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Legalidade, competência normativa e competência regulamentar:

contribuição analítica para um tema fundamental do direito público1


Raquel Elita Alves Preto
Doutora em Direito Tributário pela USP, com Especializações em Direito de Empresa (USP), em Direito Constitucional Tributário (IBDT)
e em Direito do Setor Energético (FGV-SP). Ex-Conselheira do Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda em Brasília, atual
CARF. Conselheira da ABDF e membro do CEDAU, IBDT, IASP e IFA (International Fiscal Association). Advogada em São Paulo. Diretora-
Secretária Geral do IASP.

Sumário: 1 Introdução: relevância constante e atemporal do mergulhos analíticos e para o que em nada colabora
tema legalidade – 2 Uma proposição metodológica – 3 A evolu-
ção do conteúdo do princípio da legalidade, no âmbito da Admi-
o quotidiano crescentemente galopante e massifi-
nistração Pública – 4 Abordagem concreta do conteúdo ampliado cante das relações sociais, que segundo a segundo
da legalidade – 5 Formas de movimentação estatal diante do vão se estabelecendo. Especialmente num mundo
princípio da legalidade – 6 Competência (poder) normativa, com-
petência (poder) regulamentar e legalidade – “referibilidade legal cada vez mais alucinado e enfeitiçado por quantida-
mínima” – Referências des de dados e informação disponíveis, mas sem
maiores ou crescentes preocupações qualitativas.
Afora todo esse cenário, por outro lado, a pas-
1 Introdução: relevância constante e sagem do tempo por temas e conceitos jurídicos
atemporal do tema legalidade 1 tem o efeito quase inexorável de em algum mo-
mento começar a esmaecê-los e, por decorrência,
No Direito, e melhor ainda será dizer para atenuá-los em seu vigor quando, em verdade, deter-
efeitos de inicial sistematização metodológica, na minados temas ou institutos jamais poderiam restar
Ciência do Direito é inevitável chegar-se à conclusão esmaecidos, menos ainda atenuados, dada a sua
de que tudo aquilo que parece resolvido e encer- relevância para a Ciência Jurídica e para o desenvol-
rado, em verdade não está; que todos aqueles te- vimento do Direito e da sociedade. Mas assim tem
mas e assuntos que exsurgem como óbvios nunca sido desde sempre na história da humanidade, que
o são absolutamente. E, por isso, quando se tratar ciclicamente revela ou esconde, enaltece ou sub-
de lidar com aqueles temas ou conceitos jurídicos juga determinados valores que, no entanto, estão
que são tidos genericamente como “consagrados”, sempre presentes, ora em maior, ora menor relevo,
ou ainda, “líquidos e certos”, muitas vezes ou tais ora mais, ora menos caros para o desenvolvimento
temas e conceitos nem são tão “líquidos”, menos das relações humanas e sociais em determinado
ainda tão “certos”, ou ver-se-á também e mui fre- momento, mas sempre presentes e se sucedendo,
quentemente que a “consagração” nem sempre numa conhecida fenomenologia histórica de repe-
ocorreu com base na melhor técnica que para isso tição em transformação, que provoca ora a ascen-
seria desejável. são, ora a decadência de valores e contextos que
Os motivos para tanto? Vários, a começar pela assim estabelecem ciclos e que vão configurando
própria complexidade desta seara do conhecimen- cenários históricos e muito humanos de ação e rea-
to humano em constante mutação e transformação, ção, de criação e de renovação.
ou ainda, e apenas para citar alguns outros, algu- Por tudo isso, se determinados conceitos ju-
ma sempre insistente e ainda presente dificuldade rídicos ou conjuntos argumentativos aparentemen-
para aplicação dos melhores métodos científicos às te “funcionam” no campo da pragmática, e bem se
ciên­cias humanas, notadamente à Ciência Jurídica, sabe que são muitos os exemplos que nem “funcio-
ou até mesmo a inafastável complexidade dos ob- nam” tão bem assim, fato é que quando não bem
jetos de estudo possíveis para a Ciência Jurídica, investigados, explorados e analisados, evidente-
complexidade esta que muitas vezes demanda uma mente com a utilização da melhor técnica analíti-
envergadura argumentativa lógico-racional e uma ca jurídica, definitivamente acabam não só por não
profundidade dialética que não se alcança facilmen- funcionar adequadamente no campo da Ciência do
te num primeiro ou único mergulho investigativo, Direito, como, por outro lado, as deficiências quanto
mas que requer uma sucessão obstinada e tenaz de à melhor compreensão também causam problemas
concretos no momento da interpretação e subse-
1
Artigo originalmente publicado em: ALMEIDA, Fernando Dias
quente aplicação do Direito.
Menezes de; MARQUES NETO, Floriano de Azevedo; MIGUEL, Luiz
Felipe Hadlich; SCHIRATO, Vitor Rhein (Coord.). Direito público em Assim sendo, fica plenamente justificada e
evolução: estudos em homenagem à Professora Odete Medauar. explicada a constante e tão necessária revisitação
Belo Horizonte: Fórum, 2013. 97-116. ISBN 978-85-7700-785-1.

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Alguns apontamentos na discussão sobre regime jurídico das carreiras de Estado: pontos de aproximação e distanciamento entre prerrogativas

sincrônica e sempre contemporânea de temas, ins- perdido de vista e, portanto, mantenha-se como o
titutos e conceitos jurídicos, especialmente aqueles verdadeiro norte da bússola do direito público.
considerados fundamentais, clássicos ou consagra-
dos, pois os riscos de ocorrência de empobrecimento 2 Uma proposição metodológica
conceitual ou de perda de densidade técnico-jurídica
com o passar dos tempos é diretamente proporcio- Como visto, merecem os temas jurídicos, em
nal à envergadura do tema, o que leva ao confronto especial aqueles considerados mais fundamentais,
com o fato de que tão mais relevante e fundamen- crítica e revisitação dialéticas constantes para que
se mantenha o dinamismo e a higidez da Ciência
tal seja o instituto ou conceito jurídico, tanto mais
Jurídica, o que só é possível por meio da concreti-
deve ser revisitado e analisado de forma constante.
zação de uma das três seguintes possibilidades: i)
Assim é com o tema da Legalidade, fundamental
para serem relembrados e, uma vez esquadrinha-
a toda a seara do direito público, como bem pon-
dos criticamente, avaliados como ainda aplicáveis
tificado pela notável Professora Titular de Direito
e relevantes, sendo por isso mantidos de forma
Administrativo da USP, Odete Medauar, e que, com
fortalecida e, por decorrência, até mesmo realenta-
a aguçada sensibilidade científica e a grande sabe-
da dentro do sistema; ii) para serem remodelados,
doria que lhe são e foram sempre tão peculiares,
transformados e readequados, uma vez que já não
manteve durante anos uma matéria específica so-
se encontram mais amplamente alinhados aos valo-
bre o tema no curso de pós-graduação da Faculdade
res vigentes e às experiências sociais reiteradas na-
de Direito do Largo de São Francisco, matéria, aliás,
quele espaço de tempo e lugar, pressupondo, esta
a partir da qual este estudo foi engendrado ao lon-
segunda hipótese, a necessidade de uma interven-
go de 2003. E se assim fez Odete Medauar, foi
ção direta no tema com o fim de se proceder a uma
com o nítido objetivo de manter aceso o debate e
verdadeira plasticização do assunto em comento
a revisitação científica sincrônica e contemporânea
para que ele se readapte e atenda, ainda que par-
sobre os aspectos diversos da temática inerente à cialmente, porém efetivamente, as necessidades
Legalidade. Enorme razão assiste a ela ao assim que vigoram no sistema; ou iii) para serem supera-
pensar. dos, ultrapassados e até banidos ou derrubados to-
Evidente a esta altura que esses são os moti- talmente do sistema, após a justa e cientificamente
vos pelos quais é difícil encontrar um conceito jurídi- adequada fundamentação para tanto, tendo em vis-
co ou um instituto da ciência jurídica final, acabado, ta a sua total inadequação face ao caminhar da his-
básico e imutável ainda que tal conceito, instituto tória e ao desenho de novos modelos perfilados ou
ou tema seja fundamental e até estruturante para necessários à evolução do Direito e da Ciência que
o Direito.2 o auxilia nessa direção: a Ciência Jurídica.
Nesse passo, posturas e assertivas com ins- Em resumo, no campo científico em que se
pirações absolutistas e pretensões de se tornarem está a navegar é preciso extremo cuidado antes de
“xeque-mates” dessa área científica representam, se passar a tomar, inteira e completamente, certos
em verdade, um completo e absoluto desserviço à temas, assuntos e, porque não, princípios jurídicos,
boa investigação científica jurídica. E mais, todas como axiomas, pura e simplesmente, pois muitos
essas posturas e “crenças” quase axiomáticas de- são, poder-se-ia assim dizer, “falsos axiomas” vez
vem ser temidas e combatidas porque, em verda- que não se está de fato diante de uma premissa
de, nada neste campo de atuação científica, que que deva ser considerada necessariamente eviden-
tem dimensão bem diferente do direito positivo, es- te e verdadeira, ou seja, segundo tradição de pensa-
tará sempre resolvido e, menos ainda, definitiva e mento racionalista, uma premissa indemonstrável,
imutavelmente encerrado. Essa foi a convicção que mas fundamental à própria existência do sistema.
Muitas vezes, é imperioso que se reconheça,
inspirou e levou Odete Medauar a manter o tema
a tradição que pesa sobre certos temas do direito
da Legalidade em relevo e sempre plenamente oxi-
é excessiva e atrapalha o bom curso da ciência jurí-
genado, por conta da permanente revisitação e do
dica e a sua desejada evolução e dinâmica perma-
crivo científico contínuo a que o submete, permitin-
nente. Tal peso vai se formando e sendo tornea­do
do assim que a relevância do tema mantenha sua
pelos instrumentos diversos de que dispõe a his-
devida envergadura, importância e grandiosa dimen-
tória humana, sendo também trabalhado, inexora-
são, mas permitindo também que tal tema não seja
velmente, pelo cinzel da política e das paixões e
fraquezas dos homens.
Não que não o haja. O problema reside em aceitar determinados
2 De modo que, por estarem intimamente liga-
temas como tal, sem lhes questionar, verdadeira e cientificamente, a dos, ou por serem fruto de experiências humanas
origem, o conteúdo e o alcance. Veja-se, nesse sentido, a questão da
“norma fundamental” de Kelsen, essa, sim, representando um verda-
seculares traumáticas, e até mesmo milenares, al-
deiro axioma para toda a estruturação do pensamento kelseniano. guns temas da ciência do direito parecem passar,

