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O sentimento de um ocidental
Cesário Verde disse “A mim o que me rodeia é o que me preocupa” e isso vai leva-lo,
no Sentimento de um ocidental a deambular pela cidade de Lisboa, como um
observador acidental, escrevendo, por isso, sobre os sons, os cheiros, as pessoas e a
vida quotidiana da capital portuguesa.
Ao longo do poema e percorrendo, desde o início da tarde até de madrugada, diversos
espaços físicos desde o Tejo (de onde partiram as naus para um futuro glorioso) até
aos escuros becos da cidade lisboeta, Cesário mostra-nos a Lisboa do seu tempo que,
para si, é marcada pela “soturnidade”, “melancolia”; ausência de amor e asfixiante e
castradora devido aos:
Contrastes entre a riqueza e a pobreza; o luxo e a miséria (até social, no
caso das prostitutas) e os espaços ambos e grandes e os pequenos, escuros
e solitários
E ruas limitadas por prédios sepulcrais que criam uma sensação de clausura
Imaginário épico
Poema longo
Versos alexandrinos (12 silabas métricas) e decassilábicos - início das estrofes
Exaltação da produtividade, vitalidade, autenticidade e energia dos
trabalhadores – personagens coletivas
O presente leva o sujeito poético a desejar a evasão do “eu” lírio através da
evocação do passado glorioso.
E é nesse contexto que a estátua de Camões da secção “noite fechada”, relembra que
houve um outro passado bem diferente, do passado da inquisição e do terramoto.
Algo que volta a ser referido na quarta secção, “horas mortas” com as referências aos
heróis dos descobrimentos.
Texto antiépico
Critica social à degradação da moral e social da cidade
Personagens antiépicas: os marginais (ladrões, bêbedos, prostitutas) e os
burgueses ociosos, inertes e artificiais
Contrastes sociais
Crença na impossibilidade de futuro glorioso devido à presença das
características citadinas funestas e sórdidas nesta sociedade
Cesário Verde viveu no séc. 19 em Portugal, um período marcado pelo:
Rápido aumento populacional provocado pelo êxodo rural
Proliferação de doenças como a tuberculose
Grande contraste entre ricos e pobres
Desenvolvimento parcial da cidade: candeeiros a gás, eletricidade e água
canalizada vs. ruas de terra batida, malcheirosas e escuras
Crescente desenvolvimento dos transportes e vias de comunicação
Nascimento e propagação dos ideais republicanos e dos ideais socialistas
Aparecimento do anticlericalismo
Analfabetismo afetava mais de 80% da população
Desprezo dos políticos e intelectuais pelo povo
“Ave Marias”
Nesta primeira secção do poema ficamos a conhecer o momento do dia que Cesário
Verde escolhe para iniciar a sua deambulação solitária e critica pela cidade, ou seja, o
fim da tarde e o início da noite.
Essa deambulação solitária e critica por um ambiente soturno (céu baixo de neblina,
cheiro enjoativo a gás e atmosfera enevoada) acaba por lhe provocar “desejo absurdo
de sofrer”, insatisfação e nojo e isso leva-o a desejar a evasão.
“Noite Fechada”
Metáfora nodoa negra - critica ao clero acentuada ainda mais com a referência à
inquisição.
“Mas” - faz um corte com a realidade anterior e centra-se noutra realidade
Referência ao épico de outrora - Luís de camões - a presença do mesmo contribui
assim para acentuar a decadência do presente atual
Sendo ainda neste poema retratados e referenciados vários tipos sociais
“Ao gás”
Por oposição à visão doentia das impuras, surge o forjador e o cheiro do pão no forno
que transmite vigor, saúde e honestidade, uma clara referência à dicotomia
cidade/campo, com elevação deste último espaço.
O sujeito poético diz-nos também desejar escrever um livro no qual pudesse ver uma
cidade diferente. Mas a cidade que ele observa é perpetuadora de profundas
diferenças socias como é o exemplo da cobiça do pobre “ratoneiro” atraída pelo
comércio enquanto os ricos fazem as suas compras.
“Horas mortas”
Afunilamento espacial
Subtítulo relacionado com a noite profunda, deserta e sem atividade.
Ambiente caracterizado pela escuridão (“ás escuras”) quebrada pela
luminosidade dos estros e luzes esporádicas.
“O teto fundo de oxigénio” e “fechaduras” contribuem para a ideia de
aprisionamento.
Verso 135 – personificação.
A cidade é percorrida por bêbados, guardas, imorais e “dúbios caminhantes”
Tabernas, ausência de arvores, cães sujos apontam para a ideia de decadência
Solução? Desejo de que alguém no futuro “nosso filhos” restaure a época
heroica que Portugal já teve, apenas neles há esperança
Ao leitor são dadas sensações auditivas da cidade que dorme: “um parafuso cai nas
lajes”, “rangem as ferraduras” e “sobem no silêncio …notas pastoris de uma … flauta”
A transfiguração poética do real é notória, com os faróis próximos que são olhos
sangrentos.