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CIANOTIPANDO

Fotografia artesanal em sala de


aula

Pedro Paulo Santos Ferreira

1
Projeto Cianotipando - semeando imagens

Produção e proponência: Amanda Santos Rodrigues


Oficinas e conteúdos: Pedro Paulo Santos Ferreira
(Pedro Padosan)
Revisão: Mônica Rodrigues
Projeto gráfico e diagramação: MulaDeTanga

Capa: fotomontagem sobre fotografia de Anna Atkins

Cópia e reprodução integral ou parcial é permitida


apenas para fins educacionais e com menção à fonte.

ficha catalográfica
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ferreira, Pedro Paulo Santos


Cianotipando [livro eletrônico] : fotografia
artesanal em sala de aula / Pedro Paulo Santos
Ferreira. -- São Paulo : Ateliê Estúdio Padosan,
2022.
PDF

Bibliografia
ISBN 978-65-994924-1-9

1. Arte 2. Fotografia 3. Fotografia - Estudo e


ensino 4. Fotografia - Processos de impressão
5. Sala de aula I. Título.

22-101704 CDD-779
Índices para catálogo sistemático:

1. Cianotipia : Fotografia 779

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

Executado com recursos da lei Aldir Blanc no âmbito do


município de Diadema
ÍNDICE

APRESENTAÇÃO.04

COMEÇANDO.07 / um pouco de história da fo-


tografia.07 / fotografia e sala de aula.12 / outros
apontamentos.16

CIANOTIPIA.17 / receita.7 / sensibilização.18 / ex-


posição.20 / ‘revelação’.22

EXPANDINDO.24 / negativo.24 / tonificação.25


/ tonificação com café.25 / tonificação com chá
mate.25 / tonificação com erva mate.26

NOTAS.27

REFERÊNCIAS.29
APRESENTAÇÃO

Nem sempre a fotografia me foi acessível,


quando criança, tirar a ‘máquina’ de seu bem
cuidado estojo na gaveta e abastecê-la com um
filme de 36 poses era sinal de que algum evento
importante se aproximava, a festinha de algum
primo, o passeio no jardim zoológico ou uma
deliciosa ‘farofada’ na praia. Adolescente, foram
poucas as vezes que tive acesso a uma câme-
ra para poder registrar meus próprios passeios
e andanças, nessa transição para jovem adulto
ocorreu o ‘boom’ do digital, com um crescente e
talvez irreversível declínio dos meios analógicos
de obtenção de imagens.
As imagens pouco a pouco foram se tor-
nando mais e mais rápidas, os smartphones
surgiram e se aperfeiçoaram a ponto de substi-
tuírem a câmera dedicada, não é mais um fato
comum possuir uma câmera fotográfica, o ce-
lular a substituiu muito bem. Na faculdade, em
2007, tive contato com a pinhole (câmera de ori-
fício), onde o papel a base de sais de prata é co-
locado no fundo de uma lata ou caixa e na parte
superior, após tampar, se faz um furo de agulha,
por onde a luz irá se projetar e gravar a imagem
invertida no papel.

4
Fui arrebatado por aquelas caixinhas e la- tinhas
que ‘magicamente’ permitiam a obten- ção de
imagens, suas incertezas e a expectativa pelo que
ia ser visível ou não no papel, imagem incerta,
imagem expectativa, assim, passei à cianotipia,
marrom van dyke, papel salgado, cons- trução
de instrumentos e brinquedos ópticos, goma
bicromatada entre outras muitas expe- riências
desde então.
Me permiti um neologismo, ‘cianotipar’,
na ausência de um correspondente adequado
para a ideia de ‘fazer cianotipia’, fotografar é um
sinônimo aceitável entretanto está repleto de
significados e carrega uma enorme quantida-
de de expectativas, tanto pela reprodutibilidade
técnica que vem sendo preconizada desde os
primórdios da cunhagem do termo até os dias
correntes com o dispositivo fotográfico digital,
que permite uma imediata obtenção de ima-
gens e o compartilhamento em tempo real com
qualquer outra pessoa com acesso à internet.
Sem abrir mão do digital, ‘cianotipar’ é, então,
fotografar lentamente, depender de um Sol ge-
neroso e manipular o papel e as emulsões com
uma outra possibilidade de relação com a ima-
gem fotográfica, um outro tempo cronológico
em que a imagem não está sendo construída de
forma instantânea e para ser facilmente repro-