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ao menos em certos períodos, por um processo que direito de diferentes maneiras, mas o que importa
se poderia qualificar de axiomatizante, vale dizer, os é transformá-lo”.4
“medos”, ainda que fundados, para coibir iniciati- Assim, é justamente isso que parece aconte-
vas investigativas aprofundadas e, por isso mesmo, cer com o clássico, e indubitavelmente fundamen-
revigorantes, quase pretendendo, ao que parece, tal, tema relativo ao princípio da legalidade, por
configurar um processo de autoproteção lançado muitos tido e tratado, ao que parece em diversas
como que para evitar a exposição àquelas tortuo- situações, como um verdadeiro e puro axioma da
sas situações históricas já vistas, ou, quem sabe, ciência jurídica, já que só se propõem a expô-lo,
para buscar a preservação de uma situação cômoda sem, no entanto, proceder à necessária revisita-
para alguns a quem a manutenção dessa sistemáti- ção crítica, hodierna, profunda e corajosa, dantes
ca possa melhor atender e representar. já referida, dos seus conteúdos, formas e manifes-
Nesse passo, alguns doutrinadores e pensa- tações, ainda que seja para concretizar a primeira
dores do direito parecem evitar tratá-los de frente, das três hipóteses esposadas neste breve estudo,
crítica e hodiernamente, alegando para tanto que qual seja, o esquadrinhamento crítico com fins de
tais temas já teriam sido esgotados... Ainda que avaliação para a eventual manutenção do mesmo
mereçam tais assuntos amplo estudo e interpreta- conceito, que sairá desse processo fortalecido e,
ção por parte desses doutrinadores, isto se dá ape- por decorrência, reassentado dentro do sistema ju-
nas no sentido da elaboração expositiva, com eles rídico.5
trabalhando apenas como se fossem premissas in- O tema posto para análise de fundo neste
questionáveis que merecem conhecimento estrutu- breve estudo em homenagem a Odete Medauar, e
ral estático porque essenciais, assim como são ou que está relacionado com a questão do conceito de
estão, para que a investigação científica se desen- Legalidade, é vastíssimo, seja do ponto de vista da
volva apenas a partir daquele marco em diante,3 de cronologia dentro da qual vem sendo desenvolvido
modo que o conceito é tomado como um verdadeiro pela Ciência do Direito, seja pelo volume de produ-
axioma. ções científicas produzidas a respeito dele.
É como se alguns temas não devessem ser Mas justamente por ser tão fundamental, e
mais revolvidos em função das dores passadas sen- por isso tão “clássico”, deve ser constantemente
tidas ou dos medos presentes que se quer ocultar. revisitado dialeticamente dentro da sistemática trí-
Não porque eventualmente não precisem passar plice de aglutinação de valor jurídico hodierno aqui
por uma das três hipóteses de revisitação científica defendida, a fim de que, dada a sua incomensurável
já anteriormente referidas, mas sim porque o nave- importância,6 esteja sempre funcionando como um
gar nesse mar profundo significará o enfrentamento “norte” em todas as “bússolas jurídicas”, notada-
inevitável de tormentas e das rotas anteriormente mente no que tange ao encaminhamento do Estado
malsucedidas, da variação das marés das simpa- Democrático de Direito e o respeito a valores ca-
tias científicas de todos aqueles que ali também ros e preciosos para o desenvolvimento de uma
navegam, bem como poderá significar o encarar do sociedade efetivamente civilizada e juridicamente
naufrágio da “tese-nau” que se está a utilizar. organizada e que podem ser materializados pelos
No entanto, como dito por Eros Roberto Grau,
“Afirmaremos, então, que necessitamos mais de
censores, críticos do direito, do que de meros ex- 4
GRAU. O direito posto e o direito pressuposto, p. 18.
positores dele — no que também a afirmação de 5
Estimulante a continuação do pensamento de Eros Roberto Grau,
op. cit., ainda na mesma página 18, que nessa linha vai tecendo
que os juristas em regra se limitam a interpretar o considerações a respeito da necessidade de exercício crítico mais
do que o meramente interpretativo, ainda que ele mesmo diga
que “não obstante, a interpretação pode conduzir à transforma-
3
Tal fenômeno já era agudamente observado por Charles Eisenmann, ção do direito”, observa que só isso não nos garante a transfor-
em trabalho que trata justamente sobre o princípio da legalidade no mação. E mais, diz Grau: “A descrição do direito como sistema
âmbito do Direito Administrativo: “Dizer que a Administração deve de normas que regula — para assegurá-la — a preservação das
respeitar a lei, observá-la como uma norma superior que a obriga, condições de existência do homem em sociedade é tipicamente
resignar-se a ela, dizer que a ela está sujeita ou subordinada, que descrição de expositor do direito. Nas páginas que se seguem —
em conseqüência seus atos devem ser legais, não seria enunciar e adiante, na seqüência do livro — tentarei, mediante o tratamen-
proposições perfeitamente claras, de que não resultariam quais ou- to de aspectos e temas distintos, não apenas descrever o direito
tros esclarecimentos elas pudessem reclamar ou admitir? Parece, desde diversas perspectivas, inclusive críticas, mas além disso,
na verdade, que para os administrativistas, e mesmo para os publi- dele cogitar enquanto fenômeno jurídico”.
cistas franceses em geral, a resposta favorável não padece dúvida: 6
Eisenmann, op. cit., p. 48, continua ainda sobre esse aspecto:
eles, geralmente, explicam o princípio de legalidade em algumas pa- “Não compartilho desta opinião: parece-me, pelo contrário, que
lavras rápidas, onde reaparecem as concepções há pouco citadas; tão logo alguém se dedica a analisar com precisão e comparar
mesmo aqueles que desenvolvem mais o assunto, nem ao menos as concepções ou as idéias dos diversos autores, ou diversas
evocam as dificuldades a sobrepujar, isto é, a escolha a ser feita concepções do mesmo, evidencia-se sem demora que elas estão
entre muitas acepções ou definições, que seriam mais ou menos longe de se ajustarem; donde conclui-se que não se poderia con-
divergentes umas das outras, mas em si igualmente defensáveis” siderar a concepção do princípio de legalidade como praticamente
(in: O direito administrativo e o princípio da legalidade. Revista de adquirida, certa, fora de discussão. Ao contrário, é preciso nela
Direito Administrativo – RDA, p. 47- 48). refletir, e elucidá-la com o maior cuidado”.

