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Este livro reúne diversas

aplicações da Hidrologia,
proporcionando aos
leitores, notadamente
alunos de Engenharia Civil,
uma percepção mais nítida
da ampla gama de
interesses para a gestão
dos recursos hídricos a
partir da compreensão do
comportamento das águas
nos processos que
integram o ciclo
hidrológico.
Ele está concebido e
estruturado na perspectiva
de favorecer os estudos
introdutórios e,
principalmente, estimular o
aprofundamento por parte
do leitor em fontes mais
avançadas para o efetivo
domínio da matéria e
aquisição de competências
profissionais.
Na Parte 1, estão
apresentadas 50
aplicações hidrológicas,
com o substrato teórico
essencial no seu
desenvolvimento.
Na Parte 2, questões com
assertivas para validação
ajudam o leitor na sua
autoavaliação de
conhecimentos
específicos.
Hidrologia na prática
ANÍSIO DE SOUSA MENESES FILHO
Hidrologia na prática

Apresentação

Este trabalho reúne diversas aplicações da Hidrologia, proporcionando aos leitores,


notadamente alunos de Engenharia Civil, uma percepção mais nítida da ampla gama de
interesses para a gestão dos recursos hídricos a partir da compreensão do
comportamento das águas nos processos que integram o ciclo hidrológico.
Tanto quanto possível, procuramos contemplar a prática hidrológica no contexto do
semiárido nordestino, para inserir na formação acadêmica um compromisso do nosso
profissional de engenharia com os graves desafios da nossa região, secularmente
afetada, nos seus aspectos socioeconômicos, pela escassez hídrica e, ainda mais, pela
má distribuição espacial e temporal das chuvas.
Premido pelas adversidades climáticas, o homem precisou, ao longo do tempo e pela
observação dos processos cíclicos, assimilar a lógica da regularidade para desenvolver
técnicas e ferramentas que permitissem promover simulações de resposta da bacia
hidrográfica às ações antrópicas. Eis o que oportuniza a implementação prática do
conhecimento hidrológico.
A modelagem dos processos com base no comportamento da bacia hidrográfica amplia
possibilidades de prospectar cenários para a definição da melhor estratégia na
utilização sustentável dos recursos naturais, sobretudo a água que se demanda em
todas as atividades humanas e, dessa forma, viabiliza a fixação de contingentes
populacionais com a requerida expansão da atividade econômica.
Este livro se constrói na perspectiva de favorecer os estudos introdutórios e,
principalmente, estimular o aprofundamento por parte do leitor em fontes mais
avançadas para o efetivo domínio da matéria e aquisição de competências
profissionais. Na Parte 1, estão apresentadas 50 aplicações hidrológicas, com o
substrato teórico essencial no seu desenvolvimento. Na Parte 2, questões com
assertivas para validação ajudam o leitor na sua autoavaliação de conhecimentos
específicos. Os exercícios de aplicação deste caderno foram desenvolvidos, adaptados
ou compilados a partir da literatura específica relacionada nas páginas finais, que
constitui o que há de mais atual do meio técnico e acadêmico dos melhores centros de
pesquisa e desenvolvimento. Os softwares eventualmente empregados estão
mencionados ao longo do texto. Damos preferência aqui aos aplicativos de livre acesso,
de forma a favorecer o aproveitamento como material de estudo e consolidação da
abordagem teórica desenvolvida em sala de aula ou em ambiente híbrido.

Hidrologia na prática
Agradecimentos

Contribuíram na revisão crítica dos originais, aduzindo valiosas sugestões aprimorativas


durante as fases de consolidação do projeto e de feitura deste livro, os engenheiros
civis Francisco Thibério Pinheiro Leitão, Lucas Florêncio da Cunha Teixeira e Tácio
Ribeiro Braga, todos mestres em Recursos Hídricos pela Universidade Federal do Ceará
e graduados pela Universidade de Fortaleza, nossos ex-alunos e atualmente
colaboradores do Engecursos.
A eles, nossos reconhecimentos e melhores agradecimentos.

Externamos agradecimentos também à Diretoria do Centro de Ciências Tecnológicas da


UNIFOR, à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, aos colegas professores de
Hidrologia e à Assessoria Pedagógica do CCT, pela oportunidade de um convívio
acadêmico sobremodo estimulante e enriquecedor.

Anísio de Sousa Meneses Filho


DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO – CIP

_____________________________________________________________________
M543h Meneses Filho, Anísio de Sousa
Hidrologia na prática [recurso eletrônico] / Anísio de Sousa
Meneses Filho. __ Fortaleza, 2021.
13 Mb : ePUB

Disponível em formato impresso


ISBN: 978-65-5556-188-3

1. Hidrologia. 2. Recursos hídricos. 3. Gestão das águas.


4. Gestão dos recursos hídricos. 5. Práticas hidrológicas. I. Título.

CDU: 556
CDD: 551
_____________________________________________________________________
Rejane Maria Façanha de Albuquerque
CRB – 3/679

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
ENSINANDO E APRENDENDO

Hidrologia na prática
Sumário

Parte 0: Uma mensagem à guisa de introito


página
Estratégias eficazes de estudo num mundo em transformação 7

Parte 1: práticas comentadas


aplicação assunto
01 Delimitação de bacia hidrográfica com base nas curvas de nível 11
02 Delimitação de bacia hidrográfica pela configuração da rede de drenagem 15
03 Delimitação de bacia hidrográfica usando modelo digital do terreno 19
04 Caracterização física e morfológica de bacia hidrográfica 27
05 Análise do balanço hídrico quantitativo 35
06 Análise do balanço hídrico afetado por reservatório artificial 46
07 Estimativa da evapotranspiração potencial pela fórmula de Hargreaves 51
08 Estimativa da infiltração no modelo de Horton 57
09 Preenchimento de falhas pelo método da ponderação regional 63
10 Análise de consistência de dados pluviométricos 68
11 Precipitação média pelo método de Thiessen 79
12 Precipitação média pelo método das isoietas 84
13 Estimativa do tempo de concentração da bacia hidrográfica 87
14 Relação intensidade-duração-frequência de precipitação 93
15 Estimativa do tempo de retorno 96
16 Estimativa de chuva pelo método de Taborga (ou das isozonas) 101
17 Espacialização da chuva 106
18 Elaboração do hietograma de projeto 109
19 Separação dos volumes de chuva 112
20 Estimativa da vazão máxima pelo método racional 118
21 Elaboração de hidrograma unitário sintético (paramétrico) 127
22 Elaboração de hidrograma pelo método do hidrograma unitário 133
23 Confecção de hidrograma com base em vazões medidas 139
24 Estimativa de vazão em locais sem dados 143
25 Propagação de vazão em rio pelo método Muskingum 148
26 Propagação de vazão em rio pelo método Muskingum-Cunge 154
27 Confecção das curvas cota-área-volume e cota-vazão de reservatório 161
28 Propagação de vazão em reservatório (método modificado de Puls) 166
29 Estimativa da capacidade de reservatório de regularização de vazão 177
30 Estimativa da capacidade de reservatório para o controle de enchentes 186
31 Elaboração e análise do diagrama de Rippl 188
32 Estimativa do volume do reservatório com base no espelho de água 193
33 Estabelecimento da curva-chave 197
34 Análise binomial do risco hidrológico 202
35 Análise de séries temporais de precipitação total anual 207
36 Estimativa probabilística de eventos críticos (série de vazões máximas) 219
37 Estimativa probabilística de eventos críticos (série de vazões mínimas) 225
38 Análise de aderência de modelos probabilísticos 229

Anísio de Sousa Meneses Filho


39 Elaboração de curva de permanência de vazões 242
40 Estimativa de aproveitamento hidrelétrico de quedas d’água 247
41 Regionalização de vazão (estimativa da vazão em função da área da bacia) 250
42 Modelagem integrada de bacias com base no sistema HEC-HMS 255
43 Estimativa do impacto da urbanização 265
44 Dimensionamento de reservatório com base na fórmula de Aguiar 272
45 Dimensionamento de reservatório pelo método do diagrama triangular 278
46 Dimensionamento de detenção pelo método da curva envelope 285
47 Dimensionamento de plano de infiltração 296
48 Pré-dimensionamento de medidas de controle de cheias, a partir da IDF 303
49 Dimensionamento de reservatório de retenção 311
50 Dimensionamento de rede de microdrenagem de águas pluviais 317

Parte 2: quizzes de fixação do conteúdo


quiz assunto
01 circulação geral da atmosfera 329
02 balanço hídrico 332
03 bacia hidrográfica 338
04 precipitação 341
05 evapotranspiração 345
06 infiltração 349
07 precipitação efetiva 353
08 escoamento superficial 357
09 processamento de dados hidrológicos 362
10 hidrologia estatística 365
11 risco hidrológico 368
12 modelagem hidrológica 371
13 modelo SCS (Soil Conservation Service) 376
14 modelos probabilísticos 379
15 impactos da urbanização 382
16 medidas compensatórias em drenagem urbana 386
17 dimensionamento de reservatório 389
18 medição de vazão 395
19 curva de permanência 398
20 escoamento subterrâneo 402

Referências e fontes de consulta 408

Hidrologia na prática
Parte 0
Estratégias eficazes de estudo num mundo
em transformação
O primeiro requisito para um estudo altamente eficaz e promissor, em qualquer área, é
o entusiasmo pelo conteúdo que está sendo aprendido, assimilado ou construído. Como
todo empreendimento, o estudo também precisa estar baseado em propósitos, e alguns
deles são imediatos para o aluno: conhecimento, compreensão, aplicação, avaliação,
análise e síntese integrativa1. Mais do que isso, porém, o alcance de uma competência é
o que desperta maior potencial de uma carreira profissional de sucesso. No caso
particular do engenheiro, a sua precípua vocação se orienta na solução dos problemas
do mundo de escassez, conflitos e demandas crescentes. Entusiasmo é uma palavra forte,
com uma carga semântica vistosa – afinal, quem se entusiasma conhece o potencial para
a superação das dificuldades.

Vivemos num mundo em transformação. Mesmo numa visão serena, moderada e


ponderada, algumas das mudanças em curso são avassaladoras, senão devastadoras.
Com efeito, novas demandas surgem na surpreendente dinâmica do processo
civilizatório que, não raro, aponta cenários de insustentabilidade no médio ou longo
prazo. Daí a necessidade do fortalecimento das ideias, com momentos de introspecção
reflexiva para ajuste de rumo e a mais consentânea tomada de decisão. A manutenção
das estratégias tradicionais não conduz ao propósito almejado. A hidrologia se insere
nesse contexto com robusta importância. Mais ainda: a formação do engenheiro se
impõe mais holística e questionadora.

De forma particularmente relevante, a gestão das águas abrange um largo espectro de


desafios, em que dois cenários críticos (de excesso e de escassez de água) se apresentam,
de forma cada vez mais recorrente e severa. Isso pode (e deve) servir de argumento
primordial para estimular o surgimento de propostas acadêmicas e científicas a fim de
que os seus impactos nos processos hidrológicos sejam mitigados através de
intervenções antrópicas benéficas e duradouras. No semiárido nordestino, por exemplo,
núcleos de desertificação precisam ter esse processo devastador estancado, os seus solos
revitalizados, os canais hídricos naturais com suas margens preservadas, nascentes de
rios recuperadas, com vistas ao controle dos danos associados à erosão, sedimentação,

1
São essas as habilidades no domínio cognitivo na taxonomia dos objetivos educacionais, conhecida como taxonomia de
Bloom.
Anísio de Sousa Meneses Filho 7
assoreamento e degradação da qualidade das águas. Programas vigorosos de açudagem
e integração de bacias operam para prover segurança hídrica, sem o que a fixação das
atividades humanas (na agricultura, na pecuária, na indústria e na prestação de serviços)
se revela absolutamente inviável ou efêmera. Eis um tópico para deflagrar uma reflexão
importante e impulsionar o interesse proativo do aluno de engenharia.

O profissional de engenharia deve buscar sempre uma conexão entre a competência já


alcançada (ou ainda em construção) e a sua utilidade prática, estabelecendo um vínculo
entre o conhecimento científico, a constatação empírica, a modelagem e a concepção de
empreendimentos infraestruturais que transformam o mundo, em maior ou menor
escala, com os seus impactos hidrológicos, ações mitigadoras e preceitos de
sustentabilidade. Mais do que meras palavras-chaves, aí estão alguns dos primados
indissociáveis na atuação construtiva.

A incerteza inerente aos processos hidrológicos instiga a investigação científica para


tornar o futuro menos imprevisível (e incontrolável) a partir da percepção e análise das
ocorrências pretéritas. O desafio essencial reside na identificação de uma lei de
regularidade que se supõe embutida na natureza. A ideia mais rudimentar é a de que o
futuro reproduz o passado, embora se reconheça a enorme dificuldade no
estabelecimento de uma escala temporal adequada. Ocorre, ainda, que as mudanças
climáticas globais, assim como as alterações antrópicas no âmbito da bacia (com a
modificação do relevo, a impermeabilização da superfície do solo), inviabilizam pensar
essa dinâmica como uma mera reprodução cíclica de registros anteriores. Numa
perspectiva mais consequente, procura-se modelar a dinâmica não só dos processos no
ciclo, mas a dinâmica na sucessão dos ciclos, com a linha de tendência para um horizonte
tanto mais extenso quanto possível. As questões prosseguem e se tornam maiores,
apesar do denso acervo já arrecadado pela ciência.

No processo de aprendizagem e formação profissional, ninguém anda sozinho. Assim


também ninguém deve seguir ancorado, com tutoria inibidora de novos olhares e
conduta diligente. A trilha bem alicerçada é que permite ver mais longe e melhor, e abrir
novos caminhos. Sobretudo nas últimas décadas, muitas estratégias e metodologias
pedagógicas inovadoras foram deflagradas e introduzidas com efeito animador na
formação acadêmica dos engenheiros. A problematização é apenas uma delas, em que
se parte de um desafio para ser encarado e resolvido; os conceitos são amadurecidos na
perspectiva de uma aplicação mediata e necessária. A discussão em fóruns abertos
estimula a criatividade, a ação colaborativa e a sinergia que as ideias compartilhadas
proporcionam. Para arrematar, o sentido de competência contempla uma tríade:
conhecimento, habilidade e atitude.
8 Hidrologia na prática
Em especial, destacamos, como um primeiro esforço pedagógico não convencional
experienciado, a sala de aula invertida (flipped classroom)2. Essa tem sido uma prática
pedagógica presente nas nossas turmas de Hidrologia na Universidade de Fortaleza
desde 2017. Embora a adesão ainda seja parcial, o avanço é consistente e nitidamente se
observa um ganho significativo na qualidade das aulas quando o aluno já chega ao
encontro com dúvidas construídas a partir de uma leitura prévia do conteúdo. Debates
mais coerentes e profícuos são produzidos nos encontros presenciais, ou mesmo em
reuniões síncronas em ambiente remoto. Todos ganham com as ponderações
compartilhadas nesse ambiente democrático de ideias, dúvidas e provocações. Até
perguntas de aparência pueril podem ser substantivamente ricas para despertar um novo
olhar, ou mesmo promover uma nova e alternativa ressignificação conceitual.

Também nessa linha de impulsionar a autonomia do aluno no processo, contribui


bastante para a sedimentação do conteúdo a navegação sistemática em sítios da internet
referentes às instituições públicas incumbidas da gestão dos recursos hídricos. Afinal, na
sua atividade laboral efetiva, cabe ao profissional de engenharia todo o percurso desde
a coleta (ou garimpagem) de dados e informações para a compreensão dos processos e
implementação dos modelos.

Podemos citar, à guisa de ilustração, alguns canais para esse aproveitamento. O acesso à
base de dados da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) é sobremodo
facilitado com a ferramenta Hidroweb, integrante do Sistema Nacional de Informações
sobre Recursos Hídricos (SNIRH). Muitos estados da federação também disponibilizam
excelente acervo de dados e informações de interesse. A instituição americana USACE
(United States Army Corps of Engineers) disponibiliza o aplicativo multimodelo HEC-HMS
(Hydrologic Engineering Center – Hydrologic Modeling System) que permite a modelagem
e simulação de bacias hidrográficas, combinando processos de representação
alternativos para a transformação chuva-vazão, a propagação de cheias em rios e
reservatórios, incluindo ferramentas GIS (geographic information system). Ampliando
essa busca, convém conhecer a base de imagens georreferenciadas da USGS (United

2
Constitui uma metodologia ativa em que o aluno tem prévio acesso a material de estudo da próxima aula. Antes do encontro
presencial, o aluno lê, adquire uma visão (superficial, panorâmica) do assunto, relaciona as dúvidas, estabelece conexões e
se prepara para uma discussão com os seus colegas e professor.
A propósito, uma boa indicação de leitura, para melhor conhecimento da metodologia é o livro Sala de Aula Invertida: Uma
Metodologia Ativa de Aprendizagem, dos autores Jonathan Bergmann e Aaron Sams (editora LTC, 2016).
Anísio de Sousa Meneses Filho 9
States Geological Survey) – é possível aí baixar os arquivos para a exploração em práticas
utilizando o sistema HEC-HMS.

Como se trata de um ambiente extraordinariamente dinâmico e inexaurível, em contínuo


aprimoramento, aludir aqui de maneira mais específica poderia tornar a recomendação
rapidamente desatualizada – então, melhor que cada um navegue com a sua própria
bússola.

A seguir estão listados apenas alguns sítios de interesse na internet, que podem ser
acessados com frequência para o fortalecimento da compreensão sistêmica e ampliação
do leque de aplicações do conhecimento hidrológico:

www.ana.gov.br (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico)


www.mma.gov.br (Ministério do Meio Ambiente)
www.abrh.org.br (Associação Brasileira de Recursos Hídricos)
www.epa.gov (Environmental Protection Agency)
www.usgs.gov (United States Geological Survey)
www.usace.army.mil (United States Army Corps of Engineers)

10 Hidrologia na prática
Parte 1
Exercícios de aplicação

Aplicação 01
Tema: Delimitação de bacia hidrográfica com base nas curvas de nível

Considere as curvas de nível configuradas abaixo.

Esboce o traçado do divisor de água correspondente ao exutório na seção A da rede de


drenagem.

Anísio de Sousa Meneses Filho 11


Desenvolvimento

Uma bacia hidrográfica é delimitada pelo seu divisor de água. Conhecer


a área territorial da bacia constitui a primeira ação do hidrólogo para
compreender como a água ali se comporta.

As curvas de nível permitem uma representação em plano (duas


dimensões) de uma superfície tridimensional, como é o relevo. Para
caracterizar um ponto da superfície do solo, são necessárias 3
coordenadas (duas que se projetam no plano horizontal e a outra
referente à cota). A curva de nível explicita essa terceira coordenada.

No levantamento topográfico planialtimétrico, o conjunto das curvas de


nível retrata os diferentes acidentes ou singularidades do relevo, e
assim os caminhos das águas (talvegues3) e os divisores de água
(espigões).

A bacia hidrográfica é, essencialmente, uma área de drenagem. A bacia


capta água (da precipitação ou do fluxo subterrâneo) e promove a sua
convergência para a seção exutória (seção de saída). É o relevo da bacia
(reconhecido pelo traçado das curvas de nível e pela configuração dos
talvegues) que orienta o fluxo superficial das águas.

O critério mais usual para a delimitação da bacia hidrográfica é o


topográfico, que estabelece a área de procedência do deflúvio
superficial – ou seja, o território de primeiro acolhimento das águas de
chuva. Um outro critério (referido ao divisor freático) seria baseado nas
condições subterrâneas e estruturas geológicas do substrato, porém
pouco prático de se estabelecer, além de não ser fixo – ou seja, varia
conforme flutua o lençol de água ao longo do tempo, nas quadras
hidrológicas.

A figura seguinte é ilustrativa dessas representações. As linhas mais


claras indicam divisores de água (setas divergentes); as linhas mais
escuras indicam talvegues (setas convergentes).

3
Talvegue significa ‘caminho das águas’ (do alemão: talweg – caminho do vale). Corresponde à linha de maior profundidade
no leito de qualquer curso de água (rio, riacho, córrego) e resulta do encontro de planos vertentes.
12 Hidrologia na prática
500

450

400

A bacia que ilustra a capa deste livro está parcialmente reproduzida a


seguir, sem a indicação dos talvegues (propositalmente removidos). O
traçado do divisor de água acompanha as cotas mais altas,
conformando um território para o acolhimento das águas de chuva e a
sua drenagem com um mesmo conjunto interconectado de talvegues.

Anísio de Sousa Meneses Filho 13


Algumas regras são essenciais e devem ser, portanto, observadas no
traçado do divisor de água:

x o traçado começa na seção exutória preestabelecida;


x o divisor de água intercepta curvas de nível perpendicularmente;
x um talvegue constitui elemento da rede de drenagem;
x um espigão que contorna a rede de drenagem configura divisor de
água;
x os elementos de drenagem são interconectados.

O traçado manual do divisor de água avança a partir do exutório, na


orientação de jusante para montante.

Nesta Aplicação, seguindo as premissas estabelecidas, chegamos à


seguinte configuração para o divisor de água.

14 Hidrologia na prática
Aplicação 02
Tema: Delimitação da bacia hidrográfica pela configuração da rede de drenagem

Considere a rede de drenagem mostrada na figura seguinte, obtida a partir das


ferramentas GIS do sistema de modelagem HEC-HMS (versão 4.5).

Com base unicamente na configuração da rede de drenagem, trace o esboço do divisor


de água para cada uma das seções executórias assinaladas (A, B e C).

Desenvolvimento

Essencialmente, toda bacia hidrográfica compreende uma seção


exutória, um divisor de água e uma rede de drenagem.

Anísio de Sousa Meneses Filho 15


A mais simples representação (modelo) de uma bacia é a que se mostra
a seguir.

Água entra na bacia; água se desloca na bacia; água sai da bacia

A rede de drenagem pode corresponder a um único curso de água (no


caso das pequenas bacias) ou a um conjunto interconectado de cursos
de água (um rio principal com os seus afluentes e subafluentes).

A rede de drenagem, na sua configuração dendrítica4, permite que se


faça um esboço (traçado preliminar) do divisor de água.

A cada bacia corresponde uma única seção exutória. A cada seção


exutória corresponde uma única bacia.

Qualquer que seja o critério de delimitação da bacia, o início do processo


se dá na seção exutória, tipicamente o ponto (ou seção) de relevo mais
baixo da área de drenagem para o qual em encaminham as águas que
escoam superficialmente, por gravidade.

Cursos de água menores afluem para os cursos maiores, e estes para


outros ainda maiores, de caudal crescente, até alcançarem os mares e
oceanos. Daí não ser razoável haver um curso de água desconectado
da rede de drenagem.

Com efeito, a representação em planta se refere aos talvegues, que


topograficamente dão ensejo aos córregos, riachos e rios, de forma
perene ou intermitente.

Portanto, a partir da seção exutória, devemos reconhecer a orientação


de montante (de onde vêm as águas). É nessa direção que seguimos,

4
Esse é um padrão de drenagem em que as confluências se assemelham, quando vistas em planta, a dendron (galhos).
16 Hidrologia na prática
para contornar toda a rede de drenagem que estará no interior da bacia
conduzindo as águas até a seção de saída.

A regra essencial é: o divisor de água contorna inteiramente a rede de drenagem, sem


interceptar nenhum talvegue, começando e terminando na seção exutória, qualquer que
seja o sentido do percurso (horário ou anti-horário) no traçado em planta.

Um divisor de água não pode interceptar talvegue

Ainda que não estejam explícitas as curvas de nível na figura acima, a trajetória da água
encontra-se retratada pelos talvegues interconectados que formam a rede de drenagem
responsável pela condução do escoamento até a seção de controle (ou exutório da bacia).

Então, já podemos elaborar o esboço dos divisores de água (um para cada bacia com
exutório indicado). É o que mostra a figura seguinte.

Anísio de Sousa Meneses Filho 17


Embora as três bacias delimitadas (A, B e C) sejam independentes, isto é, uma não é sub-
bacia da outra, é possível que elas estejam contribuindo, mais adiante, para um mesmo
corpo hídrico a jusante. Essa constatação, porém, não é viável agora, haja vista a
limitação da parcela da planta disponibilizada.

No site da ANA (Agência Nacional de Águas e


Saneamento Básico), o portal Hidroweb
disponibiliza uma ferramenta para a
delimitação manual da bacia hidrográfica
com base na rede drenagem, permitindo a
extração da área contribuinte e dos
elementos para obtenção dos parâmetros
de forma. O nosso vídeo com a orientação de
uso dessa ferramenta pode ser acessado
através do QR code ao lado.

18 Hidrologia na prática
Aplicação 03
Tema: Delimitação da bacia hidrográfica por processo automatizado (computacional)

Considere a figura seguinte, em que a área em cinza representa a bacia contribuinte para
o açude Arneiroz II, na região hidrográfica do Alto Jaguaribe, no estado do Ceará.

Estabeleça o procedimento para a delimitação da bacia hidrográfica referida à seção


exutória indicada em A, utilizando recursos do aplicativo QGIS5 e do sistema HEC-HMS6.

5
Disponível para download em qgis.org/pt_BR/site/
6
Disponível para download em www.hec.usace.army.mil
Anísio de Sousa Meneses Filho 19
Desenvolvimento

Atualmente, algoritmos computacionais automatizam o trabalho de


delimitação da bacia, a partir de um modelo de elevação digital (DEM –
digital elevation model). Como mostrado na figura seguinte, o terreno
é representado por uma matriz (quadriculado de linhas e colunas) em
que cada célula assume o valor da propriedade cota ou altitude.

Fonte: Adaptada de Maidment (1993)

20 Hidrologia na prática
O algoritmo consiste na geração de um arquivo de acumulação de fluxo
e, consequentemente, de um arquivo de drenagem.

O processo para a definição do sentido do fluxo se inicia com a


atribuição do código de direção a cada célula (do arquivo matricial),
conforme o posicionamento do vizinho para o qual o percurso direto é
mais íngreme. O arquivo que se obtém é denominado direção do fluxo
(flow Direction).

Para compor o arquivo acumulação do fluxo (flow accumulation), cada


célula assume como atributo o valor da quantidade de células que para
ela convergem. As células de talvegues são reconhecidas como aquelas
de valoração mais alta. As figuras seguintes esclarecem, a partir de um
exemplo hipotético.

Fonte: Adaptada de SIG ArcGIS for Desktop 10.2.1

Fonte: Adaptada de SIG ArcGIS for Desktop 10.2.1

Anísio de Sousa Meneses Filho 21


Exemplos de aplicativos computacionais com essa funcionalidade são o
HEC-HMS (Hydrologic Engineering Center - Hydrologic Modeling
System), do Corpo de Engenheiros do Exército Americano (USACE –
U.S. Army Corps of Engineers) e o Quantum GIS (QGIS), software livre
de código aberto com recursos de sistema de informação geográfica.

Nesta Aplicação, trabalharemos com um arquivo matricial (raster)


obtido da base de dados do Serviço Americano de Pesquisas Geológicas
(USGS – U.S. Geological Survey). O propósito é a delimitação da bacia
e a extração de elementos básicos para a sua caracterização e
modelagem. Os programas utilizados aqui estão disponíveis para
download na internet, nos sites das respectivas entidades responsáveis
por sua manutenção e atualização.

Em breve síntese, apresentamos a seguir um roteiro para o


aproveitamento dessas ferramentas.

Acesso é facilitado aos dados de sensores remotos (SRTM - Shuttle


Radar Topography Mission) no site do U.S. Geological Survey.

Procedimento de obtenção do arquivo matricial com o modelo de


elevação digital:

USGS: s06_w041_1arc_v3
De 5 a 6o latitude sul

De 40 a 41o longitude oeste


22 Hidrologia na prática
Procedimento de georreferenciamento, no QGIS:

Procedimento de delimitação7 da bacia hidrográfica, no HEC-HMS,


começa a suavização do relevo, como ilustrado a seguir.

Fonte: SIG ArcGIS for Desktop 10.2.1

7
O aplicativo QGIS também está habilitado à delimitação da bacia. No entanto, a implementação dessa etapa é feita aqui
utilizando o HEC-HMS tendo em vista as funcionalidades adicionais para a simulação hidrológica de transformação chuva-
vazão e propagação de vazões, disponíveis nesse mesmo sistema.
Anísio de Sousa Meneses Filho 23
A preparação do modelo digital permite a implementação das rotinas
que identificam a direção e de acumulação do fluxo, com o divisor de
água circunscrevendo a área de drenagem objeto de estudo.

O arquivo (em formato .tif) do modelo digital de elevação (DEM: digital


elevation model) está disponível para download no site USGS
(https://earthexplorer.usgs.gov/).

O roteiro para a delimitação da bacia usando o HEC-HMS consiste,


basicamente, em:

i. criar um projeto
ii. acrescentar um componente bacia (componentes > basin model
manager > new)
iii. acrescentar um componente terreno (em arquivo tif (ou geotif),
por exemplo) (componentes > current terrain data > new)
iv. vincular o componente terreno à bacia
v. preencher as falhas no perfil de elevação (GIS > preprocess
sinks)
vi. promover o reconhecimento da drenagem (GIS > preprocess
drainage)
vii. indicar a localização da seção de controle (GIS > break points
manager)

24 Hidrologia na prática
As ferramentas de GIS estão exibidas na aba do menu superior, como
mostram as figuras seguintes.

Anísio de Sousa Meneses Filho 25


O resultado da delimitação da bacia traz uma sugestão de modelagem
na repartição da área em sub-bacias integradas.

Modelagem parcial da bacia contribuinte

O nosso vídeo com uma orientação


mais detalhada do procedimento de
delimitação de bacia hidrográfica
utilizando ferramentas GIS
(geographic information system)
pode ser acessado através do QR
code ao lado.

26 Hidrologia na prática
Aplicação 04
Tema: Caracterização física e morfológica da bacia

Considere a bacia cujo exutório se encontra nas coordenadas:


latitude: 70 9’ 57” S
longitude: 390 16’ 40” W

Fonte: https://earthexplorer.usgs.gov/

Apresente as principais características físicas e morfológicas dessa bacia.

Anísio de Sousa Meneses Filho 27


Desenvolvimento

O propósito desta Aplicação é a caracterização física e morfológica da


bacia hidrográfica. É essa reunião de atributos que fundamenta a
comparação com outras bacias, permitindo inferir a tendência
comportamental, notadamente no tocante à produção de cheias ou
picos de vazão, incluindo a simulação de respostas em novos cenários
ocupacionais.

Inicialmente, a bacia deve ser delimitada, a partir da seção exutória


conhecida. Isso pode ser feito por um dos três processos vistos nas
aplicações anteriores.

Dados relativos à forma e relevo da bacia são extraídos diretamente,


após a sua delimitação.

x Área: 3,07 km²


x Perímetro: 7,70 km
x Comprimento axial: 3,15 km
x Comprimento total dos talvegues: 8,75 km
x Comprimento desenvolvido do rio principal: 3,50 km
x Comprimento em linha reta sobre o rio principal: 3,13 km

Um aspecto de grande relevância para inferir a propensão a cheias é a


forma da bacia. Quanto mais arredondada, isto é, mais próximo o seu
contorno da configuração circular, tanto mais elevado é o risco de
enchentes, haja vista a maior rapidez com que a água se encaminha e
se concentra no exutório. O coeficiente de compacidade, o índice de
circularidade e o fator de forma são parâmetros associados à forma da
bacia.

O coeficiente de compacidade (também conhecido como coeficiente de


Gravelius) (ࡷ࡯ ) relaciona o perímetro (P) da bacia em estudo com o
perímetro (P*) de uma bacia fictícia de mesma área (A), porém de
formato circular.
ࡼ ࡼ
ࡷ࡯ ൌ ou ࡷ࡯ ൌ ૙ǡ ૛ૡǤ
ࡼ‫כ‬ ξ࡭

28 Hidrologia na prática
ࡷ࡯ é sempre maior ou igual a 1, pois o círculo constitui sempre a figura
geométrica de menor perímetro (a sua circunferência) para uma dada
área.

Quanto menor o ࡷ࡯ (ou seja, maior próximo de 1), maior a


suscetibilidade da bacia a cheias. Valores de ࡷ࡯ entre 1,00 e 1,25
sinalizam alta propensão a grandes enchentes, enquanto valores acima
de 1,50 apontam para um menor risco de cheias.

Alternativamente ao coeficiente de compacidade, pode ser calculado o


índice de circularidade (ࡵ࡯ ), também adimensional, que relaciona a área
(A) da bacia em estudo com a área (A*) de uma bacia fictícia de mesmo
perímetro, porém de formato circular.
࡭ ࡭
ࡵ࡯ ൌ ou ࡵ࡯ ൌ ૚૛ǡ ૞ૠǤ
࡭‫כ‬ ࡼ૛

ࡵ࡯ é sempre menor ou igual a 1, pois o círculo constitui sempre a figura


geométrica de maior área, para um dado perímetro, ou seja, a
circunferência maximiza a área inscrita.

Com os dados da bacia desta Aplicação, encontramos:


ૠǡૠ ૜ǡ૙ૠ
ࡷ࡯ ൌ ૙ǡ ૛ૡǤ ൌ ૚ǡ ૛૜ ࡵ࡯ ൌ ૚૛ǡ ૞ૠǤ ൌ ૙ǡ ૟૞
ξ૜ǡ૙ૠ ૠǡૠ૛

De certa forma, afigura-se redundante o cálculo desses dois parâmetros (ࡷ࡯ e ࡵ࡯ ),


pois a conclusão a que se chega com um também se chega com o outro.

Oportuno resgatar aqui alguns outros conceitos e definições.

Densidade de drenagem (ࡰࢊ ): relação entre a extensão total dos cursos


de água (que integram a rede de drenagem) e a área de drenagem da
bacia.
σࡸ
ࡰࢊ ൌ

onde σ ࡸ é o somatório do comprimento de todos os cursos de água da bacia

Com os dados da bacia desta Aplicação, encontramos:


ૡǡ ૠ૞
ࡰࢊ ൌ ൌ ૛ǡ ૡ૞࢑࢓Ȁ࢑࢓;
૜ǡ ૙ૠ

Anísio de Sousa Meneses Filho 29


O parâmetro densidade de drenagem indica a tendência de cheias na bacia. Quanto
maior ࡰࢊ , maior a eficiência de drenagem pelos canais superficiais, maior o risco
de enchentes, haja vista que o escoamento favorecido inibe a infiltração.

Ordem da bacia: número inteiro que traduz o nível de ramificação


(dendriticação) da rede de drenagem, servindo para classificar a bacia.
Cada trecho de curso de água apresenta uma ordem. Esses valores
crescem a partir das nascentes até o trecho que extremado na seção
exutória. À bacia (como um todo) atribui-se a maior ordem atribuída a
um trecho, que corresponde, evidentemente, àquele que tem a foz
dessa bacia na sua extremidade jusante.

O critério de Horton-Strahler8 é o seguinte, visto num exemplo:

x os trechos de nascente recebem


ordem 1;
x quando dois trechos de ordens
distintas se encontram, o trecho logo
a jusante da confluência recebe a
maior ordem dentre aquelas dos
trechos que convergem;
x quando dois trechos de mesma
ordem se encontram, o trecho logo
a jusante da confluência recebe a
ordem dos confluentes acrescida de
um.

Na figura da bacia (na página 33), cada trecho da rede de drenagem


traz a sua correspondente ordem pelo critério de Horton-Strahler.

Sinuosidade: relação entre o comprimento desenvolvido (ࡸࢊ ) do curso


de água principal e a distância em linha reta (ࡸ) da nascente à foz desse
curso de água.

Quando mais meandrado um rio, tanto maior a sua sinuosidade (ࡿ࢏࢔).


Esse aspecto está relacionado com a velocidade de escoamento das

8
A classificação de Horton (1954) modificada por Strahler (1964) reflete o grau de ramificação da drenagem dentro da bacia
hidrográfica.
30 Hidrologia na prática
águas e com a propensão a depósito de sedimentos nas margens
convexas.
ࡸࢊ
ࡿ࢏࢔ ൌ

Com os dados da bacia desta Aplicação, encontramos:
૜ǡ ૞૙
ࡿ࢏࢔ ൌ ൌ ૚ǡ ૚૛
૜ǡ ૚૜

Declividade média do álveo9: tangente trigonométrica na linha de


talvegue em relação ao plano horizontal. Trata-se de um valor
representativo que procura reproduzir o efeito hidráulico da inclinação
no leito do curso de água.

Esse parâmetro é sobremodo importante porque está relacionado à


velocidade de escoamento das águas. De acordo com a expressão de
Chézy10, a velocidade (e, portanto, também a vazão) é diretamente
proporcional à raiz quadrada da declividade.

Tendo em vista que a declividade não é constante em toda a extensão


do curso de água, convém considerar a declividade (S) como o quadrado
da média harmônica ponderada da raiz quadrada das declividades (ࡰ࢏ )
dos (n) trechos (i) em que se decompõe o álveo, de forma a retratar
melhor a associação dessa grandeza com a velocidade do escoamento
no canal.

‫ۍ‬ ‫ې‬

‫ ێ‬σ࢏ୀ૚ ࡸ࢏ ‫ۑ‬
ࡿൌ‫ێ‬ ‫ۑ‬
‫ێ‬σ࢔࢏ୀ૚ ቆ ࡸ࢏ ቇ‫ۑ‬
‫ۏ‬ ඥࡰ ࢏ ‫ے‬

Sendo:

ࡸ࢏ o comprimento de cada trecho (i)

A declividade assim obtida leva em conta o tempo de percurso,


contemplando o conceito de distância hidráulica. A figura seguinte

9
Álveo é o leito do rio (ou do curso de água)
10
Chézy (1718 – 1798), engenheiro francês, com grande contribuição na modelagem de canais abertos.
Anísio de Sousa Meneses Filho 31
esclarece, num exemplo compreendendo um curso de água em três
trechos.

Retângulo equivalente: constitui uma apresentação da bacia no formato


retangular, com a mesma área e o mesmo coeficiente de compacidade
da bacia representada. A distribuição do relevo também é contemplada
no retângulo equivalente, com a sua repartição em fatias respeitada a
correspondente área entre as cotas sucessivas. Assim é preservada, no
retângulo equivalente, a distribuição hipsométrica da bacia.

Sendo L1 e L2, respectivamente, o comprimento e a largura do


retângulo, as seguintes relações se estabelecem com a área (A) da bacia
e o coeficiente de compacidade (Kc):

ࡷ࡯ Ǥ ξ࡭ ૚ǡ ૚૛ૡ ૛
ࡸ૚ ൌ Ǥ ቎૚ ൅ ඨ૚ െ ൬ ൰ ቏
૚ǡ ૚૛ૡ ࡷ࡯

ࡷ࡯ Ǥ ξ࡭ ૚ǡ ૚૛ૡ ૛
ࡸ૛ ൌ Ǥ ቎૚ െ ඨ૚ െ ൬ ൰ ቏
૚ǡ ૚૛ૡ ࡷ࡯

De outro modo, o cálculo dos lados do retângulo pode ser desenvolvido


a partir da área (A) e do perímetro (P). Assim:

ࡸ૚ Ǥ ࡸ૛ ൌ ࡭ ૛Ǥ ሺࡸ૚ ൅ ࡸ૛ ሻ ൌ ࡼ

ࡼାඥࡼ૛ ି૚૟Ǥ࡭ ࡼିඥࡼ૛ ି૚૟Ǥ࡭


ࡸ૚ ൌ ࡸ૛ ൌ
૝ ૝

Com os dados da bacia desta Aplicação, encontramos:

ࡸ૚ ൌ ૛ǡ ૠ૛૛࢑࢓ ࡸ૛ ൌ ૚ǡ ૚૛ૡ࢑࢓

32 Hidrologia na prática
As áreas planimetradas entre as curvas de nível são as seguintes:

comprimento do
intervalo curva cota média área
curso d'água
de nível (m) (km²)
principal (km)
540 - 520 530 0,01 -
520 - 500 510 0,07 -
500 - 480 490 0,12 -
480 - 460 470 0,17 110
460 - 440 450 0,18 140
440 - 420 430 0,33 175
420 - 400 410 0,86 1050
400 - 380 390 1,33 2100

Com os dados da bacia desta Aplicação, encontramos a declividade


média do curso d’água principal:

ࡿ ൌ ૙ǡ ૙૚૜ૡ࢓Ȁ࢓

A figura retangular seguinte preserva, da bacia representada acima, a


área de drenagem, a compacidade e a distribuição do relevo. Porém não
exibe informações sobre a rede de drenagem.

Anísio de Sousa Meneses Filho 33


A proximidade maior das curvas de nível na porção mais a montante é
uma característica muito comum nas bacias hidrográficas, possível de
ser observada no retângulo equivalente e na curva hipsométrica exibida
a seguir. De fato, comumente os rios apresentam maior declividade nas
cabeceiras e um relevo mais suave à medida que se desloca em direção
à foz (lembrando um decaimento de configuração exponencial). A isso
se associa uma maior capacidade de transporte de sedimentos na
porção montante, em comparação com o baixo leito, este mais
suscetível a processos de assoreamento.

Curva hipsométrica
560

540

520

500

480
cota (m)

460

440

420

400

380

360
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
porcentagem da área total

34 Hidrologia na prática
Aplicação 05
Tema: Balanço hídrico quantitativo

A tabela seguinte apresenta os valores médios de temperatura, precipitação e


evapotranspiração potencial em Cajazeiras (PB), apurados no período de 1961 a 1990 (30
anos)11.

Promova, pelo método de Thornthwaite e Mather, a análise desses dados e estabeleça


um extrato de balanço hídrico climatológico (BHC) mensal representativo do período,
explicitando o armazenamento, déficts e excedências de água no solo ao longo do ano, e
assumindo a priori a capacidade de água disponível (CAD) de 100mm.

Desenvolvimento

O balanço hídrico quantitativo feito sistematicamente orienta as ações


para que se mantenha uma relação equilibrada entre a oferta de água
e as demandas, sejam elas consuntivas ou não.

O balanço pode ser feito para intervalo diário, semanal, quinzenal ou


mensal, conforme o propósito estabelecido. O conhecimento de como a
água se distribui no tempo é fundamental para a tomada de decisão,

11
Fonte: https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/bdclima/balanco/resultados/pb/554/balanco.html
Anísio de Sousa Meneses Filho 35
promovendo a segurança hídrica dos empreendimentos econômicos e
dos assentamentos humanos.

A lógica essencial do balanço hídrico se firma na equação da


continuidade: a quantidade de água que chega subtraída a quantidade
de água que sai naquele intervalo de tempo considerado corresponde à
variação da quantidade de água armazenada. Água não se cria, água
não se destrói.

Para melhor compreensão, vamos separar a abordagem em duas


etapas, a partir da consideração dos processos indicados na figura
seguinte:

i. balanço hídrico na superfície da bacia:


ࡼ ൅ ࡾࢍ െ ࡵ െ ࡱࡿ െ ࢀࡿ െ ࡾ ൌ ࡿࡿ
ii. balanço hídrico abaixo da superfície da bacia:
ࡳ૚ ൅ ࡵ െ ࡾࢍ െ ࡱࢍ െ ࢀࢍ െ ࡳ૛ ൌ ࡿࢍ

Na bacia como um todo, associando-se as duas equações acima, temos:


ࡼ ൅ ࡳ૚ െ ࡳ૛ െ ࡱࡿ െ ࢀࡿ െ ࡱࢍ െ ࢀࢍ െ ࡾ ൌ ࡿࡿ ൅ ࡿࢍ
As condições do semiárido nordestino fazem com que alguns termos da
equação acima se tornem desprezíveis no balanço hídrico anual.
Particularmente, nas áreas sem armazenamento por açude interanual
(como é o caso das bacias cearenses caracterizadas por um substrato
cristalino) a expressão do balanço hídrico anual pode ser reduzida a:

ࡼ െ ࡱࢀ െ ࡾ ൌ ૙

Na contabilidade das águas, convém observar o horizonte de tempo em


que os processos hidrológicos acontecem e em que perspectiva são
analisados. Há uma sensível diferença entre as abordagens de curto e

36 Hidrologia na prática
de longo prazo. Campos (2009) esclarece adicionalmente o conceito de
balanço hídrico em cotejo com o novo conceito de potencial hidráulico.
Ele destaca, no balanço hídrico de horizonte longo de uma bacia
alimentada exclusivamente por ocorrências pluviométricas (premissa
modelar de bacia fechada), a precipitação média anual como sendo o
potencial hidráulico da bacia, o qual se reparte em potencial hidráulico
fixo e potencial hidráulico móvel. A primeira parcela se refere às águas
que retornam à atmosfera do mesmo local onde precipitaram – é o caso
da evapotranspiração (ET, das plantas e animais) e da evaporação (EV,
das águas superficiais e das depressões do solo). A outra parcela
(móvel) se refere às águas que se movimentam ao longo da bacia (na
superfície (R) e no subsolo (RS)), permanecendo disponível para uso no
âmbito da bacia. A expressão seguinte explicita essas parcelas:

ࡼ ൌ ሺࡱࢂ ൅ ࡱࢀሻ ൅ ሺࡾ ൅ ࡾࡿ ሻ

࢖࢕࢚ࢋ࢔ࢉ࢏ࢇ࢒ࢎ࢏ࢊ࢘ž࢛࢒࢏ࢉ࢕ ൌ ࢖࢕࢚ࢋ࢔ࢉ࢏ࢇ࢒ࢌ࢏࢞࢕ ൅ ࢖࢕࢚ࢋ࢔ࢉ࢏ࢇ࢒࢓×࢜ࢋ࢒

No Nordeste brasileiro, a parcela de potencial hidráulico fixo costuma


ser bem maior do que o potencial hidráulico móvel – assumindo-se a
premissa de bacia como sistema fechado e numa avaliação de horizonte
longo. O manejo sustentável das águas pode ser orientado conforme a
repartição do potencial hidráulico, dentro do balanço hídrico.

Também é relevante destacar que o alcance do balanço hídrico não pode


ser limitado aos aspectos quantitativos. Afinal, água ruim não serve! Os
aspectos qualitativos, então, devem ser contemplados na análise, de
forma a proporcionar as condições de acesso à água em compatibilidade
com o padrão requerido para cada tipo de uso (como abastecimento
humano, dessedentação animal, cultivos agrícolas, piscicultura etc.).

No caso em tela, em que particularizamos o balanço hídrico do solo,


dito balanço hídrico climatológico (BHC), já conhecemos a precipitação
e a evapotranspiração potencial referentes a cada um dos meses.

O BHC emprega informações de natureza climática e constitui um


instrumento importante para o planejamento agrícola (tipicamente,
Anísio de Sousa Meneses Filho 37
quando feita a discretização mensal) e a tomada de decisão (em
períodos menores, semanas ou alguns dias). O refinamento do balanço
pode ser promovido no que se denomina BHC sequencial, pelo que se
retrata melhor a variação sazonal dentro do mesmo período.

Alguns conceitos preliminares devem ser estabelecidos. O


armazenamento no solo é do total precipitado quando subtraídas as
parcelas de evapotranspiração (parcela de retorno para a atmosfera) e
drenagem profunda (parcela de excedência, que o solo não consegue
reter). Assim:
ο࡭ࡾࡹ ൌ ࡼ െ ࡱࢀ െ ࡰࡼ
Aplicaremos, aqui, o método proposto por Thornthwaite e Mather (T&M,
1955). Com base nos dados de precipitação (P), evapotranspiração
potencial (ETP) e capacidade de água disponível no solo (CAD), é
possível fazer, para cada parcela de tempo discretizado, uma estimativa
da disponibilidade de água do solo (ARM), da evapotranspiração real
(ETR), da deficiência hídrica (DEF) e do excedente hídrico (EXC).
Considere-se a porção (volume de controle) de solo apresentada na
figura seguinte, com as parcelas de água que chegam a ela ou que dela
saem, já com as simplificações aplicadas.

No que segue, assumimos EXC (excedência) equivalente à DP


(drenagem profunda).

Como premissa do método, a reposição de água no solo é direta,


enquanto a retirada segue uma função exponencial. Portanto:
࡭ࡾࡹ
ࡺ࡭ࢉ ൌ ࡯࡭ࡰǤ ࢒࢔ ൬ ൰
࡯࡭ࡰ
࡭ࡾࡹ ൌ ࡯࡭ࡰǤ ࢋିሺࡺ࡭ࢉȀ࡯࡭ࡰሻ

38 Hidrologia na prática
Nas expressões acima, a variável NAc é o negativo acumulado
(correspondente a (P-ETP) negativo).

Se (P-ETP) < 0, primeiro calculamos o NAc e, em seguida, calculamos


o ARM pela expressão exponencial. Por outro lado, se (P-ETP) ൒ 0,
primeiro calculamos ARM (adicionando (P-ETP) ao armazenamento
anterior) e, em seguida, calculamos NAc pela expressão logarítmica.

A variável armazenamento (ARM) é limitada superiormente pela


capacidade de água disponível no solo (CAD).

࡭ࡾࡹ ൑ ࡯࡭ࡰ

A CAD representa o máximo de água disponível que aquele tipo de solo


consegue acumular, o que pode ser estimado em função de suas
características físicas e da profundidade efetiva12 do sistema radicular
da planta. A expressão para a obtenção de CAD é a seguinte:
࡯࡯ െ ࡼࡹࡼ
࡯࡭ࡰ ൌ ൬ ൰ Ǥ ࢊ࢙࢕࢒࢕ Ǥ ࡴ࢘
૚૙૙
Onde ࡯࡯ e ࡼࡹࡼ são, respectivamente, a capacidade de campo e o ponto
de murcha permanente, ambos expressos em porcentagem (de
volume); ࢊ࢙࢕࢒࢕ a densidade aparente do solo; ࡴ࢘ a profundidade
específica do sistema radicular (que varia conforme a cultura).
Usualmente, a CAD é medida em mm.

À guisa de ilustração:

Em média, a CAD para solos argilosos é cerca de 3 vezes a CAD para solos arenosos,
assumindo, por hipótese, uma mesma profundidade específica. CAD média em solos
argilosos é da ordem de 2,0 mm/cm; assim, para a cultura de milho, em que a
profundidade específica do sistema radicular é da ordem de 50 cm, pode-se estimar
a CAD em cerca de 100 mm.

12
Denomina-se profundidade efetiva do sistema radicular da planta a extensão da camada superior do solo em que se
concentram cerca de 80% das raízes.
Anísio de Sousa Meneses Filho 39
Consideremos, para um melhor entendimento das premissas do método
T&M, um exemplo de quatro períodos sequenciais (com uma semana
de duração, cada um deles) para apuração do BHC, sendo a CAD igual
a 100 mm.

1ª. semana:

(P – ETP) = + 10 mm
ARMf = 100 mm (pois ARM ൑ CAD)
NAc= 0
ALT = ARMf – ARMi = 0
ETR = ETP = 30 mm
DEF = 0
EXC = 10 – 0 = 10 mm

2ª. semana:

(P – ETP) = - 25 mm
NAc= - 25 mm
࡭ࡾࡹࢌ ൌ ૚૙૙Ǥ ࢋି૛૞Ȁ૚૙૙ ൌ ૠૡ
ALT = 78 – 100 = -22 mm
ࡱࢀࡾ ൌ ૞ ൅ ȁെ૛૛ȁ ൌ ૛ૠ࢓࢓
DEF = 30 – 27 = 3 mm
EXC = 0

40 Hidrologia na prática
3ª. semana:

(P – ETP) = - 20 mm
NAc= - 25 + (-20) = -45 mm
࡭ࡾࡹࢌ ൌ ૚૙૙Ǥ ࢋି૝૞Ȁ૚૙૙ ൌ ૟૝
ALT = 64 – 78 = -14 mm
ࡱࢀࡾ ൌ ૚૙ ൅ ȁെ૚૝ȁ ൌ ૛૝࢓࢓
DEF = 30 – 24 = 6 mm
EXC = 0

4ª. semana:

(P – ETP) = + 30 mm
ARMf = 64 + 30 = 94 mm
ૢ૝
ࡺ࡭ࢉ ൌ ૚૙૙Ǥ ࢒࢔ ൬ ൰ ൌ െ૟࢓࢓
૚૙૙
ALT = ARMf – ARMi = 94 – 64 = + 30 mm
ࡱࢀࡾ ൌ ૜૙࢓࢓
DEF = 0
EXC = 30 – 30 = 0

Considera-se a evapotranspiração uma demanda precedente ao


armazenamento – assim, a estocagem de água entre um período e
outro depende de haver mais precipitação do que evapotranspiração
naquele intervalo de tempo.

Anísio de Sousa Meneses Filho 41


Vamos, então, à nossa Aplicação do balanço hídrico climatológico
normal mês a mês, ao longo do ano, para as precipitações e
evapotranspirações médias mensais.

A inicialização do processo de apuração do armazenamento deve


considerar o último mês da estação úmida (aquela em que P ൒ ETP). No
caso de Cajazeiras (PB), o período úmido vai de fevereiro a abril. A
partir de maio, a evapotranspiração (ETP) já supera a precipitação (P).

Para o mês de janeiro, por exemplo: o armazenamento é nulo, pois a


precipitação média é inferior à evapotranspiração potencial média; a
evapotranspiração real consome integralmente a lâmina precipitada,
evidenciando-se um déficit de 61mm (=100mm – 161mm); nesse mês,
portanto, não há excedente. No mês seguinte (fevereiro), a quantidade
de chuvas já supera a evapotranspiração potencial, permitindo o
armazenamento de 31mm (=163mm – 132mm); não há excedente em
fevereiro, haja vista a capacidade de armazenamento, porém toda a
demanda de evapotranspiração é atendida. E assim por diante, nos dois
meses subsequentes. Observe-se que, em maio, a evapotranspiração
volta a ser maior do que a quantidade de precipitação. O mês de abril
fecha com o armazenamento do solo equivalente ao CAD, ou seja, 100
mm; é com esse armazenamento que se inaugura o mês de maio. E aí,
então, começamos a aplicar o algoritmo do método T&M.

Assim, em maio:
(P – ETP) = 67 – 118 = - 51 mm
NAc= - 51 mm
࡭ࡾࡹࢌ ൌ ૚૙૙Ǥ ࢋି૞૚Ȁ૚૙૙ ൌ ૟૙
ALT = 60 – 100 = - 40 mm
ࡱࢀࡾ ൌ ૟ૠ ൅ ȁെ૝૙ȁ ൌ ૚૙ૠ࢓࢓
DEF = 118 – 107 = 11 mm
EXC = 0

Prosseguindo com o balanço em junho:


(P – ETP) = 28 – 103 = - 75 mm
NAc= - 126 mm
࡭ࡾࡹࢌ ൌ ૚૙૙Ǥ ࢋି૚૛૟Ȁ૚૙૙ ൌ ૛ૡ

42 Hidrologia na prática
ALT = 28 – 60 = - 32 mm
ࡱࢀࡾ ൌ ૛ૡ ൅ ȁെ૜૛ȁ ൌ ૟૙࢓࢓
DEF = 103 – 60 = 43 mm
EXC = 0

E assim por diante, até alcançarmos o mês de abril, com o ciclo


completo, contemplando os doze períodos mensais para a integralização
do ano.

Os valores encontrados estão exibidos no quadro seguinte, bem como


os gráficos associados.

Anísio de Sousa Meneses Filho 43


44 Hidrologia na prática
Além do balanço hídrico quantitativo, também é de interesse a apuração
sistemática do balanço hídrico qualitativo.

Enquanto o balanço hídrico quantitativo constitui uma relação entre as


demandas consuntivas estimadas (vazões de retirada) e a
disponibilidade hídrica, o balanço hídrico qualitativo leva em conta a
capacidade de assimilação de cargas orgânicas pelos corpos de água,
no processo que se denomina autodepuração.

Anísio de Sousa Meneses Filho 45


Aplicação 06
Tema: Balanço hídrico quantitativo afetado por reservatório artificial

Considere uma bacia com 3 km² de área de drenagem e com evapotranspiração média
anual de 1000 mm. A precipitação média na região é de 1100 mm ao ano.
Estime a variação no deflúvio médio anual caso essa bacia venha a ser inundada em 5%
de sua área.

Um açude em bacia vizinha registra evaporação média anual de 1500 mm.

Desenvolvimento

A construção de um barramento para a estocagem de água, a fim de


garantir o suprimento hídrico durante o período de estio, é uma prática
historicamente vigorosa e fundamental para a economia na região do
semiárido nordestino. A operação do sistema artificialmente introduzido
na bacia consiste em armazenar parte do excedente no período chuvoso
e controlar a sua liberação conforme a necessidade se manifesta no
decorrer do ano. Se, por um lado, isso evita que toda a água não
utilizada naquele instante termine abastecendo o mar e, assim,
constrangendo a demanda naquele longo período sem chuvas, por outro
acarreta a exposição de um espelho de água (às vezes, enorme) à
incidência da radiação solar, agente motriz da evaporação capaz de
sequestrar significativa parcela da preciosa reserva hídrica.

Surge, então, um dilema! O que seria melhor: dispor de muitos


pequenos reservatórios ou de um único reservatório grande? A resposta
não é simples, pois envolve diversas variáveis e aspectos a serem
analisados. Um primeiro desafio presente é a limitada afluência anual
na bacia, que condiciona um teto a ser praticado no dispositivo de
estocagem, além de atendidas as contingências ecológicas e
ambientais. A conformação do vale (se estreito ou aberto) constitui um
indicativo na escolha do local de implantação do barramento. Em geral,
dá-se preferência aos estreitamentos, por razões econômicas.
46 Hidrologia na prática
Pelo balanço hídrico anual, podemos estimar o impacto da formação do
lago no processo evaporativo e nas vazões médias a jusante do
barramento. Tipicamente, considerando que o regime de chuvas não é
afetado pela formação do lago, e que os pequenos reservatórios
formados (como no caso desta Aplicação) enchem e secam no mesmo
ano hidrológico (ele são, portanto, intra-anuais)13, a equação do
balanço exprime como nula a variação do armazenamento (ocorre a
compensação entre o que é guardado e o que é utilizado no período).
Além disso, a parcela contribuinte de fluxo subterrâneo é desprezível
nas condições do semiárido de substrato rochoso cristalino, como em
vasta extensão do Ceará. Assim, expressamos:

ࡼ െ ࡱࢂ െ ࡾ ൅  οࡳ ൌ οࡿ com οࡳ ൌ ૙ e οࡿ ൌ ૙

Daí a equação mais específica e simplificada: ࡼ െ ࡱࢂ െ ࡾ ൌ ૙

Vamos aplicá-la a dois cenários: antes e depois da formação do lago.

Antes:

૚૚૙૙ െ ૚૙૙૙ െ ࡾ ൌ ૙ ࡾ ൌ ૚૙૙࢓࢓Ȁࢇ࢔࢕

Depois:

૚૚૙૙ െ ሺ૚૙૙૙ ൈ ૙ǡ ૢ૞ ൅ ૚૞૙૙ ൈ ૙ǡ ૙૞ሻ െ ࡾ ൌ ૙ ࡾ ൌ ૠ૞ mm/ano

Neste exemplo hipotético, a vazão média anual apresentou decréscimo


de 25% em decorrência da inundação de 5% da área de drenagem.
Apesar desse ‘efeito colateral’, a estratégia de reservação cumpre um
papel importante na regularização, ou seja, na melhor distribuição
temporal das águas. O aparente superávit no cenário anterior à
formação do lago não se traduz numa sobra aproveitável, o que só se
alcança quando as condições de armazenamento se estabelecem, ou
seja, com a construção do barramento, por exemplo.

13
Distinguem-se os açudes intra e interanuais. Os açudes interanuais são projetados para a travessia de mais de um ano
hidrológico, sendo, portanto, de maior capacidade. Os açudes intra-anuais atendem apenas a demanda do período seco que
ocorre logo após o período chuvoso.
Anísio de Sousa Meneses Filho 47
Quanto mais água você guarda, mais água você perde!

Não há um relacionamento de proporcionalidade direta entre a área do


espelho de água do açude e a sua correspondente vazão regularizada.
Por exemplo, o açude Banabuiú e o açude Castanhão têm,
respectivamente, área de espelho de água da ordem de 60,0 km² e 328
km². No entanto, as suas vazões regularizadas14 são de 11,00 m³/s e
12,35 m³/s. Apesar de uma área exposta quase sete vezes maior, o
açude Castanhão não regulariza vazão tantas vezes mais do que o
açude Banabuiú.

O parâmetro área de espelho de água é relevante porque a exposição


do conteúdo acumulado à incidência de radiação solar favorece a perda
de água para a atmosfera por evaporação. No estado do Ceará, por
exemplo, a evapotranspiração potencial é da ordem de 2.000 mm ao
ano, lâmina bem acima daquela produzida pelas chuvas no mesmo
período.

Também não há uma proporção direta entre a área do espelho de água


e o volume armazenado no açude. Para as pequenas reservações, a
relação entre essas duas variáveis se estima assim15:

ࢂ ൌ ࢼǤ ࡿ૚ǡ૟

Portanto, em pequenos açudes, quando se duplica a superfície exposta


de água, o volume ali armazenado aproximadamente triplica. Tal não
é, porém, o caso dos grandes barramentos – à guisa de exemplo,
destacamos novamente o caso do açude Castanhão, cuja relação cota-
área-volume pode ser explorada no quadro seguinte. Nessa regressão
por função potência, o aumento da volumetria é bem menor do que o
observado nos pequenos açudes – o expoente da variável área é pouco
mais do que 1 (ou seja, relação quase linear), como segue:

ࢂ ൌ ૚૛ǡ ૙ૢǤ ࡿ૚ǡ૙૛૟ , com R² = 0,99

14
Conforme Borges (2016), referindo-se à cota 100 do açude Castanhão.
15
Essa relação é abordada na Aplicação 32. O coeficiente E sintetiza a geometria do reservatório, desdobrado em dois
parâmetros de ajuste (D e K).
48 Hidrologia na prática
Adicionalmente, se correlacionarmos as áreas (em km²) das bacias de
drenagem dos principais açudes do Vale do Jaguaribe16, no Ceará, com
as vazões regularizadas (m³/s), o resultado não aponta um crescimento
proporcional, a menos que para alguns pequenos reservatórios.

Se destacarmos três dos açudes de maior vazão regularizada no Ceará,


Castanhão, Orós e Banabuiú, cada um deles regulariza mais de
1000L/s, com 99% de garantia; por outro lado, quando observamos
esses mesmos açudes em termos de vazão natural incremental
específica de longo termo, o desempenho cai para valores entre 1 e
3,5L/s/km², ficando abaixo de alguns de volumetria bem menor, como
o Arneiroz II, cuja capacidade de 188hm³ proporciona vazão
incremental superior a 5L/s/km². As figuras seguintes permitem uma
exploração de cotejo.

16
Dados do Boletim Técnico do DNOCS 114, ano 1981.
Anísio de Sousa Meneses Filho 49
Fonte: Reservatórios do semiárido brasileiro, ANA (2017).

Em síntese, o que se pretende destacar nesta Aplicação é a necessidade


de uma análise judiciosa quanto aos diversos aspectos e variáveis que
estão envolvidos na tomada de decisão para a escolha do melhor local
e da cota ideal de sangria. A profusão de açudes implantados, sem o
requerido critério técnico, em visão de longo termo, não determina, em
igual escala, a segurança hídrica nem o aumento consistente da vazão
regularizada.

Conforme Campos (2005), “a escolha criteriosa do local do barramento


é capaz de proporcionar substanciais reduções nas perdas por
evaporação a partir do lago”. Ainda de acordo com a mesma fonte, os
grandes reservatórios apresentam melhor comportamento do que os
pequenos reservatórios, no tocante às perdas por evaporação.

50 Hidrologia na prática
Aplicação 07
Tema: Estimativa da evapotranspiração potencial

Estime a evapotranspiração potencial média anual numa bacia hidrográfica no município


de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará.

latitude: 5o 12’ 08” S


longitude: 39 o 16’ 49” W
altitude: 204 m

Desenvolvimento

A evaporação é um fenômeno físico, enquanto a transpiração é um


fenômeno fisiológico (próprio das plantas e animais). Ambos são
processos que integram o ciclo hidrológico. Para o hidrólogo, muitas

Anísio de Sousa Meneses Filho 51


vezes é irrelevante separar uma quantidade da outra, daí serem essas
duas parcelas abrangidas sob a denominação de evapotranspiração.

A evapotranspiração pode ser definida conforme o propósito de sua


estimativa.

Evapotranspiração potencial: transferência de água para a atmosfera


na condição em que não se restringe a disponibilidade hídrica no solo
ou na superfície.

Evapotranspiração potencial de referência: evapotranspiração potencial


na situação em que se adota uma vegetação de referência
(normalmente, um padrão de grama). Essa grandeza serve como
estimativa de base paramétrica para outras vegetações ou cultivos
agrícolas, a partir de correlações já estabelecidas e disponíveis na
literatura técnica.

Evapotranspiração real: fluxo de calor latente para a atmosfera numa


dada condição, levando-se em conta a efetiva disponibilidade hídrica
para o processo. Varia conforme os fatores atmosféricos, características
do solo e das plantas existentes.

A evapotranspiração real é sempre menor ou igual à


evapotranspiração potencial.

A medição de evapotranspiração pode ser feita com o uso de lisímetro,


que consiste num recipiente enterrado, preenchido por solo e aberto
superiormente com a cobertura do solo conforme o propósito da
avaliação. Com a irrigação artificial controlada, a evapotranspiração é
avaliada pelo balanço de massa, conhecidas as parcelas de precipitação,
escoamento superficial, escoamento de base e variação do volume de
água do depósito.

Por outro lado, em locais sem dados históricos ou oportunidade de


medição direta, a evapotranspiração potencial pode ser estimada com
base na temperatura, associada à radiação solar que varia de acordo
com a latitude e altitude do local, contemplando, ainda, variáveis como

52 Hidrologia na prática
a umidade do ar, a velocidade do vento e a quantidade de horas diárias
de insolação.

Há várias propostas de expressões empíricas, entre elas a de


Thornthwaite e a de Hargreaves. Algumas formulações incorporam uma
base física na avaliação, como é o caso da de Penman-Monteith17.

O grande apelo da expressão de Hargreaves está na facilidade da


estimativa, já que são necessários apenas dados de temperatura e
radiação solar. A partir da radiação solar extraterrestre, tabelada em
função da latitude local e do mês, avalia-se a radiação solar incidente.

A evapotranspiração potencial diária (ETo, em mm/dia) se obtém da


seguinte expressão geral:

ࡱࢀ࢕ ൌ ૙ǡ ૙૚૜૞Ǥ ሺ࢚࢓±ࢊ ൅ ૚ૠǡ ૠૡሻǤ ࡾࡿ

ࡾࡿ ൌ ࡾ࢕ Ǥ ࡷࢀǤ ሺ࢚࢓ž࢞ െ ࢚࢓À࢔ ሻ૙ǡ૞

Sendo RS a radiação solar incidente (em mm/dia); tméd, tmáx e tmín,


respectivamente, as temperaturas média, máxima e mínima (em ºC);
Ro a radiação solar extraterreste (tabelada, em mm/dia); KT um
coeficiente empírico, estimado com base na pressão atmosférica
(valores recomendados18: 0,162, para regiões interiores; 0,19, para
regiões costeiras).

17
Detalhamento dessas formulações pode ser encontrado em Collischonn (2015).
18
Conforme mencionado em http://hidrologia.usal.es/practicas/ET/ET_Hargreaves.pdf
Anísio de Sousa Meneses Filho 53
Tabela19 para extração de Ro

Observação: 1 mm/dia corresponde a 2,45 MJ /(m².dia)

Para Quixeramobim (CE), no ponto assinalado na imagem, temos as


coordenadas:
Latitude: 5º 12’ 08” S Longitude: 39º 16’ 49” W Altitude: 204 m
O recorte seguinte da tabela exibe os valores de radiação solar
extraterrestre (em mm/dia), no hemisfério sul, a cada mês, na latitude
corresponde ao ponto pesquisado. Podemos tomar o valor médio, como
interpolação aproximada.

As temperaturas máximas, mínimas e médias mensais estão disponíveis


no gráfico seguinte.

19
Disponível em hidrologia.usal.es/practicas/ET/ET_Hargreaves.pdf
54 Hidrologia na prática
Fonte: https://pt.weatherspark.com/y/31029/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Quixeramobim-Brasil-durante-
o-ano#Sections-Temperature (acesso em 8/8/2020)

Temos assim, para o mês de janeiro, por exemplo:

ࡾࡿ ൌ ૚૞ǡ ૝૞Ǥ ૙ǡ ૚૟૛Ǥ ሺ૜૝ǡ ૙ െ ૛૜ǡ ૞ሻ૙ǡ૞ ൌ ૡǡ ૚૚࢓࢓Ȁࢊ࢏ࢇ

ࡱࢀ࢕ ൌ ૙ǡ ૙૚૜૞Ǥ ሺ૛ૠǡ ૠ ൅ ૚ૠǡ ૠૡሻǤ ૡǡ ૚૚ ൌ ૞ǡ ૙࢓࢓Ȁࢊ࢏ࢇ

O mesmo procedimento adotado em todos os demais meses do ano nos


conduz ao preenchimento da tabela seguinte.
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Ro (mm/dia) 15,45 15,70 15,50 14,60 13,45 12,80 13,05 14,00 15,05 15,55 15,45 15,35
Rs (mm/dia) 8,11 8,00 7,53 6,48 6,35 6,88 7,62 8,18 9,28 9,76 9,36 8,97
tméd (oC) 27,70 27,10 26,20 26,30 25,60 25,60 25,30 27,00 27,40 27,80 26,80 26,90
tmáx (oC) 34,00 33,40 32,00 30,50 31,00 32,00 34,00 35,00 37,00 38,00 37,50 36,00
tmín (oC) 23,50 23,50 23,00 23,00 22,50 21,00 21,00 22,00 22,50 23,00 23,50 23,00
ETo (mm/dia) 5,0 4,8 4,5 3,9 3,7 4,0 4,4 4,9 5,7 6,0 5,6 5,4
ETo (mm/mês) 154,4 135,8 138,6 115,6 115,3 120,8 137,4 153,2 169,9 186,1 169,1 167,7

Nesse caso, a evapotranspiração potencial no período de um ano chega


a 1.764 mm, com uma média mensal de 147 mm. A evapotranspiração
real, porém, está bem abaixo desse valor (cerca da metade), pois a
quantidade de chuvas e a forma como se distribuem no ano acarretam
Anísio de Sousa Meneses Filho 55
déficit hídrico local em 75% dos meses, na média. É o que se depreende
do quadro seguinte.

Comparando os valores obtidos aqui com aqueles disponíveis na base


de dados da Embrapa20, podemos observar que ocorre uma variação na
estimativa das evapotranspirações potenciais mensais, da ordem de
5,8%, aceitável à vista da amplitude dos registros históricos e da
diversidade de formulações empíricas disponíveis na literatura.

20
Disponível em: cnpm.embrapa.br/projetos/bdclima/balanco/resultados/ce/48/balanco.html (acesso em 8/8/2020)
56 Hidrologia na prática
Aplicação 08
Tema: Estimativa da infiltração pelo modelo de Horton

Estime a infiltração de água durante a ocorrência de chuva. Considere a chuva de projeto


para Fortaleza com TR 50 anos e duração de 120 minutos e o modelo de Horton com taxa
inicial de infiltração de 43,0 mm/h e taxa de infiltração mínima de 8,0 mm/h.

Desenvolvimento

A infiltração é o processo de passagem da água que está na superfície


do solo para o seu interior.

O modelo21 de Horton considera o decrescimento exponencial da taxa


de infiltração (f). Assim:

ࢌ ൌ ࢌ࡯ ൅ ሺࢌ૙ െ ࢌ࡯ ሻǤ ࢋି࢑Ǥ࢚

A infiltração acumulada (F) ao longo do tempo pode ser obtida pelo


cálculo da integral, correspondendo à seguinte expressão:
ࢌ૙ െ ࢌ࡯ ࢌ૙ െ ࢌ ࡯
ࡲ ൌ ࢌ࡯ Ǥ ࢚ ൅ െ൬ ൰ Ǥ ࢋି࢑Ǥ࢚
࢑ ࢑

21
Campos (2009) define modelo como “conjunto de hipóteses sobre a estrutura ou o comportamento de um sistema físico
pelo qual se procuram explicar ou prever, dentro de uma teoria científica, as propriedades de um sistema”.
Anísio de Sousa Meneses Filho 57
ࢌ૙ ିࢌ࡯
ࡲ ൌ ࢌ࡯ Ǥ ࢚ ൅ Ǥ ൫૚ െ ࢋି࢑Ǥ࢚ ൯

A rigor, a obtenção dos valores dos parâmetros fo (taxa de infiltração


inicial (máxima)), fc (taxa de infiltração mínima, final ou crítica) e k
(constante da exponencial) demandam a realização de ensaios de
campo (usualmente, com o emprego infiltrômetro de duplo anel). As
indicações da literatura não são suficientes para compor a expressão
específica do local investigado, haja vista a ampla e diversificada gama
de valores sugeridos na literatura (por exemplo, McCuen (1997), Akan
(1993), Porto (1995), sem uma orientação convergente.
Para que essa taxa teórica se verifique é necessário que haja suficiente
água (da chuva) sobre a superfície do solo. Distinguem-se, assim, a
taxa de infiltração e a capacidade de infiltração. Se a intensidade da
chuva for superior à capacidade de infiltração, a taxa de infiltração será
equivalente à capacidade de infiltração. Por outro lado, se a intensidade
da chuva for inferior ou igual à capacidade de infiltração, a taxa de
infiltração será equivalente à intensidade da chuva.

A capacidade de infiltração diminui à medida que a água vai ingressando


no solo, durante a chuva. No período entre eventos (quando não há
chuva), o solo vai gradativamente recuperando a sua capacidade de
infiltração, como ilustra a figura seguinte.

