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O BRASIL AUTÊNTICO
SE LEVANTA
3
cialismo. É uma porção bem considerável do bairro para não nos
preocuparmos com as chamas que podem chegar também até nós.
Além de egoísta, tal atitude seria imprevidente.
Nosso Brasil, nosso amado Brasil, passa por um desses mo-
mentos que alguns historiadores chamam de “tournants de l’His-
toire”, ou pontos de inflexão. Por simplificação, chamemos este pe-
ríodo de “o Brasil do pós-PT”. Diante de mais de uma década de
implantação gradual mas inexorável da agenda socialista em nosso
País, a opinião pública nacional levantou-se como um só homem,
e disse um ‘basta’ que ecoa até os dias de hoje: Chega de socialismo!
Chega de invasão de terras! Chega de ideologia de gênero! Chega de
aborto! Chega de corrupção!
Esse levantar do Brasil profundo fez-se de maneira vigorosa,
mas cordial, sem perder a bonomia que sempre caracterizou nosso
povo. A prova disso encontrava-se nas ruas durante as manifesta-
ções verde-amarelo: nada de quebra-quebra, famílias tirando foto
com policiais, Hino Nacional.
Do ponto de vista prático, essa inflexão consagrou-se com a
eleição para a presidência do então Deputado Federal Jair Bolsona-
ro. Ele despontara como o primeiro candidato, nas últimas décadas,
com condições de declarar-se abertamente conservador, favorável à
família, à propriedade privada e à religião. Diga-se o que se disser a
respeito de sua personalidade e de seu temperamento, o fato é que
a agenda conservadora foi sendo aplicada conforme anunciada no
período eleitoral, ao menos parcialmente.
Era de se esperar, evidentemente, uma oposição ferrenha.
Seria ingenuidade imaginar o contrário. Entretanto, o que não se
podia calcular bem era o nível assustador de fúria e de desespero
por parte das esquerdas, e até de certo “centro”. Ficou clara, desde
os primeiros meses do atual governo, a volúpia de jogar o tudo pelo
4
tudo, todas as cartas, pressões, articulações, de maneira a inviabi-
lizar o funcionamento normal de qualquer administração, e assim
criar descontentamentos e desejo de mudança.
Essa fúria caracterizou-se por um fanatismo extremamente
agitado e intemperante, disposto a toda manobra para derrubar os
frutos da reação conservadora. Passando de todos os limites, tentou
utilizar a pandemia da Covid-19 para, custasse o que custasse, der-
rubar o governo e voltar à agenda vermelha petista.
Além disso, um crescente ativismo judiciário fez-se sentir,
lançando insegurança sobre o debate nacional.
Estes e outros fatores podem favorecer a corrosão de uma das
maiores riquezas de nossa Nação: o bom senso. A nosso ver, é só
enervando, desgastando e acirrando que as esquerdas e seus com-
panheiros de viagem podem reiniciar no Brasil o incêndio da socia-
lização, seja a fogo alto, médio ou brando.
5
Maio de 1500: as naus de Pedro Álvares Cabral chegam ao Brasil
Nosso País nasceu sob o signo da Cruz. O primeiro ato, uma Missa.
E, como dizia Pero Vaz de Caminha, na conhecida carta ao Rei de Por-
tugal,
“Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o me-
lhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente.
E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
(...) para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber,
acrescentamento da nossa santa fé.”
Ali estava a semente da civilização cristã em nosso território, plan-
tada a fundo por heróis da santidade como São José de Anchieta e Padre
Manoel da Nóbrega, defendida contra as investidas invasoras por Mem
de Sá, Estácio de Sá, os heróis de Guararapes, e tantos outros.
Ora, apesar de toda a decadência que esse estado de espírito pro-
fundamente cristão sofreu a partir da década de 19401, algo permanece.
Esse algo foi sabiamente indicado por Plinio Corrêa de Oliveira, quando
declarou, em discurso a uma multidão de meio milhão de pessoas, por
ocasião do IV Congresso Eucarístico Nacional, que “é mais fácil arrancar
1. Nesta época, começaram a infiltrar-se nos meios católicos e conservadores brasileiros as
ideias progressistas, que mais adiante iriam caracterizar a “esquerda católica”. Tais erros fo-
ram denunciados no livro “Em Defesa da Ação Católica”, de Plinio Corrêa de Oliveira. Cfr.
Em Defesa da Ação Católica, Artpress Ltda., São Paulo, segunda edição, 1983. Pode compre-
ender-se melhor o contexto a que nos referimos com a leitura do artigo “Kamikaze”, na Folha
de S. Paulo, de 15/2/69.