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supremos valores da segurança jurídica e da certe- têm um certo sabor amargo por força do peso das
za do Direito. circunstâncias históricas que atuaram sobre a sua
Tão amplo é o tema do princípio da legalida- gênese e o seu subsequente tratamento.
de, que outro corte metodológico é necessário nes- Assim é exatamente o que se passa com a
te ponto para que este pequeno estudo não perca temática do princípio da legalidade. Ela foi obrada
também o seu “norte” e consiga seguir até o final em meio à necessidade inadiável de se pôr fim aos
da sua rota, de modo que, por meio do esforço ar- excessos dos “soberanos” e do Estado, excessos
gumentativo aqui laborado, é importante esclarecer, e desmandos de toda a sorte e natureza, os quais
buscar-se-á, apenas, semear algumas ponderações a História com maior profundidade e precisão se
a respeito das competências normativa e regula- incumbe de identificar, “desatinos estatais” estes
mentar da Administração Pública brasileira e os que só serviam para fazer desabrochar a inseguran-
eventuais limites a tais competências, impostos ça jurídica e social em todos os níveis das relações
pelo princípio da legalidade adotado dentro do orde- interpessoais.8
namento jurídico brasileiro. Aliás, é tamanho o peso negativo derivado das
experiências histórica e sociológica humanas, no
3 A evolução do conteúdo do princípio da que tange ao desenvolvimento de relações interpes-
legalidade, no âmbito da Administração soais marcadas por diferenças de posição face ao
Pública poder estatal, que inúmeras e poderosas são as
vozes que se preocupam detidamente com essas
Vejamos, então, algumas definições prelimina-
específicas facetas da legalidade, como o faz Karl
res fundamentais para a evolução do argumento.
Larenz ao dizer que: “Com a expressão princípios
A primeira delas, por óbvio, deverá ser quanto ao
conceito e conteúdo do próprio princípio da legalida- do Estado de Direito em sentido estrito, queremos
de com suas muitas facetas, acepções e evolução, designar os que se referem à construção do Estado
bem como a sua abordagem constitucional atual. precisamente como um Estado de Direito, que deve
Quanto aos aspectos genéricos relativos ao impedir de maneira especial que aqueles a quem
princípio da legalidade e que interessam às cogi- eventualmente se confia o exercício do poder es-
tações aqui aduzidas, são eles eficazmente abor- tatal, o usem de um modo distinto ao sentido que
dados e condensados por Odete Medauar, que impõe o Direito”.9
pondera: “Uma das decorrências da caracterização Enfim, compreendido este referencial históri-
de um Estado como Estado de Direito encontra-se co mínimo acerca dos elementos componentes do
no princípio da legalidade que informa as ativida- cenário genético do conceito legalidade, e sua em-
des da Administração Pública. Na sua concepção brionária vinculação à construção do próprio concei-
originária esse princípio vinculou-se à separação de to de Estado Democrático de Direito, bem como a
poderes e ao conjunto de idéias que historicamente acepção mais clássica e tradicional acerca do con-
significaram oposição às práticas do período abso- teúdo do princípio da legalidade, tomemos, então,
lutista. No conjunto dos poderes do Estado traduzia uma visão dinamizada e atual do referido tema, a
a supremacia do poder legislativo em relação ao po- qual passou a se impor a partir da primeira metade
der executivo; no âmbito das atuações, exprimia a do século passado como resultado da oxigenação
supremacia da lei sobre os atos e medidas adminis- e revitalização do assunto em análise, e por meio
trativas. Mediante a submissão da Administração do qual chegou-se à compreensão do conteúdo do
à lei, o poder tornava-se objetivado; obedecer à
Administração era o mesmo que obedecer à lei, não
à vontade instável da autoridade”.7 8
Ainda é imperioso o retorno aos pensamentos de Odete Medauar,
op. cit., p. 145, que sobre este aspecto do princípio da legalidade
Como se vê, essa primeira acepção do Prin­ e sua evolução pontifica: “Daí um sentido de garantia, certeza
cípio da Legalidade está intersticialmente ligada à jurídica e limitação do poder contido nessa concepção do princípio
da legalidade administrativa”.
necessidade de obtenção de segurança por parte 9
LARENZ. Derecho justo: fundamentos de ética jurídica, p. 151
dos cidadãos, administrados, frente aos sempre et seq. O trecho citado acima foi vertido para o português para
fins de utilização específica neste breve estudo, diretamente
presentes “desvarios” correntes e potenciais do da tradução espanhola, nesta nota referenciada. Ainda nessa
Estado, tendo a dimensão exata e contundente de mesma obra, e, em continuação ao trecho citado, Larenz tece
uma garantia absolutamente fundamental para a mais considerações extremamente interessantes para que se
compreenda com profundidade a acepção clássica do princípio
própria organização da sociedade, o que vai em dire- da legalidade: “Estos principios son necesarios porque el Estado
ção ao que se expôs logo no início destas pondera- democrático no puede dejar de tener relaciones de supra y de
subordinación y situaciones que al autorizar el mando de unos
ções, quanto ao fato de que certos temas no Direito imponen deberes de obediencia a otros, es decir, estructuras de
dominación. Donde existen relaciones de este tipo se produce
en todos los tiempos el peligro del abuso, peligro que tiene
MEDAUAR. Direito administrativo moderno, p. 144 et seq.
7
fundamentos muy profundos en la naturaleza humana”.

