Você está na página 1de 10

2º Seminário de Meio Ambiente e Sustentabilidade

Grupo Fluminense Multimídia/Universidade Candido Mendes


Auditório UCAM-Niterói, RJ, Brasil - 14 e 15 de março de 2017

ANIMAIS E SOCIEDADE NO BRASIL DOS SÉCULOS XVI A XIX:


HISTÓRIA AMBIENTAL, COMPOSIÇÃO DE DIREITOS
E POLÍTICAS CONTEMPORÂNEAS
Ana Lucia Camphora PhD1
alcamphora@gmail.com

Artdesign a partir de detalhe da gravura Pescadores – costa de Ilhéus (Rugendas, 1835)

RESUMO
Esta apresentação realizada em 15 de março de 2017, durante o 2° Seminário de Meio Ambiente e Sustentabilidade
promovido pela Universidade Candido Mendes-Niterói, RJ, focaliza a história da condição animal no Brasil, entendida como
parte de uma abordagem interdisciplinar. Ao revisitarmos a narrativa histórica buscando resgatar as outras espécies animais
do lugar marginal e pouco relevante que lhes destinaram as teorias sociais, também proporcionamos uma compreensão mais
ampla dos valores e interesses que pautam perspectivas contemporâneas orientadas para o Direito Animal. O que foi dito a

1
Psicóloga, Doutora em Ciências Sociais (Pós-graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade- Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro), Mestre em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social/EICOS- Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora convidada
dos cursos de Pós-Graduação em Direito Ambiental da Escola de Administração Judiciaria do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e da Escola
de Magistratura do Rio de Janeiro.

1
respeito dos animais, e de como participaram do processo de ocupação e colonização do Brasil, revela um campo
multifacetado de práticas, valores e saberes que expõem os diversos matizes de um capítulo ainda obscuro de nossa História.

ABSTRACT
This seminar presented at the 2°Environment and Sustainability Seminar organized by University Candido Mendes (Niterói,
RJ), held in March, 2017, focuse the history of animal condition in Brazil, under an interdisciplinar approach. This review of
historical narratives intents rescue other animal species from pheriferal and irrelevant set destined for them by social
theories, as well as to offer broader understanding on values and interests which have guided contemporary features
concerned by Animal Rights. What was said about animals and their participation in the process of Brazil ocupation and
colonization reveals a multi-faceted field of practices, values and knowledges which exposes several shades of a still obscure
chapter of our History.

INTRODUÇÃO
Ao considerar a violência das ações humanas contra a natureza ao longo da história e a inexistência de
um direito normativo que abarcasse seus efeitos, Michel Serres (1991) propôs que se firmasse um
novo contrato incorporando uma visão global do planeta. Segundo ele, no contrato social que
estabeleceu princípios de individualização do ser humano e desenvolvimento da sociedade, a natureza
permanece de fora, muda e inerte. As regras que governam os homens, sua história e sua razão,
ignoram e silenciam a respeito do mundo:
Amar somente os próximos ou semelhantes só leva à equipe, à seita,
ao gangsterismo e ao racismo; amar os homens, explorando os
próximos, é a hipocrisia frequente dos moralistas pregadores. Esta
primeira lei faz silêncio sobre as montanhas e os lagos, por ela fala
aos homens dos homens, como se não existisse mundo. Serres,
1991:62)
Os modos de interação entre sociedades humanas e seus ambientes estão imersos em relações de
poder que trazem questões cruciais para a Ecologia Social. A revisão dos sistemas de pensamento se
torna um eixo norteador para repensar as representações de mundo hegemônicas e por em xeque a
ideia de sujeito e sua subjetividade.
Fronteiras mais fluídas nos sugerem que o humano não é mais o lugar exclusivo da identidade, razão,
consciência, individualidade e subjetividade. Implicações derivadas nos permitem refletir sobre
parâmetros e valores que norteiam o campo das disputas, dos conflitos e dos projetos de
desenvolvimento, assim como experimentar a instabilização da concepção de singularidade do
homem, sujeito político que se distingue por sua humanidade, ao mesmo tempo, sujeito neutro que
produz e legitima o discurso científico.
Ao reproduzir uma visão de mundo que mantêm isolados os fatos da natureza e os fatos políticos, a
narrativa histórica garante aos humanos uma representação própria, fundada na naturalização dos
atributos que distinguem os animais humanos dos não-humanos.
Se revisitamos tal narrativa com o propósito de compreender a dimensão e o alcance dessa
composição, também nos situamos em relação a uma possível revisão dos valores e representações
que pautam nossa visão de mundo, na atualidade. Essa revisão pode criar perspectivas auxiliares a
novas bases de reconhecimento e convicções quanto ao necessário compartilhamento de direitos
essenciais a esses atores mudos, e tão fundamentais.
Rassi (2012) ensina que toda história é construída a partir de narrativas e se materializa no discurso
como expressão de um sujeito que detém a linguagem. Um fato se torna um acontecimento histórico
por sua relevância, e então, se torna parte da história de um povo, da cultura de uma sociedade. O
acontecimento histórico e o acontecimento discursivo refletem as formas como determinado fato é
percebido e comunicado, como se atualiza e se mantém presente na memória coletiva. O historiador
identifica o caráter histórico de um determinado evento seguindo uma rota interpretativa, buscando