5
dutível, cada cianotipia é única, e por mais que
você tente uniformizar o seu processo de tra-
balho sempre haverá pequenas diferenças que
farão aquela cópia ser distinguível de qualquer
outra.
Nas próximas páginas pretendo explorar o
processo fotográfico da cianotipia como meio
de expressão e ferramenta didática, comparti-
lhando um pouco da experiência que acumulei
em salas de aula de escolas estaduais e técnicas,
oficinas e workshops principalmente no estado
de São Paulo. Faço isso tendo sempre a criança
que fui como uma referência e na esperança de
que este breve texto encontre professoras(es),
educadoras(es) e famílias com disposição para
pensar fotografia em sala de aula, na sala de
casa, no quintal e onde mais puder.

6
COMEÇANDO
Um pouco de História da Fotografia

A fotografia não foi em si, inventada, ela é


um acúmulo de várias descobertas que foram se
sucedendo e que culminaram no século XIX com
a heliografia de Niépce1 e o talbótipo (calótipo)
de Talbot.

Ilustração do fenômeno da câmera escura na página


30 do livro “A short account of the Eye and nature of
vision” de James Ayscough, 1752.
O fenômeno da câmera escura2 observado
por Aristóteles e Mozi3 no século IV AEC (Antes da
Era Comum) e por Ibn al Hassan4 no século XI da
EC (Era Comum) seguido de seu sucessivo uso no
Renascimento e a fotossensibilidade dos sais de
prata como estudado por Schulze5 (século XVIII)

7
já propiciavam a obtenção de imagens, mas elas
eram efêmeras e constantemente escureciam
até desaparecerem totalmente. O rápido e
progressivo desenvolvimento das indústrias,
especialmente a química, no século XIX,
permitiu uma sistematização das experiências
e seu rápido compartilhamento, Inglaterra e
França concorriam diretamente para mostrar
ao mundo uma imagem fixada, uma imagem
permanente capturada diretamente daquilo
que compreendemos como real. Somente em
1824 uma imagem não evanescente, fixada e
permanente foi obtida a partir da janela do ateliê
de trabalho de Niépce e utilizando como material

Vista da janela em Le Gras, Nicephore Niepce, 1824.

8
fotossensível o betume da Judéia, a essa técnica
deu-se o nome de heliografia (escrito com sol).
Enquanto isso, de forma isolada e do outro
lado do Oceano Atlântico, no ano de 1834, Hercu-
le Florence6 em São Carlos interior de São Paulo
desenvolve um processo fotográfico com a in-
tenção de reproduzir rótulos farmacêuticos e di-
plomas. Suas pesquisas não tomam visibilidade
dado o isolamento do Brasil na época, seu traba-
lho será redescoberto apenas na década de 1970
pelo prof. Boris Kossoy.
Os experimentos
conduzidos por Talbot7
conseguem fixar uma
imagem em 1835, como
documentado pela ima-
gem da Abadia de Loco-
ck, ele utiliza sais de pra-
ta como material sensível
e amoníaco para fixar as
imagens, nomeou a téc-
nica como talbótipo (im-
pressão de Talbot). Um
outro pioneiro, Daguer-
re8 registra em 1939 o da-
guerreótipo (impressão

Rótulos farmacêuticos, Hercule


Florence, 1834.

9
de Daguerre).
Neste cená-
rio de intensa con-
corrência técnica
e científica, vamos
encontrar John
Herschel com ida-
9

de já avançada e
focado em suas
pesquisas astro-
nômicas, ele de-
senvolve a cianoti-
pia (impressão em
azul) em 1842 com
Janela da galeria sul da Abadia de o intuito de produ-
Locock, Fox Talbot, 1835.
zir cartas astronô-
micas, também cunhando o termo fotografia (es-
crever com luz), entretanto quem dará sequência
a essas pesquisas com sais de ferro, levando-as
para o campo da botânica e ampliando-as é Anna
Atkis10, ela produz o livro Photography of British
Algae: cyanotypes impressions (1843-1853), lan-
çando o primeiro livro de fotografias do mundo,
com suas contribuições indo muito além da bo-
tânica e se espalhando por todo o campo de re-
flexão e produção da fotografia.
Utilizaremos as fórmulas originalmente con-
cebidas por Herschel e aperfeiçoadas por Anna