58 Hidrologia na prática
Na prática hidrológica, com o uso de um infiltrômetro de anéis circulares
concêntricos, podemos medir a taxa de infiltração sob condições
controladas para a calibração do modelo de Horton. Assim, obtemos os
parâmetros fo , fc e k.

Valores de k são reportados em experimentos, variando de 0,67/h a


49/h (Akan, 1993).

As taxas de infiltração inicial e final estão relacionadas ao tipo e


estrutura do solo. A infiltração inicial depende adicionalmente das
condições de umidade do solo. As tabelas seguintes (adaptadas de
Akan, 1993) trazem valores recomendados, para quando dados
específicos locais não estiverem disponíveis.

Taxa inicial de
Tipo de solo infiltração (fo), em
mm/h

Solo seco com pouca ou nenhuma vegetação 12,7

Mistura de solo com areia, silte, argila e húmus com


76,2
pouca ou nenhuma vegetação

Solo argiloso seco com pouco ou nenhuma vegetação 25,4

Solo arenoso seco com vegetação densa 254,0

Solo seco, constituindo mistura de areia, silte, argila


152,4
e húmus com vegetação densa

Solo argiloso seco com vegetação densa 50,0

Solo arenoso seco com pouca ou nenhuma vegetação 43,2

Solo argiloso úmido com pouca ou nenhuma


7,6
vegetação

Solo arenoso úmido com pouca ou nenhuma


83,8
vegetação

Mistura de solo úmido, com areia, silte argile e húmus


25,4
com pouco ou nenhuma vegetação

Mistura de solo úmido, com areia, silte, argila e


50,8
húmus com vegetação densa

Solo úmido argiloso com vegetação densa 17,8

Anísio de Sousa Meneses Filho 59


Taxa final de
Tipo de solo infiltração (fc), em
mm/h

Solo argiloso com areia, silte e húmus 0 a 1,27

Solo arenoso argiloso 1,27 a 3,81

Solo siltoso com areia, silte e húmus 3,81 a 7,62

Solo arenoso 7,62 a 11,43

A tabela seguinte apresenta os parâmetros do modelo de Horton,


conforme a classificação hidrológica do solo do SCS.

Parâmetros do Classificação hidrológica do solo (de acordo com o SCS)


modelo de
Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D
Horton
fo (mm/h) 250 200 130 80
fc (mm/h) 25 13 7 3
k (h-1) 0,5 0,5 0,5 0,5
Fonte: Adaptada de Porto (1995)

Nesta Aplicação, estamos considerando para k o valor de 0,67/h.

A chuva de projeto é exibida nos hietogramas seguintes (de intensidade


de chuva e lâmina produzida), confeccionados com base no método dos
blocos alternados, com discretização temporal de 2,5 minutos. A
duração total do evento de precipitação, de 120 minutos, contempla,
então, 48 intervalos (ou blocos) de 2,5 minutos.

Hietograma de projeto (TR 50 anos; duração da chuva: 120 minutos)


250,00
intensidade de chuva (mm/h)

200,00

150,00

100,00

50,00

0,00

tempo (min)

60 Hidrologia na prática
Hietograma de projeto (TR 50 anos; duração da chuva: 120 minutos)
10,00
9,00
lâmina da chuva (mm)

8,00
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00

tempo (min)

A expressão da taxa de infiltração com os parâmetros adotados assim


se apresenta:

ࢌሺ࢚ሻ ൌ ૡ ൅ ૜૞Ǥ ࢋି૙ǡ૟ૠǤ࢚

Essa taxa se aplica quando a intensidade da chuva lhe for igual ou


superior. Caso contrário, a taxa de infiltração corresponderá à
intensidade de chuva.

Os gráficos seguintes exibem a taxa de infiltração e a lâmina infiltrada,


em função do tempo, pelo modelo de Horton.

Infiltração (modelo de Horton)


35,00

30,00
taxa de infiltração (mm/h)

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00
tempo (min)

Anísio de Sousa Meneses Filho 61


Infiltração (modelo de Horton)
1,60

1,40
lâmina de infiltração (mm)

1,20

1,00

0,80

0,60

0,40

0,20

0,00
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00
tempo (min)

A precipitação efetiva (ou excedente), que se converte em escoamento


superficial direto, é a diferença entre a precipitação total e a lâmina
infiltrada.

Precicipitação efetiva
8,00
lâmina de chuva excedente (mm)

7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00

tempo (min)

Em síntese:
x lâmina total precipitada: 100,6 mm
x lâmina total infiltrada: 45,7 mm
x lâmina de precipitação efetiva: 54,9 mm

62 Hidrologia na prática
Aplicação 09
Tema: Preenchimento de falhas em arquivos de dados pluviométricos

Estime, pelo método da ponderação regional, o valor de preenchimento do registro


mensal no posto Caiçara (código ANA 540109), em abril de 2020.

Desenvolvimento

Dados são reunidos para que sejam geradas informações úteis na


tomada de decisão. O ideal é que se disponha de uma série longa e
ininterrupta de dados. Diversos motivos, notadamente de ordem
operacional, acarretam lacunas no registro histórico das ocorrências
hidrológicas (precipitação e vazão, por exemplo). Até certo ponto, essas
falhas podem ser supridas (mas não rigorosamente suprimidas), com
vistas à homogeneização do período para a análise estatística.

Anísio de Sousa Meneses Filho 63


Dois métodos estão disponíveis e podem ser aproveitados para o
preenchimento de falhas em dados de chuva:
x Método da ponderação regional
x Método de regressão linear

O método da ponderação regional serve para o preenchimento em


séries mensais ou anuais de precipitação.

O procedimento é bastante simples e consiste no cálculo da média


ponderada dos postos vizinhos (na região homogênea) ao posto em que
se evidencia a falha. Tomam-se, pelo menos, três postos vizinhos. A
expressão é a que segue:

ࡺࢄ ૚ ૚ ૚ ૚
ࡼࢄ ൌ ൬ Ǥࡼ ൅ Ǥࡼ ൅ Ǥࡼ ൅ ‫ڮ‬൅ Ǥࡼ ൰
࢔ ࡺ ૚ ૚ ࡺ૛ ૛ ࡺ૜ ૜ ࡺ࢔ ࢔

Sendo:
ࡼࢄ : precipitação (de preenchimento) no posto lacunoso
ࡺࢄ : precipitação média histórica registrada no posto lacunoso
ࡺ࢏ : média (mensal ou anual) no posto ࢏
ࡼ࢏ : precipitação (mensal ou anual) no posto ࢏
࢔: quantidade de postos vizinhos utilizados na ponderação

Convém enfatizar, no entanto, que nenhum procedimento metodológico


é capaz de promover a efetiva recuperação do real valor do dado
lacunoso. O evento de precipitação que não fora registrado jamais terá
o seu valor conhecido. No entanto, é de bom alvitre preservar a
amplitude e a extensão do arquivo de dados, pois quanto maior a série
de dados (mais longa a varredura na linha do tempo), tanto melhor
tende a ser a informação alcançada na sua análise por critérios
estatísticos e no ajuste a modelos (sejam eles probabilísticos ou
determinísticos).

Vamos aos cálculos!

Para esta Aplicação, foram selecionados os quatro postos


pluviométricos mais próximos do posto Caiçara (lacunoso):

x Posto Altamira (código 540110)


x Posto Carrapateiras (código 540049)
x Posto Fazenda Poço da Pedra (código 538061)
x Posto Açude Várzea do Boi (código 540015)

64 Hidrologia na prática
No sistema Hidroweb, mantido pela ANA (Agência Nacional de Águas e
Saneamento Básico), podemos obter os dados referentes aos quatro
postos.

Posto Caiçara:
x Média em abril: 60,6 mm (15 anos)
Posto Altamira:
x Média em abril: 74,7 mm (20 anos)
Posto Carrapateiras:
x Média em abril: 81,4 mm (22 anos)
Posto Fazenda Poço da Pedra:
x Média em abril: 119,3 mm (7 anos)
Posto Açude Várzea do Boi:
x Média em abril: 101,3 mm (53 anos)

Os registros do posto 538061 (Fazenda Poço da Pedra) não serão


considerados aqui em razão da pequena extensão da série histórica.

Para a implementação do preenchimento, no cálculo da média do mês


de abril, consideramos somente os anos comuns aos quatro postos,
totalizando 12 anos. Assim:

Posto Caiçara:
x Média em abril: 54,7 mm (12 anos)
x Total em abril de 2020: ?

Anísio de Sousa Meneses Filho 65


Posto Altamira:
x Média em abril: 60,5 mm (12 anos)
x Total em abril de 2020: 79,2 mm
Posto Carrapateiras:
x Média em abril: 68,8 mm (12 anos)
x Total em abril de 2020: 77,0 mm

Posto Açude Várzea do Boi:


x Média em abril: 55,8 mm (12 anos)
x Total em abril de 2020: 49,0 mm

Pela fórmula do método da ponderação regional, temos:


૞૝ǡૠ ૚ ૚ ૚
ࡼࢄ ൌ ቀ૟૙ǡ૞ Ǥ ૠૢǡ ૛ ൅ ૟ૡǡૡ Ǥ ૠૠǡ ૙ ൅ ૞૞ǡૡ Ǥ ૝ૢǡ ૙ቁ ൌ ૟૙ǡ ૜࢓࢓

Uma maneira de se verificar a qualidade do preenchimento consiste em


simular a falha, ou seja, estimar o valor ‘apurado’ com base no método
escolhido para o preenchimento (por exemplo, a ponderação regional)
e, em seguida, compará-lo com o efetivo valor do registro histórico.
Efetivamente, foi isso o que fizemos nesta Aplicação. Existe, sim, o
registro da chuva no mês de abril de 2020 no Posto Caiçara (código
540109) – o valor constante da base de dados é 58,9 mm. Neste caso,
o erro foi da ordem 2,4% (para mais). No entanto, essa é uma avaliação
isolada, que pode não representar o potencial do método.

AÇUDE VÁRZEA DO
ALTAMIRA CARRAPATEIRAS CAIÇARA
BOI
ano Total ano Total ano Total ano Total
2020 79,2 2020 77 2020 58,9 2020 49
2019 58,8 2019 60 2019 82,9 2019 59,4
2018 146,4 2018 112 2018 66,3 2018 106
2017 44,4 2017 27 2017 0 2017 35,8
2015 18,2 2015 18 2015 20 2015 30,6
2011 116,2 2011 124 2011 112,6 2011 71,8
2007 40,6 2007 77,6 2007 123,4 2007 33,8
2006 34,4 2006 75,2 2006 0 2006 129,4
2005 48,2 2005 47,6 2005 33,4 2005 0
2004 27,8 2004 52,8 2004 55,3 2004 56,4
2003 60 2003 22,4 2003 32,3 2003 32,2
2002 51,8 2002 132,4 2002 71 2002 64,8
média 60,5 média 68,8 média 54,7 média 55,8

66 Hidrologia na prática
Outra expressão também aplicável ao preenchimento de falhas é a que
se baseia na distância (L) de cada posto vizinho ao posto lacunoso.
Admite-se, nesse caso, um decaimento com o quadrado da distância no
peso atribuído para o cálculo da média. Assim:


σ࢔࢏ୀ૚ ቆ ૛࢏ ቇ
ࡸ࢏
ࡼࢄ ൌ

σ࢔࢏ୀ૚ ቆ ૛ ቇ
ࡸ࢏

Nesta Aplicação, com os três postos vizinhos disponíveis, temos:

૟૙ǡ ૞ ૟ૡǡ ૡ ૞૞ǡ ૡ


൅ ൅
૟૛ ૚૙૛ ૚ૠǡ ૟૛
ࡼࢄ ൌ ൌ ૟૛ǡ ૚૞࢓࢓
૚ ૚ ૚
൅ ൅
૟૛ ૚૙૛ ૚ૠǡ ૟૛

Anísio de Sousa Meneses Filho 67


Aplicação 10
Tema: Análise de consistência dos dados pluviométricos

Considere os registros dos seguintes postos pluviométricos integrantes da base Hidroweb


(da ANA), no estado do Ceará, no período de 2009 a 2018, cujas localizações se ilustram
nos mapas.

Aracati – código 437000


Quixeramobim – código 539012
São Benedito – código 440030

68 Hidrologia na prática
Verifique se há indícios de que esses postos integrem uma mesma região
hidrologicamente homogênea.
totais anuais de chuva (mm)
ano Aracati Quixeramobim São Benedito
2018 1042,6 703,5 703,5
2017 906 699,1 699,1
2016 331,6 394,6 394,6
2015 658,5 421,7 421,7
2014 624 401,6 401,6
2013 672,7 682,7 682,7
2012 375,4 270,2 270,2
2011 1282,4 1012,8 1012,8
2010 553,4 706,4 706,4
2009 1733,2 1107,5 1107,5

Desenvolvimento

Para o processamento dos dados hidrológicos, algumas providências


devem ser previamente adotadas, quais sejam: i) detecção e remoção
de erros grosseiros; ii) preenchimento de falhas; iii) análise de
consistência.

A análise de dupla massa (ou seja, com o diagrama de dupla


acumulação) se aplica para a verificação de alguma eventual
inconsistência. Para isso, os pontos plotados no diagrama devem ser
colineares. Caso não o sejam, diz-se que não há evidência de
inconsistência. Isso, no entanto, não é o mesmo que afirmar que os
dados são consistentes.

Anísio de Sousa Meneses Filho 69


Considere o seguinte diagrama de dupla massa. Cada ponto plotado
nesse diagrama corresponde a um ano. Os pontos avançam e se
distanciam da origem dos eixos coordenados, na sucessão dos anos,
haja vista que a precipitação anual não pode assumir valor negativo –
daí os valores acumulados são sempre crescentes.

Os pontos no diagrama acima não são colineares, como deveriam ser,


considerando, por hipótese, que todos os postos ali envolvidos integram
uma região hidrologicamente homogênea. Diversas causas podem ser
especuladas para justificar o aspecto dessa disposição dos pontos de
precipitação acumulada. Por exemplo:
x erros sistemáticos na medição (por má calibração do
equipamento)
x mudança nas condições de observação
x mudança no microclima em decorrência de reservatório artificial
implantado
x mudança na localização do posto

Nesse diagrama, aliás, podemos reconhecer duas linhas retas de


tendência, como mostra a figura seguinte.

70 Hidrologia na prática
A situação apresentada é passível de ajuste, o que deve ser feito, como
vimos, antes do processamento dos dados para a modelagem.

Para o ajuste (ou consistência) dos dados, com o propósito de tornar os


pontos colineares no diagrama de dupla acumulação, pode ser
empregada a seguinte relação:
࡭࡭
ࡼ࡯ ൌ ࡼ࡭ ൅ ሺࡼ࡭ െ ࡼࡻ ሻǤ
࡭ࡻ

Sendo:
PC: precipitação acumulada com ajuste pela tendência desejada
PA: ordenada do gráfico na interseção das duas tendências (antiga e
atual)
AA: coeficiente angular da tendência a ser mantida (desejada)
AO: coeficiente angular da tendência a ser ajustada
PO: precipitação acumulada a ser ajustada

Anísio de Sousa Meneses Filho 71


Usualmente, o ajuste é promovido preservando-se a tendência mais
recente (atual)22. Nesse caso:

A análise de consistência de dados pressupõe postos dentro de uma


mesma região homogênea. Ou seja, a confirmação da homogeneidade
deve ser preliminar à análise de consistência.

Comparemos as precipitações acumuladas, em cada um dos postos


(Aracati, Quixeramobim e São Benedito), na sucessão dos anos de 2009
a 2018. Os arquivos apresentam registros diários e foram totalizados
mensal e anualmente.

22
Como se depreende, essa não é uma regra absoluta. O ajuste deve ser feito com respeito ao período que se avalia mais
correto ou confiável.
72 Hidrologia na prática
A análise dos valores anuais de chuva revela um coeficiente de
correlação23 de 0,899, entre os postos de Aracati e Quixeramobim.
Quando, porém, se comparam os valores mensais de chuva, nos 10
anos analisados, esse coeficiente de correlação diminui para 0,876.
Quixeramobim está localizado no Sertão Central, enquanto Aracati está
no litoral. Isso tende a estabelecer diferenciações hidrológicas
importantes no semiárido.

O cotejo dos registros históricos nos postos de Quixeramobim e São


Benedito aponta uma correlação ainda menor. Nesse caso, de 0,849 nos
dados anuais; e 0,818 nos dados mensais. São Benedito se localiza na
região serrana da Ibiapaba, área tipicamente de maior pluviosidade.

Todos os coeficientes de correlação calculados estão reunidos nos


quadros seguintes.

23 ഥሻǤሺ࢟ି࢟
σሾሺ࢞ି࢞ ഥሻሿ
Recordando: ࢉ࢕࢘࢘ࢋ࢒ሺࢄǡ ࢅሻ ൌ ഥe࢟
, onde ࢞ ഥ as médias das amostras correlacionadas.
ഥሻ૛ Ǥσሺ࢟ି࢟
ඥσሺ࢞ି࢞ ഥሻ૛

Anísio de Sousa Meneses Filho 73


(Aracati, (Aracati, (Quixeramobim,
Correlações
Quixeramobim) São Benedito) São Benedito)
anual 0,899 0,929 0,849
mensal 0,876 0,846 0,818

Em que pese o R² obtido na linha de tendência linear, superior a 0,99,


não se evidencia uma colinearidade estrita dos pontos no diagrama de
dupla massa. Há pequenas perturbações na linha de tendência quando
se encurta a série. No entanto, em geral, um ano chuvoso num posto
tende a ser também chuvoso no outro posto; um ano seco num posto
tende a ser também seco no outro posto. Isso igualmente acontece
quando comparamos os postos de Quixeramobim e São Benedito, ou os
postos de Aracati e São Benedito.

Nos três postos analisados, os meses mais chuvosos são fevereiro,


março, abril e maio, que juntos representam, em média, 79% (Aracati),
74% (Quixeramobim) e 71% (São Benedito) do total precipitado no
ano. Portanto, sob o aspecto da distribuição das chuvas ao longo do
ano, também não há grandes discrepâncias.

A quantidade total anualmente precipitada assinala, porém, uma nítida


distinção entre essas localidades, apontando que elas não se encontram

74 Hidrologia na prática
numa mesma região hidrológica. No período analisado, a precipitação
média anual em São Benedito foi mais do que o dobro daquela registada
em Quixeramobim; e cerca de 60% maior do que a observada em
Aracati. Com efeito, a região serrana (onde está o posto de São
Benedito) apresenta um microclima bastante diferenciado, quando em
comparação com o do sertão (onde se encontra o posto de
Quixeramobim) ou com o do litoral (onde está o posto de Aracati).

Médias anuais (período de 2009 a 2018)


Aracati Quixeramobim São Benedito
818 mm 640 mm 1293 mm

A partir da plotagem, dois a dois, em valores acumulados no plano


cartesiano, da média anual da precipitação nos postos e do total
precipitado em cada um deles, um indício de regionalização se reflete
na aproximação do eixo bissetriz.

No cotejo aqui promovido, os resultados mostram que, de fato, os


postos em tela parecem não integrar uma região hidrológica comum,
conforme as figuras seguintes.

Anísio de Sousa Meneses Filho 75


76 Hidrologia na prática
Podemos considerar, então, como hipótese bastante razoável que o
Ceará, todo ele inserido na região hidrográfica Atlântico Nordeste
Oriental, contempla diversas microrregiões hidrológicas, o que se soma
à diferenciação do solo, da vegetação e do relevo.

Vamos a um outro exemplo de aplicação nessa temática!


Considere três postos pluviométricos (A, B e C) de uma região
hidrologicamente homogênea. Pretendemos verificar a consistência dos
dados do posto C em cotejo com os postos A e B.

totais anuais de chuva (mm)


ano Posto A Posto B Posto C
1985 2312 2410 1002
1986 2212 2308 2204
1987 1608 1690 1603
1988 1890 1970 1882
1989 1910 1990 1898
1990 2413 2515 2400
1991 1206 1270 1204
1992 1407 1465 1402
1993 1608 1682 1598
1994 2011 2103 1997

Diagrama de dupla massa


precipitação acumulada no Posto C,

20000
18000
16000
14000
12000
em mm

10000
8000
6000
4000
2000
0
0 5000 10000 15000 20000
precipitação acumulada no Posto A, em mm

Anísio de Sousa Meneses Filho 77


Diagrama de dupla massa
20000

precipitação acumulada no Posto C,


18000
16000
14000
12000
em mm 10000
8000
6000
4000
2000
0
0 5000 10000 15000 20000 25000
precipitação acumulada no Posto B, em mm

Diagrama de dupla massa


20000
precipitação acumulada no Posto C,

18000
16000
14000
12000
em mm

10000
8000
6000
4000
2000
0
0 5000 10000 15000 20000
precipitação média acumulada nos postos A e B, em mm

Tendo em vista a colinearidade dos pontos nos três diagramas de dupla


acumulação acima, podemos afirmar que não estão evidenciadas
inconsistências nos registros do Posto C.

78 Hidrologia na prática
Aplicação 11
Tema: Método de Thiessen

Considere a bacia hidrográfica e os postos pluviométricos indicados na figura seguinte.


Os registros de chuva no mês de abril de 2010 em cada um desses postos foram:

x Posto Deserto dos Pebas (código 738084): 181,3 mm


x Posto São Miguel (código 738055): 139,0 mm
x Posto Mauriti (código 738001): 193,2 mm
x Posto Mararupa (código 738054): 170,0 m

Estime a precipitação média para a bacia, nesse mês de abril, pelo método de Thiessen.

Desenvolvimento

O método de Thiessen associa a cada um dos postos uma área de


influência dentro da bacia. A área atribuída a cada posto contempla

Anísio de Sousa Meneses Filho 79


todos os pontos da bacia que se encontram mais próximos dele do que
de qualquer outro posto, dentro ou fora da bacia.

O critério único nesse método para a definição dos ponderadores é a


distribuição espacial dos postos. Não se consideram os aspectos de
relevo da bacia.

O procedimento básico para o traçado dos polígonos de Thiessen e a


estimativa da precipitação média consiste em:
x plotar os postos pluviométricos, conforme a sua localização na
bacia (observe-se que postos externos à bacia também podem ser
área de influência nessa bacia);
x traçar um segmento de reta ligando dois a dois os postos
selecionados e plotados;
x marcar o ponto médio de cada segmento de reta traçado;
x traçar a perpendicular a cada um desses segmentos passando pelo
ponto médio e prolongá-la até encontrar outra perpendicular pelo
mesmo critério ou até encontrar um ponto divisor de água;
x computar a área de influência de cada posto;
x obter os fatores de ponderação (ࢻ࢏ ), a serem aplicados aos
respectivos registros de precipitação dos postos (ࡼ࢏ ), relacionando
a área de influência do posto e a área total de drenagem da bacia;
x calcular a média ponderada das precipitações, que será assumida
como a precipitação média (ࡼ ഥ ) na bacia como um todo.

ഥ ൌ ෍ሺࡼ࢏ Ǥ ࢻ࢏ ሻ

࢏ୀ૚

Exemplo hipotético
80 Hidrologia na prática
A composição artística que ilustra esta aplicação é conhecida como
diagrama de Voronoi (ou tesselação de Voronoi), desenvolvido a partir
de pontos aleatórios no plano da figura.

Computacionalmente, o processo gráfico para o traçado dos polígonos


não é dos mais eficientes. Uma outra estratégia seria gerar, no âmbito
da bacia, uma grande quantidade de pontos aleatórios uniformemente
distribuídos e, para cada um desses pontos, identificar o posto
pluviométrico mais próximo (que pode estar dentro ou fora da bacia)
ao qual ficaria vinculado aquele ponto coordenado – daí, ao final da
varredura de todos os pontos gerados, os fatores de ponderação seriam
calculados dividindo-se o número de pontos de cada posto pela
quantidade total de pontos. Além dessa, muitas outras rotinas estão
disponíveis para a implementação com o propósito de determinar a área
de influência de cada posto. As que mencionamos aqui são meramente
ilustrativas.

O resultado da aplicação do algoritmo para a definição dos polígonos de


Thiessen, por processo geométrico, está exibido na figura seguinte.

Anísio de Sousa Meneses Filho 81


A área total de drenagem da bacia delimitada é de 133 km². A
planimetria das áreas de influência de cada um dos postos revela os
seguintes valores:

Posto Deserto dos Pebas: 68 km² (51,1% da área da bacia)


Posto São Miguel: 18 km² (13,6% da área da bacia)
Posto Mauriti: 6 km² (4,5% da área da bacia)
Posto Mararupa: 41 km² (30,8% da área da bacia)

A implementação do cálculo conduz a estimativa da precipitação média:


ഥ ൌ ૚ૡ૚ǡ ૜ ൈ ૙ǡ ૞૚૚ ൅ ૚૜ૢǡ ૙ ൈ ૙ǡ ૚૜૟ ൅ ૚ૢ૜ǡ ૛ ൈ ૙ǡ ૙૝૞

൅ ૚ૠ૙ǡ ૙ ൈ ૙ǡ ૜૙ૡ ൌ ૚ૠ૛ǡ ૟࢓࢓
Uma opção primária (e rudimentar) de planimetragem é ilustrada na
figura seguinte e consiste na contabilização de quadrículas em cada
uma das áreas de influência, e sua relativização no total de quadrículas
no interior da bacia.

82 Hidrologia na prática
Anísio de Sousa Meneses Filho 83
Aplicação 12
Tema: Método das isoietas

Considere a configuração da bacia hidrográfica e as isoietas mostradas a seguir.

Estime a precipitação média, nessa bacia, pelo método das isoietas. A figura encontra-se
em escala gráfica, porém as áreas não estão explícitas.

Desenvolvimento

A adequada espacialização de dados meteorológicos permite retratar


com maior precisão as chuvas ocorridas no território da bacia. Havendo
uma rede bem distribuída de postos pluviométricos, curvas isoietas
(iso: igual; hieto: chuva) podem ser confeccionadas num processo
metodológico semelhante àquele aplicado no traçado de curvas de nível
num levantamento topográfico.

Isoietas são curvas representativas de mesmo valor de precipitação.

A figura seguinte ilustra o procedimento de confecção dessas isolinhas,


a partir da interpolação linear dos valores medidos pontualmente, em
cada um dos vértices do quadriculado.
84 Hidrologia na prática
Dica
Para o traçado das isoietas podem ser empregadas ferramentas de SIG, a exemplo
do QGIS, mencionado na Aplicação 03 deste livro. Para isso, está disponível a
funcionalidade contorno (raster > extrair > contorno).

O método das isoietas tende a oferecer uma melhor estimativa da


precipitação média na bacia, desde que o traçado dessas isolinhas seja
feito criteriosamente.

Assim como o método de Thiessen, o método das isoietas também


consiste no cálculo da média ponderada, porém levando-se em conta a
faixa (de área) associada a cada uma dessas linhas de igual
precipitação. As curvas que delimitam as faixas de influência são
traçadas em função da meia distância entre duas isoietas sucessivas,
como esclarece a figura seguinte.

Anísio de Sousa Meneses Filho 85


σ࢔࢏ୀ૚ሺࡼ࢏ Ǥ ࡭࢏ ሻ
ഥൌ

σ࢔࢏ୀ૚ ࡭࢏
sendo ࡼ
ഥ a precipitação média e ࡭࢏ a área atribuída a cada uma das ࢔ isoietas
ࡼ࢏ .
Assumindo a escala compatível da figura do enunciado, os
ponderadores de área podem ser obtidos por relativização das faixas à
área total da bacia. Assim:

A atribuição das faixas às correspondentes isoietas permite identificar


as áreas de influências (expressas em UA, unidade de área) que
servirão como ponderadores no cálculo da média. Portanto:
isoieta (mm) % da área da bacia
550 1,54
600 17,46
650 27,79
700 32,54
750 20,67

Estima-se, então, a precipitação média nessa bacia:

૞૞૙Ǥ ૚ǡ ૞૝ ൅ ૟૙૙Ǥ ૚ૠǡ ૝૟ ൅ ૟૞૙Ǥ ૛ૠǡ ૠૢ ൅ ૠ૙૙Ǥ ૜૛ǡ ૞૝ ൅ ૠ૞૙Ǥ ૛૙ǡ ૟ૠ


ࡼൌ
૚૙૙

ࡼ ൌ ૟ૠૠ࢓࢓

86 Hidrologia na prática
Aplicação 13
Tema: Estimativa do tempo de concentração

Considere uma bacia rural com 50 hectares de área de drenagem, cuja seção exutória
encontra-se na cota 250m. O seu curso de água principal tem nascente na cota 260m e
se estende por 1 km no interior dessa bacia.
Estime o tempo de concentração da bacia, identificando uma expressão empírica
adequada.

Desenvolvimento

O tempo de concentração da bacia é definido como o tempo de viagem


de uma gota de água que nela precipita, desde o ponto mais afastado
até a seção exutória. Esse parâmetro é sobremodo relevante para que
se estabeleça a duração dos eventos de chuva para a modelagem
hidrológica em busca da vazão de projeto.

Assumindo uma chuva uniformemente distribuída na área da bacia, o


tempo de concentração é, teoricamente, aquele necessário para que
toda a área de drenagem esteja contribuindo com vazão no exutório.
Equivalentemente, de outra forma, o tempo de concentração
corresponde ao tempo decorrido entre o final da chuva efetiva e o fim
do escoamento superficial direto24.

24
Alguns dos conceitos aqui mencionados serão ainda explorados em Aplicações deste livro.
Anísio de Sousa Meneses Filho 87
As figuras seguintes exibem hidrogramas que permitem identificar o
tempo de escoamento, assim como o tempo de concentração referente
à área de drenagem na seção de controle.

Nessa situação, podem-se obter a vazão de pico e o tempo de pico.

O procedimento para a estimativa do tempo de concentração deve levar


em conta as condições de escoamento nos planos vertentes e nos
talvegues.

Usualmente, são empregadas expressões empíricas que relacionam


esse tempo de viagem da água com características físicas e
morfológicas da bacia. Porém, torna-se necessário que a escolha da
expressão leve em conta não apenas os dados disponíveis na área em
estudo, mas as limitações que decorrem de como foram obtidas essas
fórmulas empíricas e para que tipologia de bacias elas foram calibradas.
Uma expressão própria para bacias rurais tende a não se ajustar bem
para bacias urbanas, assim como uma expressão destinada a pequenas
áreas de drenagem tende a não se ajustar bem para grandes áreas de
drenagem.

Canholi (2016) adverte que a determinação do tempo de concentração


em bacias urbanas deve ser conduzida com bastante critério, haja vista
a grande dispersão dos valores obtidos pelos diferentes métodos. A
utilização de tempo de concentração mal estimado acarreta distorção
no cálculo da vazão de pico, com repercussão no desempenho hidráulico
dos dispositivos dimensionados, assim como efeito econômico adverso.

A adoção indiscriminada de expressões empíricas pode conduzir a


valores muito discrepantes, resultando em estimativa da vazão e do
88 Hidrologia na prática
tempo de pico que não guardam efetiva relação com o nível de risco
assumido em projeto.

Um dos trabalhos de revisão mais abrangentes, com o levantamento,


compilação e cotejo das expressões empíricas espalhadas na literatura
foi desenvolvido por Silveira (2005). Foram comparados os
desempenhos de 23 formulações empíricas para o tempo de
concentração, aplicáveis a bacias rurais e urbanas. Outra boa
compilação de formulações empíricas pode ser encontrada em Porto
(1995).

A seguir, apresentamos alguns exemplos dessas expressões, a maioria


desenvolvida a partir de dados de bacias rurais25.

Kirpich

࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૙૟૟૜Ǥ ࡸ૙ǡૠૠ Ǥ ࡿି૙ǡ૜ૡ૞

Onda cinemática26

࢚࡯ ൌ ૠǡ ૜૞Ǥ ࢔૙ǡ૟ Ǥ ࢏ି૙ǡ૝ Ǥ ࡸ૙ǡ૟ Ǥ ࡿି૙ǡ૜

Dooge

࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૜૟૞Ǥ ࡭૙ǡ૝૚ Ǥ ࡿି૙ǡ૚ૠ

Corps of Engineers

࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૚ૢ૚Ǥ ࡸ૙ǡૠ૟ Ǥ ࡿି૙ǡ૚ૢ

Carter

࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૙ૢૠૠǤ ࡸ૙ǡ૟ Ǥ ࡿି૙ǡ૜

SCS – lag formula


૙ǡૠ
૚૙૙૙
࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૙૞ૠǤ ൬ െ ૢ൰ Ǥ ࡸ૙ǡૡ Ǥ ࡿି૙ǡ૞
࡯ࡺ

25
Em áreas urbanas, o tempo de concentração pode ser dividido em duas parcelas. A primeira se refere ao tempo até a água
atingir a rede de drenagem; a segunda se refere ao tempo de translação no interior da rede de drenagem (canais, galerias).
Porto (2005).
26
Particularmente indicada para áreas de contribuição muito pequenas, onde predomina o escoamento em superfície. No
entanto, o trabalho de Silveira (2005) revelou um bom desempenho da expressão de onda cinemática em áreas maiores.
Anísio de Sousa Meneses Filho 89
Sendo tc o tempo de concentração (em h); S a declividade (em m/m); A a área da
bacia (em km²); L o comprimento do talvegue (em km); i a intensidade da chuva
(em mm/h); n a rugosidade de Manning (em s.m-1/3).

Conforme adverte Silveira (2005), “o uso repetido de equações de


tempo de concentração, sem maiores critérios, a não ser o da tradição
ou fama, dificulta a tarefa de um usuário mais cuidadoso, pois
raramente são enfatizados os limites das equações ou se estão
disponíveis estudos comparativos com base científica”. A propósito, a
avaliação comparativa promovida por esse pesquisador evidenciou bom
desempenho, em bacias rurais, das fórmulas de Corps of Engineers e
de Kirpich. Para as bacias urbanas, por outro lado, a expressão de
Carter é a que apresenta melhor aderência.

Diversos estudos, entre eles Akan (1993) e Walesh (1989) apud Canholi
(2016), orientam o cálculo sob o enfoque cinemático, contemplando
três parcelas na composição do tempo de concentração. São elas:
tempo de escoamento em superfície (࢚࢙ ), tempo de escoamento em
canais rasos (࢚࢔ ) e tempo de escoamento em canais ou galerias (࢚ࢗ ).

࢚࡯ ൌ ࢚࢙ ൅ ࢚࢔ ൅ ࢚ࢗ

Essas parcelas podem ser assim estimadas:


૙ǡ૙ૢ૚Ǥሺ࢔Ǥࡸሻ૙ǡૡ
࢚࢙ ൌ (tempo em horas)
ඥࡼ૛ Ǥࡿ૙ǡ૝

P2 é o total precitado (em mm) em 24h para TR 2anos.


࢚࢔ ൌ (tempo em horas)
૜૟૙૙Ǥ࢜

com a velocidade (࢜, em m/s) estimada por:

࢜ ൌ ૝ǡ ૡ૝૞૛Ǥ ξࡿ , para superfícies não pavimentadas

࢜ ൌ ૟ǡ ૚૙૝૟Ǥ ξࡿ , para superfícies pavimentadas


࢚ࢗ ൌ (tempo em horas)
૜૟૙૙Ǥ࢜

sendo (ࡸ, em metros) o comprimento do canal; e a velocidade (࢜, em m/s)


estimada pela equação de Manning:

૚ ૛Ȁ૜ ૚Ȁ૛
࢜ൌ Ǥࡾ Ǥࡿ
࢔ ࢎ

90 Hidrologia na prática
A estimativa pelo método cinemático toma por base a velocidade do
fluxo ao longo dos canais, o que tende a conferir-lhe um caráter
fisicamente mais consistente, apoiado na hidráulica de canais. Essa
velocidade pode ser estimada pela fórmula de Manning, a partir da
rugosidade média do leito, na declividade e do raio hidráulico médio das
seções em cada trecho. Então, estima-se o tempo de viagem como a
razão entre o comprimento do trecho e a velocidade de escoamento,
comparando-se, em seguida, os tempos nos diversos caminhos que
levam a água de uma nascente até a foz da bacia. O tempo de
concentração dessa bacia corresponde ao maior tempo de viagem total
(que, normalmente, coincide com o do caminho mais extenso). Assim:

ࡸ࢏
࢚࡯ ൌ ෍
࢜࢏
࢏ୀ૚

sendo Li e vi , respectivamente, o comprimento e a velocidade em cada


um dos n trechos.

Em geral, o método cinemático tem sido empregado para a validação


dos dados, porém a sua confiabilidade depende da qualidade dos
argumentos de cálculo, pois diversas variáveis condicionam a
velocidade do fluxo. Usualmente, como mencionado acima, a expressão
de Manning (aplicável a escoamento em regime permanente uniforme)
tem sido empregada na estimativa da velocidade em cada trecho.

Ainda na perspectiva conceitual, o tempo de concentração equivale ao


tempo decorrido entre o final da chuva e o final do escoamento
superficialmente direto, isso porque a derradeira gota de água que
ingressa na bacia, naquela chuva, deve ser a última a passar pela seção
exutória. Assim, uma outra forma de se estimar o tempo de
concentração se baseia na configuração do hidrograma, como
apresentado na Aplicação 21 – quando se conhece a relação chuva-
vazão. Estima-se que o tempo de pico do hidrograma corresponde a
60% do tempo de concentração, aproximadamente.

Considera-se o tempo de concentração uma característica da bacia (e


não dos argumentos que impulsionam os processos que nela ocorrem),
constituindo uma síntese de diversas propriedades da área de

Anísio de Sousa Meneses Filho 91


drenagem. Nesse sentido, conforme indicado em muitos estudos27, não
se constata nítida tendência de o tempo de concentração diminuir com
o aumento da intensidade da chuva – ou seja, as características da
chuva parecem não afetar diretamente o valor do tempo de
concentração.

Nesta Aplicação, reunimos as seguintes características da bacia rural:


x área: 50 ha
x comprimento do talvegue principal: 1 km
x declividade do talvegue principal: 10 m / 1000 m = 0,01 m/m

Pela expressão de Kirpich, escolhida por se tratar de uma pequena bacia


rural, temos:

࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૙૟૟૜Ǥ ૚૙ǡૠૠ Ǥ ૙ǡ ૙૚ି૙ǡ૜ૡ૞ ൌ ૙ǡ ૜ૢࢎ ൎ ૛૝࢓࢏࢔

Pela expressão de Corps of Engineers, também indicada para essa


bacia, temos:

࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૚ૢ૚Ǥ ૚૙ǡૠ૟ Ǥ ૙ǡ ૙૚ି૙ǡ૚ૢ ൌ ૙ǡ ૝૟ࢎ ൎ ૛ૠ࢓࢏࢔

27
Silveira (2005)
92 Hidrologia na prática
Aplicação 14
Tema: Relação intensidade-duração-frequência

A partir da relação IDF (intensidade-duração-frequência) de Fortaleza (CE), elabore as


curvas PDF (precipitação-duração-frequência), para os tempos de retorno 5, 10, 25, 50 e
100 anos.

Desenvolvimento

A intensidade de chuva, que normalmente se expressa em mm/h,


corresponde à velocidade com que a lâmina de água evolui, durante o
evento chuvoso, sobre uma superfície impermeável. A magnitude dessa
grandeza é obtida a partir da análise do pluviograma (gráfico extraído
do pluviógrafo), o que se evidencia pela inclinação da curva.

O tratamento estatístico28 contemplando uma série contínua de


registros históricos de precipitação permite estabelecer, por regressão,
um relacionamento matemático que traduza o padrão de chuva para
aquele local de monitoramento. Dessa forma, passamos a dispor da
relação IDF (intensidade-duração-frequência) para a estimativa da
intensidade (i) de chuva intensa com um certo tempo de duração (t) e
uma determinada recorrência (TR).

Podem ser encontradas, na literatura e em artigos acadêmicos


disponíveis na internet, inúmeras expressões dessa natureza, para
diversos locais. O formato da expressão mais usuais são:

࢏ ൌ ࢇǤ ࢚࢈ (equação de Montana)

28
Uma boa e sucinta descrição do procedimento é apresentada em Silva et al. (2013).
Anísio de Sousa Meneses Filho 93
ࢇǤࢀࡾ࢈
࢏ൌ (equação de Talbot)
ࢉା࢚

ࢇǤࢀࡾ࢈
࢏ൌ (equação de Keiffer e Chu)
ሺࢉା࢚ሻࢊ

Sendo a, b, c, d parâmetros de calibração, que se ajustam para cada


local, tornando a expressão específica. No caso da relação de Montana,
os parâmetros a e b se estabelecem em função do tempo de retorno.

A altura (ou lâmina de água) produzida por uma chuva é obtida


multiplicando-se a intensidade da chuva pela sua duração. Percorrendo,
então, uma curva de mesmo tempo de retorno (TR), a lâmina
incremental decresce à medida que a duração da chuva aumenta.
Assim, embora a altura de chuva cresça com a duração, a intensidade
decresce, configurando uma curva PDF com um aspecto diferente
daquele apresentado pela curva IDF.

ሺሻൌ‹ሺȀŠሻš–ሺŠሻൌ‹ሺȀŠሻš–ሺ‹ሻȀ͸Ͳ
A relação IDF de Fortaleza (CE) é a seguinte29:

૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜


࢏ൌ
ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝
(intensidade da chuva em mm/h; tempo de retorno em anos; duração da chuva em minutos)

A cada valor fixado de TR corresponde uma curva PDF. Assim, por


exemplo, para TR 10 anos, a relação IDF se torna:

૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ૚૙૙ǡ૚ૠ૜ ૜૝ૢ૛ǡ ૢૡ


࢏ൌ ૙ǡૢ૙૝

ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝

Daí a expressão da lâmina P, em mm:


૞ૡǡ ૛૛Ǥ ࢚
ࡼൌ
ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝

Semelhantemente, o processo se aplica aos demais valores de TR. No


plano cartesiano, as curvas PDF assim se exibem:

29
Silva et al. (2013).
94 Hidrologia na prática
Curvas IDF de Fortaleza
100
90 TR 5 anos
80 TR 10 anos
intensidade (mm/h)

70 TR 25 anos
60 TR 50 anos

50 TR 100 anos

40
30
20
10
0
0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400
duração (min)

Curvas PDF de Fortaleza


180

160

140

120
altura (mm)

100

80 TR 5 anos

60 TR 10 anos
TR 25 anos
40
TR 50 anos
20
TR 100 anos
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
duração (min)

Anísio de Sousa Meneses Filho 95


Aplicação 15
Tema: Estimativa do tempo de retorno

Considere a série de precipitações diárias máximas anuais, referente ao Posto de Teresina


(código 542012), mostrada tabela seguinte.

Máxima Máxima Máxima Máxima


ano ano ano ano
diária (mm) diária (mm) diária (mm) diária (mm)
2007 95,4 1998 78,8 1987 127,4 1970 136,6
2006 73,3 1997 88,4 1984 87,8 1969 82,1
2005 106,5 1996 95,4 1983 101,5 1968 145,2
2004 119,9 1995 160,5 1982 136,4 1967 151,8
2003 63,2 1994 94,8 1981 80,8 1966 97,2
2002 105,7 1993 75,4 1980 76,1 1965 126,4
2001 144,8 1992 68,0 1979 167,1 1964 79,5
2000 75,0 1991 111,0 1978 105,4
1999 124,0 1988 67,6 1971 100,8

Estime o tempo de retorno das precipitações diárias máximas 151,8 mm e 111,0 mm,
registradas em Teresina, respectivamente, nos anos de 1967 e 1991.

Desenvolvimento

O tempo de retorno (ou de recorrência, TR) é o intervalo médio de


tempo (expresso em anos) em que um dado evento (por exemplo, a
chuva ou a vazão) pode ocorrer ou ser superado. Corresponde, assim,
ao inverso da probabilidade (P(x)) de ocorrência ou superação desse
evento. Portanto:

ࢀࡾ ൌ
ࡼሺ࢞ሻ

Considerando, por outro lado, que se conheça a probabilidade F(x) de


um certo valor x da variável aleatória contínua não ser superado, a
recorrência assim se estabelece:
96 Hidrologia na prática

ࢀࡾ ൌ
૚ െ ࡲሺ࢞ሻ
F(x) representa o valor da probabilidade cumulativa. A soma de P(x) e
F(x) é sempre igual a 1,0.

Há diversos métodos de análise empírica para a estimativa do tempo


de retorno que se baseiam no ordenamento (crescente ou
decrescente)30 dos valores observados da grandeza hidrológica. Então,
escolhido o método conforme o propósito da investigação, nós
conseguimos extrair, por inferência estatística, as probabilidades
requeridas para a determinação do tempo de retorno.

Nesta Aplicação, a primeira providência é ordenar decrescentemente os


elementos da série histórica. Essa disposição dos valores no sentido do
maior para o menor se justifica pela própria definição de grandeza
tempo de retorno (TR), que corresponde ao tempo médio
(pretensamente avaliado na extensão da linha imaginária do tempo)
que um evento hidrológico leva para ser igualado ou superado pelo
menos uma vez.

Seja um evento hidrológico (chuva, vazão) de período de retorno 10


anos. Em média, a cada 10 anos, evento de magnitude igual ou superior
à sua acontece. Isso não assegura a ocorrência a cada década,
tampouco o número de 10 eventos a cada século. Trata-se de um tempo
médio, de caráter estatístico, que associa uma probabilidade a cada
ciclo hidrológico (a cada ano). Essa probabilidade corresponde ao
inverso do período de retorno. Assim, a cada ano, a probabilidade de
acontecer a chuva de 10 anos é de 10%; a probabilidade de acontecer
a chuva de 20 anos é de 5%.

ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ
ࢀࡾ
A escolha do tempo de retorno para o dimensionamento de um
dispositivo ou estrutura hidráulica reveste-se de grande importância,

30
Ordem crescente de valores para inferir a probabilidade de não superação; ordem decrescente de valores para inferir a
probabilidade de superação. Trabalharemos aqui com esta última.
Anísio de Sousa Meneses Filho 97
pois reside aí o tamanho do risco hidrológico31 aceito pelo tomador de
decisão.

Algumas das expressões empíricas para a estimativa de frequência e do


tempo de retorno (TR) são apresentadas a seguir32.
࢏ି૙ǡ૞
Hazen: ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ


ࢀࡾ ൌ
࢏ି૙ǡ૞

࢏ ࢏ି૚
California: ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ ou ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ
࢔ ࢔

࢔ ࢔
ࢀࡾ ൌ ou ࢀࡾ ൌ
࢏ ࢏ି૚

࢏ି૙ǡ૝૝
Gringorten: ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ
࢔ା૙ǡ૚૛

࢔ ൅ ૙ǡ ૚૛
ࢀࡾ ൌ
࢏ െ ૙ǡ ૝૝


Weibull: ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ
࢔ା૚

࢔൅૚
ࢀࡾ ൌ

Sendo i a ordem da vazão, classificada decrescentemente; n o número
de elementos (anuais) da série.

Na prática, a escolha da expressão empírica pode ser baseada numa


expectativa do modelo teórico aplicável ou ainda como estratégia de
prudência e cautela na tomada de decisão, por parte do analista.

Atenção!

Na estimativa de TR, a classificação dos elementos da série histórica de


valores máximos se faz decrescentemente (do maior para o menor).

31
O tema risco hidrológico é abordado na Aplicação 34.
32
Não existe um critério rigidamente estabelecido para a escolha de uma ou outra dessas equações.
98 Hidrologia na prática
Quando, porém, a série é de valores mínimos a classificação se faz da
ordem crescente (do menor para o maior).

Com a classificação decrescente, conforme a magnitude da precipitação


diária máxima anual, temos:
máxima Hazen California Gringorten Weibull
ordem
diária (mm) ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ
1 167,1 0,015 0,029 0,016 0,029
2 160,5 0,044 0,059 0,046 0,057
3 151,8 0,074 0,088 0,075 0,086
4 145,2 0,103 0,118 0,104 0,114
5 144,8 0,132 0,147 0,134 0,143
6 136,6 0,162 0,176 0,163 0,171
7 136,4 0,191 0,206 0,192 0,200
8 127,4 0,221 0,235 0,222 0,229
9 126,4 0,250 0,265 0,251 0,257
10 124,0 0,279 0,294 0,280 0,286
11 119,9 0,309 0,324 0,309 0,314
12 111,0 0,338 0,353 0,339 0,343
13 106,5 0,368 0,382 0,368 0,371
14 105,7 0,397 0,412 0,397 0,400
15 105,4 0,426 0,441 0,427 0,429
16 101,5 0,456 0,471 0,456 0,457
17 100,8 0,485 0,500 0,485 0,486
18 97,2 0,515 0,529 0,515 0,514
19 95,4 0,544 0,559 0,544 0,543
20 95,4 0,574 0,588 0,573 0,571
21 94,8 0,603 0,618 0,603 0,600
22 88,4 0,632 0,647 0,632 0,629
23 87,8 0,662 0,676 0,661 0,657
24 82,1 0,691 0,706 0,691 0,686
25 80,8 0,721 0,735 0,720 0,714
26 79,5 0,750 0,765 0,749 0,743
27 78,8 0,779 0,794 0,778 0,771
28 76,1 0,809 0,824 0,808 0,800
29 75,4 0,838 0,853 0,837 0,829
30 75,0 0,868 0,882 0,866 0,857
31 73,3 0,897 0,912 0,896 0,886
32 68,0 0,926 0,941 0,925 0,914
33 67,6 0,956 0,971 0,954 0,943
34 63,2 0,985 1,000 0,984 0,971

Anísio de Sousa Meneses Filho 99


Traduzindo a probabilidade de excedência como o inverso do tempo de
recorrência, elaboramos a seguinte tabela com as estimativas de TR:
máxima Hazen California Gringorten Weibull
ordem
diária (mm) ࢀࡾሺࢇ࢔࢕࢙ሻ ࢀࡾሺࢇ࢔࢕࢙ሻ ࢀࡾሺࢇ࢔࢕࢙ሻ ࢀࡾሺࢇ࢔࢕࢙ሻ
1 167,1 68,0 34,0 60,9 35,0
2 160,5 22,7 17,0 21,9 17,5
3 151,8 13,6 11,3 13,3 11,7
4 145,2 9,7 8,5 9,6 8,8
5 144,8 7,6 6,8 7,5 7,0
6 136,6 6,2 5,7 6,1 5,8
7 136,4 5,2 4,9 5,2 5,0
8 127,4 4,5 4,3 4,5 4,4
9 126,4 4,0 3,8 4,0 3,9
10 124,0 3,6 3,4 3,6 3,5
11 119,9 3,2 3,1 3,2 3,2
12 111,0 3,0 2,8 3,0 2,9
13 106,5 2,7 2,6 2,7 2,7
14 105,7 2,5 2,4 2,5 2,5
15 105,4 2,3 2,3 2,3 2,3
16 101,5 2,2 2,1 2,2 2,2
17 100,8 2,1 2,0 2,1 2,1
18 97,2 1,9 1,9 1,9 1,9
19 95,4 1,8 1,8 1,8 1,8
20 95,4 1,7 1,7 1,7 1,8
21 94,8 1,7 1,6 1,7 1,7
22 88,4 1,6 1,5 1,6 1,6
23 87,8 1,5 1,5 1,5 1,5
24 82,1 1,4 1,4 1,4 1,5
25 80,8 1,4 1,4 1,4 1,4
26 79,5 1,3 1,3 1,3 1,3
27 78,8 1,3 1,3 1,3 1,3
28 76,1 1,2 1,2 1,2 1,3
29 75,4 1,2 1,2 1,2 1,2
30 75,0 1,2 1,1 1,2 1,2
31 73,3 1,1 1,1 1,1 1,1
32 68,0 1,1 1,1 1,1 1,1
33 67,6 1,0 1,0 1,0 1,1
34 63,2 1,0 1,0 1,0 1,0

A estimativa de TR varia conforme a expressão empírica adotada. A


chuva de 151,8 mm (máxima diária em 1967) remete a uma recorrência
entre 11,7 anos (pela expressão de Weibull) e 13,6 anos (pela
expressão de Hazen). Já a chuva de 111,0 mm (máxima diária em
1991) associa uma recorrência entre 2,8 anos (pela expressão
California) e 3,0 anos (pelas expressões de Hazen e Gringorten).

100 Hidrologia na prática


Aplicação 16
Tema: Estimativa da precipitação pelo método das isozonas (de Torrico)

Considere um estudo hidrológico que está sendo desenvolvido em Aracati (CE). O ajuste
a um modelo probabilístico33 indicou que a altura da chuva diária com período de retorno
de 50 anos é de 165,4 mm; e para período de retorno de 100 anos é de 180,8 mm.

Estime, então, para aquele local, a chuva de duração 1 h para os períodos de retorno de
50 anos e 100 anos.

Desenvolvimento

As séries históricas mais extensas disponíveis no Brasil se referem a


dados obtidos de pluviômetros, ou seja, registro de chuvas diárias.
Muitas vezes, porém, precisamos conhecer uma chuva intensa de
menor duração, de algumas horas ou minutos, conforme a dimensão da
bacia em estudo, de maneira a compatibilizar a aplicação dos algoritmos
de geração de vazão com o tempo de concentração dessa bacia.

A extrapolação de chuvas intensas em locais sem dados, a partir da


desagregação baseada na ‘relação das durações’, constitui uma
estratégia para suprir a escassez dos registros pluviográficos.

A premissa fundamental do processo, de forma regionalizada (no que


se denomina isozona), é que a relação entre as precipitações de 1 hora
e de 24 horas independe da magnitude da chuva, embora varie de uma
região para outra. Assim também é a relação, por exemplo, entre as
precipitações de 6 minutos e 1 hora.

33
A estimativa da chuva diária com base em modelo probabilístico está detalhada na Aplicação 38.
Anísio de Sousa Meneses Filho 101
Torrico (1974) propôs relações entre chuvas intensas de diferentes
durações para todo o território brasileiro, que fora então repartido em
oito isozonas (ou seja, regiões de igual comportamento de chuvas
intensas).

A figura seguinte exibe as isozonas da região Nordeste.

Os coeficientes de desagregação 1h/24h e 6min/24h das isozonas, para


diferentes tempos de retorno, estão apresentados na tabela seguinte.
Para qualquer outra duração entre 6 min e 24 horas, torna-se
necessário o uso de papel de probabilidade34.

Fonte: Torrico (1974)

34
Evidentemente, todo esse processo pode ser automatizado em aplicativos computacionais. A propósito, isso já está
disponível para algumas localidades. No entanto, academicamente, a melhor compreensão do procedimento se alcança pela
apreciação das etapas envolvidas.
102 Hidrologia na prática
A chuva de 24 horas é extraída de pluviograma (com registro contínuo).
A relação que se estabelece entre a lâmina da chuva de 24 horas e a da
chuva diária é igual 1,095, ou seja, cerca de 10% superior ao obtido
em estações pluviométricas35.

Note-se que o conceito de chuva diária é distinto do conceito de chuva


de 24 horas. A chuva diária pode não corresponder a um único evento
ou pode registrar apenas parte de um evento. Na prática, essa ‘chuva’
é entendida como o valor anotado a cada dia (normalmente, às 7 horas
da manhã) com base no acumulado no pluviômetro desde a anotação
do dia anterior.

Basso et al. (2016) promoveram uma revisão no trabalho desenvolvido


por Torrico na década de 1970 e confeccionaram um novo mapa com
indicação de 48 isozonas. A atualização dos valores relativos foi feita
somente para o tempo de retorno de 10 anos, mais usual em
dimensionamento de obras de microdrenagem urbana. Citando Tucci
(1993), os autores mencionam que não há diferenças significativas nos
coeficientes para diferentes TRs.

A figura seguinte apresenta as novas isozonas, para a porção do


território nacional que contempla a região Nordeste.

35
Conforme Batista (2018)
Anísio de Sousa Meneses Filho 103
As novas relações que se estabelecem entre a chuva de diversas
durações menores e a de 24 horas (rmin,24h) estão apresentadas no
artigo referenciado.

A área em estudo, no município de Aracati (CE), situa-se na isozona D


(de Torrico) ou na Quente-H (isozonas revisadas). Trata-se de local
em zona de transição entre continental e marítima.

Para essa área, as relações se destacam na tabela seguinte.

Para TR 50 anos, a lâmina de chuva de 1 hora de duração equivale a


40,7% da lâmina referente à chuva de 24 horas. Já a lâmina de chuva
de 6 minutos corresponde a 11,2% da chuva de 24 horas.

Para TR 100 anos, a lâmina de chuva de 1 hora de duração corresponde


a 40,3% daquela referente à chuva de 24 horas. Por sua vez, a lâmina
de chuva de 6 minutos de duração corresponde a 10,0% da chuva de
24 horas.

Podemos, então, estimar antes a lâmina das 24 horas.

104 Hidrologia na prática


ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢊ࢏ࢇ ൌ ૚૟૞ǡ ૝࢓࢓

ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢊ࢏ࢇ ൌ ૚ૡ૙ǡ ૡ࢓࢓

ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૛૝ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૚ǡ ૙ૢ૞ ൈ ૚૟૞ǡ ૝࢓࢓ ൌ ૚ૡ૚ǡ ૚࢓࢓

ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૛૝ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૚ǡ ૙ૢ૞ ൈ ૚ૡ૙ǡ ૡ࢓࢓ ൌ ૚ૢૡǡ ૙࢓࢓

ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢎ࢕࢘ࢇ ൌ ૙ǡ ૝૙ૠ ൈ ૚ૡ૚ǡ ૚࢓࢓ ൌ ૠ૜ǡ ૠ࢓࢓

ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢎ࢕࢘ࢇ ൌ ૙ǡ ૝૙૜ ൈ ૚ૢૡǡ ૙࢓࢓ ൌ ૠૢǡ ૡ࢓࢓

ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૟࢓࢏࢔ ൌ ૙ǡ ૚૚૛ ൈ ૚ૡ૚ǡ ૚࢓࢓ ൌ ૛૙ǡ ૜࢓࢓

ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૟࢓࢏࢔ ൌ ૙ǡ ૚૙૙ ൈ ૚ૢૡǡ ૙࢓࢓ ൌ ૚ૢǡ ૡ࢓࢓

Esses valores são considerados sem redução para áreas de até 25 km².

Podemos, então, plotar os pares (duração; lâmina) em escala


monologarítmica, como mostra a figura seguinte.

Para chuvas de duração entre 1 h e 24 horas, a lâmina correspondente


pode ser extraída diretamente do gráfico acima.

Anísio de Sousa Meneses Filho 105


Aplicação 17
Tema: Espacialização da chuva

Considere uma bacia com área de drenagem de 90 km².


A partir dos valores obtidos na Aplicação 16, estime a chuva de projeto a ser adotada,
levando-se em conta que a chuva não apresenta distribuição espacial uniforme.

Desenvolvimento

A distribuição espacial da chuva somente pode ser considerada


uniforme em pequenas áreas. Quando, por outro lado, a área
contribuinte de drenagem da bacia é significativa, necessário se torna
aplicar um fator de redução de intensidade, para que não seja
superestimada a vazão de projeto, aquela que norteará o
dimensionamento dos dispositivos hidráulicos.

Miguez et al. (2016), citando estudo com base em temporais ocorridos


no Rio de Janeiro, orienta que seja aplicado um fator de redução da
precipitação pontual utilizada, em função da área da bacia e da duração
da chuva. Chuvas de menor duração tendem a apresentar uma redução
mais acentuada. Esse fator de redução se aplica nas situações em que
a área de drenagem seja superior a 25 km². Isso está em conformidade
com a recomendação da Organização Mundial de Meteorologia (apud
USACE, 2000)36. A propósito, a USACE (1982), no seu sistema HEC-
HMS, desconsidera qualquer ajuste na espacialização para evento de
duração inferior a 30 min, haja vista a compatibilidade a pequenas
bacias (com tempo de concentração curto) que recebem chuvas
uniformemente distribuídas.

36
Technical Reference Manual – HEC-HMS (2000).
106 Hidrologia na prática
A figura seguinte apresenta o critério de redução da chuva pontual
adotado no sistema HEC-HMS, da USACE.

Usualmente, a relação matemática que se estabelece para a conversão da chuva pontual


(ࡼࡻ ) em chuva espacial (ࡼ࡭ ) é a seguinte:

ࡼ࡭ ൌ ࡼࡻ Ǥ ൤૚ െ ࢝Ǥ ࢒࢕ࢍ ൬ ൰൨
࡭ࡻ
Sendo A a área de interesse e Ao a área atribuída à chuva de medição pontual
(tipicamente, 25 km²).
O valor de w para o Nordeste brasileiro, para chuvas de até 1 dia, é da ordem de 0,22.
Esse parâmetro, porém, varia conforme a duração e deve ser reavaliado para períodos
maiores.
ࡼ࡭ ૢ૙
ൌ ૚ െ ૙ǡ ૛૛Ǥ ࢒࢕ࢍ ൬ ൰ ൌ ૙ǡ ૡૡ
ࡼࡻ ૛૞

Chuva pontual:
ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૛૝ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૚ǡ ૙ૢ૞ ൈ ૚ૡ૙ǡ ૡ࢓࢓ ൌ ૚ૢૡǡ ૙࢓࢓
ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૙ǡ ૝૙૜ ൈ ૚ૢૡǡ ૙࢓࢓ ൌ ૠૢǡ ૡ࢓࢓

ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૛૝ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૚ǡ ૙ૢ૞ ൈ ૚૟૞ǡ ૝࢓࢓ ൌ ૚ૡ૚ǡ ૚࢓࢓


ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢎ࢕࢘ࢇ ൌ ૙ǡ ૝૙ૠ ൈ ૚ૡ૚ǡ ૚࢓࢓ ൌ ૠ૜ǡ ૠ࢓࢓

Anísio de Sousa Meneses Filho 107


Chuvas espacializadas numa abrangência de 90 km²:

ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૛૝ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૚ૢૡǡ ૙࢓࢓ ൈ ૙ǡ ૡૡ ൌ ૚ૠ૝ǡ ૛࢓࢓


ࡼ૚૙૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૠૢǡ ૡ࢓࢓ ൈ ૙ǡ ૡૡ ൌ ૠ૙ǡ ૛࢓࢓

ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૛૝ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૚ૡ૚ǡ ૚࢓࢓ ൈ ૙ǡ ૡૡ ൌ ૚૞ૢǡ ૝࢓࢓


ࡼ૞૙ࢇ࢔࢕࢙ǡ૚ࢎ࢕࢘ࢇ࢙ ൌ ૠ૜ǡ ૠ࢓࢓ ൈ ૙ǡ ૡૡ ൌ ૟૝ǡ ૢ࢓࢓

Em gráfico com escala monologarítmica, temos:

Para chuvas de duração entre 1 h e 24 horas, a lâmina correspondente


pode ser extraída diretamente do gráfico acima.

108 Hidrologia na prática


Aplicação 18
Tema: Hietograma de projeto

Considere a seguinte relação IDF (intensidade-duração-frequência) de Fortaleza (CE)37.

૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜


࢏ൌ
ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝
(intensidade da chuva em mm/h; tempo de retorno em anos; duração da chuva em minutos)

Elabore, com base no método dos blocos alternados, o hietograma de projeto com
discretização de 5 min, para a chuva de duração 1 hora e tempo de retorno de 25 anos.

Desenvolvimento

Devemos inicialmente calcular a intensidade de chuva (em mm/h) para


TR 25 anos e para cada duração de até 60 min, com intervalos de 5
min. Assim:
t (min) i (mm/h) t (min) i (mm/h) t (min) i (mm/h)
5 172,05 25 112,47 45 84,32
10 151,62 30 103,71 50 79,44
15 135,70 35 96,28 55 75,12
20 122,94 40 89,88 60 71,26

Temos a seguinte representação em gráfico cartesiano, contemplando


duração de chuva de até 120 minutos:

37
SILVA et al. (2013)
Anísio de Sousa Meneses Filho 109
200
180
160
Intensidade (mm/h)

140
120
100
80
60
40
20
0
0 20 40 60 80 100 120
tempo (min)

Em seguida, também para cada um dos intervalos de tempo, podemos


obter a lâmina de chuva acumulada (Pac), resultante da multiplicação da
intensidade pelo tempo, e a lâmina discretizada (P) (em mm), obtida
por diferença nas sucessivas parcelas de tempo. Assim:

t (min) Pac (mm) P (mm) t (min) Pac (mm) P (mm) t (min) Pac (mm) P (mm)
5 14,34 14,34 25 46,86 5,88 45 63,24 3,32
10 25,27 10,93 30 51,86 5,00 50 66,20 2,96
15 33,93 8,66 35 56,16 4,30 55 68,86 2,66
20 40,98 7,05 40 59,92 3,76 60 71,26 2,40

Na implementação do método dos blocos alternados, assumimos que as


maiores parcelas de chuva acontecem nos intervalos centrais.
Posicionamos, então, a maior parcela no centro e sucessivamente os
blocos, de tamanhos decrescentes, vão sendo colocados de um lado e
do outro, de forma alternada.

Nesta aplicação, há 12 blocos de 5 min, totalizando 60 min. A soma das


parcelas incrementais de chuva integraliza a precipitação de 60 min de
duração. O bloco de maior lâmina (14,34 mm) será posicionado no
centro da distribuição (podendo ser no sexto ou no sétimo intervalo de
tempo), daí prosseguindo com a disposição dos blocos alternados.

Hidrologia na prática 110


Assim:

A tabela seguinte apresenta o rearranjo final das parcelas de chuva.


t (min) P (mm) t (min) P (mm) t (min) P (mm)
5 2,66 25 8,66 45 5,00
10 3,32 30 14,34 50 3,76
15 4,30 35 10,93 55 2,96
20 5,88 40 7,05 60 2,40

O aspecto típico que se associa ao hietograma de projeto é de


crescimento seguido de decrescimento. Nem sempre, porém, essa é a
distribuição própria da região de estudo – a adoção do método se
justifica, sobretudo, pela simplicidade de implementação. A propósito,
como alternativa, também existem as configurações apresentadas por
Huff (1967), para a distribuição temporal de chuva – as curvas
disponibilizadas relacionam a porcentagem acumulada da chuva e a
porcentagem acumulada da duração, em diferentes quartis e
probabilidades.

Anísio de Sousa Meneses Filho 111


Aplicação 19
Tema: Separação dos volumes de chuva

Considere o hietograma elaborado na Aplicação 18.

Elabore, utilizando o modelo SCS (Soil Conservation Service)38, o hietograma da


precipitação efetiva numa bacia cujo CN (curve number) é 75. Apresente também os
gráficos com discretização temporal das perdas iniciais e da infiltração.

Desenvolvimento

Quanto ao seu destino imediato, a precipitação é considerada em três


parcelas: i) interceptação ou perdas iniciais (Ia); ii) infiltração (Fa); iii)
precipitação efetiva (Pef).

A precipitação efetiva corresponde à porção do volume de chuva que se


transformará em escoamento superficial direto (ou runoff).
Tipicamente, para a concepção de projetos de drenagem é necessário
conhecer a magnitude da precipitação efetiva a fim de se estimarem as

38
Atualmente, NRCS (Natural Resources Conservation Service). O modelo SCS foi concebido e desenvolvido, a partir dos anos
1950, pelo Serviço de Conservação do Solo (SCS - Soil Conservation Service), órgão do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos da América.
112 Hidrologia na prática
vazões e se promoverem as adequações no sistema de condutos
pluviais de microdrenagem ou nos dispositivos de detenção, evitando-
se os transtornos associados aos alagamentos e às inundações,
notadamente em áreas de ocupação urbana.

Observe o hietograma hipotético seguinte, em que cada parcela de


destino está representada por uma cor diferente. A porção em azul se
refere às perdas iniciais; a porção em vermelho se refere à infiltração;
a porção em verde se refere à precipitação efetiva (ou excedente).

O modelo SCS (Soil Conservation Service) se baseia na seguinte


relação:

S
ࡼࢋࢌ ࡲࢇ

ࡼࢋࢌ ൅ ࡲࢇ ࡿ

O elemento S representa a capacidade de retenção de água no solo.


ࡼ ൌ ࡵࢇ ൅ ࡲࢇ ൅ ࡼࢋࢌ

O rearranjo algébrico dos elementos das expressões acima conduz à


seguinte fórmula para a estimativa da precipitação efetiva acumulada:

ሺࡼࢇࢉ െ ࡵࢇ ሻ૛
ࡼࢋࢌǡࢇࢉ ൌ
ࡼࢇࢉ െ ࡵࢇ ൅ ࡿ
Anísio de Sousa Meneses Filho 113
Evidentemente, a expressão acima só é válida se Pac for maior do que Ia.
Conforme Canholi (2016), a abstração inicial (Ia) abrange a parcela de
chuva interceptada pela vegetação, ou retida em depressões do
terreno, infiltrada ou evaporada antes do início do deflúvio. Enquanto
não forem atendidas essas perdas iniciais, nada sobra para escoar
superficialmente.

A parcela de perdas iniciais (Ia) pode ser obtida por calibração do


modelo, em locais onde dados de vazão e precipitação são disponíveis.
Essa não é a realidade da nossa região. Por outro lado, na ausência
desse parâmetro pode ser estimado em função do valor da capacidade
de retenção de água no solo (S).

O modelo SCS é reconhecidamente um modelo parcimonioso, haja vista


a facilidade com que se opera, ainda que poucos sejam os dados para
calibração. A partir do seu parâmetro CN (curve number), pode-se
ajustar a expressão da chuva efetiva. Por sua vez, o CN, que varia de 1
a 100 (em termos teóricos), é estimado com base no tipo (textura) de
solo, das condições ocupacionais da bacia e das condições de umidade
antecedente do solo. Normalmente os valores de CN encontrados, em
campo, situam-se entre 35 (para condições de solo de elevada taxa de
infiltração e pouco escoamento) e 98 (para condições de solo de baixa
taxa de infiltração e elevado escoamento superficial).

Em breve síntese:
x solos argilosos apresentam CN maiores do que os solos arenosos
x superfícies mais impermeáveis apresentam CN maiores dos que as
superfícies mais permeáveis
x solos na condição de umidade no ponto de murcha apresentam CN
menores do que os solos na condição de umidade na capacidade
de campo

Quanto maior o parâmetro CN, menor a parcela de infiltração e, portanto, maior a


parcela de precipitação efetiva

São estas as relações que se estabelecem:


૛૞૝૙૙
ࡿൌ െ ૛૞૝
࡯ࡺ
ࡵࢇ ൌ ૙ǡ ૛Ǥ ࡿ

Dito isso, vamos aos cálculos!


114 Hidrologia na prática
૛૞૝૙૙
ࡿൌ െ ૛૞૝ ൌ ૡ૝ǡ ૠ࢓࢓
ૠ૞
ࡵࢇ ൌ ૙ǡ ૛ ൈ ૡ૝ǡ ૠ ൌ ૚૟ǡ ૢ‫ܕܕ‬

A expressão da separação dos volumes, aplicável às precipitações totais


acumuladas superiores às perdas iniciais, fica:

ሺࡼࢇࢉ െ ૚૟ǡ ૢሻ૛


ࡼࢋࢌǡࢇࢉ ൌ
ࡼࢇࢉ ൅ ૟ૠǡ ૡ

A elaboração de uma tabela com os valores acumulados facilita o


processo de cálculo para o preenchimento nos sucessivos intervalos de
tempo, como segue.

5 min 10 min 15 min 20 min 25 min 30 min


Pac (mm) 2,66 5,98 10,28 16,16 24,82 39,16
Pef,ac (mm) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,68 4,63
Pef (mm) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,68 3,95
Fa (mm) 0,00 0,00 0,00 0,00 7,24 10,39

35 min 40 min 45 min 50 min 55 min 60 min


Pac (mm) 50,09 57,14 62,14 65,90 68,86 71,26
Pef,ac (mm) 9,34 12,96 15,75 17,96 19,76 21,25
Pef (mm) 4,71 3,62 2,79 2,21 1,80 1,49
Fa (mm) 6,22 3,43 2,21 1,55 1,16 0,91

Note-se que, em cada intervalo de tempo, a parcela de precipitação


total se divide em Ia, Pef e Fa. Assim, por exemplo, no quinto intervalo
de tempo (de 20 min a 25 min), a chuva ocorrida de 8,66 mm se divide
em:

Ia = 0,74 mm Pef = 0,68 mm Fa = 7,24 mm

Em síntese, contemplando todos os intervalos de tempo, a chuva total


de 71,26 mm assim se reparte:

Ia = 16,90 mm Pef = 21,25 mm Fa = 33,11 mm

Anísio de Sousa Meneses Filho 115


Com os valores tabulados obtidos, podemos, então, confeccionar as
seguintes representações gráficas, de cada uma das variáveis, por
intervalo de tempo.

116 Hidrologia na prática


Evidentemente, em se tratando de uma mera separação dos volumes
da chuva, respeitado o princípio da conservação, a soma das lâminas
dos três gráficos acima, nos correspondentes intervalos de tempo,
equivale à lâmina de precipitação total exibida no hietograma do
enunciado desta Aplicação.

O gráfico da precipitação efetiva (ou excedente) em função do tempo


constitui o argumento para a implementação da metodologia do
hidrograma unitário (HU), com vistas à confecção do hidrograma de
projeto, atinente ao escoamento superficial direto, conforme será visto
em Aplicação mais adiante.

A propósito da discretização temporal, convém observar a necessidade


de elementos suficientes para a confecção do gráfico, notadamente para
o reconhecimento do valor do pico de vazão, bem como o instante em
que ele acontece.

Anísio de Sousa Meneses Filho 117


Aplicação 20
Tema: Estimativa da vazão pelo método racional

Estime, pelo método racional, a vazão máxima para o tempo de retorno de 20 anos, numa
bacia hidrográfica de Fortaleza (CE), com as seguintes características:

x área: 1,5 km²


x tempo de concentração: 30 minutos
x relação IDF: 
૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜
࢏ൌ
ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝
(intensidade da chuva em mm/h; tempo de retorno em anos; duração da chuva em minutos)

A bacia contribuinte apresenta 20% de área verde (parque de lazer) e o restante com
construções residenciais e ruas pavimentadas.

Desenvolvimento

Transformar chuva em vazão é o que a bacia faz de mais trivial e, ao


mesmo tempo, de mais importante. Compreender os aspectos mais
relevantes desse processo de transformação é fundamental para as
estimativas requeridas em projeto dos dispositivos hidráulicos.