2
itinerários que formam o acontecimento discursivo, como resultado de uma escolha orientada para a
criação de novos espaços de significação.
Nos primeiros quatro séculos de formação do Brasil, inumeráveis rebanhos de gado conduzidos por
boiadeiros, tropas de mulas e cavalos, índios, Santa Inquisição, onças, beija-flores, naturalistas,
escravos, cavaleiros, cães, missionários e galinhas formam uma legião, uma estranha rede na qual,
como diz Bruno Latour, os atores não são comparáveis e, no entanto, estão todos envolvidos na mesma
história.
Se essa história é traçada sobre fatos e eventos fragmentados - a propósito, como nossa própria
memória é fragmentada, uma tomada de consciência em relação aos imbricados fatos que formaram
essa trajetória, nos indica que ela jamais foi exclusivamente humana. Ao contrário do que nos foi
ilustrado pela visão de mundo convencional, esses fragmentos podem ser um ponto de partida para
ampliarmos nossa compreensão, buscarmos uma ressignificação dos atributos e valores que
associamos às outras espécies animais.

TERRA PAPAGALI
Em pesquisa realizada a partir de cerca de 130 obras de autores clássicos e contemporâneos, um
significativo acervo de fontes primárias e secundárias descrevem a presença animal. Fragmentos de
percepções em estilos narrativos bem distintos nos convidam a refletir sobre a diversidade das
interações vividas entre humanos e não-humanos, ao longo dos primeiros quatro séculos de formação
da sociedade brasileira.
O percurso adotado me levou muito além da concepção arbitrária que tende a datar uma história
ambiental, ou da fauna do maior território colonial da América do Sul, considerando registros dos
viajantes naturalistas que percorreram o Brasil, a partir de 1808. Além da concepção moderna de uma
visão científica emergente, inflada de categorias para dominar e submeter a natureza em um discurso
antropocêntrico, há três séculos anteriores repletos de narrativas híbridas, indissociadas, onde
humanos e não-humanos compartilham uma mesma cena, que nos cabe revisitar.
Autores contemporâneos sinalizam movimentos de renovação. A partir da análise sobre influências do
pensamento científico europeu no cenário colonial, Kury (2012; 2015) e pesquisadores associados
examinam as representações da cultura ocidental a respeito da natureza do Novo Mundo. Para esses
autores, o Brasil é o resultado de uma ação conjunta, nem sempre orquestrada, de seres humanos e
animais, que ...se inseriram decisivamente nas conquistas européias do Novo Mundo. (Velden,
2015:36).
Em sensível e consistente investigação das relações e significações compartilhadas entre o boi e o
escravo negro, no continente africano e no Brasil, Viviane Lima de Moraes (2009) percorre a história
das subjetividades que emergem desse vínculo tão emblemático que tem no campo das tradições
populares do Bumba-meu-boi uma legítima expressão dessa arqueologia mítica.
A dinâmica econômica associada aos serviços de tração animal prestados por tropas de mulas, e os
negócios realizados entre os séculos XVII e XIX, foram detalhadamente investigados por Carlos
Eduardo Suprinyak (2011; 2014), através de dados quantitativos esclarecedores sobre a atividade. A
pesca à baleia e seus reflexos na economia brasileira é um tema revisitado em estudos recentes. Sobre
a atividade, que perdurou entre os séculos XVII e XIX, há registros dos métodos de pesca, produtos e
subprodutos derivados das baleias e a percepção da sociedade sobre a prática.
Esse conjunto de perspectivas atestam que fatos que definem a evolução das sociedades humanas são
resultados de redes complexas de interação, formadas por atores humanos e não-humanos, assim
como por elementos técnicos. Pierre Levy (1999) descreveu nossa consciência como parte de um
ambiente habitado por uma pluralidade de partes e seres, onde ela mesma se situa entre as inúmeras
interfaces que nos conectam a esse ambiente. O que criamos, portanto, resulta da multiplicidade de
conexões heterogêneas que envolvem sujeitos e objetos que não ocupam lugares fixos: Tudo que for
capaz de produzir uma diferença em uma rede será considerado como um ator, e todo ator definirá a si
mesmo pela diferença que ele produz. Levy, op.cit.: .