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Raquel Elita Alves Preto

conceito legalidade como algo mais amplo do que normas no sistema — e intrínsecos — conteúdo
aquele inicialmente desenhado e compreendido.10 autorizado para ser tratado por aquele veículo intro-
Para isso, toma-se emprestado neste exercí- dutor de normas — para a veiculação da norma de
cio elucubrativo o pensamento sempre irretocável direito.12
de Odete Medauar, que assim definirá a situa- Fundamental é compreender que tudo isto
ção atual do tema relativo ao conteúdo e alcance ocorrerá respeitando-se o escalonamento hierárqui-
do princípio da legalidade: “Embora permaneçam co estrutural inerente ao sistema específico em que
o sentido de poder objetivado pela submissão da se estiver fazendo a análise e a conceituação cientí-
Administração à legalidade e o sentido de garantia, fica, ou seja, observando-se a hierarquia normativa
certeza e limitação do poder, registrou-se evolução imposta pelo perfil adotado para aquele ordenamen-
na idéia genérica de legalidade. Alguns fatores des- to jurídico, no mais das vezes desenho contorna-
sa evolução podem ser apontados, de modo sucin- do dentro do âmbito da Constituição do Estado, de
to. A própria sacralização da legalidade produziu um modo que o conceito contemporâneo de legalidade
desvirtuamento denominado legalismo ou legalida- será oriundo de uma atividade hermenêutica que
de formal pelo qual as leis passaram a ser vistas precisa levar em conta a composição harmoniosa
como justas, por serem leis, independentemente do conjunto de normas diversas, introduzidas no
de conteúdo. Outro desvirtuamento: formalismo ex- sistema por veículos introdutores de normas varia-
cessivo dos decretos, circulares e portarias, com dos e adequados para cada situação específica, ora
exigências de minúcias irrelevantes. Por outro lado, hierarquizadas, ora espalhadas de forma aleatória
com as transformações do Estado, o Executivo pas- por entre patamares e níveis governamentais diver-
sou predominar sobre o Legislativo; a lei votada sos.
pelo Legislativo deixou de expressar a vontade ge-
ral para ser vontade de maiorias parlamentares, em 4 Abordagem concreta do conteúdo
geral controladas pelo Executivo. Este passou a ter
ampliado da legalidade
ampla função normativa, como autor de projetos de
lei, como legislador por delegação, como legislador Em termos práticos e para efeitos da situação
direto (por exemplo: ao editar medidas provisórias), específica do ordenamento jurídico brasileiro, aqui
como emissor de decretos, portarias e circulares se fará um exercício redacional provocativo e ao
que afetam direitos. Além disso, expandiram-se final do qual ter-se-ia, portanto, a seguinte “leitu-
e aprimoraram-se os mecanismos de controle de ra” do moderno conceito do princípio da legalidade
constitucionalidade das leis”.11 imposto à Administração Pública, topograficamen-
É exatamente nessa direção, conforme a pre- te localizado no primordial artigo 37, caput, da
cisa e arguta ponderação de Odete Medauar, que Constituição Federal:
é preciso compreender o conteúdo e o alcance do
princípio da legalidade na atualidade, portanto. O Art. 37. A administração pública direta e indireta
princípio da legalidade congregará, assim, de for- de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
ma organizada e sistemática, todas as espécies
princípios de legalidade, entendida como um acervo
normativas componentes de um dado ordenamento
genérico das normas jurídicas diversas, introduzi-
jurídico e nele admissíveis, de acordo e respeitan- das no sistema jurídico nacional por veículos intro-
do-se todos os requisitos extrínsecos — forma exi- dutores de normas variados e adequados para cada
gida para aquela espécie de veículo introdutor de situação específica, tendo em vista a necessária
observância e harmonização das circunstâncias hie-
rárquicas normativas para cada instrumento norma-
10
O conceito da legalidade, ao qual estaria preso o Estado, caminhou,
durante um considerável espaço de tempo, exclusivamente vin­ tivo que será utilizado (requisitos extrínsecos e que
culado à noção de lei, esta entendida em sentido estrito e formal, dizem respeito à forma exigida para aquela espécie
vale dizer, que a lei, nessa acepção, seria o produto final e exclusivo de veículo introdutor) e a relevância do objeto de
da atuação do Legislativo, dentro de uma acepção radicalizada da
teoria da separação dos poderes, tão radicalizada que transcendeu que tratará (requisitos intrínsecos que dizem res-
a própria dimensão dada por Montesquieu. Nesse sentido, peito ao conteúdo autorizado para ser tratado por
Paulo Otero (O poder de substituição em direito administrativo: aquele veículo introdutor de normas específico),13
enquadramento dogmático-constitucional, v. 1, p. 25), com precisão,
chama atenção para o fato de que: “MONTESQUIEU, por seu lado,
apesar de afirmar que o poder executivo procede à execução da
vontade geral expressa pelo legislador e que as leis são os olhos 12
Aqui se está a trabalhar com os conceitos propostos no transcorrer
do príncipe, vendo ele por elas o que não poderia ver sem elas, tem do desenvolvimento da teoria de Paulo de Barros Carvalho, no que
uma concepção que nega ao poder legislativo o estatuto de poder tange às fontes de direito por ele chamadas e trabalhadas sob
supremo do Estado. Dentro da lógica do modelo preconizado de outra terminologia: “veículos introdutores de normas” (Curso de
separação de poderes, a cada poder estava confiada uma faculte de direito tributário).
statuer e, simultaneamente, uma faculte d’empêcher, daí advindo 13
Esta parte do texto, em itálico, pressupõe um exercício crítico-hipo-
um verdadeiro princípio jurídico de paridade entre os poderes do tético, de acordo com a presente e específica proposta de posicio-
Estado”. namento acadêmico-metodológico inerente à elaboração destas
11
MEDAUAR. op. cit., p. 145. conjecturas que se pretendem críticas, não consubstanciando,

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Alguns apontamentos na discussão sobre regime jurídico das carreiras de Estado: pontos de aproximação e distanciamento entre prerrogativas

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiên- as emendas constitucionais, as leis complementa-


cia e, também, ao seguinte: ... res, as leis delegadas, as leis federais “meramen-
te” ordinárias, as medidas provisórias, as portarias
E para reiterar e bem esclarecer o pensamento ministeriais, os regulamentos, as constituições es-
que é fio condutor do presente estudo, preparando e taduais, as leis estaduais e municipais, enfim, todo
indicando o contexto de construção das conclusões o sistema normativo válido e vigente que compõe o
que mais adiante virão, algumas um pouco fora de ordenamento jurídico brasileiro. Por meio do cenário
um certo padrão dominante, o que poderá causar al- assim visto, já se consegue vislumbrar como este
gum inicial incômodo e, justamente por conta disso, vocábulo, Lei, assim lido e compreendido, ganha
haverá risco de que essa linha de pensar sofra des- mais cores e são elas ainda mais vivas, especial-
virtuamento por decorrência de cortes interpretati- mente diante de um panorama normativo tão mais
vos subjetivos ou parciais, os quais eventualmente rico e amplo e que atualmente transcende mais do
não levarão em consideração o objetivo primordial que nunca as fronteiras das leis em sentido estrito.
deste estudo, em especial porque o resultado final É também nesse sentido que laboram o con-
dos pensamentos externados não deveria ser fen- ceito de legalidade, autores como Grau, Medauar,
dido, sob pena de quebrar-se a unicidade temática Canotilho, Di Pietro, Laubadère, Hauriou,14 entre
e finalística desta argumentação investigativa, será outros, buscando aperfeiçoar a compreensão e a
fundamental alongar a explanação quanto a essa interpretação a respeito do importante princípio,
parte em que se procedeu a um exercício simula- aprofundando-o com destemida coragem para o fim
tivo-pragmático laborado sobre o texto original da de aprimorar a sua dimensão. Nesse passo, tome-
Constituição Federal. mos por exemplo Grau, que labora o conceito no sen-
Quando aqui se esposa a tese de que o prin- tido de atribuir um novo sentido “ao princípio com a
cípio da legalidade tem um alcance maior do que admissão de que a Administração, tanto quanto os
aquele tradicional e amplamente difundido, porque particulares, está limitada pelas normas jurídicas
essa acepção mais clássica e mais estrita é de que produzir (legem patere quam fecisti). Assim, ela
mais fácil aceitação até porque mais arraigada, en- está sujeita não à lei (expressão de ato legislativo),
tendendo essa vertente de que seria somente a lei, mas à norma que fez, no exercício de função norma-
em sentido estrito, que poderia autorizar e nortear tiva. Daí a vinculação da Administração não à lei,
a prática dos atos estatais, a abordagem aqui ado- mas às normas jurídicas, inclusive às que ela mes-
tada, no sentido de vislumbrar a Legalidade como ma tiver editado, em decorrência da lei”.15
conceito mais aberto e de espectro mais amplo, Medauar, por seu turno, reafirma que “buscou-
-se assentar o princípio da legalidade em bases va-
não significa, em hipótese alguma, que com isso
lorativas, sujeitando as atividades da Administração
se estaria a admitir um aval em branco para a atua­
não somente à lei votada pelo Legislativo, mas tam-
ção estatal. Ao contrário; o entendimento aqui es-
bém aos preceitos fundamentais que norteiam todo
posado é no sentido de que a Administração Pública
o ordenamento. A Constituição de 1988 determina
tem mais elementos a respeitar e observar do que
que todos os entes e órgãos da Administração obe-
meramente a lei em sentido estrito, e, por isso, o
deçam ao princípio da legalidade (caput do art. 37);
conceito referente ao princípio de legalidade aqui
a compreensão desse princípio deve abranger a ob-
proposto representa um parâmetro referencial para
servância da lei formal, votada pelo Legislativo, e
a Administração Pública mais exigente, porque
também dos preceitos decorrentes de um Estado
maior e mais qualificado.
Democrático de Direito, que é modo de ser do
O Estado deverá se conduzir observando a Estado brasileiro, conforme reza o art. 1º, caput da
Constituição e absolutamente todos os seus man- Constituição; e, ainda, deve incluir a observância
damentos, notadamente as garantias e direitos fun- dos demais fundamentos e princípios de base cons-
damentais ali inscritos, e inclusive e especialmente titucional. Além do mais, o princípio da legalidade
os grandes princípios constitucionais que do texto obriga a Administração a cumprir normas que ela
constitucional derivam, sejam eles expressos ou própria editou”.16
tácitos, bem como deverá também o Estado res-
peitar e observar os princípios gerais de Direito,

