tratar os médios e agudos com armadilhas especificas
para eles, essas são mais simples e baratas, pois normalmente são apenas espumas.

Com isso em mente a melhor forma de posicionar as caixas de monitoração é


na altura do ouvido, com os cones das caixas apontando diretamente para nós e o
ideal é formar um triângulo equilátero entre as caixas e o local onde iremos ficar,
conforme o exemplo abaixo:

Agora que já falamos da importância do posicionamento das caixas iremos


falar sobre os tipos. Existem dois tipos de caixas, as ativas e passivas e a diferença
básica é que a caixa passiva precisa de um pré-amplificador e a ativa possui
amplificação interna. As caixas mais utilizadas em home studio são as ativas, pois
dispensam a compra de um amplificador e assim é uma preocupação a menos. xD

As marcas mais comuns são Alesis, Behringer, M-Audio, JBL, Yamaha entre
outras e os valores a partir de $80.

É possível também utilizar caixas “comuns”, porém é interessante “perder” um


bom tempo ajustando a freqüência das caixas com algum equalizador, tentando deixá-
las com a resposta o mais flat possível.

Outro ponto interessante é cuidar para que não ocorra o feedback, também
conhecido como microfonia.

A microfonia ocorre pela realimentação do sinal sonoro, ou seja, algo está que
está emitindo o som/ruído, capta o som que ele mesmo está emitindo e envia
novamente e assim consequentemente, para evitar a microfonia, a fonte sonora, que
no nosso caso é a guitarra, não pode estar virada para o alto-falante. Isso é ainda
mais importante em guitarras com corpo oco, como nas semi-acústicas ou archtops.
18

II. ACÚSTICA

2.1. Acústica em ambientes residenciais

Aqui iremos falar um pouco sobre acústica, uma vez que todo o processo de
gravação se baseia no uso de interpretação de sons, sejam eles ouvidos naturais (o
ouvido da pessoa que vai fazer a timbragem e a mixagem), ou artificiais como é o caso
dos microfones. Por isso, não faz sentido gastar uma fortuna em microfones, mixers,
amplificadores, etc. se o que você ouve não reflete a qualidade do equipamento que
originou o som.

Acústica é um dos tópicos mais complexos no planejamento e design de uma


edificação, pois é um dos tópicos onde há o maior número de variáveis, em geral
tantas que projetos acústicos para estúdios profissionais, casas de show e concertos,
etc., se usam aparelhos especiais para analisar a distribuição de frequências dentro da
sala e softwares específicos para analisar a acústica. Todavia, isso não é motivo para
deixar de lado o planejamento do espaço a ser usado para tocar/gravar em casa, visto
que mesmo com um orçamento modesto é possível melhorar e muito desempenho
acústico de um quarto ou sala.

Antes de pensar em melhorar a acústica do cantinho dedicado a nossas


electric ladies, vamos explicar um pouco do que acontece, acusticamente com um
local. Assim como a luz ao bater numa superfície tem parte do seu comprimento de
onda absorvido e parte refletida, dando aos objetos cor e textura aparente ou dado ao
espelho a capacidade de enviar a luz de volta para a origem; o som também interage
com a sala, pois ele é parcialmente absorvido e refletido por todas as superfícies do
lugar.

Essa reflexão e absorção pelos diversos materiais e formas que compõe uma
sala, mudam a característica do som que você ouve, pois algumas frequências são
absorvidas, outras são refletidas e reforçadas, e outras ainda são refletidas, mas são
canceladas. Assim o resultado é que o que você ouve em um determinado ambiente,
raramente é o som real do que está saindo dos alto-falantes e sim o resultado da
interação desse som com as propriedades acústicas da sala.

Quando o som é emitido por uma fonte sonora, como falantes, voz, violão, etc.
ele percorre o ambiente e bate nas paredes voltando para a fonte, essa é a
19

reverberação que todo ambiente tem naturalmente, como aparece na figura abaixo. A
maioria das pessoas quando vai montar um Home Studio usa um quarto ou sala de
casa ou apartamento, esses ambientes em geral retangulares ou quadrados são
propensos a uma série de anomalias acústicas que tem que ser tratadas para que o
som do lugar fique realmente bom. Existem duas anomalias acústicas comuns
geradas em ambientes com paredes e/ou teto e piso paralelos, são eles o Flutter Echo
e as Ondas Estacionárias (Standing Waves).

O fenômeno das Ondas Estacionárias ou Standing Waves, é causado porque


ao refletir em paredes paralelas, o som volta pelo mesmo caminho que percorreu até a
parede refletora, isso causa o cancelamento de fases do som e portanto diminuindo a
amplitude acústica da sala (ela reproduz menos frequências do que está sendo
emitido pela fonte), como em superfícies paralelas o som tende a ser refletido de uma
parede a outra por muito tempo, já que ele está sempre fazendo o mesmo trajeto, esse
fenômeno não irá sair sem um tratamento acústico adequado. Já o Flutter Echo é
causado porque ao emitir sons em espaços com paredes paralelas as ondas podem
ser refletidas em espaçamentos regulares, o que o causa um efeito de vibração no
som refletido, é como se o eco tivesse com um tremolo ligado, isso também limita a
resposta dinâmica da sala, e também causa problemas na definição da notas e da
fala, deixando o som muito colorido. Nesse vídeo, há um caso extremo de Flutter
Echo: http://www.youtube.com/watch?v=vKVcqyATkyI&feature=related
20

O ideal seria ter uma sala já concebida para o uso como estúdio, mas como na
maioria das vezes isso não é possível, esses efeitos tem que ser minimizados por
meio de tratamento acústico do ambiente, adicionando componentes que possam
difundir ou absorver o som e que serão explicados mais a frente neste texto.

Outro problema que se enfrenta ao montar um estúdio em casa, e piora se for


um apartamento, é o fato de que ao tocar o som em um volume alto para trabalho,
seja no amplificador, seja ouvindo a gravação em monitores, em geral se tem que lidar
com a insatisfação dos vizinhos e não raro dos demais moradores com quem se divide
a moradia, por terem que aguentar a barulheira sem ter nenhuma participação nela.
Por isso também faz-se necessário que além de se pensar na acústica da sala, se
pense também em isolamento acústico, assim o barulho fica quase que inteiramente
confinado ao ambiente preparado para a gravação.