3
De volta ao período focalizado, a carta escrita por Pero Vaz de Caminha é emblemática por descrever o
momento mítico de nascimento do Brasil, ainda que o documento original tenha sido, ele próprio,
descoberto somente em , por Seabra da Silva, na Torre do Tombo, em Portugal, conforme
explicou Rubem Braga (1999).
Impossível descrever a paisagem do novo território sem incluir os papagaios. Grandes, pequenos,
vermelhos, verdes, coloridos, cortavam as florestas ao longo da costa e adentravam para o interior.
Caminha observou que suas penas eram parte do vestuário e dos ornamentos dos ameríndios. Então, o
papagaio se tornaria alegoria obrigatória nas representações do Brasil colonial e, junto com o pau-
brasil, um dos primeiros produtos negociados na Europa. Em 1502, os primeiros mapas das terras
recém-conquistadas, exclusivos da Corte Portuguesa, foram ilustrados com papagaios e araras
vermelhas. As Cartas N|uticas identificavam o território como Terra dos Papagaios .
Em troca de sua força de trabalho e saberes relacionados aos recursos naturais disponíveis, o
ameríndio recebia utensílios e ferramentas dos europeus. Facões, machados, espelhos, anzóis e contas
coloridas se tornaram bens essenciais para suas atividades cotidianas. Os navios abastecidos com
madeira, também levavam aves e macacos, as alegorias vivas do além-mar :
...era sobretudo o pau-brasil ou pau-de-tinta que visavam esses
homens claros e bem falantes, os seus navios, quando de retorno,
nunca deixavam de levar também outras preciosidades da terra,
como pimenta, algodão, penas de aves e, muito especialmente, entre
outros bichos exóticos, vistosos papagaios e irrequietos saguis que
quando vencido o Atlântico, lá chegavam bem vivinhos, eram
disputados a bom preço. (Cruls, 1952:39).
Após cruzarem o Atlântico, alguns desses animais se tornavam mansos e domésticos, como os
formosos e lindos saguis, muito estimados em Portugal, ...pelo seu bom cabelo, pequeno corpo, feições
de rosto, e viveza dos espíritos. Brandão, : .
Guilherme Piso (1957: 240), médico holandês que acompanhou o Príncipe Maurício de Nassau durante
a ocupação holandesa, descreveu um coelho nativo, maior do que os coelhos europeus e com mais
cores em sua pelagem, que se adaptou muito bem às diferentes regiões da Europa, ...grunhindo, como
que mendiga o alimento às pessoas da casa, à maneira de uma cadelinha doméstica.
Por sua vez, os ameríndios, que também capturavam filhotes de animais selvagens e os criavam como
animais de estimação, xerimbabo ou membro querido da família , segundo Velden , também
acolheram as galinhas e os cães trazidos pelos europeus. Além de araras, papagaios, garças e tucanos
retirados dos ninhos e criados nas aldeias, as antas circulavam nas aldeias, ... onde se fazem muito
domésticas e tão mansas que comem as espinhas e os ossos com os cachorros e gatos de mistura; e
brincam todos juntos. Souza, : .
O interesse sobre os animais desconhecidos do Novo Mundo se disseminou entre a elite européia que
enriquecia suas coleções e criatórios privados. Animais do Brasil se tornariam sofisticados presentes
que circulavam entre filósofos, naturalistas e membros da realeza. Os mais exóticos e curiosos, como
tatus, tucanos e aves coloridas, eram fornecidos por negociantes que tiravam o proveito de tudo o que
encontravam nas terras novas . A conservação das carcaças durante a longa travessia marítima era
feita com sal e os órgãos eram retirados. Preguiças, araras, papagaios e tucanos formavam o acervo do
Imperador Rodolfo II, em Praga. Em Portugal, exemplares vivos e mortos eram fornecidos por
missionários da Companhia de Jesus. Uma das maiores coleções de animais nativos das colônias
pertencia ao Colégio Romano da Companhia de Jesus, cujo propósito consistia em expor as maravilhas
que atestavam a dimensão divina da natureza:
Os padres jesuítas tiveram que dar conta, quando chegaram ao
Brasil, de explicar uma quantidade de animais novos para os olhos
dos europeus, diferentes daqueles descritos pela bíblia, dos que
teriam embarcado na Arca de Noé. Manuel da Nóbrega observou
que há animaes de muitas diversas feituras, quaes nunca conheceu
Plinio, nem deles deu noticia. (Franco, 2015:218)