Certamente, a variável de maior interesse para o hidrólogo é a vazão,


ou seja, o volume de água na porção do tempo. Com ela, as estruturas
hidráulicas podem ser adequadamente dimensionadas, para a
magnitude de risco definida em projeto.

Para o profissional da Hidrologia, constitui ainda uma (enorme) dificuldade reunir dados
históricos consistentes em séries temporais de vazão que correspondam ao seu local de
estudo ou mesmo próximo a ele. A estratégia saneadora consiste em estabelecer
modelos de transformação chuva-vazão. Assim, a partir de registros de precipitação
(tipicamente mais extensos no tempo e de melhor distribuição espacial), a vazão pode
ser estimada com razoável confiabilidade, a depender do critério de calibração e
otimização dos parâmetros modeladores.
118 Hidrologia na prática
Para a estimativa da vazão de cheia de projeto estão disponíveis
métodos diretos e métodos indiretos. Os primeiros se baseiam
exclusivamente na análise e síntese preditiva de dados históricos de
vazão, com o ajuste de alguma função de distribuição de probabilidade.
Já os métodos indiretos aproveitam as características locais (ou tão
próximo quanto possível) das chuvas intensas, para obtenção de uma
relação consistente entre as entradas e saídas de água da bacia. Nessa
perspectiva, todo o esforço se orienta para uma boa caracterização da
bacia e da chuva.

Há ressalvas a qualquer uma dessas estratégias. A modelagem


probabilística se orienta na hipótese de que o futuro tende, de alguma
forma, a reproduzir o passado, o que se fragiliza quando as séries
históricas não são estacionárias e inexiste uma linha de tendência
nítida. Os modelos conceituais, por sua vez, requerem uma calibração
dificultosa diante da escassez de dados para a amplitude de tempo e
das variáveis intervenientes – rigorosamente, a qualidade da resposta
de um modelo só pode ser aferida para aqueles locais em que dados
estão disponíveis. Nesse aparente paradoxo, pode-se argumentar que,
se já existem dados ali, desnecessário se torna a modelagem. Eis um
dilema que não há de prosperar, todavia! Com efeito, séries sintéticas
temporais extensas e estatisticamente representativas podem ser
geradas para uma simulação operacional mais robusta.

Afinal, quantos parâmetros deve ter um bom modelo? A resposta


imediata é: nada além do que o estritamente necessário. Ao se ampliar
o elenco de parâmetros, de modo a contemplar nuances, o custo de
utilização da modelagem pode inviabilizá-la. Portanto, um bom modelo
deve ser parcimonioso, com a quantidade mínima e suficiente de
parâmetros para os propósitos da aplicação.

A exploração comportamental varia conforme a dimensão da bacia e o


propósito do trabalho. Não é razoável contemplar a modelagem de uma
bacia de forma generalista ou unificada (pois ainda não temos a teoria
do tudo!). Assim, por enquanto, convém selecionar os instrumentos de
acordo com as limitações conhecidas e a escala dos processos
hidrológicos. Naghettini (1999) aponta um critério normalmente útil
para a escolha do método indireto mais adequado, em função da área
da bacia.
Anísio de Sousa Meneses Filho 119
Área da bacia
Métodos aplicáveis
(km²)

< 2,6 Método racional

de 2,6 a 260 Hidrograma unitário

de 260 a 5200 Hidrograma unitário, métodos estatísticos

> 5200 Métodos estatísticos, simulação de vazões

Adaptada de Naghettini (1999)

Com efeito, a maneira mais simples para a estimativa da vazão máxima


é pelo método racional, em que a bacia tem as suas características de
interesse reduzidas a um único parâmetro, o coeficiente de escoamento
superficial (runoff) C.
࢜࢕࢒࢛࢓ࢋࢊ࢕ࢋ࢙ࢉ࢕ࢇ࢓ࢋ࢔࢚࢕࢙࢛࢖ࢋ࢘ࢌ࢏ࢉ࢏ࢇ࢒ࢊ࢏࢘ࢋ࢚࢕
࡯ൌ
࢜࢕࢒࢛࢓ࢋ࢚࢕࢚ࢇ࢒࢖࢘ࢋࢉ࢏࢖࢏࢚ࢇࢊ࢕

O método racional é aplicável a pequenas bacias hidrográficas39 com o


propósito de se estimar a vazão máxima40. Essa vazão ocorre quando
toda a área de drenagem contribui com o caudal no exutório.
ࡽ ࡼࢋࢌ
ࡽ ൌ ࡯Ǥ ࢏Ǥ ࡭ ࡯ൌ ou ࡯ൌ
࢏Ǥ࡭ ࡼ

sendo Q a vazão máxima na seção exutória (em m³/s); C o coeficiente de


escoamento superficial (runoff), grandeza adimensional; i a intensidade de chuva
(em m/s); A a área de drenagem (em m²); ࡼࢋࢌ a precipitação efetiva (em mm); ࡼ
a precipitação total no evento (em mm).

Originalmente, Kuichling (1889) apud Canholi (2016), a partir de estudo


de uma bacia urbana, apurou que a relação entre a vazão precipitada e
o deflúvio (vazão excedente) varia conforme a área impermeabilizada
da bacia, estando toda a área da bacia contribuindo (isto é, recebendo

39
Campos (2009) esclarece que o limite de aplicabilidade desse método não é consensual. A tendência é aceitar, como limite
superior, área de 2,5 km². No entanto, valores variando de 0,65 a 12,5 km² podem ser encontrados na literatura.
40
Conforme Gribbin (2014), o método racional não detalha o escoamento antes ou depois do pico de vazão, limitando-se a
calcular a maior vazão produzida por uma determinada bacia hidrográfica após um evento de chuva. Esse método não se
propõe, a rigor, à elaboração de hidrograma correspondente ao evento de precipitação.
120 Hidrologia na prática
uma chuva uniformemente distribuída temporal e espacialmente). A
razão entre o deflúvio e a intensidade de chuva passou a ser chamada
de valor racional, dando origem à fórmula do método racional. O
parâmetro adimensional C, nessa compreensão, traduz a fração da área
impermeável da bacia.

Os seguintes pressupostos devem ser atendidos para a adoção desse


método41 42:
x toda a bacia contribui com o escoamento superficial
x a chuva é uniformemente distribuída no tempo e no espaço, sobre
toda a área da bacia
x todas as perdas estão incorporadas ao coeficiente de escoamento
superficial
x a duração da chuva é igual (ou superior) ao tempo de concentração
da bacia
x o pico de vazão ocorre no instante em que cessa a chuva
excedente
x o processo de amortecimento nos canais é desprezível

Um hidrograma triangular costuma ser assumido como próprio do


método racional, embora a expressão matemática remeta apenas ao
valor da vazão máxima alcançada, atendidos os pressupostos listados
acima.
Pelo método racional, a maior vazão (de pico) ocorre quando a duração
da precipitação se iguala ao tempo de concentração da bacia. Duração
acima de tC não acarreta elevação no pico de vazão, mas sim um
patamar no hidrograma e um aumento no tempo de base (tB).

A figura seguinte mostra o comportamento da vazão, para uma


pequena bacia que recebe uma chuva de intensidade constante
variando o seu tempo de duração.

41
Tomaz (2011)
42
Porto (1995)
Anísio de Sousa Meneses Filho 121
O tempo de duração da chuva a ser considerado é o próprio tempo de
concentração da bacia.

Gribbin (2014) sugere a adoção do método racional modificado43 (cujas


premissas são as mesmas do método racional original), para levar em
conta o fato de que o tempo de descensão do hidrograma é maior do
que o tempo de ascensão. Nesse caso, haveria uma pequena folga na
lâmina produzida, a favor da segurança. Desse modo:

43
O método racional modificado expande o método racional original para permitir o uso de um hidrograma na estimativa de
uma bacia de detenção. Esse método embute as mesmas limitações do método racional (original), sendo aplicável a
pequenas bacias hidrográficas.
122 Hidrologia na prática
Para o coeficiente de escoamento superficial direto, Porto (1995)
orienta a utilização de tabelas típicas referidas à ocupação do solo,
porém ajustadas pelo tempo de retorno, quando superior a 10 anos.
Assim:

࡯ࢀࡾ ൌ ૙ǡ ૡǤ ࢀࡾ૙ǡ૚ Ǥ ࡯૚૙

Valores referenciais de C, para TR 10 anos, são apresentados na tabela


seguinte.

Tipo de ocupação do solo C10

edificação muito densa 0,70 a 0,95

edificação não muito densa 0,60 a 0,70

edificação com poucas superfícies livres 0,50 a 0,60

edificação com muitas superfícies livres 0,25 a 0,50

subúrbio com alguma edificação 0,10 a 0,25

matas, parques e campos de esportes 0,05 a 0,20


Fonte: Adaptada de Porto (1995)

Alguns fatores de ajuste de C, conforme o TR, são:

TR CTR / C10

20 1,08

25 1,10

50 1,18

100 1,27

A média ponderada de C deve ser aplicada quando a bacia apresenta


ocupação muito heterogênea, com diversos tipos de ocupação e uso do
solo. Nesse caso:


࡯ൌ Ǥ ෍ሺ࡯࢏ Ǥ ࡭࢏ ሻ

࢏ୀ૚

sendo Ai cada uma das n áreas parciais cujo coeficiente de escoamento


superficial direto é Ci, correspondente à tipologia ocupacional.
Anísio de Sousa Meneses Filho 123
De uma maneira geral, o coeficiente de deflúvio C pode variar em
função de diversos fatores, dentre os quais destacamos:
x Distribuição da chuva na bacia
x Duração e intensidade da chuva
x Rede de drenagem (natural ou artificial)
x Direção do deslocamento da chuva em relação do sistema de
drenagem
x Precipitação antecedente
x Condição de umidade do solo
x Tipo de solo
x Uso do solo

Schueler (1987) apud Tucci (2000) apresenta uma expressão de C


relacionada ao percentual de área impermeável (AI) da bacia. Desse
modo, o parâmetro assume valores entre 0,05 e 0,95. Assim:

࡯ ൌ ૙ǡ ૙૞ ൅ ૙ǡ ૙૙ૢǤ ࡭ࡵ

Como as perdas iniciais (abstrações, infiltração) podem variar de uma


chuva para outra, também o coeficiente C varia. Portanto, quando
aplicamos o método racional devemos estar cientes das simplificações
assumidas e das circunstâncias em que a vazão se maximiza na seção
exutória numa pequena bacia. Em bacias maiores as mesmas condições
são bastante irrealistas para inibir a adoção do mesmo processo de
cálculo, embora a estrita definição de C esteja preservada. Ou seja, a
uma bacia de maior porte também podemos associar um coeficiente de
deflúvio médio de longo termo na formação do balanço hídrico e na
avaliação do desempenho hidrológico.

Na modelagem de uma bacia, aspectos relativos à escala são


importantes para definir a melhor estratégia de representação dos
processos hidrológicos. Algumas premissas se estabelecem para esses
processos que devem ser considerados juntamente com as
características específicas da área de estudo e os objetivos de projeto.
A tabela seguinte constitui uma referência44, levando-se em conta
apenas a área da bacia.

44
Campos (2009).
124 Hidrologia na prática
Distribuição Distribuição
Processos de Processo de
Tamanho da bacia temporal da espacial da
acumulação escoamento
chuva chuva

Pequena escoamento
constante uniforme negligenciáveis
(A < 2,5 km²) difuso

escoamento
Média difuso e
variável uniforme negligenciáveis
(2,5 km² < A < 100 km²) escoamento
em canais

escoamento
Grande difuso e
variável váriável importantes
(A > 100 km²) escoamento
em canais

Vamos aos cálculos, então, com base nos elementos fornecidos nesta
Aplicação!
Consideremos, à luz dos valores tabelados, a área verde com C igual a 0,2 e a
área construída com C igual a 0,6.

1. Estimativa do coeficiente de escoamento (C):


࡯ ൌ ૙ǡ ૛Ǥ ૙ǡ ૛૙ ൅ ૙ǡ ૡǤ ૙ǡ ૟૙ ൌ ૙ǡ ૞૛

2. Estimativa da intensidade da chuva de projeto (i):


૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ૛૙૙ǡ૚ૠ૜
࢏ൌ ൌ ૢૢǡ ૡ࢓࢓Ȁࢎ
ሺ૜૙ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝

3. Cálculo da vazão máxima (Q):


ૢૢǡ ૡ
ࡽ ൌ ૙ǡ ૞૛Ǥ Ǥ ૚ǡ ૞Ǥ ૚૙૟ ൌ ૛૚ǡ ૟࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙Ǥ ૚૙૙૙

Indo um pouco além


No caso de bacias urbanas, ainda que de pequena área de drenagem, o
fato de haver parcelas permeáveis, parcelas impermeáveis com ou sem
conexão à rede de condutos pluviais torna a abordagem conceitual um
tanto mais complexa, pois a parcela impermeável não atendida pelos
condutos também pode contribuir para a infiltração no solo quando as
águas que escoam sobre ela alcançam uma parcela permeável. Porto

Anísio de Sousa Meneses Filho 125


(1995) descreve um procedimento baseado na consideração das três
parcelas devidamente integrada a um modelo de infiltração, como
cabível. A figura seguinte é ilustrativa dessa abordagem, em que NC,
DC e AP são valores relativos à área total de drenagem.

A parcela impermeável reúne as áreas DC (diretamente conectada) e


NC (não conectada). A parcela AP (área permeável) proporciona as
condições de infiltração até o limite da capacidade de infiltração do solo,
o que se estima com base em algum dos modelos disponíveis (como o
de Horton, por exemplo).
Considerando uma precipitação P na área de estudo e a consequente
infiltração F em área permeável, as relações que se estabelecem para
a estimativa do escoamento superficial direto (ESD) são:

ESD (DC) = DCxP


ESD (NC) = NCxP
ESD (AP) = (APxP + NCxP) – APxF
ESD (total) = ESD (AP) + ESD (DC)

Note-se que ESD (NC) corresponde ao escoamento superficial direto


produzido pela área não conectada que é transferido para a área
permeável ficando, assim como aquela da área AP, também disponível
para a infiltração.
As parcelas de ESD podem ser expressas em unidade de volume ou de
lâmina, conforme o propósito da investigação.

126 Hidrologia na prática


Aplicação 21
Tema: Método do hidrograma unitário (obtenção do HU da bacia)

Considere uma bacia de área 25 km² e tempo de concentração de 140 minutos.


Elabore, a partir do HU adimensional do modelo SCS, o hidrograma unitário para essa
bacia com discretização de 15 minutos, para uma chuva unitária de 10 mm e 15 minutos
de duração.

Desenvolvimento

O hidrograma unitário (HU) é a resposta da bacia a uma chuva efetiva


unitária (por exemplo, 10 mm com duração de 1h) e a sua teoria está
baseada numa relação linear entre a chuva efetiva e a consequente
vazão produzida. Nesse caso, considera-se a chuva de intensidade
constante e uniformemente distribuída sobre a bacia.

O hidrograma unitário de uma bacia pode ser obtido a partir dos dados
de chuva e vazão, desde que esses dados existam e estejam
disponíveis.

A escassez de dados hidrológicos, principalmente relativos à vazão,


estimulou a concepção de hidrogramas unitários sintéticos, que
permitissem estimar o hidrograma específico para uma bacia com base
em parâmetros e características físicas dessa bacia.

Tipicamente, um hidrograma unitário sintético apresenta o aspecto


mostrado na figura seguinte. Note-se que o tempo de retardo (tl) é
medido entre os centroides do hietograma e hidrograma; já o tempo de
pico se mede do centroide do hietograma até o instante em que a vazão
é máxima. A parcela do escoamento de base (ou escoamento

Anísio de Sousa Meneses Filho 127


subterrâneo) não está contemplada diretamente no hidrograma
unitário, devendo, portanto, ser a ele acrescido.

A figura seguinte traz o hidrograma unitário adimensional proposto pelo


SCS. No eixo das abscissas, estão os adimensionais t/tP; no eixo das
ordenadas, estão os adimensionais Q/QP, sendo tP e QP o tempo de pico
e a vazão de pico, respectivamente. Esse hidrograma, com uma curva
suavizada, tende a ser mais realista45 do que o seu congênere triangular
também proposto pelo SCS, porém a diferença se atenua quando a
duração da chuva unitária é suficientemente pequena.

A expressão seguinte se refere à curva adimensional apresentada na


figura anterior.

45
Collischonn (2015)
128 Hidrologia na prática
ࡽ ࢚ ૜ǡૠ ࢚
ି૜ǡૠǤቀ ቁ
ൌ ࢋ૜ǡૠ Ǥ ቈ൬ ൰ ቉ Ǥ ൤ࢋ ࢚ࡼ ൨
ࡽࡼ ࢚ࡼ

Cada ponto do eixo das abscissas (destinado ao tempo) se estabelece


como uma fração do tempo de pico, sendo, portanto, valores
adimensionais. Assim também no eixo das ordenadas (destinado às
vazões), em que os valores são apresentados como fração da vazão de
pico. A tabela seguinte apresenta valores em intervalos representativos
(que se aproximam daqueles obtidos pela expressão acima).

t/tP Q/QP t/tP Q/QP t/tP Q/QP


0,0 0,000 1,0 1,000 2,0 0,280
0,1 0,030 1,1 0,990 2,2 0,207
0,2 0,100 1,2 0,930 2,4 0,147
0,3 0,190 1,3 0,860 2,6 0,107
0,4 0,310 1,4 0,780 2,8 0,077
0,5 0,470 1,5 0,680 3,0 0,055
0,6 0,660 1,6 0,560 3,2 0,040
0,7 0,820 1,7 0,460 3,4 0,029
0,8 0,930 1,8 0,390 3,6 0,021
0,9 0,990 1,9 0,330 3,8 0,015

Para resgatar o caráter dimensional do hidrograma, a partir da


configuração padronizada do HUA do SCS, torna-se necessário estimar
dois parâmetros básicos: o tempo de pico e a vazão de pico.

O tempo de pico e a vazão de pico são estimadas pelas expressões:


࢚࢘
࢚Ԣ࢖ ൌ ൅ ૙ǡ ૟Ǥ ࢚ࢉ

࢚࢖ ൌ ૙ǡ ૟Ǥ ࢚ࢉ

࢚ࢋ ൌ ૚ǡ ૟ૠǤ ࢚࢖

૙ǡ ૛૙ૡǤ ࡭Ǥ ࢎࢁ
ࡽ࢖ ൌ
࢚Ԣ࢖

Sendo ࢚࢘ a duração da chuva (em h); t’p o tempo de pico medido a partir
do início da chuva (em h); tp o tempo de pico medido a partir do
centroide da chuva (em h); ࢚ࢋ o tempo de recessão (em h); qp (em
m³/(s.mm)) a vazão de pico (do hidrograma triangular unitário)

Anísio de Sousa Meneses Filho 129


produzida pela chuva unitária46 hU (em mm) na bacia de área A (em
km²).

Considerando o efeito de armazenamento, o tempo de concentração


pode ser medido do instante em que cessa a chuva excedente até o
ponto de inflexão do hidrograma. Como bem esclarece Porto (1995), a
partir desse instante, o que passa pela seção de controle (exutório) se
refere à porção de água temporariamente armazenada em superfícies
e canais da bacia.

Conforme Gribbin (2014), esse hidrograma unitário adimensional é


equivalente a um hidrograma triangular (também unitário) com a
mesma porcentagem de volume total escoado na porção ascendente
(da ordem de 37,5% até o instante em que a vazão atinge o seu maior
valor).

Três elementos no plano cartesiano são requeridos para compor o


hidrograma unitário triangular (HUT). Esses pontos correspondem à
vazão de pico, ao tempo de pico e ao tempo de base. O tempo total de
escoamento (ou tempo de base do hidrograma) é estimado como a
soma do tempo de pico com o tempo de recessão do deflúvio superficial
direto.

A implementação do método para a obtenção do hidrograma unitário


contempla as seguintes etapas:
i. determinação do tempo de pico (tP)
ii. determinação da vazão de pico (QP)
iii. aplicação de tP aos valores do eixo das abscissas do HUA
iv. aplicação de QP aos valores do eixo das ordenadas do HUA

Assim, para esta Aplicação:


૚૞
࢚ᇱ ࢖ ൌ ൅ ૙ǡ ૟Ǥ ૚૝૙ ൌ ૢ૚ǡ ૞ ‫ܖܑܕ‬ ሺൎ ૢ૙࢓࢏࢔ሻ

࢚࢖ ൌ ૙ǡ ૟Ǥ ࢚ࢉ

࢚ࢋ ൌ ૚ǡ ૟ૠǤ ૢ૚ǡ ૞ ൌ ૚૞૛ ‫ܖܑܕ‬ ሺൎ ૚૞૙࢓࢏࢔ሻ


૙ǡ૛૙ૡǤ૛૞Ǥ૚૙
ࡽ࢖ ൌ ൌ ૜૝࢓૜ Ȁ࢙ (para 10 mm de chuva efetiva)
ૢ૚ǡ૞Ȁ૟૙

46
Comumente, adota-se a lâmina unitária de 10 mm, porém um valor diferente pode ser de escolha do usuário.
130 Hidrologia na prática
O hidrograma unitário triangular tem o seguinte aspecto:

Hidrograma unitário sintético triangular do SCS


(10mm; 15 min)
40,00
35,00
30,00
vazão (m³/s)

25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
0 50 100 150 200 250 300
tempo (min)

O hidrograma unitário, para essa mesma bacia, obtido a partir da


relação adimensional do SCS, está apresentado a seguir na forma
tabular.

t (min) Q (m³/s) t (min) Q (m³/s) t (min) Q (m³/s)


0,0 0,000 90,0 34,000 180,0 9,520
9,0 1,020 99,0 33,660 198,0 7,038
18,0 3,400 108,0 31,620 216,0 4,998
27,0 6,460 117,0 29,240 234,0 3,638
36,0 10,540 126,0 26,520 252,0 2,618
45,0 15,980 135,0 23,120 270,0 1,870
54,0 22,440 144,0 19,040 288,0 1,360
63,0 27,880 153,0 15,640 306,0 0,986
72,0 31,620 162,0 13,260 324,0 0,714
81,0 33,660 171,0 11,220 342,0 0,510

Aplicando a expressão exponencial, com intervalos de 15 minutos,


temos:
t (min) Q (m³/s) t (min) Q (m³/s) t (min) Q (m³/s)
0 0,00 120 28,72 240 2,69
15 0,98 135 23,96 255 1,82
30 6,88 150 19,10 270 1,21
45 16,64 165 14,67 285 0,80
60 26,04 180 10,92 300 0,52
75 32,09 195 7,93 315 0,34
90 34,00 210 5,63 330 0,22
105 32,46 225 3,92 345 0,14

Anísio de Sousa Meneses Filho 131


Eis o seu correspondente gráfico:

Hidrograma unitário (10mm; 15min)


40
35
30
vazão (m³/s)

25
20
15
10
5
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400
tempo (min)

132 Hidrologia na prática


Aplicação 22
Tema: Método do hidrograma unitário (aplicação do HU da bacia)

Aplique o hidrograma unitário obtido na Aplicação 21 para gerar a onda de cheia


correspondente a precipitação efetiva de Fortaleza (CE), TR 25 anos, duração 60 minutos
e discretização temporal de 15 minutos.

A bacia em estudo, com área de drenagem de 25 km², apresenta parâmetro CN (modelo


SCS) no valor de 80.

Desenvolvimento

O método do hidrograma unitário se baseia em três pressupostos:


x constância do tempo de base
x proporcionalidade dos deflúvios
x aditividade

Constância de tempo de base

Denominamos tempo de base a duração total do escoamento, ou seja,


o tempo decorrido do início ao fim escoamento superficial direto.

Numa mesma bacia, chuvas de mesma duração produzem escoamento


superficial de mesmo tempo de base, independentemente da
intensidade da chuva (ou da lâmina de água por ela produzida).

Anísio de Sousa Meneses Filho 133


Proporcionalidade dos deflúvios

Numa mesma bacia, chuvas de mesma duração produzem vazões de


pico tanto maior quanto maior a sua intensidade, numa relação de
proporcionalidade direta.

Aditividade (superposição)

Um evento de chuva pode ser decomposto em parcelas, cada uma delas


produzindo uma parcela de vazão, de forma que a soma dos efeitos
pode ser operada, desde que se observe a correspondência do tempo.

Assim concebido, o hidrograma unitário constitui uma síntese das


características da bacia que determinam o seu comportamento quando
impulsionada por um evento de chuva.

A cada bacia hidrográfica corresponde um único hidrograma unitário,


para uma determinada lâmina unitária e uma determinada duração de
chuva unitária.

A convolução é o processo pelo qual a precipitação (devidamente


discretizada) é aplicada aos elementos do HU, para a obtenção do
hidrograma de projeto. As equações aplicáveis são as seguintes:

ࡽ࢚ ൌ σ࢚࢏ୀ૚ ࡼ࢏ Ǥ ࢎ࢚ି࢏ା૚ para ࢚ ൏ ࢑

ࡽ࢚ ൌ σ࢚࢏ୀ࢚ି࢑ା૚ ࡼ࢏ Ǥ ࢎ࢚ି࢏ା૚ para ࢚ ൒ ࢑

Sendo Qt a vazão do escoamento superficial no intervalo de tempo t; h


a vazão do hidrograma unitário (ou seja, para a chuva unitária); Pi a
precipitação efetiva do bloco i; k o número da ordenada do hidrograma
unitário.

࢑ൌ࢔െ࢓൅૚

(n é o número de intervalos do HU; m é o número de pulsos de


precipitação)
134 Hidrologia na prática
A figura exemplificativa seguinte esclarece o processo de convolução.

A convolução também pode ser expressa como uma equação matricial.


Nesse caso, a matriz representativa das parcelas de chuva
(adimensionalizadas em relação à chuva unitária assumida) é
multiplicada pela matriz representativa do hidrograma unitário para a
obtenção da matriz das vazões produzidas. As vazões geradas estão
expressas na mesma unidade da precipitação (em mm/h), haja vista a
relativização pela área de drenagem da bacia contribuinte.

No exemplo em tela, a convolução discreta em notação matricial do


evento de chuva composto por três blocos e hidrograma unitário
formado por vazões em oito intervalos de tempo se expressa assim:

Note-se que o hidrograma gerado (matriz coluna da direita) apresenta 10 elementos (Qt).
De fato: 10 = 3 + 8 – 1.

Anísio de Sousa Meneses Filho 135


Note-se que, nas três representações acima, o tempo decorrido entre o
fim da chuva e o final do escoamento é sempre o mesmo,
independentemente da intensidade da chuva. Isso se coaduna com o
primeiro princípio, o da constância do tempo de base.

136 Hidrologia na prática


Especificamente para o propósito desta Aplicação, comecemos pela
confecção do hietograma da chuva total para Fortaleza (CE), TR 25
anos, duração 60 minutos:
Precipitação total (TR 25 anos)
40

35
altura de chuva (mm)

30

25

20

15

10

0
15 30 tempo (min) 45 60

Eis o correspondente hietograma da chuva efetiva para Fortaleza (CE),


considerando CN 80:
Precipitaçao efetiva (TR 25 anos)
20
18
altura de chuva efetiva (mm)

16
14
12
10
8
6
4
2
0
15 30 tempo (min) 45 60

A precipitação efetiva apresenta, portanto, duração de 45 minutos, ou


seja, três blocos de 15 minutos, para serem processados no hidrograma
unitário obtido na Aplicação 21.

t (min) P (mm)
15 2,29
30 17,82
45 7,98

Anísio de Sousa Meneses Filho 137


Aplicação do hidrograma unitário à precipitação efetiva de projeto
100,00
90,00 Pef =2,29 mm
80,00
Pef = 17,82mm
70,00
vazão (m³/s)

60,00 Pef = 7,98 mm


50,00
QESD (m³/s)
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0 50 100 150 200 250 300 350 400
tempo (min)

Pela aplicação do princípio da aditividade, obtemos os valores de QESD correspondente à


soma dos hidrogramas parciais.

Pef =2,29 mm Pef = 17,82mm Pef = 7,98 mm


t (min) QESD (m³/s) HU (m³/s)
Q1(m³/s) Q2(m³/s) Q3(m³/s)
0 0,00 0,00 0,00
15 0,22 0,00 0,22 0,98
30 1,57 1,75 0,00 3,32 6,88
45 3,81 12,25 0,78 16,85 16,64
60 5,96 29,65 5,49 41,10 26,04
75 7,35 46,40 13,28 67,02 32,09
90 7,79 57,18 20,78 85,74 34,00
105 7,43 60,59 25,61 93,63 32,46
120 6,58 57,85 27,13 91,55 28,72
135 5,49 51,17 25,90 82,56 23,96
150 4,37 42,71 22,92 69,99 19,10
165 3,36 34,04 19,12 56,52 14,67
180 2,50 26,14 15,24 43,88 10,92
195 1,82 19,47 11,71 32,99 7,93
210 1,29 14,13 8,72 24,14 5,63
225 0,90 10,03 6,33 17,26 3,92
240 0,62 6,99 4,49 12,10 2,69
255 0,42 4,79 3,13 8,34 1,82
270 0,28 3,24 2,14 5,66 1,21
285 0,18 2,16 1,45 3,79 0,80
300 0,12 1,42 0,97 2,51 0,52
315 0,08 0,93 0,64 1,64 0,34
330 0,05 0,60 0,42 1,07 0,22
345 0,03 0,38 0,27 0,68 0,14
360 0,24 0,17 0,42
375 0,11 0,11

A vazão máxima produzida pela chuva efetiva é de 93,63 m³/s, aos 120 minutos
após o início da chuva e aos 105 minutos após o início do escoamento superficial.

138 Hidrologia na prática


Aplicação 23
Tema: Confecção de hidrograma unitário com base em vazões medidas

Conhecidas a precipitação, a vazão total e o escoamento de base numa seção de controle,


como mostram os gráficos seguintes, determine as ordenadas do hidrograma unitário.

Hietograma Escoamento de base


16,0 0,50
14,0
precipitação (mm)

0,40
12,0
vazão (m³/s)

10,0 0,30
8,0
6,0 0,20
4,0
0,10
2,0
0,0 0,00
0 1 2 3 4 0 2 4 6 8 10
tempo (h) tempo (h)

Hidrograma total
12,00

10,00

8,00
vazão (m³/s)

6,00

4,00

2,00

0,00
0 2 4 6 8 10 12
tempo (h)

Anísio de Sousa Meneses Filho 139


Desenvolvimento

O processo de convolução permite a determinação do hidrograma


unitário, para a bacia em que dados de precipitação e as
correspondentes vazões produzidas estão disponíveis.
O hidrograma unitário constitui uma característica da bacia, revelando
a sua resposta a uma precipitação unitária (definida a critério do
usuário), o que permite estimar a produção de escoamento para outros
eventos de chuva.

Para o caso em tela, reunimos os dados, na forma tabular:

tempo (h) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
precipitação
0 10 15 5
efetiva (mm)
vazão total
0,20 1,40 4,40 8,38 10,63 9,57 7,32 5,07 2,62 0,86
(m³/s)
vazão de base
0,20 0,20 0,25 0,30 0,30 0,30 0,35 0,40 0,40 0,40
(m³/s)

O hidrograma da precipitação efetiva resulta da diferença entre a vazão


total e a vazão de base (contribuição do escoamento subterrâneo). É o
que mostra a figura seguinte.

Hidrograma da precipitação efetiva


(escoamento superficial direto)
12,00

10,00

8,00
vazão (m³/s)

6,00

4,00

2,00

0,00
0 2 4 6 8 10 12
tempo (h)

140 Hidrologia na prática


A convolução pode ser retratada por uma expressão matricial, conforme
visto na Aplicação anterior, porém agora tendo por incógnita a matriz
coluna HU:

Para os dados desta Aplicação, considerando a precipitação unitária com


lâmina efetiva de 1 mm e duração de 1 h, temos:

Basta, agora, aplicarmos a expressão do método, escalonadamente.


Assim:
૚૙Ǥ ࡴࢁ૚ ൌ ૚ǡ ૛૙
૚૞Ǥ ࡴࢁ૚ ൅ ૚૙Ǥ ࡴࢁ૛ ൌ ૝ǡ ૚૞
૞Ǥ ࡴࢁ૚ ൅ ૚૞Ǥ ࡴࢁ૛ ൅ ૚૙Ǥ ࡴࢁ૜ ൌ ૡǡ ૙ૡ
૞Ǥ ࡴࢁ૛ ൅ ૚૞Ǥ ࡴࢁ૜ ൅ ૚૙Ǥ ࡴࢁ૝ ൌ ૚૙ǡ ૜૜
૞Ǥ ࡴࢁ૜ ൅ ૚૞Ǥ ࡴࢁ૝ ൅ ૚૙Ǥ ࡴࢁ૞ ൌ ૢǡ ૛ૠ
૞Ǥ ࡴࢁ૝ ൅ ૚૞Ǥ ࡴࢁ૞ ൅ ૚૙Ǥ ࡴࢁ૟ ൌ ૟ǡ ૢૠ
૞Ǥ ࡴࢁ૞ ൅ ૚૞Ǥ ࡴࢁ૟ ൅ ૚૙Ǥ ࡴࢁૠ ൌ ૝ǡ ૟ૠ
૞Ǥ ࡴࢁ૟ ൅ ૚૞Ǥ ࡴࢁૠ ൌ ૛ǡ ૛૛
૞Ǥ ࡴࢁૠ ൌ ૙ǡ ૝૟

Anísio de Sousa Meneses Filho 141


Daí obtemos as seguintes ordenadas do HU, com os valores expressos
em m³/s):

ࡴࢁ૚ ൌ ૙ǡ ૚૛૙ ࡴࢁ૛ ൌ ૙ǡ ૛૜૞ ࡴࢁ૜ ൌ ૙ǡ ૜ૢ૞ ࡴࢁ૝ ൌ ૙ǡ ૜૛૜

ࡴࢁ૞ ൌ ૙ǡ ૛૝૞ ࡴࢁ૟ ൌ ૙ǡ ૚૟ૡ ࡴࢁૠ ൌ ૙ǡ ૙ૢ૛

Hidrograma Unitário
(Precipitação unitária: 1mm; 1h)
0,450

0,400

0,350

0,300
vazão (m³/s)

0,250

0,200

0,150

0,100

0,050

0,000
1 2 3 4 5 6 7
tempo (h)

142 Hidrologia na prática


Aplicação 24
Tema: Estimativa da vazão em local sem dados

No rio Groaíras (da bacia do rio Acaraú), a montante do açude Edson Queiroz, encontra-
se instalada a estação fluviométrica Poço Comprido (código 35257000), conforme ilustra
a figura seguinte. De acordo com o Hidroweb (site ANA), a área de drenagem
correspondente é de 1.270 km².

Estime a vazão média mensal no ano de 2019, na seção A, também indicada na figura.

Anísio de Sousa Meneses Filho 143


Desenvolvimento

Locais sem registros históricos de vazão podem ser supridos por


modelos hidrológicos (concebidos com alguma base física e usando as
características da chuva de interesse) ou por equações empíricas de
regionalização hidrológica. Nesse caso, a área de drenagem costuma
ser a variável explicativa mais relevante.

Uma forma expedita para a estimativa da vazão em B consiste em


assumir uma relação de proporcionalidade direta em vazão e área de
drenagem naquela correspondente seção. Assim:
ࡽ࡭ ࡭࡭

ࡽ࡮ ࡭࡮

AA e AB são, respectivamente, as áreas de drenagem das seções A e B,


como ilustram as figuras seguintes.

Área de drenagem de A Área de drenagem de B

Evidentemente, a adoção desse critério de estimativa recomenda


cautela, podendo ser bastante útil na fase preliminar de planejamento
das intervenções.

Quando a vazão desconhecida associa uma área de drenagem maior do


que aquela associada à seção em que se conhece a vazão, a relação
linear que se cogita tende a oferecer uma superestimativa das vazões
máximas.

Correntino (2011) orienta que a relação acima deve ser aplicada quando
não houver grandes diferenças entre as áreas de drenagem das seções

144 Hidrologia na prática


A e B, ou seja, no máximo três vezes uma da outra. Além disso, essas
áreas devem corresponder a locais hidrogeologicamente semelhantes.

De acordo com o Manual de Hidrologia Básica do DNIT (2005), “não se


recomenda uma relação maior que dois nem menor que um meio entre
as áreas controladas nesses dois pontos do curso d’água. Para tempos
de recorrência de 10 a 20 anos, basta corrigir as descargas segundo a
relação das áreas das bacias hidrográficas. Para tempos de recorrência
próximos de 100 anos, uma relação proporcional à área elevada ao
expoente 0,75 parece mais indicada”.

Nesta Aplicação, a bacia correspondente à seção exutória em A está


representada nas figuras seguintes.

Anísio de Sousa Meneses Filho 145


Considera-se aqui que toda a área abordada apresenta a mesma
tipologia de solo e vegetação, assim como o relevo similar.

Assim, num procedimento expedito:

Área de drenagem referente à seção de Poço Comprido: 1.270 km²

Área de drenagem (hachurada) referente à seção A: 480 km²

ࡽࡼࡻ.ࡻ࡯ࡻࡹࡼࡾࡵࡰࡻ ૚૛ૠ૙

ࡽ࡭ ૝ૡ૙

ࡽ࡭ ൌ ૙ǡ ૜ૡǤ ࡽࡼࡻ.ࡻ࡯ࡻࡹࡼࡾࡵࡰࡻ

Dados disponíveis de vazão no Posto Poço Comprido (35257000) de


2015 a 2019 (5 anos completos):

146 Hidrologia na prática


Série histórica de vazões na seção Poço Comprido e suas estatísticas
básicas:

desvio
2019 2018 2017 2016 2015 média
padrão
dez 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
nov 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
out 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
set 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
ago 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
jul 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
jun 0,049 0,000 0,000 0,000 0,000 0,010 0,022
mai 4,165 0,097 0,072 0,006 0,000 0,868 1,844
abr 30,319 34,088 2,210 1,746 0,069 13,686 16,975
mar 9,626 0,017 36,931 0,000 0,000 9,315 15,990
fev 0,105 0,008 0,034 0,148 0,000 0,059 0,065
jan 0,000 0,000 0,000 3,367 0,000 0,673 1,506

Logo, atendida a proporção de áreas de drenagem, a série histórica de


vazões na seção A é a seguinte:

desvio
2019 2018 2017 2016 2015 média
padrão
dez 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
nov 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
out 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
set 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
ago 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
jul 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
jun 0,019 0,000 0,000 0,000 0,000 0,004 0,008
mai 1,583 0,037 0,027 0,002 0,000 0,330 0,701
abr 11,521 12,953 0,840 0,663 0,026 5,201 6,450
mar 3,658 0,006 14,034 0,000 0,000 3,540 6,076
fev 0,040 0,003 0,013 0,056 0,000 0,022 0,025
jan 0,000 0,000 0,000 1,279 0,000 0,256 0,572

Anísio de Sousa Meneses Filho 147


Aplicação 25
Tema: Propagação de vazão em rio pelo método Muskingum

Considere a onda de cheia em um rio, representada na figura seguinte, correspondente


à seção de controle A (de montante).
tempo vazão afluente vazão efluente
(min) (m³/s) (m³/s)
60 3,0 3,2
120 5,8
180 10,1
240 20,0
300 30,3
360 22,6
420 14,6
480 10,8
540 6,9
600 5,7
660 4,4
720 3,8

Elabore, pelo método Muskingum, o hidrograma de cheia propagada para a seção B (de
jusante).
A calibração do modelo indicou, nesse trecho, os seguintes valores para os parâmetros:
K= 1,43 h e X = 0,20

Desenvolvimento

A translação da onda de cheia num rio (canal natural) pode ser


representada com base no método Muskingum47, que consiste na
aplicação de uma aproximação de diferenças finitas à equação da
continuidade48. Assim:

47
Referência ao rio Muskingum, situado no estado de Ohio (EUA). Esse método foi inicialmente apresentado por McCarthy.
48
De forma bem simples: ‘a variação do que fica é o que entra menos o que sai’.
148 Hidrologia na prática
ࡵ࢚ି૚ ൅ ࡵ࢚ ࡻ࢚ି૚ ൅ ࡻ࢚ ࡿ࢚ െ ࡿ࢚ି૚
െ ൌ
૛ ૛ ο࢚
O armazenamento em canal compreende duas partes: uma em prisma
e outra em cunha. Isso torna a modelagem distinta daquela feita para
a propagação em reservatório, pois neste a parcela de armazenamento
em prisma não tem relevância (podendo, então, ser negligenciada no
processo de cálculo) – já que a superfície livre da água no reservatório
é aproximadamente plana e horizontal.

As relações que se estabelecem entre a parcela de armazenamento em


cunha e as vazões (de entrada (I) e de saída(O)) são:

ࡿ࢏ ൌ ࡷǤ ࡵ࢔

ࡿ࢕ ൌ ࡷǤ ࡻ࢔

Introduzindo, no armazenamento em cunha, um fator de ponderação


(X) entre os efeitos das vazões de entrada (afluente (I)) e de saída
(efluente (O)), fica:

ࡿ ൌ ࢄǤ ࡿ࢏ ൅ ሺ૚ െ ࢄሻǤ ࡿ࢕

Ou seja:

ࡿ ൌ ࡷǤ ሾࢄǤ ࡵ࢔ ൅ ሺ૚ െ ࢄሻǤ ࡻ࢔ ሿ

onde K é o tempo de viagem da onda de cheia no trecho de propagação;


X um ponderador adimensional (૙ ൑ ࢄ ൑ ૙ǡ ૞).

Assumindo n na expressão precedente igual a um (em vista do modelo


de reservatório linear), e denotando no subscrito o intervalo de tempo
de discretização dos hidrogramas, temos:

ࡿ࢚ ൌ ࡷǤ ሾࢄǤ ࡵ࢚ ൅ ሺ૚ െ ࢄሻǤ ࡻ࢚ ሿ

Esta expressão explicita o armazenamento como sendo o tempo de


viagem multiplicado pelas vazões (It e Ot) ponderadas – que pode varrer
os extremos conforme o valor do ponderador X (se X é igual a 0, o
armazenamento é o de um reservatório linear; se X é igual a 0,5 , não
ocorre atenuação da onda de cheia que se desloca). O parâmetro K

Anísio de Sousa Meneses Filho 149


traduz o tempo de deslocamento da água no trecho, o que pode ser
estimado, de forma simplificada, através da fórmula de Manning49.

O valor do parâmetro X é aquele que melhor acomoda a relação


precedente. Isso pode ser facilmente reconhecido por um ajuste
linear50, como ilustrado na figura seguinte.

A cada intervalo de tempo, alguns valores já são conhecidos, outros


não. Além dos valores do hidrograma afluente em todos os intervalos
temporais, conhecemos, no instante t, os valores de Ot-1 e St-1. Isso
permite o rearranjo algébrico seguinte, isolando no primeiro membro o
único termo desconhecido naquele intervalo t:
ο࢚ି૛ǤࡷǤࢄ ο࢚ା૛ǤࡷǤࢄ ૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻିο࢚
ࡻ࢚ ൌ ቀ ቁ Ǥ ࡵ࢚ ൅ ቀ૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻାο࢚ቁ Ǥ ࡵ࢚ି૚ ൅ ቀ૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻାο࢚ቁ Ǥ ࡻ࢚ି૚
૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻାο࢚

Note-se que esta equação pode ser resolvida recursivamente, até


concluir o último intervalo de tempo da propagação. Convém observar
que os valores de K e 't, na formulação acima, devem ser expressos na
mesma unidade de tempo.

49
A fórmula de Manning pressupõe escoamento permanente uniforme, porém pode servir aqui como uma primeira
aproximação na estimativa da velocidade e, consequentemente, do tempo de viagem no trecho (de rugosidade n, declividade
I e raio hidráulico da seção transversal Rh. Assim:
૚ ૛Ȁ૜
࢜ ൌ Ǥ ࡾࢎ Ǥ ࡵ૚Ȁ૛

50
Ainda que o procedimento possa ser desenvolvido com ferramenta computacional ágil, novamente se recomenda aqui
que a implementação seja manual (com os recursos clássicos) pelo aluno, para consolidar mais eficazmente os conceitos e
os processos.
150 Hidrologia na prática
Certamente, a maior dificuldade do processo de cálculo reside na
estimativa dos parâmetros K e X. Dispondo-se de dados locais, a
calibração pode ser otimizada, com observâncias às restrições dos
valores que podem ser assumidos pelos parâmetros. Especial atenção
também deve ser dada à extensão do trecho e à discretização temporal
ο࢚, de forma a prover precisão e estabilidade no processamento
numérico computacional. A figura seguinte exibe a faixa de domínio dos
parâmetros do modelo Muskingum.

Na propagação em canais, em geral, o pico do hidrograma efluente (de jusante)


ocorre depois do hidrograma afluente (de montante). Diferente, portanto, do que
acontece na propagação em reservatório – neste caso, o pico do hidrograma
efluente acontece na cauda de descida do hidrograma afluente.

Nesta Aplicação, os valores dos parâmetros já são conhecidos. Então,


basta promover a implementação nos sucessivos intervalos de tempo
para que se obtenham os valores da vazão efluente (na seção de
jusante). Isso pode ser sistematizado em tabela ou em planilha
eletrônica para a facilidade do cálculo.

Os coeficientes que precisamos inicialmente determinar, conhecidos os


valores de K e X, são:
ο࢚ି૛ǤࡷǤࢄ ο࢚ା૛ǤࡷǤࢄ ૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻିο࢚
ൌ ૙ǡ ૚૜૙ ൌ ૙ǡ ૝ૠૡ ൌ ૙ǡ ૜ૢ૛
૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻାο࢚ ૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻାο࢚ ૛ǤࡷǤሺ૚ିࢄሻାο࢚

Esses coeficientes permitem formatar a expressão de cálculo. Assim:

ࡻ࢚ ൌ ૙ǡ ૚૜૙Ǥ ࡵ࢚ ൅ ૙ǡ ૝ૠૡǤ ࡵ࢚ି૚ ൅ ૙ǡ ૜ૢ૛Ǥ ࡻ࢚ି૚

Anísio de Sousa Meneses Filho 151


Para começar, devemos atribuir os valores conhecidos de I1, I2 e O1.
Determinamos, então, O2.

ࡻ૛ ൌ ૙ǡ ૚૜૙Ǥ ࡵ૛ ൅ ૙ǡ ૝ૠૡǤ ࡵ૚ ൅ ૙ǡ ૜ૢ૛Ǥ ࡻ૚


ࡻ૛ ൌ ૙ǡ ૚૜૙Ǥ ૞ǡ ૡ ൅ ૙ǡ ૝ૠૡǤ ૜ǡ ૙ ൅ ૙ǡ ૜ૢ૛Ǥ ૜ǡ ૛
ൌ ૜ǡ ૝࢓૜ Ȁ࢙

ࡻ૜ ൌ ૙ǡ ૚૜૙Ǥ ࡵ૜ ൅ ૙ǡ ૝ૠૡǤ ࡵ૛ ൅ ૙ǡ ૜ૢ૛Ǥ ࡻ૛


ࡻ૜ ൌ ૙ǡ ૚૜૙Ǥ ૚૙ǡ ૚ ൅ ૙ǡ ૝ૠૡǤ ૞ǡ ૡ ൅ ૙ǡ ૜ૢ૛Ǥ ૜ǡ ૝
ൌ ૞ǡ ૝࢓૜ Ȁ࢙

E assim por diante, até percorrermos todos os intervalos de tempo! Os


valores vão servir para o preenchimento da última coluna da tabela
seguinte.

tempo vazão afluente vazão efluente


t (min) (m³/s) (m³/s)

1 60 3,0 3,2
2 120 5,8 3,4
3 180 10,1 5,4
4 240 20,0 9,6
5 300 30,3 17,2
6 360 22,6 24,2
7 420 14,6 22,2
8 480 10,8 17,1
9 540 6,9 12,8
10 600 5,7 9,0
11 660 4,4 6,8
12 720 3,8 5,3

Eis, então, o gráfico resultante, com os dois hidrogramas, evidenciando


o deslocamento da onda de cheia e a atenuação do pico.

152 Hidrologia na prática


Neste exemplo, a atenuação da onda de cheia foi de 20,1%.

૜૙ǡ ૜ െ ૛૝ǡ ૛
ൌ ૙ǡ ૛૙૚
૜૙ǡ ૜

Anísio de Sousa Meneses Filho 153


Aplicação 26
Tema: Propagação de vazão em rio pelo método Muskingum-Cunge

Considere a onda de cheia em um rio, representada pelo hidrograma da tabela,


correspondente à seção de controle A (de montante).
Esse rio apresenta declividade de 50 cm/km (ou 5x10-4), rugosidade de Manning (n) igual
0,04 s.m-1/3. A sua seção transversal é trapezoidal, com largura do fundo de 10 m.

tempo vazão tempo vazão


(min) (m³/s) (min) (m³/s)
30 18 330 91
60 25 360 80
90 37 390 65
120 60 420 50
150 83 450 35
180 98 480 22
210 112 510 20
240 129 540 20
270 119 570 20
300 105 600 20

Elabore, pelo método Muskingum-Cunge, o hidrograma de cheia propagada para a seção


B, situada 15 km a jusante da seção A.

154 Hidrologia na prática


Desenvolvimento

O método Muskingum-Cunge constitui um aprimoramento do método


Muskingum, com a introdução de parâmetros com base física,
referentes às características do canal.

Essencialmente, as equações que alicerçam essa modelagem são a


equação da continuidade (com contribuição lateral) e a equação da
quantidade de movimento com termo de difusão. Assim51:
ࣔ࡭ ࣔࡽ
൅ ൌ ࢗࡸ
࢚ࣔ ࣔ࢞
ࣔ࢟
ࡿࢌ ൌ ࡿ࢕ െ
ࣔ࢞
sendo A a área da seção transversal de escoamento; Q a vazão; t o
tempo; x a posição no canal; qL a contribuição lateral de fluxo.

A equação de difusão convectiva que resulta da aproximação linear na


combinação dessas duas expressões é a seguinte:

ࣔࡽ ࣔࡽ ࣔ૛ ࡽ
൅ ࢉǤ ൌ ࣆǤ ૛ ൅ ࢉǤ ࢗࡸ
࢚ࣔ ࣔ࢞ ࣔ࢞
sendo c a celeridade; P a difusividade hidráulica.
ࢊࡽ ࡽ
ࢉൌ e ࣆൌ
ࢊ࡭ ૛Ǥ࡮Ǥࡿ࢕

As expressões apresentadas trazem derivadas parciais. Por técnica de


diferenciação finita dessas derivadas, chegamos a:

ࡽ࢚ ൌ ࡯૚Ǥ ࡵ࢚ି૚ ൅ ࡯૛Ǥ ࡵ࢚ ൅ ࡯૜Ǥ ࡽ࢚ି૚ ൅ ࡯૝Ǥ ሺࢗࡸ Ǥ ઢ࢞ሻ

sendo Ij e Qj, respectivamente, as vazões afluente e efluente no trecho


no instante j; 'x a extensão do trecho; C1, C2, C3 e C4 coeficientes
dinâmicos assim obtidos, com base nos parâmetros K e X:

51
O termo (ࢗࡸ ) no segundo membro da equação da continuidade aparece se houver contribuição lateral, isto, vazão a ser
adicionada ao longo de percurso da propagação.
Anísio de Sousa Meneses Filho 155
ઢ࢚ ઢ࢚
ା૛Ǥࢄ ି૛Ǥࢄ
࡯૚ ൌ ઢ࢚ ࡷ ࡯૛ ൌ ઢ࢚ ࡷ
ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ
ࡷ ࡷ

ઢ࢚ ઢ࢚
૛Ǥሺ૚ିࢄሻି ࡷ ૛Ǥቀ ࡷ ቁ
࡯૜ ൌ ઢ࢚ ࡯૝ ൌ ઢ࢚

ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ ࡷ
ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ

ઢ࢞ ૚ ࢕ ࡽ
ࡷൌ ࢄ ൌ ቀ૚ െ ቁ
ࢉ ૛ ࡮ǤࢉǤࡿ Ǥο࢞ ࢕

Para que estejam asseguradas precisão e estabilidade, 'x (extensão de


cada trecho) e 't (intervalo de tempo) devem ser criteriosamente
escolhidos, seguindo a condição:

ઢ࢞ ൌ ࢉǤ ઢ࢚
૚ ࡽ࢕
ઢ࢞ ൏ Ǥ ൬ࢉǤ ο࢚ ൅ ൰
૛ ࡮Ǥ ࡿ࢕ Ǥ ࢉ

onde Qo é a vazão de referência (tomada como cerca de metade da


vazão de pico ou um pouco maior)52.

Na implementação do método Muskingum-Cunge, identificamos a


necessidade de definir o número de trechos em que a distância total de
propagação (de montante a jusante) deve ser repartida. Para isso, no
entanto, os parâmetros precisam ser calculados com base no valor
estabelecido para a vazão de referência (ࡽ࢕ ). Com efeito, são
promovidos sucessivos ajustes no decorrer da implementação.

Vamos considerar aqui a vazão de referência como 2/3 da vazão


máxima afluente que, neste caso, é de 129 m³/s. Daí ࡽ࢕ é igual a 86
m³/s. Para essa vazão, a velocidade média se estima em 1,31 m/s.

A celeridade53 pode ser estimada como 5/3 da velocidade, ou seja, 2,18


m/s.

Para a obtenção dos parâmetros do modelo, precisamos definir 't e 'x,


respectivamente, o comprimento do trecho e o intervalo de tempo de
processamento. Há, como vimos, alguns critérios a serem satisfeitos.
Além disso, devem ser observadas as duas condições seguintes, em

52
Collischonn (2015) menciona 70% da vazão máxima como estimativa da vazão de referência.
53
Collischonn (2015).
156 Hidrologia na prática
função do tempo de ascensão do hidrograma (࢚ࡾ ), da vazão de
referência (ࡽ࢕ ), da celeridade (c), da declividade (ࡿ࢕ ) e da largura (B)
do canal:
࢚ࡾ
ο࢚ ൑

૚Ȁ૛
ࢉǤ ο࢚ ࡽ࢕
ο࢞ ൑ Ǥ ቈ૚ ൅ ൬૚ ൅ ૚ǡ ૞Ǥ ൰ ቉
૛ ࡮Ǥ ࡿ࢕ Ǥ ο࢚Ǥ ࢉ૛

Afinal, em quantos trechos (N) dividiremos a percurso total de 15 km,


de A até B? Uma primeira estimativa é dada por:

ࡺൌ
ο࢞
Evidentemente, N deve ser um número inteiro. Após o arredondamento,
o valor de 'x também precisa ser ajustado. Pela aplicação das condições
restritivas:

ο࢚ ൑ ૝ૡ ࢓࢏࢔ ൌ ૛૝૙࢓࢏࢔Ȁ૞

ο࢞ ൑ ૞Ǥ ૡૢ૜࢓

Neste caso, decidimos assim:

ο࢚ ൌ ૜૙࢓࢏࢔ e ο࢞ ൌ ૞Ǥ ૙૙૙࢓

Calculemos, então, os parâmetros K e X:

ઢ࢞ ૞૙૙૙
ࡷൌ ൌ ൌ ૛૛ૢ૜ǡ ૟࢙
ࢉ ૛ǡ ૚ૡ
૚ ࡽ࢕ ૚ ૡ૟
ࢄ ൌ Ǥ ቀ૚ െ ቁ ൌ ૛ Ǥ ቀ૚ െ ૚ૠǤ૛ǡ૚ૡǤ૙ǡ૙૙૙૞Ǥ૞૙૙૙ቁ ൌ ૙ǡ ૙૝
૛ ࡮ǤࢉǤࡿ࢕ Ǥο࢞

Agora já podemos determinar os coeficientes para compor a expressão


do método54:

54
Nesta Aplicação, não está sendo considerada a contribuição lateral (ࢗࡸ ), entre as seções A e B.
Anísio de Sousa Meneses Filho 157
ઢ࢚ ૜૙Ǥ૟૙
ା૛Ǥࢄ ା૛Ǥ૙ǡ૙૝
ࡷ ૛૛ૢ૜ǡ૟
࡯૚ ൌ ઢ࢚ ൌ ૜૙Ǥ૟૙ ൌ ૙ǡ ૜૚૞ૠ

ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ ૛૛ૢ૜ǡ૟
ା૛Ǥሺ૚ି૙ǡ૙૝ሻ

ઢ࢚ ૜૙Ǥ૟૙
ି૛Ǥࢄ ૛૛ૢ૜ǡ૟
ି૛Ǥ૙ǡ૙૝
࡯૛ ൌ ઢ࢚ ࡷ ൌ ૜૙Ǥ૟૙ ൌ ૙ǡ ૛૟૛ૡ

ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ ૛૛ૢ૜ǡ૟
ା૛Ǥሺ૚ି૙ǡ૙૝ሻ

ઢ࢚ ૜૙Ǥ૟૙
૛Ǥሺ૚ିࢄሻି ࡷ ૛Ǥሺ૚ି૙ǡ૙૝ሻି૛૛ૢ૜ǡ૟
࡯૜ ൌ ઢ࢚ ൌ ૜૙Ǥ૟૙ ൌ ૙ǡ ૝૛૚૞

ା૛Ǥሺ૚ିࢄሻ ૛૛ૢ૜ǡ૟
ା૛Ǥሺ૚ି૙ǡ૙૝ሻ

ࡽ࢚ ൌ ૙ǡ ૜૚૞ૠǤ ࡵ࢚ି૚ ൅ ૙ǡ ૛૟૛ૡǤ ࡵ࢚ ൅ ૙ǡ ૝૛૚૞Ǥ ࡽ࢚ି૚

Formulado o problema, nós já conhecemos todos os valores de I (vazão


de montante, em todos os intervalos de tempo) e a vazão de jusante
no instante inicial. Daí sucessivamente vamos obtendo os valores de Q
no primeiro trecho, os valores de Q no segundo trecho, e assim por
diante. A vazão de saída do primeiro trecho é a vazão de entrada no
segundo trecho; a vazão de saída do segundo trecho é a vazão de
entrada no terceiro trecho.

Alguns exemplos de cálculo são:

ࡽ૚ǡ૛ ൌ ૙ǡ ૜૚૞ૠǤ ૚ૡ ൅ ૙ǡ ૛૟૛ૡǤ ૛૞ ൅ ૙ǡ ૝૛૚૞Ǥ ૚ૡ


ൌ ૚ૢǡ ૡ࢓Ȁ࢙Ϳ

ࡽ૚ǡ૜ ൌ ૙ǡ ૜૚૞ૠǤ ૛૞ ൅ ૙ǡ ૛૟૛ૡǤ ૜ૠ ൅ ૙ǡ ૝૛૚૞Ǥ ૚ૢǡ ૡ


ൌ ૛૟ǡ ૙࢓Ȁ࢙Ϳ

ࡽ૚ǡ૝ ൌ ૙ǡ ૜૚૞ૠǤ ૜ૠ ൅ ૙ǡ ૛૟૛ૡǤ ૟૙ ൅ ૙ǡ ૝૛૚૞Ǥ ૛૟


ൌ ૜ૡǡ ૡ࢓Ȁ࢙Ϳ

Qi,j denota a vazão propagada no trecho i, no intervalo de tempo j.

158 Hidrologia na prática


Note-se que os valores de B, c e Q vão sendo alterados ao longo do
tempo. A rigor, também os parâmetros K e X, que são definidos a partir
de 'x e 't, devem ser atualizados a cada passo de tempo.
Computacionalmente, isso é de simples implementação.

A tabela apresenta os valores de vazões trecho a trecho, a cada


intervalo de tempo.

intervalo
vazão trecho 1 vazão trecho 2 vazão trecho 3
de tempo t (min) vazão (m³/s)
(m³/s) (m³/s) (m³/s)
(j)
1 30,0 18,0 18,0 18,0 18,0
2 60,0 25,0 19,8 18,5 18,1
3 90,0 37,0 26,0 20,9 19,0
4 120,0 60,0 38,4 27,1 21,7
5 150,0 83,0 56,9 38,5 27,8
6 180,0 98,0 76,0 54,2 38,1
7 210,0 112,0 92,4 71,1 51,9
8 240,0 129,0 108,2 87,6 67,3
9 270,0 119,0 117,6 102,0 82,8
10 300,0 105,0 114,7 110,3 96,1
11 330,0 91,0 105,4 110,4 104,3
12 360,0 80,0 94,2 104,6 106,3
13 390,0 65,0 82,0 95,4 102,9
14 420,0 50,0 68,2 84,0 95,6
15 450,0 35,0 53,7 71,1 85,5
16 480,0 22,0 39,5 57,3 73,5
17 510,0 20,0 28,8 44,2 60,7
18 540,0 20,0 23,7 34,0 48,5
19 570,0 20,0 21,6 27,5 38,4
20 600,0 20,0 20,7 23,8 31,1

Os hidrogramas são exibidos na figura seguinte, evidenciando o


amortecimento previsto para a onda cheia.

Anísio de Sousa Meneses Filho 159


Só lembrando! O parâmetro X pode assumir valores no intervalo de
0,0 a 0,5. Quando X é igual 0,0 , o amortecimento (atenuação do pico
de vazão) é máximo; quando X é igual a 0,5 , o amortecimento é
mínimo. Nesta Aplicação, o baixo valor de X (igual a 0,04) já
prenunciava uma significativa atenuação.

A aplicação do método Muskingum-Cunge é um tanto mais trabalhosa


em comparação com o método Muskingum. Se ambos têm o mesmo
propósito, afinal, em que circunstância um método mais complexo
atrairia o nosso interesse, em detrimento de outro nitidamente mais
simples (e supostamente eficaz)? Observe-se que o método Muskingum
embute uma dificuldade na definição dos parâmetros K e X, isso porque
dependemos da disponibilidade de vazões observadas nas duas
extremidades do trecho de propagação – e isso nem sempre ocorre (na
maioria dos casos). O método Muskingum-Cunge, por sua vez, ao
incorporar aspectos como celeridade, declividade, dimensão do canal,
assume um caráter de concepção fisicamente baseada, o que permite
(com as devidas ressalvas) prescindir das informações de jusante, para
a sua calibração.

160 Hidrologia na prática


Aplicação 27
Tema: Confecção das curvas cota-área-volume e cota-vazão de reservatório

Considere os dados da tabela seguinte, referente ao açude Pentecoste, no Ceará.

cota (m) volume (m³) altura (m)


36 - 0
40 1.000.000 4
45 25.000.000 9
50 100.000.000 14
55 255.000.000 19
58 395.638.000 22
Fonte: DNOCS (1981)

Elabore a curva cota-área-volume correspondente e estabeleça relação matemática


entre o volume e a cota, e entre o volume e a área.

Desenvolvimento

Os dois principais dispositivos hidráulicos de controle de saída de água


de um reservatório são: orifícios e vertedouros. Na simulação
operacional do reservatório, torna-se necessário conhecer as equações
(empíricas) da hidráulica desses dispositivos, de forma a que se
estabeleça a relação entre o volume armazenado e a vazão de saída. A
relação cota-área-volume é fundamental, pois as vazões dependem da
carga hidráulica – conhecido o volume, também se conhece a cota;
conhecida a cota, determina-se a vazão; e vice-versa. Por sua vez, a
área (do espelho de água do reservatório) serve para a estimativa da
perda por evaporação nos açudes.

Anísio de Sousa Meneses Filho 161


A morfometria da bacia hidráulica (de um açude) pode ser retratada por
equações do tipo55:

ࢂሺࢎሻ ൌ ࢻǤ ࢎ૜
ࢊࢂሺࢎሻ
࡭ሺࢎሻ ൌ ࡭ሺࢎሻ ൌ ૜Ǥ ࢻǤ ࢎ૛
ࢊࢎ

O valor de D (fator de forma) pode ser estimado assim:


σ ࢂ࢏
ࢻൌ
σሺࢎሻ૜

Daí resulta, com os dados da tabela do enunciado:


ૠૠ૟૟૜ૡ૙૙૙
ࢻൌ ൌ ૜૟ૢ૙૞
૛૚૙૝૝
Assim, a relação pode ser expressa por:

ࢂሺࢎሻ ൌ ૜૟ૢ૙૞Ǥ ࢎ૜

A relação cota-área fica, então:

࡭ሺࢎሻ ൌ ૜Ǥ ૜૟ૢ૙૞Ǥ ࢎ૛ ࡭ሺࢎሻ ൌ ૚૚૙ૠ૚૞Ǥ ࢎ૛

Utilizando o software Excel®, com linha de tendência linear56 e


interseção na origem, o valor obtido para D é 37121, bem próximo da
primeira estimativa.

Ajustamento da relação volume versus h³


4,5E+08 volume = 37121.h³
4,0E+08
3,5E+08
volume (m³)

3,0E+08
2,5E+08
2,0E+08
1,5E+08
1,0E+08
5,0E+07
0,0E+00
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000
h³ (m³)

55
A relação cúbica entre o volume (V) e a altura (H) está mencionada por Campos (2005). Nesse caso, o parâmetro D é
adimensional. Na relação proposta por Molle, tema da Aplicação 32, o expoente mais usual é de 2,7 , o que torna dimensional
o parâmetro D. Observe-se, então, que a relação cúbica (generalizada) se mostra razoavelmente satisfatória.
56
Com ajuste melhor para as maiores alturas de água no reservatório.
162 Hidrologia na prática
Acesso às informações sobre geometria de açudes

No Atlas dos Recursos Hídricos do Ceará (http://atlas.cogerh.com.br/), por


exemplo, podemos encontrar mais informações técnicas sobre açudes,
incluindo relações cota-área-volume.

Consideremos, num exemplo adicional desta Aplicação, as


características geométricas do açude Edson Queiroz, em Santa Quitéria
(CE).

cota área volume


(m) (104 m²) (106 m³)
170 0,00 0,00
175 65,12 2,98
180 224,53 11,16
185 533,33 29,77
190 933,33 65,12
195 1.533,33 124,65
200 2.402,37 223,26
201 2.660,00 254,00
203 3.235,85 306,82

Anísio de Sousa Meneses Filho 163


Fonte: http://atlas.cogerh.com.br/cogerh/imgAtlas?pathImagem=/imagensTemas/54_59259_ACARAU.jpg

Fonte: http://atlas.cogerh.com.br/
Sendo o sangradouro de formato retangular com largura de 250,0 m,
as vazões podem ser estimadas com base na lâmina de água a partir
da cota da soleira (201,0 m).
૜ൗ
ࡽ ൌ ࡯Ǥ ࡸǤ ࡴ ૛

164 Hidrologia na prática


Assim, adotando o valor 1,8 para o coeficiente do vertedouro, calibrado
para as condições operacionais:
૜ൗ
ࡽ ൌ ૝૞૙Ǥ ࡴ ૛

lâmina de água
cota (m) acima da soleira (m) vazão (m³/s)

201,00 0,00 0,00


201,25 0,25 56,25
201,50 0,50 159,10
201,75 0,75 292,28
202,00 1,00 450,00
202,25 1,25 628,89
202,50 1,50 826,70
202,75 1,75 1.041,76
203,00 2,00 1.272,79
Cota-área-volume do Açude Edson Queiroz (no município de Santa Quitéria)

Fonte:
http://atlas.srh.ce.gov.br/infra-estrutura/acudes/detalhaCaracteristicasTecnicas.php?cd_acude=24&status=1

Na Aplicação seguinte, veremos a importância das relações cota-vazão


e volume-vazão, para o processo de simulação da passagem da onda
de cheia pelo reservatório.

Anísio de Sousa Meneses Filho 165


Aplicação 28
Tema: Propagação de vazão em reservatório

Considere o hidrograma afluente ao reservatório, como apresentado na tabela seguinte.

vazão vazão vazão


tempo
tempo (h) afluente afluente tempo (h) afluente
(h)
(m³/s) (m³/s) (m³/s)
0 8 5 136 10 22
1 28 6 94 11 16
2 56 7 64 12 12
3 112 8 42 13 11
4 180 9 30 14 10

São também conhecidas a relação cota x volume e as características do vertedouro.

cota acima cota acima


volume armazenado volume armazenado
da soleira da soleira
(m³) (m³)
(m) (m)
0,00 1.340.000,00 1,00 2.400.000,00
0,25 1.540.000,00 1,25 2.700.000,00
0,50 1.800.000,00 1,50 3.000.000,00
0,75 2.080.000,00 1,75 3.280.000,00

x Coeficiente do vertedouro: 2,00 m1/2/s

x Largura do vertedouro: 20,0 m

Elabore o hidrograma na saída desse reservatório, aplicando o método de Puls


modificado. Considere o reservatório inicialmente cheio (com água no nível da soleira do
vertedouro).

166 Hidrologia na prática


Desenvolvimento

O método modificado de Puls é aplicável à propagação de onda de cheia


(hidrograma) em reservatório. Ocorre, nesse processo, uma atenuação
do hidrograma, ou seja, uma redução do pico de vazão.

Fonte: Adaptada de Miguez et al. (2016)

Esse método é baseado numa aproximação de diferenças finitas da


equação da continuidade, associada a uma representação empírica da
equação da quantidade de movimento.

Equação da continuidade
ࣔࡽ ࣔ࡭
൅ ൌ૙
ࣔ࢞ ࢚ࣔ
O segundo membro da equação da continuidade é aqui assumido como
nulo por não se considerar a contribuição lateral no reservatório. O
hidrograma afluente (de vazões Qa, mencionadas adiante como de
entrada (input) It) se refere, então, à borda mais a montante do
reservatório.
ࢋ ࢋ
ࢊ ࣔࡽ
ቆන ࣔ࡭Ǥ ࢊ࢞ቇ ൌ െ න Ǥ ࢊ࢞
ࢊ࢚ ࢇ ࢇ ࣔ࢞

Na expressão acima, os limites da integração (a e e) remetem às seções


extremas do reservatório, entre a entrada (limite a) e a saída (limite e),
com a integral da equação primária da continuidade se desenvolvendo
ao longo do percurso no reservatório.
ࢊࢂ
ൌ ࡽ ࢇ െ ࡽࢋ
ࢊ࢚
Anísio de Sousa Meneses Filho 167
A aproximação por diferenças finitas aplicada ao rearranjo da equação
permite que se escreva:
οࡿ࢚
തതത࢚ ൌ
ࡵഥ࢚ െ ࡻ
ο࢚
Sendo

ࡵഥ࢚ a média das vazões de entrada (afluentes, input It) no intervalo de


tempo ο࢚; ࡻ തതതത࢚ a média das vazões de saída (efluentes, output Ot) no
intervalo de tempo ο࢚; οࡿ࢚  a variação do volume armazenado no
reservatório naquele mesmo período ο࢚.

Num esquema regressivo (de diferenças finitas), a equação anterior


corresponde a:
ࡵ࢚ି૚ ൅ ࡵ࢚ ࡻ࢚ି૚ ൅ ࡻ࢚ ࡿ࢚ െ ࡿ࢚ି૚
െ ൌ
૛ ૛ ο࢚
A arrumação dos termos com o isolamento, no primeiro membro da
equação, dos elementos desconhecidos a cada início de um intervalo de
tempo ο࢚ conduz a uma expressão que pode ir sendo resolvida
gradativamente, na sucessão dos intervalos ο࢚, desde que se estabeleça
uma relação unívoca entre o volume armazenado num dado instante e
correspondente vazão de saída. Isso é possível pelos dispositivos
hidráulicos de controle (orifícios e vertedouro) que operam em função
da altura da lâmina d’água, com equações específicas (como mostrado
adiante). Assim:
ࡿ࢚ ࡻ࢚ ࡵ࢚ି૚ ൅ ࡵ࢚ ࡿ࢚ି૚ ࡻ࢚ି૚
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
ઢ࢚ ૛ ૛ ઢ࢚ ૛
Os valores de todos os elementos do hidrograma afluente (ࡵ࢚ି૚ ǡ
ࡵ࢚ ǡ ࡵ࢚ା૚ ǡ ǥ) são conhecidos, desde o início do processamento da
propagação da onda no reservatório.

Necessário, então, que se disponha de uma certa função (f), para que
a expressão do primeiro membro permita a determinação de ࡻ࢚ , e
assim levar o cálculo adiante.
ࡿ ࡻ࢚
ࢌ૚ ቀ ࢚ ൅ ቁ ൌ ࡻ࢚ ou ࢌ૛ ሺࡿ࢚ ሻ ൌ ࡻ࢚
ઢ࢚ ૛

A relação entre o volume armazenado e a vazão total de saída do


reservatório pode ser estabelecida a partir das equações da hidráulica
(que fornecem as vazões no orifício e no vertedouro em função do nível
168 Hidrologia na prática
de água) e da geometria do reservatório (definido na relação cota-área-
volume). O diagrama seguinte ilustra o procedimento para a obtenção
do relacionamento unívoco entre o volume armazenado (no
reservatório) e a vazão total produzida na saída (do reservatório),
requerido para o manejo da propagação pelo método de Puls.

Fonte: Adaptada de USACE (2000)

Considerações sobre os aspectos hidráulicos são necessárias para o


estabelecimento da relação buscada. A operação do reservatório e as
fórmulas para o cálculo da vazão efluente variam conforme os

Anísio de Sousa Meneses Filho 169


dispositivos de saída presentes, os quais requerem calibração para
ajuste do coeficiente de descarga. As figuras seguintes exibem os
elementos básicos de orifícios e vertedouros.

Para compor a vazão total (ࡽࢋ ) na saída do reservatório, podemos ter


até duas parcelas de vazão, sendo uma referente à saída de fundo (por
࢕࢘࢏ࢌÀࢉ࢏࢕
exemplo, o orifício (ࡽࢋ )) e a outra atinente ao vertedouro
(ࡽ࢜ࢋ࢚࢘ࢋࢊ࢕࢛࢘࢕
ࢋ ).