10
Gelidium rostratum in Photography of British Algae: cyanotype
impressions, Anna Atkis, 1843-1853.

11
Atkins e por outros fotógrafos do século XX para
mostrar algumas possibilidades de utilização da
cianotipia tanto como ferramenta de expressão
e comunicação como instrumento didático, que
pode facilitar processos de ensino aprendizagem
em ambiente escolar ou na educação não formal.

Fotografia e sala de aula

A nova Base Nacional Comum Curricular11


preconiza em suas linhas a interdisciplinaridade
como um dos itens a serem valorizados no pla-
nejamento de processos de ensino aprendiza-
gem da educação básica brasileira. A fotografia,
como linguagem da Arte, é meio de expressão
e comunicação que utiliza a luz como sua ma-
téria prima e é interdisciplinar em sua essência.
Como vimos anteriormente as pessoas pioneiras
da fotografia eram antes de tudo, cientistas que
investigavam fenômenos astronômicos, ópticos
e botânicos e que “tropeçaram” na fotografia du-
rante seus percursos.
Uma série de habilidades da BNCC tanto no
Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio in-
dicam a fotografia como um meio direto ou in-
direto que pode ser utilizado para se esmiuçar o
objeto de conhecimento, em uma busca rápida,
localizamos as seguintes:

12
(EF15LP04) Identificar o efeito de sentido pro-
duzido pelo uso de recursos expressivos gráfi-
co-visuais em textos multissemióticos.
(EF15AR26) Explorar diferentes tecnologias e
recursos digitais (multimeios, animações, jogos
eletrônicos, gravações em áudio e vídeo, foto-
grafia, softwares etc.) nos processos de criação
artística.
(EF69AR05) Experimentar e analisar diferentes
formas de expressão artística (desenho, pintu-
ra, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura,
modelagem, instalação, vídeo, fotografia, per-
formance etc.).
(EF05GE08) Analisar transformações de paisa-
gens nas cidades, comparando sequência de
fotografias, fotografias aéreas e imagens de sa-
télite de épocas diferentes.
(EF03CI02) Experimentar e relatar o que ocor-
re com a passagem da luz através de objetos
transparentes (copos, janelas de vidro, lentes,
prismas, água etc.), no contato com superfícies
polidas (espelhos) e na intersecção com objetos
opacos (paredes, pratos, pessoas e outros obje-
tos de uso cotidiano).
(EF04CI02) Testar e relatar transformações nos
materiais do dia a dia quando expostos a dife-
rentes condições (aquecimento, resfriamento,
luz e umidade).
(EF01HI01) Identificar aspectos do seu cresci-
mento por meio do registro das lembranças
particulares ou de lembranças dos membros

13
de sua família e/ou de sua comunidade.
(EF02ER03) Identificar as diferentes formas de
registro das memórias pessoais, familiares e es-
colares (fotos, músicas, narrativas, álbuns...).
(EM13LP11) Fazer curadoria de informação, ten-
do em vista diferentes propósitos e projetos
discursivos.
(EM13MAT105) Utilizar as noções de transfor-
mações isométricas (translação, reflexão, rota-
ção e composições destas) e transformações
homotéticas para construir figuras e analisar
elementos da natureza e diferentes produções
humanas (fractais, construções civis, obras de
arte, entre outras).
(EM13CNT104) Avaliar os benefícios e os riscos
à saúde e ao ambiente, considerando a compo-
sição, a toxicidade e a reatividade de diferentes
materiais e produtos, como também o nível de
exposição a eles, posicionando-se criticamente
e propondo soluções individuais e/ou coletivas
para seus usos e descartes responsáveis.
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográ-
fica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros
textuais e tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, re-
flexiva e ética nas diversas práticas sociais, in-
cluindo as escolares, para se comunicar, acessar
e difundir informações, produzir conhecimen-
tos, resolver problemas e exercer protagonismo
e autoria na vida pessoal e coletiva.