4
Padre Fernão Cardim (1925) comparou o bicho-preguiça com um cão felpudo, e seu rosto ao de uma
mulher mal toucada . Concluiu que, por comerem apenas folhas de determinada |rvore, esses animais
não sobreviveriam em Portugal. Em 1555, Frei André Thevet, cosmógrafo da expedição francesa, o
descreveu como um animal que,
...quando preso suspira como uma criança que sente dores. Seu pelo
é cinzento e felpudo como o de um ursinho. Patas compridas com
quatro dedos, três com grandes unhas parecendo grandes espinhas
de carpa, com as quais trepa na árvore, onde fica mais tempo do que
na terra... ninguém jamais o viu se alimentando ... vive de vento.
(Belluzzo, 1994: 36-37).
Para verificar essa hipótese, o padre Joannes Torus, procurador do reino na América, teria pendurado
uma preguiça, por quarenta dias sem comer e beber, conforme observou Leite (2015). No século XVII,
outro jesuíta, o espanhol Juan Nieremberg, desmentiu essa crença assegurando que a preguiça se
alimentava de insetos, orvalho e certas folhas, {s escondidas .
O impacto e interesse do europeu sobre animais exóticos e bizarros do continente australiano
refletiam uma perspectiva muito distinta da realidade vivida nos territórios coloniais, ao longo dos
séculos XVIII e XIX. Segundo White (2013), um mesmo animal, como o canguru, que despertava a
curiosidade da sociedade inglesa, era essencialmente considerado uma fonte de alimento para o
colono.
O comportamento humano também servia como referência para descrever as atitudes de
determinados animais. Durante uma pescaria, Ambrósio Fernandes Brandão observou a captura de
um peixe e constatou que o companheiro do peixe pescado teria permanecido no mesmo lugar,
durante seis ou oito dias, mesmo quando a maré baixava, dando pancadas com o rabo, como querendo
mostrar o sentimento pelo companheiro perdido. Concluiu que se pode achar amor em toda coisa
vivente, em uns mais e em outros menos , ao perceber ...claramente haver também amor entre êstes
mudos nadadores. Brandão, 2010:148).
Os jesuítas criaram sua própria história natural, adequando informações existentes à luz da teologia,
... um saber voltado para a compreensão daquilo que havia de divino na natureza e não da natureza em
si. Leite, : .
Sergio Buarque de Holanda (1975:108) registra que, em 1710, as onças que invadiram a freguesia de
Nazaré, em São Paulo, foram consideradas uma prova da cólera de Deus: ...o terror que costumava
infundir a onça aos colonos e antigos naturais da terra levou muitos padres a apresentá-la como um dos
instrumentos de que se servia a Providência para punir os homens .
Sua presença era um aviso para que os moradores se arrependessem dos seus erros passados e
presentes. Como descreveu o Padre Belchior de Pontes: ... huma só onça, armada de sua natural fereza,
dá trabalho a muitos; que seria se muitas se unissem a vingar as injúrias que tinham cometido os homens
contra seu Creador . op.cit.:108-109).
Ao descrever o comportamento do seu papagaio falante, o Príncipe Maurício de Nassau associou essa
habilidade a um poder demoníaco:
Este é o papagaio que tão habilmente responde e formula
perguntas que as muitas centenas de pessoas que o ouviram nada
mais puderam concluir senão que era o demônio que falava através
dele. Comigo não viveu mais do que 14 dias. Quando morreu, estava
tão duro como um pedaço de madeira. Leite, : .
Parte do processo de aclimatação dos europeus que aqui permaneceram consistia, fundamentalmente,
em assimilar os costumes, a dieta e os modos de sobrevivência do ameríndio. Saber identificar os
animais de carne saborosa (e os peçonhentos) era essencial. Comia-se macacos, gambás, tatus,
formigas, larvas de insetos, cobras, jacarés, papagaios, lagartos, queixadas, pacas, catetos, capivaras,
antas, ariranhas, coelhos-do-mato, cotias, preás, ouriços, ratões, veados, sem falar nas diversas
espécies de peixes de água doce e salgada, e das inúmeras espécies de aves.

5
Na primeira metade do século XVI, Gabriel Soares de Souza, colono da Província da Bahia de Todos os
Santos, produziu o primeiro e mais importante tratado descritivo sobre as condições ambientais do
Brasil. Descreveu as diversas aves e galinhas do mato , o modo de caç|-las à flechadas e com cães, e
como prepará-las para garantir o paladar e a qualidade de suas carnes. Sobre os papagaios, araras e
tucanos observou que, conforme a espécie, suas carnes eram duras ou saborosas. Ressaltou o sabor
das pombas e perdizes , dos tatus, macacos, ariranhas, cágados, preás, cobras, lagartos e da preguiça,
cuja carne os índios não comem ...por terem nojo dela . ( Souza, 1974:140).
O paladar das carnes desconhecidas era comparado ao sabor daquelas consumidas na Europa. O
Padre José de Anchieta comparou o sabor das larvas de insetos assadas e torradas à banha de porco.
Havia os que as consideravam tão saborosas como miolo de boi e manteiga fresca: Muito alimento que
parecia repugnante a paladares europeus, teve de ser acolhido desde cedo por aquela gente,
principalmente durante as correrias no sertão, pois a fome é companheira constante da aventura.
(Holanda, 1975:63).