2.2. Tratamento acústico em ambientes residenciais

Embora não dê pra dar uma fórmula para fazer a acústica de uma sala ficar
boa e nem para que ela não incomode os vizinhos, aqui vai algumas ideias que podem
ser aplicadas em praticamente qualquer ambiente para se ter um resultado acústico
satisfatório e minimizar os problemas decorrentes da forma dos ambientes com
paredes paralelas.

O primeiro ponto a ser endereçado deve ser o tamanho do cômodo a ser


usado, eu não recomendaria cômodos muito pequenos, porque não só eles não
apresentam uma boa reverberação, como são muito complicadas de tratar, então se
for pra espaços pequenos, é mais vantagem usar um iso-box pra colocar o
amplificador e tratar a sala apenas para melhorar o som a ser ouvido com os
monitores. Uma boa dica se o tamanho do cômodo é interessante para se ter uma sala
de gravação é ver, ao se retirar todos os móveis, se ela produz alguma reverberação
natural, se isso acontecer, já se tem um espaço interessante para a sala de gravação.
Eu também escolheria um cômodo que não tivesse paredes em ligação direta com os
vizinhos, especialmente em apartamentos.
21

2.3. O Isolamento acústico

O isolamento acústico é o próximo ponto a ser tratado, já que este depende


das paredes e de sua densidade, não tem nenhum segredo, quanto mais grossa a
parede e quanto mais denso o material da qual ela é feito, melhor o isolamento
acústico, isso é relativamente fácil de resolver quando se constrói uma nova casa ou
prédio já prevendo esse uso, nesses casos pode-se optar pelo uso de paredes mais
espessas. Como esse não é o caso da maioria das pessoas, que já compra o imóvel
pronto, a alternativa mais viável é o uso de perfis de gesso acartonado (dry-wall), pois
podem ser aplicados sobre a parede já existentes, e por terem de 7cm de espessura
no perfil simples e 12cm de espessura no perfil duplo, se tem uma redução pequena
da área útil da sala. Uma vantagem do dry-wall é que você pode escolher a
quantidade de absorção que o ambiente irá ter, pois o isolamento acústico é feito tanto
pelo ar entre a parede de alvenaria e a de gesso, quanto pela inclusão de lã de vidro,
havendo a possibilidade, caso haja recursos do emprego de outros tipos de
preenchimentos internos em conjunto com a lã de vidro que aumentem a capacidade
de isolamento acústico do ambiente, como é o caso de diversos tipos de lãs feitos de
fibras naturais.

Como é possível ver na tabela abaixo, a parede de gesso acartonado com


isolamento de lã de vidro já é capaz de gerar uma redução entre 42 e 55 decibéis
dependendo do perfil utilizado, isso deve ser somado à redução do som feita pela
parede de alvenaria, que gira em torno de 29 e 50 decibéis, dependendo do material
que é feito a parede. Com isso já é possível ter uma redução do som entre as paredes
variando entre 71 e 105db. O que é uma boa redução pra maioria dos casos.
22

Todavia uma edificação não tem só paredes, ainda existem quatro pontos de
transmissão do som para fora da edificação, que são o janelas, portas, piso e o teto,
quando se mora em casa, em geral esses elementos tendem a receber menos
atenção, pois a distância entre a janela e a casa visinha atenua bastante o som, e as
pessoas que moram com o músico tendem a ser mais compressivas com o barulho
que escapa das portas. Também há o fato de a massa da laje de piso da casa é
suficiente para impedir o som de sair, e a massa da laje de teto somada a massa do ar
formada entre a laje e o telhado, também tende a isolar bastante o som. Porém em
apartamentos esses são pontos críticos, pois mesmo fazendo o isolamento lateral, não
há isolamento do teto e do forro, o que pode não ser um problema em boa parte dos
23

casos, mas pra quem toca com volumes altos, isso vira um problemão, especialmente
se você tem um SPL muito alto ou usa instrumentos que produzem vibração no piso,
como gabinetes 4x12 ou baterias e percussão, etc.

Nesses casos o ideal é usar portas duplas e janelas de vidro duplo (que não
passa de um vidro que é fabricado com duas laminas coladas e separadas por uma
camada de ar, esses recursos por si só já resolvem a maior parte dos problemas, para
quem toca em volumes realmente muito altos, pode ser necessário usar janelas e
portas corta som, que são relativamente caras, mas resolvem bem o problema.

No caso de pisos e tetos, pode-se usar pisos e tetos acústicos, que oferecem
benefícios similares ao dry-wall para essas seções da edificação. O forro acústico ou
forro mineral é montado colocando-se perfis metálicos no teto que é fechado por
placas de fibras minerais, produzindo uma atenuação média de até 38db, para
melhorar o desempenho, pode-se adicionar lã de vidro ao forro.

Para os pisos existem várias opções de pisos acústicos, cada uma com um tipo
de acabamento e eficiência acústica. Entre as opções para o piso existem os pisos
vinílicos que são compostos por uma manta feita de borracha, espuma de PVC e lã de
vidro e que depois recebem o acabamento adequado (podendo até receber o
acabamento normal), existem os pisos de cortiça que segue um princípio similar aos
pisos vinílicos, onde uma manta de cortiça emborrachada é colada sobre o piso que
recebe o acabamento em madeira por cima. Esses dois pisos apresentam uma
redução de ruídos e vibrações de aproximadamente 18 a 25db, e embora sejam os
que apresentem o melhor resultado estético, podem não apresentar o melhor
isolamento acústico em alguns casos, especialmente se você gosta de tocar com
amplificadores com volumes altos ou amplificadores de alta potência.

O tipo de piso acústico mais interessante para quem toca com volumes altos é
o piso acústico elevado que vai existir em diversas configurações, desde pisos
elevados simples, em que se tem uma estrutura metálica ou de madeira que cria um
24

colchão de ar entre o piso e a laje, até versões mais eficientes com placas herméticas
com estrutura de compensado preenchidas com espuma de PVC e lã de vidro. Esses
pisos apresentam um melhor desempenho acústico para quem usa volumes muito
altos, mas não esperem milagres, eles não vão muito além de 30db nos melhores
casos. Existe ainda um outro tipo de piso elevado, que é montado sobre molas ou
elastômeros de borracha, mas são caros pra cacete, e muito difíceis de achar no
Brasil.

2.4. Melhorando a acústica da sala

Uma vez que o cômodo está isolado acusticamente, é hora de melhorar a


acústica interna dela e corrigir os problemas como flutter echo e as ondas
estacionárias, além de dar uma afinada na sala, visto que todo esse isolamento sonoro
tende a levar uma predominância de frequências graves na sala visto que a maioria
dos materiais isolantes sonoros, tende a absorver frequências médias e agudas em
maior quantidade do que a as graves.