ࡽࢋ ൌ ࢌሺࢎሻ
࢕࢘࢏ࢌÀࢉ࢏࢕
ࡽࢋ ൌ ࡽࢋ ൅ ࡽ࢜ࢋ࢚࢘ࢋࢊ࢕࢛࢘࢕

࢕࢘࢏ࢌ
ࡽࢋ ൌ ቆ࡯ࢊ Ǥ ࡭࢕࢘࢏ࢌ Ǥ ට૛Ǥ ࢍǤ ࢎ࢕࢘࢏ࢌ ቇ ൅ ൫࡯࢜ࢋ࢚࢘
ࢊ Ǥ ࡸ࢜ࢋ࢚࢘ Ǥ ሺࢎ࢜ࢋ࢚࢘ ሻ૜Ȁ૛ ൯

࢕࢘࢏ࢌ
Onde ࡯ࢊ e ࡯࢜ࢋ࢚࢘
ࢊ , respectivamente, os coeficientes de descarga do
orifício e do vertedouro; ࢎ࢕࢘࢏ࢌ e ࢎ࢜ࢋ࢚࢘ , respectivamente, a altura da
lâmina de água (carga hidráulica) no orifício e no vertedouro; ࡭࢕࢘࢏ࢌ a
área do orifício e ࡸ࢜ࢋ࢚࢘ a largura do vertedouro.

Note-se que, na expressão acima, o vertedouro, quando acionado,


opera livremente, ou seja, sem que haja interferência de jusante. Por
outro lado, caso o vertedouro opere afogado (com interferência do nível
de jusante), essa equação deve ser ajustada.

No estudo do escoamento numa bacia, em canais (rios) ou em


reservatórios, os processos de translação e amortecimento têm
importância relativa diferenciada. Enquanto num reservatório o
processo de difusão (ou armazenamento) assume caráter dominante,
num canal o que prevalece é a translação. Numa bacia, compreendendo
170 Hidrologia na prática
canais de drenagem e de reservatórios, os processos podem ser
tratados separadamente e somados.

Porto (1995) esclarece, numa síntese, a relevância de cada processo na


conformação da cheia. É o que traz o quadro seguinte.

processo
translação amortecimento
sistema

reservatório desprezível dominante

pouco importante, a
canal dominante menos de grandes
várzeas de inundação

importante, a menos de
bacia importante
pequenas bacias urbanas
Fonte: Porto (1995)

Após esta breve síntese teórica, vamos à nossa Aplicação!

Para o vertedouro, temos a equação:

ࡽ ൌ ࡯Ǥ ࡸǤ ࡴ૜Ȁ૛

ࡽ ൌ ૛Ǥ ૛૙Ǥ ࡴ૜Ȁ૛ ൌ ૝૙Ǥ ࡴ૜Ȁ૛

Nesta aplicação, a relação cota x vazão efluente que se estabelece está


apresentada na tabela seguinte.
volume volume
cota acima vazão cota acima vazão
armazenado armazenado
da soleira efluente da soleira efluente
acima da soleira acima da soleira
(m) (m³/s) (m) (m³/s)
(m³) (m³)
0,00 0 0,00 1,00 1.060.000 40,00
0,25 200.000 5,00 1,25 1.360.000 55,90
0,50 460.000 14,44 1,50 1.660.000 73,48
0,75 740.000 25,98 1,75 1.940.000 92,60

Anísio de Sousa Meneses Filho 171


Não está sendo considerado aqui qualquer outra saída de água do
reservatório, além daquela que passa pelo vertedouro. No instante
inicial da propagação, o reservatório encontra-se com água no nível da
soleira do vertedouro.
ࡿ ࡻ࢚
Tabulamos, então, a relação entre ቀ ࢚ ൅
ઢ࢚ ૛
ቁ e ࡻ࢚ . Assim:

St/'t +Ot/2 Ot
(m³/s) (m³/s)
0,00 0,00
58,06 5,00
135,00 14,44
218,55 25,98
314,44 40,00
405,73 55,90
497,85 73,48
585,19 92,60

Graficamente:

Relação taxa de armazenamento (St/'t) e vazão


efluente (Ot)
100,00
90,00
80,00
70,00
Ot (m³/s)

60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
0 100 200 300 400 500 600 700
St/'t + Ot/2

Podemos, agora, obter a vazão efluente no tempo 1. Assim:


ࡿ࢚ ࡻ࢚ ࡵ࢚ି૚ ൅ ࡵ࢚ ࡿ࢚ି૚ ࡻ࢚ି૚
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
ઢ࢚ ૛ ૛ ઢ࢚ ૛
ࡿ૚ ࡻ૚ ࡵ૙ ൅ ࡵ૚ ࡿ૙ ࡻ૙
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
ઢ࢚ ૛ ૛ ઢ࢚ ૛
ࡿ૚ ࡻ૚ ૡ ൅ ૛ૡ ૙ ૙
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૚ ࡻ૚
൬ ൅ ൰ ൌ ૚ૡǡ ૙૙࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛

172 Hidrologia na prática


Acessando a tabela anterior (ou pelo gráfico) com o valor 18,00 m³/s,
encontramos, por interpolação, o correspondente valor de O1, ou seja,
1,55 m³/s. Este valor de vazão se refere a um armazenamento de
62.000 m³ (acima do nível da soleira do vertedouro).

Para o tempo 2, prosseguindo:

ࡿ૛ ࡻ૛ ૛ૡ ൅ ૞૟ ૟૛૙૙૙ ૚ǡ ૞૞
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૛ ࡻ૛
൬ ൅ ൰ ൌ ૞ૡǡ ૝૞࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Novamente acessando a mesma tabela anterior (ou o gráfico) com o
valor 58,45 m³/s, encontramos, por interpolação, o correspondente
valor de O2, ou seja, 5,05 m³/s. Este valor de vazão se refere a um
armazenamento de 201.377 m³ (acima do nível da soleira do
vertedouro).

O avanço repetitivo do algoritmo até o último intervalo de tempo nos


leva a compor a seguinte tabela, correspondente ao hidrograma de
saída (efluente do vertedouro).

vazão vazão vazão


tempo tempo tempo
efluente efluente efluente
(h) (h) (h)
(m³/s) (m³/s) (m³/s)
0 0,00 5 53,74 10 50,59
1 1,55 6 65,22 11 40,52
2 5,05 7 67,85 12 36,56
3 14,77 8 65,02 13 32,90
4 33,30 9 59,64 14 29,62

Os dois hidrogramas estão exibidos no mesmo plano cartesiano a


seguir, o que permite confirmar o cruzamento do pico de vazão efluente
com a cauda de descida do hidrograma de entrada. Constata-se um
abatimento do pico da ordem de 112 m³/s.

Anísio de Sousa Meneses Filho 173


Segue o complemento da memória de cálculo:

ࡿ૜ ࡻ૜ ૞૟ ൅ ૚૚૛ ૛૙૚૜ૠૠ ૞ǡ ૙૞
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૜ ࡻ૜
൬ ൅ ൰ ൌ ૚૜ૠǡ ૝૚࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૜ ൌ ૚૝ǡ ૠૠ࢓૜ Ȁ࢙

ࡿ૝ ࡻ૝ ૚૚૛ ൅ ૚ૡ૙ ૝૟ૡ૙૙ૠ ૚૝ǡ ૠૠ


൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૝ ࡻ૝
൬ ൅ ൰ ൌ ૛૟ૡǡ ૟૛࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૝ ൌ ૜૜ǡ ૜૙࢓૜ Ȁ࢙

ࡿ૞ ࡻ૞ ૚ૡ૙ ൅ ૚૜૟ ૢ૙ૠ૙ૠ૟ ૜૜ǡ ૜૙


൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૞ ࡻ૞
൬ ൅ ൰ ൌ ૜ૢ૜ǡ ૜૛࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૞ ൌ ૞૜ǡ ૠ૝࢓૜ Ȁ࢙

174 Hidrologia na prática


ࡿ૟ ࡻ૟ ૚૜૟ ൅ ૢ૝ ૚૜૚ૢ૛૝૞ ૞૜ǡ ૠ૝
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૟ ࡻ૟
൬ ൅ ൰ ൌ ૝૞૝ǡ ૞ૢ࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૟ ൌ ૟૞ǡ ૛૛࢓૜ Ȁ࢙

ࡿૠ ࡻૠ ૢ૝ ൅ ૟૝ ૚૞૚ૢ૙૝૝ ૟૞ǡ ૛૛
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿૠ ࡻૠ
൬ ൅ ൰ ൌ ૝૟ૡǡ ૜૞࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽૠ ൌ ૟ૠǡ ૡ૞࢓૜ Ȁ࢙

ࡿૡ ࡻૡ ૟૝ ൅ ૝૛ ૚૞૟૜ૢ૛૞ ૟ૠǡ ૡ૞
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿૡ ࡻૡ
൬ ൅ ൰ ൌ ૝૞૜ǡ ૞૙࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽૡ ൌ ૟૞ǡ ૙૛࢓૜ Ȁ࢙

ࡿૢ ࡻૢ ૝૛ ൅ ૜૙ ૚૞૚ૡૠ૙૜ ૟૞ǡ ૙૛
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿૢ ࡻૢ
൬ ൅ ൰ ൌ ૝૛૞ǡ ૜૞࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽૢ ൌ ૞ૢǡ ૟૝࢓૜ Ȁ࢙

ࡿ૚૙ ࡻ૚૙ ૜૙ ൅ ૛૛ ૚૜૟૝૞૟૜ ૞ૢǡ ૟૝


൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૚૙ ࡻ૚૙
൬ ൅ ൰ ൌ ૜ૠ૞ǡ ૛૜࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૚૙ ൌ ૞૙ǡ ૞ૢ࢓૜ Ȁ࢙

Anísio de Sousa Meneses Filho 175


ࡿ૚૚ ࡻ૚૚ ૛૛ ൅ ૚૟ ૚૚૟૞૝ૠ૛ ૞૙ǡ ૞ૢ
൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૚૚ ࡻ૚૚
൬ ൅ ൰ ൌ ૜૚ૠǡ ૝૞࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૚૚ ൌ ૝૙ǡ ૞૛࢓૜ Ȁ࢙

ࡿ૚૛ ࡻ૚૛ ૚૟ ൅ ૚૛ ૚૙૟ૢૡ૚૚ ૝૙ǡ ૞૛


൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૚૛ ࡻ૚૛
൬ ൅ ൰ ൌ ૛ૢ૙ǡ ૢ૚࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૚૛ ൌ ૜૟ǡ ૞૟࢓૜ Ȁ࢙

ࡿ૚૜ ࡻ૚૜ ૚૛ ൅ ૚૚ ૢૡ૚૝ૡ૝ ૜૟ǡ ૞૟


൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૚૜ ࡻ૚૜
൬ ൅ ൰ ൌ ૛૟૞ǡ ૡ૞࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૚૜ ൌ ૜૛ǡ ૢ૙࢓૜ Ȁ࢙

ࡿ૚૝ ࡻ૚૝ ૚૚ ൅ ૚૙ ૡૢૠૢ૝૟ ૜૛ǡ ૢ૙


൬ ൅ ൰ൌ൬ ൰൅൬ െ ൰
૜૟૙૙ ૛ ૛ ૜૟૙૙ ૛
ࡿ૚૝ ࡻ૚૝
൬ ൅ ൰ ൌ ૛૝૜ǡ ૝ૡ࢓૜ Ȁ࢙
૜૟૙૙ ૛
Por interpolação: ࡽ૚૝ ൌ ૛ૢǡ ૟૛࢓૜ Ȁ࢙

176 Hidrologia na prática


Aplicação 29
Tema: Estimativa da capacidade de reservatório de regularização de vazão

Considere as vazões médias mensais no período de um ano apresentadas na tabela


seguinte, referentes a uma seção do rio Jaguaribe, no Ceará.
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
vazão
10,8 48,8 120,0 168,0 49,0 9,9 2,0 0,5 0,2 0,3 0,4 6,7
(m³/s)

Estime a capacidade mínima requerida para um reservatório promover a máxima


regularização intra-anual possível, desprezadas as perdas hídricas nos processos naturais.

Desenvolvimento

A máxima vazão teórica regularizável é a média das vazões históricas


de longo termo, desconsiderando as perdas por evaporação,
vertimentos e infiltração. A essa conclusão se chega levando-se em
conta a própria definição matemática da média aritmética57. Quando as
perdas mencionadas são inseridas no cômputo da operacionalização do
reservatório, o processo de cálculo torna-se um pouco mais complexo,
haja vista a variabilidade dessas perdas – por exemplo, a evaporação
varia ao longo do ano conforme a radiação solar e a exposição do
espelho de água no lago.

A figura seguinte exibe a variação das vazões numa seção de rio ao


longo de um ano. A vazão média é aquela que reparte o gráfico em duas

57
A soma de todas as parcelas superavitárias à média equivale à soma de todas as parcelas deficitárias em relação à média.
Anísio de Sousa Meneses Filho 177
áreas equivalentes. O período crítico corresponde ao intervalo de tempo
em que as vazões naturais assumem valores abaixo da média.

Durante o ano, observam-se alguns períodos de déficit hídrico e outros


períodos de superávit hídrico. A lógica mais simples e imediata da
estocagem se baseia em guardar na abundância (meses mais úmidos)
para prover na escassez (naqueles meses mais secos). E nunca
desperdiçar!

Um reservatório funciona como um transportador de água no tempo.

178 Hidrologia na prática


No semiárido nordestino, a evapotranspiração potencial chega a ser
maior do que a precipitação média anual. Portanto, não se pode
desprezar, na formulação do balanço hídrico, a parcela que retorna a
cada mês para a atmosfera impulsionada por forte insolação.
Anualmente, essa grandeza alcança valores da ordem de 2000 mm,
enquanto a precipitação média anual fica em torno de 800 mm, como
no Ceará.

A compreensão da variabilidade sazonal (dentro de um mesmo ano) e


da variabilidade nos sucessivos anos é fundamental para a concepção e
dimensionamento de reservatórios que cumpram eficazmente o seu
propósito. Nessa perspectiva, a escala de tempo adotada na análise é
determinante para a definição do papel a ser desempenhado pelo
reservatório. Há, assim, reservatórios de regularização intra-anual e
outros de regularização plurianual. Os primeiros, de menor porte, se
destinam a transferir, dentro do mesmo ano, as águas do período
chuvoso (quando são abundantes) para o período de estio (quando a
água é pouca ou quase nada). Esse é o principal desafio na gestão dos
recursos hídricos no semiárido. No Ceará, por exemplo, o aporte
proporcionado pelas chuvas se concentra em meses do primeiro
semestre do ano, notadamente de março a maio – pequenos açudes
conseguem armazenar um volume apenas suficiente para atender à
demanda até que a próxima quadra chuvosa se inicie, quando eles
provavelmente estarão, mais uma vez, vazios. Já os açudes de maior
porte são capazes de atender durante períodos mais alongados de estio,
quando a pluviosidade fica abaixo da média em anos sucessivos. Assim,
transporta-se a água de anos úmidos para anos secos.

Anísio de Sousa Meneses Filho 179


Um exemplo no cenário cearense é o açude Orós, com capacidade de
1.940 hm³, que constitui um reservatório plurianual. Observam-se, no
rio Jaguaribe, vazões médias mensais afluentes (a montante do Orós)
que variam de zero (leito completamente seco) a valores acima de
1.300 m³/s, com vazões afluentes médias anuais variando de zero a
200 m³/s; nessa seção considerada, no município de Iguatu, a vazão
média de longo prazo é de ordem de 34 m³/s – o que seria,
teoricamente58, a máxima vazão regularizável. Efetivamente, a vazão
regularizada59 é da ordem de 20,4 m³/s.

Reservatórios destinados à regularização de vazões (também chamados


de reservatórios de acumulação) são diferentes daqueles que têm como
propósito primordial a atenuação de cheias. Nestes, a liberação da água
para o canal a jusante é feita conforme a sua capacidade hidráulica,
sem que ocorra inundação. Por sua vez, um reservatório de
regularização apresenta a saída de água controlada conforme a
demanda a ser atendida durante o período de estiagem.

Uma distinção conceitual interessante (devendo, portanto, ser levada


em conta na confecção das séries temporais) é a que se estabelece
entre ano civil e ano hidrológico. Em média, ambos apresentam a
mesma extensão de tempo (12 meses), porém não coincidem os
marcos inicial e final de cada ano nesses dois conceitos. O ano civil é
aquele que começa em janeiro e termina em dezembro. O ano
hidrológico se estende do início do período chuvoso até o final do
período seco, quando nova quadra chuvosa se inaugura.

A expressão seguinte retrata a equação do balanço hídrico de um


reservatório, também ilustrada na figura abaixo:
οࡿ
ࡼ ൅ ࡽࢇࢌ െ ࡱ െ ࡰ െ ࡽࢋࢌ െ ࡵ ൌ
ο࢚
Sendo:
P a precipitação na bacia hidráulica; ࡽࢇࢌ as vazões afluentes; ࡽࢋࢌ as
vazões efluentes (restituição ao rio); E a evaporação; ࡰ as demandas

58
Teoricamente, como já mencionamos, pois para isso seria necessário um reservatório de cota bastante alta (para não haver
vertimentos) e a absoluta ausência de evaporação, o que não corresponde à realidade do Nordeste brasileiro.
59
Conforme o Atlas Eletrônico dos Recursos Hídricos do Ceará (atlas.srh.ce.gov.br). De acordo com o DNOCS (Departamente
Nacional de Obras contra as Secas – dnocs.gov.br), o açude Orós foi pioneiro na perenização de 280 km do rio Jaguaribe, até
a sua foz no Oceano Atlântico.
180 Hidrologia na prática
(derivações do açude); I a infiltração; οࡿ a variação do volume
armazenado;ο࢚ o intervalo de tempo considerado no processamento.

O que se define como vazão de regularização (ࡽ࢘ ) é a soma das parcelas


atinentes às derivações do açude com a vazão efluente. Essa soma
tende a ser, ao longo do tempo, constante ou não muito variável.

ࡽ࢘ ൌ ࡰ ൅ ࡽࢋࢌ

Evidentemente, as diferentes grandezas referidas nas equações


apresentadas estarão expressas na mesma unidade (em geral, m³/s ou
mm/mês). As vazões podem ser relativizadas à área de contribuição da
bacia, para a sua apresentação em termos de lâmina por unidade de
tempo, à semelhança do que usualmente se adota na precipitação e
evaporação.

Nesta equação, as perdas por evaporação (E) podem ser deduzidas


diretamente das vazões afluentes (Qaf), simplificando, assim, a
implementação do cálculo.

A dinâmica do balanço hídrico em reservatório, ao longo do tempo, é


manejada como segue:

ࡿ࢚ା૚ ൌ ࡿ࢚ ൅ ࡼ࢚ ൅ ࡽࢇࢌǡ࢚ െ ࡰ࢚ െ ࡱ࢚ െࡵ࢚ െ ࢂ࢚

(a parcela ࢂ࢚ (atinente à saída de água pelo vertedouro) só existirá caso ࡿ࢚ା૚


pretenda ser maior do que a capacidade máxima do reservatório)

O subscrito aqui indica o intervalo de tempo considerado em cada uma


das grandezas que integram a equação.

Anísio de Sousa Meneses Filho 181


De forma ainda mais simplificada, desconsiderando-se as parcelas de
precipitação sobre o lago, de infiltração e de evaporação (já deduzida
no cômputo da afluência, por exemplo), a expressão acima fica assim:

ࡿ࢚ା૚ ൌ ࡿ࢚ ൅ ࡽࢇࢌǡ࢚ െ ࡰ࢚ െ ࢂ࢚

Na apreciação da variabilidade das vazões afluentes, em prol da


regularização de vazões, três quesitos podem ser colocados para a
análise:

x Qual a capacidade mínima do reservatório requerido para atender


a uma regra de regularização definida (em função da vazão
média), sendo conhecidas as vazões naturais?
x Qual a regularização operacionalmente viável, para um
reservatório já existente?
x Qual o estoque no reservatório, ao longo do tempo, após definida
a regra de operação num reservatório já implantado?

Convém observar que diferentes metodologias são aplicadas no


dimensionamento, conforme o tipo de reservatório. A depender da
escala temporal de análise, alguns termos da equação do balanço
podem ser desprezados.

Vamos, então, aos cálculos!

Para a implementação, um pressuposto é que as vazões informadas


correspondam a um ano representativo do comportamento hidrológico
naquela seção de controle. A rigor, deve-se buscar um ano de histórico
crítico, para maior garantia. Por hipótese bastante simplificadora,
assumimos que todos os anos sejam iguais ao que está sendo retratado
na série de vazões mensais, com a mesma extensão de criticidade.

182 Hidrologia na prática


variabilidade das vazões no ano
180,0
160,0
vazão média mensal (m³/s)
140,0
120,0
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Dessa forma, iniciamos pelo cálculo da vazão média.


ഥ ൌ ૜૝ǡ ૠ࢓૜ Ȁ࢙

Teoricamente, a demanda total de até 34,7 m³/s pode vir a ser atendida
pela estratégia da estocagem hídrica durante o período superavitário de
fevereiro a maio.

Conforme se depreende do gráfico acima, o período crítico se estende


de junho a janeiro. Nesse intervalo de tempo, contemplando oito
meses, o atendimento da demanda máxima viável se torna possível

Anísio de Sousa Meneses Filho 183


pelo integral armazenamento, mês a mês, de todo o volume
superavitário nos meses de fevereiro a maio60. Assim:

volume de
volume afluente saldo mensal
mês regularização
(m³) (m³)
máxima (m³)
janeiro 27.993.600 89.985.578 -61.991.978
fevereiro 126.489.600 89.985.578 36.504.022
março 311.040.000 89.985.578 221.054.422
abril 435.456.000 89.985.578 345.470.422
maio 127.008.000 89.985.578 37.022.422
junho 25.660.800 89.985.578 -64.324.778
julho 5.184.000 89.985.578 -84.801.578
agosto 1.296.000 89.985.578 -88.689.578
setembro 518.400 89.985.578 -89.467.178
outubro 777.600 89.985.578 -89.207.978
novembro 1.036.800 89.985.578 -88.948.778
dezembro 17.366.400 89.985.578 -72.619.178

Portanto, a capacidade mínima do reservatório deve ser de 640.051.290


m³ (ou seja, aproximadamente 640 hm³).

Evidentemente, considerando que grandes vazões são encontradas em


alguns meses do ano, como decorrência da extensa área de contribuição
na bacia de drenagem, convém ampliar suficientemente a série histórica
para uma melhor avaliação do caráter mais adequado para o
reservatório (intra-anual ou plurianual), tendo em vista a acentuada
variabilidade interanual das vazões registradas. A tomada de decisão
mais provável será, nesse caso, por um reservatório plurianual. Com
efeito, um ano apenas de dados de vazão, como fornecido nesta
Aplicação, não é suficiente para o dimensionamento que se almeja.

Devemos observar, além disso, que outras regras de regularização


podem ser estabelecidas pelo órgão gestor, sobretudo para que estejam
respeitados os interesses e as demandas das comunidades a jusante da
seção barrada.

60
Estamos aqui considerando todos os meses de 30 dias.
184 Hidrologia na prática
Podem ser estabelecidas diferentes leis de regularização, o que se
define como sendo a função adimensional (࢟) dada por:
ࡽ࢘
࢟ൌ

Sendo ࡽ࢘ a vazão de regularização e ࡽ


ഥ a vazão média no período
considerado na análise.

Quando ࢟ ൌ ૚ , a relação significa que a vazão de regularização equivale


à média do período, ou seja, a máxima possível.

Anísio de Sousa Meneses Filho 185


Aplicação 30
Tema: Estimativa da capacidade de reservatório para controle de enchentes

Considere o hidrograma triangular de cheia numa seção de controle (exutório da bacia),


que drena uma área de 2,0 km², como mostrado na figura seguinte.

Estime a capacidade de um reservatório de detenção para a mitigação do pico de cheia,


tendo em vista que rede de drenagem tem capacidade atual para escoar, no máximo, 20
m³/s.

Desenvolvimento

O procedimento simplificado para a estimativa da capacidade do


reservatório para o controle de enchentes consiste em considerar que,
em gráfico, o pico de vazão efluente (na saída do reservatório) está
situado num ponto da cauda de descida do hidrograma afluente. Essa
hipótese é compatível com o mecanismo de propagação de cheias em
reservatório, ou seja, em que o nível máximo de armazenamento
coincide com o início do processo de esvaziamento do reservatório.
Numa pequena bacia, o hidrograma triangular serve como primeira
aproximação.

Assim, um esboço do hidrograma efluente é o que se apresenta na


figura seguinte.

186 Hidrologia na prática


O volume total de entrada (no gráfico, a área sob o hidrograma
afluente) equivale ao volume total de saída (no gráfico, a área sob o
hidrograma efluente).

No plano cartesiano da figura, os dois hidrogramas se encontram no


ponto coordenado (1,8 h; 20,0 m³/s). Daí podemos calcular a área
sombreada como sendo um valor aproximado da capacidade (CRES) do
reservatório.

Sendo tB o tempo de base do hidrograma afluente, Qp,af a vazão de pico


de entrada, Qp,ef a vazão de pico de saída, temos:

࢚࡮Ǥ ൫ࡽ࢖ǡࢇࢌ െ ࡽ࢖ǡࢋࢌ ൯


࡯ࡾࡱࡿ ൌ

૜Ǥ ૜૟૙૙ሺ૜૙ െ ૛૙ሻ
࡯ࡾࡱࡿ ൌ ൌ ૞૝૙૙૙࢓Ϳ

A laminação produzida, nesse caso, é de 10 m³/s. O volume total
escoado é de 162.000 m³, sendo necessária uma detenção de
54.000m³, para atenuar 1/3 da vazão de pico. Por esse procedimento
simplificado, a capacidade requerida é proporcional à laminação
almejada.

O projeto da detenção deve contemplar os dispositivos de saída


(tipicamente, orifícios e vertedouros), de forma a prover as adequadas
condições operacionais do sistema. Uma vez fixadas as dimensões e a
geometria desses dispositivos, é o nível de água no reservatório que
determina a vazão efluente do reservatório que ingressa na rede de
drenagem.

Anísio de Sousa Meneses Filho 187


Aplicação 31
Tema: Elaboração e análise do diagrama de Rippl

Considere a série de vazões médias mensais (em m³/s) apresentada na tabela seguinte,
referente a uma seção de controle do rio onde se pretende construir uma barragem para
prover acumulação regularizadora.

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
1971 7,3 4,6 4,3 3,0 2,8 2,4 2,1 2,9 1,8 2,2 3,6 4,7
1972 4,1 6,4 6,7 4,2 3,3 3,1 2,8 2,9 2,5 3,2 4,2 5,1

Elabore o diagrama de Rippl e estime a capacidade requerida para um reservatório


destinado a regularizar a máxima vazão possível.

Desenvolvimento

O diagrama de Rippl (diagrama de massa), concebido no final do século


XIX, consiste numa representação, em plano cartesiano, das vazões
acumuladas (ou volumes acumulados) ao longo do tempo.

O diagrama de Rippl é a integral da hidrógrafa, ou seja, apresenta ao


longo do tempo os volumes acumulados

Por esse método, a capacidade do reservatório é estimada para uma


regularização equivalente à vazão afluente média anual, ou seja, a
máxima teórica, desprezando-se as perdas por evaporação, por
exemplo.

O diagrama de Rippl, portanto, não é adequado para o


dimensionamento de reservatório no semiárido nordestino, haja vista a
elevada taxa de evaporação que caracteriza o regime climático da
região.

188 Hidrologia na prática


Na implementação do método, é possível a identificação, por processo
gráfico, do período crítico, enquanto a tangente à curva do diagrama
cumulativo apresentar inclinação menor do que a da reta que se refere
à vazão assumida para a regularização.

A seguir, um exemplo de hidrógrafa e, ao lado, o seu correspondente


diagrama de massa (diagrama de Rippl, com os volumes acumulados).

Note-se que a tangente à curva em cada ponto fornece a vazão


instantânea – assim, por exemplo, nos pontos 1 e 2 (com o tempo lido
no eixo das abscissas). A diferença entre as ordenadas desses pontos,
por sua vez, fornece o volume acumulado entre os dois instantes
correspondentes.

A capacidade requerida para o reservatório de regularização é a


diferença entre a demanda do período crítico e a oferta natural nesse
mesmo período. Assim, se o propósito é regularizar a vazão média
(máximo viável), temos:
ഥ Ǥ ൫࢚ࢌ െ ࢚࢏ ൯
ࢂ࢔ࢋࢉ ൌ ࡽ
࢚ࢌ
ࢂࢇࢌ ൌ න ࡽࢇࢌ Ǥ ࢊ࢚
࢚࢏

Sendo ࢂ࢔ࢋࢉ o volume necessário (ou demanda requerida) no período


crítico; ࢂࢇࢌ o volume afluente ao reservatório no período crítico; ࢚࢏ e ࢚ࢌ
os instantes incial e final do período crítico.

A vazão média é obtida pela inclinação da reta que liga os pontos


extremos da curva (no diagrama). Cada instante que associa tangente
Anísio de Sousa Meneses Filho 189
paralela a essa reta corresponde a uma transição de enchimento para
esvaziamento (como no ponto 1 da figura seguinte), ou a uma transição
de esvaziamento para enchimento (como no ponto 2). Entre esses dois
pontos, reconhecemos um período crítico.

A figura seguinte é esclarecedora das diversas informações reunidas e


extraíveis do diagrama da Rippl.

Na figura acima, os pontos 1 e 2 são os mais distantes da reta de


regularização, de um lado e do outro.

Ao traçarmos as tangentes à curva nos pontos 1 e 2, percebemos que


elas são paralelas entre si e à reta da vazão média. A distância entre
essas duas tangentes, medida no eixo das ordenadas, fornece volume
do armazenamento requerido para suprir o déficit no período crítico. Ou
seja:

ࢂ࢔ࢋࢉ െ ࢂࢇࢌ ൌ ο૚ ൅ ο૛

Pode ocorrer de o diagrama apresentar mais de um período crítico.


Nesse caso, a capacidade requerida na estocagem hídrica será aquela
correspondente à situação de maior criticidade.

190 Hidrologia na prática


Com a aplicação dos elementos fornecidos no enunciado,
confeccionamos o seguinte diagrama de Rippl.

A vazão média do período analisado é 3,8 m³/s.

O período mais crítico se estende de abril a novembro de 1971.

A capacidade mínima do reservatório de regularização é 24 hm³,


correspondente, no diagrama de Rippl, à distância (medida no eixo dos
volumes) entre as duas tangentes (em linhas tracejadas).

Uma forma alternativa de apresentação do diagrama de massas é


mostrada na figura seguinte. Nesse caso, temos o diagrama de massa
residual. Assim como no diagrama de Rippl, o eixo das abscissas exibe
a variável tempo; o eixo das ordenadas, por sua vez, traz o volume
deficitário (em relação à média) acumulado no tempo. Eis um exemplo

Anísio de Sousa Meneses Filho 191


ilustrativo (hipotético) do método em comento, considerando as vazões
médias mensais num período de 25 anos.

O diagrama acima contempla o mesmo critério do diagrama de Rippl,


porém, ao operar com os valores residuais (isto é, descontada a vazão
média), oferece um plano de leitura mais fácil e, assim, favorece a sua
manipulação para a estimativa do volume útil requerido na
regularização, que corresponde, no gráfico, à distância entre o ponto
mais baixo da curva (de massa residual) e a reta (declinante) atinente
à vazão de atendimento que se pretende alcançar. Pode-se observar
nesse diagrama que quanto maior o valor do ângulo D, menor o volume
útil do reservatório e menor a vazão regularizada; no limite teórico, com
D igual a 0,0, a vazão regularizada será igual à média do longo termo.

192 Hidrologia na prática


Aplicação 32
Tema: Estimativa do volume de pequenos reservatórios

A figura seguinte mostra os espelhos de água de dois pequenos açudes em outubro de


2019, em Pacajus (CE). Estime o volume armazenado de água em cada um deles.

Fonte: Google Earth Pro61 (acesso em 6/8/2020)


Desenvolvimento

As relações cota-área, cota-volume e cota-vazão são requeridas no


dimensionamento do reservatório e dos seus dispositivos de saída e de
extravasão. Com isso, ficam estabelecidas a geometria e as condições
operacionais do sistema de estocagem hídrica.

O estabelecimento de uma relação matemática entre o volume


armazenado (no reservatório) e a área do espelho de água torna

61
Aplicativo disponível para download em www.google.com.br.
Anísio de Sousa Meneses Filho 193
bastante simples o monitoramento das reservas hídricas a partir de
informações que podem ser obtidas por sensoriamento remoto. Assim,
de maneira sistemática, com base no balanço hídrico, ficam registradas
as parcelas que foram liberadas e evaporadas, permitindo uma gestão
aderente com a dinâmica dos processos, a oferta e a demanda.

Muitas vezes, porém, precisamos conhecer o volume de água do açude


sem dispormos diretamente da geometria do corpo hídrico. Para
superar essa dificuldade, é possível levar em conta que os reservatórios
apresentam alguma semelhança no seu formato, não sendo, portanto,
acentuadamente discrepante promover essa estimativa a partir de
parâmetros médios que retratam essa configuração62.

Molle (1989)63 propôs uma equação64 que relaciona o volume


armazenado (V) no reservatório com a área (S) do espelho de água.

ࡿ ࢻି૚
ࢂ ൌ ࡷǤ ൬ ൰
ࢻǤ ࡷ
Sendo:
D e K constantes empíricas associadas à geometria do reservatório.
No estudo de Molle (1989), em pequenos reservatórios no Nordeste
brasileiro, foram obtidas as seguintes regressões entre o volume (V) e
a profundidade (H) e entre a área (S) e a profundidade (H).

ࢂ ൌ ࡷǤ ࡴࢻ

ࡿ ൌ ࢻǤ ࡷǤ ࡴሺࢻି૚ሻ

Os valores médios para os parâmetros são:

D = 2,7
K = 1.500

Nesse caso, V se expressa em m³ e S se expressa em m².

Assim, para uma estimativa expedita, com margem de erro aceitável


nesse propósito, podemos utilizar ferramenta para obtenção da área do

62
Estudo abrangente sobre o tema pode ser encontrado em Campos (2005).
63
François Molle (ORSTOM / SUDENE). Disponível em https://horizon.documentation.ird.fr/exl-
doc/pleins_textes/pleins_textes_7/divers2/010033411.pdf
64
Equação desenvolvida com base em dados de 416 reservatórios da região semiárida nordestina.
194 Hidrologia na prática
espelho de água. Isso pode ser feito de diversas maneiras, incluindo o
traçado de polígono no contorno do espelho e uso de escala gráfica. No
entanto, o aplicativo que disponibiliza a imagem oferece o recurso
automático para essa tarefa (no Google Earth Pro®: menu principal,
ferramentas, régua, polígono).

Por esse procedimento, obtiveram-se as áreas conforme exibido nas


figuras seguintes.

Com a aplicação dos parâmetros médios para açudes do semiárido


nordestino, temos para os volumes as seguintes estimativas:
Para o açude mais à esquerda (a montante):

ࡿ ൌ ૛ǡ ૠǤ ૚૞૙૙Ǥ ࡴሺ૛ǡૠି૚ሻ

૝૚૝૚૜૞ǡ ૛ૢ ൌ ૛ǡ ૠǤ ૚૞૙૙Ǥ ࡴ૚ǡૠ ࡴ ൌ ૚૞ǡ ૛࢓

ࢂ ൌ ૚૞૙૙Ǥ ࡴ૛ǡૠ

ࢂ ൌ ૚૞૙૙Ǥ ૚૞ǡ ૛૛ǡૠ ࢂ ൌ ૛Ǥ ૜૛ૡǤ ૝૟૚࢓૜ ؆ ૛ǡ ૜૜ࢎ࢓Ϳ

Anísio de Sousa Meneses Filho 195


Para o açude da direita (a jusante do primeiro):

ࡿ ൌ ૛ǡ ૠǤ ૚૞૙૙Ǥ ࡴሺ૛ǡૠି૚ሻ

૞૙૞૞ૡ૚ǡ ૡૡ ൌ ૛ǡ ૠǤ ૚૞૙૙Ǥ ࡴ૚ǡૠ ࡴ ൌ ૚ૠǡ ૚࢓

ࢂ ൌ ૚૞૙૙Ǥ ࡴ૛ǡૠ

ࢂ ൌ ૚૞૙૙Ǥ ૚ૠǡ ૚૛ǡૠ ࢂ ൌ ૜Ǥ ૛૙૙Ǥ ૛૛ૠ࢓૜ ؆ ૜ǡ ૛૙ࢎ࢓Ϳ

196 Hidrologia na prática


Aplicação 33
Tema: Estabelecimento de curva-chave

Em expedições de campo, foram obtidas as vazõess em diferentes níveis de uma mesma


seção do curso de água, conforme a tabela seguinte.

nível (m) vazão (m³/s) nível (m) vazão (m³/s)

0,55 2,14 0,76 4,21


0,54 1,96 0,64 3,46
1,18 8,1 0,53 2,07
0,74 4,28 1,68 15,5
0,57 2,63 2,48 30,3
0,5 1,96 0,94 7,19
0,58 2,56 0,62 3,55

Estabeleça a curva-chave.

Desenvolvimento

O método da meia seção se aplica aos dados obtidos com o uso de


molinete, com o que medimos a velocidade em vários pontos da seção
do rio. Como cada ponto da seção apresenta valor diferente de
velocidade, torna-se necessário estimar a velocidade média
representativa para que se alcance uma boa medida da vazão.

A figura seguinte exibe o perfil de velocidades numa seção transversal


de rio. Note-se a variação ao longo de cada vertical, com valores mais
baixos no fundo, próximo ao leito.

Anísio de Sousa Meneses Filho 197


Estabelecem-se as verticais distribuídas de uma margem à outra do rio,
suficientemente espaçadas; a quantidade de verticais depende da
largura do curso de água. Como critério indicativo de espaçamento,
temos, por exemplo:

largura do rio espaçamento


૚࢓ ൑ ࡸ ൑ ૜࢓ 0,3 m
૜࢓ ൏ ࡸ ൑ ૟࢓ 0,5 m
૟࢓ ൏ ࡸ ൑ ૚૞࢓ 1,0 m

Usualmente, em cada uma das n vertical, são promovidas duas


medições (a 20% e a 80% da profundidade). A média aritmética dos
valores obtidos é a velocidade assumida para aquela vertical. A vazão
é o somatório das vazões parciais, cada uma delas calculada
multiplicando-se a área (࡭࢏ ) atribuída à vertical (considerada até a meia
distância das verticais vizinhas) e a respectiva velocidade média (࢜࢏ ).

Assim: ࡽ ൌ  σ࢔࢏ୀ૚ሺ࡭࢏ Ǥ ࢜࢏ ሻ

Outros processos de medição direta de vazão incluem o uso de


vertedouros, de flutuadores ou de perfiladores acústicos (como o ADCP
– acoustic Doppler current profiler).

A medição da vazão em vários níveis da seção do rio permite a


calibração da curva-chave, a partir do que podemos passar a registrar
sistematicamente as vazões com base nas leituras de régua linimétrica.

198 Hidrologia na prática


Para o estabelecimento da curva-chave, o método logarítmico é um dos
mais empregados. Para facilitar a visualização e o processo de cálculo,
a plotagem nível versus vazão costuma ser feita em papel em escala
logarítmica (nos dois eixos), pois aí os pontos tendem à colinearidade.

Em geral, a relação potência é a mais comum e assume o seguinte


formato:

ࡽ ൌ ࢇǤ ሺࢎ െ ࢎ࢕ ሻ࢔

Calibrar a curva-chave significa determinar os valores de a, n e ho que


acomodem com a melhor aderência possível uma biunivocidade entre
as variáveis h (nível, medido no linímetro) e Q (vazão).

As planilhas eletrônicas dispõem de ferramentas para o ajuste da linha


de tendência dos pontos graficados, como mostram as figuras seguintes
(em escala logarítmica). Podemos, inclusive, comparar a qualidade do
ajuste de diferentes funções matemáticas e eleger a de melhor
correlação.

100

Q = 3,2569.h2 + 4,5049.h - 1,0178


R² = 0,9968
vazão (m³/s)

10

1
0,1 1 10
nível (m)

Anísio de Sousa Meneses Filho 199


100

Q = 6,6596.h1,7102
R² = 0,9835
vazão (m³/s)

10

1
0,1 1 10
nível (m)

vazão calculada vazão calculada


vazão
pela função erro, pela função pela função erro, pela função
nível (m) medida
potência potência polinomial polinomial
(m³/s)
(m³/s) (m³/s)
0,55 2,14 2,40 0,12 2,45 0,14
0,54 1,96 2,32 0,18 2,36 0,21
1,18 8,1 8,84 0,09 8,83 0,09
0,74 4,28 3,98 -0,07 4,10 -0,04
0,57 2,63 2,55 -0,03 2,61 -0,01
0,5 1,96 2,04 0,04 2,05 0,05
0,58 2,56 2,62 0,02 2,69 0,05
0,76 4,21 4,17 -0,01 4,29 0,02
0,64 3,46 3,10 -0,10 3,20 -0,08
0,53 2,07 2,25 0,09 2,28 0,10
1,68 15,5 16,17 0,04 15,74 0,02
2,48 30,3 31,48 0,04 30,19 0,00
0,94 7,19 5,99 -0,17 6,09 -0,15
0,62 3,55 2,94 -0,17 3,03 -0,15

200 Hidrologia na prática


Possíveis curvas-chave65:

ࡽ ൌ ૜ǡ ૛૞૟ૢǤ ࢎ૛ ൅ ૝ǡ ૞૙૝ૢǤ ࢎ െ ૚ǡ ૙૚ૠૡ , com R² = 0,9968

ࡽ ൌ ૟ǡ ૟૞ૢ૟Ǥ ࢎ૚ǡૠ૚૙૛ , com R² = 0,9835

O ajuste da equação da curva-chave deve ser revisto de tempos em


tempos, tanto mais frequente quanto mais rápidas as alterações
morfológicas sofridas pelo leito do rio. Nas condições em que ocorre
assoreamento, a leitura de nível fica prejudicada e, dessa forma,
também a relação matemática anteriormente estabelecida. E aí novas
expedições de campo são requeridas para obtenção dos pares (nível;
vazão) e posterior calibração de uma nova curva-chave.

65
R² é o coeficiente de determinação.
Anísio de Sousa Meneses Filho 201
Aplicação 34
Tema: Análise binomial do risco hidrológico

Estime o risco hidrológico de, no período de 100 anos, ocorrer a cheia de tempo de
retorno 100 anos.

Desenvolvimento

Ainda que paradoxal possa parecer, não é de 100% a probabilidade que


se estima nesse caso. Ou seja, podemos passar um século (ou até mais)
sem que aconteça a cheia de 100 anos. Para isso, basta perceber o
significado de risco hidrológico66 e o seu caráter probabilístico.

૚ ࢔
ࡾ ൌ ૚ െ ൬૚ െ ൰
ࢀࡾ
Pode ocorrer, sim, a vazão de TR 100 anos, a cada ano, com uma chance
de 1%.

A probabilidade apurada pela expressão acima é a soma das


probabilidades de ocorrer uma vez, ou ocorrerem duas vezes, três vezes
... , até n vezes em n anos.

Consideremos um exemplo de poucos anos, para simplificar o


entendimento. Sejam n = 3 e TR = 10 anos:

66
Conceitualmente, sobretudo na análise de viabilidade de projetos, o risco pode ser considerado como o produto da
probabilidade de ocorrência de um evento pelo impacto econômico por ele gerado. Dessa forma, pode-se atribuir uma
dimensão monetária (e econômica) a essa grandeza.
Em Hidrologia, porém, costuma-se tratar risco como semanticamente correspondente à probabilidade, ou seja, o risco
hidrológico caracteriza-se como uma grandeza adimensional que pode assume valor no intervalo de 0 a 1.
202 Hidrologia na prática
Cenários possíveis:

ano 1 ano 2 ano 3


cenário 1 S S S
cenário 2 S S N
cenário 3 S N N
cenário 4 S N S
cenário 5 N N N
cenário 6 N N S
cenário 7 N S S
cenário 8 N S N
S denota a ocorrência naquele ano; N denota a não ocorrência naquele ano.

A quantidade de cenários possíveis, na abordagem binomial, é obtida


pela expressão ૛࢔ . Neste caso particular, oito cenários.
࢔ ࢔ ࢔
ቀ ቁ ൅ ቀ ቁ ൅ ‫ ڮ‬൅ ቀ ቁ ൌ ૛࢔
૚ ૛ ૜
૜ ૜ ૜
ቀ ቁ ൅ ቀ ቁ ൅ ቀ ቁ ൌ ૛૜
૚ ૛ ૜
probabilidade
cenário 1 1/10 x 1/10 x 1/10 = 1/1000
cenário 2 1/10 x 1/10 x 9/10 = 9/1000
cenário 3 1/10 x 9/10 x 9/10 = 81/1000
cenário 4 1/10 x 9/10 x 1/10 = 9/1000
cenário 5 9/10 x 9/10 x 9/10 = 273/1000
cenário 6 9/10 x 9/10 x 1/10 = 81/1000
cenário 7 9/10 x 1/10 x 1/10 = 9/1000
cenário 8 9/10 x 1/10 x 9/10 = 81/1000

A soma das probabilidades dos oitos cenários possíveis é igual a 1,0 (ou
100%), já que não há outro cenário além dos que foram aqui
relacionados. Se subtrairmos daí a probabilidade referente ao cenário
4, no qual o evento não acontece em nenhum dos três anos, o resultado
é o mesmo que se obtém pela expressão do risco hidrológico. Assim:

૚ ૜
ࡾ ൌ ૚ െ ൬૚ െ ൰ ൌ ૙ǡ ૛ૠ૚
૚૙
Portanto, R significa a probabilidade de o evento de TR anos ocorrer
pelo menos uma vez em três anos consecutivos. Neste caso, 27,1%.
Anísio de Sousa Meneses Filho 203
Se o interesse for saber a probabilidade de, em n anos, ocorrerem
exatamente ࢓ anos com o evento de recorrência TR, o cálculo é outro.
Para isso, fazemos:

ࡼሺࢄ ൌ ࢓ሻ ൌ ቀ ቁ Ǥ ࡼ࢓ Ǥ ሺ૚ െ ࡼሻ࢔ି࢓

࢔ ૚ ࢓ ૚ ࢔ି࢓
ൌ ቀ ቁ Ǥ ൬ ൰ Ǥ ൬૚ െ ൰
࢓ ࢀࡾ ࢀࡾ

No exemplo acima, a probabilidade de a chuva de 10 anos ocorrer em


2 anos ao longo de uma sequência de 3 anos é 2,7%. Ou seja:

૜ ૚ ૛ ૚ ૜ି૛
ࡼሺࢄ ൌ ૛ሻ ൌ ቀ ቁ Ǥ ൬ ൰ Ǥ ൬૚ െ ൰
૛ ૚૙ ૚૙

Note-se que esse valor corresponde à soma das probabilidades nos


cenários 2, 4 e 7, descritos anteriormente. Ou seja:
ૢ ૢ ૢ
ࡼሺࢄ ൌ ૛ሻ ൌ ൅ ൅
૚૙૙૙ ૚૙૙૙ ૚૙૙૙

Isto posto, vamos ao enunciado desta Aplicação. Por enquanto, já


sabemos que não é garantido que no século determinado ocorra a cheia
de recorrência 100 anos. Nada obsta, também, mais de uma tal
ocorrência dentro do mesmo século. Operamos aqui no campo das
probabilidades.

A propósito, para conhecermos o risco hidrológico da cheia de TR 100


em 100 anos, substituímos os valores fornecidos:

૚ ૚૙૙
ࡾ ൌ ૚ െ ൬૚ െ ൰ ൌ ૟૜ǡ ૝Ψ
૚૙૙
O diagrama seguinte sintetiza essas variáveis e simplifica a obtenção
do risco hidrológico (R). Note-se que, para um mesmo tempo de retorno
(TR), o risco hidrológico aumenta com o número de anos da vida útil (n)
de projeto. Para uma mesma extensão de vida útil, o risco hidrológico
decresce com o aumento do tempo de retorno do evento.

204 Hidrologia na prática


Para a estimativa do tempo de retorno (TR) em função do risco (R) e
do número de anos da vida útil de projeto, temos:

ࢀࡾ ൌ
૚ െ ሺ૚ െ ࡾሻ૚Ȁ࢔

O que equivale a:

ࢀࡾ ൌ
‫ܖܔ‬ሺ૚ െ ࡾሻ
૚ െ ࢋ࢞࢖ ൤ ൨

Alternativamente, se quisermos saber a probabilidade de m anos com


ocorrência de evento hidrológico de período de retorno TR ao longo de
um período de análise de n anos, podemos aplicar a lei de Poisson.

Anísio de Sousa Meneses Filho 205


Assim:
࢔ ࢓
ቀࢀࡾቁ ି࢔
ቀ ቁ
ࡼ࢓ ൌ Ǥ ࢋ ࢀࡾ
࢓Ǩ

Dessa forma, por exemplo, a probabilidade de se ter a cheia milenar


pelo menos uma vez ao longo de um século é:

ࡼ ൌ ૚ െ ࡼ࢕

૚૙૙ ૙ ష૚૙૙
ቀ ቁ ቀ ቁ
ࡼ࢕ ൌ ૚૙૙૙
Ǥࢋ ૚૙૙૙ ൌ ࢋି૙ǡ૚ ൌ ૙ǡ ૢ૙૞ (probabilidade de não ocorrer uma vez
૙Ǩ
sequer)

ࡼ ൌ ૚ െ ૙ǡ ૢ૙૞ ൎ ૢǡ ૞Ψ (probabilidade de ocorrer pelo menos uma vez)

Convém frisar a necessidade de o gestor sempre atuar com senso


judicioso na tomada de decisão, sobretudo naqueles cenários em que a
baixa probabilidade tende a proporcionar a sensação de risco
desprezível, a desmerecer qualquer cautela. Na verdade, não é bem
assim!

‘É impossível que o improvável nunca aconteça’


Gumbel (1891-1966)

206 Hidrologia na prática


Aplicação 35
Tema: Análise de séries temporais de precipitação total anual

A série de precipitações anuais do posto de Teresina (código 542012) apresenta 40 anos


civis completos de chuva diária, no período de 2008 a 1964.
Assumindo que essa série obedece à distribuição de probabilidade de Gauss (distribuição
Normal), estime:

a) A probabilidade de precipitação anual acima de 1200 mm;


b) A probabilidade de precipitação anual entre 800 mm e 1200 mm;
c) A probabilidade de precipitação anual acima de 2300 mm.

Desenvolvimento

A função densidade de probabilidade (ࢌ) da distribuição Normal assim


se apresenta:

૚ ିሺ࢞ିࣆሻ૛
ࢌሺ࢞ሻ ൌ Ǥࢋ ૛Ǥ࣌૛
ξ૛Ǥ ࣊Ǥ ࣌
x : variável aleatória em análise
P : média amostral
V : desvio padrão amostral

Os parâmetros da distribuição Normal são a média e o desvio padrão67,


obtidos pelas expressões seguintes:

67
Pelo método dos momentos ou pelo método de máxima verossimilhança, os valores dos parâmetros P e V são iguais,
respectivamente, à média e ao desvio padrão da amostra. (Campos, 2009)
Anísio de Sousa Meneses Filho 207
σ࢔
࢏స૚ ࢞࢏ σ࢔
࢏స૚ሺ࢞࢏ ିࣆሻ

ࣆൌ ࣌ൌට
࢔ ࢔ି૚

A principal característica da função Normal é a simetria na distribuição


de frequência. Assim, as medidas de tendência central (média, mediana
e moda) coincidem.

Tipicamente, são empregadas tabelas para a exploração de variáveis


aleatórias que seguem essa função de probabilidade. Essas tabelas
podem ser confeccionadas considerando a probabilidade de a variável
assumir até certo valor; ou de a variável assumir acima de um certo
valor. Desde que manejadas habilmente, o processo leva ao mesmo
resultado. A figura seguinte esclarece.

Evidentemente:

ࡼሺࢄ ൑ ࢞ሻ ൌ ૚ െ ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ

As tabelas disponibilizadas se referem à Normal padronizada, com


média 0,0 e desvio padrão 1,0. Nesse caso, a seguinte relação se
estabelece.
ሺ࢞ െ ࣆሻ
ࢠൌ

No final deste tópico, podemos acessar o conteúdo de uma dessas
tabelas. Dispondo do valor de ࢠ, encontramos a probabilidade. Dispondo
da probabilidade, encontramos o valor de ࢠ. E assim contemplamos (e
resolvemos) os dois tipos de problemas que podem surgir.

Antes de tudo, porém, devemos estar convencidos da adequação do


modelo.

Um procedimento simples para uma rápida verificação da aderência da


série de dados à função densidade de probabilidade Normal consiste em
comparar a distribuição de frequência com algumas probabilidades
típicas, em intervalos simétricos da variável em torno da média, como
mostra a figura seguinte. Por exemplo, no intervalo de um desvio
208 Hidrologia na prática
padrão à esquerda e à direita da média, deve estar acomodada cerca
de 68% da amostra; no intervalo de dois desvios padrão à esquerda e
à direita da média, deve estar acomodada cerca de 95% da amostra.

Visto isso, já vamos à nossa Aplicação!

Considerando o posto 542012 (Teresina – CHESF)68, com 40 anos de


registros completos entre 2008 e 1964, temos a seguinte série de
precipitação total anual.

Chuva total Chuva total Chuva total Chuva total


ano ano ano ano
(mm) (mm) (mm) (mm)
2008 1770,9 1998 975,9 1987 1462,3 1974 1386,1
2007 1413,5 1997 1165,0 1985 2561,7 1972 1193,1
2006 1487,2 1996 1309,3 1984 1499,3 1971 1385,3
2005 1353,8 1995 1922,3 1983 1051,2 1970 1199,3
2004 1553,0 1994 1616,1 1982 915,0 1969 1105,8
2003 1265,4 1993 1010,4 1981 907,1 1968 1671,9
2002 1109,1 1992 845,6 1980 1188,5 1967 1881,6
2001 1457,5 1991 1262,4 1979 1401,9 1966 1271,9
2000 1567,3 1989 1875,2 1978 1168,8 1965 1368,1
1999 1286,3 1988 1694,2 1976 706,0 1964 1377,3

68
Obtido no sistema Hidroweb (da ANA). A pesquisa pode ser feita pelo nome ou pelo código do posto.
Anísio de Sousa Meneses Filho 209
Essa série apresenta um valor médio de 1.366,1 mm/ano e um desvio
padrão (amostral) de 345,7 mm/ano.

O diagrama box & whisker apresentado na figura seguinte nos oferece


uma boa síntese da série, exibindo a média, a mediana e os quartis da
distribuição dos valores.

Neste exemplo, o diagrama está identificando um outlier (de 2.561,7


mm, no ano de 1985). Convém, então, excluir esse dado para o
prosseguimento da análise estatística. Com o expurgo, a série passa a
ter 39 elementos (valores de precipitação total anual).

A abordagem até agora fez referência ao ano civil, integralizando a


precipitação ocorrida em Teresina a cada período de janeiro a
dezembro. No entanto, o conceito mais adequado para o nosso
propósito é o de ano hidrológico.

Na figura seguinte, temos os 40 anos civis completos de dados de chuva


diária, no posto 542012 (Teresina – CHESF), verificados no período de
2008 a 1964. Podemos perceber, nesse gráfico69, agrupamentos com
extensão média de 12 meses (com pequenas variações), porém esses
conjuntos de meses não coincidem com a sequência de janeiro a
dezembro, como se caracteriza o ano civil. Essa análise é importante
para que uma mesma quadra chuvosa (seguidos meses de
pluviosidade) não fique repartida entre dois elementos da série de
precipitações anuais. Assim, podemos compreender que o ano

69
As elevações em 5 barras anômalas que estão retratadas no gráfico indicam a descontinuidade na sequência de anos
completos (por falha de registro).
210 Hidrologia na prática
hidrológico de Teresina ficaria mais bem caracterizado de agosto de um
ano a julho do ano seguinte. Por esse critério, vamos compor uma nova
série anual.

Assim, passamos a ter a seguinte série de precipitação total anual nesse


mesmo período de análise (contemplando 34 anos hidrológicos
completos), com média e desvio padrão de valores, respectivamente,
1.361,9 mm/ano e 326,8 mm/ano.

Chuva total Chuva total Chuva total Chuva total


ano ano ano ano
(mm) (mm) (mm) (mm)
2007 1700,5 1997 909,0 1983 1407,9 1967 1596,7
2006 1495,3 1996 1079,6 1982 996,8 1966 1772,3
2005 1446,7 1995 1439,9 1981 926,6 1965 1222,6
2004 1326,1 1994 1813,8 1980 967,6 1964 1410,0
2003 1574,9 1993 1780,5 1979 1363,3
2002 1282,3 1992 708,1 1978 1400,2
2001 1078,9 1991 845,0 1971 1206,9
2000 1501,3 1988 1582,5 1970 1244,8
1999 1567,9 1987 1454,7 1969 1262,2
1998 1373,9 1984 2348,2 1968 1220,5

A tabulação desses dados e a distribuição de frequência apontam uma


razoável simetria da distribuição, constituindo um indicativo de ajuste
ao modelo gaussiano (Normal) de distribuição de probabilidade.

O novo diagrama box & whisker é o que segue.

Anísio de Sousa Meneses Filho 211


A série de 33 anos hidrológicos completos (e sem o outlier) de registros
de chuvas diárias apresenta média 1.332,1 mm/ano, mediana 1.373,9
mm/ano e desvio padrão70 280,8 mm/ano. A pequena diferença entre
a média e a mediana constitui um primeiro indício do caráter simétrico
da distribuição.

Assumindo, como hipótese, que a distribuição Normal de probabilidade


seja adequada para o ajuste, podemos estimar a probabilidade de

70
Note-se a significativa redução do desvio padrão após o expurgo do outlier.
212 Hidrologia na prática
precipitação total, num ano qualquer, para a faixa de valores de
interesse.

Assim, a precipitação de 1200 mm/ano, abaixo do valor médio


encontrado, é superado em mais de 50% dos anos.

Calculemos z (variável padrão reduzida):


૚૛૙૙ െ ૚૜૜૛ǡ ૚
ࢠൌ ൌ െ૙ǡ ૝ૠ૙૝
૛ૡ૙ǡ ૡ

A tabela da distribuição Normal disponível na página seguinte nos


fornece a probabilidade para o valor menor ou igual a ࢠ. Sendo a
distribuição simétrica, devemos calcular a probabilidade para ࢠ igual a
0,47 , o que resulta 0,681 (ou 68,1%).

ࡼሺࢄ ൒ ૚૛૙૙ሻ ൌ ࡼሺࢆ ൒ െ૙ǡ ૝ૠ૙૝ሻ ൌ ࡼሺࢆ ൑ ૙ǡ ૝ૠ૙૝ሻ ൌ ૙ǡ ૟ૡ૚

Note-se que, em razão da simetria da distribuição Normal, a


probabilidade de ࢆ ൒ ࢠ equivale à probabilidade de ࢆ ൑ െࢠ.

Seja, agora, estimar a probabilidade de precipitação total anual no


intervalo de 800 mm a 1200 mm.

Nesse caso, calculamos a probabilidade de precipitação anual maior ou


igual a 800 mm e a probabilidade de precipitação anual maior ou igual
a 1200 mm – tudo isso utilizando a mesma tabela da distribuição
Normal (com a variável padrão reduzida). A diferença corresponde à
probabilidade que estamos buscando.

Anísio de Sousa Meneses Filho 213


Assim:
Para 800 mm:
ૡ૙૙ െ ૚૜૜૛ǡ ૚
ࢠൌ ൌ െ૚ǡ ૡૢ૝ૢ
૛ૡ૙ǡ ૡ
ࡼሺࢄ ൒ ૡ૙૙ሻ ൌ ࡼሺࢆ ൒ െ૚ǡ ૡૢ૞ሻ ൌ ࡼሺ൑ ૚ǡ ૡૢ૞ሻ ൌ ૙ǡ ૢૠ૚
Para 1.200 mm:
૚૛૙૙ െ ૚૜૜૛ǡ ૚
ࢠൌ ൌ െ૙ǡ ૝ૠ૙૝
૛ૡ૙ǡ ૡ
ࡼሺࢄ ൒ ૚૛૙૙ሻ ൌ ࡼሺࢆ ൒ െ૙ǡ ૝ૠ૙૝ሻ ൌ ࡼሺࢆ ൑ ૙ǡ ૝ૠ૙૝ሻ ൌ ૙ǡ ૟ૡ૚

Portanto: ࡼሺૡ૙૙ ൑ ࢄ ൑ ૚૛૙૙ሻ ൌ ૙ǡ ૢૠ૚ െ ૙ǡ ૟ૡ૚ ൌ ૙ǡ ૛ૢ

Espera-se que em 29% dos anos a precipitação total anual esteja entre
800 mm e 1200 mm.
A probabilidade de precipitação total anual superior a 2300 mm se
estima em:
૛૜૙૙ െ ૚૜૜૛ǡ ૚
ࢠൌ ൌ ૜ǡ ૝૝ૠ
૛ૡ૙ǡ ૡ
ࡼሺࢄ ൒ ૛૜૙૙ሻ ൌ ࡼሺࢆ ൒ ૜ǡ ૝૝ૠሻ ൌ ૚ െ ࡼሺࢆ ൑ ૜ǡ ૝૝ૠሻ ൌ ૚ െ ૙ǡ ૢૢૢૠ ൌ ૙ǡ ૙૙૙૜

Há, de fato, uma chance muitíssimo reduzida de ocorrer ano com


tamanha pluviosidade (da ordem de 0,03%). Isso reforça a
conveniência do expurgo do outlier detectado71 (de valor 2348,2 mm).

A primeira tabela da distribuição Normal padronizada, que


apresentamos a seguir, permite atribuir a ࢠ até duas casas decimais,
com incrementos de 0,01, desde 0,00 até 3,49. O valor no cerne dessa
tabela corresponde à área cinza (à direita de ࢠ), no gráfico da função
densidade de probabilidade que a acompanha.

71
Nesta aplicação, a propósito, trabalhamos com dados brutos (não consistidos). Fizemos assim para que pudéssemos
apontar o outlier (possivelmente, um erro grosseiro) e a sua repercussão na análise. O procedimento mais acurado
compreenderia a análise de consistência dos dados antes da aplicação da modelagem probabilística.
214 Hidrologia na prática
Anísio de Sousa Meneses Filho 215
Alternativamente, em publicações diversas, encontramos também
tabela da distribuição Normal com a probabilidade de superação de ࢠ (à
direita). Note-se que a soma dos valores extraídos nas duas tabelas,
para um mesmo valor de ࢠ, é sempre igual a 1,00. Assim, o usuário
pode optar por qualquer uma dessas tabelas, desde que esteja atento
ao seu teor (se está sendo fornecida, conforme o gráfico da função
densidade que a acompanha, a probabilidade à direita ou à esquerda).
Os resultados adequadamente obtidos são equivalentes.

216 Hidrologia na prática


Na tabela acima, os valores exibidos na primeira linha se referem à
segunda casa decimal, em complemento ao valor apresentado na
primeira coluna, para compor o valor de ࢠ. Então, o que extraímos da
tabela, com cinco casas decimais, é a probabilidade de superação do
valor atribuído à variável normal padronizada ࢠ, de média 0,0 e desvio
padrão 1,0.
Para a conversão de uma série de distribuição normal x (com média P e
desvio padrão V) em normal padronizada ࢠ (com média 0,0 e desvio
padrão 1,0), basta aplicar a relação acima.
No exemplo de utilização da tabela Normal, apresentado na figura
seguinte, temos para ࢠ o valor de 0,84.

Em correspondência, encontramos a probabilidade 0,20045. Isso


significa uma probabilidade de ocorrência de ࢠ maior que 0,84 de,
aproximadamente, 20%. Portanto, uma probabilidade de 80% de ࢠ
menor que 0,84.
Note-se que ambas as tabelas apresentadas associam a probabilidade
de 50% a ࢠ igual a 0,00.

Anísio de Sousa Meneses Filho 217


As variáveis naturais contempladas na hidrologia, que permeiam as
etapas do ciclo hidrológico, envolvem tantos fatores e parâmetros que
tornam impossível a compreensão integral dos processos numa lógica
encadeada entre causas e efeitos, assim como a periodicidade dos
agentes impulsionadores são de difícil detecção. Esse quadro assume
complexidade ainda maior diante das mudanças climáticas por que
passa o Planeta. A escala de manifestação dos fenômenos, no tempo e
no espaço, impõe uma criteriosa relativização para que a abordagem se
promova de forma adequada. Sob limitadas condições, as séries
históricas podem ser consideradas estacionárias. Na maioria das vezes,
porém, não o são, a rigor.
A análise estatística dos registros históricos para inferência e
prognóstico de eventos (isolados ou agrupados) e identificação de
tendência ao longo do tempo constitui uma importante ferramenta
quando as variáveis não permitem uma modelagem matemática
determinística, a exemplo da precipitação e da vazão. No entanto, o
que conseguimos reunir nesse propósito é apenas uma pequena parcela
do todo que seria a integral linha do tempo com registro contínuo das
variáveis aleatórias. Na prática, em geral, as variáveis hidrológicas são
medidas de forma descontínua e depois agregadas conforme o objetivo
do estudo. De milhares ou milhões de anos de ocorrências e
manifestações hidroclimatológicas, somente um período relativamente
curto (algumas décadas) costuma estar disponível na base de dados.
Ademais, a espacialização dos dados no âmbito da bacia acentua a
dificuldade na composição de amostra efetivamente representativa.
Os dois principais parâmetros estatísticos são a média e o desvio
padrão; o primeiro é uma medida de tendência central, o segundo se
refere à variabilidade da amostra. Uma questão recorrente para o
hidrólogo é sobre qual a extensão da série histórica que permite uma
satisfatória inferência do comportamento da variável estocástica. Zuffo
et al. (2016) esclarecem que são necessários, pelo menos, 10 anos para
a obtenção da média, e, pelo menos, 30 anos para a estimativa do
desvio padrão, numa série anual de chuvas. Quando o tamanho da série
disponível é inferior a 30 anos, um ajuste na fórmula para o cálculo do
desvio padrão pode ser adotado, reduzindo-se o denominador. Assim:

σ࢔࢏ୀ૚ሺ࢞࢏ െ ࣆሻ૛
࣌ൌඨ
࢔െ૚

218 Hidrologia na prática


Aplicação 36
Tema: Estimativa probabilística de eventos críticos (série de vazões máximas)

Com base na série de vazões médias diárias máximas anuais apresentada a seguir,
referente a 30 anos de coleta em seção do rio Paraopeba (posto fluviométrico código
40800001), estime a vazão com TR 100 anos.
Vazão máxima Vazão máxima Vazão máxima
ano ano ano
(m/s³) (m/s³) (m/s³)
1998 427 1987 601 1974 357
1997 296 1986 549 1973 449
1995 695 1985 437 1972 520
1994 633 1984 1017 1971 568
1993 603 1983 585 1970 246
1992 424 1982 698 1969 340
1991 827 1979 550 1968 478
1990 927 1978 822 1967 450
1989 481 1977 736 1966 580
1988 288 1975 276 1965 726

Desenvolvimento

Para a análise de eventos extremos de valores máximos, devem ser


aplicados modelos probabilísticos de distribuição assimétrica. Portanto,
não convém cogitar o ajuste da série de vazões à distribuição Normal
(de Gauss), pois este modelo se caracteriza por simetria na distribuição
de frequência (ou seja, em que a média, a mediana e a moda assumem
o mesmo valor). Melhor seria, então, promover o ajuste assumindo um
dos seguintes modelos (os mais usuais):
x Log-Normal
x Gumbel
x Log-Pearson III

Anísio de Sousa Meneses Filho 219


A figura seguinte permite uma comparação gráfica de frequência para
distribuições simétrica e assimétrica.

Distribuição Log-Normal

Essa distribuição é aplicável quando os logaritmos dos valores da


variável (por exemplo, vazão máxima) seguem a distribuição normal.
Diferentemente da distribuição gaussiana, a distribuição log-normal
apresenta uma função densidade de probabilidade assimétrica, o que a
torna tendente a expressar bem o comportamento de variável de
valores extremos.

Nesse caso,
തതതതതതതതതത ൅ ࡷǤ ࢙࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ
࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ ൌ ࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ

Sendo
തതതതതതതതതത e ࢙࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ
log(x) o logaritmo da variável (no caso, vazão máxima);࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ
, respectivamente, a média e o desvio padrão dos logaritmos da variável
(vazões máximas observadas); K fator tabelado em função do tempo
de retorno (ou inverso da probabilidade).

220 Hidrologia na prática


O roteiro de aplicação se assemelha, na sequência, àquele referente à
distribuição Normal, ressalvada, porém, a necessidade de se aplicar o
operador logaritmo aos valores integrantes da série histórica. Os
estimadores (média e desvio padrão) são atinentes à série de
logaritmos. Ao final do processo, basta aplicar a operação inversa do
logaritmo, ou seja, a exponenciação na mesma base (por exemplo, 10).

Só lembrando!

Se ࢒࢕ࢍ࢈ ࢇ ൌ ࢉ , então ࢈ࢉ ൌ ࢇ

A tabela seguinte exibe os valores do logaritmo (de base 10) das vazões
que compõem a série desta nossa Aplicação.
Log (Vazão Log (Vazão Log (Vazão
ano ano ano
máxima) máxima) máxima)
1998 2,630 1987 2,779 1974 2,553
1997 2,471 1986 2,740 1973 2,652
1995 2,842 1985 2,640 1972 2,716
1994 2,801 1984 3,007 1971 2,754
1993 2,780 1983 2,767 1970 2,391
1992 2,627 1982 2,844 1969 2,531
1991 2,918 1979 2,740 1968 2,679
1990 2,967 1978 2,915 1967 2,653
1989 2,682 1977 2,867 1966 2,763
1988 2,459 1975 2,441 1965 2,861

A série de logaritmos apresenta as estatísticas:


x média: 2,716
x desvio padrão (amostral): 0,158
x coeficiente de assimetria: -0,284

O valor de K (equivalente a z na distribuição Normal) pode ser obtido


em tabela ou usando função INV.NORMP na planilha eletrônica Excel ®.
Note-se que a vazão com TR 100 anos apresenta uma probabilidade de
excedência de 1% (portanto, 99% de probabilidade de não
atingimento). Assim:

ൌ ǤǤሺͲǡͻͻሻൌʹǡ͵ʹ͸
തതതതതതതതതത
࢒࢕ࢍሺ࢞ሻି࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ ࢒࢕ࢍሺ࢞ሻି૛ǡૠ૚૟
ࡷൌ ૛ǡ ૜૛૟ ൌ ࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ ൌ ૜ǡ ૙ૡ૝
࢙࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ ૙ǡ૚૞ૡ

Anísio de Sousa Meneses Filho 221


Então, o valor de vazão média diária máxima anual com TR 100 será:

ࡽ ൌ ૚૙૜ǡ૙ૡ૝ ൌ ૚Ǥ ૛૚૜ǡ ૛࢓૜ Ȁ࢙

Distribuição de Gumbel

De acordo com essa distribuição, a probabilidade (P) de um


determinado valor vir a ser igualado ou superado se expressa por:
ష࢈
ࡼ ൌ ૚ െ ࢋିࢋ

࢈ൌ Ǥ ሺ࢞ െ ࢞
ഥ ൅ ૙ǡ ૝૞Ǥ ࢙ሻ
૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢙

O valor x da variável aleatória de recorrência TR é estimado pela


equação seguinte.
ࢀࡾ
ഥ െ ࢙Ǥ ൜૙ǡ ૝૞ ൅ ૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢒࢔ ൤࢒࢔ ൬
࢞ൌ࢞ ൰൨ൠ
ࢀࡾ െ ૚
Sendo ࢞ഥ a média dos valores (série de extremos); s o desvio padrão
desses valores.

A série de vazões máximas apresenta as estatísticas:


x Média: 552,9 m³/s
x Desvio padrão (amostral): 193,9 m³/s
x Coeficiente de assimetria: 0,501

A vazão de TR 100 anos é assim estimada pela distribuição de


probabilidade de Gumbel:
૚૙૙
ࡽ ൌ ૞૞૛ǡ ૢ െ ૚ૢ૜ǡ ૢǤ ൜૙ǡ ૝૞ ൅ ૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢒࢔ ൤࢒࢔ ൬ ൰൨ൠ
૚૙૙ െ ૚
ࡽ ൌ ૚Ǥ ૚૟૚ǡ ૛࢓૜ Ȁ࢙

Distribuição Log-Pearson III

Na modelagem Log-Pearson III, utilizando as mesmas estatísticas


calculadas para o modelo Log-Normal mais o coeficiente de assimetria.
തതതതതതതതത ൅ ࡷሺࢀࡾǡࡳሻ Ǥ ࢙‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ
‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ ൌ ‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ

222 Hidrologia na prática


ࡳ ૚ ૜ ࡳ ૛
ࡷሺࢀࡾǡࡳሻ ൌ ࢠ ൅ ሺࢠ૛ െ ૚ሻǤ ൅ Ǥ ሺࢠ െ ૟Ǥ ࢠሻ ൬ ൰
૟ ૜ ૟
૜ ૝ ૞
ࡳ ࡳ ૚ ࡳ
െ ሺࢠ૛ െ ૚ሻǤ ൬ ൰ ൅ ࢠǤ ൬ ൰ ൅ Ǥ ൬ ൰
૟ ૟ ૜ ૟

Considerando os elementos da nossa série de vazões máximas:

ࢠ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡺࡻࡾࡹࡼǤ ࡺሺ૙ǡ ૢૢሻ ൌ ૛ǡ ૜૛૟

ࡷሺࢀࡾǡࡳሻ ൌ ૛ǡ ૟ૡૢ

‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ ൌ ૛ǡ ૠ૚૟ ൅ ૛ǡ ૟ૡૢǤ ૙ǡ ૚૞ૡ

ࡽ ൌ ૚૙૜ǡ૚૝૚ ൌ ૚Ǥ ૜ૡ૜ǡ ૚࢓૜ Ȁ࢙

Com a aplicação de três diferentes modelos probabilísticos são obtidas


três diferentes estimativas para a vazão máxima de 100 anos. Neste
exemplo, a vazão estimada no modelo Log-Pearson III é 19,1% maior
do que o valor estimado no modelo Gumbel.