14
Hauriou é referido por Grau, op. cit., p. 180, quando se desenvol-
nem tendo a pretensão de consubstanciar, à evidência, uma pre- ve a ideia, quanto ao princípio da legalidade, de que o “princípio
potente intervenção no texto constitucional em vigor, vale dizer, há de ser referido não a um tipo de norma específica e determina-
serve apenas ao fim aqui objetivado que é o de provocar, com o da, mas ao ordenamento todo, ao que Hauriou chamou bloco da
máximo de realismo possível, uma meditação sobre a questão da legalidade (leis, regulamentos, princípios gerais, costumes)”.
legalidade e o vetor que projeta sobre os poderes normativos e 15
GRAU, op. cit., p. 180 et seq.
regulamentares do Estado brasileiro da atualidade. 16
MEDAUAR, op. cit., p. 145.

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Já Canotilho, em parte específica que trata do Tais pensamentos, por certo, levarão à melho-
sentido da lei na Constituição Portuguesa de 1976, ra qualitativa do próprio Estado de Direito, que, por
explana que “O esquema evolutivo da lei na teoria decorrência direta, deixará de ser Estado de Direito
do Estado e do Direito permitiu-nos compreender meramente formal, assim como o era o princípio
muitos dos debates sobre as características e natu- da legalidade em seus momentos iniciais, me-
reza das leis, tais como a discussão sobre o duplo ramente formal, e que ainda é em alguns casos,
conceito de lei (lei formal e lei material), a controvér- lamentavelmente,20 para que se possa tentar atingir
sia sobre o elemento distintivo da lei em relação a de vez o ideal e que, em verdade, sempre se buscou
outros actos normativos (generalidade, abstracção, desde o início da elaboração dos dois conceitos; o
novidade) e o debate sobre a actual estrutura da respeito efetivo a uma legalidade material que, por
lei (lei normativa, lei-medida). Torna-se, no entanto, óbvio, seja capaz de concretizar com maior efetivida-
necessário indagar o possível significado técnico-­ de e alcance os princípios-valores21 mais elevados e
jurídico de lei, para além do seu enquadramento fi- mais potentes de um sistema jurídico, atingindo-se,
losófico e político. Este significado técnico-jurídico dessa maneira, e só assim, o verdadeiro conteúdo
deverá resultar da Constituição, o que não é tare- material de um Estado de Direito pleno de valores e
fa fácil dada a polissemia do termo lei no quadro
de conteúdo efetivo.
da nossa lei constitucional.” E vai enfrentando uma
Assim sendo, especificamente no que tange
série de situações em que lei, nos domínios cons-
ao Direito Administrativo, também o artigo 37, ca-
titucionais portugueses, é utilizada como sinônimo
put, da Constituição Federal, deve ser nesse sen-
de ordenamento jurídico, conjunto de normas jurídi-
tido entendido, com maior riqueza de conteúdo e
cas vigentes (exemplo por Canotilho apontado: arti-
revisitação científica mais moderna, atual e dinâ-
go 13º/1); lei utilizada como norma jurídica, qualquer
mica porque mais ampla, o que o torna melhor do
que seja a sua fonte de produção (exemplo apontado:
ponto de vista da envergadura maior do controle,
artigo 203 da Constituição), entre outros tantos.17
Para Di Pietro, a propósito do conteúdo do inclusive e especialmente, pois permite um controle
princípio da legalidade: “Em primeiro lugar, cabe melhor e mais amplo da Administração e do Estado,
ressaltar que o princípio da legalidade não signifi- e não pior, como eventualmente poderiam temer al-
ca que, para cada ato administrativo, cada decisão, guns mais simpáticos ao já conhecido, e por isso
cada medida, deva haver uma norma legal expressa mesmo, aparentemente mais “amistoso” positivis-
vinculando a autoridade em todos os aspectos. O mo estrito ou extremado, como se, assim entendi-
princípio da legalidade tem diferentes amplitudes, do, a legalidade estrita fosse um escudo protetor
admitindo maior ou menor rigidez e, em conseqüên- altamente eficiente diante dos desmandos estatais
cia, maior ou menor discricionariedade. Não é por históricos.
outra razão que se distingue legalidade e reserva Ao enriquecer a interpretação do conceito de
de lei, a primeira admitindo que o legislador esta- legalidade, permitindo que nele comunguem e co-
tua de forma mais genérica, deixando maior discri- existam outras normas do direito que não só a lei
cionariedade à Administração Pública para regular em sentido estrito, estar-se-á fazendo uma aproxi-
a matéria, e, a segunda, exigindo legislação mais mação maior com os princípios-valores imanentes
detalhada, com pouca margem de discricionarieda- a um determinado sistema jurídico no momento da
de administrativa; neste caso, fala-se em legalida-
de estrita, tendo em vista que a Constituição é que
administrativista francês: “L’exercice de la fonction administrative
reserva a matéria a competência do legislador”.18 est domine par le principe fondamental de la légalité. Ce principe
E, ainda, quanto ao alcance e conteúdo do signifie que les autorités administratives sont tenues, dans les
décisions qu’elles prennent, de se conformer à la loi ou plus
prin­cípio da legalidade, ao qual está submetida a exactement à la légalité, c’est-à-dire à un ensemble de règles
Administração Pública, é relevante a contribuição de de droit dont beaucoup, mais non point toutes, sont contenues
Laubadère, que encara a questão sob o ponto de dans les lois formelles. ... La définition ci-dessus, que retient un
sens large du mot “légalité”…il reste que le grand principe que
vista de que as autoridades administrativas devem, domine l’activité administrative est celui de la soumission de
ao tomar suas decisões se conformar à lei, ou me- l’administration à la legalité lato sensu...”.
20
Aliás, quanto menos desenvolvidos economicamente, mais ten-
lhor, à legalidade, por ele encarada como o resulta- dencialmente “legalistas” parecem ser os Estados, prendendo-se
do do conjunto de regras de direito.19 ao excesso de formalismo como que para tentar ocultar a falta de
materialização efetiva da melhor noção de Estado Democrático de
Direito.
21
Aqui também se está a utilizar conceitos emprestados da constru-
17
CANOTILHO. Direito constitucional e teoria da Constituição, p. ção filosófico-jurídica de Paulo de Barros Carvalho, op. cit, quan-
716 et seq. do ele trata da questão relativa aos valores insertos em regras
18
DI PIETRO. Discricionariedade administrativa na Constituição de jurídicas privilegiadas, mas considerados independentemente
1988, p. 59. das estruturas normativas (PRINCÍPIO-VALOR) bem como da nor-
19
LAUBADÈRE. Traité de droit administratif, p. 239. Aqui vale, dada ma jurídica de posição privilegiada e portadora de valor expresso
a agudez do argumento, a transcrição completa do pensamento do (PRINCÍPIO-NORMA).