O primeiro passo para afinar uma sala é entender que existem três formas de
moldar o timbre que vai sair da sala, são elas: reflexão de frequências, absorção de
frequências e difusão de frequências. A reflexão é a mais fácil de entender, o som bate
na superfície e é jogado de volta pro ambiente, como em um espelho. A absorção é
simples de entender, você tem um material que prende aquela frequência e ela não é
refletida de volta para a sala, enquanto as demais frequências são refletidas
normalmente. A difusão ocorre quando uma superfície não é regular e ao bater na
superfície, o som é espalhado em diversas direções ao mesmo tempo.
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O objetivo da “afinação” da sala é garantir que só sejam refletidas de volta para


o ouvido ou para o microfone as frequências corretas, e qualquer frequência em
excesso é difundida ou absorvida para que chegue somente na quantidade ideal ao
ouvido/microfone. Como não existem muitas formas de trabalhar a reflexão sonora em
um ambiente pequeno e não projetado para a função específica de ser uma sala de
gravação, e as poucas que existem são bem caras, o foco principal nesses casos é
trabalhar a absorção e a difusão de forma que a sala fique com o som mais agradável.

O primeiro ponto a ser trabalhado é a colocação de armadilhas de graves na


sala, o jeito mais fácil é comprar Bass Traps de espuma e colocar nos cantos da sala,
pois como as frequências graves se espalham de forma omnidirecional, ou seja para
todos os lados ao mesmo tempo, os ângulos retos dos cantos das paredes e o fato de
estas serem paralelas tendem a criar reflexões muito fortes dessas frequências, em
especial nos pontos de encontro (cantos), que depois se espalham pelo resto da sala.
26

Deve-se também botar superfícies absorvedoras de som nas laterais e atrás da


fonte sonora (sejam monitores ou amplificadores), eu considero ideal para salas
pequenas cobrir uma área entre 1/4 e 1/3 dessas paredes com espuma acústica,
dessas que existem aos montes no mercado, ofertadas por marcas como: Sonex,
Sonique, Soniteq, etc.

O tipo depende do projeto, mas eu particularmente gosto da com padrões


triangulares, onduladas ou das pontudas porque atuam também como difusores das
frequências que não absorvem. Você pode “afinar” as frequências absorvidas com a
espessura da espuma, o padrão é elas virem com 2” de espessura, que irá absorver
frequências acima de 400-500Hz, se a sala ainda tiver muitos graves e médio graves
pode-se aumentar a espessura da espuma para a 4” para redução na faixa de 150-
200Hz.

Aqui vale um conselho, não compre tudo e bote de uma vez, a menos que você
tenha um arquiteto ou engenheiro especialista no assunto para fazer o projeto, se você
não tem quem faça o projeto, então bote os Bass Traps e pare pra ouvir um pouco o
som na sala, se tiver “normal” bote a espuma de 2”, se achar que tem muito grave,
tente a de 4”. Aqui não tem mistério no posicionamento da espuma, nas paredes
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laterais tem que ser paralelo ao microfone ou ao ouvido, na parede do fundo pode ser
no centro da parede.

O problema maior está no teto e na parede imediatamente em frente a fonte


sonora. Se a sala for muito pequena, não tem muito mistério repita a formula feita para
as demais paredes, colocando espuma absorvedora no centro do teto e da parede
imediatamente em frente a fonte, na mesma proporção equivalente a entre 1/4 e 1/3
da área da parede. Se você tiver uma sala um pouco maior, com a maior parede com
mais de 3 metros de comprimento, vale a pena investir um pouco mais nessas
paredes e usar tanto difusores, quanto absorvedores.

Eu colocaria espuma absorvedora no teto, também das que tenham superfícies


anguladas, já que além de absorver parte das frequências, elas difundiriam as demais
frequências. Já na parede em frente ao amplificador ou aos falantes dos monitores eu
usaria um conjunto de difusores e absorvedores, cobrindo 1/3 da parede, fazendo uma
montagem com as placas de difusores e absorvedores, isso deixa o lugar muito bonito,
especialmente com esses difusores que além da função técnica, também tem um
apelo mais estético, como os das fotos abaixo.
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Uma opção de baixo custo pra quem quer fazer isso é só botar um sofá para
absorver o som e prateleiras com livros e outros objetos para fazer a difusão dele, ou
colocar uma estante daquelas maiores com livros colocados aleatoriamente tanto em
pé quanto deitados, assim você tem tanto absorção, quanto reflexão por um custo
mínimo.

2.5. Considerações finais sobre acústica

Como foi falado no começo deste texto, planejar a acústica de um ambiente é


uma das partes mais desafiadores do design de interiores e da engenharia aplicada a
essa área da edificação, projetos realmente tops de linha vão invariavelmente usar
simulações matemáticas pra decidir que materiais usar e onde colocar cada material,
mas as dicas apresentadas aqui irão ajudar a ter um espaço muito mais adequado e
interessante para gravações e para prática no instrumento do que tocar numa sala
sem nenhum tratamento.
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Vale também perder um tempo pensando em qual o objetivo principal da sala,


pois não adianta querer uma sala que sirva para guardar um monte de guitarras,
amps, e ainda ter toda a parafernália de gravação. De nada vai adiantar ter tanto
trabalho com a acústica e ele ser desperdiçado pelo excesso de equipamentos que
irão interferir no desempenho acústico visto que também refletem, absorvem e
difundem o som. Então se a sala deve preferencialmente ter uma só função, ou pelo
menos uma função primária e uma função secundária.

Para uso residencial em gravações eu prefiro montar a sala como uma sala de
técnica e usar um iso-box, uma cabine de isolamento ou mesmo só gravar em linha e
assim ter o espaço organizado para ter o melhor desempenho em edição de som e
mixagem, fica mais barato, já que praticamente não vai precisar de isolamento sonoro
e mesmo que precise, será algo bem simples, como também é mais simples e rápido
de se fazer. Se o objetivo for um ambiente para praticar, o custo é maior, já que será
necessário um melhor isolamento sonoro, também gastaria um bom tempo brincando
com os difusores pra chegar na melhor configuração.