Vazão média diária máxima anual - TR 100 anos


1400

1350

1300
vazão (m³/s)

1250

1200

1150

1100

1050
Log-Normal Gumbel Log-Pearson III

Por outro lado, empregando uma expressão empírica (a de Gringorten,


por exemplo), podemos estimar o tempo de retorno de cada uma das
vazões da série. Para isso, ordenamos os elementos da série
decrescentemente. Assim, temos:
࢔ା૙ǡ૚૛
ࢀࡾ ൌ (expressão de Gringorten)
࢏ି૙ǡ૝૝

Anísio de Sousa Meneses Filho 223


Vazão Vazão Vazão
TR TR TR
ordem máxima ordem máxima ordem máxima
(anos) (anos) (anos)
(m/s³) (m/s³) (m/s³)
1 1017 53,79 21 601 2,85 31 449 1,46
2 927 19,31 22 585 2,61 32 437 1,40
3 827 11,77 23 580 2,40 33 427 1,34
4 822 8,46 24 568 2,22 34 424 1,28
5 736 6,61 25 550 2,07 35 357 1,23
6 726 5,42 26 549 1,94 36 340 1,18
7 698 4,59 27 520 1,82 37 296 1,13
8 695 3,98 28 481 1,72 38 288 1,09
9 633 3,52 29 478 1,62 29 276 1,05
10 603 3,15 30 450 1,54 30 246 1,02

A maior vazão da série (de 1017 m³/s) se refere, pela estimativa


empírica de Gringorten, a uma recorrência de 53,79 anos; já pela
estimativa empírica de Hazen, a recorrência é de 31 anos. Ou seja, o
tempo de retorno muda conforme a formulação empírica empregada.
Por esse critério, também bastaria que a série fosse mais longa (e ainda
que a vazão maior das máximas se mantivesse) para a estimativa da
recorrência ser outra. Com base nas distribuições teóricas empregadas
nesta Aplicação, essa mesma vazão corresponde a um período de
retorno de 30,37 anos, no modelo log-Normal; a 38,86 anos, no modelo
de Gumbel; e a 22,4 anos, no modelo log-Pearson III.

O uso de modelos teóricos viabiliza a extrapolação de TR, permitindo


inclusive a geração de séries sintéticas com grande número de
elementos, com a preservação dos parâmetros da série amostral. Isso
se torna de interesse, por exemplo, na operação simulada de
reservatório.

Mais adiante, na Aplicação 38, veremos como avaliar a qualidade desses


ajustes, buscando um indicador de aderência para orientar a escolha do
modelo a adotar.

Na análise estatística de série históricas de vazões, é importante


verificar se, no período considerado (ou de lá para cá), ocorreu alguma
interferência antrópica. A construção de uma barragem, por exemplo,
altera o comportamento das vazões e impede um tratamento dos dados
como série homogênea no ajuste de uma função probabilística.

224 Hidrologia na prática


Aplicação 37
Tema: Estimativa probabilística de eventos críticos (série de vazões mínimas)

Com base na série de vazões mínimas de 7 dias apresentada a seguir, referente a 30 anos
completos de coleta (1964 a 1996) no rio das Velhas (posto Fazenda Água Limpa, código
41151000), estime a vazão Q7,10 .

Vazão mínima de Vazão mínima de Vazão mínima de


ano ano ano
7 dias (m/s³) 7 dias (m/s³) 7 dias (m/s³)
1996 1,430 1986 1,790 1976 1,083
1995 1,290 1985 2,240 1975 1,386
1994 1,470 1984 1,670 1974 1,520
1993 1,721 1983 2,110 1973 1,760
1992 1,764 1982 2,200 1971 1,270
1991 1,801 1981 1,764 1970 1,441
1990 1,294 1980 2,010 1969 1,163
1989 1,380 1979 2,010 1966 1,510
1988 1,877 1978 1,349 1965 1,249
1985 1,496 1977 1,390 1964 1,015

Desenvolvimento

Para a análise de eventos extremos de valores mínimos, também se


orienta a adoção de um modelo de distribuição assimétrica. A priori,
portanto, a distribuição Normal (por ser simétrica) não se aplica. No
entanto, ainda que se cogitem os mesmos modelos já mencionados
para os eventos críticos máximos (como lognormal, Gumbel e log
Pearson III, explorados na Aplicação 36), a indicação de distribuição de
probabilidade mais apropriada para esse propósito recai sobre o modelo
de Weibull.
Por se tratar de valores extremos mínimos, em que a severidade dos
impactos está associada à duração do evento crítico, trabalhamos aqui
com a média móvel de uma sequência de dias para extrair a menor
delas em cada um dos anos da série.

Anísio de Sousa Meneses Filho 225


A prática corrente tem sido utilizar a extensão de 7 dias para a apuração
dessa média móvel. Funciona assim: o primeiro valor da série histórica
é a média dos dias 1 a 7; a segundo valor da série é a média de 2 a 8;
e assim por diante. Reformatados os valores da série original,
extraímos, para cada um dos anos, o menor dentre todas as médias
móveis. E assim, contemplados todos os anos, temos a série de
mínimos anuais.
Na presente Aplicação, trabalhamos com a variável vazão mínima. Os
valores exibidos no enunciado se referem às vazões mínimas anuais de
7 dias de duração.
A vazão Q7,10 significa aquela mínima média móvel com 7 dias de
duração e período de retorno de 10 anos. Nesse caso, portanto,
devemos dispor os valores da série em ordem crescente, ao contrário
do que fazemos na série de máximos anuais. Assim, já ordenados, os
elementos da série se dispõem como na tabela seguinte.

vazão vazão vazão


ordem ordem ordem
(m³/s) (m³/s) (m³/s)
1 1,015 11 1,390 21 1,764
2 1,083 12 1,430 22 1,764
3 1,163 13 1,441 23 1,790
4 1,249 14 1,470 24 1,801
5 1,270 15 1,496 25 1,877
6 1,290 16 1,510 26 2,010
7 1,294 17 1,520 27 2,010
8 1,349 18 1,670 28 2,110
9 1,380 19 1,721 29 2,200
10 1,386 20 1,760 30 2,240

Esta série apresenta média (࢞


ഥ) 1,582 m³/s e desvio padrão amostral
(s) 0,328 m³/s.

O modelo de Weibull se caracteriza por apresentar uma cauda limitada


inferiormente, o que o torna compatível com a estatística de eventos
hidrológicos mínimos, naturalmente condicionados a assumirem valores
não negativos – as vazões possíveis são sempre maiores ou iguais a
zero.

226 Hidrologia na prática


Com base na distribuição de Weibull, a seguinte equação72 é utilizada
para a estimativa de eventos mínimos (vazões mínimas, por exemplo)
de tempo de retorno TR:

࢞ൌഥ
࢞ ൅ ࡷǤ ࢙

sendo K o fator de frequência e s o desvio padrão da série histórica.



૚ ࣅ
ࡷ ൌ ࡭ሺࣅሻ ൅ ࡮ሺࣅሻǤ ቐ൤െ࢒࢔ ൬૚ െ ൰൨ െ ૚ቑ
ࢀࡾ


࡭ሺࣅሻ ൌ ൤૚ െ ડ ൬૚ ൅ ൰൨ Ǥ ࡮ሺࣅሻ

ି૚
૛ ૚ ૛
࡮ሺࣅሻ ൌ  ൤ડ ൬૚ ൅ ൰ െ ડ ૛ ൬૚ ൅ ൰൨
ࣅ ࣅ
ࣅ ൌ ࡴ૙ ൅ ࡴ૚ Ǥ ࡳ ൅ ࡴ૛ Ǥ ࡳ૛ ൅ ࡴ૜ Ǥ ࡳ૜ ൅ ࡴ૝ Ǥ ࡳ૝ , para െ૚ǡ ૙ ൑ ࡳ ൑ ૛ǡ ૙

Ͳൌ Ͳǡʹ͹͹͹͹ͷ͹ͻͳ͵
ͳൌ Ͳǡ͵ͳ͵ʹ͸ͳ͹͹ͳͶ
ʹൌ ͲǡͲͷ͹ͷ͸͹ͲͻͳͲ
͵ൌ ǦͲǡͲͲͳ͵Ͳ͵ͺͷ͸͸
Ͷൌ ǦͲǡͲͲͺͳͷʹ͵ͶͲͺ
sendo G o coeficiente de assimetria da série (com n elementos, média
ഥ e desvio padrão s); ડሺǤ ሻ a função gama.

σ࢔࢏ୀ૚ሺ࢞࢏ െ ࢞
ഥ ሻ૜
ࡳൌ
࢔Ǥ ࢙૜
A expressão da função gama (ડ) demanda cálculo integral que pode ser
suprido pelo uso de planilha eletrônica (usando, por exemplo, a função
LNGAMA(x) na planilha Excel®, que retorna o logaritmo natural).

Tipicamente, as vazões máximas de interesse numa série histórica são


de curto intervalo de tempo (vazões diárias ou instantâneas). Por outro
lado, as vazões mínimas são estimadas levando-se em conta uma
duração maior (por exemplo, 7 dias). Isso porque, no caso das vazões

72
Note-se que, nesse caso, o sinal no segundo membro é aditivo, haja vista que estamos trabalhos de eventos extremos
mínimos. Diferentemente das expressões referentes às distribuições log-Normal ou log-Pearson III, quando se aplicam a
eventos extremos máximos, que recebem sinal de subtração.
Anísio de Sousa Meneses Filho 227
máximas, a sua ocorrência, independentemente da duração, já
ocasiona efeito na estrutura com base nela dimensionada. A escassez
hídrica, por sua vez, acarreta danos tanto em razão da sua severidade
quanto pela extensão temporal. Baixas vazões durante 7 dias produzem
efeitos bem distintos daqueles associados à mínima diária.

Nesta Aplicação, com a determinação dos parâmetros para a série


apresentada, temos:
ࡳ ൌ ૙ǡ ૜૟ૠૡ ࣅ ൌ ૛ǡ ૝ૢ૟૝
࡮ሺࣅሻ ൌ ૛ǡ ૟૜૙૟ ࡭ሺࣅሻ ൌ ૙ǡ ૛ૢ૟૟
ࡷ ൌ െ૚ǡ ૛૟૟૙ , para TR 10 anos

Portanto, a variável x (vazão mínima de 7 dias) assume, para uma


recorrência de 10 anos:
࢞ൌഥ ࢞ ൅ ࡷǤ ࢙
࢞ ൌ ૚ǡ ૞ૡ૛ ൅ ሺെ૚ǡ ૛૛૟૙ሻǤ ૙ǡ ૜૛ૡ
࢞ ൌ ૚ǡ ૚૟૟࢓૜ Ȁ࢙

Empregando expressões empíricas (Hazen ou Weibull) para a obtenção


de TR, os valores são também relativamente próximos, entre
1,163m³/s e 1,249m³/s, conforme a tabela seguinte. Note-se que TR
10 anos corresponde à probabilidade de não superação (P(X<x)) de
10%.

vazão P(X<x), por P(X<x), por vazão P(X<x), por P(X<x),


ordem ordem
(m³/s) Weibull Hazen (m³/s) Weibull por Hazen
1 1,015 0,0323 0,0167 16 1,510 0,5161 0,5167
2 1,083 0,0645 0,0500 17 1,520 0,5484 0,5500
3 1,163 0,0968 0,0833 18 1,670 0,5806 0,5833
4 1,249 0,1290 0,1167 19 1,721 0,6129 0,6167
5 1,270 0,1613 0,1500 20 1,760 0,6452 0,6500
6 1,290 0,1935 0,1833 21 1,764 0,6774 0,6833
7 1,294 0,2258 0,2167 22 1,764 0,7097 0,7167
8 1,349 0,2581 0,2500 23 1,790 0,7419 0,7500
9 1,380 0,2903 0,2833 24 1,801 0,7742 0,7833
10 1,386 0,3226 0,3167 25 1,877 0,8065 0,8167
11 1,390 0,3548 0,3500 26 2,010 0,8387 0,8500
12 1,430 0,3871 0,3833 27 2,010 0,8710 0,8833
13 1,441 0,4194 0,4167 28 2,110 0,9032 0,9167
14 1,470 0,4516 0,4500 29 2,200 0,9355 0,9500
15 1,496 0,4839 0,4833 30 2,240 0,9677 0,9833

228 Hidrologia na prática


Aplicação 38
Tema: Análise de aderência de variáveis hidrológicas a modelos probabilísticos

Considere a série de precipitações máximas diárias anuais de Fortaleza, registradas no


período de 1919 a 1974.
Chuva Pmáx Chuva Pmáx Chuva Pmáx Chuva Pmáx
ano ano ano ano
(mm) (mm) (mm) (mm)
1919 67,0 1933 65,9 1947 98,2 1961 87,8
1920 125,5 1934 103,8 1948 110,8 1962 81,2
1921 97,5 1935 102,7 1949 227,2 1963 172,1
1922 74,5 1936 69,7 1950 78,5 1964 112,4
1923 91,2 1937 83,8 1951 67,3 1965 74,8
1924 70,0 1938 148,4 1952 118,2 1966 63,4
1925 67,0 1939 91,4 1953 59,3 1967 113,4
1926 67,7 1940 61,2 1954 68,5 1968 65,4
1927 65,3 1941 94,5 1955 66,0 1969 72,1
1928 97,8 1942 51,0 1956 69,0 1970 134,2
1929 81,8 1943 131,2 1957 120,7 1971 138,5
1930 64,4 1944 84,0 1958 55,6 1972 136,2
1931 85,2 1945 69,0 1959 106,2 1973 76,8
1932 56,0 1946 94,5 1960 115,4 1974 128,5

Verifique a aderência da série aos seguintes modelos de distribuição de probabilidade:


x Log-Normal
x Gumbel
x Log-Pearson III
x Gama

Identifique o modelo probabilístico mais apropriado para a modelagem da série.

Anísio de Sousa Meneses Filho 229


Desenvolvimento

Para a avaliação de aderência a modelo teórico, podemos comparar as


possíveis divergências entre as frequências observadas e as frequências
esperadas (pelo modelo que está sendo testado) para um certo evento
hidrológico. Assim é possível verificar se a frequência com que
determinada ocorrência observada numa amostra (na linha do tempo)
se desvia (ou não) significativamente da frequência com que ela é
esperada naquele modelo.
A distribuição Chi-quadrado (F²) serve para fundamentar um teste de
hipótese que se destina a obter o valor da dispersão para duas
variáveis.
ሺ࢕࢏ ିࢋ࢏ ሻ૛ ࢊ૛
࣑૛ ൌ σ࢔࢏ୀ૚ ቂ ቃ ࣑૛ ൌ σ࢔࢏ୀ૚ ቀ ቁ
ࢋ࢏ ࢋ

Sendo:

oi : frequência observada para cada uma das n classes i

ei : frequência esperada (pelo modelo) para aquela classe i

di : desvio (di = oi – ei )

230 Hidrologia na prática


Duas hipóteses são estabelecidas para o teste:

Hipótese nula (Ho): as frequências observadas não são diferentes das


frequências esperadas (pelo modelo), ou seja, não há diferença entre
as frequências dos grupos (observado e esperado).

Hipótese alternativa: as frequências observadas são diferentes das


frequências esperadas (pelo modelo).

O procedimento de implementação do teste de hipóteses Chi-quadrado


envolve a obtenção de duas estatísticas a serem comparadas: i) valor
calculado do F² (isto é, o ࣑૛ࢉࢇ࢒ࢉ ); ii) valor tabelado do F² (isto é, o ࣑૛࢚ࢇ࢈ ).
O ࣑૛࢚ࢇ࢈ depende do número de graus de liberdade e do nível de
significância adotado no teste (referido aqui como ࣑૛ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ).

A tomada de decisão em rejeitar ou não um modelo decorre da


comparação entre os dois valores de F². Assim:

x Se ࣑૛ࢉࢇ࢒ࢉ ൒ ࣑૛࢚ࢇ࢈ a hipótese nula (Ho) é rejeitada


x Se ࣑૛ࢉࢇ࢒ࢉ ൏ ࣑૛࢚ࢇ࢈ a hipótese nula (Ho) é aceita (ou melhor: não é rejeitada)

Rejeita-se uma hipótese quando for baixa a máxima probabilidade de


erro ao rejeitá-la. É baixa, portanto, a probabilidade de os desvios (d)
terem ocorrido por mero acaso.

A mensuração de quão baixa é essa máxima probabilidade de erro se


traduz no parâmetro nível de significância (D).

nível de confiança = 1 - D

Anísio de Sousa Meneses Filho 231


O nível de significância representa, assim, a máxima probabilidade de
erro alcançada ao se rejeitar uma hipótese verdadeira. Corresponde,
assim, ao tamanho do risco a que estamos dispostos a correr no
cometimento do erro de rejeição indevida. Quanto maior o nível de
significância, menor o nível de confiança. Noutras palavras, mais fácil
aceitar a hipótese formulada quanto maior o nível de significância.

Erros possíveis nos testes de hipóteses

Sendo Ho verdadeira
Erro do Tipo I: rejeitar Ho

Sendo Ho falsa
Erro do Tipo II: aceitar Ho

O número de graus de liberdade (ࡳࡸ), nesse caso, é calculado assim:

ࡳࡸ ൌ ࢔ െ ࢓ െ ૚

Sendo n o número de classes e m o número de parâmetros do modelo.

Quanto maior o valor de F², mais significante é a relação entre a variável


dependente (os valores observados) e a variável independente (os
valores esperados).

Seja, nesta Aplicação, verificar a qualidade do ajuste das precipitações


máximas diárias anuais. Analisemos cada uma das distribuições
sugeridas.

Distribuição Log-Normal

Uma série segue a distribuição log-Normal quando a série dos


logaritmos de seus termos segue a distribuição Normal (gaussiana).
തതതതതതതതതത ൅ ࡷǤ ࢙࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ
࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ ൌ ࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ

തതതതതതതതതത a média dos logaritmos dos valores da série hidrológica;


Sendo ࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ
࢙࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ o desvio padrão amostral dos logaritmos dos valores da série
histórica.

Considerando P a probabilidade de excedência, o valor de K na


expressão acima pode ser obtido usando a função INV.NORM.N da

232 Hidrologia na prática


planilha eletrônica Excel ®, que retorna o inverso da distribuição
cumulativa normal para a média e o desvio padrão especificados.

A tabela seguinte apresenta os valores fornecidos de precipitação


máxima com a aplicação do logaritmo de base 10.
ano log (Pmáx) ano log (Pmáx) ano log (Pmáx) ano log (Pmáx)
1919 1,826 1933 1,819 1947 1,992 1961 1,943
1920 2,099 1934 2,016 1948 2,045 1962 1,910
1921 1,989 1935 2,012 1949 2,356 1963 2,236
1922 1,872 1936 1,843 1950 1,895 1964 2,051
1923 1,960 1937 1,923 1951 1,828 1965 1,874
1924 1,845 1938 2,171 1952 2,073 1966 1,802
1925 1,826 1939 1,961 1953 1,773 1967 2,055
1926 1,831 1940 1,787 1954 1,836 1968 1,816
1927 1,815 1941 1,975 1955 1,820 1969 1,858
1928 1,990 1942 1,708 1956 1,839 1970 2,128
1929 1,913 1943 2,118 1957 2,082 1971 2,141
1930 1,809 1944 1,924 1958 1,745 1972 2,134
1931 1,916 1945 1,839 1959 2,026 1973 1,885
1932 1,748 1946 1,975 1960 2,062 1974 2,109

A média e o desvio padrão amostral dos logaritmos das precipitações


máximas são, respectivamente, 1,943 e 0,137.

Repartimos, nesta Aplicação, a amostra em 8 classes, para fins de


distribuição de frequência. Portanto, o número de graus de liberdade
(GL) é igual a 5 (=8–2–1), já que a distribuição log-Normal contempla
dois parâmetros.

O limite superior da primeira classe corresponde a:



ࡵࡺࢂǤ ࡺࡻࡾࡹǤ ࡺ ൬ Ǣ ૚ǡ ૢ૝૜Ǣ ૙૚૜ૠ൰ ൌ ૚ǡ ૠૡ૟

࢞ ൌ ૚૙૚ǡૠૡ૟

O limite superior da segunda classe:



ࡵࡺࢂǤ ࡺࡻࡾࡹǤ ࡺ ൬ Ǣ ૚ǡ ૢ૝૜Ǣ ૙૚૜ૠ൰ ൌ ૚ǡ ૡ૞૚

࢞ ൌ ૚૙૚ǡૡ૞૚

E assim por diante.

Anísio de Sousa Meneses Filho 233


eventos Ev1 Ev2 Ev3 Ev4 Ev5 Ev6 Ev7 Ev8
lim sup 61,1 70,9 79,4 87,8 97,0 108,6 129,1 >129,1
ei 7 7 7 7 7 7 7 7
F²
oi 4 16 5 6 4 6 7 8
parcelas 1,29 11,57 0,57 0,14 1,29 0,14 0,00 0,14 15,14

࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡽࢁࡵࡽࢁ࡭Ǥ ࡯ࡰሺ૙ǡ ૙૛Ǣ ૞ሻ ൌ ૚૜ǡ ૜ૢ

࣑૛ ൐ ࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕

Considerando nível de significância de 2%, rejeitamos a hipótese de a


nossa amostra (série hidrológica de precipitações máximas anuais)
corresponder a uma distribuição log-Normal.

Distribuição de Gumbel

De acordo com a distribuição de Gumbel, a probabilidade (P) de um


determinado valor vir a ser igualado ou superado se expressa por:
ష࢈
ࡼ ൌ ૚ െ ࢋିࢋ

࢈ൌ Ǥ ሺ࢞ െ ࢞
ഥ ൅ ૙ǡ ૝૞Ǥ ࢙ሻ
૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢙

Assim, o valor x da variável aleatória cuja recorrência é TR se obtém


pela equação seguinte.
ࢀࡾ
ഥ െ ࢙Ǥ ൜૙ǡ ૝૞ ൅ ૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢒࢔ ൤࢒࢔ ൬
࢞ൌ࢞ ൰൨ൠ
ࢀࡾ െ ૚
Sendo ࢞ഥ a média dos valores (série de extremos); s o desvio padrão
desses valores.

A série da valores extremos desta Aplicação apresenta média 92,4 mm,


desvio padrão 32,8 mm e coeficiente de assimetria 1,648.
Para a determinação dos limitantes das classes, aplicamos a expressão
acima considerando P=1/TR. O limite superior da primeira classe
corresponde a:
ૡȀૠ
࢞ ൌ ૢ૛ǡ ૝ െ ૜૛ǡ ૡǤ ൜૙ǡ ૝૞ ൅ ૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢒࢔ ൤࢒࢔ ൬ ൰൨ൠ
ૡȀૠ െ ૚
Note-se que, dentre as 8 classes de repartição da amostra, há 7 classes acima da
primeira classe.
234 Hidrologia na prática
O limite superior da segunda classe:
ૡȀ૟
࢞ ൌ ૢ૛ǡ ૝ െ ૜૛ǡ ૡǤ ൜૙ǡ ૝૞ ൅ ૙ǡ ૠૠૢૠǤ ࢒࢔ ൤࢒࢔ ൬ ൰൨ൠ
ૡȀ૟ െ ૚
Note-se que, dentre as 8 classes de repartição da amostra, há 6 classes acima da
segunda classe.

E assim por diante.


eventos Ev1 Ev2 Ev3 Ev4 Ev5 Ev6 Ev7 Ev8
lim sup 59,0 69,3 78,2 87,1 97,0 109,6 129,2 >129,2
ei 7 7 7 7 7 7 7 7
F²
oi 3 15 6 6 5 6 8 7
parcelas 2,28 9,14 0,14 0,14 0,57 0,14 0,14 0,00 12,55

࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡽࢁࡵࡽࢁ࡭Ǥ ࡯ࡰሺ૙ǡ ૙૛Ǣ ૞ሻ ൌ ૚૜ǡ ૜ૢ

࣑૛  ൏ ࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕

Considerando nível de significância de 2%, aceitamos a hipótese de a


nossa amostra (série hidrológica de precipitações máximas anuais)
corresponder a uma distribuição de Gumbel.

Distribuição Log-Pearson III

O coeficiente de assimetria (G) é incorporado ao modelo Log-Pearson


III na sua formulação. Portanto, esse modelo envolve três parâmetros,
incluindo a média e o desvio padrão. O fator de frequência (K) se altera,
sendo agora expresso em função de TR (ou o inverso da probabilidade
de superação) e de G.

തതതതതതതതത ൅ ࡷሺࢀࡾǡࡳሻ Ǥ ࢙‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ


‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ ൌ ‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ

ࡳ ૚ ࡳ ૛ ࡳ ૜ ࡳ ૝ ૚ ࡳ ૞
ࡷሺࢀࡾǡࡳሻ ൌ ࢠ ൅ ሺࢠ૛ െ ૚ሻǤ ൅ Ǥ ሺࢠ૜ െ ૟Ǥ ࢠሻ ቀ ቁ െ ሺࢠ૛ െ ૚ሻǤ ቀ ቁ ൅ ࢠǤ ቀ ቁ ൅ Ǥ ቀ ቁ
૟ ૜ ૟ ૟ ૟ ૜ ૟

തതതതതതതതതത a média dos logaritmos dos valores da série hidrológica;


sendo ࢒࢕ࢍሺ࢞ሻ
࢙‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ o desvio padrão amostral dos logaritmos dos valores da série
histórica; z a variável reduzida correspondente à probabilidade na
distribuição normal padronizada; G o coeficiente de assimetria.
Anísio de Sousa Meneses Filho 235
Utilizando a função INV.NORMP.N da planilha eletrônica Excel ® podemos
obter os valores de z. Essa função retorna o inverso da distribuição
cumulativa normal padrão (com média 0 e desvio padrão 1).
Alternativamente, tabelas também estão disponíveis nos livros de
estatística e probabilidade.

Nesse caso, o limite superior da primeira classe corresponde a:

ࡷૡ ൌ െ૚ǡ ૙ૢ૜
ሺ Ǣ૚ǡ૟૝ૡሻ

‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ ൌ ૚ǡ ૢ૝૜ ൅ ሺെ૚ǡ ૙ૢ૜ሻǤ ૙ǡ ૚૜ૠ ࢞ ൌ ૚૙૚ǡૠૢ૝

O limite superior da segunda classe:

ࡷૡ ൌ െ૙ǡ ૠ૚ૢ
ሺ Ǣ૚ǡ૟૝ૡሻ

‫܏ܗܔ‬ሺ࢞ሻ ൌ ૚ǡ ૢ૝૜ ൅ ሺെ૙ǡ ૠ૚ૢሻǤ ૙ǡ ૚૜ૠ ࢞ ൌ ૚૙૚ǡૡ૝૞

E assim por diante.


eventos Ev1 Ev2 Ev3 Ev4 Ev5 Ev6 Ev7 Ev8
lim sup 62,2 70,0 77,1 84,8 93,9 106,0 126,7 >126,7
ei 7 7 7 7 7 7 7 7
F²
oi 5 15 4 6 3 7 8 8
parcelas 0,57 9,14 1,29 0,14 2,29 0,00 0,14 0,14 13,71

࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡽࢁࡵࡽࢁ࡭Ǥ ࡯ࡰሺ૙ǡ ૙૛Ǣ ૝ሻ ൌ ૚૚ǡ ૟ૠ

࣑૛ ൐ ࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕

Considerando nível de significância de 2%, rejeitamos a hipótese de a


nossa amostra (série hidrológica de precipitações máximas anuais)
corresponder a uma distribuição log-Pearson III.
Note-se que, para a distribuição log-Pearson III, o número de graus de liberdade
(GL) é igual a 4 (=8-3-1), já que essa distribuição contempla três parâmetros.

Distribuição Gama

A quarta distribuição a ser apreciada nesta Aplicação é a do modelo


Gama com dois parâmetros.

Os parâmetros da função Gama são estimados a partir da média (ࣆ) e


da variância (࣌૛ ) amostrais:
236 Hidrologia na prática
ࣆ ࣌૛
ࢻൌ ࢼൌ
ࢼ ࣆ

Para os valores da série do enunciado desta Aplicação:


ૢ૛ǡ૝ ૜૛ǡૡ૛
ࢻൌ ൌ ૠǡ ૢ૝ ࢼൌ ൌ ૚૚ǡ ૟૝
૚૚ǡ૟૝ ૢ૛ǡ૝

Utilizando a função INV.GAMA da planilha eletrônica Excel ® podemos


obter os valores limitantes de cada classe. Alternativamente, tabelas
também estão disponíveis nos livros de estatística e probabilidade.
lim sup F² = INV.GAMA(i/8;alfa;beta)

Nesse caso, o limite superior da primeira classe corresponde a:



࢞ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡳ࡭ࡹ࡭ሺ Ǣ ૠǡ ૢૠǢ ૚૚ǡ ૟૝ሻ

O limite superior da segunda classe:

࢞ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡳ࡭ࡹ࡭ሺ Ǣ ૠǡ ૢૠǢ ૚૚ǡ ૟૝ሻǤ

E assim por diante.

eventos Ev1 Ev2 Ev3 Ev4 Ev5 Ev6 Ev7 Ev8


lim sup 56,7 68,7 78,8 88,6 99,2 112,0 130,7 >130,7
ei 7 7 7 7 7 7 7 7
F²
oi 3 13 9 6 7 4 7 7
parcelas 2,29 5,14 0,57 0,14 0,00 1,29 0,00 0,00 9,43

࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡽࢁࡵࡽࢁ࡭Ǥ ࡯ࡰሺ૙ǡ ૙૛Ǣ ૞ሻ ൌ ૚૜ǡ ૜ૢ

࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡽࢁࡵࡽࢁ࡭Ǥ ࡯ࡰሺ૙ǡ ૙૞Ǣ ૞ሻ ൌ ૚૚ǡ ૙ૠ

࣑૛  ൏ ࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕

Considerando nível de significância de 5%, aceitamos a hipótese de a


nossa amostra (série hidrológica de precipitações máximas anuais)
corresponder a uma distribuição Gama.

Das quatro distribuições analisadas, a Gama foi a que apresentou


melhor desempenho, porquanto menor o ࣑૛ obtido.

Anísio de Sousa Meneses Filho 237


A propósito, Naghettini e Pinto (2007) destacam que “a versatilidade de
formas, o coeficiente de assimetria variável e positivo, aliados ao fato
de a variável aleatória não ser definida para valores negativos fazem da
distribuição Gama um modelo probabilístico muito atraente para a
representação de variáveis hidrológicas e hidrometeorológicas”.
Esses autores observam que o teste do ࣑૛ , quando aplicado a variáveis
aleatórias contínuas (como são tipicamente as variáveis hidrológicas
precipitação e vazão), está sujeito à prescrição de classes, cujo número
e amplitude podem interferir profundamente na decisão do teste. Além
disso, conforme esses autores, de uma maneira geral os testes de
aderência (incluindo o de Kolmogorov-Smirnov) são “deficientes em
discernir as diferenças entre as frequências teóricas e empíricas (e/ou
quantis teóricos e empíricos), nas caudas inferior e superior das
distribuições em análise”.

Avancemos!
Há aqui dois formatos básicos de questões envolvendo probabilidade,
consistentes em:

x Estimar a probabilidade de ocorrência de um evento com valor


igual ou superior (ou igual ou inferior) a um valor estabelecido.
x Estimar a magnitude do evento associado a uma probabilidade
estabelecida.

O tratamento a ser dado a cada caso também depende do tipo de


dados que estão sendo processados. A modelagem de valores
extremos se distingue da modelagem de valores médios.

Seja agora estimar as chuvas de período de retorno 50 anos, 100 anos


e 1.000 anos em Aracati (CE), a partir de uma série histórica de 30 anos
(Posto 437000)73.

Inicialmente, buscamos um ajuste a um modelo de probabilidade de


valores extremos. Neste exemplo, vamos aplicar a função de
probabilidade Gama, cujos parâmetros (D e E) já sabemos estimar com
base na média (P) e no desvio padrão (V) amostrais74.

73
Base de dados Hidroweb, da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico)
74
A estimativa dos parâmetros De E é feita pelo método dos momentos.
238 Hidrologia na prática
máxima diária máxima diária máxima diária
ano ano ano
(mm) (mm) (mm)
1989 70,0 1999 84,2 2009 115,6
1990 70,4 2000 42,0 2010 59,8
1991 61,0 2001 77,4 2011 76,2
1992 88,0 2002 77,2 2012 59,2
1993 28,2 2003 81,0 2013 140,0
1994 102,6 2004 64,4 2014 80,4
1995 56,8 2005 50,0 2015 72,8
1996 61,3 2006 101,0 2016 66,0
1997 47,0 2007 117,6 2017 102,0
1998 40,2 2008 200,6 2018 116,6

ࣆ ࣌૛
ࢻൌ ࢼൌ
ࢼ ࣆ

A média e o desvio padrão amostral são, respectivamente:

ࣆ ൌ ૡ૙ǡ ૜૛࢓࢓ e ࣌ ൌ ૜૝ǡ ૜૜࢓࢓

Portanto, ࢻ ൌ ૞ǡ ૝ૠ e ࢼ ൌ ૚૝ǡ ૟ૡ
Dispondo de uma amostra de 30 anos (de 1989 a 2018), vamos compor
6 intervalos de classes. Em cada uma dessas classes, esperamos obter
5 elementos (no enquadramento dos valores da série histórica das
diárias máximas anuais).

O teste do F² está sendo agora empregado para a verificação da


hipótese de aderência à função Gama.

Com o uso da planilha eletrônica (por exemplo, Excel ®), os limites


superiores de cada classe (i; i=1 a 6) podem ser obtidos fazendo:

PROB (X < x1,sup) = 1/6; PROB (X < x2,sup) = 2/6; PROB (X < x3,sup) = 3/6 e
daí sucessivamente.
lim sup F² = INV.GAMA(i/6;alfa;beta)

Sucessivamente, os eventos (Ev1, Ev2, ..., Ev6) foram considerados como


as classes de repartição. No primeiro evento, esperamos 1/6 da
amostra; no segundo evento, esperamos, 2/6 da amostra; e assim por
diante.

Anísio de Sousa Meneses Filho 239


Apurando a quantidade de elementos observados em cada classe,
preenchemos a linha da tabela seguinte (oi). Assim, por exemplo, na
primeira classe (cujo limite superior é 47,839) temos 4 elementos da
série: 28,2; 40,2; 42,0 e 47,0. Na segunda classe, encontramos 6
elementos da série: 50,0; 56,8; 59,2; 59,8; 61,0 e 61,3. E daí
prosseguimos no preenchimento da tabela seguinte.

eventos Ev1 Ev2 Ev3 Ev4 Ev5 Ev6


lim sup 47,839 62,112 75,481 90,656 112,214 infinito
ei 5 5 5 5 5 5
F²
oi 4 6 5 7 3 5
parcelas 0,20 0,20 0,00 0,80 0,80 0,00 2,00

O valor de cada parcela resulta de:


ሺ࢕࢏ െ ࢋ࢏ ሻ૛
ࢋ࢏

O valor do F² crítico deve, então, ser comparado com o F² ora obtido


(soma das parcelas). Neste caso, temos três graus de liberdade (= 6-
2-1), haja vista que o modelo Gama acomoda dois parâmetros (D e E).
Se considerarmos aqui um nível de significância de 2% (ou seja, um
nível de confiança de 98%), o F² crítico vale 9,84. Este valor é fornecido
pela função (inverso do chi-quadrado (F²), cauda da direita) da planilha
eletrônica ou extraído de tabelas específicas do modelo.

Assim:

࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡽࢁࡵࡽࢁ࡭Ǥ ࡯ࡰሺ૙ǡ ૙૛Ǣ ૜ሻ

࣑૛  ൏ ࣑૛ ࢉ࢘À࢚࢏ࢉ࢕

Então, podemos aceitar com nível de significância de 2% que a nossa


amostra testada é parte de uma população aderente à distribuição
gama (DIST.GAMA(5,47;14,68)).

Com essa constatação, vamos estimar a magnitude da chuva de projeto


(PTR) para os tempos de retornos solicitados.

240 Hidrologia na prática


x TR 50 anos, correspondente a uma probabilidade de ser igualada
ou superada igual a 0,02 (= 1 – 0,98):

ࡼ૚૙૙ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡳ࡭ࡹ࡭ሺ૙ǡ ૢૡǢ ૞ǡ ૝ૠǢ ૚૝ǡ ૟ૡሻ

ࡼ૚૙૙ ൌ ૚૟૞ǡ ૝࢓࢓


A chuva diária de 165,4 mm apresenta período de retorno de 100 anos.

x TR 100 anos, correspondente a uma probabilidade de ser igualada


ou superada igual a 0,01 (= 1 – 0,99):

ࡼ૚૙૙ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡳ࡭ࡹ࡭ሺ૙ǡ ૢૢǢ ૞ǡ ૝ૠǢ ૚૝ǡ ૟ૡሻ

ࡼ૚૙૙ ൌ ૚ૡ૙ǡ ૡ࢓࢓


A chuva diária de 180,8 mm apresenta período de retorno de 100 anos.

x TR 1.000 anos, correspondente a uma probabilidade de ser


igualada ou superada igual a 0,001 (= 1 – 0,999):

ࡼ૚૙૙૙ ൌ ࡵࡺࢂǤ ࡳ࡭ࡹ࡭ሺ૙ǡ ૢૢૢǢ ૞ǡ ૝ૠǢ ૚૝ǡ ૟ૡሻ

ࡼ૚૙૙૙ ൌ ૛૛ૡǡ ૠ࢓࢓


A chuva diária de 228,7 mm apresenta período de retorno de 1.000 anos.

O procedimento mostrado aqui se refere à chuva de duração diária, ou


seja, compatível com registro de pluviômetro. Quando precisamos
conhecer a magnitude da chuva para durações menores, a metodologia
de cálculo pode ser aquela da Aplicação 16, com base nas isozonas de
chuva.

Anísio de Sousa Meneses Filho 241


Aplicação 39
Tema: Elaboração de curva de permanência de vazões

Considere a série de vazões médias mensais numa seção do riacho Riachão, no município
de Ibicoara (BA), durante um período de 20 anos. A seção em estudo drena uma área de
100 km².

ano jan fev março abr mai jun jul ago set out nov dez
1964 3,03 2,36 2,02 1,35 1,22 0,54 0,38 0,44 0,50 0,34 0,72 1,20
1965 0,49 0,41 0,36 0,56 0,36 0,47 0,32 0,33 0,35 0,67 0,81 0,42
1966 0,37 0,66 0,37 1,30 0,44 0,40 0,60 0,38 0,34 0,33 0,59 0,62
1967 0,51 0,58 0,39 0,61 0,36 0,32 0,28 0,25 0,22 0,32 0,83 1,56
1968 0,74 1,55 0,68 0,43 0,38 0,34 0,47 0,34 0,29 0,61 1,31 0,75
1969 0,68 1,52 2,18 0,67 0,41 0,37 0,32 0,29 0,25 0,33 0,39 1,68
1970 1,23 0,52 0,86 0,63 0,78 0,51 0,41 0,37 0,33 0,29 0,48 0,54
1971 0,35 0,31 0,28 0,24 0,22 0,55 0,48 0,32 0,29 0,25 1,10 0,40
1972 0,62 0,39 0,45 0,37 0,32 0,41 0,41 0,30 0,32 0,26 0,23 1,19
1973 0,47 0,40 0,45 0,35 0,62 0,34 0,30 0,27 0,24 0,25 0,61 0,64
1974 0,38 0,53 0,70 0,41 0,36 0,35 0,30 0,30 0,34 0,69 1,95 1,27
1975 0,65 0,46 0,64 0,68 0,42 0,38 0,33 0,30 0,26 0,23 0,57 0,30
1976 0,26 0,50 0,31 0,26 0,23 0,21 0,18 0,16 0,19 1,04 1,02 0,62
1977 0,50 0,49 0,39 0,43 0,33 0,38 0,30 0,26 0,74 0,72 0,47 1,81
1978 0,96 1,26 1,51 2,17 1,23 0,56 0,42 0,41 0,34 0,46 0,32 0,93
1979 1,02 1,09 0,45 0,40 0,35 0,32 0,28 0,25 0,22 0,20 0,29 0,40
1980 1,33 1,30 0,72 0,58 0,65 0,44 0,38 0,34 0,48 0,36 0,30 1,59
1981 0,45 0,59 1,48 0,78 1,28 0,57 0,51 0,43 0,37 0,36 0,80 0,54
1982 0,97 0,61 0,51 0,87 0,43 0,56 0,55 0,40 0,40 0,34 0,47 0,65
1983 0,42 1,57 0,60 0,66 0,43 0,75 0,43 0,38 0,34 0,30 0,61 0,36

Elabore a curva de permanência para fins de análise de um pleito de outorga do direito


de uso da água num empreendimento agrícola.

Desenvolvimento

A vazão natural dos cursos de água constitui uma variável de


comportamento aleatório, resultante de uma série de fatores físicos e
242 Hidrologia na prática
morfológicos da bacia e, principalmente, do aporte das chuvas (por sua
vez, também de caráter randômico). Conhecer essa variabilidade
através de parâmetros estatísticos tem sido uma estratégia para a
tomada de decisão mais consentânea. A curva de permanência serve
para retratar a disponibilidade hídrica em termos de porcentagem do
tempo (ou probabilidade). Para isso deve ser empregada uma série
histórica com, no mínimo, 20 anos de registros. Distintas curvas de
permanência podem ser confeccionadas (mensais ou diárias), de acordo
com o propósito formulado.

Algumas questões básicas que surgem ao se prospectar a viabilidade


de um empreendimento são:

x Qual a garantia de que haverá água para suprir a demanda de


projeto?
x Qual a porcentagem do tempo, ao longo do ano, em que as
condições hídricas são satisfatórias?
x Qual a melhor estratégia para o dimensionamento eficiente do
projeto?

Duas situações críticas podem ser colocadas:

x O excesso de água que torna impraticável a operação e gera dano


ao sistema e consequente prejuízo econômico.
x A escassez hídrica que constrange o aproveitamento pleno do
potencial instalado.

A curva de permanência (ou de duração) constitui uma representação


gráfica para facilitar a leitura e o entendimento da variabilidade das
vazões e, portanto, orientar a tomada de decisão quanto ao tamanho
adequado das estruturas de controle (no caso de cheias) e à magnitude
ótima do empreendimento (no caso de secas), numa perspectiva
técnica e economicamente viável, levando-se em conta os riscos e
incertezas associados aos processos hidrológicos.

Podemos considerar dois tipos de curva de permanência: a de vazões


crescentes (CPVC) e a de vazões decrescentes (CPVD). No primeiro caso
(CPVC), cada ponto coordenado da curva associa, na abscissa, a

Anísio de Sousa Meneses Filho 243


probabilidade (ou percentual de duração no tempo) de a
correspondente vazão (lida no eixo das ordenadas) não ser alcançada
ou superada. No segundo caso (CPVD), cada ponto coordenado associa,
na abscissa, a probabilidade (ou percentual de duração no tempo) de a
correspondente vazão (lida no eixo das ordenadas) ser igualada ou
superada.

A curva de permanência de vazões decrescentes da figura seguinte


explicita, por exemplo, que a vazão de 10 m³/s é igualada ao superada
em 90% do tempo. Há, portanto, uma garantia média (probabilística)
de que a vazão de 10 m³/s aconteça em 90% de qualquer ano. De outra
forma, significa dizer que há a expectativa (esperança estatística) de
ocorrência de vazões de até 10 m³/s em 10% do ano.

Note-se que a informação extraível de uma curva de vazões


decrescentes também pode ser obtida de uma curva de vazões
crescentes elaborada a partir da mesma série histórica.

ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ ൌ ૚ െ ࡼሺࢄ ൑ ࢞ሻ

O procedimento para a confecção de uma curva de permanência a partir


das vazões médias mensais consiste em:

i. Ordenar os valores de vazão decrescentemente (no caso de CPVD)


ou crescentemente (no caso de CPVC);
ii. Calcular, para cada um dos valores ordenados de vazão, a
probabilidade de aquele valor ser igualado ou superado (no caso

244 Hidrologia na prática


de CPVD) ou a probabilidade de aquele valor não ser alcançado
(no caso de CPVC);
iii. Graficar em plano semilogarítmico as vazões e as correspondentes
probabilidades obtidas em ii (as probabilidades devem ser
dispostas no eixo aritmético; as vazões, no eixo logarítmico).

Usando, para o cálculo da probabilidade, a equação de Weibull


(P=m/(N+1)), a curva de permanência obtida com os dados fornecidos
é a que segue.

Curva de permanência de vazões decrescentes


10
vazão mensal (m³/s)

1
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

0,1
probabilidade de vazão igual ou superior

A curva de permanência orienta a tomada de decisão, a permitir que se


identifique a vazão outorgável, conforme a definição de cada órgão de
licenciamento ambiental (em sua jurisdição). Alguns exemplos são
apresentados no quadro seguinte.

No caso do estado da Bahia, a vazão máxima outorgável corresponde a


80% da vazão Q90 que, no nosso exemplo, igual a 0,27 m³/s. Portanto,

Anísio de Sousa Meneses Filho 245


considerando, por hipótese que não haja nenhum outra demanda com
outorga já concedida, é possível outorgar75 agora até 0,21 m³/s.

O quadro seguinte reúne o critério básico de vazões outorgáveis em


alguns Estados brasileiros.

vazão máxima
Estado vazão de referência
outorgável
CE
RN 90% da vazão Q90
PB Q90
PE
80% da vazão Q90
BA
MG Q7,10 30% da vazão Q7,10

75
A rigor, deveria ser apurado Q90 da curva de permanência com dados diários, o que tende a ser um pouco diferente do
valor aqui obtido, considerando a variabilidade das vazões dentro do mês.
246 Hidrologia na prática
Aplicação 40
Tema: Estimativa de aproveitamento hidrelétrico de quedas d’água

Considere as seguintes vazões tabuladas em classes, conforme a distribuição de


frequência registrada.

frequência
vazão (m³/s)
absoluta
0 - 10 106
10 - 20 183
20 - 30 291
30 - 40 306
40 - 50 337
50 - 60 146
60 - 70 82
70 - 80 33

Estime o potencial hidráulico para uma garantia de 95%, assumindo uma altura de queda
de 40m e eficiência da turbinagem de 70%.

Desenvolvimento

Denomina-se energia assegurada aquela que pode ser produzida por


uma usina com garantia de 95%. O risco de não atendimento dessa
expectativa é de 5% (em relação ao tempo). Esse critério é adotado
para as usinas com pequeno reservatório de acumulação, para fins de
remuneração da empresa, no sistema elétrico brasileiro.

Portanto, o potencial hidrelétrico pode ser estimado com base na vazão


Q95 da curva de permanência de vazões decrescentes. A expressão que
se aplica é a seguinte:
Anísio de Sousa Meneses Filho 247
ࡼ ൌ ࢽǤ ࡽǤ ࡴǤ ࣁ

Sendo ࡼ a potência (em W); ࢽ o peso específico da água (em N/m³); ࡴ


a altura de queda (em m); ࣁ o rendimento do conjunto gerador.

Inicialmente, devemos confeccionar a curva de permanência (ou de


duração), seguindo o procedimento apresentado na Aplicação 39.

frequência frequência
vazão média
absoluta relativa
(m³/s)
acumulada acumulada (%)
5 1484 100,00
15 1378 92,86
25 1195 80,53
35 904 60,92
45 598 40,30
55 261 17,59
65 115 7,75
75 33 2,22

Note-se que a acumulação da frequência, na tabela acima, é feita a partir das


maiores vazões, com o fito de estimar a expectativa de superação do caudal, o que
se evidencia na curva de permanência de vazões decrescentes da figura seguinte.

Curva de permanência
80,0

70,0

60,0

50,0
vazão (m³/s)

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
permanência (%)

248 Hidrologia na prática


Para a permanência de 95%, isto é, em 95% do tempo, a vazão
assegurada é da ordem de 12m³/s, o que se extrai da curva (ou por
interpolação na coluna de frequência relativa acumulada).

Portanto, sendo a altura de queda 40m e a eficiência total de conversão


de energia de 70%, temos:

ࡼ ൌ ૚૙૝ Ǥ ૚૛Ǥ ૝૙Ǥ ૙ǡ ૠ ൌ ૜ǡ ૜૟ࡹࢃ

Anísio de Sousa Meneses Filho 249


Aplicação 41
Tema: Regionalização de vazão

Considere a tabela seguinte para estabelecer uma relação entre a vazão máxima e a área
de drenagem em bacias de uma região hidrologicamente homogênea. A área total da
bacia é de 1000 km² e o ajuste é pretendido para áreas a montante da seção, dentro da
bacia.
ࡽ࢓ž࢞ ൌ ࢻǤ ࡭ࢼ , sendo ࡭ a área de drenagem; ࢻ e ࢼ parâmetros de ajuste

área (km²) vazão máxima (m³/s)


150 81,3
200 84,6
350 94,0
500 103,0
550 108,7
800 120,0
950 124,3
1000 127,1

Estime:
i. A área de drenagem requerida para uma vazão máxima de 100 m³/s
ii. O erro cometido na estimativa da vazão máxima quando se superestima a área
iii. A parcela da variável vazão máxima não explicada pela área.

Desenvolvimento

A qualidade e o efetivo desempenho dos projetos de engenharia


relativos à gestão dos recursos hídricos dependem diretamente da boa
estimativa das vazões extremas (as máximas, por exemplo). A

250 Hidrologia na prática


previsão, o controle e a atenuação de cheias pressupõem a
disponibilidade de modelos confiáveis em diversos cenários.

A regionalização de vazão permite que se amplie a obtenção de valores


estimados dessa variável (vazão), a partir de características físicas da
bacia, tornando viável a simulação mais extensa e representativa.

Evidentemente, a situação ideal seria aquela em que dados de vazões


estivessem disponíveis em diversos pontos de interesse. Isso, porém,
não se revela economicamente possível, haja vista o custo de
implantação e de coletas sistemática de dados fluviométricos.

A necessidade de determinação da disponibilidade hídrica em locais não


monitorados estimula a adoção sistemática de técnicas de
regionalização.

As equações de regressão do tipo potencial destacam-se entre as mais


usuais no propósito de se estabelecer um relacionamento entre a vazão
e variáveis independentes como área, comprimento do canal principal,
declividade do canal principal, densidade de drenagem, precipitação
anual, para uma região hidrologicamente homogênea. A incorporação
de uma, duas ou mais variáveis na fórmula de estimativa da vazão se
condiciona ao incremento relevante do parâmetro atinente à capacidade
de explicação do modelo, o que pode ser mensurado com base nas
estatísticas dos resultados das regressões múltiplas, pelo coeficiente de
determinação (R²).

O expediente da regionalização de vazões máximas permite a definição


de estratégias consentâneas e o dimensionamento adequado de
estruturas hidráulicas como condutos, canais, diques e extravasores.

Em geral, a área de drenagem assume o topo das variáveis explicativas


da vazão regionalizada. Não raro, as equações de regressões se limitam
a essa variável com satisfatório desempenho para a estimativa da vazão
numa função potencial, com R² acima de 90%.

Note-se que a vazão máxima não cresce na mesma proporção da área


de drenagem da bacia. Entre outros fatores, isso se justifica pela
espacialização da chuva.

Anísio de Sousa Meneses Filho 251


Nesta Aplicação, o ajuste foi feito pelo critério de menor erro quadrático,
empregando a planilha eletrônica Excel ®, linha de tendência, função
potência. Resultou daí:

ࡽ࢓ž࢞ ൌ ૛૜ǡ ૞૙ૠǤ ࡭૙ǡ૛૝૛૛

De acordo com a regressão obtida, uma área de drenagem de 394,7


km² exibe vazão máxima de 100 m³/s. Esse valor é diferente de 450
km², que corresponderia à interpolação linear na tabela fornecida.

Regressão vazão máxima (m³/s) e área de drenagem


(km²)
140,00
y = 23,507x0,2422
130,00
R² = 0,9873
120,00

110,00

100,00

90,00

80,00

70,00

60,00
0 200 400 600 800 1000 1200

vazão máxima, na
vazão máxima, na
área (km²) série histórica
regressão (m³/s)
(m³/s)
150 81,30 79,11
200 84,60 84,82
350 94,00 97,13
500 103,00 105,90
550 108,70 108,37
800 120,00 118,67
950 124,30 123,71
1000 127,10 125,26

A sensibilidade da expressão da vazão máxima (ࡽ࢓ž࢞ ) à variável área


(࡭) pode ser verificada derivando-se a vazão máxima em relação à área.
Assim:
ࢊࡽ࢓ž࢞
ൌ ૞ǡ ૟ૢ૜૝Ǥ ࡭ି૙ǡૠ૞ૠૡ 
ࢊ࡭
252 Hidrologia na prática
Um erro na determinação de ࡭ acarreta variação na estimativa de ࡽ࢓ž࢞ .
Com base na expressão de ࡽ࢓ž࢞ , encontramos:

ࡽାοࡽ࢓ž࢞ ࡭ାο࡭ ૙ǡ૛૝૛૛ οࡽ࢓ž࢞ ࡭ାο࡭ ૙ǡ૛૝૛૛


ൌቀ ቁ ૚൅ ൌቀ ቁ
ࡽ࢓ž࢞ ࡭ ࡽ࢓ž࢞ ࡭

No caso em análise, há uma superestimativa da ordem de 2,34% na


vazão máxima em decorrência de uma superestimativa de 10% na área
de drenagem contribuinte.

οࡽ࢓ž࢞ ࡭ା૙ǡ૚Ǥ࡭ ૙ǡ૛૝૛૛ οࡽ࢓ž࢞


૚൅ ൌቀ ቁ ൌ ሺ૚ǡ ૚ሻ૙ǡ૛૝૛૛ െ ૚ ൌ ૙ǡ ૙૛૜૜૞
ࡽ࢓ž࢞ ࡭ ࡽ࢓ž࢞

O coeficiente de determinação (R²) é um indicador importante da


qualidade de regressão. No exemplo em tela, em que o R² é igual a
0,99 , entende-se que uma única variável (no caso, a área de drenagem
(࡭)) consegue responder (ou explicar) 99% da variável dependente (a
vazão (Qmáx). O restante (1%) se deve a outras variáveis independentes
que podem ser exploradas, como a extensão da rede de drenagem, a
declividade do curso de água principal, a tipologia do solo.

Com efeito, o coeficiente de determinação (R²) constitui uma medida


de ajuste de um modelo estatístico generalizado. Esse parâmetro é
estabelecido como a razão entre a soma das diferenças quadráticas
estimadas e a soma das diferenças quadráticas observadas. O cálculo
de R² é feito com base na seguinte expressão:

σ࢔࢏ୀ૚ሺ࢟ ഥ ሻ૛
ෝ࢏ െ ࢟
ࡾ૛ ൌ ࢔
σ࢏ୀ૚ሺ࢟࢏ െ ࢟ഥ ሻ૛

ෝ࢏ é o valor estimado na regressão; ࢟࢏ , o valor observado; ࢟


onde ࢟ ഥ, a
média dos n valores observados.

Indo um pouco além

Um interessante estudo nessa temática da regionalização de vazões


máximas foi desenvolvido pela CPRM (Companhia de Pesquisas de
Recursos Minerais), em 2001, para parte da sub-bacia do Alto São
Francisco, no estado de Minas Gerais. O Relatório está disponível em:
http://rigeo.cprm.gov.br/bitstream/doc/20881/4/17_regionalizacao_sb40e41_vol
ume_IV.pdf

Anísio de Sousa Meneses Filho 253


A área de estudo foi tratada inicialmente em sete regiões, depois
reagrupadas para cinco. Para cada uma delas, foram ajustadas
equações potenciais de regressão com até três variáveis, contemplando
área de drenagem, declividade do canal e precipitação anual média. Em
todas elas, a área de drenagem revelou-se a variável mais expressiva
na explicação da média das vazões máximas (tomada como fator de
adimensionalização na análise de regressão).

A partir desse fator de adimensionalização, é possível estimar, em base


probabilística pelo melhor modelo identificado para a região particular,
a vazão de cheia com o tempo de retorno desejado.

Tomemos, à guisa de ilustração, a Região I:

ࡽ࢓ž࢞ି࢓±ࢊ ൌ ૙ǡ ૠ૟૞૛Ǥ ࡭૙ǡૠૡ૛૟ , para A > 175km², com R²=0,9626

Modelo indicado: Log-Normal de 3 parâmetros:

posição (ࣈ ൌ ૙ǡ ૢ૛ૢ); escala (ࢻ ൌ ૙ǡ ૝૝ૡ) e forma (ࣄ ൌ െ૙ǡ ૜૚૚).

Nessa parametrização, a distribuição Log-Normal é a distribuição de


uma variável aleatória X que assim se relaciona a uma variável aleatória
Z de distribuição Normal parametrizada, com média 0 e variância 1:

ሺ૚ െ ࢋିࣄǤࢆ ሻ
ࢄൌቐࣈ ൅ ࢻǤ ǡ ࢙ࢋࣄ ് ૙ቑ

ࣈ ൅ ࢻǤ ࢆǡ࢙ࢋࣄ ൌ ૙

Seja, por exemplo, estimar a vazão máxima de TR 100 anos para uma bacia da
Região I com área de drenagem de 200 km². Segue o procedimento de cálculo:

1. Determinação do quantil regional adimensionalizado correspondente ao TR 100


anos

൫૚ െ ࢋିሺି૙ǡ૜૚૚ൈ૛ǡ૜૛૟૜ሻ ൯
ࢄ ൌ ૙ǡ ૢ૛ૢ ൅ ૙ǡ ૝૝ૡǤ ൌ ૛ǡ ૝૞ૡ
െ૙ǡ ૜૚૚

2. Determinação do fator de adimensionalização, isto é, a média das vazões


máximas anuais

ࡽ࢓ž࢞ି࢓±ࢊ ൌ ૙ǡ ૠ૟૞૛Ǥ ૛૙૙૙ǡૠૡ૛૟ ൌ ૝ૡǡ ૜ૠ࢓૜ Ȁ࢙


3. Cálculo da vazão máxima associada ao TR 100 anos.

ࢄࢀࡾ૚૙૙ ൌ ૝ૡǡ ૜ૠǤ ૛ǡ ૝૞ૡ ൌ ૚૚ૡǡ ૡૢ࢓૜ Ȁ࢙

254 Hidrologia na prática


Aplicação 42
Tema: Modelagem integrada de bacias com base no sistema HEC-HMS

Considere a bacia seguinte.

Proponha uma representação de seus componentes principais para processamento pelo


multimodelo HEC-HMS.

Desenvolvimento

Um modelo é sempre uma representação simplificada do sistema,


buscando retratar os aspectos e processos de maior relevância para a
predição do seu comportamento ou resposta a um impulso. Ele serve,

Anísio de Sousa Meneses Filho 255


sobretudo, para exprimir quantitativamente um fenômeno ou processo,
a partir da assimilação conceitual de um sistema real.

Todos os modelos têm em comum alguns componentes: as variáveis de


estado, os parâmetros de calibração e as condições de contorno
(cenário de partida e metodologia de cálculo).

Fundamentalmente, uma bacia constitui um sistema que transforma


chuva em vazão. Noutras palavras, a bacia é um gerador de vazões.

A representação funcional mais simples de uma bacia se assemelha à


da figura seguinte, com uma superfície (em área continental) que
acolhe as águas procedentes da atmosfera, na forma de precipitação76
e as converte parcialmente em vazão medida na seção exutória (ou
seção de controle).

Tipicamente, o ingresso de água na bacia ocorre de forma distribuída


no espaço e concentrada no tempo. Por outro lado, a saída de água da
bacia acontece de forma concentrada no espaço e distribuída no tempo.
Um requisito importante no estabelecimento do modelo é a parcimônia.
O incremento demasiado de parâmetros requeridos para calibração e
ajuste se evidencia quando a supressão gradativa desses parâmetros
não acarreta perda significativa na qualidade da resposta, ou no erro
em relação aos valores reais produzidos pelo sistema.

76
Precipitação é um termo genérico, usado para significar o fenômeno de natureza termodinâmica (ou processo do ciclo
hidrológico ou grandeza (passível, portanto, de mensuração)) referente à àgua que se transfere da atmosfera para a
superfície (dos continentes ou dos oceanos). A precipitação pode ocorrer sob a forma de chuva, granizo, saraiva, neve, geada,
orvalho.
256 Hidrologia na prática
Vejamos, em breve síntese, o que acontece com o trânsito da água no
âmbito de uma bacia.

Fonte: Adaptada de hidrologia.usal.es

Como vimos, o primeiro passo para a modelagem da bacia é a sua


delimitação e a sua adequada compartimentação e caracterização física
e morfológica. Após isso, com os argumentos de ativação operacional,

Anísio de Sousa Meneses Filho 257


podemos promover a simulação usando os recursos computacionais
disponíveis. O produto da simulação deve ser, por fim, criticamente
analisado.

Bacia única, com a sua rede de


drenagem delimitada pelo divisor
de água. Sendo a área total
pequena ou com características
espacialmente uniformes (tipo,
uso e ocupação do solo), o
processamento em modelagem
concentrada é razoável. Nesse
caso, não há necessidade de
compartimentar a bacia em sub-
bacias.

Bacia repartida em três sub-


bacias, cada uma delas com a sua
rede de drenagem. Haverá
propagação em trecho de rio se o
exutório da sub-bacia estiver
situado no interior da bacia maior
(é o caso aqui da sub-bacia 3,
que recebe vazão da sub-bacia 2
e da sub-bacia 1, nas
correspondentes seções de
afluência). Cada sub-bacia
promove transformação chuva-
vazão.

Bacia repartida em cinco sub-


bacias, com a rede de drenagem
simplificada. As sub-bacias 2 e 3
terão as suas vazões somadas na
confluência; a vazão resultante
dessa soma será propagada em
trecho do rio na sub-bacia 4.
Serão somadas as vazões
produzidas pelas sub-bacias 1 e 4
(incluindo a vazão propagada de
2 e 3); a vazão resultante dessa
nova soma será propagada no
trecho a jusante. No exutório da
bacia (total), a vazão será a soma
da propagação com a vazão
produzida na sub-bacia 5.

258 Hidrologia na prática


Note-se que alguns talvegues exibidos na primeira figura estão omitidos na última
figura, porquanto pouco relevante aqui a sua representação. Esta última
configuração se apresenta como adequada ao processamento. O esquema da
interação dos elementos da bacia está exibido na figura seguinte.

O multimodelo HEC-HMS (Hydrological Engineering Center – Hydrologic


Modeling System) está estruturado para a representação operacional
da bacia em três compartimentos: modelo de bacia; modelo
meteorológico; especificações de controle.

O sequenciamento das etapas na modelagem da bacia até a geração do


hidrograma do escoamento superficial se encadeia com a introdução

Anísio de Sousa Meneses Filho 259


dos elementos de caracterização e a seleção dos métodos para o
cálculo, como nesta síntese:

A trilha básica de implementação das funcionalidades do multimodelo


HEC-HMS consiste em quatro etapas:

i) Separação da chuva efetiva


a. Nessa fase, são calculadas as perdas iniciais (abstrações,
interceptação) e a parcela de infiltração, remanescendo a
parcela excedente (ou efetiva) que será convertida, pela
bacia, em escoamento superficial direto;
b. Os modelos disponíveis para a avaliação das perdas (loss),
notadamente por processo infiltrativo, são:
i. Green-Ampt
ii. SCS (curve number)
iii. SMA (Soil Moisture accounting)
iv. Initial and constant

260 Hidrologia na prática


ii) Estimativa do escoamento superficial direto
a. Ocorre a transformação da chuva em vazão, levando-se em
conta as características físicas e morfológicas da bacia e/ou
expressões simplificadas e empíricas;
b. Os modelos disponíveis são:
i. Clark Unit Hydrograph
ii. Kinematic wave
iii. ModClark
iv. SCS Unit Hydrograph
v. Snyder Unit Hydrograph
vi. User-specified
iii) Adição da parcela de escoamento de base ao escoamento
superficial
a. A água no interior do solo retorna à superfície da bacia, em
seus canais de drenagem, constituindo a contribuição de base
(ou subterrânea):
b. Os modelos disponíveis são:
i. Bounded recession
ii. Constant monthly
iii. Linear reservoir
iv. Nonlinear Boussinesq
v. Recession
iv) Propagação do hidrograma
a. A onda de cheia conhecida numa seção do curso de água é
projetada para uma seção de jusante, seja esta logo após um
reservatório condicionado por barragem, ou no mesmo canal
por translação e armazenamento no leito;
b. Os modelos disponíveis são:
i. Kinematic wave
ii. Lag
iii. Lag & K
iv. Modified Puls
v. Muskingum
vi. Muskingum-Cunge
vii. Normal depth
viii. Straddle stagger

Anísio de Sousa Meneses Filho 261


A estruturação de um projeto no HEC-HMS compreende:

- modelo de bacia
Para a modelagem da bacia, podem ser consideradas
diferentes sub-bacias, cada uma delas com as suas próprias
características, para a consolidação dos processos de forma integrada.
A integração dos elementos da bacia se materializa na
consideração da subsequência, por conta do posicionamento relativo
das sub-bacias com suas interconexões e singularidades.

As ferramentas de criação disponíveis no sistema HEC-HMS estão


listadas na figura seguinte.

Observa-se que:
1. A cada uma das sub-bacias corresponde um hidrograma
gerado pela soma do escoamento superficial direto e do
escoamento de base;
2. Paralelamente aos processos de transformação chuva-
vazão típicos da bacia, o escoamento também se
desenvolve em trecho de canal (reach), ou através de
reservatório, ao que se soma o hidrograma gerado no
âmbito da bacia atravessada pelo trecho.

- modelo meteorológico
Os dados atinentes a etapas do ciclo hidrológico são
sistematizados para a sua apropriação como entrada no processamento
pelo HEC-HMS. Para isso, estão disponíveis para preenchimento tabelas
ou matrizes de séries temporais (precipitação, evapotranspiração,
vazão etc.). Quando diversos postos pluviométricos estão disponíveis,
262 Hidrologia na prática
o sistema permite a indicação das coordenadas de localização para o
cálculo da precipitação média. Por outro lado, também pode ser
informado o hietograma de projeto, obtido com base em relações
empíricas do tipo IDF.

- especificações de controle
Compete ao usuário estabelecer a extensão do período
contemplado no processamento dos dados, bem como o intervalo de
tempo da implementação, para a discretização numérica de variáveis
contínuas. Em muitos casos, isso requer um ajuste ou refinamento após
a primeira tentativa – por exemplo, quando o usuário desconhece o
tempo de base do hidrograma referente às diversas precipitações na
bacia. Menores intervalos de tempo permitem a confecção de curvas
mais suaves ou diagramas de blocos mais detalhados, embora sejam
geradas tabelas extensas de resultado.
As discretizações temporais da série de dados (de entrada) e
do processamento podem ser diferentes. O intervalo de tempo do
hietograma sendo maior do que o intervalo de tempo do hidrograma
requer a decomposição da lâmina em cada bloco de chuva; nesse caso,
deve-se observar uma relação de número inteiro entre esses dois
intervalos considerados.

As aplicações mais simples estão relacionadas a seguir.


1. Sub-bacia única em que se deseja transformar uma chuva
(hietograma conhecido) em vazão (hidrograma no exutório)
2. Duas sub-bacias que drenam água para um mesmo ponto (ou para
seções próximas no rio principal)
3. Bacia compartimentada em duas ou mais sub-bacias, com
propagação de vazão em trecho de rio.

Para a situação mencionada acima, o planejamento do problema pode


ensejar alternativas de repartição da área total de drenagem, conforme
o propósito do estudo. Nem sempre a subdivisão da bacia numa grande
quantidade de bacias menores proporciona melhor qualidade e acurácia
dos resultados, haja vista a demanda de maior volume de dados e os
modelos que sempre embutem alguma simplificação.

Anísio de Sousa Meneses Filho 263


Uma das muitas possíveis opções de modelagem (semi)distribuída é a
que segue.

264 Hidrologia na prática


Aplicação 43
Tema: Estimativa do impacto da urbanização

A bacia hidrográfica do riacho Gavião, em Fortaleza (CE), tem área de 97,12 km² e
responde por parte do abastecimento da região metropolitana. A parcela mais
significativa dessa bacia é coberta por vegetação de baixa densidade. O solo
característico é do tipo B, na classificação SCS.

A porção mais a montante, em destaque na figura seguinte, está sendo agora investigada.

A área de drenagem da bacia em estudo é de 24 km², atualmente assim distribuída:

Anísio de Sousa Meneses Filho 265


x Telhados e cobertas: 3%
x Ruas em cascalho e solo exposto: 2%
x Vegetação de baixa densidade: 95%
Estime o aumento da vazão de pico, para o tempo de retorno de 25 anos, decorrente da
alteração ocupacional da bacia em estudo, assumindo o seguinte cenário futuro
(hipotético):
x Telhados e cobertas: 20%
x Ruas pavimentadas: 15%
x Ruas em cascalho e solo exposto: 5%
x Vegetação de baixa densidade: 60%

Desenvolvimento

O processo de urbanização acarreta diversos impactos no


comportamento hidrológico da bacia, notadamente no favorecimento
das condições para que as águas passem a escoar na superfície, em
vista da menor quantidade de infiltração. A nova cobertura do solo, mais
impermeável no cenário urbano, reduz o tempo de concentração da
bacia. A chuva de projeto passa a ser mais intensa, para uma mesma
recorrência.

Para a duração da chuva de projeto, vamos considerar equivalente ao


tempo de concentração da bacia, de forma que toda a área de drenagem
contribua com vazão no exutório.

No modelo SCS, o parâmetro CN é sensível a esse processo, com


tendência a assumir valores cada vez mais elevados à medida que a
cobertura do solo vai sendo alterada, tornando a bacia mais
impermeável. Quanto maior o valor de CN, maior o potencial da bacia
de produzir escoamento superficial direto.

Por constituir-se um modelo parcimonioso, o SCS permite que as


simulações sejam realizadas com razoável facilidade, na antecipação de
cenários futuros (em que os dados de vazão não estão disponíveis).

O parâmetro CN se relaciona com a capacidade de retenção de água no


solo (S) e com a parcela de perdas iniciais (Ia), como vimos na Aplicação
19. Para a separação dos volumes de chuva, a expressão básica do
modelo é a seguinte:
266 Hidrologia na prática
ሺࡼࢇࢉ െ ࡵࢇ ሻ૛
ࡼࢋࢌǡࢇࢉ ൌ
ࡼࢇࢉ െ ࡵࢇ ൅ ࡿ

Conhecido o hietograma da chuva efetiva em cada um dos cenários,


podemos aplicar o método do hidrograma unitário para a obtenção dos
correspondentes hidrogramas. Assim:

O solo tipo B, prevalente na área em estudo, apresenta textura franco


siltosa, com pouco teor de argila. Caracteriza-se, ainda, por ser menos
profundo ou com mais argila do que os solos do tipo A e de média
capacidade de infiltração. Às parcelas da área, conforme a sua tipologia
ocupacional, atribuem-se os valores seguintes para o parâmetro CN
(curve number) do modelo SCS:

x Telhados e cobertas: 98
x Ruas pavimentadas: 98
x Ruas em cascalho e solo exposto: 82
x Vegetação de baixa densidade: 75

O CN médio para o cenário atual vale:

࡯ࡺ ൌ ૙ǡ ૙૜Ǥ ૢૡ ൅ ૙ǡ ૙૛Ǥ ૡ૛ ൅ ૙ǡ ૢ૞Ǥ ૠ૞ ൌ ૠ૟

Para o cenário futuro, o CN previsto é:

࡯ࡺ ൌ ૙ǡ ૛૙Ǥ ૢૡ ൅ ૙ǡ ૚૞Ǥ ૢૡ ൅ ૙ǡ ૙૞Ǥ ૡ૛ ൅ ૙ǡ ૟૙Ǥ ૠ૞ ൌ ૡ૜

As expressões específicas do modelo SCS são obtidas a partir do valor


de CN médio. Assim:
૛૞૝૙૙
ࡿൌ െ ૛૞૝
࡯ࡺ
ࡵࢇ ൌ ૙ǡ ૛Ǥ ࡿ

No cenário atual:

ࡿ ൌ ૡ૙࢓࢓ ࡵࢇ ൌ ૚૟࢓࢓

Anísio de Sousa Meneses Filho 267


ሺࡼࢇࢉ െ ૚૟ሻ૛
ࡼࢋࢌǡࢇࢉ ൌ
ࡼࢇࢉ ൅ ૟૝

No cenário futuro:

ࡿ ൌ ૞૛࢓࢓ ࡵࢇ ൌ ૚૙࢓࢓

ሺࡼࢇࢉ െ ૚૙ሻ૛
ࡼࢋࢌǡࢇࢉ ൌ
ࡼࢇࢉ ൅ ૝૛

A estimativa do tempo de concentração pode ser feita usando a fórmula


do modelo SCS (Soil Conservation Service). A extensão do talvegue
principal é de 7700m e a declividade média de 0,009m/m.
૙ǡૠ
૚૙૙૙
࢚࡯ ൌ ૙ǡ ૙૞ૠǤ ൬ െ ૢ൰ Ǥ ࡸ૙ǡૡ Ǥ ࡿି૙ǡ૞
࡯ࡺ

No cenário atual: ࢚࡯ = 8,34 h (aproximadamente, 500 min)

No cenário futuro: ࢚࡯ = 6,71 h (aproximadamente, 400 min)

Para a confecção dos hietogramas de projeto, para cada um dos


cenários, vamos adotar o método dos blocos alternados, considerando
aqui, por hipótese, a mesma relação IDF de Fortaleza, para duração
igual ao tempo de concentração e recorrência de 25 anos. Portanto:

Hietograma total (cenário atual)


50
45
40
precipitação (mm)

35
30
25
20
15
10
5
0
25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
tempo (min)

268 Hidrologia na prática


Hietogramada total (cenário futuro)
50
45
40
precipitação (mm) 35
30
25
20
15
10
5
0
25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400
tempo (min)

Os respectivos hietogramas de projeto da chuva efetiva, em cada


cenário, são obtidos pelo modelo do SCS, segundo o critério de
separação dos volumes da chuva para os respectivos valores de CN.