14
Procuramos diversificar ao máximo nossa
pequena amostra para demonstrar que a foto-
grafia e por consequência a cianotipia não estão/
são associadas única e exclusivamente à área de
conhecimento Artes. A fotografia é a primeira
forma de “registro fiel”12 sobre a realidade obser-
vada e foi entendida exclusivamente dessa for-
ma durante muito tempo, a quebra dessa pre-
tensa fidelidade é tema de inúmeros fotógrafos
do início do século XX como Lázsló Moholy-Nagy,
Valério Vieira e Man Ray.

Os 30 Valerios, Valério Vieira, 1901.

15
Outros apontamentos

A Cianotipia é apenas uma dentre várias


técnicas fotográficas que foram desenvolvidas
ao longo dos últimos 2 séculos, em comparação
com outras, como o Marrom van Dyke ou o Pa-
pel Salgado, apresenta custo geral muito inferior,
não demanda uso de laboratório fotográfico e
conta com produtos químicos fáceis de encon-
trar e que não são necessariamente perigosos.
Precisamos reforçar que nunca nenhum
produto fotográfico deve ser ingerido ou ficar
em contato direto com a pele, utilize sempre lu-
vas ao manuseá-los e prepare adequadamente o
seu local de trabalho, que deve ser arejado e não
pode ter contato direto com a luz do sol. Caso
haja a ingestão acidental de qualquer produto
componente da cianotipia, procure imediata-
mente auxílio médico. Não ofereça para crianças
menores de 08 anos os produtos de forma direta,
prepare o papel com a emulsão e após estar seco
ele é manipulável sem riscos. Mais à frente dare-
mos detalhes sobre o uso da cianotipia com cada
faixa etária.

16
CIANOTIPIA
Receita

A cianotipia é um processo fotográfico ex-


tremamente simples e pouco exigente em ter-
mos de materiais e métodos, a fórmula clássica
descrita John Herschel e aperfeiçoada ao longo
do século XX é composta por:
• 10g de ferricianeto de potássio;
• 25g de citrato férrico amoniacal.

Utilizando luvas, pode-se misturar cada


uma das substâncias separadamente em 100ml
de água destilada13, após 24 horas elas estão
prontas para serem misturadas entre si e aplica-
das em papel ou qualquer outro suporte de sua
preferência.
A diluição dos cristais não precisa ser feita
em ambiente reservado de luz, utilize a ilumina-
ção costumeira do local e evite trabalhar sob o
sol. Quando utilizamos água morna para a mis-
tura, os produtos químicos se diluem mais rapi-
damente e não devem ser colocados em frascos
tampados antes de esfriarem por completo.
Após misturar as soluções entre si utilize-as
imediatamente, seu uso posterior não é reco-

17
mendado pois elas oxidam (enferrujam) muito
rápido, dê preferência para fazer a mistura final
somente no momento do uso e na quantidade
que você necessita.

Sensibilização

A solução de cianotipia pode ser aplicada


em uma grande gama de materiais, aqui nos
deteremos no papel que é o meio mais comum
de produzir cianotipia.
O papel ideal é o de algodão com grama-
tura mínima de 300g/cm³, geralmente os papéis
para aquarela cumprem com esses requisitos,

18
entretanto, qualquer papel de qualquer
gramatura consegue receber a emulsão de
cianotipia sobre si, o que varia tremendamente
é a dificuldade de manuseio e lavagem de pa-
péis de baixa gramatura pelo fato de eles não se-
rem preparados para lidar com água, facilmente
se desmanchando. A escolha do papel depende
muito dos seus objetivos, se você pretende uma
aventura radical na cianotipia, onde experimen-
tação é a chave e a frustação não é um proble-
ma, papéis finos e desmancháveis em água po-
dem ser uma escolha interessante, mas se você
for utilizar em sala de aula ou se quiser resulta-
dos mais palpáveis e
sem grandes sustos,
invista em papéis de
gramatura alta.
Para aplicar a so-
lução de cianotipia,
esteja na sombra ou
em um ambiente em
que os raios do Sol
não estejam incidindo
diretamente. Misture
em iguais quantida-
des a solução A com
a solução B e aplique

19
Papel recem emulsionado Papel seco pronto para expor

uniformemente sobre o papel, evite poças e lo-


cais com excesso de emulsão.
Em relação ao pincel a ser utilizado, o ideal
é um pincel tipo foam (espuma) ou pincéis ja-
poneses (Hake e Shodo), também é possível uti-
lizar pincéis comuns com virola metálica, mas
eles se desgastarão com maior velocidade dada
a característica oxidante (que ajuda a enferru-
jar) dos produtos para cianotipia. Após aplicar a
emulsão, deixe o papel secar no escuro.