UMA TERRA SÃ PARA VIVER


Missionários da Companhia de Jesus transmitiram a Portugal impressões serenas e otimistas sobre o
Brasil, descrito como uma terra sã para viver e de bons ares . Mesmo assim, aqueles que aqui
chegavam vinham sozinhos, sem suas famílias, com o propósito de acumular fortuna e regressar para
Portugal. Os ataques frequentes, e muitas vezes fatais, de tribos indígenas que resistiam à ocupação
europeia não eram os únicos obstáculos. Sarnas, febres, malária, diarreias e insetos eram inimigos
imbatíveis e permanentes. Carrapatos, bicho-de-pé, borrachudos, piolhos e mosquitos flagelavam os
indígenas e europeus, dia e noite.
Ao comentar sobre os ataques das perigosas piranhas que cortavam ferozmente os testículos dos
índios, Ambrósio Fernandes Brandão concluiu que ... não haverá já coisa na vida que me faça meter nos
rios desta terra; porque ainda que não tenham mais de um palmo d água imaginarei que já são essas
piranhas comigo, e que me desarmam da coisa que mais estimo. Brandão, :
Mosquitos transmissores de malária, formigas e cupins que destruíam lavouras inteiras eram,
aparentemente, invencíveis. Nos registros sobre as expedições realizadas entre São Paulo e Iguatemi,
na segunda metade do século XV))), h| relatos sobre in’meras imundícies :
As pulgas eram em tamanha quantidade que se não podia dormir
de noite, nem sossegar de dia; estranhos bichos gadelhudos,
nojentos e molengos subiam por toda parte, perseguindo os homens;
nuvens de gafanhotos escureciam o sol, deixando a desolação onde
passavam; os mosquitos eram tais e tantos, que os próprios cavalos
fugiam do campo, entrando nas casas e metendo as cabeças por
cima do fogo para se livrarem das picadas; os grilos não davam
descanso, pois roíam as testas, narizes e pés dos que apanhavam
dormindo, além de despedaçarem as roupas... (olanda,
1975:113).
De acordo com Ribeiro (1971), o matemático e astrólogo da Companhia de Jesus, Padre Valentim,
afirmou que a epidemia de febre amarela que atingiu Pernambuco e Bahia era consequência dos
eclipses da lua e do sol, ocorridos em 1685. No Brasil, médicos eram raros e não havia acesso a meios
convencionais de tratamento. Os hospitais da Irmandade da Misericórdia formavam seus próprios
cirurgiões práticos e forneciam aos doentes pobres, basicamente, leito e alimento. Procedimentos
terapêuticos e pequenas cirurgias raramente eram ministrados por médicos.
No século XVIII, um médico português anunciou os efeitos curativos das fezes de cachorro para
tumores de garganta e ferimentos. A respeito do uso generalizado dos excrementos, Sergio Buarque de
Holanda (op.cit.), fez referência à observação de Mario de Andrade sobre uma possível correlação
entre essa prática e a experiência de adubação para o preparo da terra a ser cultivada, observando que
tal associação seria também revitalizante para a saúde do corpo.