Hietograma da precipitação efetiva


(cenário atual)
25
precipitação (mm)

20

15

10

0
25 50 75 100 125 150 175 200 225250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
tempo (min)

Hietograma da precipitação efetiva


(cenário futuro)
35
30
precipitação (mm)

25
20
15
10
5
0
25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400
tempo (min)

Anísio de Sousa Meneses Filho 269


O hidrograma unitário triangular para o cenário atual, considerando os
critérios do SCS, para a estimativa do tempo de pico, do tempo de base
e da vazão de pico é o que se mostra na figura seguinte.

Hidrograma Unitário (cenário atual)


1
vazão (m³/s) por mm de lâmina efetiva
0,9
0,8
0,7
0,6
0,5
de chuva

0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 2 4 6 8 10 12 14
tempo (h)

O cenário futuro, pelos mesmos critérios, porém com o ajuste no valor


do tempo de concentração, apresenta o hidrograma unitário triangular
com a nova configuração.

Hidrograma Unitário (cenário futuro)


1,2
vazão (m³/s) por mm de lâmina eftiva

0,8

0,6

0,4

0,2

0
0 2 4 6 8 10 12
tempo (h)

Entre o cenário atual e o cenário futuro, percebemos, pelo HU, que


ocorre uma nítida elevação do pico de vazão, assim como a sua
antecipação. Isso se deve, essencialmente, ao menor tempo de
concentração da bacia.

A aplicação da metodologia da convolução nos permite gerar os


hidrogramas associados aos hietogramas de projeto nos dois cenários
ocupacionais da bacia.

270 Hidrologia na prática


Hidrogramas de projeto
(comparação de cenários)
80

70

60
cenário futuro
vazão (m³/s)

50
cenário atual
40

30

20

10

0
0 200 400 600 800 1000 1200
tempo (min)

Para a mesma magnitude de risco, atinente a um tempo de retorno de


25 anos, os hidrogramas obtidos indicam um incremento no volume
escoado da ordem de 34% e um incremento da vazão de pico da ordem
de 48%, em cotejo com o cenário atual. O coeficiente de runoff da bacia
aumentou de 0,48 para 0,61.

Mais informações sobre o açude Gavião

Fonte: http://atlas.srh.ce.gov.br/infra-estrutura/acudes/detalhaCaracteristicasTecnicas.php?cd_acude=31&

Anísio de Sousa Meneses Filho 271


Aplicação 44
Tema: Dimensionamento de reservatório pelo critério de Aguiar

Na seção de construção da barragem do Açude Castanhão, o volume médio afluente


anual (estimado no período de 1939 a 1989) é de 2,33 km³, o que corresponde a uma
vazão média de 73,92 m³/s.
Com base no critério de Aguiar, estime a capacidade máxima possível de acumulação na
seção referida, considerando que ainda não houvesse nenhum reservatório a montante.

Desenvolvimento

Sobretudo no semiárido nordestino, a intermitência do escoamento nos


talvegues principais e a variabilidade dos deflúvios anuais, além da
expressiva evaporação, condicionam, de forma singular, a escolha da
capacidade que deve ter o reservatório para prover uma regularização
adequada.

Nesse sentido, houve necessidade de se desenvolverem critérios com


base empírica ou conceitual buscando alcançar o melhor
aproveitamento dos recursos hídricos. O programa de açudagem (que
proporciona um estoque regulador no período entre as chuvas) assume
um caráter fundamental para o desenvolvimento econômico e social de
uma região marcada por secas de grande ou média severidade ao longo
dos anos.

Conforme observa Campos (1996), o trabalho do Engenheiro Francisco


Gonçalves de Aguiar, nos anos 1930, constituiu um marco na história
dos métodos de dimensionamento de açudes no Nordeste brasileiro.

272 Hidrologia na prática


Destacam-se as três linhas de atuação em que se consubstancia o
método de Aguiar77:

x Estimativa do volume afluente médio anual na bacia hidrográfica;


x Desenvolvimento de um critério para a estimativa da capacidade
e do volume regularizado pelo reservatório (açude);
x Estimativa da cheia secular, assumida para o dimensionamento do
dispositivo de extravasão (o vertedouro, conhecido no Nordeste
como sangradouro).

Nesse sentido, as seguintes etapas devem ser percorridas para a


implementação do método:

x Seleção de uma série de precipitações anuais na bacia hidrográfica


em estudo;
x Classificação em ordem crescente dos valores da série, dividindo-
a em duas parcelas: a série de máximas (cuja média é HM) e a
série de mínimas (cuja média é Hm);
x Cálculo, pela fórmula polinomial, das respectivas lâminas escoadas
RM e Rm;
x Cálculo do volume acumulável, multiplicando-se a lâmina das
máximas (RM) pela área da bacia hidrográfica contribuinte;
x Cálculo do volume regularizável, multiplicando-se a lâmina das
mínimas (Rm) pela área da bacia hidrográfica contribuinte.

As fórmulas de Aguiar78 constituem um método simplificado para o


dimensionamento hidrológico de açudes. Nessa concepção,
posteriormente adaptada, a capacidade máxima de acumulação é
estimada em duas vezes o volume afluente médio anual na seção em
que se pretende implantar o barramento. Esse volume pode ser

77
Uma descrição mais detalhada do procedimento de cálculo do método de Aguiar, a partir dos registros históricos de
precipitação, pode ser encontrada em Campos (1996).
78
Francisco Gonçalves Aguiar destacou-se como engenheiro do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas),
à época IFOCS (Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas). É autor da primeira síntese hidrológica do Nordeste brasileiro:
Estudo Hidrométrico do Nordeste (1937). A aplicação de sua metodologia permitiu o dimensionamento, com base
hidrológica, de diversos reservatórios de acumulação hídrica no semiárido nordestino.
Anísio de Sousa Meneses Filho 273
acumulado a partir da construção de uma única barragem ou
espacialmente distribuído em várias barragens a montante.

Estimativa do deflúvio anual (rendimento pluvial da bacia)

ࡾ࢓࢓ ൌ ૛ૡǡ ૞૜Ǥ ࡴ െ ૚૚૛ǡ ૢ૞Ǥ ࡴ૛ ൅ ૜૞૚ǡ ૢ૚Ǥ ࡴ૜ െ ૚૚ૡǡ ૠ૝Ǥ ࡴ૝ , para H > 1,0 m/ano
૛૜૙Ǥࡴି૝૙૙Ǥࡴ૛ ା૚૙૙૙Ǥࡴ૜
ࡾ࢓࢓ ൌ  , para 0,5 < H ≤ 1,0 m/ano
૞ǡ૞

sendo Rmm a lâmina média escoada na bacia hidrográfica (em mm); H


a precipitação média anual na bacia hidrográfica (em m).

Os aspectos geomorfológicos da bacia estão contemplados no


coeficiente adimensional (U) de correção do rendimento do escoamento
superficial, variando de 0,5 (para bacias quase planas, em terreno
arenoso) a 1,4 (para bacias íngremes e rochosas).

O volume médio escoado (Va, em m³) numa bacia de área A (em m²)
se estima com base no relacionamento seguinte.
ࡾ࢓࢓Ǥ ࢁǤ ࡭
ࢂࢇ ൌ
૚૙૙૙
O volume acumulável se estima com base na média da parcela da série
histórica com as maiores vazões (ou seja, HM) que constitui o
argumento de entrada para a obtenção do rendimento (isto é, RM), a
partir de uma das expressões polinomiais acima, conforme o intervalo
de enquadramento. Desse modo:
ࡾࡹ Ǥ ࢁǤ ࡭
ࢂ࡯ ൌ
૚૙૙૙
O volume regularizável do açude, por sua vez, é calculado seguindo as
mesmas premissas, porém considerando agora como argumento de
entrada na pertinente equação polinomial a média da parcela da série
histórica com a menores vazões (ou seja, Hm), com o que se estima o
rendimento (isto é, Rm). Daí:
ࡾ࢓ Ǥ ࢁǤ ࡭
ࢂࡾ ൌ
૚૙૙૙
Define-se o fator de acumulação (ࢌࡷ ) como a razão entre o volume de
acumulação (ࢂ࡯ ) e o volume afluente médio anual (ࢂࢇ ). Esse parâmetro
é útil para a avaliação hidrológica do reservatório.

274 Hidrologia na prática


Consideremos, à guisa de ilustração, a seguinte série histórica anual de
precipitação, referente ao período de 20 anos de dados, de 1913 a
1932, na bacia hidrográfica do reservatório Piranhas, na Paraíba, cuja
área contribuinte é de 1120 km² e o coeficiente do ajuste de rendimento
(U) equivale a 1,0 (bacia média).
precipitação precipitação
ano ano
(mm) (mm)
1913 1151,6 1923 808,0
1914 804,5 1924 1779,1
1915 523,3 1925 1041,2
1916 1252,3 1926 891,6
1917 1304,3 1927 760,2
1918 1109,5 1928 561,2
1919 218,7 1929 1220,1
1920 861,7 1930 660,6
1921 1000,6 1931 683,0
1922 1147,3 1932 446,0

Desenvolvendo a sequência do roteiro, temos:


Volume afluente anual médio:

ࡴ ൌ ૢ૚૚ǡ ૛૝࢓࢓ ൌ ૙ǡ ૢ૚૚૛૝࢓ ࡾ࢓࢓ ൌ ૚૚૞ǡ ૛ૠ࢓࢓ ࢂࢇ ൌ ૚૛ૡǡ ૢࢎ࢓Ϳ


Volume acumulável:

ࡴࡹ ൌ ૚૚ૡૢǡ ૠ૟࢓࢓ ൌ ૚ǡ ૚ૡૢૠ૟࢓ ࡾࡹ ൌ ૛૛ૡǡ ૠૢ࢓࢓ ࢂ࡯ ൌ ૛૞૟ǡ ૜ࢎ࢓Ϳ


Volume regularizável:

ࡴ࢓ ൌ ૟૜૛ǡ ૠ૛࢓࢓ ൌ ૙ǡ ૟૜૛ૠ૛࢓ ࡾ࢓ ൌ ૝૜ǡ ૝૙࢓࢓ ࢂࡾ ൌ ૝ૡǡ ૟ࢎ࢓Ϳ

Fator de acumulação:

ࢂ࡯
ࢌࡷ ൌ ൌ ૚ǡ ૢૢ
ࢂࢇ

Particularmente, neste exemplo, o volume acumulável corresponde a


cerca de duas vezes o volume afluente médio anual. Isso, porém, não
acontece como regra natural.

A prática adotada de multiplicar o volume médio escoado (Va) por 2,


para se estimar a capacidade do reservatório, foi estabelecida durante
muito tempo pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as
Anísio de Sousa Meneses Filho 275
Secas), órgão responsável pela concepção e execução das barragens no
semiárido nordestino. Historicamente79, embora sem a estrita
vinculação do critério ao titular das formulações matemáticas empíricas,
o que se menciona como método de Aguiar resultou de uma sistemática
de uso. Assim, passa a ser (impropriamente):

࡯ ൌ ૛Ǥ ࢂࢇ

Portanto, com base nesse critério, a capacidade máxima possível de


acumulação se estima em 4,66 km³ (ou seja, 4,66 bilhões de m³).

Oportuno, no entanto, observar que a extensão temporal da série


histórica compreende cenários distintos, por exemplo, antes e depois
da construção da barragem do açude Orós, que tornou perene o rio
Jaguaribe a jusante do lago. Por essa razão, a análise dos registros deve
considerar a área de drenagem, principalmente, advindo da bacia do rio
Salgado.

No tratamento de séries históricas de vazões, deve ser reconhecido que


estas tendem a ser menos estáveis do que as séries de precipitações,
porquanto as alterações antrópicas na bacia (por exemplo, a formação
de lago por barramento do leito) repercutem rapidamente na produção
do escoamento (já que as vazões a jusante ficam sujeitas a controle
operacional) e bem pouco no ritmo das mudanças climáticas que
proporcionam as chuvas.

Em que pese o critério acima ter sido amplamente aplicado durante


mais de meio século, cabe reconhecer a sua limitação, haja vista
aspectos atinentes ao processo evaporativo (acentuado com a formação
artificial do lago), sobremodo relevante no semiárido nordestino.

Estudos apontam uma grande variabilidade para o fator de acumulação.


No semiárido nordestino, o valor médio encontrado é da ordem de 1,4.
Portanto, a adoção do critério ૛Ǥ ࢂࢇ pode conduzir, muitas vezes, ao
superdimensionamento de reservatório.

Alguns reservatórios dimensionados pelo método de Aguiar estão com


os elementos básicos reunidos na tabela seguinte, onde C denota a

79
De acordo com Campos (2005), não há confirmação de que o critério 2.Va tenha sido efetivamente proposto por Aguiar.
276 Hidrologia na prática
capacidade de armazenamento, que se supõe equivalente a ࢂ࡯ referido
anteriormente.

açude U Va (hm³) C (hm³) C/Va

Orós 0,70 1.719 3.000 1,75

General Sampaio 0,80 155 322 2,08

Feiticeiro 1,00 11 25 2,27

Cedro 1,30 27 67 2,48


Fonte: Campos (2005)

Não apenas o potencial hidrológico precisa ser levado em conta para a


definição da capacidade do reservatório a ser implantado. Também o
potencial topográfico é importante, notadamente quando a bacia
hidráulica não é compatível com a acumulação máxima prospectada
pelo critério do aporte hídrico. O potencial topográfico, com efeito,
corresponde ao volume máximo que a bacia hidráulica consegue
estocar, condicionado pelo relevo da região e existência de boqueirão
favorável. Em alguns casos, o critério hidrológico prevalece sobre o
critério topográfico; noutras situações, sucede o contrário.

Anísio de Sousa Meneses Filho 277


Aplicação 45
Tema: Dimensionamento de reservatório pelo critério de Campos80

Com base na metodologia do DTR (diagrama triangular de regularização), analise o


desempenho esperado para o reservatório Várzea do Boi, no riacho Carrapateiras, na
bacia do Alto Jaguaribe.
Estime o volume anual regularizado com 90% de garantia.

80
Campos (2005).
278 Hidrologia na prática
Desenvolvimento

O método do diagrama triangular de regularização (DTR), desenvolvido


por Campos (1996)81, leva em conta três fatores:

x fator de forma (D), que retrata a capacidade de acumulação em


função da altura do reservatório (no seu ponto mais profundo)
x fator adimensional de capacidade (fK), que relaciona o volume total
acumulado (K) quando o nível de água se encontra na cota da
soleira do vertedouro e o volume afluente médio (P)
x fator adimensional de evaporação (fE) relacionado à lâmina
evaporada durante a estação seca.

No que se refere às perdas por evaporação, Campos (1996) concluiu,


com base no resultado do processamento para a confecção dos
diagramas atinentes à garantia de 90%, que os grandes reservatórios
apresentam, em média, maior eficiência do que os pequenos
reservatórios.

Os DTRs (diagramas triangulares de regularização) estão


particularizados de acordo com o coeficiente de variação (CV), isto é, a
relação entre o desvio padrão e a média dos volumes que anualmente
afluem ao local do reservatório.

Para a implementação do método DTR, as seguintes etapas devem ser


percorridas:

i. Extrair da série histórica de vazões a média e o desvio padrão;


ii. Estimar o fator de forma (D), que relaciona o volume acumulado
e a cota pela expressão:

ࢂሺࢎሻ ൌ ࢻǤ ࢎ૜

iii. Determinar o fator adimensional de evaporação (fE)


૜Ǥ ࢻ૚Ȁ૜
Ǥ ࡱࢂ ࢌࡱ ൌ
ࣆ૚Ȁ૜
iv. Determinar o fator adimensional de capacidade (fK)

81
Em 1996 foi publicada a primeira edição do livro Dimensionamento de Reservatório (o método do Diagrama Triangular de
Regularização), de autoria do Professor Nilson Campos, da Universidade Federal do Ceará. A edição mais recente, ampliada
com detalhes de aplicabilidade do método, foi publicada em 2005, pelo CNPq.
Anísio de Sousa Meneses Filho 279

ࢌࡷ ൌ

v. Extrair, do diagrama correspondente ao coeficiente de
variação82 da série histórica, as parcelas de extravasão
(sangria), evaporação e utilização e efetivamente regularizado;
vi. Estimar o volume anual regularizado.

A determinação do fator de forma (D) pode ser feita pela tabulação e


plotagem cota e volume. Graficamente, busca-se a reta que melhor se
ajusta aos pontos coordenados no plano cartesiano, em que se
relacionam os valores da altura (h) à terceira potência e o valores do
volume armazenado (V). Assim:

Com o propósito de avaliação do método aplicado a açudes já


existentes, os registros hidrológicos (para a série de afluências anuais)
devem ser referentes a períodos anteriores à construção do
barramento. Para os anos posteriores à formação do lago, devem ser
observados possíveis novos empreendimentos de acumulação que
possam afetar a vazão regularizada.

Não sendo conhecido o valor do desvio padrão das afluências anuais,


por alguma razão, podemos assumir como igual à média. Assim,
portanto, vamos considerar aqui o coeficiente de variação (CV)83 igual
a 1,0.

O DTR correspondente a esse valor de CV é o que segue, extraído de


Campos (2005)84.

82
Coeficiente de variação (CV) é a relação entre o desvio padrão e a média.
83
Campos (2005) orienta a adoção de CV igual a 1,0 quando não disponível essa informação para o açude específico. Esse é
o valor médio regional de CV.
84
Os diagramas triangulares de regularização (DTRs) para outros valores de CV podem ser consultados em Campos (2005).
280 Hidrologia na prática
A figura seguinte esclarece o procedimento de leitura do diagrama.

Anísio de Sousa Meneses Filho 281


Coletamos os seguintes dados referentes ao açude Várzea do Boi:

x Área da bacia hidrográfica: 1.209 km²


x Área da bacia hidráulica: 1.040 ha
x Capacidade: 51,8 hm³ (K)
x Afluência média: 44,4 hm³/ano (P)
x Evaporação média : 1,07 m/ano (EV)
85

x Fator de forma86: 23.577,61 (D)

Aplicando os dados às expressões do método:

Fator adimensional de evaporação:



૜Ǥ ૛૜૞ૠૠǡ ૟૜
ࢌࡱ ൌ ૚ Ǥ ૚ǡ ૙ૠ ൌ ૙ǡ ૛૟
ሺ૝૝ǡ ૝Ǥ ૚૙૟ ሻ૜

85
Referente à soma das evaporações mensais duração a estação seca (de junho a dezembro), já com a aplicação do
coeficiente de correlação (do tanque Classe A).
86
Obtido em Campos (2005), pág. 77.
282 Hidrologia na prática
Fator adimensional de capacidade:
૞૚ǡ ૡ
ࢌࡷ ൌ ൌ ૚ǡ ૚ૠ
૝૝ǡ ૝

A utilização do DTR correspondente ao CV apropriado consiste em


marcar o cruzamento das isolinhas de fE e fK e daí traçar as paralelas
aos eixos atinentes à regularização (release), à sangria (spill) e à
evaporação (evaporation), como esclarece a figura seguinte.

Anísio de Sousa Meneses Filho 283


Conforme se depreende do diagrama acima, o volume regularizado
representa 49% do volume médio afluente anual; o volume vertido pelo
sangradouro representa 32% do volume médio afluente anual; e o
volume evaporado representa 19% do volume médio afluente anual.

Em termos absolutos, a retirada efetiva da reserva (R) equivale a 21,8


hm³/ano. Assim, com nível de 90% de garantia anual:

ࡾૢ૙ ൌ ૙ǡ ૝ૢǤ ૝૝ǡ ૝ ൌ ૛૚ǡ ૡࢎ࢓૜ Ȁࢇ࢔࢕

A retirada efetiva da reserva (ࡾ) deve ser entendida como o volume


médio de retirada, ou seja, o volume total extraído ao longo dos anos
(período de estudo) dividido pela quantidade de anos do período. O seu
valor está sempre associado a uma garantia assumida no fornecimento
da água, o que se indica no subscrito da variável. No caso, essa garantia
anual é de 90%, tendo em vista restrição já presente na confecção dos
DTRs.

O volume anual regularizado (ࡹ), referente à programação de retirada


sempre que houver disponibilidade de água no reservatório, é superior
à retirada efetiva da reserva (ࡾ). A cada ano, não se extrai mais do que
o programado. Campos (1995) sugere, como aproximação:

ࡾૢ૙ ൌ ૙ǡ ૢ૞Ǥ ࡹૢ૙

Portanto, nesta Aplicação, o volume anual regularizado (ࡹ) é de


૛૚ǡ ૡ
ࡹૢ૙ ൌ ൌ ૛૛ǡ ૢࢎ࢓૜ Ȁࢇ࢔࢕
૙ǡ ૢ૞

O volume anual regularizado significa o volume programado para se


retirar a cada ano, a depender, evidentemente, da disponibilidade
hídrica (associada à garantia de 90%). Assim, em 90% dos anos haverá
disponibilidade para retirada de 22,9 hm³, ao longo dos doze meses.

284 Hidrologia na prática


Aplicação 46
Tema: Dimensionamento de reservatório de detenção pelo método da curva envelope

Considere uma área de 16 ha, em Fortaleza (CE), com uma parcela impermeável de 60%
de sua superfície. A vazão de restrição é estimada em 0,060 m³/s.
Estime a capacidade do reservatório de detenção compatível com a condição descrita,
para TR 10 anos e para TR 25 anos.

Deve ser atendida a recomendação de tempo máximo de esvaziamento de 24 horas.

Desenvolvimento

O reservatório de detenção constitui uma medida compensatória para


atenuar os impactos do processo de urbanização na vazão do
escoamento superficial. Os dois principais efeitos produzidos por essa
estratégia de acumulação temporária da água são: i) laminação (ou
abatimento do pico de vazão); ii) retardo do pico de vazão. Portanto,
são efeitos que se orientam contrariamente àquilo que a ocupação
urbana tradicional da bacia provoca, isto é, elevação e antecipação do
pico de vazão, com decorrência direta da maior impermeabilização do
solo e diminuição do tempo de concentração da bacia.

Conhecidos os hidrogramas de entrada e saída do reservatório de


detenção, podemos estimar a capacidade desse dispositivo de
laminação de cheias, com base na área entre as curvas. O reservatório
atinge o seu armazenamento máximo quando se inverte o
posicionamento relativo entre as duas curvas de vazão; isso acontece
no pico de vazão do hidrograma efluente, cujo ponto (no plano
cartesiano) intercepta a cauda de descida do hidrograma afluente.

Anísio de Sousa Meneses Filho 285


A figura seguinte é ilustrativa do efeito produzido pela detenção e
evidencia os principais elementos de projeto.

Os principais elementos de cálculo da detenção se referem à capacidade


de armazenamento, ao tempo de funcionamento e ao tempo de
esvaziamento. Além disso, devem ser observados os efetivos
mecanismos de operacionalização, notadamente o controle da vazão de
saída, conforme os dispositivos presentes.

Quanto à sua configuração e posicionamento em relação ao curso de


água, os reservatórios de detenção podem ser em série (in line),
quando implantados sobre (ou ao longo) do curso de água, ou em
paralelo (off line), quando construídos lateralmente ao curso de água.
Neste caso, o ingresso de água no reservatório ocorre a partir de uma
vazão (ou cota) preestabelecida, ocorrendo o amortecimento do caudal
excedente, que retorna ao curso principal num tempo mais dilatado.
Reservatórios in line tendem a demandar maior área de alagamento. As
figuras ilustram essas duas situações.

286 Hidrologia na prática


Fonte: Manual de Drenagem Urbana – Prefeitura de São Paulo

Na situação em tela, temos:

x Superfície efetiva (AA) de contribuição da bacia a ser atendida pela


detenção: 16 ha x 0,6 = 9,6 ha
x Vazão específica de saída (qS): 0,060 m³/s / 9,6x104 m² = 6,25 x 10-7
m/s = 0,0375 mm/min
x Tempo máximo de esvaziamento: 24 horas.

A relação IDF de Fortaleza (CE) está apresentada na Aplicação 18. O


método de implementação adotado aqui é o da curva envelope (ou
método das chuvas).

A tabela seguinte exibe os valores da curva PDF (precipitação-duração-


frequência), para TR 10 anos e 25 anos, com duração de até 10 horas,
a intervalo de 15 minutos, com a repartição dos valores precipitados
em lâmina liberada nas condições atuais e lâmina detida, ou seja, a
diferença entre a parcela que chega e a que sai do reservatório a cada
porção de tempo.

Anísio de Sousa Meneses Filho 287


ࡰࡼሺ࢚ǡ ࢀࡾሻ ൌ ࡼሺ࢚ǡ ࢀࡾሻ െ ࢗࡿ Ǥ ࢚

lâmina lâmina lâmina lâmina


PDF, para TR 10 anos PDF, para TR 25 anos
liberada detida liberada detida

duração P(t, TR) qs.t DP (t,TR) duração P(t, TR) qs.t DP (t,TR)
t(min) (mm) (mm) (mm) t(min) (mm) (mm) (mm)
15 28,95 0,56 28,39 15 33,93 0,56 33,36
30 44,25 1,13 43,13 30 51,86 1,13 50,73
45 53,97 1,69 52,28 45 63,24 1,69 61,56
60 60,82 2,25 58,57 60 71,26 2,25 69,01
75 65,97 2,81 63,16 75 77,30 2,81 74,49
90 70,03 3,38 66,66 90 82,06 3,38 78,69
105 73,35 3,94 69,41 105 85,95 3,94 82,01
120 76,12 4,50 71,62 120 89,20 4,50 84,70
135 78,49 5,06 73,43 135 91,98 5,06 86,91
150 80,55 5,63 74,93 150 94,39 5,63 88,77
165 82,37 6,19 76,18 165 96,52 6,19 90,33
180 83,99 6,75 77,24 180 98,42 6,75 91,67
195 85,44 7,31 78,13 195 100,12 7,31 92,81
210 86,77 7,88 78,89 210 101,67 7,88 93,79
225 87,97 8,44 79,53 225 103,08 8,44 94,65
240 89,08 9,00 80,08 240 104,38 9,00 95,38
255 90,11 9,56 80,54 255 105,59 9,56 96,02
270 91,06 10,13 80,94 270 106,70 10,13 96,58
285 91,95 10,69 81,26 285 107,74 10,69 97,06
300 92,78 11,25 81,53 300 108,72 11,25 97,47
315 93,57 11,81 81,75 315 109,64 11,81 97,82
330 94,30 12,38 81,93 330 110,50 12,38 98,13
345 95,00 12,94 82,06 345 111,32 12,94 98,38
360 95,66 13,50 82,16 360 112,10 13,50 98,60
375 96,29 14,06 82,23 375 112,83 14,06 98,77
390 96,89 14,63 82,27 390 113,54 14,63 98,91
405 97,47 15,19 82,28 405 114,21 15,19 99,02
420 98,01 15,75 82,26 420 114,85 15,75 99,10
435 98,54 16,31 82,23 435 115,46 16,31 99,15
450 99,04 16,88 82,17 450 116,05 16,88 99,18
465 99,53 17,44 82,09 465 116,62 17,44 99,18
480 99,99 18,00 81,99 480 117,17 18,00 99,17
495 100,44 18,56 81,88 495 117,69 18,56 99,13
510 100,87 19,13 81,75 510 118,20 19,13 99,08
525 101,29 19,69 81,61 525 118,69 19,69 99,00
540 101,70 20,25 81,45 540 119,17 20,25 98,92
555 102,09 20,81 81,28 555 119,63 20,81 98,81
570 102,47 21,38 81,10 570 120,07 21,38 98,70
585 102,84 21,94 80,90 585 120,50 21,94 98,57
600 103,20 22,50 80,70 600 120,92 22,50 98,42

288 Hidrologia na prática


Curvas PDF (precipitação-duração-frequência)
120
100
alturas (mm)

80
60
40
20
0
0 50 100 150 200 250 300 350
duração (min)

P(t, TR) (mm), para TR 10 anos P(t, TR) (mm), para TR 25 anos

Curva envelope (TR 10 anos)


120,00

100,00
alturas (mm)

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00
0 100 200 300 400 500 600 700
duração (min)

P(t, TR) (mm) qs.D (mm) DP (t,TR) (mm)

Curva envelope (TR 25 anos)


140,00
120,00
100,00
alturas (mm)

80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
0 100 200 300 400 500 600 700
duração (min)

P(t, TR) (mm) qs.D (mm) DP (t,TR) (mm)

Anísio de Sousa Meneses Filho 289


Daí podemos estimar o volume a armazenar (VT), o tempo de
funcionamento (tF) e o tempo de esvaziamento (tESV) do dispositivo de
detenção. Assim:

ࢂࢀ ൌ ࡰࡼ࢓ž࢞ ሺ࢙ࢗ ǡ ࢀࡾሻǤ ࡭࡭

ࡼሺ࢚ࡼ ǡ ࢀࡾሻ
࢚ࡲ ൌ
ࢗࡿ

ࡰࡼ࢓ž࢞ ሺ࢙ࢗ ǡ ࢀࡾሻ


࢚ࡱࡿࢂ ൌ
ࢗࡿ

ૡ૛ǡ૛ૡ
Para TR 10 anos: ࢂࢀ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૠૡૢૢ࢓Ϳ
૚૙૙૙

ૢૠǡ ૝ૠ
࢚ࡲ ൌ ൌ ૛૞ૢૢ࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૜ૠ૞

ૡ૛ǡ ૛ૡ
࢚ࡱࡿࢂ ൌ ൌ ૛૚ૢ૝࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૜ૠ૞

ૢૢǡ૚ૡ
Para TR 25 anos: ࢂࢀ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૢǤ ૞૛૚࢓Ϳ
૚૙૙૙

૚૚૟ǡ ૟૛
࢚ࡲ ൌ ൌ ૜૚૚૙࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૜ૠ૞

ૢૢǡ ૚ૡ
࢚ࡱࡿࢂ ൌ ൌ ૛૟૝૞࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૜ૠ૞

Baptista et al. (2011) orientam que, de uma forma geral, o tempo de


esvaziamento não deve ser superior a 24 horas. Nas condições
operacionais desta Aplicação, o tempo de esvaziamento alcançou 36,6
horas para TR 10 anos; e 44,1 horas para TR 25 anos. Nesse caso, a
redução do tempo de esvaziamento pode ser conseguida com o
aumento da vazão de saída (assumida inicialmente 0,06 m³/s) ou,
alternativamente, com a adoção de estruturas de armazenamento em
cascata.

Para tornar o tempo de esvaziamento limitado a, no máximo, 24 horas,


seria necessária uma vazão de saída de, no mínimo, 0,086 m³/s (para
TR 10 anos) ou 0,100 m³/s (para TR 25 anos). Nessas condições
limites:
290 Hidrologia na prática
ૠ૟ǡૡ૚
Para TR 10 anos: ࢂࢀ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૠ૜ૠ૝࢓Ϳ
૚૙૙૙

ૢ૛ǡ ૠૡ
࢚ࡲ ൌ ൌ ૚ૠ૝૛࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૞૜૜

ૠ૟ǡ ૡ૚
࢚ࡱࡿࢂ ൌ ൌ ૚૝૝૙࢓࢏࢔
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Para TR 25 anos: ࢂࢀ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૢ૞૛૚࢓Ϳ
૚૙૙૙

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࢚ࡱࡿࢂ ൌ ൌ ૚૝૝૙࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૟૛૞

Considerando, por hipótese, a inviabilidade de implementação da


primeira proposta (a de ampliar a vazão de restrição), cogitamos aqui
incorporar ao sistema uma segunda detenção. O sistema passa a ter,
então, a seguinte configuração:

Adotamos, no processo inicial de tentativa, como vazão de saída da


primeira detenção um valor cinco vezes maior do que a da segunda
detenção, como mostra a figura acima.

As tabelas seguintes apresentam os valores das lâminas liberada e


detida, para cada duração. Os valores destacados se referem às
máximas lâminas detidas (h1 e h2, em cada reservatório do sistema),
para os TRs de 10 anos e 25 anos.

Anísio de Sousa Meneses Filho 291


Assim, para a primeira detenção (localizada a montante), temos:

Para TR 10 anos:

x Primeira detenção (localizada a montante):


૞૜ǡ૟૟
ࢂࢀ૚ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૞૚૞૚࢓Ϳ
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࢚ࡱࡿࢂ૚ ൌ ൌ ૛ૡ૟࢓࢏࢔
૙ǡ ૚ૡૠ૞

x Segunda detenção (cuja saída corresponde ao exutório):

ࢎ૛ ൌ ሺࢗࡿ૚ െ ࢗࡿ૛ ሻǤ ࢚ࡲ૚

ࢎ૛ ൌ ሺ૙ǡ ૚ૡૠ૞ െ ૙ǡ ૙૜ૠ૞ሻǤ ૜ૢ૚ ൌ ૞ૡǡ ૟૞࢓࢓

ࢂࢀ૛ ൌ ࢎ૛ Ǥ ࡭࡭

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ࢂࢀ૛ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૞૟૜૙࢓Ϳ
૚૙૙૙

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࢚ࡲ૛ ൌ Ǥ ૜ૢ૚ ൌ ૚ૠ૝૛࢓࢏࢔
૙ǡ૙૜ૠ૞
(note-se que, pela equivalência das alturas: qs1.tF1 = qs2.tF2)

࢚ࡱࡿࢂ૛ ൌ ࢚ࢌ૚ െ ࢚ࢌ૛ ࢔

࢚ࡱࡿࢂ૛ ൌ ૚ૠ૝૛ െ ૜ૢ૚ ൌ ૚૜૞૚࢓࢏࢔

292 Hidrologia na prática


Para TR 25 anos:

x Primeira detenção (localizada a montante):

૟૟ǡૠ૙
ࢂࢀ૚ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૟૝૙૜࢓Ϳ
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࢚ࡱࡿࢂ૚ ൌ ൌ ૜૞૟࢓࢏࢔
૙ǡ ૚ૡૠ૞

x Segunda detenção (cuja saída corresponde ao exutório):

ࢎ૛ ൌ ሺ૙ǡ ૚ૡૠ૞ െ ૙ǡ ૙૜ૠ૞ሻǤ ૝ૠ૟ ൌ ૠ૚ǡ ૝૙࢓࢓

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ࢂࢀ૛ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૟ૡ૞૝࢓Ϳ
૚૙૙૙

૙ǡ૚ૡૠ૞
࢚ࡲ૛ ൌ Ǥ ૝ૠ૟ ൌ ૛૜ૡ૙࢓࢏࢔
૙ǡ૙૜ૠ૞

࢚ࡱࡿࢂ૛ ൌ ૛૜ૡ૙ െ ૝ૠ૟ ൌ ૚ૢ૙૝࢓࢏࢔

Tanto o tempo de funcionamento quanto o tempo de esvaziamento são


maiores na detenção de jusante, haja vista sua maior capacidade e
menor vazão de saída.

Os resultados obtidos indicam que, para TR 10 anos, foi atendida a


condição de tempo de esvaziamento (menor do que 24 horas). Porém,
para o cenário de TR 25 anos, esse tempo (de 31,7 horas) ainda precisa
ser reduzido. Para isso, deve ser avaliada a possibilidade de alterar as
vazões controladas ou introduzir mais um dispositivo em cascata. Nesse
caso, optou-se por aumentar a capacidade da primeira detenção,
ajustando a vazão de saída para duas vezes a vazão de saída do
reservatório de jusante (exutório).

Anísio de Sousa Meneses Filho 293


lâmina lâmina lâmina lâmina
PDF, para TR 10 anos PDF, para TR 25 anos
liberada detida liberada detida

duração P(t, TR) qs.D DP (t,TR) duração P(t, TR) qs.D DP (t,TR)
t(min) (mm) (mm) (mm) t(min) (mm) (mm) (mm)
15 28,95 2,81 26,14 15 33,93 2,81 31,11
30 44,25 5,63 38,63 30 51,86 5,63 46,23
45 53,97 8,44 45,53 45 63,24 8,44 54,81
60 60,82 11,25 49,57 60 71,26 11,25 60,01
75 65,97 14,06 51,91 75 77,30 14,06 63,24
90 70,03 16,88 53,16 90 82,06 16,88 65,19
105 73,35 19,69 53,66 105 85,95 19,69 66,26
120 76,12 22,50 53,62 120 89,20 22,50 66,70
135 78,49 25,31 53,18 135 91,98 25,31 66,66
150 80,55 28,13 52,43 150 94,39 28,13 66,27
165 82,37 30,94 51,43 165 96,52 30,94 65,58
180 83,99 33,75 50,24 180 98,42 33,75 64,67
195 85,44 36,56 48,88 195 100,12 36,56 63,56
210 86,77 39,38 47,39 210 101,67 39,38 62,29
225 87,97 42,19 45,78 225 103,08 42,19 60,90
240 89,08 45,00 44,08 240 104,38 45,00 59,38
255 90,11 47,81 42,29 255 105,59 47,81 57,77
270 91,06 50,63 40,44 270 106,70 50,63 56,08
285 91,95 53,44 38,51 285 107,74 53,44 54,31
300 92,78 56,25 36,53 300 108,72 56,25 52,47
315 93,57 59,06 34,50 315 109,64 59,06 50,57
330 94,30 61,88 32,43 330 110,50 61,88 48,63
345 95,00 64,69 30,31 345 111,32 64,69 46,63
360 95,66 67,50 28,16 360 112,10 67,50 44,60
375 96,29 70,31 25,98 375 112,83 70,31 42,52
390 96,89 73,13 23,77 390 113,54 73,13 40,41
405 97,47 75,94 21,53 405 114,21 75,94 38,27
420 98,01 78,75 19,26 420 114,85 78,75 36,10
435 98,54 81,56 16,98 435 115,46 81,56 33,90
450 99,04 84,38 14,67 450 116,05 84,38 31,68
465 99,53 87,19 12,34 465 116,62 87,19 29,43
480 99,99 90,00 9,99 480 117,17 90,00 27,17
495 100,44 92,81 7,63 495 117,69 92,81 24,88
510 100,87 95,63 5,25 510 118,20 95,63 22,58
525 101,29 98,44 2,86 525 118,69 98,44 20,25
540 101,70 101,25 0,45 540 119,17 101,25 17,92
555 102,09 104,06 -1,97 555 119,63 104,06 15,56
570 102,47 106,88 -4,40 570 120,07 106,88 13,20
585 102,84 109,69 -6,85 585 120,50 109,69 10,82
600 103,20 112,50 -9,30 600 120,92 112,50 8,42

294 Hidrologia na prática


Então, para TR 25 anos, temos:
ૡ૟ǡ૝૟
ࢂࢀ૚ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૡ૜૙૙࢓Ϳ
૚૙૙૙

૚૙૞ǡ ૞ૢ
࢚ࡲ૚ ൌ ൌ ૚૝૙ૡ࢓࢏࢔
૙ǡ ૙ૠ૞૙

ૡ૟ǡ ૝૟
࢚ࡱࡿࢂ૚ ൌ ൌ ૚૚૞૜࢓࢏࢔
૙ǡ ૙ૠ૞૙

૞૛ǡ ૡ૙
ࢂࢀ૛ ൌ Ǥ ૢǡ ૟Ǥ ૚૙૝ ൌ ૞૙૟ૡ࢓Ϳ
૚૙૙૙

૙ǡ ૙ૠ૞૙
࢚ࡲ૛ ൌ Ǥ ૚૝૙ૡ ൌ ૛ૡ૚૟࢓࢏࢔
૙ǡ ૙૜ૠ૞

࢚ࡱࡿࢂ૛ ൌ ૛ૡ૚૟ െ ૚૝૙ૡ ൌ ૚૝૙ૡ࢓࢏࢔

A metodologia utilizada aqui permite o dimensionamento dos volumes


das detenções, porém embute algumas premissas simplificadoras, o
que condiciona a sua aplicação a bacias com pequena área de drenagem
(algumas poucas dezenas de hectares). Uma hipótese preliminar
assumida é a da constância da vazão de saída; além disso, considera-
se a transferência instantânea da chuva para o dispositivo de
armazenamento, sem levar em conta a dinâmica pormenorizada do
ingresso dos volumes. Despreza-se, dessa forma, o efeito de
amortecimento associado ao escoamento superficial na área de
drenagem da bacia.

Ademais, convém observar que a curva PDF, integrante do envelope de


dimensionamento, não contempla a dinâmica das contribuições
acumuladas (no tempo) para um conjunto de chuvas, o que torna esse
método restrito a eventos isolados, no seu campo de aplicação, tendo
em vista que, durante o período das chuvas (no verão), os eventos se
sucedem sem que haja, necessariamente, entre eles um tempo
suficiente para a integral drenagem dos volumes de detenção
anteriores.

Anísio de Sousa Meneses Filho 295


Aplicação 47
Tema: Dimensionamento de plano de infiltração

Um plano de infiltração está sendo concebido para o controle das águas de chuva de um
centro comercial, na cidade de Fortaleza, com uma área coberta de 400 m². Para acolher
as águas que precipitam sobre o telhado está sendo disponibilizada uma área descoberta
(no solo) de 60 m².

Estime a profundidade do plano de infiltração necessário, considerando tempos de


retorno de 10 anos e de 25 anos. O material granular (brita) a ser utilizado apresenta
índice de vazios de 0,70 e a permeabilidade do solo é de 0,11 m/h.

Desenvolvimento

O aumento das vazões do escoamento superficial e a antecipação do


pico de vazão são dois efeitos tipicamente associados à
impermeabilização do solo que marca o uso do solo no ambiente
construído. Nesse cenário, os eventos extremos tendem a elevar os
riscos hidrológicos.

A implantação de uma rede de microdrenagem promove uma solução


técnica localizada, podendo, por outro lado, acentuar o impacto nas
áreas a jusante. Por essa opção, o risco é gerenciado com vistas à sua
296 Hidrologia na prática
transferência, o que não corresponde propriamente a uma estratégia
de sustentabilidade de maior abrangência.

Conforme Baptista et al. (2011), técnicas compensatórias de drenagem


são aquelas que buscam neutralizar os efeitos da urbanização sobre os
processos hidrológicos, favorecendo, assim, a qualidade de vida e a
preservação ambiental. A bacia hidrográfica, assumida na sua
amplitude e complexidade, constitui a unidade de estudo para o
estabelecimento das intervenções adequadas, que se contrapõem, na
essência, à abordagem clássica pautada na rápida transferência para
jusante do volume produzido pelo escoamento superficial.

As melhores práticas gerenciais no manejo das águas pluviais, com


vistas a atenuar os impactos negativos, indicam que resultados mais
efetivos são alcançados quando o processo ocupacional na bacia
respeita a vocação do solo e se desenvolve mantendo as vazões
naturais, preservando as características do sistema de macrodrenagem.
Isso é possível quando se inverte a lógica da solução clássica. Um
exemplo de medida não-estrutural é o zoneamento, pautado no
controle da densidade de ocupação e do uso do solo – em que devem
ser observadas, principalmente: a proteção das áreas ambientais
sensíveis, a restrição de desenvolvimento em áreas de risco e outras
áreas de interesse para a gestão de pluviais (por exemplo, para a
construção de medidas estruturais complementares).

As técnicas compensatórias contemplam duas estratégias básicas:


armazenamento e infiltração, processos que são favorecidos pela
implantação de dispositivos artificiais específicos ou adequação
multiuso de equipamentos urbanos já existentes.

No tocante à infiltração, as técnicas mais usuais são o pavimento


permeável, os planos e as trincheiras de infiltração. Esses dispositivos
aproveitam a condutividade hidráulica específica do solo como
mecanismo de saída da água armazenada.

A figura seguinte esclarece as formas de saída dos dispositivos


compensatórios, permitindo uma comparação entre aqueles baseados
na infiltração e os de detenção.

Anísio de Sousa Meneses Filho 297


Fonte: Adaptada de Miguez et al. (2016)

Para o dimensionamento expedito de um plano de infiltração, podemos


aplicar a metodologia da curva-envelope (ou método das chuvas), que
consiste em estimar a lâmina máxima produzida e acumulada, para o
tempo de retorno de projeto, considerando o máximo afastamento
entre a curva PDF (precipitação-duração-frequência) e a curva de
esvaziamento da superfície do solo pelo processo de infiltração. A
execução desse dispositivo proporciona um volume intergranular (nos
vazios do material drenante, por exemplo, a brita) para a acomodação
temporária da água e compatibilização com a capacidade infiltrativa do
solo. Planos de infiltração podem ser implantados em áreas de passeio
ou de tráfego leve. Assim como diversas outras técnicas
compensatórias, esses planos se integram facilmente a outros
elementos paisagísticos – parques públicos são potenciais espaços para
a adoção desses dispositivos de drenagem.

Aplicando a metodologia de dimensionamento à situação descrita,


devemos inicialmente compor a curva PDF (precipitação-duração-
frequência) para Fortaleza. A lâmina (P) de precipitação é o produto da
intensidade (i) pela duração (t). Nesse caso:

૛૜૝૞ǡ૛ૢǤࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜
࢏ൌ
ሺ࢚ା૛ૡǡ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝

૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜ ࢚
ࡼൌ Ǥሺ ሻ
ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝ ૟૙
(lâmina em mm; intensidade da chuva em mm/h; tempo de retorno em anos; duração da chuva em
minutos)

298 Hidrologia na prática


Curvas PDF (precipitação-duração-frequência)
120

100

80
alturas (mm)

60

40

20

0
0 50 100 150 200 250 300 350
duração (min)
P(t, TR) (mm), para TR 10 anos P(t, TR) (mm), para TR 25 anos

A vazão de saída por infiltração (ࡽࡿ ), considerando a área disponível (A)


para o ingresso da água no solo, pode ser estimada por:

ࡽࡿ ൌ ࢻǤ ࢑Ǥ ࡭

Sendo:

D o coeficiente de segurança (adotado 1,0 nesta aplicação); k a


permeabilidade do solo.

ࡽࡿ ൌ ૚ǡ ૙Ǥ ૙ǡ ૚૚Ǥ ૟૙ ൌ ૟ǡ ૟࢓૜ Ȁࢎ

A vazão específica (ࢗࡿ ), ou seja, considerando a área efetiva (࡭ࢋࢌ ) de


contribuição (do telhado do centro comercial) assim se obtém:
ࡽࡿ
ࢗࡿ ൌ
࡭ࢋࢌ


૟ǡ ૟
ࢗࡿ ൌ ൌ ૙ǡ ૙૚૟૞࢓Ȁࢎ
૝૙૙

Anísio de Sousa Meneses Filho 299


Interessa, de fato, estimar o volume de água a ser acumulado
(estocagem temporária), na situação mais crítica, ou seja, para o
evento de chuva cuja duração acarreta o maior déficit entre a lâmina
produzida e a capacidade de infiltração. Significa dizer:

ࢂࢇ࢘࢓ ൌ ሾ࢓ž࢞ሺࡼሺ࢚ǡ ࢀࡾሻ െ ࢗࡿ Ǥ ࢚ሻሿǤ ࡭ࢋࢌ

As tabelas seguintes exibem os valores resultantes do processamento.

PDF, para TR 10 lâmina lâmina lâmina lâmina


PDF, para TR 25 anos
anos liberada detida liberada detida
duração P(t, TR) DP (t,TR) duração P(t, TR) DP (t,TR)
qs.t (mm) qs.t (mm)
t(min) (mm) (mm) t(min) (mm) (mm)
15 28,95 4,13 24,83 15 33,93 4,13 29,80
30 44,25 8,25 36,00 30 51,86 8,25 43,61
45 53,97 12,38 41,60 45 63,24 12,38 50,87
60 60,82 16,50 44,32 60 71,26 16,50 54,76
75 65,97 20,63 45,34 75 77,30 20,63 56,68
90 70,03 24,75 45,28 90 82,06 24,75 57,31
105 73,35 28,88 44,47 105 85,95 28,88 57,07
120 76,12 33,00 43,12 120 89,20 33,00 56,20
135 78,49 37,13 41,37 135 91,98 37,13 54,85
150 80,55 41,25 39,30 150 94,39 41,25 53,14
165 82,37 45,38 37,00 165 96,52 45,38 51,15
180 83,99 49,50 34,49 180 98,42 49,50 48,92
195 85,44 53,63 31,82 195 100,12 53,63 46,50
210 86,77 57,75 29,02 210 101,67 57,75 43,92
225 87,97 61,88 26,10 225 103,08 61,88 41,21
240 89,08 66,00 23,08 240 104,38 66,00 38,38
255 90,11 70,13 19,98 255 105,59 70,13 35,46
270 91,06 74,25 16,81 270 106,70 74,25 32,45
285 91,95 78,38 13,57 285 107,74 78,38 29,37
300 92,78 82,50 10,28 300 108,72 82,50 26,22
315 93,57 86,63 6,94 315 109,64 86,63 23,01
330 94,30 90,75 3,55 330 110,50 90,75 19,75

O valor ሾ࢓ž࢞ሺࡼሺ࢚ǡ ࢀࡾሻ െ ࢗࡿ Ǥ ࢚ሻሿ também pode ser evidenciado nos


gráficos seguintes, assim como nas tabelas anteriores, para cada um
dos TRs considerados.

300 Hidrologia na prática


Curva envelope (TR 10 anos)
100,00

80,00
alturas (mm)

60,00

40,00

20,00

0,00
0 50 100 150 200 250 300 350
duração (min)

P(t, TR) (mm) qs.t (mm) DP (t,TR) (mm)

Curva envelope (TR 25 anos)


120,00

100,00
alturas (mm)

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00
0 50 100 150 200 250 300 350
duração (min)

P(t, TR) (mm) qs.t (mm) DP (t,TR) (mm)

Para TR 10 anos: 
૝૞ǡ ૜૝
ࢂࢇ࢘࢓ ൌ Ǥ ૝૙૙ ൌ ૚ૡǡ ૚૝࢓Ϳ
૚૙૙૙

Para TR 25 anos: 
૞ૠǡ ૜૚
ࢂࢇ࢘࢓ ൌ Ǥ ૝૙૙ ൌ ૛૛ǡ ૢ૛࢓Ϳ
૚૙૙૙

Anísio de Sousa Meneses Filho 301


Considerando a área disponível de 60 m² para a implantação do
dispositivo de armazenamento, temos as seguintes profundidades úteis
(hUT):

Para TR 10 anos: 
૚ૡǡ ૚૝
ࢎࢁࢀ ൌ ൌ ૙ǡ ૜૙࢓
૟૙

Para TR 25 anos: 
૛૛ǡ ૢ૛
ࢎࢁࢀ ൌ ൌ ૙ǡ ૜ૡ࢓
૟૙

O material granular apresenta índice de vazios87 (e) de 0,70, o que


corresponde a uma porosidade (n) de 0,41.
ࢋ ૙ǡૠ
࢔ ൌ ࢋା૚ ࢔ ൌ ૙ǡૠା૚ ൌ ૙ǡ ૝૚

Para a determinação da profundidade total (h) do dispositivo, basta


dividir a profundidade útil (hUT) pela porosidade (n). Assim:
ࢎࢁࢀ
ࢎൌ

Para TR 10 anos:

૙ǡ ૜૙
ࢎൌ ൌ ૙ǡ ૠ૜࢓
૙ǡ ૝૚

Para TR 25 anos:

૙ǡ ૜ૡ
ࢎൌ ൌ ૙ǡ ૢ૜࢓
૙ǡ ૝૚

87
O índice de vazios é a relação entre o volume de vazios (não sólido) e o volume total da amostra de material. A porosidade
é a relação entre o volume de vazios (não sólido) e o volume de sólidos da amostra de material. Esses dois índices físicos são
adimensionais.
302 Hidrologia na prática
Aplicação 48
Tema: Pré-dimensionamento de medidas de controle de cheias, a partir da relação IDF

Estabeleça as equações de pré-dimensionamento das seguintes medidas de controle de


cheias para Fortaleza (CE), tendo por base a relação IDF (i em mm/h; t em min; TR em
anos):
૛૜૝૞ǡ ૛ૢǤ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜
࢏ൌ
ሺ࢚ ൅ ૛ૡǡ ૜૚ሻ૙ǡૢ૙૝

x Reservatório de detenção
x Poço de infiltração
x Trincheira de infiltração
x Pavimento permeável

Desenvolvimento

Uma metodologia de fácil implementação pode ser estabelecida para o


dimensionamento expedito e a avaliação de alternativas de intervenção
no controle de águas pluviais em pequenas bacias, a partir da adoção
de medidas não convencionais.

A propósito, Silveira e Goldenfum (2007) apresentaram expressões


generalizadas que permitem uma estimativa preliminar dos principais
dispositivos de drenagem compensatória, a partir da relação IDF no
formato de Talbot88. Para que essas expressões sejam aproveitadas
quando as IDF disponíveis estão em formato distinto, a migração
adaptativa dos parâmetros se impõe. Assim, como primeira
aproximação, temos:

88
Os diversos formatos de relação IDF estão descritos na Aplicação 14.
Anísio de Sousa Meneses Filho 303
ࢇǤࢀࡾ࢈
࢏ ൌ ሺࢉା࢚ሻࢊ (equação potencial; Keiffer e Chu)

‫כ‬
ࢇ‫ כ‬Ǥࢀࡾ࢈
࢏ൌ (equação de Talbot)
ࢉ‫ כ‬ା࢚
ష૙ǡ૛૟ Ǥࢉ૚ǡ૚૜
ࢇ‫ כ‬ൌ ૙ǡ ૟ૡǤ ࢇǤ ࢋ૙ǡ૙૟Ǥࢊ

࢈‫ כ‬ൌ ࢈

ࢉ‫ כ‬ൌ ૚ǡ ૜૛Ǥ ࢊି૛ǡ૛ૡ Ǥ ࢉ૙ǡૡૢ

Em muitos casos, porém, surge a necessidade adicional da introdução


de um fator de ajuste. A verificação em plano cartesiano para o eventual
ajuste se baseia na aderência (esperada) ao eixo bissetriz na plotagem
de i para ambas as expressões, como ilustra a figura seguinte.

Verificação de aderência na conversão dos


parâmetros
10
i pela expressão de Talbot

0
0 2 4 6 8 10
i pela expressão potencial (Keiffer e Chu)

A primeira estimativa dos parâmetros adaptados resulta, para a relação


IDF de Fortaleza:
ష૙ǡ૛૟ Ǥ૛ૡǡ૜૚૚ǡ૚૜
ࢇ‫ כ‬ൌ ૙ǡ ૟ૡǤ ૛૜૝૞ǡ ૜ૢǤ ࢋ૙ǡ૙૟Ǥ૙ǡૢ૙૝ ൌ ૛૜૞૟૟ǡ ૚

࢈‫ כ‬ൌ ૙ǡ ૚ૠ૜

ࢉ‫ כ‬ൌ ૚ǡ ૜૛Ǥ ૙ǡ ૢ૙૝ି૛ǡ૛ૡ Ǥ ૛ૡǡ ૜૚૙ǡૡૢ ൌ ૜૛ǡ ૟

Verifiquemos, então, a aderência ao eixo bissetriz. A conversão


realizada deve efetivar uma equivalência nas intensidades obtidas pelas
duas formatações IDF.

304 Hidrologia na prática


Primeira aproximação de ajuste paramétrico
900
i pela expressão de Talbot (primeira 800 cotejo das formatações
700
função identidade (y=x)
600
aproximação)

500
400
300
200
100
0
0 20 40 60 80 100 120 140
i pela expressão potencial (Keiffer e Chu)

Evidencia-se, nesse caso, a necessidade do aprimoramento na


conversão, o que se alcança com a introdução de um fator (de
minoração) do parâmetro a* de 0,16. Assim, a relação IDF de Fortaleza
na formatação de Talbot se escreve:

૜ૠૠ૙ǡ ૟Ǥ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜
࢏ൌ
૜૛ǡ ૟ ൅ ࢚

(i em mm/h; t em min; TR em anos)

A figura seguinte confirma a qualidade do ajuste, haja vista a boa


aderência à reta da função identidade, com erro médio relativo de
2,6%.

Verificação e validação do ajuste paramétrico


140

120
i pela expressão de Talbot

100

80

60

40

20

0
0 20 40 60 80 100 120 140
i pela expressão potencial (Keiffer e Chu)

Anísio de Sousa Meneses Filho 305


As expressões generalizadas para o pré-dimensionamento de volume
das medidas de controle se baseiam na maximização da diferença entre
a lâmina de água acumulada de entrada (HE) e a lâmina de água
acumulada de saída (HS). Essas alturas (HE e HS) são apuradas sobre a
projeção (em planta) da medida de controle.
ࣔࢂ ࣔሺࡴࡱ െ ࡴࡿ ሻ
ൌ ൌ૙
࢚ࣔ ࢚ࣔ

ࢂ࢓ž࢞ ൌ ࡰࡼ࢓ž࢞ ሺࢗࡿ ǡ ࢀࡾሻ ൌ ࢓ž࢞ሾࡼሺ࢚ǡ ࢀࡾሻ െ ࢗࡿ Ǥ ࢚ሿ


ൌ ࡼሺ࢚ࡼ ǡ ࢀࡾሻ െ ࢗࡿ Ǥ ࢚ࡼ

Aqui a capacidade da medida de controle (ࢂ࢓ž࢞ ) se expressa como


lâmina (em mm).

O desenvolvimento algébrico das expressões acima permite tornar


implícito o valor da duração da chuva (࢚ࡼ ) que maximiza a capacidade
do dispositivo de drenagem. Dessa forma, o valor de ࢚ࡼ (indicado na
figura acima) passa a ser função dos parâmetros da chuva e das
características geométricas e operacionais da medida de controle.

Assim:
‫כ‬
ࢇ‫ כ‬Ǥ ࢀࡾ࢈ ࢚
ࡴࡱ ൌ ࢼǤ Ǥ
࢚ ൅ ࢉ‫ כ‬૟૙

ࡴࡿ ൌ ࢽǤ ࡴǤ ࢗࡿ Ǥ
૟૙
As expressões de ࢼ e ࢽ são específicas para o dispositivo adotado, o
que se verá adiante.

Podemos, então, formular as expressões aplicáveis a Fortaleza (CE),


referentes às medidas de controle selecionadas, como segue:
306 Hidrologia na prática
Reservatório de detenção:


ࢇ‫כ‬ ࢈‫כ‬ ࢉ‫כ‬
ࡴ ൌ ࢂ࢓ž࢞ ൌ ቌඨ Ǥ ξ࡯Ǥ ࢀࡾ ૛ െ ඨ Ǥ ඥࢗࡿ ቍ
૟૙ ૟૙

Considerando o leito impermeável, podemos estabelecer: ࢗࡿ ൌ ࢗ࢖࢘ࢋ


૜ૠૠ૙ǡ ૟ ૜૛ǡ ૟
ࡴ ൌ ࢂ࢓ž࢞ ൌ ቌඨ Ǥ ξ࡯Ǥ ࢀࡾ૙ǡ૚ૠ૜Ȁ૛ െ ඨ Ǥ ඥࢗ ࡿ ቍ
૟૙ ૟૙


ࡴ ൌ ࢂ࢓ž࢞ ൌ ൫ૠǡ ૢ૜Ǥ ξ࡯Ǥ ࢀࡾ૙ǡ૙ૡૠ െ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ඥࢗࡿ ൯

Exemplo de aplicação:
x Área contribuinte (A): 30 ha
x Tempo de concentração (tc): 25 min
x Coeficiente de escoamento superficial: 0,60
x Intensidade da chuva (para TR 5 anos e t=tc): 85,13 mm/h
x Vazão de restrição (efluente máximo da detenção): 20 L/(s.ha) (≈ 7,2mm/h)

ࡴ ൌ ࢂ࢓ž࢞ ൌ ൫ૠǡ ૢ૜Ǥ ξ૙ǡ ૟Ǥ ૞૙ǡ૙ૡૠ െ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ξૠǡ ૛൯ ൌ ૛૞ǡ ૡ૚࢓࢓ ൌ ૛૞ૡǡ ૚࢓૜ Ȁࢎࢇ

Portanto: a capacidade requerida para a detenção é estimada em 7.743 m³,


considerando o reservatório com leito impermeável. Essa capacidade pode ser
obtida, por exemplo, com um espelho de água de 5.000 m² com profundidade
média útil de aproximadamente 1,55 m, o que corresponde a uma ocupação de
cerca de 1,66% da área contribuinte de drenagem. Alternativamente, para reduzir
o tamanho da detenção, poder-se-ia avaliar a adoção de uma bacia de detenção
com fundo permeável para infiltração.

Anísio de Sousa Meneses Filho 307


Poço de infiltração:


࢑૚ Ǥ ൫࢑૛ െ ඥࣁ൯
ࡴൌቈ ቉
ࣁ െ ࢑૛૛

ࢇ‫כ‬ ࢈‫כ‬
࢑૚ ൌ ඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ൗ૛
૟૙

ࢉ‫כ‬
࢑૛ ൌ ඨ Ǥ ඥࢽǤ ඥࢗࡿ 
૟૙


ࢽൌ

૝Ǥ ࡯Ǥ ࡭
ࢼൌ
࣊Ǥ ࡰ૛

૜ૠૠ૙ǡ ૟ ૙Ǥ૚ૠ૜ൗ
࢑૚ ൌ ඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ૛
૟૙

૜૛ǡ ૟
࢑૛ ൌ ඨ Ǥ ඥࢽǤ ඥࢗࡿ 
૟૙

૜ૠૠ૙ǡ ૟ ૙Ǥ૚ૠ૜ൗ
࢑૚ ൌ ඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ૛
૟૙

૜૛ǡ ૟
࢑૛ ൌ ඨ Ǥ ඥࢽǤ ඥࢗࡿ 
૟૙

࢑૚ ൌ ૠǡ ૢ૜Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ૙ǡ૙ૡૠ ࢑૛ ൌ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ξࢽǤ ඥࢗࡿ 

308 Hidrologia na prática


Exemplo de aplicação:
x Área contribuinte (A): 0,6 ha (6000 m²)
x Coeficiente de escoamento superficial: 0,60
x Permeabilidade do solo (Ksat): 40 mm/h
x Fator redutor (D) devido à colmatação: 0,25
x Período de retorno (TR) da precipitação: 2 anos
x Diâmetro do poço: 12 m
x Porosidade (ࣁ) da brita de preenchimento: 0,4

ࢽ ൌ ૙ǡ ૙૙૙૝࢓࢓ି૚

૝Ǥ ૙ǡ ૟Ǥ ૟૙૙૙
ࢼൌ ൌ ૜૚ǡ ૡ૜
࣊Ǥ ૚૛૛
ࢗࡿ ൌ ૝૙Ǥ ૙ǡ ૛૞ ൌ ૚૙࢓࢓Ȁࢎ

࢑૚ ൌ ૠǡ ૢ૜Ǥ ඥ૜૚ǡ ૡ૜Ǥ ૛૙ǡ૙ૡૠ ൌ ૝ૠǡ ૞૛

࢑૛ ൌ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ඥ૙ǡ ૙૙૙૝Ǥ ξ૚૙ ൌ ૙ǡ ૙૝૟ૡ


૝ૠǡ ૞૛Ǥ ൫૙ǡ ૙૝૟ૡ െ ξ૙ǡ ૝൯
ࡴൌቈ ቉ ൌ ૝Ǥ ૡૢ૝ǡ ૛૞࢓࢓
૙ǡ ૝ െ ૙ǡ ૙૝૟ૡ૛

Portanto: a profundidade requerida para o poço de infiltração é da ordem de 5,0 m,


considerando o seu diâmetro proposto de 12,0 m. Tendo em vista essas dimensões
muito significativas e as consequentes dificuldades de execução, poder-se-ia,
alternativamente, avaliar a conveniência de se implantarem diversos poços
menores para atender àquela área contribuinte de drenagem. Por exemplo, quatro
poços, cada um deles com 8 m de diâmetro – nesse caso, a profundidade necessária
para cada poço seria da ordem de 2,7 m. Embora a profundidade seja bem menor,
o que facilita o processo de execução, o volume total de escavação, para os quatro
poços, traria uma redução de 3,6%, apenas.

Anísio de Sousa Meneses Filho 309


Trincheira de infiltração:


࢑૚Ǥ ൫࢑૛ െ ඥࣁ൯
ࡴൌቈ ቉
ࣁ െ ࢑૛૛

ࢇ‫כ‬ ࢈‫כ‬
࢑૚ ൌ ඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ൗ૛
૟૙

ࢉ‫כ‬
࢑૛ ൌ ඨ Ǥ ඥࢽǤ ඥࢗࡿ 
૟૙

࡯Ǥ ࡭
ࢼൌ
࡮Ǥ ࡸ

ࢽൌ

૜ૠૠ૙ǡ ૟ ૙Ǥ૚ૠ૜ൗ
࢑૚ ൌ ඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ૛
૟૙

૜૛ǡ ૟
࢑૛ ൌ ඨ Ǥ ඥࢽǤ ඥࢗࡿ 
૟૙

࢑૚ ൌ ૠǡ ૢ૜Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ૙ǡ૙ૡૠ ࢑૛ ൌ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ξࢽǤ ඥࢗࡿ 

Exemplo de aplicação:
x Área contribuinte (A): 1,2 ha
x Coeficiente de escoamento superficial (C): 0,90
x Permeabilidade do solo (Ksat): 40 mm/h
x Fator redutor (D) devido à colmatação: 0,25
x Período de retorno (TR) da precipitação: 2 anos

310 Hidrologia na prática


x Comprimento da trincheira (L): 90 m
x Largura da trincheira (B): 0,85 m
x Porosidade (ࣁ) da brita de preenchimento: 0,4

૙ǡ ૢǤ ૚૛૙૙
ࢼൌ ൌ ૚૝ǡ ૚૛
૙ǡ ૡ૞Ǥ ૢ૙

ࢽൌ ൌ ૙ǡ ૙૙૛૝࢓࢓ି૚
ૡ૞૙
ࢗࡿ ൌ ૝૙Ǥ ૙ǡ ૛૞ ൌ ૚૙࢓࢓Ȁࢎ

࢑૚ ൌ ૠǡ ૢ૜Ǥ ඥ૚૝ǡ ૚૛Ǥ ૛૙ǡ૙ૡૠ ൌ ૜૚ǡ ૟૞

࢑૛ ൌ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ඥ૙ǡ ૙૙૛૝Ǥ ξ૚૙ ൌ ૙ǡ ૚૚૜૞



૜૚ǡ ૟૞Ǥ ൫૙ǡ ૚૚૜૞ െ ξ૙ǡ ૝൯
ࡴൌቈ ቉ ൌ ૚ૡ૙૙࢓࢓
૙ǡ ૝ െ ૙ǡ ૚૚૜૞૛

Portanto: a profundidade requerida para a trincheira é da ordem de 1,80 m,


considerando a sua largura proposta de 0,85 m. A profundidade pode ser diminuída
com a adoção de uma largura maior – por exemplo, para uma nova largura de 1,0
m, a profundidade requerida passaria a ser de 1,57 m.

Pavimento permeável:


ࢇ‫כ‬ ࢈‫כ‬ ࢉ‫כ‬
ࢂ࢓ž࢞ ൌ ቌඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ൗ૛ െ ඨ Ǥ ඥࢗࡿ ቍ
૟૙ ૟૙

Anísio de Sousa Meneses Filho 311


࡭࢖ࢇ࢜ ൅ ࡯Ǥ ࡭
ࢼൌ
࡭࢖ࢇ࢜

ࢂ࢓ž࢞
ࡴൌ


૜ૠૠ૙ǡ ૟ ૙ǡ૚ૠ૜ൗ ૜૛ǡ ૟
ࢂ࢓ž࢞ ൌ ቌඨ Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ ૛െඨ Ǥ ඥ ࢗࡿ ቍ
૟૙ ૟૙


ࢂ࢓ž࢞ ൌ ൫ૠǡ ૢ૜Ǥ ඥࢼǤ ࢀࡾ૙ǡ૙ૡૠ െ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ඥࢗࡿ ൯

Exemplo de aplicação:
x Área contribuinte (A): 0,5 ha
x Área do pavimento permeável (Apav): 0,2 ha
x Coeficiente de escoamento superficial (C): 0,60
x Intensidade da chuva (para TR 2 anos e t=tc=10 min): 97,94 mm/h
x Permeabilidade do solo (Ksat): 30 mm/h
x Fator redutor (D) devido à colmatação: 0,1
x Período de retorno (TR) da precipitação: 2 anos
x Porosidade (ࣁ) da brita de preenchimento: 0,4

૙ǡ ૛ ൅ ૙ǡ ૞Ǥ ૙ǡ ૟
ࢼൌ ൌ ૛ǡ ૞
૙ǡ ૛

ࢗࡿ ൌ ૜૙Ǥ ૙ǡ ૚ ൌ ૜࢓࢓Ȁࢎ


ࢂ࢓ž࢞ ൌ ቀૠǡ ૢ૜Ǥ ඥ૛ǡ ૞Ǥ ૛૙ǡ૙ૡૠ െ ૙ǡ ૠ૝Ǥ ξ૜ቁ ൌ ૚૝૞࢓࢓

૚૝૞
ࡴൌ ൌ ૜૟૜࢓࢓
૙ǡ ૝

Portanto: a camada de brita de porosidade 0,4 deve ter espessura de 36,3 cm sob
o pavimento drenante para prover as condições de drenagem compatíveis com a
chuva de projeto.

312 Hidrologia na prática


Onde:
K : porosidade do material de enchimento da camada porosa
E: produto da coeficiente de escoamento superficial pela razão entre a área
contribuinte e a área do dispositivo de controle
J: razão entre a área de percolação e o volume do dispositivo de controle (mm-1)
ࢗࡿ : vazão de saída do dispositivo (mm/h)
C : coeficiente de escoamento superficial da área de contribuição
A : área contribuinte ao dispositivo de controle (m²)
L, B e D : dimensões do dispositivo (m)
Vmáx : volume máximo (ou capacidade) do dispositivo (mm)
H : profundidade do dispositivo (mm)

Note-se que 1 mm (como expresso para Vmáx e H) corresponde a 10 m³/ha.

Anísio de Sousa Meneses Filho 313


Aplicação 49
Tema: Reservatório de retenção

Proponha a capacidade de um reservatório de detenção para uma área contribuinte de


2,0 km², com tempo de concentração de 50 minutos, cujo pico atual de vazão de 25 m³/s
deve ser reduzido em 50%.

Desenvolvimento

O reservatório de retenção se diferencia do reservatório de detenção


por apresentar uma lâmina de água permanente, ou seja, o espelho de
água fica disponível (para apreciação paisagística) mesmo fora da
quadra chuvosa. Nesse caso, os requisitos atinentes ao controle de
quantidade se somam àqueles referentes a outros fins, por exemplo a
melhoria da qualidade da água.

As figuras seguintes esclarecem. À esquerda, o reservatório de


retenção, no qual a saída da água ocorre somente a partir de um
determinado nível (soleira do vertedouro); à direita, o reservatório de
detenção, em que a vazão efluente inicia bem antes do seu enchimento,
haja vista o orifício próximo ao fundo.

Fonte: Adaptadas de Maidment (1993)

314 Hidrologia na prática


De acordo com Miguez et al. (2016), o pré-dimensionamento do volume
requerido para um reservatório de retenção deve contemplar três
parcelas:

ࢂࡾ ൌ ࢂࡸ ൅ ࢂࡽ ൅ ࢂ࡯

ࢂࡸ ൌ ૜Ǥ ࢂࡽ (volume permanente)

ࢂࡽ ൌ ࡼࢌࢌ Ǥ ࡭ (volume de lavagem)

ࢂ࡯ ൌ ࢚ࢉ Ǥ ൫ࡽ࢖ࢇ െ ࡽ࢖ࢋ ൯ (volume de amortecimento)

A parcela relativa à carga de ‘primeira lavagem’ (first flush, que se


refere à remoção inicial do material acumulado no período entre
chuvas) não é pacífica na literatura. Baptista et al. (2011) mencionam
o reconhecimento do efeito de carga inicial de poluição quando mais de
80% da carga poluente é transportada por até 30% do volume
acumulado. De outra parte, Porto (1995) esclarece que esse fenômeno
é mais frequente em pequenas bacias; caso a carga de lavagem se
verifique, em cerca de 20% do volume total conterá 80% da carga
poluidora. Outra observação de interesse é que, conforme USEPA
(1974) apud Porto (1995), uma chuva excedente de 12,5mm (por
exemplo, 25 mm/h durante 30 minutos) consegue remover 90% do
material particulado depositado sobre superfícies impermeáveis. É
razoável, portanto, a destinação desse volume para uma estação de
tratamento adequado.

Nesta Aplicação, para a estimativa do volume ࢂࡽ , assumimos como


suficiente a lâmina de 12,5mm. Assim:

ࢂࡽ ൌ ૙ǡ ૙૚૛૞Ǥ ૛ǡ ૙Ǥ ૚૙૟ ൌ ૛૞૙૙૙࢓Ϳ

Daí podemos estimar a parcela do lago permanente (ࢂࡸ ):

ࢂࡸ ൌ ૜Ǥ ૛૞૙૙૙ ൌ ૠ૞૙૙૙࢓Ϳ

A terceira parcela (ࢂ࡯ ), atinente à laminação, corresponde ao


armazenamento temporário para o controle de cheias – essa capacidade

Anísio de Sousa Meneses Filho 315


estará ociosa algumas horas após o evento chuvoso. A sua estimativa
pode ser obtida assim:

ࢂ࡯ ൌ ૞૙Ǥ ૟૙Ǥ ሺ૛૞ െ ૚૛ǡ ૞ሻ ൌ ૜ૠ૞૙૙࢓Ϳ

Portanto, a capacidade total do reservatório de retenção fica:

ࢂࡾ ൌ ૠ૞૙૙૙ ൅ ૛૞૙૙૙ ൅ ૜ૠ૞૙૙ ൌ ૚૜ૠ૞૙૙࢓Ϳ

Um corte longitudinal sugestivo de reservatório de retenção é mostrado


a seguir.