Exposição

A seguir os tempos aproximados de expo-


sição da cianotipia a luz do Sol:

20
1-3 5-15 30 minutos
minutos minutos a 4 horas

Esses tempos de exposição são apenas


uma referência, o tempo varia muito conforme
a incidência UV(ultravioleta), horário do dia e
estação do ano. Alguém fazendo uma Cianoti-
pia em dezembro na cidade de Fortaleza usará
bem menos tempo de exposição do que uma
outra pessoa na cidade de Uruguaiana em julho.
Experimente!!!
Para expor ao Sol você deve compor sua
imagem, composição é o conceito fotográfico

Cianotipias sendo expostas ao Sol

21
para a organização daquilo que está visível na
fotografia, sugerimos iniciar com um fotogra-
ma, para isto você deve organizar objetos em
cima da folha já seca de cianotipia e após essa
organização levar ao Sol.

‘Revelação’

Revelação não é um termo preciso para se


utilizar com cianotipia, na fotografia baseada
em sais de prata, revelar é fazer quimicamente
a imagem latente aparecer no filme ou no pa-
pel, em cianotipia a imagem não é latente, mas

Cianotipias já expostas ao sol

22
aparente, não precisa ser revelado, utilizamos o
termo apenas como um comparativo para esta
etapa de produção.
Após expor sua cianotipia ao Sol, calce as
luvas e coloque o papel numa solução de 500ml
de água + 10ml de vinagre (exceto balsâmico) e
agite por 1 minuto, retire e coloque sob a água
corrente até que não saia mais nenhuma subs-
tância amarelada do papel, pendure para secar.

Cianotipia seca após exposição e ‘revelação’.

23
EXPANDINDO.

Negativo

Também podemos produzir cianotipias


utilizando negativos fotográficos sem amplia-
ção, a cianotipia é um método que demanda
que o negativo seja de contato, tendo o mesmo
tamanho que a imagem final. E é um processo
negativo/positivo, ou seja, a partir de uma ima-
gem negativa (imagem com as luzes invertidas)
obtemos uma positiva.
Atualmente a forma mais simples de obter
um negativo para produzir cianotipias é atra-
vés da edição digital e posterior impressão em
transparência ou acetato a jato de tinta.
No software
editor de imagens
de sua preferência
converta sua imagem
colorida para tons de
cinza. Depois, inverta
as cores da imagem
e você terá um
negativo imprimível
em transparências
para impressoras
jato de tinta ou laser.
Procure sempre
imprimir com o

24
máximo de qualidade possível.

Tonificação

Tonificação é o processo pela qual a ciano-


tipia assume cores diferentes do azul tradicional.
Antes de submeter a cianotipia a tonificação é
importante mergulhá-la em uma solução de 1l
de água + 10g de carbonato de cálcio, agite sua-
vemente por 30 segundos e perceba a imagem
esmaecendo, tire da solução e coloque em água
limpa, após secar a cianotipia pode passar pelo
processo de tonificação. Além das formas que
apresentamos aqui, também é possível tonificar
as imagens em cianotipia com uma infinidade
de produtos, experimente.

Tonificação com café

Ferva 300g de borra de café em um litro de


água por 5 minutos, coloque a cianotipia no fun-
do de uma vasilha plástica ou de vidro exclusiva
para esse fim e despeje a mistura ainda quente
sobre imagem que deseja tonificar, agite suave-
mente e retire quando atingir o tom escuro que
desejar.

Tonificação com chá mate torrado

Ferva 50g de chá mate torrado e despeje


sobre a imagem que deseja tonificar, agite até
atingir o tom desejado.