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Alguns apontamentos na discussão sobre regime jurídico das carreiras de Estado: pontos de aproximação e distanciamento entre prerrogativas

aplicação das normas que o compõem e estrutu- ante à melhor técnica interpretativa e ante à com-
ram, e, por consequência, estar-se-á também tor- preensão alargada e mais eficiente do que seja a
nando o conceito mais plástico e mais contundente legalidade imposta à Administração Pública.
porque mais amplo, de modo que poderá alcançar Outro convite à meditação pode ser provoca-
ainda com mais efetividade e abrangência os atos do pela análise da decisão do Supremo Tribunal
da Administração Pública, redundando toda esta Federal, nos autos da Ação Cível Originária nº 593
situação num controle mais amplo e dinâmico de QO/MG, Relator Ministro Néri da Silveira, cuja
seus atos, por isso mesmo mais eficiente, e, sig- ementa tem o seguinte teor: “Ação cível originária.
nificará a necessidade de cuidados redobrados por Questão de ordem. 2. Ação declaratória negativa
parte do Estado, no momento da consecução e rea- contra a Lei nº 13.370, de 30de novembro de 1999,
lização de todas as suas atividades. editada pelo Estado de Minas Gerais. Interferência
E já para rebater o eventual porvir de tormen- no aproveitamento do potencial hidráulico existen-
tas doutrinárias que esta “tese-nau” teria que en- te em trecho do rio Jequitinhonha, localizado no
frentar, bem como a variação grande e inevitável Município de Itapebi-BA. 3. Parecer da Procuradoria-
das marés das simpatias analíticas de alguns da- Geral da República para que seja reconhecida a in-
queles que por estas águas investigativas também competência da Corte. 4. Relevantes os aspectos
andam a navegar, é importante fazer algumas simu- da demanda, no que diz com o equilíbrio federati-
lações argumentativas, ou utilizar algum caso para- vo e com as competências da União Federal e dos
digma para pôr à prova a tese ora esposada e bem Estados, acerca do aproveitamento dos potenciais
demonstrar como o conceito mais abrangente da hidráulicos e da realização de obras atingindo rios
legalidade é também muito mais eficiente para efei- de curso interestadual e ainda o respeito da parti-
tos de contenção dos desvarios estatais ou para ção de competências, no âmbito federativo, sobre
efeitos de nortear melhor a movimentação estatal. a proteção ambiental e os embaraços que Estados
O primeiro exercício analítico que se pode possam opor a obras atinentes à geração de ener-
empreender é aquele no sentido de se imaginar gia elétrica. 5. Ação que deve ter curso no Supremo
a Administração Pública tentando se furtar à ob- Tribunal Federal, competente para dirimir conflitos
servância de um Princípio Maior de Direito, um que possam afetar o equilíbrio federativo...”.
verdadeiro SOBRE-PRINCÍPIO,22 haja vista a sua re- Interessante notar, no presente caso, como
um órgão da Administração Pública, no caso verten-
levância para a concretização e respeito ao Estado
te, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
Democrático de Direito e para a manutenção har-
autora da ação em comento, bem como o Supremo
moniosa do sistema jurídico vigente, como poderia
preocupam-se extensa e amplamente com uma sé-
ser o caso do princípio da segurança jurídica. Nesta
rie de princípios de direito, tais como, por exemplo,
hipótese, a Administração Pública, para se furtar à
o princípio federativo, não veiculados por lei em sen-
observância da Segurança Jurídica face a um caso
tido estrito, a par de mandamentos constitucionais
concreto, utilizar-se-ia para tanto do formal argu-
mais explícitos, bem como se preocupam com ou-
mento de que o referido princípio não se encontraria
tros objetivos estatais, os quais, poder-se-ia dizer,
escrito, ou seja, não estaria expressamente enun-
configurariam objetivos até um pouco programáti-
ciado, nem formalizado em canto algum da vigente
cos, chamemo-los assim, apenas para evidenciar o
Constituição da República Federativa do Brasil, e,
argumento, como é o caso da imperiosa e genérica
por isso, inexigível seria o seu cumprimento, já que
determinação para a observância e persecução da
a Administração só estaria submetida à legalidade
proteção ambiental por parte do Estado brasileiro.
estrita e nenhuma lei passada pelo Legislativo bra-
Aliás, é o próprio Estado, por meio de autar-
sileiro, respeitado o processo legislativo, chegou a
quia especial integrante da Administração pública
formulá-lo de forma concreta e expressa, nem mes- indireta, como é o caso da ANEEL, quem se preocu-
mo o texto constitucional. Evidente que tal legalis- pa concretamente nessa situação fática, chegando
mo formalista assim deixaria esse princípio fora às raias da movimentação positiva no sentido de ir
das prescrições legais a que estaria submetida a buscar a intervenção do STF no que tange à situa-
Administração Pública, mas por outro lado, impedi- ção específica do caso vertente. Parece, assim, e
ria a concretização efetiva do Estado Democrático sob esse ponto de vista, cada vez mais salutar em
de Direito pleno de conteú­do material, o que eviden- prol da concretização de um Estado Democrático de
temente não é o correto e muito menos admissível Direito, que tenha a Administração Pública direta e
indireta que navegar em conceito mais amplo. Ou
não? E também parece já ficar ainda mais eviden-
22
Paulo de Barros Carvalho, op. cit., pontifica a existência de verda- ciado que se assim não for, não haverá aproxima-
deiros SOBRE-PRINCÍPIOS em face da envergadura e da dimensão
dos mesmos frente ao próprio ordenamento jurídico. ção efetiva dos valores centrais que alimentam e

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sustentam o Estado Democrático de Direito e ele, Isto importa dizer que: tanto maior seja a re-
portanto, ficará cada vez mais longe de se concre- percussão da atuação estatal, ou mais fundamen-
tizar. tais e relevantes sejam os objetos sobre os quais
recairão as consequências dos atos administrati-
5 Formas de movimentação estatal diante vos, em termos de bens jurídicos protegidos pelo
do princípio da legalidade sistema jurídico vigente, mais forte será o sentido
da vinculação.
Passemos, então, a um segundo e intermediá- A fim de explicitar, concretamente, a tese de-
rio aspecto desta argumentação, e que diz respeito fendida neste estudo, lançar-se-á mão de recursos
a qual será a forma pela qual o Estado encarará gráficos que trabalharão com exemplos retirados di-
pragmaticamente o princípio da legalidade, cujo al- retamente do sistema jurídico, brasileiro conforme
cance e conteúdo para efeitos desta abordagem se verá na sequência.
acadêmica já foram delimitados, ou seja, as manei-
ras e possibilidades de atuação preconizadas para
a movimentação da Administração Pública em de-
corrência de sua maior ou menor vinculação ao con-
ceito da legalidade.
É com muita naturalidade que se deve encarar
a atuação administrativa, em termos de vinculação
ao princípio da legalidade, e, para tanto, vale res-
saltar a abordagem desenvolvida por Eisenmann23
e que delineia três possibilidades distintas para
os atos administrativos serem praticados: i) para
serem regulares e válidos, é preciso e é suficien-
te que os atos administrativos não sejam contrá-
rios a nenhuma norma legal ou legislativa; ii) para
serem regulares e válidos é preciso, que os atos
administrativos sejam permitidos por uma norma
Gráfico 1 – Nível de vinculação do Estado à Lei x gradação
legal; iii) só serão regulares e válidos os atos da
valorativa dos bens jurídicos objeto de ato administrativo
Administração que realizem concretamente uma
norma legal, ou seja, são atos cujo conteúdo está
em conformidade com um esquema abstrato fixado
por norma legislativa.24 Dessa forma, os atos admi-
nistrativos serão praticados em direção a um dos
três caminhos indicados, a depender do contexto
técnico dentro do qual tenha que se movimentar a
Administração Pública.
Assim sendo, é absolutamente cabível e ade-
quado entender que tal proposta se coaduna satis-
fatoriamente com o esquema imposto pelo princípio
da legalidade administrativa na dimensão desenha-
da dentro do panorama geral do ordenamento jurídi-
co brasileiro, ainda que este tenha particularidades
que o diferenciam nitidamente do sistema adminis-
trativo francês, mas que aqui não diferenças sen-
tidas, variando a utilização dessas três diferentes Gráfico 2 Nível de vinculação do Estado à Lei x repercussão
rotas de atuação administrativa de acordo com a na- crescente dos atos estatais
tureza e conteúdo das medidas estatais, bem como
os seus objetos. Desse modo, resta comprovado que o intérpre-
te e o aplicador das normas jurídicas contidas no
e componentes do ordenamento jurídico brasileiro
efetivamente conseguem navegar pelos meandros
da tessitura contextual, dentro da qual se insere
23
EISENMANN, op. cit., p. 462, 463. o cenário para o desenrolar das atividades admi-
24
Eisenmann ainda menciona uma quarta hipótese, por ele mesmo
descartada, porque impraticável, e que diz respeito à prática so- nistrativas, ainda que sofrendo inúmeros percalços
mente de atos que tenham sido prescritos e ordenados à Admi- durante esse percurso, notadamente por força da
nistração Pública pela lei.