Para quem ficou curioso, o preço de uma sala com todos os tratamentos
descritos aqui vão ter um valor variando de 3mil a 15mil reais, dependendo das
necessidades de isolamento e tratamento da sala.
30

III. MIXAGEM

3.1. Dicas de mixagem e efeitos

A primeira regra é confiar em seus ouvidos, não se baseie em regras e presets


que geralmente não dá certo. É preciso acertar, mexer, tentar até que fique bom. Cada
instrumento tem seu acerto para cada música. Não existe um acerto geral que serve
para tudo e que funcione sempre, então a questão é saber por onde começar e qual o
caminho a seguir, mas não existe uma linha muito definida do que é certo e errado.

Se a gravação é com guitarra de captadores single ou entrou algum ruído na


gravação, é legal colocar um noise gate logo de cara, a primeira coisa que entra, antes
de equalizar, comprimir ou mexer em qualquer coisa. Uma opção variante disso, para
os singles ruidosos, é colocar um equalizador paramétrico em 60 Hz, Q bem pequeno,
com corte dessa frequência (explico a equalização mais adiante). Melhor que noise
gate sempre é tentar remover o ruído com o equalizador, com um equalizador
paramétrico, tira o ganho ao máximo, deixa um Q médio (1 mais ou menos) e varre as
frequências para buscar onde é o ruído. Achado, tente deixa a redução de ganho ao
mínimo e o Q no mínimo também. Se tiver que tirar muito, o ruído está muito grande,
cobrindo uma faixa muito grande de frequências, tente o noise gate, se mesmo assim
não estiver bom, o jeito é gravar de novo, tentando outra técnica.

Evite mixar, masterizar ou mexer nas suas trilhas com som alto. Além de fazer
mal para o ouvido, o alto volume engana os ouvidos e dá mais "cansaço auditivo". O
sujeito passa horas deixando o som perfeito, no dia seguinte quando ouve descobre
que está uma bela porcaria. O ouvido submetido a altos níveis de pressão sonora
começa a perceber menos os agudos principalmente ao redor de 4 kHz, geralmente
de caráter transitório, mas que podem virar definitivos. Muitos estúdios tem
decibelímetros, que "medem o volume", mas em home studios é possível usar a
"versão tabajara" e baixar no celular um aplicativo de medição de decibéis não muito
preciso, mas já resolve o problema - tem versões gratuitas até. Muitos produtores
recomendam mixar e masterizar com o som ao redor de 80 a 85 dB. Isso é baixo, não
aumente o volume que som alto faz muita coisa soar bem quando não devia. Se soa
bem baixo é porque alto vai soar melhor ainda. Faça pausas, descanse seus ouvidos,
esse não é um trabalho para poucos minutos. (ver Anexo A)
31

Quando for gravar em casa, evite gravar com níveis altos, a "luzinha" do seu
DAW não pode bater em 0 ou acender o clip em hipótese nenhuma para uma boa
gravação. Clipping digital (distorção) é horrível. Na sua interface, tem um parâmetro de
sample rate, seria quantas "fotos" seu computador tira da onda sonora por segundo. O
sample rate de 44.1 kHz está de bom tamanho, são poucos aparelhos (DVD ou Blu-
Ray) que suportam mais que isso, mas o ouvido humano, teoricamente, consegue
perceber no máximo algo menor que a metade disso. Gravar com maior taxa para
depois reduzir não é uma boa ideia, pode estragar seu som, além de ocupar mais
espaço de memória e mais processamento de seu computador. A quantidade de bits
já faz diferença, isso dá a margem de quantos passos de volumes diferentes seu DAW
vai gravar, por isso é legal que se grave com um parâmetro alto aqui, se der, vai de 24
bits. Isso significa que terão 224 volumes diferentes, uma dinâmica bem alta (mais de
16 milhões de níveis de volume). Lembrem que um CD tem 16 bits de "dynamic
range". Com o parâmetro acertado em 24 bits, dá para gravar com o VU (a "luzinha")
batendo em -12 dB que ainda teremos 22 bits sobrando para faixa dinâmica, ou seja,
4.194.304 volumes diferentes, que já está muito bom e bem longe da possibilidade de
clipar. Depois de gravado sem nenhum clip, você pode juntar suas faixas, mixar, botar
um compressor e um limiter fazendo até bater no 0 dB do seu "VU meter" sem
problemas se quiser, aproveitando toda faixa dinâmica. Não haverá problemas em
passar para um CD ou MP3 com faixa dinâmica menor. E sempre fuja de clipar seu
som, preste atenção ao adicionar plugins de efeitos, sempre podem dar um aumento
no volume e clipar, até mesmo jogar para um dos lados do pan.

Procure gravar sempre que possível com o metrônomo ajustado. Uma


gravação que o músico acerta bem o tempo é sempre mais agradável. Além disso, se
souber o BPM da música, dá para acertar o delay bem exato e seu DAW vai mostrar
os picos na divisão do compasso, fica fácil ver se está acertado o tempo bem "na
cabeça", "cravado", especialmente bateria e baixo.

3.2. Equalização

Os equalizadores gráficos costumam ser preferidos por quem é iniciante, é


mais visual. Não tenha dúvida que os paramétricos são bem mais precisos e do gosto
dos técnicos de estúdios. Vale a pena tentar entendê-los e se arriscar nos seus DAW,
32

sempre tem esses equalizadores VST e para isso tem algumas dicas. O legal é que
nos equalizadores das DAW tem algumas versões combinadas, que o paramétrico tem
a visualização gráfica também o que facilita bastante até que se acostume. Os
equalizadores paramétricos são preferidos nos estúdios e por profissionais não por
acaso. A grande vantagem do paramétrico é o "Q", uma vez escolhida uma frequência
e o aumento ou redução de ganho, o Q regula quanto das frequências vizinhas serão
afetadas. Um Q de 1 é o meio da regulagem, então entre 0,9 a 1,4 é um Q médio.
Abaixo disso se considera que está abrangendo uma faixa larga de frequências e
acima de 2 é um ajuste bem estreito, quanto mais alto, mais se pega uma só
frequência.