25
Tonificação com erva mate (chimarrão)

Ferva 80g de erva mate e despeje sobre a


imagem que deseja tonificar, agite até atingir o
tom desejado.
Sempre após retirar as cianotipias das solu-
ções de tonificação, lave-as bem e coloque para
secar na sombra.

26
NOTAS

1 Joseph Nicéphore Niépce(1765-1833) – Cien-


tista francês.

2 Câmera escura é o fenômeno decorrente


da propagação da luz em linha reta. Também é
um instrumento óptico com grande potencial
didático e que abordamos com mais detalhes
em “Pequeno Manual Didático de Brinquedos
Ópticos” disponível em www.pedropadosan.
com.br/brinquedosopticos.

3 Mozi (470 aEC - 381 aEC) - Também conheci-


do como Micius - Filósofo chinês.

4 Ibn Al hassan (965 - 1040) - Também conhe-


cido como Alhazen - Filósofo nascido no território
que hoje é o Iraque, apresenta estudos aprofun-
dados de óptica e matemática.

5 Johann Heinrich Schulze (1687-1744) – Pro-


fessor e polímata alemão.

6 Antoine Hercule Romuald Florence (1804 -


1879) - Desenhista francês que chega ao Brasil
através da Expedição Langsdorff em 1824 e se
radica onde hoje é a atual cidade de Campinas.

7 William Henry Fox-Talbot (1800 - 1877) - Es-


critor e cientista inglês.

8 Louis Jacques Mandé Daguerre (1787 - 1851)

27
- Químico, pintor, inventor e fotógrafo francês.

9 John Frederick William Herschel (1792 -


1871) - Astrônomo, matemático e químico inglês.

10 Anna Atkins (1799 - 1871) - Botânica e fotó-


grafa inglesa.

11 Base Nacional Comum Curricular dispo-


nível em <http://basenacionalcomum.mec.gov.
br/>.

12 A câmera fotográfica, assim como a câme-


ra escura dependem da luz, artificial ou do am-
biente para funcionarem, isso criou a noção de
dependência da realidade para a fotografia, as
fotomontagens e outras manipulações pouco a
pouco foram esvaindo essa noção.

13 Também pode-se usar água de torneira


desde que bem fervida e filtrada após esfriar.

28
REFERÊNCIAS

ATKINS, Anna. Photographs of British Algae:


Cyanotype Impressions, 1843–53, 25.3 x 20 cm.

ATKINS, Anna. Gelidium rostratum, 1843–53, 25.3


x 20 cm.

ATKINS, Anna. Ptilota plumosa, 1843–53, 25.3 x 20


cm.

AYSCOUGH, James. A short account of the Eye


and nature of vision, 1752.

BALADY, Sonia Umburanas. Valério Vieira: um


dos pioneiros da experimentação fotográfica
no Brasil (dissertação de mestrado). São Paulo:
USP, 2012. <https://teses.usp.br/teses/disponi-
veis/93/93131/tde-04042013-095741/pt-br.php>.

CRAWFORD, William. The Keepers of Light, Mor-


gan & Morgan, NY, 1ª edição, 1979.

CHRISTOPHER, James. The book of alternati-


ve photographic processes, Cengage Learning,
Boston, 3ª edição, 2016.

FLORENCE, Hercule. Epréuve nº 2 (photogra-


phie) - conjunto de rotulos para frascos farma-
cêuticos, 1833, sem dimensões (detalhe).

29
FOX-TALBOT, Henry. Janela da galeria sul da
Abadia de Locock, Fox Talbot, 1835, sem dimen-
sões.

KOSSOY, Boris. Hercules Florence: A descober-


ta isolada da fotografia no Brasil. Duas Cidades,
São Paulo, 1980

VIEIRA, Valério. Os 30 Valérios. 1901. fotomon-


tagem, dimensões 22 x 28,7 cm em cartão 31 x
37,5cm.

30
As imagens não creditadas pertencem
ao que eu nomeei com o passar
dos anos de Memorial dos Alunos
Esquecidos, é um acervo imenso de
atividades que foram entregues sem
nome e sem outras possibilidades
de identificação, quero agradecer
imensamente a todas e todos
esquecidinhos e esquecidinhas e a
todos os outros e outras também.
Obrigado!
32

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