6
Diversos tipos desses vermes aquáticos eram vendidos nas boticas, vendas, padarias e anunciadas nos
jornais, até o século XIX. Sanguessugas importadas de Portugal, Itália, Espanha, Rússia, Suécia,
Noruega, França e Turquia eram vendidas por unidade ou pelo cento, com garantia de troca, caso não
pegassem . Ressaltou Rocha que as mais comuns eram as bichas pretas de superior qualidade ,
provenientes de Lisboa.
Para garantir sua própria sobrevivência, colonos e missionários observavam como determinados
animais faziam uso de determinadas plantas, como a copaíba, esfregando suas feridas nos troncos
dessa árvore com poder cicatrizante. Ou como o macaco guariba, utilizava determinadas plantas em
sua automedicação:
Estes guaribas costumam a fazer-se a barba uns aos outros,
quando as têm crescidas, ajuntando-se para isso de certas pedras
agudas, unhas e dentes; e quando se lhes tiram com algumas frechas
e delas são ligeiramente feridos, tornam com muita brevidade a
tira-la logo do corpo; e com acendida cólera a arremessam contra o
que lha atirou, intentando fazer o mesmo que lhes fizeram, e a
ferida curam depois com facilidade, aplicando-lhe certas ervas só
dêles conhecidas. Brandão, : .
Missionários anotavam esse receituário natural, assim como os locais onde os componentes eram
coletados. As fórmulas criadas pelo ameríndio pareciam infinitas, e os misteriosos poderes de cura
atribuídos a determinados animais foram assimilados pelo colonizador. De fato, eram pouco claras as
fronteiras entre os princípios que regulavam a medicina clássica, guiada por ideias universalistas e
generalistas de Hipócrates, e os princípios que orientavam o uso dos recursos oferecidos pela natureza
brasileira.
O chifre do veado torrado misturado à banha do jacaré era considerado um antídoto eficiente contra
veneno de cobras, muito usado por viajantes europeus. A carne do sapo cururu, torrada e pulverizada,
aliviava os trabalhos de parto, e dentes de cascavel moídos eram recomendados nas úlceras malignas.
Para a febre amarela, receitava-se sanguessugas e pombos abertos vivos pelo espinhaço postos nas
plantas dos pés . Ribeiro, : .
Para tratar a varíola, era indicado um linimento para ser aplicado nas feridas, feito com cabeças de
coelho assadas. Os miolos eram retirados e amassados com o sumo de algumas ervas. O tratamento
incluía a pedra de benzoar do bucho do porco espinho.
Determinadas espécies, como o jabuti e o gamb| possuíam virtudes admir|veis , autênticas fontes de
saúde recomendadas para inúmeros propósitos. A cauda do gambá misturada com água, era indicada
para doenças renais e para a expulsão de pedras, além disso curava cólicas, fazia gerar leite, tirava
espinhas se mastigada, acelerava os partos. (olanda, : .
A anhuma, ave do tamanho de uma galinha muito comum em várias regiões do país, foi intensamente
perseguida por seus diversos usos medicinais. Seus ossos, pés e esporas eram usados como amuletos
contra envenenamentos, mordeduras de animais e mau-olhado:
Refere-se Couto de Magalhães que uma anhuma caçada no porto
da Piedade, durante a viagem que realizou ao Araguaia, foi causa
de grande desavença entre alguns dos camaradas que o
acompanhavam. Cada qual se achava com direito ao melhor
pedaço: este reclamava o unicórnio, aquele os esporões, um terceiro,
determinado osso. Era costume, em toda a província de Goiás,
levarem as crianças um desses amuletos atados ao pescoço, com o
que se livrariam de qualquer moléstia ou acidente. (olanda,
1975:97).
Os registros também mostram que, já no século XVI, a apropriação dos métodos de cura dos povos
nativos das colônias e o livre acesso a seus componentes proporcionou um diversificado acervo de
alternativas medicinais para a sociedade europeia combater algumas de suas próprias moléstias. É o
que sugere a semelhança da receita indicada em 1685, por uma certa Madame de Sévigné que,
segundo Michel Foucault (1978:304), prescrevia serpentes, e quanto mais venenosas mais eficazes

7
para uma saúde perfeita, porque o veneno desses animais tempera, purifica e refresca o sangue
feminino, desde que se utilize serpentes verdadeiras:
Peça ao sr. de Boissy que lhe mande dezenas de víboras de Poitou
(piton) numa caixa, separadas cada três ou quatro, a fim de que se
sintam à vontade, com farelo e musgo. Pegue duas, todas as manhãs,
corte-lhes a cabeça, tire a pele, corte em pedaços e recheie o corpo
com um frango. Faça isso durante um mês.
Câmara Cascudo (1993) observou que a serpente, animal primordial no imaginário da civilização,
sempre esteve associada a doenças femininas e males da sexualidade, como símbolo de fertilidade e
imortalidade. Nas picadas de cobras venenosas, frequentes no Brasil, eram indicadas rezas, ervas,
fumo, aguardente e a própria cobra. Mas a vítima devia ser afastada da presença feminina, que estava
associada ao seu poder maléfico.
É possível que a receita da curandeira francesa tenha sido obtida a partir da observação de
exploradores franceses que se instalaram no Brasil, ou em outras colônias da América Latina ou África.
O médico alemão von Martius (1939:226) descreveu procedimento semelhante praticado por um
ameríndio brasileiro: ...cortam a cabeça e a cauda de uma cascavel viva e cozinham, durante muito
tempo, juntamente com um frango, até que tudo se transforme quase em geléia. Esta iguaria, comida de
uma vez, cura conforme dizem, erupções cutâneas crônicas e sífilis .