Não esqueça que na hora de equalizar é necessário bom senso e cuidado. É


necessário descansar e ouvir mais tarde o que fez, é comum que o cansaço auditivo
dê uma enganada e depois se descobre coisas que não ficaram boas ou que não
foram notadas. Vale a regra que geralmente menos é mais, costuma ser melhor cortar
ou economizar o que acrescenta, vá com calma na hora de aumentar. Se for para
colocar algo de forma mais exagerada, pode ter certeza que tem algo errado lá no
início, na captação. Geralmente o melhor equalizador está na posição correta do
microfone ou no acerto do amplificador (real ou simulado). Lembre que só se aperta o
botão vermelho do Rec depois que o som está ótimo, não adianta gravar um som meia
boca para depois acertar na mixagem, não funciona geralmente - a não ser quando se
grava em linha, nem sempre, mas ocorre de ás vezes se gravar um "sub-ótimo" para
depois dar uma reduzida nos agudos. Um analisador de espectro de frequências pode
ajudar a ver a faixa de frequências que o instrumento está atuando. Alguns VST tem
presets, eu acho útil e gravo alguns dos meus, mas servem geralmente como
referência para depois dar uma "polida" a acertada na particularidade da música em
questão. O maior segredo está no seu bom gosto guardado na sua cabeça e
especialmente seus ouvidos.

Lembre que o ouvido humano tem uma sensibilidade especial nos sons
médios, em especial entre 500 e 2 kHz. Portanto essa faixa de frequências é a mais
importante numa música, mexer um pouco nessa faixa é bastante notável e o segredo
reside aí. É bom que se tenha uma tabela de frequências dos instrumentos para
referência. Nisso vai se basear muito da mixagem e da masterização. Quando a
música é cantada, a voz precisa ser um ponto chave, então a voz precisa ter espaço
nas frequências, sendo que o principal fica ao redor de 300 Hz a 3 kHz, muito próximo
da faixa principal da audição. Não por coincidência, essa é a largura da faixa de
33

frequências principais dos telefones. Assim, na voz dê uma aumentada de 3 a 6 dB ao


redor de 1600 Hz, com Q médio para alto. Isso dá destaque para voz, para isso retire
um pouco do violão, guitarra, teclados da mesma frequência, os instrumentos
competirão menos com a voz e se ganhará destaque. Um leve ganho, uns 2 dB entre
2,5 e 3 kHz, Q médio (1), melhora e destaca várias consoantes, dando melhor clareza
aos vocais. Músicas com voz sempre dê um corte ao redor de 90 Hz (homens) ou 130
Hz (mulheres) para tirar o que escapa pelos "pop filters" e não embolar com os
instrumentos, especialmente o baixo.

Quanto melhor gravado, menos se precisa mexer na equalização. Umas dicas


para começar a equalização para quem tem dificuldade:

3.2.1. Violão e guitarra limpa

Corte um pouco do ganho (até 6 dB) em 3 kHz e Q médio para não competir
com a voz, junto com o cenro da frequência da voz também. O pessoal de estúdio
gosta de falar em "adicionar brilho", aumente em 5 kHz 1 a 2 dB com Q=1,4 mais ou
menos. Se tiver uns médios meio rachados e irritantes, retire um pouco próximo de
800 a 900 Hz com Q médio. Retire uns 3 dB acima de 8 kHz para tirar um pouco do
ataque de palheta.

3.2.2. Guitarra distorcida

Abaixe uns 6 a 9 dB abaixo de 180 Hz. Em 400-500 Hz dê um ganho de uns 3 dB. As


dicas acima são muito válidas aqui para não competir com a voz. O timbre fica
"abelhudo" com excessos de 6 kHz para cima, corte se isso acontecer.

Uma faixa importante da guitarra é a que fica em 500 Hz. Preste atenção nela,
junto com médios de 200 a 400 Hz. De 800 a 1 kHz fica o ataque. Na dúvida, se
estiver com um equalizador paramétrico, exagere no ganho (para cima ou para baixo)
e com um Q pequeno vá procurando o que sobra e o que falta no controle de
frequências, depois de achada a frequência é só acertar o ganho e o Q. Se o problema
34

for em uma nota estourando (geralmente é uma grave que trasteja ou embola),
procure na net uma tabela de frequências de notas musicais, daí é só colocar o
equalizador paramétrico naquela nota e acertar. De toda forma, lembre que o
importante do som fundamental da guitarra vai de E2 (82 Hz) a D6 (1,2 kHz), sendo
que os harmônicos de 1,5 a 5 kHz, eles que dão brilho e aí que excede quando se
grava em linha. Se o problema for que está embolando com o baixo, é comum que o
problema esteja entre 270 (ou um pouco menos) e 300 Hz, essa é uma faixa crítica, o
"peso" está por aí, não pode sobrar que embola, não pode faltar que fica sem peso.

3.2.3. Baixo e bumbo

Aqui vale uma ressalva, pense se o baixo vai ficar acima ou abaixo do bumbo.
Geralmente em pop o baixo fica acima, em rock costuma ficar abaixo. De qualquer
forma, comece dando ganho, 3 a 6 dB, ao redor de 70 Hz, Q médio, é aí que dá o
"punch" deles. De um corte lá pelos 400 Hz para não competir com guitarras, violões e
instrumentações, melhora o som deles também. Um ganho mínimo, 1 a 1,5 dB lá para
4 kHz aumenta os harmônicos deles e fica mais distinguível em falantes ruins e
headfones.

3.2.4. Caixa (snare)

Aumente em uns 100 Hz, 3 dB com Q 1,4 mais ou menos. Lá para 1,5 a 2 kHz
diminua para não competir com a voz. Um ganho entre 7 e 8 kHz aumenta o som da
esteira.
35

3.2.5. Piano

Um aumento de 2 a 3 dB entre 500 e 800 Hz, com Q médio melhora o som.


Aqui vale muito as considerações para não competir com a voz.

Lembre que na mixagem e na masterização (até onde se pode chegar com isso
em casa) é importante ser um pouco agressivo. Porém tem limites. Para mim se a
equalização precisar passar de 9 a 12 dB para cima ou para baixo é porque tem coisa
errada na captação. Chegando nesse limite já vale considerar se não teve algo errado
na gravação e se não vale a pena fazer de novo.

3.3. Compressão

Compressão é um efeito que visa nivelar a faixa dinâmica, ou seja, os volumes.


Quando o compressor detecta um pico de volume ele automaticamente baixa o
volume, nivelando o som. Esse é um dos efeitos mais complicados e que mais dúvidas
deixa para o pessoal, mas ao ver o resultado de uma boa compressão é fácil notar que
ele é obrigatório numa boa gravação, sendo que a masterização é feita com o uso de
compressores na sua essência. Os parâmetros são: Threshold, Attack, Release, Ratio
e Knee.