316 Hidrologia na prática


Aplicação 50
Tema: Dimensionamento de rede de microdrenagem de águas pluviais

Estabeleça um roteiro básico e dimensione o trecho mais a montante da rede de


drenagem apresentada na figura seguinte, para a cidade de Fortaleza.
Considere uma modulação padrão do arruamento, com todas as quadras de mesma
dimensão, e coeficiente de runoff de 0,70.

Desenvolvimento

A estratégia convencional de drenagem das águas pluviais consiste


numa rede de condutos que proporcione a sua remoção tão rápida e
segura quanto possível.

Em drenagem urbana, é pegar e largar logo! – essa era a lógica na


fase higienista, em época anterior às técnicas compensatórias das
medidas de controle. Não é mais!
Anísio de Sousa Meneses Filho 317
Canholi (2016) adverte, citando estudos de Leopold (1968), que o
crescimento da área urbana atendida por canalização de águas pluviais
tende a elevar o pico de cheias. Segundo ele, “a aceleração dos
escoamentos resultante das canalizações dos sistemas de drenagem
torna-se mais deletéria quanto ao potencial de provocar inundações do
que a própria impermeabilização da bacia”. Em casos extremos, quando
toda a bacia já se encontra com sua área impermeável e servida por
sistema convencional de drenagem, a vazão de pico chega a ser
superior a 6 vezes a descarga do cenário pré-urbanização.

No entanto, os sistemas podem integrar diversas soluções aditivas e


complementares para otimizar o desempenho. Assim, não se deve
desconsiderar a estratégia da microdrenagem tradicional, cujo projeto
reúne os dispositivos de captação e condução segura das águas da área
tratada para algum corpo hídrico capaz de recebê-las, sem agudizar as
condições a jusante. Nesse caso, a transferência do caudal deve ser
pautada por uma percepção mais ampla dos impactos que estão sendo
produzidos.

A fórmula empírica de Manning permite estimar a velocidade (v) e a


vazão (Q) do escoamento superficial, considerando o regime
permanente uniforme, nos condutos livres (sarjetas, galerias). Essa
formulação se baseia na relação de Chézy, levando em conta a
rugosidade (n) do canal, o raio hidráulico (Rh), a área da seção molhada
(Am) e a declividade do canal (I).

૚ ૛Ȁ૜ ૚Ȁ૛
࢜ൌ Ǥࡾ Ǥࡵ
࢔ ࢎ

૚ ૛ൗ૜ ૚ൗ
ࡽൌ Ǥ ࡾ Ǥ ࡵ ૛ Ǥ ࡭࢓
࢔ ࢎ

Para uma seção circular de diâmetro D, com escoamento livre, podemos


expressar a velocidade e a vazão em termos de n, D e I. Assim, sendo
T o ângulo central (em radianos), como indicado na figura seguinte:

318 Hidrologia na prática


૚ ࢙ࢋ࢔ࣂ ૛Ȁ૜
࢜ൌ Ǥ ࡰ૛Ȁ૜ Ǥ ࡵ૚Ȁ૛ Ǥ ቀ૚ െ ቁ
૛ǡ૞૛Ǥ࢔ ࣂ

૚ ሺࣂି࢙ࢋ࢔ࣂሻ૞Ȁ૜
ࡽൌ Ǥ ࡰૡȀ૜ Ǥ ࡵ૚Ȁ૛ Ǥ
૛૙ǡ૛Ǥ࢔ ࣂ૛Ȁ૜

A máxima velocidade no conduto circular ocorre quando o tirante (࢟) é


igual a 0,81.D, enquanto a máxima vazão acontece quando o tirante
equivale a 0,94.D.

Ainda tendo em vista os aspectos geométricos da seção, extraímos as


seguintes relações, lembrando que o raio hidráulico (ࡾࢎ ) é definido
como a relação entre a área molhada e o perímetro molhado:

ሺࣂ െ ࢙ࢋ࢔ࣂሻ
࡭࢓ ൌ ࡰ૛ Ǥ

൫૚ െ ࢙ࢋ࢔ࣂൗࣂ൯
ࡾࢎ ൌ ࡰǤ

ቀ૚ െ ࢉ࢕࢙൫ࣂൗ૛൯ቁ
࢟ ൌ ࡰǤ

Alguns critérios básicos de dimensionamento estão associados à
declividade dos condutos e à velocidade máxima que deve ser
permitida. Conforme orienta Tomaz (2011), as tubulações devem ser
dimensionadas com o tirante máximo de 80% do seu diâmetro e com
velocidades entre 0,6 m/s e 5,0 m/s. Recomenda-se uma declividade
mínima para cada trecho da rede de 0,5%, com a verificação adicional
da tensão trativa. Usualmente, são empregados tubos circulares de

Anísio de Sousa Meneses Filho 319


concreto com diâmetro entre 0,4 m e 1,5 m, porém essas prescrições
podem variar de acordo com as normas municipais.

O roteiro básico atinente ao projeto de rede de drenagem de águas


pluviais é o seguinte, com desenvolvimento de cálculo de montante para
jusante:

i. traçado da rede de condutos em planta, com a indicação


locacional das bocas-de-lobo e poços de visita89, considerando
criteriosamente a orientação da topografia da área que está
sendo tratada;
ii. estabelecimento do tempo de retorno90 (TR) da precipitação de
projeto, tendo em vista a magnitude do risco assumido;
iii. estimativa do tempo de concentração (tc) de área contribuinte;
iv. aplicação da relação IDF (intensidade-duração-frequência) da
área em estudo, considerando a duração da chuva equivalente
ao tempo de concentração da área contribuinte, a cada trecho;
v. determinação do coeficiente de escoamento superficial (C),
ponderando-o em caso de cobertura diversificada no solo;
vi. aplicação do método racional para a estimativa da vazão
máxima naquele ponto de ingresso na rede (boca-de-lobo);
vii. estabelecimento do diâmetro e da declividade compatíveis para
a vazão do trecho da galeria, considerando aspectos técnicos e
de custos;
viii. determinação do tempo de viagem ao longo do trecho,
dividindo-se a extensão do trecho pela velocidade média de
escoamento (na vazão de projeto);
ix. atualização do valor do tempo de concentração, somando-se ao
tc calculado anteriormente (item viii);
x. retorno à etapa (iii) para o sequenciamento do cálculo, até
contemplar todos os trechos da rede.

Quanto à disposição dos poços de visita, Miguez et al. (2016)


recomendam que o espaçamento entre eles não deve ultrapassar 100

89
Ou caixas de ligação, quando não visitáveis.
90
Em geral, de 10 a 25 anos, de acordo com o que estabelece o normativo municipal.
320 Hidrologia na prática
metros, para facilitar a manutenção da rede. No entanto, os normativos
municipais podem estabelecer limites diferentes e até mais restritivos.

O lançamento proposto para a rede, com indicação dos poços de visita,


está apresentado a seguir.

Nos trechos indicados em cor mais escura, serão implantados os


condutos (subterrâneos) para o escoamento livre (não forçado). Nos
demais trechos (em tom mais claro), a contribuição formada escoa
superficialmente (telhados, calçadas, ruas, sarjetas) até alcançar o poço
de visita mais próximo, daí prosseguindo na rede com destino ao corpo
hídrico receptor. Por exemplo, o trecho entre os poços de visita P1 e P2
é dimensionado para comportar a vazão formada a montante de P1; o
trecho subsequente a P2 (ou seja, de P2 a P4) é dimensionado para
comportar a vazão que chega a P2 pelo conduto mais a vazão superficial
produzida em parte das três quadras mais próximas a montante de P2.
E daí em diante, até o último trecho, como esclarece a figura seguinte.

No trecho mais a montante de P1, o tempo de duração da chuva pode


ser estimado da ordem de 5 a 10 minutos. Nos trechos subsequentes,
o tempo vai sendo acumulado com a adição do tempo de viagem, obtido
pela razão entre a extensão do trecho e a velocidade de escoamento no
interior do conduto. Quando a um mesmo poço de visita afluem vários
trechos com diferentes tempos de viagem, deve ser considerado, no
Anísio de Sousa Meneses Filho 321
cálculo da precipitação, o maior dos tempos de concentração das áreas
contribuintes de montante.

O suporte da Hidrologia nesse processo de cálculo reside na estimativa


da vazão superficial que ingressa em cada poço de visita (com acesso
pelas bocas-de-lobo), o que se faz pela aplicação do método racional
atendidos os seus pressupostos, entre eles a duração da chuva uniforme
compatível com o tempo de concentração da área contribuinte. No mais,
o encadeamento das etapas tem base essencialmente na hidráulica,
com suas relações clássicas empíricas (de regime permanente
uniforme) e num arranjo simplificado suficiente para satisfazer o nível
de risco de cheia vinculado ao tempo de retorno preestabelecido.

No trecho de conduto mais a montante da rede, temos:

322 Hidrologia na prática


Vazão que ingressa na galeria por P1:

x Tempo de contribuição da chuva: 5 minutos


x Intensidade da chuva de Fortaleza para TR 20 anos: 165,53 mm/h
x Área contribuinte: 4.000 m²
x Coeficiente de distribuição: 1,00
x Coeficiente de deflúvio (critério de Fantoli): 0,48
x Vazão máxima (pelo método racional): 0,09 m³/s
x Diâmetro da tubulação (n=0,013 s.m-1/3), para enchimento 80%: 0,285m
x Diâmetro adotado: 0,400 m
x Enchimento (y/D): 0,44
x Velocidade no trecho P1-P2 da tubulação: 1,69 m/s
x Declividade do trecho P1-P2 da tubulação: 0,012
x Tempo de viagem no trecho P1-P2 da tubulação: 0,99 min

Contribuição da parcela da bacia que ingressa na galeria por P2:

x Área: 8.000 m²
x Duração da chuva: 5,99 min
x Intensidade da chuva: 161,20 mm/h
x Coeficiente de distribuição: 1,00
x Coeficiente de deflúvio (critério de Fantoli): 0,50
x Vazão adicionada: 0,18 m³/s

Em geral, tabelas estão disponíveis nos manuais de hidráulica para


facilitar o processo de dimensionamento de galerias circulares. Essas
tabelas, por exemplo, relacionam o enchimento (y/D) com os
parâmetros adimensionais ࢉ૚ , ࢉ૛ e ࢉ૜ , assim definidos:
࡭࢓
ࢉ૚ ൌ
ࡰ૛
࢔Ǥ ࡽ
ࢉ૛ ൌ
ξࡵǤ ࡰૡȀ૜

ࢉ૜ ൌ
ඥࢍǤ ࡰ૞Ȁ૛

onde y é o tirante; ࡰ, o diâmetro da galeria de seção circular; ࢍ, a


aceleração da gravidade.

Anísio de Sousa Meneses Filho 323


A seguir, apresentamos parcialmente uma das tabelas usuais de
cálculo.

y/D c1 c2 c3
0,40 0,2934 0,1050 0,1604
0,41 0,3032 0,1090 0,1683
0,42 0,3130 0,1148 0,1762
0,43 0,3229 0,1198 0,1844
0,44 0,3328 0,1248 0,1926
0,45 0,3420 0,1298 0,2014
0,46 0,3527 0,1347 0,2098
0,47 0,3627 0,1401 0,2185
0,48 0,3727 0,1451 0,2276
0,49 0,3827 0,1508 0,2368
0,50 0,3930 0,1559 0,2464
0,51 0,4030 0,1612 0,2550
0,52 0,4130 0,1668 0,2651
0,53 0,4230 0,1719 0,2751
0,54 0,4330 0,1773 0,2853
0,55 0,4430 0,1828 0,2956
0,56 0,4530 0,1883 0,3069
0,57 0,4620 0,1830 0,3157
0,58 0,4720 0,1988 0,3263
0,59 0,4820 0,2038 0,3374
0,60 0,4920 0,2098 0,3466
0,61 0,5020 0,2149 0,3599
0,62 0,5120 0,2202 0,3717
0,63 0,5220 0,2251 0,3828
0,64 0,5310 0,2305 0,3949
0,65 0,5400 0,2354 0,4062
0,66 0,5500 0,2410 0,4162
0,67 0,5590 0,2461 0,4312
0,68 0,5690 0,2510 0,4444
0,69 0,5780 0,2561 0,4570
0,70 0,5870 0,2607 0,4700
0,71 0,5960 0,2659 0,4831
0,72 0,6050 0,2705 0,4987
0,73 0,6140 0,2751 0,5108
0,74 0,6230 0,2798 0,5240
0,75 0,6320 0,2845 0,5400
0,76 0,6400 0,2881 0,5543
0,77 0,6490 0,2928 0,5599
0,78 0,6570 0,2970 0,6051
0,79 0,6660 0,3011 0,6020
0,80 0,6740 0,3047 0,6185
0,81 0,6810 0,3079 0,6348
0,82 0,6890 0,3115 0,6526
0,83 0,6970 0,3151 0,6714
0,84 0,7040 0,3183 0,6898
0,85 0,7120 0,3212 0,7106

324 Hidrologia na prática


O adimensional ࢉ૚ permite estimar a velocidade, desde que conhecido
o valor da vazão.

O parâmetro ࢉ૛ , por sua vez, viabiliza a estimativa do diâmetro da


seção, conhecidas a rugosidade do material (n), a declividade (I) e a
vazão (Q), para um dado enchimento (y/D). Além disso, em
reciprocidade, o parâmetro ࢉ૛ enseja a determinação do enchimento
uma vez definidos o diâmetro (D) e os demais argumentos requeridos
pela expressão da hidráulica.

O parâmetro ࢉ૜ é um adimensional referente ao módulo crítico e


possibilita a identificação do regime de escoamento na tubulação, a
partir do cálculo do tirante crítico (࢟࡯ ). Comparando o tirante (࢟) com o
tirante crítico (࢟࡯ ), podemos encontrar um dos seguintes regimes no
trecho, conforme o critério de Froude:

x Subcrítico, se ࢟࡯ ൏ ࢟
x Crítico, se ࢟࡯ ൌ ࢟
x Supercrítico, se ࢟࡯ ൐ ࢟

Pela tabela, para o cálculo do trecho P1-P2 da tubulação, considerando


y/D = 0,80:

ࢉ૛ ൌ ૙ǡ ૜૙૝ૠ

Daí temos, com base em ࢉ૛ :


ࡽ ૙ǡ૙ૢ
ࢉ૛ ൌ ࡰૡȀ૜
૙ǡ ૜૙૝ૠ ൌ ࡰૡȀ૜
ࡰ ൌ ૙ǡ ૛ૡ૞࢓
ξࡵǤ൤ ࢔ ൨ ξ૙ǡ૙૚૛Ǥ൤૙ǡ૙૚૜൨

A atualização de ࢉ૛ para diâmetro adotado de 0,400 m traz:


૙ǡ ૙ૢ
ࢉ૛ ൌ ൌ ૙ǡ ૚૛૜૙
૙ǡ ૝ૡȀ૜
ξ૙ǡ ૙૚૛Ǥ ൤૙ǡ ૙૚૜൨

De acordo com a tabela apresentada, o novo valor de ࢉ૛ corresponde a


um enchimento (y/D) de 0,44. Portanto, o parâmetro ࢉ૚ assume agora

Anísio de Sousa Meneses Filho 325


um novo valor de 0,3328 (extraído da tabela na página anterior,
referente ao enchimento calculado). Para esse valor de ࢉ૚ , temos:
ࡽ ૙ǡ૙ૢ
࡭࢓ ൌ ࢉ૚ Ǥ ࡰ૛ ࢜ൌ ࢜ൌ ൌ ૚ǡ ૟ૢ࢓Ȁ࢙
ࢉ૚ Ǥࡰ૛ ૙ǡ૜૜૛ૡǤ૙ǡ૝૛

Então, o tempo de viagem no trecho P1-P2 da tubulação pode ser


estimado:
ࡸ ૚૙૙࢓
࢚ൌ ࢚ൌ ൌ ૞ૢ࢙ ൌ ૙ǡ ૢૢ࢓࢏࢔
࢜ ૚ǡ૟ૢ࢓Ȁ࢙

Esse tempo será somado ao anterior (de 5 min) para a estimativa do


novo tempo de concentração e da intensidade de chuva no próximo
trecho.

O parâmetro ࢉ૜ é calculado para se conhecer o tirante crítico.


૙ǡ૙ૢ
ࢉ૜ ൌ ൌ ૙ǡ ૛ૡ૝૙ (correspondente, na tabela, a um enchimento de 54%)
ξૢǡૡǤ૙ǡ૝૞Ȁ૛

Sendo o tirante crítico ࢟࡯ (igual a 21,6 cm) maior do que o tirante obtido
neste cálculo ࢟ (igual a 17,6 cm), conclui-se que o regime de
escoamento nesse trecho é supercrítico.

Alterações na declividade podem ser também necessárias para a


acomodação aos critérios de velocidade e de diâmetro comercial.

Verificações adicionais relevantes


Um aspecto que também merece ser levado em consideração no projeto
da rede é concernente à manutenção do sistema, depois de implantado.
A fim de assegurar a autolimpeza dos condutos, a declividade (I) deve
ser tal que a tensão trativa (W) correspondente seja, no mínimo, 1,0 Pa.

࣎ ൌ ࢽǤ ࡾࢎ Ǥ ࡵ
Sendo J o peso específico da água; Rh o raio hidráulico.

326 Hidrologia na prática


Devido à instabilidade do nível de água, o número de Froude91 (FR) não
deve estar entre 0,8 e 1,2. Desse modo, evita-se transiente hidráulico
ao se preservar o regime, que será ou todo fluvial, ou todo torrencial.

O número de Froude (FR) pode ser estimado por:



ࡲࡾ ൌ
ඥࢍǤ ࢎ

Sendo v a velocidade do escoamento no conduto; g a aceleração da gravidade; h a


altura hidráulica (razão entre a área molhada e a largura da superfície livre).

Ajustes no método racional


O método racional tende a superestimar as vazões de pico,
notadamente à medida que cresce a área de contribuição. Dois ajustes
pertinentes ao método racional modificado, para a estimativa da vazão
de projeto, podem ser incorporados através do coeficiente de
distribuição (࡯ࢊ ) e do critério de Fantoli (ࢌ) para a redução da chuva e
correção do coeficiente de deflúvio (࡯).

࡯ࢊ ൌ ૚ǡ ૙ , para área de contribuição inferior a 10.000 m²

࡭ ି૙ǡ૚૞
࡯ࢊ ൌ ቀ ቁ , para área de contribuição superior a 10.000 m²
૚૙૙૙૙

ࢌ ൌ ૙ǡ ૙ૠ૛૞Ǥ ࡯Ǥ ሺ࢏Ǥ ࢚ሻ૚Ȁ૜


Onde ࡯ é o coeficiente de escoamento superficial (runoff); ࢏, a intensidade de chuva
(em mm/h); ࢚, o tempo de concentração (em min).

Com a incorporação desses dois coeficientes, ambos adimensionais, o


método racional (modificado) assim se apresenta:

ࡽ ൌ ࢌǤ ࡯ࢊ Ǥ ࢏Ǥ ࡭

91
O número de Froude (FR) é definido como a relação adimensional entre a velocidade e a celeridade.
Anísio de Sousa Meneses Filho 327
Parte 2

Quizzess

(questionários rápidos de fixação)

Orientação de procedimento

Cada um dos quizzes a seguir é composto por assertivas do tipo C (certo) ou E


(errado) e está concebido para ser aplicado durante um tempo dedicado de
até 10 minutos, ou seja, em média 30 segundos por item. Procure administrar
bem esse tempo para uma boa sistemática de autoavaliação. Após a aplicação
do teste, acesse os comentários e faça os ajustes necessários nas suas
respostas.

328 Hidrologia na prática


Quiz 01

1.1 O ciclo hidrológico no Planeta pode ser analisado a partir de três grandes
compartimentos comunicantes por onde a água transita: a atmosfera, a superfície e
os aquíferos subterrâneos.
1.2 O ciclo hidrológico é aberto no âmbito da bacia hidrográfica.
1.3 A partir da linha imaginária do Equador, indo em direção aos polos (Norte ou Sul),
ocorre aumento gradual e contínuo de pressão sobre as massas atmosféricas.
1.4 Na circulação geral da atmosfera, uma zona de baixa pressão constitui zona de
divergência de massa de ar.
1.5 A ZCIT (zona de convergência intertropical) está associada aos ventos alísios, de
calmaria.
1.6 A água se movimenta diretamente dos continentes para os oceanos, porém
indiretamente dos oceanos para os continentes.
1.7 O ano hidrológico sempre coincide com o ano civil.
1.8 As quatro estações do ano são inverno, verão, primavera e outono, nesta ordem.
1.9 As estações do ano determinam períodos mais e menos chuvosos, sendo o inverno o
período de precipitações mais abundantes.
1.10 Na passagem do verão para outono, ocorre um solstício, com duração do dia maior
do que a duração da noite.
1.11 A brisa terrestre e a brisa marítima têm a mesma orientação, variando somente o
período de ocorrência.
1.12 No comportamento das marés, a Lua exerce maior influência do que o Sol.
1.13 O movimento de translação da Terra está associado às sucessivas estações do ano.
1.14 O movimento de rotação da Terra afeta a circulação das águas dos oceanos.
1.15 As ações antrópicas podem alterar o padrão de circulação da água no Planeta.
1.16 Evidencia-se, ao longo do ano, uma correlação entre o aquecimento das águas dos
oceanos e a ocorrência de precipitações.
1.17 No modelo de circulação da atmosfera, as células de Hadley e de Ferrel interagem
com a migração típica de massa de ar de uma para a outra.
1.18 A ocorrência do verão (estação quente) está associada à maior proximidade da
Terra ao Sol.
1.19 Temperatura mais alta na superfície do mar na região próxima e abaixo da ZCIT
tende a indicar ano seco no Nordeste brasileiro.
1.20 Em razão das latitudes baixas, frentes frias não conseguem ocasionar chuvas no
Nordeste brasileiro.

Anísio de Sousa Meneses Filho 329


Comentários referentes ao QUIZ 1

1.1 ERRADO. Os três grandes compartimentos de água, no âmbito do


Planeta, são os oceanos, os continentes e a atmosfera. Nos
continentes, encontram-se as águas superficiais (lagos, rios) e as
águas subterrâneas (aquíferos). Esses três compartimentos
mencionados se comunicam, de maneira que a água transita entre
eles, no ciclo hidrológico. Basicamente, numa visão macro
compensada, o fluxo se desenvolve dos oceanos para a atmosfera,
da atmosfera para os continentes e dos continentes para os
oceanos.

1.2 CERTO. As águas que saem de uma bacia (notadamente, pela


seção exutória) se dirigem a uma outra bacia, da qual a primeira
constitui uma sub-bacia. Saindo dessa nova bacia, as águas
ingressam noutra bacia, e assim por diante, até alcançarem mares
ou oceanos. Isso evidencia que a circulação hidrológica permite a
comunicação (e consequentemente o encontro das águas) entre
diferentes bacias. A propósito, o ciclo hidrológico é aberto no
âmbito de uma bacia (água entra, água sai), enquanto, no âmbito
global, esse ciclo é considerado fechado (ou seja, não se considera
qualquer parcela de água cambiada entre a Terra e o espaço
sideral).
1.3 ERRADO. As zonas de pressões se alternam, com baixas e altas
que condicionam, respectivamente, convergência e divergência
nas baixas altitudes. Entre a linha do Equador (latitude 0º; zona
de baixa pressão – ZCIT) e o polo (Norte ou Sul, zonas de altas
pressões), passamos pela zona de alta subtropical e pela zona de
baixa subpolar.
1.4 ERRADO. A atmosfera corresponde, essencialmente, à camada
gasosa que envolve a Terra, onde também encontramos água
330 Hidrologia na prática
(seja no estado líquido, sólido ou de vapor). Essa massa de ar, na
faixa mais próxima da superfície desenvolve uma circulação com
alguma regularidade, em que zona de baixa pressão se alterna
com zona de alta pressão. Formam-se, assim, as células de
circulação primária (a de Hadley e a da Ferrel e a Polar). A de
Hadley, por exemplo, se estende da linha do Equador até cerca de
30º de latitude (tanto ao sul, quanto ao norte). A movimentação
da massa de ar, impulsionada primariamente pela energia solar,
acontece de uma zona de alta pressão para uma zona de baixa
pressão, ou seja, há divergência em zona de alta pressão e
convergência em zona de baixa pressão.
1.5 CERTO. A zona de convergência intertropical (ZCIT) corresponde
a uma zona de baixa pressão em baixa latitude (próximo à linha
do Equador). Constitui uma zona de calmarias, onde se formam os
ventos alísios, que são ventos úmidos. Essa zona é algumas vezes
referenciada como zona de calmas tropicais. Os marinheiros a
conhecem como doldrums. Conforme observamos na figura
seguinte, os ventos alísios se orientam de nordeste para sudoeste
no hemisfério norte; e de sudeste para noroeste no hemisfério sul.

1.6 CERTO. Tipicamente, de forma direta, as águas dos mares não


ingressam os rios para alimentá-los e alcançar as suas nascentes.
Porém as águas dos mares podem chegar aos continentes após
sofrerem evaporação, formarem nuvens e se precipitarem. Já as
águas dos continentes vão naturalmente buscar os talvegues que
constituem redes de drenagem e daí escoarão por gravidade até
chegar aos mares e oceanos. Esquematicamente, temos:

Anísio de Sousa Meneses Filho 331


1.7 ERRADO. A extensão temporal do ano se refere à volta completa
da Terra em torno do Sol, cumprindo a sua órbita elíptica de
translação. O ano civil é um conceito e uma convenção do homem,
no que concerne às datas de início e término, compreendendo 12
meses. Assim também o ano hidrológico apresenta uma extensão
temporal bastante próxima, mas se distingue na consideração de
quando começa (no início da quadra chuvosa) e de quando termina
(no final do próximo período seco), com vistas a enquadrar o
período chuvoso dentro de um mesmo ano hidrológico. Essa
adequada consideração é importante na composição das séries
temporais das chuvas, por exemplo.
1.8 ERRADO. A sequência correta é: outono, inverno, primavera e
verão. Porém, em função da latitude varia a estação que primeiro
acontece no ano civil. No hemisfério sul, o verão começa no final
de dezembro, época em que começa o inverno no hemisfério norte.
1.9 ERRADO. O inverno se caracteriza como a estação fria. Chuvas
abundantes são típicas do verão, que é a estação quente.
1.10 ERRADO. Na passagem do verão para o outono, há o equinócio,
quando a duração do dia é igual à duração da noite.
1.11 ERRADO. As brisas terrestre e marítima apresentam orientações
contrárias, e acontecem, respectivamente, à noite e durante o dia.
A diferença entre o calor específico da superfície da terra (no
continente) e da água (do mar) proporciona as condições para a
ocorrência dessas brisas, que constituem circulações locais.
Quando superfícies próximas apresentam temperaturas
diferentes, geram-se forças associadas ao gradiente de pressão no
sentido horizontal, promovendo movimento do ar da zona de alta
para a zona de baixa pressão. A brisa marítima sopra quando a
temperatura da terra está mais elevada do que a do mar; do
contrário, ocorre a brisa terrestre, geralmente bem mais fraca,
porquanto menor a diferença de temperatura à noite.
1.12 CERTO. Isso se justifica pela maior proximidade da Lua à Terra,
quando em comparação com a distância da Terra ao Sol. A

332 Hidrologia na prática


interação gravitacional é inversamente proporcional ao quadrado
da distância.
1.13 CERTO. A Terra completa um ciclo de translação em torno do Sol
em um ano (365,25 dias). Nesse tempo, percorrem-se as quatro
estações do ano, cada uma delas com duração média de 3 meses.
1.14 CERTO. O movimento de rotação da Terra está associado à
sucessão de dias e noites. O movimento das marés (alta e baixa)
também é reflexo dessa dinâmica.
1.15 CERTO. As mudanças climáticas globais são aceleradas por ações
antrópicas, como o desmatamento e a emissão em larga escala de
gases de efeito estufa.
1.16 CERTO. Anomalias na temperatura da superfície do mar podem
produzir interferências nos padrões de circulação atmosférica. Os
fenômenos El Nino e La Nina são referidos nesse contexto. Isso
tem sido objeto de muitos estudos, desde a primeira metade do
século passado, notadamente na correlação entre as secas no
Nordeste brasileiro e o aquecimento das águas superficiais no
Pacífico Equatorial. O tema, porém, ainda é controverso, apesar
dos indicadores estatísticos.
1.17 ERRADO. No modelo de circulação da atmosfera, não se considera
transferência de massa de ar entre as células próximas. As zonas
de baixa pressão em baixas altitudes condicionam convergência
das massas de ar que ascendem e, em altitudes maiores,
divergem, mantendo o ciclo em cada uma das células do modelo.
1.18 ERRADO. O verão no hemisfério Norte ocorre quando é inverno no
hemisfério Sul; e vice-versa. Portanto, as ocasiões de afélio
(quando é maior o afastamento entre a Terra e o Sol) e periélio
(quando a Terra e o Sol estão mais próximos) não guardam relação
com as estações do ano.
1.19 ERRADO. Em anos secos no Nordeste brasileiro, a temperatura da
superfície do mar tende a estar mais baixa (mais fria) logo abaixo
da ZCIT, e mais alta (mais quente) logo acima da ZCIT. O contrário
ocorre nos anos mais chuvosos nessa região.
1.20 ERRADO. Frentes frias conseguem percorrer longas distâncias.
Ainda que não seja um fenômeno frequente, algumas chuvas nas
Bahia podem estar associadas a frentes frias que se deslocam a
partir do sul do continente.

Anísio de Sousa Meneses Filho 333


Quiz 02

2.1 A água é um bem de domínio público, limitado e dotado de valor econômico.


2.2 A quantidade total de água no Planeta mantém-se praticamente inalterada ao longo
do tempo.
2.3 O volume de água precipitada sobre os oceanos é equivalente ao volume de água que
deles evapora.
2.4 O volume de água que evapora dos continentes é menor do que o volume de água
que neles precipita.
2.5 O balanço hídrico é sempre anual, devido à periodicidade do ciclo hidrológico.
2.6 No balanço hídrico, o estado termodinâmico da água não se altera.
2.7 No semiárido nordestino, as parcelas mais relevantes no balanço hídrico são a
infiltração e o armazenamento em canais.
2.8 O balanço hídrico pode ser afetado por ações antrópicas.
2.9 A infiltração é um processo interno na bacia, que não se explicita no balanço hídrico
anual.
2.10 O aumento da capacidade de reservação na bacia produz aumento na vazão a
jusante.
2.11 A passagem natural da água de uma bacia para outra se dá exclusivamente pela
seção exutória.
2.12 O aporte hídrico anual pelas chuvas tem estrita relação com a quantidade de
evapotranspiração na bacia.
2.13 A classificação dos sistemas hídricos em lóticos ou lênticos se refere à velocidade
com que ocorre o escoamento das águas.
2.14 A escala temporal de ocorrências dos processos hidrológicas é relevante na
definição dos termos do balanço hídrico.
2.15 Numa bacia repartida em sub-bacias, a soma (algébrica) dos termos volumétricos
dos balanços hídricos das sub-bacias corresponde ao balanço hídrico total da bacia.

334 Hidrologia na prática


Comentários referentes ao QUIZ 2

2.1 CERTO. Entre os fundamentos da Política Nacional de Recursos


Hídricos, instituído pela Lei Federal nº 9.433/1997, temos que a
água é um bem de domínio público e um recurso natural limitado
e de valor econômico.

2.2 CERTO. Em termos quantitativos totais no Planeta, nas suas


diversas formas e locais, considera-se que a água praticamente
não se altera. Não há, portanto, intercâmbio de água entre a Terra
e o espaço sideral. Por outro lado, sob os aspectos qualitativos, a
água sofre, ao longo dos anos, severa deterioração, o que coloca
em risco, no médio prazo, e em diversos locais, o atendimento das
demandas no padrão requerido. Isso acontece, sobretudo, com as
reservas superficiais de mais fácil acesso.

2.3 ERRADO. O intercâmbio de água entre os oceanos e a atmosfera é


deficitário para os oceanos, ou seja, mais água evapora dos
oceanos do que a eles chega por precipitação, conforme ilustra a
figura seguinte.

2.4 CERTO. De acordo com a figura exibida acima, o intercâmbio entre


os continentes e a atmosfera é superavitário para os continentes,
ou seja, menos água evapora dos continentes do que a eles chega
por precipitação.
2.5 ERRADO. O intervalo de tempo para a implementação do balanço
hídrico varia conforme o seu propósito, podendo ser, por exemplo,
diário, semanal, mensal, semestral ou anual. Intervalos menores
permitem um controle mais preciso na gestão dos recursos hídricos,
ajustando oferta, demanda e armazenamento compatíveis.

Anísio de Sousa Meneses Filho 335


2.6 ERRADO. No ciclo hidrológico, naturalmente, a água passa pelos
três estados termodinâmicos de agregação molecular, conforme as
condições de temperatura e pressão. Na atmosfera, prevalece a
água no estado gasoso, na forma de vapor; nos rios e mares, na
forma líquida; nas baixas latitudes, as geleiras acomodam água no
estado sólido. A precipitação pode ocorrer na forma sólida (neve),
líquida (chuva) ou gasosa (orvalho, em que a água se condensa já
na superfície fria).

2.7 ERRADO. No semiárido nordestino, com rios tipicamente


intermitentes, constitui parcela relevante do balanço, além da
precipitação e do escoamento superficial, a evapotranspiração, haja
vista a radiação solar intensa nessa região. Por outro lado, as
reservas subterrâneas são pouco expressivas em bacias de
substrato cristalino; as águas que infiltram não produzem aquíferos
com reserva suficiente para prover os canais naturais de vazão ao
longo de todo o ano. No Ceará, por exemplo, há poucos rios
perenes; outros se tornam perenizados pelo controle de açudes.

2.8 CERTO. Muitas ações antrópicas produzem alterações nos


processos que integram o balanço hídrico e, dessa forma, também
afetam as parcelas do balanço hídrico. Um exemplo típico é a
construção de barragem e a consequente formação do lago que
acentua o processo evaporativo.

2.9 CERTO. Em pequenas bacias hidrográficas, sem significativa


capacidade de armazenamento em aquíferos, a reserva subterrânea
costuma ser desprezível no balanço hídrico anual. A infiltração é a
passagem da água da superfície do solo para o seu interior, na zona
vadosa. Nesse sentido, compreendendo a bacia como um todo, o
processo de infiltração se refere a deslocamento da água no âmbito
(interno) da própria bacia – daí, em geral, não ficar explícita na
expressão matemática do balanço hídrico anual.

2.10 ERRADO. O aumento na capacidade de reservação


(armazenamento) de água na bacia, pela formação de lagos
artificiais (açudes) acarreta, além de melhores condições de
regularização de vazões, um aumento da evaporação (tanto
maior quanto maior o espelho de água gerado pelo lago) e uma
consequente redução na vazão média a jusante.

336 Hidrologia na prática


2.11 ERRADO. A água pode sair da bacia hidrográfica por escoamento
superficial, por evapotranspiração ou por escoamento
subterrâneo. A seção exutória é a ‘porta’ de saída da água da
bacia por escoamento superficial.

2.12 ERRADO. A parcela de água que é transferida da bacia para a


atmosfera por processos evapotranspirativos se destina à
formação de nuvens que darão ensejo à precipitação. Esta
precipitação não necessariamente ocorre sobre a bacia de onde
proveio a água de evaporação. Massas úmidas de ar podem-se
deslocar até por longas distâncias, pela ação dos ventos ativados
por gradientes de pressão.

2.13 CERTO. Os sistemas lóticos são aqueles em que as águas se


deslocam com relativa velocidade, o que se percebe facilmente –
os rios, por exemplo. Os sistemas lênticos, por outro lado, são
aqueles em que o fluxo das águas é muito lento – os lagos, por
exemplo.

2.14 CERTO. As parcelas e a magnitude dos termos que integram o


balanço hídrico variam conforme o intervalo de tempo
considerado, haja vista a dinâmica do ciclo hidrológico. O
armazenamento de água na bacia é bastante afetado ao longo do
ano, na sucessão dos meses, pelas quadras chuvosas e de estio.

2.15 CERTO. A água não é criada nem destruída, porém movimentada.


No âmbito da bacia hidrográfica, porém, o ciclo hidrológico é
aberto. Ao se compartimentar uma bacia por diversas sub-bacias,
a transferência de parcela de água de uma sub-bacia para outra
não gera déficit ou superávit na bacia como um todo, haja vista
que a parcela que sai de uma (com sinal negativo) equivale à
parcela que entra na outra (com sinal positivo) – conforme se
computa na apuração do balanço hídrico.

Anísio de Sousa Meneses Filho 337


Quiz 03

3.1 O papel hidrológico mais relevante da bacia hidrográfica é a transformação chuva-


vazão.
3.2 Há sempre uma relação biunívoca entre a bacia hidrográfica e a sua seção exutória.
3.3 A forma da bacia não afeta o comportamento hidrológico da bacia.
3.4 A rede de drenagem da bacia é definida pelos talvegues, isto é, pelo encontro de
vertentes.
3.5 A delimitação da bacia hidrográfica deve ser iniciada pela nascente do rio principal.
3.6 A ordem da bacia, pelo critério de Horton-Strahler, é tanto maior quanto mais
ramificada a rede de drenagem.
3.7 Movimentos de terra (como cortes e aterros em terraplenos) alteram o sistema
natural de macrodrenagem da bacia hidrográfica.
3.8 A declividade da bacia está diretamente relacionada ao seu coeficiente de
compacidade.
3.9 O coeficiente de compacidade da bacia serve como parâmetro para avaliar a
propensão a cheias.
3.10 O divisor de água de uma bacia hidrográfica corresponde a uma curva de nível.
3.11 A curva hipsométrica de uma bacia hidrográfica apresenta a distribuição do relevo.
3.12 Uma curva hipsométrica permite inferir a compacidade da bacia.
3.13 Tipicamente, os trechos mais a montante de um rio (ou seja, o alto leito)
apresentam declividade mais baixa do que os trechos próximos à foz.
3.14 O tempo de concentração de uma bacia varia conforme o tempo de retorno.
3.15 A seção exutória constitui a seção de controle da bacia.

338 Hidrologia na prática


Comentários referentes ao QUIZ 3

3.1 CERTO. Essencialmente, a bacia hidrográfica constitui um


processador da água que nela ingressa, sobretudo na forma de
chuva. O resultado desse processamento se evidencia no exutório,
seção de controle da bacia onde a vazão é medida.

3.2 CERTO. A cada seção exutória corresponde uma única bacia. A cada
bacia corresponde uma única seção exutória.

3.3 ERRADO. Os aspectos morfométricos da bacia são importantes


para sinalizar o seu comportamento na produção de cheias. A
forma da bacia afeta o tempo de concentração e a dinâmica de
geração de vazões.

3.4 CERTO. Talvegues (caminho das águas) são encontros de vertentes


em cotas baixas. O conjunto interconectado dos talvegues
constitui a rede de drenagem da bacia, responsável pela condução
do escoamento superficial até a seção exutória.

3.5 ERRADO. A delimitação da bacia, tipicamente desenvolvida por


critério topográfico, inicia-se pela seção. A partir daí contorna-se
a rede de drenagem localizada a montante. A linha de contorno é
denominada divisor de água.

3.6 CERTO. A atribuição de ordem de drenagem à bacia é uma


estratégia de parametrizar o grau de ramificação dos cursos de
água que integram a rede de drenagem (interconectada). Assim,
quanto maior a ordem da bacia, mais afluentes e subafluentes
existem, em níveis hierárquicos sucessivos.

3.7 CERTO. A movimentação de terra, que consiste em cortes e


aterros, promove mudança no relevo. Consequentemente, os
aspectos morfológicos impactam o sistema de macrodrenagem,
com alteração no tempo de concentração e no modelo de
escoamento superficial.

3.8 ERRADO. O coeficiente de compacidade se refere à forma da bacia,


e não ao seu relevo. Esse parâmetro é definido como a razão entre
o perímetro da bacia e o perímetro (ou circunferência) de uma
bacia fictícia de formato circular de mesma área de drenagem.
Anísio de Sousa Meneses Filho 339
3.9 CERTO. Quanto mais próximo de 1,0 tanto maior a propensão a
cheias, haja vista a tendência a menor tempo de concentração com
outras bacias de área, declividades e ocupação semelhantes.

3.10 ERRADO. O divisor de água intercepta diversas curvas de nível,


não se confundindo com nenhuma delas.

3.11 CERTO. A curva hipsométrica relaciona as cotas topográficas às


porções (em termos percentuais) de áreas acumuladas da bacia,
oferecendo, portanto, uma síntese do relevo da bacia.

3.12 ERRADO. A curva hipsométrica nada informa acerca do formato


da bacia, mas apenas a distribuição do relevo na área de
drenagem.

3.13 ERRADO. Áreas mais próximas às nascentes de rios tendem a


apresentar relevo com maior declividade, ao contrário das porções
mais baixas, que normalmente apresentam declividades mais
suaves.

3.14 ERRADO. O tempo de retorno caracteriza o evento hidrológico


(como chuva e vazão), e está associado ao risco ou probabilidade
de ocorrência. O tempo de concentração, por outro lado, constitui
uma característica da bacia.

3.15 CERTO. A seção exutória é aquela em que se estima a vazão


produzida pela bacia, constituindo, assim, a seção de controle.
Além disso, a seção exutória é por onde se inicia o traçado do
divisor de água. A seção exutória vincula a área de drenagem da
bacia hidrográfica.

340 Hidrologia na prática


Quiz 04

4.1 A formação da precipitação envolve processos essencialmente termodinâmicos.

4.2 O processo de ascensão da massa de ar úmida para a formação das nuvens serve de
critério para a classificação das chuvas.

4.3 Chuvas convectivas são tipicamente de baixa intensidade.

4.4 Chuvas são ocorrências típicas de verão, quando as temperaturas se elevam.

4.5 A modelagem do relevo pelas chuvas condiciona talvegues, divisores de água e


vertentes.

4.6 A medição da chuva por pluviógrafo permite inferir a intensidade média de cada
evento.

4.7 A distribuição temporal da chuva é condicionada pela forma da bacia hidrográfica.

4.8 A chuva diária é equivalente à chuva de 24 horas.

4.9 A altura de chuva 1 mm corresponde a 1 L numa área de 1 m².

4.10 Prenúncio de chuva associa diminuição da pressão atmosférica e elevação da


umidade do ar.

4.11 A precipitação total na área da bacia hidrográfica é obtida somando-se os valores de


precipitação medidos nos pluviômetros num mesmo período.

4.12 A espacialização da chuva objetiva levar em conta o aumento de intensidade com o


aumento da área de abrangência.

4.13 A ascensão da massa de ar úmida favorecida pelo relevo está associada às chuvas
orográficas.

4.14 O hietograma e o pluviograma correspondem a gráficos com o mesmo conteúdo.

4.15 A intensidade de chuva se infere da declividade da curva no pluviograma.

Anísio de Sousa Meneses Filho 341


Comentários referentes ao QUIZ 4

4.1 CERTO. A precipitação é consequência da formação de nuvens que


se formam e adquirem peso que supera o empuxo. Processos
tipicamente termodinâmicos, relacionados às variáveis temperatura
e pressão, condicionam a condensação do vapor de água disperso
na atmosfera.

4.2 CERTO. A principal classificação das chuvas leva em consideração


o processo pelo qual a massa de ar úmida ascendeu, resfriou-se e
alcançou condições favoráveis à condensação, tornando a água
líquida.

4.3 ERRADO. As chuvas convectivas, decorrentes da rápida ascensão


de massa de ar em equilíbrio instável próximo à superfície aquecida
do solo, se caracterizam por curta duração e grande intensidade,
quando comparadas com as chuvas orográficas e frontais.

4.4 CERTO. A quadra chuvosa está associada ao verão, ou seja, a


estação de temperaturas mais elevadas. O inverno corresponde à
estação fria, de temperaturas mais baixas.

4.5 CERTO. As chuvas constituem um grande modelador do relevo,


numa escala mais alongada do tempo. Assim se formam os vales
que condicionam o fluxo das águas, cuja capacidade de erosão e
transporte, com posterior sedimentação, promove transformação
morfológicas e fisiográficas da bacia. Isso, no entanto, é
imperceptível no curto ou médio intervalo de tempo.

4.6 CERTO. O pluviógrafo gera um gráfico (o pluviograma) com o


registro contínuo das precipitações, permitindo identificar o
momento inicial e o final de cada evento, assim como a sua
intensidade e a lâmina produzida.

4.7 ERRADO. A rigor, as chuvas não dependem da forma da bacia nem


do seu relevo, a menos quando se trata de precipitação orográfica,
em que o relevo condiciona a ascensão da massa de ar úmida para
a formação de nuvens. A bacia passa a ser responsável pelo
comportamento das águas depois que a precipitação acontece.

4.8 ERRADO. A chuva diária é aquela que se mede usando o


pluviômetro. Nesse caso, faz-se o registro da lâmina acumulada a
cada dia desde a última medição no dia anterior. A chuva de 24
342 Hidrologia na prática
horas é um evento chuvoso com duração (tempo decorrido do
início ao término) de 24 horas. A rigor, o registro da chuva de 24
horas requer um pluviógrafo. Análises estatísticas apontam que a
chuva de 24 horas, no Nordeste brasileiro, é de ordem de 10%
maior do que a chuva diária.

4.9 CERTO. A altura da lâmina de água é aquela que resulta quando o


volume de água da precipitação é uniformemente distribuído sobre
uma superfície plana e horizontal. Assim, um litro de água sobre
uma área de 1 m² corresponde a uma lâmina de 1 mm. Ou seja:

0,001 m x 1 m² = 0,001 m³ = 1 L

4.10 CERTO. Tipicamente, as condições atmosféricas que antecipam


um evento de chuva são o aumento de umidade do ar, tendente à
saturação, e a diminuição da pressão, o que instabiliza as nuvens
suficientemente densas favorecendo a sua queda (precipitação).

4.11 ERRADO. Na área da bacia hidrográfica, os valores coletados


pelos pluviômetros permitem o cálculo da precipitação média
representativa. A soma das lâminas precipitadas, num dado
período, e registradas em diversos pluviômetros não pode ser
interpretada como o total precipitado – obviamente, essa soma
tende a ser tanto maior quanto maior a quantidade de aparelhos.

4.12 ERRADO. A espacialização da chuva que se mede pontualmente


objetiva a consideração de que o evento não se distribui
uniformemente, senão sobre uma pequena área. Com efeito a
intensidade da chuva tende a diminuir com o aumento da área de
abrangência. Em geral, o critério de redução da chuva pontual se
aplica para área acima de 25 km².

4.13 CERTO. As chuvas são classificadas conforme o mecanismo de


ascensão da massa de ar úmida. Ao subir, a temperatura do vapor
de água disseminado no ar diminui até que se alcancem as
condições termodinâmicas de condensação e formação das nuvens
que darão ensejo às chuvas. Quando essa massa de ar sobe
favorecida por acidentes do relevo (como as serras), as chuvas
produzidas são ditas orográficas.

Anísio de Sousa Meneses Filho 343


4.14 ERRADO. Denomina-se pluviograma o gráfico extraído do
pluviógrafo, ou seja, o registro contínuo da chuva, o que permite
a inferência da lâmina de água precipitada e da intensidade
instantânea em cada evento. Os pluviogramas reunidos após um
período representativo (em geral, acima de 30 anos de dados
históricos) permitem que se promova um tratamento estatístico
para a formulação das curvas IDF (intensidade-duração-
frequência). Por outro lado, o hietograma constitui a representação
da chuva de projeto para um certo período de retorno e uma dada
duração. O hietograma pode ser confeccionado a partir da relação
IDF disponível, aplicando-se, por exemplo, o método dos blocos
alternados.

4.15 CERTO. A partir do pluviograma extraído do pluviógrafo, a


intensidade da chuva, a cada instante, pode ser estimada como a
derivada da curva. Quanto maior a intensidade da chuva, maior a
declividade da curva (ou a sua derivada no tempo).

344 Hidrologia na prática


Quiz 05

5.1 A evapotranspiração potencial considera a efetiva disponibilidade hídrica da região.

5.2 Linímetro é o dispositivo instalado com o propósito de medir diretamente a


evapotranspiração.

5.3 A evaporação é favorecida pela umidade do ar.

5.4 O ar seco proporciona melhores condições para os processos evapotranspirativos.

5.5 A água do mar evapora mais facilmente do que a água doce (de rios).

5.6 Os processos de evaporação e de transpiração transferem água para a atmosfera,


porém se diferenciam nos mecanismos promotores.

5.7 Numa bacia, a evapotranspiração potencial anual é sempre menor do que a


precipitação total no mesmo ano.

5.8 O desmatamento acarreta diminuição da evaporação.

5.9 A formação de um lago em decorrência da construção de barragem não afeta a taxa


anual de evapotranspiração.

5.10 O tanque Classe A serve para a medição direta da evaporação, que se correlaciona
com a evaporação do lago próximo.

5.11 A evapotranspiração potencial de referência corresponde à mesma estimativa da


EVT da cultura, qualquer que seja ela.

5.12 Tipicamente, a água ingressa na planta pelo sistema radicular e sai da planta pelos
estômatos das folhas.

5.13 A medição feita pelo evaporímetro de Piché leva em consideração as variáveis


termodinâmicas atuais, pressão e temperatura.

5.14 O vento constitui agente perturbador da evaporação; assim, quanto maior a


velocidade do vento menor a taxa de evaporação.

5.15 A altitude do local favorece a evaporação, ou seja, bacias em cotas bem acima do
nível do mar apresentam maiores perdas por evaporação.

Anísio de Sousa Meneses Filho 345


Comentários referentes ao QUIZ 5

5.1 ERRADO. A evapotranspiração potencial é a máxima quantidade


de água que pode ser transferida para a atmosfera, considerando-
se as condições climáticas locais referentes à radiação solar,
temperatura, vento e umidade do ar, sem, no entanto, levar em
conta a efetiva disponibilidade de água.

5.2 ERRADO. A medição (quase) direta da evapotranspiração pode ser


feita com o uso do lisímetro. Esse dispositivo consiste num
recipiente enterrado no qual se realiza um balanço hídrico
controlado. Não se deve confundir o linímetro (régua graduada
para estimativa da vazão com base na curva chave) e o lisímetro
(instrumento de medição da evapotranspiração).

5.3 ERRADO. A evaporação é desfavorecida pela umidade do ar.


Quanto maior a umidade relativa do ar, isto é, mais próximo da
saturação, menor a taxa evaporativa.

5.4 CERTO. O ar mais seco favorece a evaporação. À medida que a


umidade do ar aumenta, menor tende a ser a taxa de evaporação,
tornando-se nula essa taxa quando o ar atinge a saturação, isto é,
com a umidade relativa do ar a 100% não ocorre evaporação.

5.5 ERRADO. Apesar de ocorrer uma quantidade evaporada bem maior


nos oceanos do que nos continentes, tendo em vista a cobertura
prevalente de água do planeta (cerca de 70%), a água salina
exibe, nas mesmas condições termodinâmicas, uma taxa
evaporativa menor. Isso está associado a uma propriedade
coligativa das soluções, em que o soluto (sal não volátil) diminui a
capacidade evaporativa do solvente (água).

5.6 CERTO. A evaporação é um processo tipicamente físico, governado


pelas leis da termodinâmica. Por sua vez, a transpiração envolve
processos fisiológicos inerentes aos seres vivos (plantas e
animais).

5.7 ERRADO. A evapotranspiração potencial (ETP) não guarda relação


com a efetiva disponibilidade de água na bacia. Ela é estimada a
partir da magnitude dos fatores intervenientes reunidos nas
condições atmosféricas (pressão, radiação solar, temperatura,
umidade do ar, vento etc.). Portanto, a ETP pode ser maior do que

346 Hidrologia na prática


a precipitação no período anual; nesse caso, a evapotranspiração
real será menor do que a evapotranspiração potencial.

5.8 ERRADO. A remoção da cobertura vegetal da bacia acarreta


diminuição da transpiração, haja vista a redução da atividade
fisiológica associada. A evaporação, por outro lado, pode até
aumentar após o desmatamento – por exemplo, quando nessa
área da bacia se constitui um lago artificial por barramento de
curso de água.

5.9 ERRADO. Tipicamente, a formação de um lago (açude) após a


construção de uma barragem promove significativo aumento na
área de exposição de espelho de água, o que favorece o processo
evaporativo. Isso associa um novo cenário para o balanço hídrico
anual, a ser cotejado com aquele anterior à intervenção antrópica.

5.10 CERTO. O tanque Classe A consiste num recipiente cilíndrico


aberto que expõe água à atmosfera. Normalmente, esse tanque é
instalado nas proximidades de reservatórios para a estimativa da
evaporação no lago, o que se faz por correlação de valores. É usual
a adoção do fator 0,8 aplicado sobre a evaporação do tanque para
corresponder à taxa de evaporação no reservatório.

5.11 ERRADO. A transpiração varia conforme o cultivo vegetal e seu


estádio de crescimento. Há cultivos que demandam mais água do
que outros, para os seus processos fisiológicos. A partir da
estimativa (ou medição) da evapotranspiração de referência é
possível, por correlação, estimar a evapotranspiração de um
específico cultivo. Como referência, usualmente se considera a
grama batatais. Na literatura agronômica estão disponíveis os
fatores a serem aplicados sobre o valor de referência, conforme o
cultivo projetado.

5.12 CERTO. A água, evidentemente, não entra na planta pela copa ou


pela folhagem. A fisiologia vegetal condiciona a típica extração da
água do solo pelo sistema radicular na planta, por sucção. A planta
consegue succionar a água até o limite em que o solo atinja o ponto
de murcha permanente.

Anísio de Sousa Meneses Filho 347


5.13 CERTO. O evaporímetro de Piché consiste numa proveta graduada
em cuja extremidade aberta se fixa um disco poroso. Uma vez
emborcada proveta, água no seu interior umedece continuamente
o disco que se expõe às condições atmosféricas circundantes, em
termos de pressão, temperatura, vento e umidade do ar. O
abaixamento do nível de água na proveta corresponde à
transferência de água para a atmosfera por processo evaporativo.

5.14 ERRADO. O vento favorece o processo evaporativo ao deslocar a


massa de ar úmido do local onde é formado. Os ventos
transportam a água na atmosfera das regiões de maiores pressões
para as de menores pressões, locais em que as precipitações
ciclônicas geralmente ocorrem. Assim, quanto maior a velocidade
do vento tanto maior também a taxa de evaporação, tendo em
vista a redução que o vento promove na umidade do ar
consequente à evaporação.

5.15 CERTO. Maiores altitudes estão associadas a menor pressão


atmosférica e menor temperatura, tipicamente. Com isso, mais
facilmente a água migra do estado líquido para o estado de vapor.
Em regiões serranas a evaporação maior tende a proporcionar um
ar mais úmido.

348 Hidrologia na prática


Quiz 06
6.1 A infiltração se caracteriza pelo deslocamento da água no interior do solo.

6.2 A declividade da bacia favorece a infiltração, ou seja, quanto maior a declividade,


maior a capacidade de infiltração.

6.3 O modelo de Horton assume um decrescimento exponencial da taxa de infiltração


durante a chuva.

6.4 A água precipitada sobre o solo tem opção preferencial pelo escoamento superficial,
ficando o excedente disponível para infiltração.

6.5 A capacidade de infiltração do solo depende da sua textura, porém independe das
suas condições atuais de umidade.

6.6 O teor de umidade correspondente à capacidade de campo é superior ao teor de


umidade correspondente ao ponto de murcha permanente.

6.7 O armazenamento de água no solo depende da porosidade, definida como a relação


entre o volume de vazios e o volume de sólidos do solo.

6.8 Tipicamente, a capacidade de campo da areia é superior à capacidade de campo da


argila.

6.9 A pecuária extensiva tende a reduzir a capacidade de infiltração do solo.

6.10 Capacidade de infiltração e taxa de infiltração são termos de igual semântica.

6.11 Quando a intensidade da chuva é menor do que a capacidade de infiltração, a taxa


de infiltração é igual à intensidade da chuva.

6.12 No período entre o final de uma chuva e o início da próxima, a capacidade de


infiltração do solo aumenta.

6.13 O método fi (I) de separação da chuva assume que a lâmina de infiltração (em mm)
cresce linearmente com a duração da chuva.

6.14 O ponto de murcha permanente num solo argiloso é maior do que num solo
arenoso.

6.15 O modelo de infiltração de Green-Ampt descreve o processo de avanço da frente de


molhamento ao longo do tempo, considerando características físicas do solo.

Anísio de Sousa Meneses Filho 349


Comentários referentes ao QUIZ 6

6.1 ERRADO. A infiltração consiste na passagem da água da superfície


do solo para o seu interior. O fluxo da água no interior no solo
corresponde à percolação.
6.2 ERRADO. A declividade da superfície do solo afeta a separação dos
volumes da chuva favorecendo o escoamento superficial e
atenuando, consequentemente, a taxa de infiltração.
6.3 CERTO. O modelo de Horton considera que a taxa de infiltração
diminui, durante a chuva, segundo uma curva exponencial em
função do tempo. Essa curva assume uma configuração
assintótica, tendendo a uma taxa mínima crítica quanto o solo se
encontra encharcado.
6.4 ERRADO. Ao atingir a superfície do solo, a primeira opção da água
é a sua infiltração no solo. A parcela da intensidade de chuva que
supera a capacidade de infiltração se converte em precipitação
efetiva (ou excedente).
6.5 ERRADO. A capacidade de infiltração do solo depende da textura
(dimensão dos grãos sólidos), da estrutura, da sua condição de
umidade antecedente e da permeabilidade da superfície. Quanto
mais baixa a umidade do solo antes do início da chuva, maior tende
a ser a sua capacidade infiltrativa.
6.6 CERTO. A capacidade de campo (CC) é a máxima quantidade que
o solo é capaz de reter após drenado o excesso (entre CC e a
saturação), o que varia conforme a sua textura. O ponto de murcha
permanente (PMP) corresponde ao teor de umidade do solo
associado ao irreversível colapso nas atividades fisiológicas por
déficit hídrico – as folhas perdem a turgescência e não mais se
recuperam. A água disponível no solo para a planta é estimada
com base na diferença entre CC e PMP. Evidentemente, para um
dado solo, CC é maior do que PMP. A capacidade de água
disponível no solo (CAD) depende de, além da diferença entre CC
e PMP, da densidade do solo e da profundidade específica do
sistema radicular da planta (que varia conforme o cultivo).
6.7 ERRADO. O parâmetro porosidade é diferente do parâmetro índice
de vazios. A porosidade relaciona o volume de vazios do solo com
o volume total da amostra desse total. O índice de vazios relaciona
o volume de vazios com o volume efetivamente ocupado pelos
grãos sólidos do solo.

350 Hidrologia na prática


6.8 ERRADO. A textura da areia confere boa drenabilidade. Por
consequência, menos água o solo arenoso consegue segurar. Ao
contrário, o solo argiloso, menos permeável, favorece a retenção
de água no seu interior. Portanto, tipicamente, a capacidade de
campo da argila é superior à capacidade de campo da areia.
6.9 CERTO. A redução da capacidade de infiltração do solo submetido
a atividade pecuária extensiva se justifica pela compactação
promovida pelo pisoteio dos animais. O peso aplicado numa
pequena área de contato com o solo acarreta elevada pressão que
compacta o solo, reduzido o seu volume de vazios.
6.10 ERRADO. A taxa de infiltração é a velocidade com que a lâmina
de água atravessa a superfície do solo. A capacidade de infiltração
é a maior taxa de infiltração possível para a condição atual do solo.
6.11 CERTO. Se a intensidade da chuva é igual ou superior à
capacidade de infiltração, a taxa de infiltração alcança o seu valor
máximo, com o excedente se transformando em escoamento
superficial. Se a intensidade de chuva é inferior à capacidade de
infiltração, a taxa de infiltração se iguala à intensidade de chuva
e, nesse caso, não há precipitação efetiva.
6.12 CERTO. Entre uma chuva e outra, o solo tende a recuperar a sua
capacidade de infiltração, em decorrência do escoamento da água
no interior do solo e da drenagem profunda, o que reduz a umidade
do solo até que ocorra o próximo evento. Quanto mais seco o solo
no instante em que a chuva começa, maior a capacidade de
infiltração e menor a parcela de precipitação efetiva.
6.13 CERTO. O método fi (I) considera uma taxa constante de
infiltração durante a chuva, diferentemente do modelo de Horton,
em que a capacidade decresce com o evento de chuva. A lâmina
infiltrada é o produto da taxa de infiltração pelo tempo. Portanto,
a lâmina infiltrada cresce linearmente com a duração da chuva.
6.14 CERTO. Em razão da textura da argila, que favorece a adesão da
água nos grãos sólidos, o ponto de murcha nesse solo tende a ser
maior do que na areia. A diferença entre CC e PMP também tende
a ser maior na argila do que na areia.
6.15 CERTO. O modelo de Green-Ampt leva em conta as características
físicas do solo para descrever o deslocamento da frente de
molhamento abrupta (a que separa o solo saturado do solo seco)

Anísio de Sousa Meneses Filho 351


em função do tempo. A lâmina infiltrada varia com a porosidade e
o conteúdo de umidade no início do processo.

352 Hidrologia na prática


Quiz 07

7.1 A precipitação efetiva é a parcela da precipitação que se transforma em escoamento


superficial direto.

7.2 Toda precipitação acarreta chuva efetiva.

7.3 Quanto maior a declividade da bacia, menor tende a ser a parcela de precipitação
efetiva.

7.4 A precipitação efetiva tende a ser menor em bacia de solo arenoso.

7.5 As primeiras ocorrências do período chuvoso sobre o solo de uma bacia no seu estado
natural produzem relativamente mais chuva efetiva do que os eventos subsequentes.

7.6 A parcela de precipitação efetiva é tanto maior quanto maior a parcela de infiltração.

7.7 Na separação dos volumes de chuva, a parcela efetiva é sempre menor do que aquela
da infiltração.

7.8 O coeficiente de runoff, no método racional, corresponde à relação entre a


precipitação efetiva e a precipitação total.

7.9 Numa bacia totalmente impermeável, a chuva efetiva equivale à chuva total.

7.10 No dimensionamento de rede de drenagem urbana, o hietograma de projeto se


refere à precipitação total.

7.11 A duração da precipitação efetiva equivale à duração da precipitação total.

7.12 A parcela de precipitação efetiva é tanto maior quanto maior a umidade do solo.

7.13 A precipitação efetiva é integralmente responsável pela vazão dos rios


intermitentes.

7.14 O pluviograma (extraído do pluviógrafo) permite inferir a parcela efetiva da chuva.

7.15 A precipitação efetiva independe do tempo de retorno do evento total.

Anísio de Sousa Meneses Filho 353


Comentários referentes ao QUIZ 7

7.1 CERTO. Denomina-se precipitação excedente ou efetiva a parcela


da precipitação que supera a capacidade de infiltração do solo e se
converte em escoamento superficial direto (ESD). Parte da
precipitação que infiltra o solo também se converte, mais tarde, em
escoamento superficial na forma de escoamento de base,
perfazendo, com o ESD, o escoamento superficial total.

7.2 ERRADO. A parcela de precipitação efetiva pressupõe que a água


procedente da chuva encontra o solo encharcado, ou seja, em que
a intensidade da chuva é superior à capacidade de infiltração.
Portanto, se a precipitação não é suficiente para tornar o solo
encharcado, não há excedente e daí não há parcela efetiva (a se
transformar em ESD).

7.3 ERRADO. A declividade da bacia confere maior velocidade à água


sobre a superfície e dificulta o processo infiltrativo. Desse modo,
quanto maior a declividade, maior tende a ser a parcela de
precipitação efetiva, ou seja, de escoamento superficial direto.

7.4 CERTO. O solo arenoso favorece a infiltração, restando menor


parcela de precipitação efetiva.

7.5 ERRADO. Tipicamente, após o período de estio (sem chuvas), o


solo tem a sua capacidade de infiltração recuperada, apresentando
então baixa umidade. Em consequência, as primeiras chuvas
produzem menos escoamento superficial direto. Com os sucessivos
eventos chuvosos, o solo já úmido estará menos propenso à
infiltração, tornando mais significativa a parcela de precipitação
excedente.

7.6 ERRADO. A lógica da separação dos volumes de uma chuva


estabelece, basicamente, três parcelas: a interceptação (ou
abstrações iniciais), a infiltração e a precipitação efetiva. Essas três
parcelas somadas constituem a precipitação total. Assim, maior
parcela de infiltração implica menor parcela de precipitação
excedente.

7.7 ERRADO. A capacidade de infiltração do solo tende a decrescer


durante a chuva. A relação entre a parcela infiltrada e a parcela de
escoamento superficial direto depende de uma série de fatores,

354 Hidrologia na prática


como: intensidade e duração da chuva, condições do solo e relevo
da bacia. Pode ocorrer de não haver precipitação efetiva, assim
como, em outros eventos, a parcela de precipitação ser maior do
que a de infiltração, a depender da conjunção dos fatores
intervenientes na repartição dos volumes.

7.8 CERTO. Define-se coeficiente de escoamento superficial ou


coeficiente de runoff a razão entre o volume do escoamento
superficial direto (ou a lâmina de água a ele associada) e o volume
da precipitação total (ou a lâmina de água a ela associada). Esse
coeficiente é sempre menor ou igual a 1,0.

7.9 CERTO. Sendo completamente impermeável a superfície da bacia,


não haverá infiltração. Por consequência, toda a água que chega a
essa superfície tende a converter-se em escoamento superficial
direto, constituindo, assim, precipitação efetiva. Essa é a situação
limite em que o coeficiente de runoff é igual a 1,0.

7.10 ERRADO. O hietograma de projeto que interessa para a confecção


do hidrograma é aquele atinente à parcela efetiva da precipitação.
Modelos de transformação chuva-vazão são aplicados para esse
propósito. Ao hidrograma obtido deve ser somada a parcela de
escoamento de base, estimada conforme as condições hídricas do
solo. O hidrograma da vazão total apresenta a dinâmica da vazão
ao longo do tempo, o que serve para a definição das estratégias e
dos critérios de dimensionamento dos dispositivos hidráulicos
pertinentes.

7.11 ERRADO. Tipicamente, a precipitação efetiva começa quando o


solo atinge a condição de encharcamento (ou seja, a capacidade de
infiltração se torna menor do que a intensidade da chuva). Isso
pode ocorrer algum tempo após o início da chuva, não antes.
Portanto, a duração da chuva efetiva não pode ser maior do que a
duração da chuva total.

7.12 CERTO. A condição de umidade antecedente do solo afeta a


parcela de precipitação efetiva. Solo com maior teor de umidade no
início do evento de chuva torna menor a parcela de infiltração e,
consequentemente, maior a parcela de precipitação efetiva.

Anísio de Sousa Meneses Filho 355


7.13 ERRADO. A vazão de um rio é soma das parcelas do escoamento
superficial direto e do escoamento de base (subterrâneo). Durante
o período de estio, o escoamento superficial direto é nulo, tornando
o escoamento de base o único responsável pela vazão do rio. Se o
rio é intermitente, ou seja, o leito seca completamente algum
tempo depois do período chuvoso, isso acontece porque o
escoamento de base não foi suficiente para promover uma vazão
no leito até a chegada da próxima quadra chuvosa.

7.14 ERRADO. O pluviograma apenas registra a ocorrência da chuva


ao longo do tempo. Nada informa, porém, acerca da separação dos
volumes da chuva, o que depende sobremodo das características
da bacia. Portanto, a precipitação efetiva não pode ser inferida a
partir da configuração do pluviograma.

7.15 ERRADO. Em geral, quanto maior a precipitação total, maior a


parcela de precipitação efetiva, ainda que não haja uma estrita
relação de proporcionalidade direta. A precipitação total depende
da duração e do tempo de retorno, o que se infere da relação IDF
utilizada para a confecção do hietograma de projeto. Para uma dada
duração, quanto maior o tempo de retorno, maior a intensidade de
chuva e maior a lâmina produzida. A estimativa da parcela efetiva
de precipitação depende não só da magnitude da chuva total, mas
também das condições atuais da bacia, notadamente a sua
capacidade de promover a infiltração.

356 Hidrologia na prática


Quiz 08

8.1 Numa bacia com área 2 km² um escoamento superficial de 10 mm/h, equivale a uma
vazão de, aproximadamente, 5,6 m³/s.

8.2 No hidrograma seguinte, referente à seção de um rio, o ponto A corresponde ao


término do escoamento superficial direto.

8.3 Numa pequena bacia hidrográfica, a chuva de intensidade i produz pico de vazão
sempre crescente com o seu tempo de duração.

8.4 O caráter influente ou efluente do rio, na relação rio-aquífero, varia conforme o


regime das chuvas.

8.5 A distribuição temporal da chuva de projeto afeta o valor da vazão de pico.

8.6 Chuvas mais concentradas no tempo tendem a produzir hidrogramas mais achatados.

8.7 Para o dimensionamento de rede de drenagem urbana, as chuvas de maior interesse


são as orográficas.

8.8 A propagação de onda de cheia em canal (rio) tende a ser mais amortecida em leitos
rugosos.

8.9 Um rio efluente recebe água por escoamento subterrâneo e, com a ausência de
chuvas na bacia, sua vazão tende a diminuir.

8.10 Os principais processos que se desenvolvem durante a propagação de uma onda de


cheia em rio são translação e armazenamento.

Anísio de Sousa Meneses Filho 357


8.11 Numa bacia qualquer, uma chuva com o dobro da intensidade de outra produz o
dobro da vazão desta.

8.12 Numa bacia com área repartida entre diversas tipologias ocupacionais, o coeficiente
de runoff é aquele correspondente à parcela de área majoritária.

8.13 A planície de inundação constitui um elemento natural para a atenuação do pico de


vazão.

8.14 Numa dada bacia, quanto maior a duração da chuva, maior a duração do
escoamento superficial direto.

8.15 A integral (área sob a curva) do hidrograma da precipitação efetiva equivale ao


produto da área de drenagem da bacia pela lâmina total precipitada.

358 Hidrologia na prática


Comentários referentes ao QUIZ 8

8.1 CERTO. A vazão expressa em termos de lâmina de água por


unidade de tempo (por exemplo, mm/h) deve ser interpretada em
relação à área de drenagem da bacia. Por outro lado, quando a
vazão se expressa em termos de volume na unidade de tempo (por
exemplo, m³/s), isso significa que, na seção de controle (exutório
da bacia), a cada unidade temporal, está passando aquele
determinado volume de água. Para converter uma forma de
expressão noutra, basta observar que a lâmina produzida
corresponde ao quociente do volume pela área. Assim:

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૛࢑࢓૛ Ǥ ൌ ૛ǡ ૙Ǥ ૚૙૟ ࢓૛ Ǥ ૚૙Ǥ ൌ ૞ǡ ૞૞࢓૜ Ȁ࢙
ࢎ ૜ǡ ૟Ǥ ૚૙૜ ࢙

8.2 CERTO. A curva tracejada da figura representa o escoamento


subterrâneo (de base) que se soma ao escoamento superficial
direto para resultar no escoamento total (na seção exutória). A
partir do ponto A, todo o escoamento superficial retratado se refere
ao escoamento de base, significando, assim, que já não mais está
ocorrendo o escoamento superficial direto (associado à
precipitação efetiva ou excedente).

8.3 ERRADO. Numa pequena bacia hidrográfica, a vazão máxima


cresce com a duração da chuva, mantida a intensidade desta, até
atingir o seu ápice (maximo maximorum) quando a duração da
chuva corresponde ao tempo de concentração da bacia. Sendo a
duração da chuva maior do que o tempo de concentração, verifica-
se, a partir daí, um patamar no hidrograma.

8.4 CERTO. A relação que se estabelece entre o rio e o aquífero permite


classificar o curso de água em influente (se o rio transfere água
para o aquífero) ou efluente (se o rio recebe água do aquífero, por
escoamento de base). Essa condição varia conforme o regime de
chuvas. No estio, o rio preserva o escoamento devido ao
escoamento de base, sendo, portanto, classificado como efluente.
Por outro lado, durante o período chuvoso, o rio assume o caráter
influente.

Anísio de Sousa Meneses Filho 359


8.5 CERTO. A configuração do hietograma (gráfico da chuva) influencia
o aspecto do hidrograma (gráfico da vazão). Conforme a posição do
pico de chuva (no hietograma), teremos diferentes posições para o
pico de vazão (no hidrograma). Daí a importância de se estabelecer
adequadamente a distribuição temporal da chuva. O método dos
blocos alternados apresenta uma estratégia para retratar o pico do
hietograma no centro da duração da chuva.

8.6 ERRADO. Chuva mais concentrada no tempo, isto é, com todo o


volume de água despejado num curto período (ou duração) acentua
a intensidade do evento, impactando no aumento da vazão de pico
e no menor tempo de pico. Assim, o hidrograma assume um
aspecto mais alongado (no eixo das ordenadas). Por outro lado,
hidrogramas com aspecto mais achatado (menor pico de vazão) são
compatíveis com chuvas de maior duração (e menor intensidade).

8.7 ERRADO. No dimensionamento de rede de drenagem urbana, as


chuvas de maior interesse são as convectivas, tendo em vista as
suas características de curta duração e de maior intensidade (em
comparação às chuvas frontais e orográficas), o que acarreta maior
pico de vazão e menor tempo de pico.

8.8 CERTO. A rugosidade do leito favorece a dissipação da energia


cinética (associada à velocidade do escoamento). Assim, a
propagação da cheia num trecho rugoso do rio tende a resultar a
jusante numa onda mais amortecida (hidrograma efluente mais
achatado).