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Alguns apontamentos na discussão sobre regime jurídico das carreiras de Estado: pontos de aproximação e distanciamento entre prerrogativas

fraqueza institucional que os marca, confunde e - a consideração de que o conceito de legali-


quase escraviza, diferentemente do que ocorre em dade, aqui investigado, é bem mais amplo
outros sistemas jurídicos mais fortes e amadureci- que aquele seu sentido dito histórico origi-
dos, estabelecendo-se para essa rota um sistema nário ou clássico, de modo que esse concei-
de exigências multifacetadas. Construído assim o to evolui e ele não mais se esgota na figura
ordenamento jurídico brasileiro, cujas dimensões da lei em sentido estrito, se estendendo até
trabalham em degraus diferenciados levando-se em as fronteiras últimas e amplas do ordena-
conta os diferentes objetos sobre os quais recaem mento jurídico composto por normas das
as ações estatais e os diferentes níveis de vincula- mais variadas índoles, origens e hierarquia
ção e os quais são estabelecidos para a movimen- sistêmica;
tação estatal controlada e organizada, exigidos da - a lembrança de que não é possível a con-
Administração Pública pela própria Constituição e cretização de uma divisão total e absoluta
também pelas demais normas jurídicas componen- entre as diversas funções e atividades de-
tes do sistema. senvolvidas pelos três Poderes do Estado,
Vale dizer, a estrutura de sustentação para um de modo que nem mesmo Montesquieu, a
sistema efetivo de funcionamento dinâmico e pró-­ quem se atribuíra a gênese do conceito da
ativo das atividades estatais já está presente do separação rígida dos poderes componen-
ponto de vista eminentemente jurídico, e mais, é tes do Estado, ousou em verdade separar,
de se dizer até que é uma estrutura bastante sau- de forma estanque, as atividades estatais
dável, em especial se se levarem em conta todas desenvolvidas pelos referidos três Poderes
as dificuldades materiais que vem permeando o componentes do Estado, preconizando, em
desenvolvimento da nação, notadamente no âmbi- verdade, apenas a busca pelo equilíbrio en-
to do amadurecimento das estruturas normativas tre aqueles poderes por meio da divisão, e,
postas à disposição da sociedade e dos adminis- por isso, as funções relacionadas à produ-
trados, de maneira que o que falta é provocar de ção de norma, competência normativa, es-
forma contundente e profunda uma melhor técnica tão espraiadas por toda a estrutura estatal;
interpretativa, uma melhor aplicação prática e o seu
- a percepção da existência de diferentes
amadurecimento institucional, porque o estrutura
níveis de vinculação de movimentação da
principiológica lá está, esperando apenas a ativida-
Administração em função de um adensa-
de hermenêutica de qualidade, e, por decorrência
mento valorativo do bem jurídico sobre o
direta, o resultado recorrente de uma melhor e mais
qual recai o ato administrativo, vale dizer,
escorreita aplicação das normas jurídicas aos atos
quanto mais relevante for o bem jurídico so-
da Administração Pública.
bre o qual recairá o ato administrativo, maior
tenderá ser a vinculação da Administração
6 Competência (poder) normativa, Pública à lei, e nessa direção foi estrutura-
competência (poder) regulamentar do o sistema jurídico;
e legalidade – “referibilidade legal Por tudo quanto exposto, não podem ser ou-
mínima” tras as conclusões senão:
A produção normativa, e por decorrência a
Fixados, então, os conceitos relativos ao prin-
cípio da legalidade, bem como à atuação estatal e com­ petência normativa, genericamente chamada
o nível da sua vinculação ao referido conceito de de poder normativo, evidentemente não se esgota
legalidade, resta tratar do terceiro e último aspecto ou limita à figura das leis, ainda que estas últimas
deste estudo e que é aquele relativo aos conceitos sejam veículos fundamentais, e até mesmo os mais
de competência normativa, ou “poder” normativo,25 “nobres”, porque mais específicos para o sistema,
como referido por parte dos doutrinadores, e com- em especial o constitucional brasileiro, de natureza
petência regulamentar, ou “poder” regulamentar, e rígida e que aponta um sem número de situações
a dinâmica entre eles existente no confronto direto em que se exige a regulação da movimentação es-
com o conceito de legalidade. tatal possível por lei formal, aqui entendida como
A empreitada é iniciada elencando pragmatica- um veículo introdutor de normas no ordenamento
mente algumas proposições dantes desenvolvidas jurídico, produzido específica e exclusivamente pelo
e apresentadas: Legislativo e segundo o procedimento constitucio-
nalmente fixado para tanto, como é a hipótese se-
25
PRETO. Da competência à sujeição ativa tributária. Trabalho no
vera de criação ou majoração de tributo.
qual foi analisado o desenho controlado para a movimentação O próprio sistema jurídico brasileiro admi-
estatal no Brasil e por meio do qual se conclui que o melhor e te estruturalmente, uma vinculação do Estado ao
mais adequado seria reconhecer a existência de competências
estatais e não poderes estatais. conceito de legalidade de forma diferenciada, por