3.3.1. Threshold

Esse é o limite máximo de volume que você aceita, acima disso o compressor
começa a atuar. Quando mais para cima, mais próximo do 0 dB, menos seu
compressor vai atuar.
36

3.3.2. Attack

Uma vez que o som passa o limite do threshold, esse parâmetro vai regular
quanto tempo vai demorar para o compressor entrar em ação e baixar o volume.

3.3.3. Release

É o tempo que o compressor leva para voltar o som ao normal, sem


interferência dele, depois que o som não ultrapassa mais o threshold.

3.3.4. Ratio

É a taxa de compressão, ou seja, a taxa de redução de ganho. Assim, se o


ratio for de 4:1, o volume na saída será de um quarto. Ou seja, se o sinal entra em 4
dB acima do threshold, o compressor vai atuar e na saída dele o sinal será de 1dB
acima do threshold.

3.3.5. Knee

É a rapidez que o compressor atua na curva no exato momento que o ganho


começa a ser alterado, até alcançar o ratio. Um hard knee é mais angulado, um soft
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knee é mais arredondado. Um hard knee é menos notado quando se usa altas taxas
de compressão (ratio).

Para fazer seu acerto, é necessário ter atenção aos seguintes fatos. Attack e
release muito rápidos vai distorcer sons graves, quando o compressor mudar o ganho
dentro do período da nota fundamental (no ciclo completo de subida e descida da
onda). Release muito longo também distorce o som. Alguns plugins são capazes de
dar um ajuste automático mais próximo do imperceptível, especialmente com ratios
muito grandes. O attack afeta a percepção de brilho e sons de alta frequência. Se usar
um attack muito rápido a música vai perder ganho de forma geral e o pico incial da
nota (transiente
ansiente da nota) vai ser modificado e acaba incomodando. É preciso acertar o
attack para não perder os transientes, mas um attack muito lento não dá a
compressão sonora adequada, ficando ineficiente.

Para uma compressão bem simples, geralmente começo com attack e release
lentos e ratio ao redor de 4:1, mas isso pode mudar bastante, mesmo porque no fim
geralmente gosto de dar uma comprimidinha (bem leve) mais seletiva com um multi-
multi
compressor (ou paralelo), de frequências mais seletivas, junto com um "stereo
"stere spread"
na master. Para timbres limpos acho legal colocar o equalizador depois da
compressão, mas para timbres bem suaves, equalize antes de comprimir. O noise
gate, quando for usar, sempre antes do compressor, reverb e delay. Especialmente
para timbres limpos de strato, tente um leve exciter depois da compressão e para isso,
é legal que se grave em linha para aumentar os agudos e harmônicos de alta
frequência (tente com e sem speaker simulator) - é assim que se tira um "glassy tone"
bem legal, de preferência
ncia com um Twin microfonado com um Ribbon (pode ser
simulado), se precisar adicionando no equalizador um pouco ao redor de 4 kHz e
tirando agudos em 10 a 12 kHz, claro que depende da guitarra também.

Para uma compressão mais bacana e tentar fazer uma "masterização"


"masterização" em
casa, é interessante mexer mais com a compressão. Sugiro colocar primeiro um
equalizador para controlar as frequências, depois um compressor de attack e release
rápidos mas com threshold alto para não perder os transientes, apenas ter controle
contr
38

deles. Depois um compressor de attack mais lento e release médio, ratio pequeno
para dar uma acertada nas notas, depois dos transientes. Talvez depois ainda um
último compressor de attack e release lentos e threshold mais baixo para dar uma
"normalizada" geral, cuidando dos graves para não estragar e cuidando também que
este diminui o volume geral. No fim, um limiter em -0,1 dB e attack rápido para segurar
os picos e não estourar de forma nenhuma. Essa série toda, que pode ser feita a gosto
do freguês, é legal de usar direto ou em compressão paralela.

3.4. New York Trick, New York Compression ou Compressão Paralela

É muito usado para bateria e baixo principalmente, mas nada impede que seja
usado nas guitarras e também não precisa se limitar a compressão, mas vou falar de
compressão basicamente porque os outros efeitos seguem a mesma linha de
raciocínio. A idéia é manter uma faixa dinâmica satisfatória, com um ataque e
transientes bons, mas com o som comprimido e dentro de uma faixa que interesse. O
mais básico é dobrar o áudio, onde uma faixa fica "crua" e a outra, de volume um
pouco mais baixo, bastante comprimida. Isso mantém a faixa dinâmica, o ataque e não
deixa a faixa tão "achatada", subindo o volume médio. É o que faz qualquer
compressor que tenha controle dry/wet, mas é legal usar até para umas técnicas um
pouco mais complexas.

Uma possibilidade é usar 2 faixas de compressão paralelas (iguais), mas usar


filtros high pass e low pass para separar graves e agudos e tratá-las isoladamente de
formas diferentes, dando mais ênfase em médio-agudos, por exemplo, dependendo da
aplicação. Esse é um dos melhores resultados para compressão e uma boa opção.

3.5. Reverb

O reverb tem a qualidade de colocar ambiência, dando uma espacialidade e


profundidade no som, por isso deixa a mix mais natural e interessante, porque na
prática todo ambiente tem seu reverb - ninguém grava em câmaras anecóicas
39

sofisticadas. Também não existe uma quantidade de reverb padrão, cada música é
uma quantidade.

Quando se usa microfones para captar o som, na maioria das vezes entra
alguma ambiência junto, nem que seja mínima. Para gravar em casa não acho legal
usar um microfone específico de ambiência, mesmo porque a maioria não tem um
ambiente tratado acusticamente, mas nada impede as famosas gravações dentro do
banheiro ou cozinha, ou mesmo posicionar um microfone condensador a 40-50 cm de
um amplificador de guitarra - Alan Parsons, que gravou The Dark Side of the Moon do
Pink Floyd e Beatles entre outros, não gosta de microfones dinâmicos, só usa
geralmente 1condensador, e diz que essa é a distância mínima de microfonar um
amplificador com um condensador, mesmo ao vivo.

O reverb tem muita relação com o pan dos instrumentos. Ele dá uma sensação
de profundidade, então quanto mais reverb, mais se tem a sensação que o som vem
de trás, então ele dá a noção de 3 dimensões do som, a profundidade. Pense num
palco, o vocalista ou o solista (quando o som é instrumental), este assume a parte
mais da frente do palco, então o som é "na cara", o mínimo de reverb, talvez nenhum
(no centro costuma ficar a voz, o baixo de rock, o bumbo e a caixa). Entre o centro e a
lateral, geralmente fica o guitarrista e o tecladista, vai um reverb moderado. Quanto
mais para o lado, mais reverb ganha.