8.9 CERTO. Não havendo reposição de água no aquífero, a tendência


é que a taxa de transferência de água para o rio diminua com o
tempo. Assim, à medida que o período de estio se alonga, menores
vazões vão sendo observadas no rio. A reposição volta a acontecer
com o advento de uma nova quadra chuvosa.

8.10 CERTO. Os dois principais processos a serem modelados na


propagação de vazão num trecho de rio são o armazenamento e a
translação. Em decorrência do armazenamento, constata-se um
abatimento na vazão de pico.

8.11 ERRADO. A relação de proporcionalidade entre intensidade da


chuva e a vazão produzida no escoamento superficial pressupõe
o comportamento linear do sistema, o que não se valida em toda
360 Hidrologia na prática
e qualquer bacia. Ademais, a vazão depende de diversos outros
fatores, como a duração da chuva, e a distribuição temporal e
espacial desta.

8.12 ERRADO. O coeficiente de runoff, nesse caso, corresponde à


média ponderada dos diversos coeficientes, tomando-se como
pesos os respectivos percentuais de área de tipologia ocupacional
na bacia.

8.13 CERTO. A planície de inundação (flood plain) proporciona uma


seção hidráulica ampliada (lateralmente) para o escoamento das
águas fluviais no período de maiores vazões. Desse modo, o
amortecimento da cheia é favorecido. Essa faixa marginal dos rios
deve ser mantida sem ocupação, ficando disponível, assim, para
os eventos de menor frequência (vazões de maior tempo de
retorno).

8.14 CERTO. O tempo de escoamento cresce com o tempo de chuva,


porém não na mesma proporção. Isso está coerente com o
princípio da constância do tempo de base. O tempo de
escoamento depende da duração da chuva, sem importar
diretamente a sua intensidade.

8.15 ERRADO. A integral (área sob a curva) do hidrograma da


precipitação efetiva equivale ao produto da área de drenagem da
bacia pela lâmina de precipitação efetiva, isto é, deduzidas as
abstrações iniciais e a parcela de infiltração.

Anísio de Sousa Meneses Filho 361


Quiz 09

9.1 O diagrama de box plot pode ser empregado para a detecção de outliers.

9.2 A análise de consistência deve ser feita antes do preenchimento de falhas nos
registros históricos.

9.3 O método da ponderação regional serve para promover a verificação da


homogeneidade dos dados.

9.4 Uma série de precipitações máximas diárias anuais de n anos de registros históricos
reúne as n maiores precipitações diárias desse período.

9.5 O diagrama de dupla massa é aplicado para a verificação de inconsistência nas séries
anuais de precipitação.

9.6 O preenchimento de falhas no registro de chuvas diárias apresenta maior precisão do


que o preenchimento de falhas no registro do acumulado no mês, de um dado posto.

9.7 A correlação estatística nos totais anuais de precipitação em dois postos constitui
indicativo suficiente de pertencerem esses postos a uma mesma região hidrológica.

9.8 As séries temporais de registros hidrológicos podem ser anuais ou parciais, sendo que
nas séries parciais é necessário o estabelecimento de um valor limiar como critério de
inclusão.

9.9 No processamento de dados anuais, o conceito de ano hidrológico se confunde com


o conceito de ano civil.

9.10 O ajuste (ou consistência) de dados pluviométricos anuais inconsistentes pressupõe


a identificação da causa que ocasionou a inconsistência.

362 Hidrologia na prática


Comentários referentes ao QUIZ 9

9.1 CERTO. O diagrama box plot (ou box plot and whisker) oferece um
critério para a identificação de outliers, ou seja, aqueles valores que
se afastam consideravelmente da média, devendo, então, ser
removidos para não perturbar o ajuste ao modelo. Consiste esse
diagrama de caixa na exibição do valor médio, do primeiro e
terceiros quartis, e da faixa de pertinência.

9.2 ERRADO. O preenchimento de falhas deve preceder a análise de


consistência. Sem esse preenchimento, o processamento assumiria
nulo o dado lacunoso, prejudicando, assim, a análise de dupla
massa (cumulativa) para detecção de inconsistência. Basicamente,
o processamento de dados deve ser precedido dessas três
providências básicas:
x detecção de erros grosseiros;
x preenchimento de falhas;
x análise de consistência.
9.3 ERRADO. O método da ponderação regional é empregado para o
preenchimento de falhas nos registros históricos de chuva.

9.4 ERRADO. Na composição da série de precipitações máximas diárias


anuais, considera-se, para cada um dos anos, o maior valor
registrado no pluviômetro. Pode ocorrer, no entanto, de a segunda
maior chuva diária de um certo ano superar a maior chuva de um
outro ano da mesma série histórica. Portanto, a série de
precipitações máximas diárias anuais não reúne, necessariamente,
as maiores chuvas do período considerado.

9.5 CERTO. No diagrama de dupla massa os valores de chuva na


sucessão dos anos são plotados cumulativamente. Num dos eixos
do diagrama, dispõem-se os valores atinentes ao total anual do
posto sob análise; no outro eixo, colocam-se os valores médios dos
totais anuais dos demais postos da região hidrológica. A
colinearidade dos pontos plotados no diagrama é sugestiva da
ausência de inconsistência dos dados.

9.6 ERRADO. O preenchimento de falhas no registro histórico de chuva


não resgata o valor do dado lacunoso, qualquer que seja a
metodologia empregada. No entanto, permite que as características
Anísio de Sousa Meneses Filho 363
estatísticas sejam preservadas para um melhor processamento dos
dados. O nível de aproximação no preenchimento do total mensal
de chuva tende a ser maior do que o obtido no preenchimento da
chuva diária.

9.7 ERRADO. A correlação estatística dos totais anuais de chuva é um


indicador importante, porém não absoluto para estabelecer o
enquadramento de postos numa mesma região hidrológica. Outros
aspectos atinentes à caracterização do clima também devem ser
considerados, inclusive a correspondência dos períodos chuvosos e
de estio.

9.8 CERTO. Na composição das séries parciais, consideram-se as


ocorrências de evento a partir de um certo valor estabelecido
(limiar). Esse critério é diferente daquele empregado na confecção
das séries anuais – em que, para cada ano, há um registro
representativo. Nas séries parciais, um mesmo ano pode contribuir
com mais de um elemento na formação da série; assim também
outro ano pode não contar com qualquer registro seu para essa
formação.

9.9 ERRADO. O ano de um planeta é o tempo que ele leva para


descrever completamente a sua órbita de translação em torno do
Sol. O ano civil é aquele que, no mundo ocidental, começa em
janeiro e se estende até dezembro. Esses marcos inicial e final
resultam de convenção humana. Por outro lado, o ano hidrológico
que, em média, apresenta a mesma duração do ano civil, não
assume os mesmos marcos inicial e final. Considera-se o ano
hidrológico a partir do início do período chuvoso até o final do
período seco, quando nova quadra chuvosa se inaugura.

9.10 CERTO. Após a identificação de inconsistência dos dados


pluviométricos, o que é possível a partir da elaboração do diagrama
de dupla massa, deve ser promovido o ajuste de consistência. Para
isso, é necessário que se identifique a causa do desarranjo (por
exemplo, erro de transcrição, mudança no posicionamento do
aparelho etc.).

364 Hidrologia na prática


Quiz 10

10.1 Precipitação e vazão são variáveis aleatórias contínuas.

10.2 O desvio padrão expressa a dispersão dos valores (dos dados) em torno da média.

10.3 O caráter estocástico das variáveis hidrológicas estimula o tratamento probabilístico


dos registros históricos.

10.4 Numa série de vazões máximas diárias anuais, a vazão TR 100 é o dobro da vazão TR
50.

10.5 Os parâmetros estatísticos de séries hidrológicas podem variar com o tempo.

10.6 As ocorrências hidrológicas são cíclicas, o que permite a sua modelagem


determinística.

10.7 O coeficiente de assimetria numa série temporal de valores extremos de vazão é


menor do que numa série temporal de vazões médias.

10.8 A curtose na distribuição de frequência de série temporal é proporcional ao


coeficiente de assimetria dessa série.

10.9 A mediana numa série de precipitações totais anuais ocorre sempre uma vez a cada
dois anos.

10.10 O desvio padrão amostral equivale ao quadrado da variância.

Anísio de Sousa Meneses Filho 365


Comentários do QUIZ 10

10.1 CERTO. As grandezas hidrológicas precipitação e vazão


constituem variáveis aleatórias contínuas, isto é, podem assumir
valores do conjunto dos números reais não negativos.

10.2 CERTO. Constituem medidas de dispersão a variância e o desvio


padrão. Elas são usadas para expressar o grau de variação da
série de valores em relação à média.

10.3 CERTO. Conforme Naghetinni e Pinto (2007), “quase todos os


processos hidrológicos são considerados estocásticos, ou
governados por leis de probabilidades, por conterem
componentes aleatórias as quais se superpõem a regularidades
eventualmente explicitáveis, tais como as estações do ano ou às
variações da radiação solar no topo da atmosfera ao longo da
órbita da Terra em torno do Sol.”

10.4 ERRADO. O tempo de retorno está relacionado à probabilidade


de ocorrência de um evento. Não vincula, porém, relação de
proporcionalidade entre a magnitude desses eventos. A cada ano,
a probabilidade da chuva de TR 100 anos é a metade da
probabilidade da chuva de TR 50 anos. A relação entre as
intensidades dessas chuvas varia com a duração do evento e a
localização da bacia.

10.5 CERTO. As mudanças no ciclo hidrológico associadas a


intervenções antrópicas acarretam mudanças no padrão de
ocorrência dos processos que o integram. Assim, as séries
históricas não são estacionárias, o que deve ser levado em conta
no tratamento probabilístico para a modelagem.

10.6 ERRADO. Os acontecimentos hidrológicos não são rigorosamente


cíclicos. Até muito pelo contrário, haja vista a conjunção
randômica dos fatores intervenientes nos processos. A
modelagem determinística procura associar as leis da física para
a previsão dos acontecimentos futuros a partir da caracterização
de novos cenários. A modelagem probabilística, por sua vez,
procura identificar um padrão de comportamento das séries
estatísticas para apontar uma tendência na linha do tempo. Tanto
uma quanto a outra embutem limitações e devem ser
aproveitadas com cautela. Um modelo de transformação chuva-

366 Hidrologia na prática


vazão de caráter determinístico tem como argumento de entrada
uma variável aleatória (a chuva); consequentemente, a resposta
desse modelo (a vazão) também será uma variável aleatória, cuja
distribuição de probabilidade servirá para a tomada de decisão
baseada no risco.

10.7 ERRADO. O coeficiente de assimetria na distribuição de


frequência permite identificar o aspecto da curva e a sua maior
cauda. O coeficiente de assimetria de Pearson, por exemplo, é
definido como o triplo da diferença entre a média e a mediana,
dividido pelo desvio padrão. Trata-se de uma grandeza
adimensional, podendo ser negativo, positivo ou nulo. Valor
negativo se refere a cauda maior à esquerda; valor positivo se
refere a cauda maior à direita. A distribuição é simétrica quando
o coeficiente de assimetria é nulo. Tipicamente, as séries de
valores extremos (máximos ou mínimos) apresentam maior
distorção do que as séries de valores médios. Por outro lado,
distribuições de frequência com aspecto simétrico costumam ser
associadas a séries de valores médios de vazão ou de total anual
de chuva.

10.8 ERRADO. A curtose se refere ao achatamento da curva de


distribuição de frequência, relativamente à distribuição Normal
(gaussiana).

10.9 ERRADO. A mediana de uma amostra é uma medida de tendência


central que separa o conjunto em duas parcelas com a mesma
quantidade de elementos. A mediana de uma série hidrológica
corresponde a uma probabilidade de 50% de ser igualada ou
superada. Assim também de 50% a probabilidade de valores
abaixo da mediana. Sendo a precipitação uma variável aleatória
contínua, não se pode atribuir a ela uma periodicidade estrita.

10.10 ERRADO. A variância e o desvio padrão são medidas de


dispersão em torno da média. A variância equivale ao quadrado
do desvio padrão.

Anísio de Sousa Meneses Filho 367


Quiz 11

11.1 O risco hidrológico cresce com o tempo de retorno definido no projeto.

11.2 A vazão máxima obtida pelo método racional é tanto maior quanto menor o risco
hidrológico considerado.

11.3 A probabilidade de, em 5 anos consecutivos, ocorrerem 2 anos secos com tempo de
retorno de 10 anos é de 40%.

11.4 A probabilidade de, em 5 anos consecutivos, ocorrerem exatamente 3 anos úmidos


com tempo de retorno de 5 anos é de 60%.

11.5 Num ano qualquer, a probabilidade de chuva total acima da média histórica anual é
igual à probabilidade de chuva total abaixo da média.

11.6 O risco de vazões acima da média histórica equivale ao risco de precipitações acima
da média histórica.

11.7 Precipitações críticas sempre produzem vazões críticas de mesmo tempo de retorno.

11.8 Numa obra de vida útil 20 anos dimensionada para evento hidrológico com período
de retorno de 100 anos, o risco hidrológico é nulo.

11.9 Risco hidrológico é uma probabilidade associada exclusivamente ao tempo de


retorno.

11.10 O conceito probabilístico de tempo de retorno é o mesmo tanto para eventos


extremos máximos quanto para eventos extremos mínimos.

368 Hidrologia na prática


Comentários do QUIZ 11

11.1 ERRADO. Quanto maior o tempo de retorno, menor o risco


hidrológico, para a mesma extensão de vida útil de projeto.

11.2 CERTO. A um menor risco hidrológico associa-se um maior tempo


de retorno. Para uma mesma duração de chuva (que, no método
racional, deve ser equivalente ao tempo de concentração da
bacia), quanto maior o tempo de retorno, maior a intensidade,
conforme se depreende da relação IDF. Assim, a vazão máxima
estimada pelo método racional será tanto maior quanto maior o
tempo de retorno da precipitação e, consequentemente, menor o
risco hidrológico considerado.

11.3 ERRADO. O risco de ocorrência de dois anos secos em cinco anos


consecutivos é estimado pela probabilidade em análise binomial.
Assim: 
࢔ ૚ ࢓ ૚ ࢔ି࢓
ࡼሺࢄ ൌ ࢓ሻ ൌ ቀ ቁ Ǥ ൬ ൰ Ǥ ൬૚ െ ൰
࢓ ࢀࡾ ࢀࡾ

૞ ૚ ૛ ૚ ૜
ࡼሺࢄ ൌ ૛ሻ ൌ ቀ ቁ Ǥ ൬ ൰ Ǥ ൬૚ െ ൰ ൎ ૙ǡ ૙ૠ૛
૛ ૚૙ ૚૙
11.4 ERRADO. A probabilidade de ocorrerem 3 anos úmidos em um
lustro também pode ser obtida por análise binomial. Nesse caso,
devemos considerar a ocorrência de 2 anos secos e 3 anos
úmidos, em qualquer combinação possível no período de 5 anos.
Assim:

૞ ૚ ૜ ૚ ૛
ࡼሺࢄ ൌ ૜ሻ ൌ ቀ ቁ Ǥ ൬ ൰ Ǥ ൬૚ െ ൰ ൎ ૙ǡ ૙૞૚
૜ ૞ ૞
11.5 CERTO. Considerando a distribuição normal (gaussiana) para a
série de precipitação total anual, a média coincide com a mediana,
ou seja, a probabilidade de valores acima da média dos totais
anuais é de 50%. Portanto, a mesma probabilidade de, num ano
qualquer, ocorrer precipitação total abaixo da média.

11.6 ERRADO. O tempo de retorno da precipitação não guarda estrita


conexão com o tempo de retorno da vazão por ela produzida. Isso
porque o padrão de chuva (modelado na relação IDF) sofre

Anísio de Sousa Meneses Filho 369


alterações mais lentas do que as vazões, haja vista as
intervenções antrópicas no âmbito da bacia (notadamente, a
urbanização). Além disso, a distribuição das chuvas ao longo do
tempo e no espaço da bacia de drenagem associa diferentes
condições para a separação dos volumes e efetiva produção de
escoamento.

11.7 ERRADO. O processo de transformação chuva-vazão não


depende apenas das características da precipitação, mas
sobretudo das condições em que essa chuva encontra a bacia. Por
exemplo, o teor de umidade antecedente do solo implica variação
na parcela efetiva da chuva, o que, evidentemente, afeta a
magnitude do caudal produzido.

11.8 ERRADO. A expressão do risco hidrológico (R), em função do


tempo de retorno e do número de anos da vida útil de projeto (n),
é a seguinte:

૚ ࢔
ࡾ ൌ ૚ െ ൬૚ െ ൰
ࢀࡾ
11.9 ERRADO. O risco hidrológico de uma estrutura hidráulica colapsar
(ou não apresentar adequado desempenho) depende da vida útil
de projeto e do tempo de retorno considerado na estimativa das
variáveis hidrológicas (precipitação, vazão).

11.10 ERRADO. No caso de eventos extremos máximos, o tempo de


retorno associa a probabilidade de atingimento ou superação. Por
outro lado, quando se trata de eventos extremos mínimos, o
tempo de retorno se refere à probabilidade de não atingimento.
No primeiro caso, a série histórica é classificada
decrescentemente; no segundo caso, em ordem crescente. As
expressões seguintes esclarecem.
Para eventos extremos máximos:

ࢀࡾ ൌ
ࡼሺࢄ ൒ ࢞ሻ
Para eventos extremos mínimos:

ࢀࡾ ൌ
ࡼሺࢄ ൑ ࢞ሻ

370 Hidrologia na prática


Quiz 12
12.1 Modelo constitui uma conceitualização integral do sistema, em que se preservam
todas as características desse sistema.

12.2 As equações de transferência servem para preservar os processos que ocorrem no


sistema.

12.3 Em modelo de bacia hidrográfica, a precipitação constitui um parâmetro de estado.

12.4 Quanto maior o número de parâmetros exigidos para a calibração de um modelo,


tanto mais cara tende a ser sua implementação.

12.5 Para a implementação de um modelo, a sequência procedimental a ser obedecida


é: simulação, verificação e calibração.

12.6 O escoamento de base num rio pode ser representado por uma função exponencial
decrescente durante o período de estio.

12.7 No método racional, o hidrograma com patamar indica duração inferior ao tempo
de concentração da bacia.

12.8 No hidrograma unitário adimensional, o tempo de base e o tempo de pico são iguais
a 1,0.

12.9 É possível reconhecer a área de drenagem da bacia a partir do seu hidrograma


unitário.

12.10 O hidrograma unitário é uma característica da chuva.

12.11 O modelo Muskingum é calibrado a partir das características físicas do rio.

12.12 O modelo Muskingum não leva em conta a extensão do trecho em que a onda de
cheia está sendo propagada.

12.13 Pelo método racional, a estimativa da vazão máxima depende da intensidade da


chuva, porém não depende do tempo de duração da chuva.

12.14 A vazão estimada pelo método racional não cresce após cessada a chuva.

12.15 Os modelos determinísticos são mais confiáveis do que os modelos probabilísticos,


pois não embutem incerteza nos processos.

Anísio de Sousa Meneses Filho 371


Comentários do QUIZ 12

12.1 ERRADO. Modelo é a conceitualização do sistema, a qual preserva


as principais características do sistema sem, necessariamente,
preservar todas as características (Campos (2009)).

12.2 CERTO. As equações de transferência, incorporadas na


formulação do modelo, têm o propósito de representar (ou
traduzir) os processos que se desenvolvem no sistema. Tanto
melhor a equação de transferência quanto melhor a preservação
dos aspectos e especificidades dos processos, com parcimônia e
efetividade nas simulações pretendidas. A equação de Horton no
modelo de infiltração constitui exemplo de equação de
transferência.

12.3 ERRADO. A precipitação, em modelo de bacia hidrográfica,


constitui uma variável de entrada, que impulsiona uma
manifestação da bacia (sistema modelado) para gerar uma
resposta na forma de vazão (variável de saída). Exemplo de
variável de estado seria o volume de água estocada nos
reservatórios dessa bacia.

12.4 CERTO. Para a calibração de um modelo com maior quantidade


de parâmetros, mais dados de campo (seja de características
físicas da bacia, seja de registros históricos) são requeridos. Isso
torna mais oneroso o uso de um tal modelo. Por outro lado, os
modelos parcimoniosos que conseguem oferecer boa
reprodutibilidade do comportamento do sistema com poucos
parâmetros tendem a corresponder a um custo mais moderado
na sua utilização. De qualquer forma, a escolha do melhor modelo
deve levar em conta o propósito da simulação e os processos mais
relevantes que estão sendo explorados, sempre na lógica da
melhor relação entre o benefício e o custo.

12.5 ERRADO. A sequência correta das ações para o uso de um modelo


é: calibração, verificação e simulação. A calibração consiste em
identificar os parâmetros mais adequados para uma amostra de
dados conhecidos das variáveis de entrada (por exemplo, a
chuva) e de saída (por exemplo, a vazão no exutório); a
verificação serve para comparar a efetiva resposta da bacia (em
registros históricos de saída) e a resposta fornecida pelo modelo,

372 Hidrologia na prática


utilizando-se os parâmetros alcançados na etapa anterior de
calibração; a simulação se refere à utilização do modelo calibrado
propriamente dito, para revelar o comportamento do sistema em
diferentes cenários ou compor uma série das variáveis de saída
do sistema, não contemplados na base histórica de registros.

12.6 CERTO. A modelagem do escoamento de base (subterrâneo ou


subsuperficial) pode ser feita, por exemplo, considerando-se uma
recessão exponencial ou assumindo-se comportamento de
reservatório linear. No modelo de recessão (ou decaimento)
exponencial, a vazão de base (ࡽ࢚ ), em função do tempo, tem a
seguinte expressão:

ࡽ࢚ ൌ ࡽ ࢕ Ǥ ࢑࢚

Sendo ࡽ࢕ a vazão inicial de base, no tempo zero; k a constante


de decaimento exponencial. Nesse caso, k assume valor entre 0 e
1, quando o escoamento básico diminui em razão da passagem
da onda de cheia no rio.

12.7 ERRADO. A evidência de patamar no hidrograma associado ao


método racional (aplicável a pequenas bacias) se refere ao
atingimento da vazão máxima, que está associada à duração do
evento de chuva maior do que o tempo de concentração da bacia,
ou seja, a chuva prossegue depois que toda a bacia já contribuiu
com a vazão no exutório. A figura seguinte esclarece.

12.8 CERTO. No hidrograma unitário adimensional, o eixo destinado


ao tempo exibe os valores relativizados ao tempo pico (tp); o eixo
destinado à vazão exibe os valores relativizados à vazão de pico
(Qp). O ponto coordenado (tp; Qp) no hidrograma dimensional
Anísio de Sousa Meneses Filho 373
corresponde, portanto, ao ponto coordenado (1; 1) no
hidrograma adimensional.

12.9 CERTO. A área sob a curva do hidrograma unitário corresponde


ao volume escoado superficialmente em decorrência da chuva
unitária. Portanto, esse volume equivale ao produto da lâmina de
chuva unitária pela área de drenagem da bacia. Noutras palavras,
a área de drenagem da bacia corresponde à razão entre o volume
do escoamento superficial direto (área sob o hidrograma) e a
lâmina de chuva unitária.

12.10 ERRADO. O hidrograma unitário é, essencialmente, uma


característica da bacia. Ele constitui uma síntese do
comportamento da bacia quando esta é impulsionada por uma
precipitação unitária. Além disso, o hidrograma unitário assume
magnitudes diferenciadas em razão da lâmina unitária
considerada e da duração do evento unitário de chuva.

12.11 ERRADO. O modelo Muskingum, empregado na propagação de


vazão em canais, exige, para o seu melhor ajuste, a
disponibilização de hidrogramas nos extremos do trecho de
propagação. Assim, torna-se possível a identificação dos valores
calibrados dos parâmetros K e X naquele trecho, permitindo ali a
aplicação para diferentes ondas de cheia. Nesse aspecto, o
modelo Muskingum-Cunge se diferencia do modelo Muskingum,
ao associar os seus parâmetros a características físicas do canal.

12.12 CERTO. O modelo Muskingum é de passo único na sua


implementação, de uma extremidade a outra do trecho do canal
de propagação. Assim, uma vez definidos os parâmetros K e X do
modelo, não é requerida a informação atinente ao comprimento,
embora o parâmetro K esteja relacionado ao tempo de viagem no
deslocamento da água no trecho. Evidentemente, quanto maior a
extensão do trecho, maior tende a ser o parâmetro K, a depender
também da declividade, da forma e da rugosidade do canal,
fatores explícitos no modelo Muskingum-Cunge.

12.13 ERRADO. Um dos pressupostos do método racional é que toda


a bacia contribua para vazão no exutório. Para isso, o tempo de
duração deve ser igual ao tempo de concentração da bacia. Pela
relação IDF (intensidade-duração-frequência), a intensidade se

374 Hidrologia na prática


estabelece em função do tempo de retorno (associado ao risco) e
do tempo de duração da chuva. Uma mesma duração corresponde
a diferentes intensidades para diferentes tempos de retorno.

12.14 CERTO. O método racional assume que o pico de vazão é


atingido ao final do evento de chuva (considerada constante e
uniformemente distribuída na área de drenagem da bacia).
Portanto, a partir do instante em que cessa a chuva, a vazão
começa a decrescer.

12.15 ERRADO. Todos os modelos são representações simplificadas


(imperfeitas e aproximadas) do sistema. Portanto, a incerteza é
inerente à resposta oferecida por qualquer tipo de modelo. Para
a identificação do melhor modelo, diversos aspectos devem ser
considerados, incluindo o nível de detalhamento dos processos e
a qualidade dos registros históricos disponíveis para a sua
calibração.

Anísio de Sousa Meneses Filho 375


Quiz 13

13.1 O parâmetro CN (curve number) do modelo SCS (Soil Conservation Service) varia ao
longo do tempo, com o processo de ocupação da bacia.

13.2 No modelo SCS (Soil Conservation Service), a capacidade de retenção da água no


solo decresce com o aumento de CN (curve number).

13.3 A parcela de perdas iniciais (Ia) no modelo SCS (Soil Conservation Service) não pode
ser superior à parcela de precipitação efetiva.

13.4 No modelo SCS (Soil Conservation Service), as características físicas e as condições


operacionais da bacia estão reunidas no parâmetro CN (curve number).

13.5 Na ausência de dados locais para calibração, a parcela de perdas iniciais (Ia) pode
ser estimada como 20% da capacidade de retenção de água no solo.

13.6 O modelo SCS (Soil Conservation Service) considera quatro tipos de solo: A, B, C e D.
O solo A é menos favorável à produção de escoamento.

13.7 O teor de umidade antecedente do solo não é levado em consideração no modelo


SCS (Soil Conservation Service), acarretando uma superestimativa do escoamento direto.

13.8 O modelo SCS (Soil Conservation Service) incorpora uma grande quantidade de
parâmetros para a sua calibração, o que inibe a sua utilização de forma mais extensiva.

13.9 No modelo SCS (Soil Conservation Service), a taxa de infiltração é crescente durante
uma chuva uniforme.

13.10 A aplicação do modelo SCS (Soil Conservation Service) é restrita a bacias urbanas
de pequenas ou médias dimensões.

376 Hidrologia na prática


Comentários do QUIZ 13

13.1 CERTO. As alterações físicas na bacia associadas ao processo


ocupacional acarretam mudança no valor do parâmetro CN (curve
number). Tipicamente, a urbanização tende a elevar o valor de
CN, tendo em vista a impermeabilização do solo e a melhor
capacidade de retenção potencial de água no solo. Quanto maior
CN, maior a parcela de precipitação efetiva.

13.2 CERTO. A relação estabelecida em S (capacidade de retenção de


água no solo) e CN (curve number) é a seguinte:
૛૞૝૙૙
ࡿൌ െ ૛૞૝ , com S e CN em mm.
࡯ࡺ

13.3 ERRADO. As abstrações iniciais (ou interceptação) da chuva


podem ser superiores à lâmina total precipitada, haja vista que o
modelo SCS não associa o parâmetro Ia ao evento chuvoso,
porém à capacidade de retenção de água no solo (S) que, por sua
vez, não depende da precipitação. No caso de a precipitação não
superar o valor de Ia, sequer haverá parcela de chuva excedente
para escoar superficialmente.

13.4 CERTO. O parâmetro CN (curve number) constitui uma síntese da


bacia. Desse modo, as características físicas (solo, cobertura etc.)
e as condições antecedentes (umidade do solo) estão ali reunidas,
para consubstanciar a modelagem do processo de transformação
chuva-vazão.

13.5 CERTO. O parâmetro Ia pode ser calibrado para a específica


situação da bacia, desde que haja registros de chuva e vazão para
isso. Caso contrário, a estimativa desse parâmetro pode ser feita
com base no valor estimado da capacidade de retenção de água
no solo (S). Assim:

ࡵࢇ ൌ ૙ǡ ૛Ǥ ࡿ

13.6 CERTO. A classificação dos solos adotada no modelo SCS


pressupõe a existência de 4 tipos (A, B, C e D), conforme o seu
potencial de infiltração e retenção (no meio poroso) e a
consequente capacidade de permitir o excedente superficial para
o escoamento. Na sequência de A, B, C e D, os solos são
Anísio de Sousa Meneses Filho 377
decrescentemente favoráveis à infiltração; portanto, nessa
mesma ordem, maior tende a ser a parcela de precipitação
efetiva.

13.7 ERRADO. Na definição de CN (curve number), são levados em


consideração os seguintes fatores: tipo, cobertura e ocupação do
solo, bem como a sua umidade antecedente. Três condições são
possíveis para retratar o teor de umidade do solo no instante
anterior à chuva: solo saturado, capacidade de campo e ponto de
murcha. Nesta ordem, maior tende a ser a parcela infiltrada da
precipitação total.

13.8 ERRADO. Um dos atrativos do modelo SCS é o seu caráter


parcimonioso, ou seja, o pequeno número de parâmetros
requeridos para a sua implementação numa bacia. Identificado o
valor de CN (curve number), também podem ser inferidos os
valores de S e Ia, permitindo, assim, a fácil separação dos
volumes da chuva.

13.9 ERRADO. A parcela de infiltração tende a decrescer durante os


sucessivos intervalos de tempo de processamento da chuva total,
no modelo SCS. Isso porque o solo tem a sua capacidade de
infiltração diminuída (exponencialmente) à medida que a água vai
ingressando nesse solo.

13.10 ERRADO. O modelo SCS tem larga aplicação, contemplando


tanto bacias rurais quanto bacias urbanas, de diferentes áreas.
Além de parcimonioso (com poucos parâmetros), esse modelo
pode ser calibrado para uma ampla gama de bacias com
características físicas e ocupacionais bastante distintas.

378 Hidrologia na prática


Quiz 14

14.1 Numa distribuição Normal, a média, a moda e a mediana coincidem.

14.2 A distribuição Normal (gaussiana) é aplicável a série de valores extremos (máximos


ou mínimos).

14.3 Na composição de série de vazões máximas, o interesse reside em valores


instantâneos (ou de curta duração).

14.4 Sendo a precipitação total anual média numa bacia igual a 1000 mm com desvio
padrão 250 mm, estima-se em 16% a probabilidade de ocorrer em um ano precipitação
total abaixo de 750 mm.

14.5 A probabilidade de, num dado ano, ocorrer exatamente a média histórica de
precipitação total é de 50%.

14.6 O modelo probabilístico de Gumbel é próprio para retratar a distribuição das vazões
médias mensais.

14.7 Distribuições assimétricas de probabilidade (como lognormal, log Pearson tipo III e
Weibull) são compatíveis com séries hidrológicas de valores extremos.

14.8 O teste do Chi-quadrado é aplicável na verificação do ajuste de modelo


probabilístico.

14.9 O nível de significância no ajuste de um modelo probabilístico indica a magnitude


da dispersão da série histórica.

14.10 Os elementos de uma série hidrológica com distribuição lognormal seguem a


distribuição Normal quando a eles for aplicado o operador logarítmico, qualquer que seja
a base.

Anísio de Sousa Meneses Filho 379


Comentários do QUIZ 14

14.1 CERTO. A distribuição Normal é simétrica, ou seja, apresenta


coeficiente de assimetria igual a zero. Portanto, a moda e a
mediana são iguais à média.
14.2 ERRADO. Haja vista o seu caráter simétrico, a distribuição Normal
não é apropriada para descrever uma variável aleatória de valores
extremos.
14.3 CERTO. O interesse em valores instantâneos da variável para a
composição da série de vazões máximas assim como o interesse
em valores médios (em um certo período) para a composição da
série de vazões mínimas se justificam em razão das
consequências econômicas trazidas por esses acontecimentos
extremos.
14.4 CERTO. Tipicamente, uma série de precipitações totais anuais
segue a distribuição Normal de média ഥ ࢞ e desvio padrão amostral
s. Essa distribuição é tal que, no intervalo de um desvio padrão
em torno da média (ou seja, ࢞ ഥ േ ࢙), há uma probabilidade de
ocorrência da ordem de 68%. Portanto, 16% de probabilidade de
ano com total anual abaixo de 750 mm assim como 16% de
probabilidade com total anual acima de 1250 mm.
14.5 ERRADO. Numa distribuição de probabilidade de variável
aleatória contínua a probabilidade é atribuída como a integral da
função densidade de probabilidade num dado intervalo (cujos
extremos são os limitantes da integral definida). Portanto, a
probabilidade no ponto é nula, já que, nesse caso, os limitantes
superior e inferior da integral coincidem. Há uma probabilidade
de 50% de ocorrência de ano com total anual igual ou superior à
média, assim como há uma probabilidade de 50% de ocorrência
de ano com total anual igual ou inferior à média. Tende a zero,
então, a probabilidade de ocorrência de exatamente um valor pré-
estabelecido.
14.6 ERRADO. O modelo de Gumbel é de distribuição assimétrica,
aplicável a valores extremos. Para valores médios (que não de
extremos) uma distribuição simétrica costuma apresentar melhor
aderência com os dados da série histórica.
14.7 CERTO. As distribuições log-normal, log Pearson III, Weibull e
Gumbel são assimétricas; portanto, compatíveis com o propósito

380 Hidrologia na prática


de descrever o comportamento da variável em série de valores
extremos. No entanto, a qualidade do ajuste varia caso a caso.
14.8 CERTO. A qualidade do ajuste de uma série histórica a um modelo
de distribuição de probabilidade pode ser avaliada com base na
distribuição Chi-quadrado, conforme visto na Aplicação 38 deste
livro. Comparam-se as frequências observadas e as frequências
esperadas (no modelo que está sendo investigado) e, a partir daí,
em função do grau de liberdade e do nível de significância
estabelecido, infere-se a adequação ou não do modelo.
14.9 ERRADO. Por definição, o nível de significância é a probabilidade
de rejeição da hipótese nula quando ela é verdadeira. Portanto, é
o tamanho do erro do Tipo I. Quanto menor o nível de
significância, menor a probabilidade de cometimento desse erro.
Por outro lado, nível de significância não diz em relação à
dispersão de série histórica – o que torna a assertiva
absolutamente exótica.
14.10 CERTO. A distribuição log Normal é assimétrica, enquanto a
distribuição Normal é simétrica. Uma variável aleatória log
Normal transforma-se numa variável Normal quando a ela se
aplica o operador logarítmico. A base do operador é de livre
escolha pelo usuário (em geral, base e ou base 10), desde que
observada essa mesma base para a reconstituição dos valores,
após a aplicação da distribuição Normal padronizada.

Anísio de Sousa Meneses Filho 381


Quiz 15

15.1 A urbanização acarreta aumento da parcela de precipitação efetiva. 1


15.2 O tempo de concentração da bacia diminui com a urbanização.
15.3 A estratégia LID (low impact development) pressupõe uma avaliação da sensibilidade
da bacia às intervenções antrópicas.
15.4 A ocupação sustentável da bacia não é compatível com o processo de urbanização.
15.5 A mata ciliar constitui uma defesa natural das margens do rio contra processos
erosivos.
15.6 A planície de inundação favorece o amortecimento de cheias tanto maior quanto
maior a sua largura.
15.7 O processo de urbanização tende a desfavorecer a infiltração da água no solo.
15.8 Os impactos hidrológicos da urbanização tendem a ser maiores nas áreas mais altas
da bacia.
15.9 A compactação de aterros resulta em significativa melhoria no sistema de
macrodrenagem.
15.10 A remoção da cobertura vegetal que, tipicamente, antecede a ocupação urbana
permite que maior parcela das águas pluviais infiltre o solo.

382 Hidrologia na prática


Comentários do QUIZ 15

15.1 CERTO. Um dos principais efeitos da urbanização é a redução da


permeabilidade do solo, em decorrência das construções prediais
e da implantação do sistema viário. Haverá, portanto, maior
restrição ao processo infiltrativo, gerando significativo incremento
na parcela de precipitação excedente (ou efetiva), a ser
transformada em vazão superficial.

15.2 CERTO. Além do aumento da parcela de chuva efetiva, típico da


urbanização, a velocidade do escoamento superficial tende a
aumentar pela cobertura menos rugosa e pela implantação de
sistema de condutos de maior eficiência hidráulica. Portanto, o
tempo de concentração diminui com o processo tradicional de
ocupação urbana.

15.3 CERTO. A escolha das ações no propósito do desenvolvimento de


baixo impacto deve ser precedida de análise dos aspectos físicos
e morfológicos da bacia, suas vulnerabilidades e sua
adaptabilidade a novas intervenções. A simulação de múltiplos
cenários alternativos, com aplicação de modelos hidrológicos,
constitui um expediente útil para isso.

15.4 ERRADO. A sustentabilidade ambiental é um primado atual para


nortear as intervenções antrópicas. Nesse sentido, o
desenvolvimento urbano não deve promover aumento da vazão
natural, mantendo-se as condições hidráulicas do sistema de
macrodrenagem. Tanto quanto possível, a capacidade de
infiltração do solo deve ser preservada, com a adoção de técnicas
compensatórias, de melhores práticas gerenciais e de
desenvolvimento de baixo impacto. A forma tradicional de
ocupação da bacia não é compatível com essa pretensão, porém
já há exitosas experiências em diversos países que sinalizam a
viabilidade da urbanização sustentável. O planejamento do uso e
ocupação do solo está na base de todo o processo.

15.5 CERTO. A mata ciliar é um tipo de vegetação ripária (aquela que


se desenvolve próximo a cursos de água). Ela cumpre um
importante papel ecológico ao fixar o solo marginal dos rios,
preservando o leito e prevenindo a ocorrência de processos
Anísio de Sousa Meneses Filho 383
erosivos, carreamento de solo e assoreamento (sedimentação). A
propósito, as faixas marginais dos cursos de água constituem
área de preservação permanente, conforme a legislação vigente.

15.6 CERTO. Denomina-se planície de inundação (ou várzea) a região


de margem dos rios que são inundadas durante as cheias. Isso é
típico do baixo curso, em que o relevo é mais suave e a
sedimentação costuma ser mais severa. Hidraulicamente, essa
zona lateral dos rios oferece boas condições para o
amortecimento das cheias, haja vista a significativa redução do
raio hidráulico. Quanto maior a largura dessa planície de
inundação, tanto mais efetiva a atenuação da cheia – daí a
restrição ocupacional dessa faixa.

15.7 CERTO. O desmatamento, a compactação do solo, a


impermeabilização e a alteração do relevo constituem ações
tipicamente associadas ao processo de urbanização que afetam a
separação dos volumes de chuva. Em consequência, a capacidade
de infiltração do solo tende a diminuir e o escoamento superficial
tende a aumentar, requerendo, muitas vezes, intervenções
compensatórias ou corretivas para adequar a capacidade
hidráulica do sistema de drenagem.

15.8 ERRADO. Em geral, as porções a montante e mais elevadas na


bacia, onde se encontram as nascentes dos cursos de água,
apresentam relevo mais íngreme e proporcionam as condições
de rápido escoamento das águas superficiais, o que tende a afetar
as porções mais baixas da bacia, onde o relevo é mais suave.
Efeitos de processos erosivos, como o assoreamento de cursos de
água são maiores nas porções mais baixas – daí também o maior
risco de inundação.

15.9 ERRADO. A movimentação de terra, com a execução de


terraplenos, envolvendo cortes e aterros compactados, podem
alterar severamente o sistema natural de macrodrenagem, tanto
pela mudança na conformação do relevo quanto na estrutura do
solo, o que afeta os processos de interceptação superficial, de
infiltração e de escoamento na bacia. As consequências, no
âmbito da ocupação urbana, podem ser benéficas ou maléficas,
pontual ou difusamente.

384 Hidrologia na prática


15.10 ERRADO. A remoção da cobertura vegetal torna o solo mais
frouxo e suscetível a processos erosivos (o que pode resultar em
sulcos, ravina e voçoroca, nesta ordem de severidade),
acentuando o escoamento superficial e diminuindo a parcela de
infiltração de água no solo.

Anísio de Sousa Meneses Filho 385


Quiz 16

16.1 Medidas de controle na drenagem urbana devem promover um aumento da vazão


natural, ou seja, aquela da fase de pré-desenvolvimento.

16.2 A laminação proporcionada por um reservatório de detenção corresponde à


diferença entre os picos de vazão dos hidrogramas afluente e efluente.

16.3 A rápida transferência das águas pluviais é a estratégia indicada para sistema de
drenagem urbana, numa perspectiva compensatória.

16.4 Medidas compensatórias são mais eficazes se implantadas a jusante das áreas
suscetíveis a cheias.

16.5 As técnicas compensatórias podem ser associadas a elementos paisagísticos e de


atividades recreativas.

16.6 A implantação de elemento do sistema viário (avenida, por exemplo) às margens de


rios urbanos contribui para mitigar o risco de inundações ribeirinhas.

16.7 Essencialmente, as técnicas compensatórias se baseiam na retenção e na infiltração


das águas precipitadas.

16.8 O rearranjo temporal das vazões promovido pelas técnicas compensatórias acarreta
o aumento do volume escoado.

16.9 Técnicas compensatórias atuam somente no aspecto quantitativo das vazões, sem
qualquer efeito sobre a qualidade das águas.

16.10 As trincheiras de infiltração são classificadas como obras lineares, constituindo


técnica compensatória estrutural.

386 Hidrologia na prática


Comentários do QUIZ 16

16.1 ERRADO. As medidas mais eficazes de controle na drenagem


urbana se orientam na manutenção, tanto quanto possível, das
vazões naturais. Esse propósito está associado à urbanização de
baixo impacto e de caráter sustentável, com especial atenção ao
sistema de macrodrenagem, que deve ser preservado.

16.2 CERTO. Denomina-se laminação de cheia o abatimento do pico


de vazão, ou seja, a atenuação da onda de cheia ao passar pelo
reservatório de armazenamento temporário. Esse reservatório
atua como um remodelador do hidrograma, achatando a curva de
vazões e alongando a sua cauda (e o tempo de base), sem formar
estoque permanente – no final tudo o que entra, sai.

16.3 ERRADO. A concepção higienista, promovida no século XIX e em


boa parte do século XX, tinha por preceito a rápida evacuação das
águas pluviais em áreas urbanas. Tipicamente, condutos livres
(atuando por gravidade) constituíam, à época, a melhor
estratégia de gestão da drenagem urbana. Numa perspectiva
compensatória, porém, essa prática se revela equivocada, em
razão de acentuar os problemas a jusante da área tratada,
podendo amplificar o pico de vazão a até 6 vezes, em relação à
descarga natural, se toda a bacia contribuinte passar a ser
atendida por sistema de drenagem e com a sua superfície já
totalmente impermeabilizada92.

16.4 ERRADO. Como as vazões crescem de montante para jusante, à


medida que aumenta a área de drenagem contribuinte, tem-se
por razoável que, em geral, a obra de controle promove efeito a
jusante do local onde ela é implantada. Por exemplo, um
reservatório de detenção protege a área a jusante da seção
barrada. Por outro lado, existem algumas ações que apresentam
um efeito mais distribuído, quando o controle é na fonte
(microrreservatório de detenção em cada lote, por exemplo) ou

92
Conforme Leopold (1968), apud Canholi (2016).
Anísio de Sousa Meneses Filho 387
através de obras lineares (como o pavimento permeável e as
trincheiras de infiltração).

16.5 CERTO. A concepção de medidas compensatórias integradas a


múltiplos propósitos, como equipamentos funcionais de
drenagem, de lazer e de valorização paisagística e cultural,
assume importância para a sua melhor conservação e
manutenção, pelo reconhecimento da população quanto à sua
utilidade ao longo de todo o ano (e não apenas no período
chuvoso).

16.6 ERRADO. As faixas marginais dos rios são de preservação


permanente, não edificável, conforme a legislação vigente. A
mata ciliar e a planície de inundação devem ser mantidas sem
ocupação, a menos que como área de recreação no período seco.
A construção de avenidas marginais sem a necessária atenção à
dinâmica fluvial concorre para intensificar a magnitude e a
aumentar a frequência das inundações ribeirinhas. Essa situação
tende a ser ainda mais grave em áreas urbanas.

16.7 CERTO. A redução da infiltração e o aumento do escoamento


superficial são os dois principais efeitos hidrológicos típicos da
urbanização. A implantação de obras que favoreçam a infiltração
ou armazenem a água (ainda que temporariamente) para a
atenuação do pico de vazão e o seu retardo constituem ações no
âmbito das chamadas medidas compensatórias, ou seja, aquelas
que oferecem à bacia uma compensação pelos impactos
negativos que a ocupação urbana acarreta.

16.8 ERRADO. A escolha dos locais de implantação das medidas


compensatórias, notadamente aquelas relacionadas à detenção
(armazenamento temporário), deve ser bastante criteriosa. O que
se busca é a atenuação de vazão, porém há o risco de efeito
contrário àquele pretendido quando múltiplas detenções liberam
suas águas simultaneamente – pela amplificação do efeito final
resultante da soma de pequenos efeitos ao mesmo tempo. Porém,
o volume total do escoamento não sofre alteração, pois a parcela
que não infiltra é transformada em vazão superficial. Com efeito,
o aumento do tempo de escoamento permite menores vazões
para um mesmo volume total.

388 Hidrologia na prática


16.9 ERRADO. As técnicas compensatórias podem atuar na mitigação
dos impactos negativos quantitativos e qualitativos, ainda que
prevaleça a percepção mais nítida dos efeitos no volume e na
vazão (ou seja, nos aspectos quantitativos). O reservatório de
retenção é um exemplo de medida compensatória que contribui
para a melhoria da qualidade da água, ao manter em
armazenamento parte do volume total – isso favorece as
condições de ocorrência dos processos biológicos de
decomposição da carga poluente e um melhor controle das águas
de primeira descarga (first flush).

16.10 CERTO. O esquema seguinte relaciona os diferentes tipos de


técnicas compensatórias, conforme Baptista et al. (2011). Assim
como as valas, valetas e os pavimentos permeáveis, a trincheira
de infiltração constitui exemplo de medida compensatória
estrutural como obra linear, em vista da sua configuração (em
planta) no âmbito da bacia.

Anísio de Sousa Meneses Filho 389


Quiz 17
17.1 Um reservatório de regularização de vazão diminui a variabilidade das vazões do rio,
em razão da estocagem e controle da liberação.

17.2 Com a construção da barragem e a formação do lago, torna-se possível regularizar


mais do que a média histórica do curso de água represado.

17.3 Com a construção da barragem e a formação do lago, a vazão média a jusante


aumenta.

17.4 No dimensionamento de um reservatório de regularização, a capacidade de


acumulação é tanto maior quanto maior a vazão garantida.

17.5 A vazão regularizada por um reservatório cresce na mesma proporção da sua


capacidade.

17.6 O diagrama de Rippl configura a integral da hidrógrafa, permitindo a identificação


dos períodos de enchimento e de esvaziamento, conforme a regra de regularização.

17.7 De acordo com o diagrama de Rippl, a fase de enchimento de um reservatório de


regularização máxima se estabelece entre dois instantes sucessivos em que a vazão
regularizada equivale à natural.

17.8 O diagrama de Rippl leva em consideração as perdas por interceptação e evaporação


que ocorrem no açude.

17.9 A distribuição das chuvas no ano hidrológico influencia o dimensionamento do


reservatório de regularização de vazões.

17.10 A partir da curva cota-área de um açude é possível estimar o volume armazenado


nesse reservatório com base na medição do espelho de água.

17.11 Num reservatório, a propagação da onda de cheia varia com a geometria do


reservatório.

17.12 Em locais sujeitos a elevadas taxas de evaporação, a estratégia de construção de


barragem para a formação de lago é mais eficiente ocupando-se os vales abertos.

17.13 O método do DTR (diagrama triangular de regularização)93 é aplicável a região


sujeita a elevada taxa de evaporação.

93
Campos (2005).
390 Hidrologia na prática
17.14 Os DTRs (diagramas triangulares de regularização) exibem as parcelas percentuais
de evaporação, liberação e sangria do reservatório, relativas ao volume médio afluente
anual.

17.15 Cada DTR (diagrama triangular de regularização) está associado a um CV


(coeficiente de variação), que é a razão entre a média e o desvio padrão dos deflúvios
anuais.

Anísio de Sousa Meneses Filho 391


Comentários do QUIZ 17

17.1 CERTO. O principal propósito do reservatório de regularização é


reduzir a variabilidade das vazões, por meio do controle de saída
do estoque hídrico.

17.2 ERRADO. A máxima vazão teórica regularizável é a vazão média


de longo termo. O reservatório apenas transporta água no tempo.
Não é possível, portanto, aumentar o aporte hídrico (decorrente
da precipitação) que abastece o reservatório. A rigor, com efeito,
a vazão regularizável é menor do que a média, tendo em vista as
inevitáveis perdas por evaporação ou extravasamentos.

17.3 ERRADO. Após a formação do lago, que decorre da interposição


do barramento, a vazão média a jusante do reservatório se torna
menor (em comparação àquela anterior a construção da
barragem), pois o espelho de água proporcionado no açude
propicia condições para o aumento da evaporação. Como a
precipitação média permanece inalterada, esse aumento da
evaporação acarreta diminuição do deflúvio médio a jusante.

17.4 CERTO. A vazão garantida está associada a uma probabilidade,


por exemplo 90% na curva de permanência (ou de duração).
Maiores vazões garantidas acarretam a necessidade de
reservatórios com maior capacidade de acumulação.

17.5 ERRADO. A denominada curva de possibilidades de regularização


relaciona o grau de regularização com o correspondente volume
útil requerido. Quanto maior o grau de regularização, maior
também será o volume útil necessário, porém essas variáveis não
crescem na mesma proporção; uma pequena variação do grau de
regularização implica um significativo (e cada vez maior)
incremento na capacidade. Para a vazão regularizada tendente à
vazão média, o volume útil tende ao infinito – o que,
evidentemente, torna essa meta inviável. Tipicamente, a curva
de possibilidades de regularização apresenta uma configuração
assintótica.

17.6 CERTO. A passagem da fase de esvaziamento para a fase de


enchimento do reservatório ocorre quando a vazão de entrada
(natural) deixa de ser menor e passa a ser superior à vazão de
regularização. A fase de enchimento se estende até que a vazão
392 Hidrologia na prática
de regularização volta a ser maior que a vazão natural, e aí o
reservatório entra em fase de esvaziamento, num processo
aproximadamente cíclico. O tempo de esvaziamento pode ser
maior do que o tempo de enchimento, como acontece no
semiárido (há poucos meses de chuva e o restante do ano de
estio).

17.7 CERTO. Isso é, teoricamente, verdadeiro para um reservatório


que regularize a vazão média (ou seja, a máxima regularização
possível). No entanto, se outra lei de regularização é adotada, a
assertiva deixa de ser verdadeira. Na prática, a regularização
máxima teórica não é alcançada, ou seja, o grau de regularização
é inferior a 1,0.

17.8 ERRADO. O diagrama de Rippl, na sua forma tradicional, não leva


em conta as perdas, daí não sendo tão eficaz para o
dimensionamento do reservatório, senão como uma estimativa
preliminar com ajustes de majoração. Em regiões sujeitas a taxas
evaporativas elevadas, essa ferramenta não se revela a mais
adequada.

17.9 CERTO. Quanto maior a variabilidade das vazões, maior tende a


ser a capacidade requerida para a sua regularização.

17.10 CERTO. Procedimento aproximado pode ser empregado na


estimativa da reserva hídrica tendo por base a área do espelho
de água. Isso se explica pelo formato típico que assume o
reservatório na região, o que permite o estabelecimento de
correlação estatística entre as duas dimensões geométricas
(associadas a profundidade, área, volume).

17.11 CERTO. A relação cota-área-descarga é empregada para a


determinação da vazão efluente a cada passo temporal da
propagação no reservatório.

17.12 ERRADO. Em vales estreitos, a construção do barramento tende


a ser menos onerosa. Além disso, se o vale é estreito e
suficientemente profundo para a reservação almejada, a área de
espelho de água tende a ser menor, proporcionando, então,
menor perda por processo evaporativo.

Anísio de Sousa Meneses Filho 393


17.13 CERTO. A metodologia do diagrama triangular de regularização
contempla um adimensional atinente à evaporação. Isso torna a
sua aplicação bastante interessante sobretudo em regiões
sujeitas a elevadas taxas evaporativas, como é o caso do
semiárido nordestino.

17.14 CERTO. Uma das principais utilidades do diagrama triangular de


regularização consiste no estabelecimento da repartição dos
volumes evaporado, sangrado e liberado, a partir de dados
hidrológicos locais, o que permite prospectar a viabilidade de
implantação do reservatório ou avaliar o seu desempenho.

17.15 ERRADO. O coeficiente de variação (CV) é definido como a razão


entre o desvio padrão e a média. O método DTR oferece um
diagrama específico para cada CV dos deflúvios anuais.

394 Hidrologia na prática


Quiz 18

18.1 Num rio, as velocidades são menores próximo às paredes do leito.

18.2 O método da meia seção leva em conta a variação da velocidade da água na seção
transversal do rio.

18.3 O uso de flutuador para a medição da vazão tende a superestimar o resultado.

18.4 O assoreamento do leito do rio acarreta mudança na equação da curva chave.

18.5 A curva chave de um rio é a mesma em qualquer uma de suas seções transversais.

18.6 Numa curva chave, a vazão é estimada com base na precipitação.

18.7 Num canal de seção retangular, a curva chave é representada por uma função linear.

18.8 No período sem chuvas, a vazão ao longo de um trecho de rio permanece constante.

18.9 Vertedouros retangulares de soleira delgada são dispositivos de interesse para a


medição de vazão em rios de grande porte.

18.10 A utilização de calha Parshall na medição de vazão pressupõe um relacionamento


direto entre vazão e nível de água.

Anísio de Sousa Meneses Filho 395


Comentários do QUIZ 18

18.1 CERTO. A proximidade das paredes do canal (leito do rio) propicia


efeitos de fricção com o fluido e, consequentemente, atenua a
velocidade desse escoamento. Isso fica bem evidenciado pela
configuração das isótacas numa seção transversal do rio.

18.2 CERTO. O método da meia seção se baseia na coleta de


velocidades em diferentes pontos da seção transversal,
permitindo uma estimativa da velocidade média e,
consequentemente, da vazão, de forma mais representativa. As
medições in loco são efetuadas em diferentes verticais da seção
e em diferentes profundidades numa mesma vertical.

18.3 CERTO. Como o flutuador segue o fluxo das águas na sua


superfície, tende a ocorrer uma superestimativa da medição da
velocidade. Torna-se, portanto, necessária a aplicação de um
fator de ajuste para a obtenção do valor da velocidade (e
consequentemente, da vazão) mais próxima do valor real.

18.4 CERTO. A deposição de sedimentos no fundo do canal pode


acarretar alteração importante na seção transversal e na sua
capacidade hidráulica. Rios sujeitos a assoreamento mais intenso
devem ter suas curvas chave frequentemente revisadas, assim
como o ajuste de posicionamento da régua graduada.

18.5 ERRADO. A curva chave é específica daquela seção do rio em que


as medições de nível e vazão foram realizadas diretamente. A
extrapolação da curva chave na seção pode ser feita, desde que
com bastante cautela. Ainda que as vazões possam ser
correlacionadas à área de drenagem, numa mesma bacia, a
configuração da curva chave não é intercambiável, à vista a seção
transversal do rio que varia bastante ao longo do seu curso.

18.6 ERRADO. Para a confecção da curva chave, são realizadas


expedições de campo para medição direta de velocidade do
escoamento e profundidade da água, o que permite estabelecer
uma relação unívoca entre a velocidade média na seção (ou, por
consequência, a vazão) e o nível da superfície da água. A partir
da disponibilização da curva chave, a medição de vazão passa a
ser feita com base na leitura de régua linimétrica. A utilização de
modelos de transformação chuva-vazão se justifica quando
396 Hidrologia na prática
inexistem dados de vazão em coleta sistemática, ou quando estes
são limitados a poucos anos.

18.7 ERRADO. Num trecho de canal de seção retangular, o


escoamento em regime fluvial, assumido permanente uniforme,
pode ser expresso aproximadamente por uma função exclusiva
da área molhada (ou da profundidade), conforme a equação de
Manning. Se a largura do rio é muito maior do que sua
profundidade, o valor do raio hidráulico se aproxima da
profundidade média.

18.8 ERRADO. Tendo em vista que o leito do rio é permeável, a vazão


no trecho varia em decorrência da interação rio-aquífero. Assim,
o escoamento de base faz com que a vazão não seja constante
no trecho, diferentemente do que ocorre num canal impermeável.
No entanto, dependendo do propósito do estudo e limitado a
trechos pequenos, o escoamento, de maneira aproximada, pode
ser assumido como em regime permanente e uniforme.

18.9 ERRADO. Os vertedouros de soleira delgada se aplicam à medição


de vazão em canais de pequeno porte. Esses dispositivos se
interpõem ao escoamento, permitindo que a lâmina de água na
passagem seja conhecida e, assim também, a vazão do
escoamento, pela aplicação da equação calibrada biunívoca entre
nível e vazão. Por outro lado, dispositivos do tipo ADCP (acoustic
doppler current profiler) são empregados para a medição de
vazão em canais de grande porte).

18.10 CERTO. A calha Parshall apresenta uma geometria adequada


(com seção convergente seguida de seção divergente – num
formato de garganta) para o controle do regime de escoamento,
com transição gradual do subcrítico para o supercrítico. Isso
permite o estabelecimento de uma relação unívoca entre a altura
da lâmina de água e a vazão. Esse tipo de calha é bastante
empregado em estações de tratamento de água, para a medição
de vazão. Além disso, serve como misturador rápido do
coagulante usado no tratamento, facilitando a sua dispersão para
a consequente floculação.

Anísio de Sousa Meneses Filho 397


Quiz 19

19.1 A implantação de um barramento altera a configuração da curva de permanência


numa seção a jusante.

19.2 A curva de permanência permite inferir se um rio é intermitente.

19.3 Com a regularização de vazões, a curva de permanência não se altera.

19.4 A curva de permanência de vazões diárias tem a mesma configuração de uma curva
de permanência de vazões mensais.

19.5 A energia assegurada em PCH (pequena central hidrelétrica) é aquela que


corresponde à vazão de 95% da curva de permanência.

19.6 Numa curva de permanência de vazões decrescentes (CPVD), a vazão Q60 é o dobro
da vazão Q30.

19.7 A vazão Q7,10 é maior do que a vazão Q10,7.

19.8 Numa curva de permanência de vazões decrescentes, a probabilidade de ocorrência


de vazões maiores do que a Q90 é de 10%.

19.9 A curva de permanência de um rio varia conforme a área de drenagem da seção


considerada.

19.10 Numa curva de permanência de vazões decrescentes, a vazão Q90 corresponde a


um TR de 10 anos.

398 Hidrologia na prática


Comentários do QUIZ 19

19.1 CERTO. A propagação da onda de cheia no reservatório produz


uma atenuação no pico de vazão. A jusante do reservatório a
saída da água pode ser controlada por dispositivos hidráulicos.

19.2 CERTO. Em rios intermitentes, parte do tempo ocorre com vazão


nula. Isso é evidenciado na curva de permanência, que termina
antes de 100%.

19.3 ERRADO. A curva de permanência a jusante de um reservatório


de regularização tende a ser mais suave, em decorrência da
menor variabilidade promovida pelo controle na saída do
reservatório.

19.4 ERRADO. A variabilidade das vazões médias mensais tende a ser


menor do que aquela das vazões diárias, pois o valor associado a
cada mês corresponde à média dos registros das vazões diárias.
Portanto, a curva de permanência referente às vazões mensais é
mais suave do que a de vazões diárias, como ilustra a figura
seguinte.

19.5 CERTO. Em geral, pequenas centrais hidrelétricas (PCH) são


construídas sem regularização a montante, ou seja, constituem
usinas a fio d’água. No sistema elétrico brasileiro, denomina-se
energia assegurada a máxima produção de energia possível de se
manter ao longo dos anos, em simulação estatística de vazões
sequenciais, assumindo risco de até 5% de não atendimento da
demanda, o que está associado à variabilidade hidrológica a que
se submete a usina. Para a estimativa da potência hidráulica,
leva-se em conta a vazão Q95, ou seja, a vazão que se verifica,
Anísio de Sousa Meneses Filho 399
em termos probabilísticos, em 95% do tempo – portanto,
estimando-se em 5% o tempo em que a energia gerada fica
abaixo daquela que serve de base para o dimensionamento das
turbinas. A vazão Q95 é extraída da curva de permanência. Note-
se que a grandeza potência (expressa em W) se refere à razão
entre a energia (expressa em J) e o tempo (expresso em s). A
unidade kWh não se refere à potência, e sim à energia e equivale
a 3,6x106 W.s (ou 3,6x106 J).

19.6 ERRADO. A relação de proporcionalidade entre Q60 e Q30 não pode


ser estabelecida a priori, pois varia conforme as condições locais.
A vazão Q60 numa CPVD é aquela igualada ou superada em 60%
do tempo, enquanto a Q30 é a vazão igualada ou superada em
30% do tempo.

19.7 ERRADO. Q7,10 e Q10,7 são conceitos diferentes, não passíveis de


comparação imediata. A Q7,10 é a mínima de 7 dias de duração
com período de retorno de 10 anos, ou seja, apresenta uma
probabilidade de 10% de ocorrer uma vazão igual ou inferior a
esta em qualquer dos anos. A outra vazão mencionada aqui não
passa de um trocadilho. Supostamente, à guisa de especulação,
a vazão Q10,7 seria a mínima de 10 dias de duração com período
de retorno de 7 anos.

19.8 ERRADO. A vazão Q90 numa CPVD é aquela igualada ou superada


em 90% do tempo, ou seja, em 10% do tempo as vazões são
inferiores a ela. Esses percentuais têm caráter probabilístico e
servem para balizar a tomada de decisão num cenário de
incerteza.

19.9 CERTO. A área de drenagem se correlaciona com a vazão. Tanto


os valores como a distribuição das vazões no tempo variam de
um rio para outro, numa mesma bacia, assim como também
variam de uma seção para outra, num mesmo rio. Portanto, a
curva de permanência é específica para a seção.

19.10 ERRADO. A vazão Q90 numa curva de permanência de vazões


decrescentes é aquela com 90% de probabilidade de ser igualada
ou superada ao longo do tempo (seja mensal, diário, conforme o
intervalo adota na confecção da curva). Em outras palavras, Q90
é a vazão com duração garantida (probabilisticamente) de 90%

400 Hidrologia na prática


do tempo – ou ainda, as vazões no rio são esperadas iguais ou
maiores a ela em 90% do tempo. Assim, em 10% do tempo as
vazões são esperadas iguais e menores do que ela. Não guarda,
portanto, relação direta com o tempo de retorno, pois não se trata
de uma série anual.

Anísio de Sousa Meneses Filho 401


Quiz 20

20.1 A relação de Darcy se aplica a escoamento em regime laminar.

20.2 A proporcionalidade direta entre a velocidade e o gradiente hidráulico pressupõe


meio poroso sujeito à ação capilar.

20.3 Uma movimentação da água no meio poroso saturado se orienta pelo gradiente
hidráulico.

20.4 Um poço é jorrante quando a linha piezométrica está acima do nível da superfície
do terreno.

20.5 Formações geológicas com rochas sedimentares favorecem o armazenamento de


água subterrânea.

20.6 Em aquífero estratificado, o coeficiente de permeabilidade equivalente corresponde


à média aritmética das condutividades hidráulicas das camadas.

20.7 Num aquífero confinado, a água está submetida à pressão hidrostática.

20.8 O gradiente hidráulico é uma grandeza adimensional que assume valores tanto
maiores quanto menor a carga hidráulica.

20.9 A carga hidráulica é uma característica associada à textura do solo.

20.10 O coeficiente de permeabilidade corresponde à velocidade de fluxo subterrâneo


naquele meio quando a água está submetida a um gradiente hidráulico unitário.

20.11 A permeabilidade do solo corresponde à média geométrica das permeabilidades


vertical e horizontal.

20.12 A ascensão capilar da água é tanto maior quanto maior a permeabilidade do solo.

20.13 Tipicamente, a ascensão capilar da água ocorre acima da zona vadosa.

20.14 A ascensão capilar da água no solo é um fenômeno decorrente da tensão


superficial.

20.15 O escoamento da água na zona vadosa do solo pode ser modelado pela relação de
Darcy.

20.16 Todo aquífero confinado proporciona as condições para perfuração de poços


jorrantes.

402 Hidrologia na prática


20.17 A altura do jorro em um poço jorrante permite uma estimativa da pressão no
aquífero confinado.

20.18 Um aquífero confinado armazena água de qualidade superior, isenta de


contaminação.

20.19 Um aquitardo permite a transmissão da água em velocidade bastante elevada.

20.20 Camadas de argilas podem constituir aquiclude.

Anísio de Sousa Meneses Filho 403


Comentários do QUIZ 20

20.1 CERTO. Os três pressupostos para a aplicação da relação de Darcy


são: i) regime laminar de escoamento (ou seja, baixo número de
Reynolds); ii) meio poroso saturado (ou seja, espaço intersticial
dos grãos sólidos inteiramente preenchido por água); ii) fluxo
unidirecional (conforme a orientação estabelecida pelo gradiente
hidráulico).

20.2 ERRADO. A ascensão capilar ocorre logo acima do nível do lençol


freático, portanto na zona vadosa, em que nem todos os vazios
do solo estão preenchidos por água. Portanto, a proporcionalidade
direta entre a velocidade do escoamento subterrâneo e o
gradiente hidráulico, que se expressa na relação de Darcy, não é
compatível com a ascensão capilar.

20.3 CERTO. O gradiente hidráulico, definido como a razão entre a


carga hidráulica e a espessura da camada do aquífero (entre os
pontos extremos de medição da carga), condiciona o fluxo
laminar em meio poroso saturado, conforme a relação de Darcy.
A água se movimenta no sentido da maior para a menor pressão.

20.4 CERTO. Quanto à pressão hidrostática, os aquíferos podem ser


classificados em livre (ou freáticos), semiconfinados (ou
confinados drenantes) ou confinados. Os aquíferos confinados
apresentam como limite superior um estrato impermeável; nesse
caso, tipicamente, a pressão no nível da água é maior do que a
pressão atmosférica. Os aquíferos confinados podem dar ensejo
a poços jorrantes, que são aqueles que não requerem energia
adicional para a extração da água, ou seja, a água pode ser
transferida para o nível da superfície do terreno sem
bombeamento. Nem todo poço em aquífero confinado é jorrante,
porém todo poço jorrante é de aquífero confinado, já que aquífero
freático (estando sob pressão hidrostática) não oportuniza o
jorro. Para que um poço seja jorrante, além de o aquífero ser
confinado, é necessário que a linha piezométrica (cuja altura é
estimada dividindo-se a pressão pelo peso específico da água)
esteja acima do nível da superfície do solo, descontadas as perdas
de carga.

404 Hidrologia na prática


20.5 CERTO. Um aquífero sedimentar (ou poroso) é aquele constituído
de rochas sedimentares consolidadas, sedimentos inconsolidados
ou solos arenosos. Nesse caso, a circulação da água acontece nos
poros (entre os grãos sólidos). Tais aquíferos são particularmente
importantes pelo grande volume de água que conseguem
armazenar. Por outro lado, existem também os aquíferos fissurais
ou fraturados, que são associados a rochas ígneas, metamórficas
ou cristalinas e se caracterizam como meio de baixa transmissão,
com baixa aptidão para o armazenamento de água, o que se
limita às descontinuidades correspondentes às fraturas abertas
devido ao movimento tectônico. O Ceará, por exemplo, tem cerca
de 75% do seu território sobre rochas cristalinas, daí as suas
reservas hídricas subterrâneas severamente limitadas.

20.6 ERRADO. O coeficiente de permeabilidade equivalente num


aquífero estratificado se estima a partir da condutividade
hidráulica de cada uma das camadas e suas dimensões. A
expressão usada para o cálculo depende ainda da orientação do
fluxo relativamente às camadas. Se o fluxo é perpendicular às
camadas sucessivas, calcula-se o coeficiente de permeabilidade
pela média harmônica dos coeficientes de cada camada
ponderada pela sua espessura; por outro lado, se o fluxo é
paralelo às camadas, calcula-se a média aritmética ponderada
também pela espessura de cada uma das camadas. Com o
coeficiente equivalente assim obtido, a vazão pode ser estimada
pela relação de Darcy.

20.7 ERRADO. Ao contrário de um aquífero livre (ou freático), em que


a pressão é hidrostática, ou seja, varia linearmente com a altura
da camada saturada, o aquífero confinado acomoda a água que
não segue essa regra, podendo a pressão ser até bem superior
àquela numa correspondente profundidade de aquífero livre. É
isso que, em certas circunstâncias, pode ocasionar a ocorrência
de poço jorrante.

20.8 CERTO. O gradiente hidráulico é a razão adimensional entre a


carga hidráulica e a extensão do trecho a ser percorrido pela
água. Com efeito, o gradiente hidráulico é responsável pelo
escoamento da água em meio poroso saturado.
Anísio de Sousa Meneses Filho 405
20.9 ERRADO. A textura e a estrutura do solo estão relacionadas à
condutividade hidráulica. Por outro lado, a carga hidráulica se
refere à diferença de pressão (expresso em altura hidráulica)
entre os pontos extremos de um escoamento. Para ocorrer o fluxo
subterrâneo de água, os requisitos são a condutividade hidráulica
e o gradiente hidráulico. Este, conforme já mencionado, depende
da carga hidráulica e da extensão do escoamento.

20.10 CERTO. De acordo com a relação de Darcy, a velocidade é


diretamente proporcional ao gradiente hidráulico. A condutividade
(ou permeabilidade hidráulica) constitui a constante de
proporcionalidade nessa relação. Sendo, por hipótese, unitário o
gradiente hidráulico, a velocidade equivale à permeabilidade do
solo.

20.11 ERRADO. A permeabilidade do solo resultante de sua estimativa


em duas direções perpendiculares pode ser estimada como a
média geométrica das permeabilidades equivalentes em cada
uma dessas direções. Assim:

࢑ ൌ ඥ࢑࢜ Ǥ ࢑ࢎ

20.12 ERRADO. A ascensão capilar é tanto maior quanto menor a


permeabilidade do solo. Portanto, solos de textura mais fina,
como as argilas, tendem a favorecer o fenômeno de capilaridade.

20.13 ERRADO. A franja capilar se encontra logo acima da zona


saturada. A sua espessura varia com a dimensão dos grãos
sólidos.

20.14 CERTO. Fundamentalmente, a capilaridade é um fenômeno


associado à tensão superficial e à diferença entre a adesão da
água aos grãos sólidos e a coesão intermolecular da água.

20.15 ERRADO. A relação de Darcy não é aplicável na modelagem do


escoamento da água na zona vadosa, haja vista que um dos
pressupostos é o meio poroso saturado, o que não se verifica
naquela zona em que parte dos vazios intersticiais estão ocupados
por ar.

20.16 ERRADO. Nem todo aquífero confinado viabiliza poço jorrante.


Isso depende da carga piezométrica a que está submetida a água
nesse confinamento. Para que haja a jorrância da água, a carga
406 Hidrologia na prática
piezométrica deve ser superior à altura a ser vencida até o nível
do solo, consideradas também as perdas de carga nesse percurso.

20.17 CERTO. A carga piezométrica é definida como a razão entre a


pressão a que está submetida a água e o seu peso específico.
Quanto maior a carga piezométrica, tanto maior é a altura
alcançada pelo jorro.

20.18 ERRADO. Embora haja uma expectativa de que as reservas


hídricas mais profundas acomodem águas de melhor qualidade,
essa não é uma realidade absoluta, haja vista a possibilidade de
contaminação da água nas áreas de recarga.

20.19 ERRADO. Um aquitardo exibe uma taxa de transmissão muito


pequena. Portanto, apresenta uma natureza semipermeável,
embora possa armazenar significativo volume de água. A
viabilidade de sua exploração através de poços é inexpressiva.

20.20 CERTO. Aquiclude apresenta litologia porosa, porém não


permeável. Um exemplo é a argila, que apresenta alguma
capacidade de armazenar água, mas não exibe uma boa
capacidade de transmissão, isto é, sem capacidade de ceder água
em obra de captação numa perspectiva economicamente viável.

Anísio de Sousa Meneses Filho 407


Referências e fontes de consulta

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408 Hidrologia na prática


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Anísio de Sousa Meneses Filho 409


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410 Hidrologia na prática


Anísio de Sousa
Meneses Filho,
engenheiro civil (UFPI, 1986),
mestre em recursos hídricos
(UFC, 1991), ex-professor da
Universidade Estadual do
Ceará (UECE),
atualmente professor
da Universidade de Fortaleza
(UNIFOR) em cursos de
graduação e pós-graduação,
pesquisador na área de
drenagem urbana.
Colaborador do canal
Engecursos, no YouTube.
Autor dos livros Temas de
Engenharia Civil, Mecânica
Básica e Termodinâmica –
aspectos fundamentais.

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