RECONHECER PARA CONHECER, ALGUMAS CONSIDERAÇÕES


Essa reconstrução do passado com dados emprestados da consciência no presente pode proporcionar
novos alicerces para lidarmos melhor com as tensões crescentes que emergem do lugar ocupado por
animais não-humanos. Um percurso híbrido que nos permite atualizar questões que nunca deixaram
de estar presentes. Na atualidade, pensar além das fronteiras que fixaram os privilégios que
estabeleceram a separação entre o humano e o animal nos coloca diante de desafios críticos.
A construção de uma memória social sobre seres mantidos na periferia da história também nos
permite ampliar o que o sociólogo alemão Axel Honneth (2008) define como canais de
intersubjetividade. Sua teoria social crítica situa o processo de reconhecimento como uma expressão
subjetiva de comunicação que não ocorre exclusivamente nas interações entre humanos. O
reconhecimento, em sua forma mais elementar, constitui um instrumento adaptativos de
sobrevivência e vida social, e independe de qualquer tipo de consideração moral. Essa perspectiva
inclui a condição animal na esfera social do reconhecimento, na medida em que este se processa por
outros sistemas de comunicação, diferentes da linguagem humana:
...todos os organismos são o produto de um processo de evolução
lento e gradual, cujo principal fator causal é um processo de seleção
natural que resulta ser o efeito de uma luta por existência. Tal luta
pela existência ocorre, por outro lado, no contexto de fundamentais
estruturas biológico-cognitivas de reconhecimento, que são aquilo
que torna cognitivamente compreensível no mundo animal a
presença – notada sempre mais por biólogos do comportamento,
etólogos e sociobiólogos – de fenômenos generalizados de altruísmo
biológico e cooperação social. Testa, : 16).
A respeito do contrário da noção de reconhecimento, altruísmo e cooperação entre seres vivos,
(onneth se refere { condição em que um ou mais sujeitos esquecem ou aprendem a negar o
reconhecimento do outro. Segundo ele, a postura ou ação daquele que toma o outro como um
instrumento para o alcance de fins meramente individuais, é uma forma de abstração ou de
descontextualização de suas características humanas. O termo reificação , diz respeito {s relações
entre pessoas que assumem o car|ter de relações entre coisas, quando ...o outro não é apenas
imaginado como um simples objeto, mas perde-se efetivamente a percepção de que ele seja um ser com
características humanas . (onneth, : .

8
A ausência de reconhecimento em relação à condição animal nos remete à ideia de
instrumentalização , na medida em que prevalece a percepção do animal como coisa. Em momento
anterior a essa ruptura, vínculos que sustentaram as culturas totêmicas teciam estreitos laços que
ligavam a criança, o homem primitivo e os grupos tribais aos animais, sem que nenhuma estranheza se
impusesse a tal proximidade.
Nos barcos de caça à baleia, nas charqueadas, no trato das tropas de mulas, nos matadouros, nos
currais e engenhos, o contato direto com animais era, essencialmente, um serviço subalterno
desempenhado por escravos, indígenas e gente de moral duvidosa.
A naturalização e rotinização do fenômeno da instrumentalização se confundem com a própria história
da humanidade. Seja como uma estratégia para justificar a dominação e anular a identidade do outro,
seja nos palcos onde a escravidão legitimou a coisificação do outro, ou nos massacres que se
sucederam nas disputas territoriais dos continentes, no Oriente e no Ocidente. Expressões
contemporâneas de reificação se atualizam nos genocídios e nos comércios sexuais, por exemplo.
Esta apresentação expõe trechos de um levantamento mais extenso que percorre os primeiros quatro
séculos de formação da sociedade brasileira. O que foi dito a respeito dos animais, e de como
participaram do processo de ocupação e colonização do Brasil, revela um campo multifacetado de
práticas, valores e saberes de indígenas, europeus e africanos. Foram descritos como coisas,
mantimentos, e também como seres capazes de expressar sentimentos e atitudes humanas, fonte de
poder espiritual, componente de cura, recursos para a Coroa Portuguesa, ameaça à sobrevivência
humana e a bens materiais. Seus atos, ou apenas sua presença, expressavam as forças demoníacas ou o
poder de Deus.
Registros de sua presença nos fatos e acontecimentos ocorridos nos primeiros quatro séculos de nossa
História formam os diversos matizes da interação entre animais e sociedade, no contexto do Brasil
colonial e pós-colonial. Como alimento, medicamento, força motriz, transporte, diversão, componente
do acervo religioso ameríndio, indumentária decorativa ou lazer doméstico, eles participaram direta e
indiretamente no processo de formação da sociedade brasileira.
Os distintos olhares sobre um tema tão extenso nos conduzem através de um capítulo ainda obscuro
de nossa História. Sobretudo, nos convidam a resgatar as outras espécies animais do lugar marginal e
pouco relevante que lhes destinaram as teorias sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, V.D.J. Creatures of Empire: how domestic animals transformed the early America.
New York, NY: Oxford University Press, 2004.
BELLUZZO, A. M. M. O Brasil dos viajantes. Fundação Odebrecht, Ed. Metalivros, 1994.
BRAGA, R. Pero Vaz de Caminha: Carta a El Rey Dom Manuel. Rio de Janeiro: Record, 1999.
BRANDÃO, A. F. Diálogos das grandezas do Brasil. Brasília: Ed. do Senado Federal, 2010.
CASCUDO, L.C. Dicionário do folclore brasileiro. Belo Horizonte/ São Paulo: Editora USP, 1993.
CRULS, G. Aparência do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 1952.
FRANCO, J.L.A. Representações da Panthera onca no imaginário do Brasil: Colônia e Império,
séciulos XVI-XX. In: KURY, L. (Org.) Representações da fauna no Brasil – séculos XVI-XX. Rio de Janeiro:
Andrea Jakobsonn Estúdios, 2015.
FOUCAULT, M. História da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978.
HOLANDA, S.B. Caminhos e fronteiras. Rio de Janeiro: Ed. José Olýmpio, 1975.