A quantidade de reverb varia com a frequência do som. Sons graves precisam


de um mínimo de reverb, "embola" e domina a mix rapidamente. Sons mais agudos a
quantidade de reverb pode ser maior, Nos sons médios, claro, o reverb é moderado,
mas com cuidado para não estragar a clareza das notas e execução.

Músicas rápidas, com o metrônomo bem alto, não aceita muito reverb, diria que
quase nada,porque ele afeta a clareza das notas. Músicas lentas podem levar um
reverb maior. De qualquer forma, acho que se deve sempre tentar algum reverb, mas
nisso é preciso ser conservador e pegar bem leve.

3.6. Questões de fase

É sempre bom que se verifique se sua gravação tem problemas de fase ou


seja, cancelamento de frequências, especialmente quando se grava com 2 ou mais
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canais uma mesma fonte. Há risco maior disso quando se grava amplificador ou violão
com 2 microfones, quando se grava violão com linha e microfone e quando se faz
efeitos estéreo, por exemplo. Para se verificar isso existem vários plugins, não é difícil
achar. Procure um "Goniometer" ou "Audio Vector Scope". A imagem é mais ou menos
assim:

Ele mostra como está sua mix em relação ao stereo/mono (no caso ilustrado
neste momento a mix está mais para esquerda, porque está mais forte na linha L). A
linha de baixo é o "medidor de fase", onde 0 significa que os dois lados são
completamente diferentes, o +1 significa que os sinais são idênticos e em fase
(correlação total), o -1
1 significa que
que os dois canais são iguais, com fases invertidas,
cancelando. Isso significa que sua mix precisa estar na parte positiva, entre o e +1,
onde não há problemas de cancelamento. Entrou no vermelho, negativo, tem
problema e precisa ser corrigido.

Evite colocar
ar frequências iguais no mesmo pan da música, desloque um pouco
a posição na mix. Eu gosto de acrescentar um "stereo spread" nas músicas, para dar
uma noção de maior espacialidade.
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IV. GRAVANDO VIOLÃO

Gravar bem violões é um grande desafio. Há uma grande variedade de tipos de


violões, que variam a sonoridade, a captação do som e suas nuances. Muito do que
for dito aqui serve para captar violão de aço, de nylon, bandolim, cavaquinho, ukulele e
mesmo archtops.

4.1. Violão elétrico

Existem vários tipos, modelos e marcas de captadores para violão. Aqui tudo
faz diferença, na qualidade do violão e na forma que é captado.

Os sensores de tampo ou "soundboard transducers" dão um som interessante,


mas tendem a amplificar também o manuseio do violão, tudo que toca no violão,
especialmente no tampo, faz som, especialmente se estiver com ganho alto. Tem uma
tendência a feedback mais acentuada. O som é costuma ser bom.

Há os captadores magnéticos para violão, parecidos com os de guitarra. São


os mais resistentes a feedback, mas o som não é exatamente de um violão acústico.
Geralmente tem só controle de volume, quando tem. São de alta impedância, como os
de guitarra.

Existem os captadores que são pequenos microfones, geralmente


posicionados próximos ao bocal. Dão um som bem próximo do acústico, geralmente
com um pouco a mais de graves, mas são bem sensíveis e tendem a dar feedback.

A grande maioria dos violões elétricos tem o "piezo" ou "undersaddle pickup".


Tem uma resistência moderada a feedback e não amplifica o som do manuseio, tem o
osm mais próximo do acústico que os magnéticos. Esses muitas vezes vem com um
pré-amplificador a bateria de 9V, com regulagem de volume, equalizador, inversor de
fase, eventualmente afinador. O problema que tem um som característico, com mais
agudos e com uma "rachadinha" nos ataques mais fortes. A bateria precisa estar forte
para uma boa gravação, pouca carga muitas vezes começa a dar um som mais
"rachado" e incômodo. Muitos modelos tem outro tipo de captador associado ao piezo
para dar um som mais acústico e balancear os dois sons. Preste atenção que se seu
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violão tiver pré, geralmente vai numa entrada de baixa impedância, mas nos modelos
que não tem bateria, costumam ser de alta impedância.

Meus melhores resultados num som plugado são quando uso modeladores
eletrônicos com o piezo. O destaque desse tipo vai para o Fishman Aura, que tem
vários tipos, pedal grande e pequeno, embutido no violão e o Boss AD-8. Ambos tem
equalizador, afinador e anti-feedback. Eles tratam o som plugado do violão simulando
o som dele como se fosse microfonado.

Outros efeitos podem ser usados para tirar o som "fechado" do piezo e dar o
som como se fosse o natural, desplugado, de um violão. Quem não tem um pedal
como o Fishman e nenhum outro similar, pode tentar com o equalizador. Não sei quais
plugins permitem fazer isso também, mas no Logic Pro tem um equalizador que
quebra um galho para isso. É uma dica de equalização para quem tem dificuldade de
acertar uma equalização, apesar de ser específica. No Logic Pro tem um equalizador
chamado Match EQ. Nesse equalizador muito interessante você analisa uma faixa
referência, pode ser um timbre de seu artista referência ou seu som de violão
microfonado (pode ser uma microfonação meia boca). Apertando um botão, o primeiro,
ele analisa o espectro de som da sua track referência. Apertando um segundo botão,
ele analisa o som que você quer que se aproxime daquele primeiro, pode ser seu som
plugado do seu violão elétrico. Finalmente ao apertar um terceiro botão ele dá uma
equalização para seu timbre ficar parecido com a referência. Isso serve para tentar
aproximar seu timbre em relação a um timbre de um músico famoso, vá lá, talvez a
rapaziada possa gostar da ideia mesmo para guitarra. Mas o que é muito legal disso é
na hora de gravar um violão, faz referência com o som microfonado e usa sobre o
piezo para aproximar do som microfonado. Funciona razoavelmente, li na net sobre
isso, depois testei e vi que ajuda sim.