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força da já analisada dinâmica multifacetada da Por outro lado, assiste alguma razão a Grau
atuação estatal, o que importa dizer também que, quando critica a divisão da competência regulamen-
para tratar de determinados assuntos, exigir-se-á da tar, chamada por ele de “poder regulamentar”, divi-
Administração Pública a observância de requisitos são essa que é perpetrada inadequadamente pela
de forma e conteúdo diferenciados, e até mais rigo- doutrina brasileira e com a qual também não se
rosos, quanto aos veículos normativos adequados pode concordar porque ela é extremamente infeliz,
para cada nível de ingerência estatal, ou seja, como devido a imprecisões terminológica e de conteúdo
visto nos gráficos 1 e 2, tão mais amplo o impacto em que incorre. Aliás, e o mais adequado em ter-
da ingerência estatal na esfera dos administrados, mos de abordagem do tema, até para evitar uma
ou mais relevante o bem jurídico sobre o qual recai- desnecessária contaminação semântica derivada
rão os efeitos dos atos administrativos, do ponto de da expressão “regulamento autônomo”, seria traba-
vista valorativo sistemático, maior será a necessida- lharmos uma nova proposição metodológica para a
de de observância da legalidade em sentido estrito. questão.
Poder normativo ou, melhor ainda, compe- Assim teríamos o seguinte desenho esquemá-
tência normativa significará a competência de que tico:
dispõe o Estado para, genérica e amplamente consi-
derado, composto pela totalidade dos seus órgãos,
dispostos em seus diferentes níveis hierárquicos,
produzir normas jurídicas de índole, alcance, e, por
decorrência, nível hierárquico sistemático diverso.
Essa competência, corriqueiramente chamada de
poder, encontra-se espraiada por toda a estrutura
estatal, em seus diversos níveis e formas, trans- Como se vê, a competência normativa, tam-
cendendo, por isso mesmo, a parcela de competên- bém chamada de poder normativo, abarcaria todas
cia normativa reservada especial e especificamente as funções estatais direcionadas à produção gené-
pelo próprio sistema jurídico, notadamente no âmbi- rica de normas que irão compor harmonicamente o
to constitucional, ao Poder Legislativo. E as normas sistema jurídico vigente, seja por força da atuação
produzidas por esses diversos canais balizarão em do Poder Legislativo, que se movimentaria em dire-
conjunto os atos administrativos e toda a movimen- ção ao exercício de sua FUNÇÃO LEGISLATIVA, esta
tação estatal. voltada para o tratamento das matérias especifica-
Assim sendo, parece ficar claro que, aqui, mente reservadas para tanto, dentro da estrutura
neste ponto reside uma pessoal e pontual discor- geral do ordenamento, seja via Poder Executivo, e
dância com o pensamento de Grau,26 que admite até Judiciário, que laborariam também na produção
genericamente a existência do “poder normativo” de normas, ora por meio do exercício de sua com-
do Estado, pois admitir uma competência normativa petência normativa específica, atuando com vistas
genérica, como de fato aqui se admite, no entanto, ao desenvolvimento de sua FUNÇÃO NORMATIVA,
não significará admitir automaticamente a existên- aquela ampla capacidade de produzir normas de va-
cia do assim chamado regulamento autônomo com riadas espécies e hierarquias por toda a estrutura
a tamanha extensão que Grau lhe dá, e com isto estatal, de acordo com o padrão de referibilidade le-
este estudo não concorda, porque isto dependerá gal mínima exigido para cada atuação específica, ora
da análise casuística e sistemática da matéria que exercendo, no caso exclusivo do Poder Executivo, a
será objeto de regulação, em função dos níveis de FUNÇÃO REGULAMENTAR, passível de ser concre-
vinculação exigidos para cada atuação estatal es- tizada por força da expedição de dois específicos
pecífica, sempre encarando, para tanto, a irremoví- regulamentos27 efetivamente reconhecidos e vis-
vel presença de um sistema constitucional positivo lumbrados pelo ordenamento jurídico brasileiro, a
extremamente rígido e que, por força de sua fra-
saber, o Regulamento de Execução (aquele expe-
gilidade histórico-institucional, não resolveu bem a
dido com base no artigo 84, IV, da CF/88), que
questão em comento, nos mesmos moldes objeti-
se destina a concretizar e desenvolver lei de que
vos como se sabe que o sistema francês logrou al-
é dependente, ou o Regulamento Autorizado (cujo
cançar.

26
GRAU, op. cit. afirma que “Voltando ao artigo 5º, inciso II, do texto Este estudo propõe a utilização limitada do termo regulamento
27

constitucional, verificamos que, nele, o princípio da legalidade é apenas, como se vê, nas duas específicas hipóteses, justamente
tomado em termos relativos, o que induz a conclusão de que para contornar e evitar a malfadada contaminação semântica que
o devido acatamento lhe estará sendo conferido quando — a expressão traz consigo por força das intervenções desastradas,
manifesta, explícita ou implicitamente, atribuição para tanto — digamos assim, da doutrina brasileira no que tange ao assunto.
ato normativo não legislativo, porém regulamentar (ou regimental), Far-se-ia, deste modo uma espécie de profilaxia terminológica
definir obrigação de fazer ou não fazer alguma coisa imposta a para buscar um apuro sistemático-conceitual maior, ou, pelo
seus destinatários”. menos, mais preciso.

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Alguns apontamentos na discussão sobre regime jurídico das carreiras de Estado: pontos de aproximação e distanciamento entre prerrogativas

exemplo pode ser vislumbrado no mesmo artigo 84 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Discricionariedade e con-
trole jurisdicional. São Paulo: Malheiros, 1992. 110 p.
da CF/88, em seu “acrescido” inciso VI, ou ainda
outras situações que o sistema jurídico brasileiro BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Elementos de direito ad-
ministrativo. 3. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Malheiros,
venha a reconhecer) e que se destina à viabilização 1992. 370 p.
do exercício pleno de função normativa por parte do
CAETANO, Marcello. História do direito português: fontes, direito
Executivo, inclusive no que se refere à estatuição de público 1140-1495. 3. ed. Lisboa: Verbo, 1992. 599 p.
obrigação de fazer ou deixar de fazer alguma coisa, CAETANO, Marcello. Manual de direito administrativo. Rio de
nos limites da atribuição recebida. Janeiro: Forense, 1970. 2v.
Mas é fundamental finalizar a presente incur- CAL, Arianne Brito Rodrigues. As agências reguladoras no di-
são tratando de um porto seguro interessante para reito brasileiro. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. 152 p. ISBN
a presente jornada. Trata-se da noção de referibili- 85-7147-319-6.

dade legal mínima e que significa aquela vinculação CAMARGO, Ricardo Antônio Lucas. Agências de regulação no
ordenamento jurídico-econômico brasileiro. Porto Alegre: Sergio
mínima necessária do ato estatal ao princípio da Antonio Fabris, 2000. 112 p.
legalidade, aqui também modelado, de acordo com
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria
as possibilidades de atuação estatal vislumbradas da Constituição. 6 ed. Coimbra: Almedina, 2002. 1506 p. ISBN
pelo pensamento de Eisenmann perfilado neste es- 972-40-1806-7.
tudo, no que concerne à prática dos atos estatais. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. São Paulo:
Ou seja, para cada ato que a Administração Saraiva, 2003. 15. ed. rev. e atual. 548 p. ISBN 85-02-04289-0.
Pública, ou melhor, o Estado, queira praticar, pre- COMPARATO, Fábio Konder. Direito público: estudos e pareceres.
cisará ele buscar na interpretação sistemática de São Paulo: Saraiva, 1996. 320 p. ISBN 85-02-01618-0.
todo o ordenamento Jurídico uma referência mínima CORREIA, J. M. Sérvulo. A autonomia contratual da administra-
legal que parametrizará a prática do ato e que va- ção no direito inglês. Coimbra: Almedina, 1988. Separata de:
número especial do Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra:
riará em função da maior ou menor relevância dos estudos em Homenagem ao Prof. Dr. Afonso Rodrigues Queiro.
valores objetos dos atos, ou maior ou menor reper- 35 p.
cussão dos atos estatais, conforme visualizado nos CORREIA, J. M. Sérvulo; MEDEIROS, Rui; AYALA, Bernardo Diniz.
Gráficos 1 e 2. Essa referibilidade mínima legal é Estudos de direito processual administrativo. Lisboa: Lex, 2002.
323 p. ISBN 972-8634-09-9.
que dará o parâmetro mínimo de legalidade à ação
estatal cujo desrespeito implicará consequências CUÉLLAR, Leila. As Agências reguladoras e seu poder normativo.
São Paulo: Dialética, 2001. 159 p. ISBN 85-7500-030-6.
jurídicas diversas, tais como: inconstitucionalida-
de, se a referência mínima legal era de envergadura DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 15 ed.
São Paulo: Atlas, 2003. 727 p. ISBN 85-224-3361-5.
constitucional; ilegalidade, se a referência mínima
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Discricionariedade administrati-
legal era de caráter legal, etc. va na Constituição de 1998. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 242
Com esse conceito em mente, a navegação p. ISBN 85-224-2898-0.
por todos os meandros da produção normativa es- DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na Administração
tatal ficará sempre bem norteada, e as “bússolas” Pública. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2002. 395 p. ISBN
85-224-3043-8.
de todos quantos queiram neste mar navegar, per-
feitamente ajustadas e equilibradas, honrando-se DOERN, G. Bruce; REED, Edward James (Org.). Risky Business:
Canada’s Changing Science-Based Policy and Regulatory Regime.
assim, inclusive e especialmente, as eternas pre- Toronto, Canadá: University of Toronto Press, 2000. 385 p. ISBN
ocupações de Odete Medauar quanto à concretiza- 0-8020-4481-6.
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Fórum Administrativo – FA, Belo Horizonte, ano 16, n. 190, p. 64-76, dez. 2016 ARTIGOS 75

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Raquel Elita Alves Preto

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76 ARTIGOS Fórum Administrativo – FA, Belo Horizonte, ano 16, n. 190, p. 64-76, dez. 2016

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