9
HONNETH, A. Observações sobre a reificação. In: SOBOTTKA, E.A. & SAAVEDRA, G.A. (Org.)
Reconhecimento e teoria crítica. Civitas – Revista de Ciências Sociais/PUCRS. Porto Alegre – Vol 8/n°1,
jan-abr 2008.
KURY, L. (Org.) Sertões adentro: viagens nas caatingas - séculos XVI a XIX. Rio de Janeiro: Andrea
Jakobsson Estúdios, 2012.
KURY, L. (Org.) Representações da fauna no Brasil – séculos XVI-XX. Rio de Janeiro: Andrea
Jakobsson Estúdios, 2015.
LEITE, B.M.B. Os animais brasileiros na cultura européia da época moderna de Thevet a Redi. In:
KURY, L. (Org.) Representações da fauna no Brasil – séculos XVI-XX. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsonn
Estúdios, 2015.
LÉVY, P. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Ed. 34, 1999.
MORAIS, V. L. Da subjetividade do homem à materialidade do boi: recriando Áfricas na diáspora.
Tese. PUC-SP/História Social. SP, 2009. Disponível no endereço eletrônico
http://www.sapientia.pucsp.br/tde_arquivos/17/TDE-2010-03-31T12:40:17Z-
9154/Publico/VIVIANE%20LIMA%20DE%20MORAIS.pdf
PISO, G. História Natural e Médica da Índia Ocidental. Rio de Janeiro: Coleção de Obras Raras -
MEC, 1957.
RASSI, A. P. Do acontecimento histórico ao acontecimento discursivo: uma análise da Marcha das
vadias. Rev. Hist. UEG - Goiânia, v.1, n.1, p.43-63, jan./jun, 2012.
RIBEIRO, L. Medicina no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Ed. Sul Americana, 1971.
ROCHA, L.A. Médicos, cirurgiões e boticas. Recife: Livraria Universal, 1941.
SERRES, M. O contrato natural. RJ, Ed. Nova Fronteira, 1991.
SOUZA, G. S. Notícia do Brasil. São Paulo: MEC, 1974.
SUPRINYAK, C.E. Um meio de fazer fortuna. Artigo online publicado em 2011 no endereço
eletrônico http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/um-meio-de-fazer-fortuna , acessado
em 08/07/15.
SUPRINYAK, C.E. & RESTITUTTI, C.C. Os muares e as minas: relações entre a demanda mineira e o
mercado de animais de carga nos séculos XVIII e XIX. Artigo eletrônico publicado em 17/02/2014.
disponível no endereço eletrônico http://jumentoemuar.blogspot.com.br/2014/02/os-muares-e-as-
minas-relacoes-entre.html, acessado em 03/08/2015.
TESTA, I. Intersubjetividade, natureza e sentimentos morais: a teoria crítica de A. Honneth e a
regra de ouro. In: SOBOTTKA, E.A. & SAAVEDRA, G.A. (Org.) Reconhecimento e teoria crítica. Civitas –
Revista de Ciências Sociais – PUCRS, Porto Alegre – Vol 8 n°1, Jan-Abr 2008.
VELDEN, F.F.V. Os animais domésticos europeus na América Portuguesa. In: KURY, L. (Org.)
Representações da fauna no Brasil – séculos XVI-XX. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsonn Estúdios, 2015.
VON MARTIUS, C.F.P. Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1939.
WHITE, S. British Colonialism, Australian Nationalism and the Law: Hierarchies of Wild Animal
Protection (July 1, 2013). Monash University Law Review, Vol 39, No 2, 2013. Disponível no endereço
eletrônico https://ssrn.com/abstract=2400773 , acessado em 24/10/2015.

10

Você também pode gostar