4.2. Microfonando o violão

Aqui que se consegue os melhores sons de violão geralmente. O espectro


sonoro dos violões são um pouco diferentes da guitarra, com mais graves (mas as
altas frequências são importantíssimas no violão, junto com transientes bem
definidos), então o ideal é usar um condensador para microfonar, o SM-57 do
amplificador de guitarra não acho muito legal a não ser que seja usado captando sons
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com menos transientes e mais médios-agudos em conjunto com outro microfone ou


mesmo em linha. Mas prefiro os resultados dos condensadores para gravar violões,
tanto os de diafragma grande quanto os pequenos, com vantagem para os de
diafragma pequeno por serem mais sensíveis a altas frequências.

Algum reverb da sua sala captado pelo microfone é até desejável. Muitos
técnicos de estúdios gostam de colocar biombos para que o instrumento fique próximo
de superfícies reflexivas - ás vezes até um porta pode ajudar – deixando o espaço
bem compacto para reverberar.

4.3. Posicionando o microfone

A posição para microfonar um violão é um assunto um tanto complexo e


depende de vários fatores, então nesse item é importante fazer tentativas, bastante
paciência e calma. O “sweet spot” para posicionar um microfone num violão é
bastante complexo. No próprio site da Royer Labs, que faz os renomados microfones
de fita (ribbon), eles dizem que esse tipo de microfone é muito bom para violões (é
mesmo), mas vão soar melhor um pouco mais distantes que microfones
condensadores, mas em violões é necessário colocar mais ganho no pré. O problema
é que um ribbon costuma ter padrão de captação em “8”, colocado mais distante,
tende a captar quase toda reverberação da sala, o que pode ser bom num estúdio ou
péssimo num home.

Talvez até intuitivamente, a primeira posição que se pensa é colocar um


microfone na boca do violão. É uma boa posição para sons ao vivo porque o
vazamento é menor, mas um microfone aí, ainda mais posicionado próximo, vai ter
muitos graves e estrondos (boomy em inglês).Por isso vai precisar um acerto no
equalizador, então para ao vivo pode ser bom, mas para gravação não é muito.

A regra geral é quanto mais para o bocal, mais graves, e quanto mais para o
braço, mais brilho. Em estúdios um microfone com padrão omnidirecional pode ficar
melhor, mas em quartos pequenos e com a acústica mais limitada (como a maioria
dos home studios), um microfone de padrão cardióide pode resolver melhor o assunto.
Um posicionamento um pouco mais afastado ajuda na captação geral do som, já que
muito próximo pode ocorrer de captar só uma parte da acústica do instrumento,
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especialmente se for próximo do bocal, onde há mais energia sonora. Como gosto de
violões de bom corpo, com boa projeção, o posicionamento frontal a boca do violão
não costuma me agradar muito. Para violões, costumo começar posicionando o
microfone na altura do 12° traste, com alguma incli nação em direção ao bocal. Já
quando microfono guitarra archtop, posiciono próximo da ponte com inclinação para a
região do ataque das cordas, já que os “f holes” são laterais e não direcionam tanta
energia sonora direta ao microfone, captando bastante grave e pouco brilho das
cordas flatwound. Mas isso é gosto, cada um deve testar e achar o posicionamento
ideal.

Vale a mesma sugestão do posicionamento para guitarras, para pesquisar a


posição um fone de ouvido para monitorar o som do microfone é bastante útil.
Especialmente quando se grava de forma mais profissional em estúdios, recomendo
posicionar o violão em stand próprio para fixar a posição em relação ao microfone e
não ocorrer muitas variações, coisa que muito estúdio esquece ou não tem, mas
melhora o resultado (tem quem não goste e a movimentação se faz necessária para a
técnica). Outra opção é usar microfones pequenos que se fixam no corpo do violão.
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4.4. Gravação em estéreo

Os melhores resultados em gravações de violões costumam ser combinando


mais de um sinal. Se existem muitos canais e instrumentos na música, sem a intenção
de se usar o violão em estéreo, mesmo assim é melhor gravar em estéreo deixar em
uma só track depois, a sonoridade que se consegue é melhor. Por isso recomendo
sempre que possível gravar em pelo menos 2 canais os instrumentos acústicos. Num
home studio simples, se seu violão tiver uma boa captação é uma boa ideia gravar um
canal em linha e outro canal com microfone, tirando o "som de piezo" e criando uma
imagem estéreo. Aliás, mesmo num grande estúdio eu recomendo sempre ter o sinal
em linha, sem ruído, pois numa necessidade pode ser usado.

Uma técnica interessante é posicionar 2 microfones, a uns 10 a 15 cm do 12º


traste em XY. O ideal é colocar 2 microfones cardióides, de preferência 2
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condensadores de cápsula pequena, num ângulo como 120 graus e quanto mais
próximas as duas cápsulas, menor a chance de cancelamento de fase (diria até que é
praticamente à prova de problemas de fase).

Posicionamento em XY

Outra forma de microfonar, que é a minha preferida, é um posicionamento mais


espaçado, alguns chamam de A/B. A intenção seria colocar um microfone bom para
graves próximo da ponte, por fora, captando um som bem quente refletindo a madeira
do tampo, com graves, se quiser mais transientes e som das cordas e palhetas nele é
só inclinar um pouco em direção ao bocal. Este microfone fica legal usando um
condensador de diafragma grande. O outro microfone seria
seria para pegar mais agudos,
na altura da 3ª casa, apontando para 5ª casa mais ou menos, pegando o som das
cordas e harmônicos. Este microfone, idealmente, fica bom sendo um condensador de
diafragma pequeno, esse um pouco afastado. De toda forma, outros microfones
micr
podem ser escolhidos, com 2 condensadores de diafragma pequeno ou grandes, até
um dinâmico para pegar agudos.
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Algumas pessoas preferem posicionar microfones mais distantes, para pegar


mais ambiência, mas isso eu recomendo cuidados e testes para acertar o som em
casa, se o ambiente não for tratado acusticamente. A vantagem é que mais distante se
pega o som de mais partes do violão ou mesmo de toda a projeção sonora do violão,
com uma ambiência bastante natural e agradável. Para isso os condensadores são
muito bons. Há quem goste de posicionar o microfone de ambiência acima do ombro
direito do violonista (se o mesmo for destro), apontando para a região da boca ou
ponte, pegando um som um pouco mais agudo do que se posicionado em frente ao
músico. Eu prefiro um som mais "gordo", da posição mais frontal ao violonista, mas
essas posições de mais ambiência eu prefiro deixar para gravações em estúdios com
isolamento e acústica boa. Quanto mais microfones, mais chance de aparecer
problema de fase, então cuidado com isso.
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ANEXO A

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