7
de nosso céu o Cruzeiro do Sul do que a Fé de um povo fiel a Cristo”2. E
podemos condensá-lo nos seguintes pontos:
1 – Um profundo desejo de harmonia social, expresso pelo famoso
jeitinho, pela aversão às brigas intérminas, pela certeza de que no final
tudo dará certo.
2 – Uma esperança subconsciente
no cumprimento de uma missão provi-
dencial a que o Brasil é chamado diante
da América Latina e do mundo, espe-
rança essa nascida de uma religiosida-
de, ainda que difusa, recebida de nossos
maiores.
3 – Um espírito empreen-
dedor, manifesto sobretudo na
pujança de nossa agropecuária.
4 – Um senso de justiça,
por onde respeitamos a livre ini-
ciativa e o direito de propriedade
privada, base de qualquer econo-
mia sadia.
Essa bonomia de fundo tem
Manifestações do Brasil autêntico: marcado a vida nacional, mesmo
harmonia e tranquilidade nos períodos mais críticos de
nossa História. E acaba sendo o
fator Brasil, se quisermos chamá-la assim, por onde sempre, no final, dá-
-se um jeito. Essa confiança de que tudo se resolverá dá-nos uma vanta-
gem psicológica não pequena e, sublinhamos, constitui um dos maiores
obstáculos à implantação do socialismo em nossa Pátria.
A razão é simples: o socialismo é baseado na luta de classes e na
subversão de todos os princípios e valores mais caros a nós, menciona-
2. Discurso de saudação às autoridades no IV Congresso Eucarístico Nacional, em 7/9/1942.
Disponível em https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Disc_Congr_Eucar_42_teste.htm.
8
dos acima. Não existe socialismo sem revoltas, agitações, quebra-quebra,
reinvindicações exageradas. E o espírito nacional é lenha verde para isso:
o fogo não pega com facilidade.
Como colocar tal povo em combustão?
A nosso ver, as mãos revolucionárias que tentam controlar os cor-
déis da vida pública no Brasil, e que se sentem acuadas pelos últimos
acontecimentos, sobretudo pela reação popular, estão de momento in-
seguras.
Parecem caminhar no escuro, às apalpadelas, não sabendo bem
onde a estrada vai dar. Ora tentam ressuscitar a figura decrépita de Lula
da Silva, ora clamam por uma terceira via, ora procuram uma alternativa
de fachada conservadora.
Diante desse impasse, por ora não parece importar tanto para elas
qual das soluções pode medrar. O importante é esmagar a reação conser-
vadora. O resto se vê depois.
E para isso seu pri-
meiro passo é, como já dis-
semos, enervar. Elas têm em
suas mangas algumas cartas
de guerra psicológica para
esse efeito. E estas parecem
estar sendo lançadas uma
após a outra.
Black blocs e
manifestantes de
esquerda: fúria e luta de
classes contrastam com
o típico temperamento
brasileiro.
9
Ideologia de gênero: rejeitada pela população, mas vai sendo imposta
à força pelos movimentos de esquerda
II
Primeira arma psicológica: imposição à força de
uma agenda, apesar das reações
Ideologia de Gênero
Em novembro de 2021, um caso viralizou nas redes sociais: uma
senhora filmou os banheiros ‘unissex’ da franquia do McDonalds em
Bauru, no interior de São Paulo. Seu comentário: “Tem que fechar essa
‘imundiça’ desses comunistas! Não quero usar banheiro homem com mu-
lher, que todo o mundo use o mesmo banheiro, de jeito nenhum. Sou contra
isso. Não aceito.”3
Ora, essa opinião, com a qual se solidariza grande parte da popu-
lação , está se tornando “perigosa”. Os paladinos da ideologia de gênero,
4
11
Banheiros no McDonald’s:
imposição da ideologia de gênero
12
Na mesma direção, em outubro de 2021 um ministro do STF sus-
pendeu a lei estadual de Rondônia que proibia a linguagem “de gênero”
nas escolas. Segundo o ministro, a lei trazia o risco de “calar professores”.7
A imposição dessa ideologia nefasta apresenta-se, inclusive, no
campo do esporte. A apresentadora do SportTV, Natália Lara, ao fazer
referência a uma jogadora “transgênero não-binária”, utilizou o neolo-
gismo “elu”, ao invés de “ela”. Como fica a cabeça das crianças com tal
revolução de linguagem?
“Homofobia”
Outro fato causou espécie em todo o Brasil. A diretoria do time
masculino de vôlei do Minas Tênis Clube decidiu afastar o jogador Mau-
rício Souza “por causa da pressão de patrocinadores após ele ter feito di-
versos comentários homofóbicos em suas redes sociais. Além disso, o atleta
terá de se retratar e receberá uma multa.”8
Ora, até hoje não há nenhuma definição jurídica de “homofobia”.
O termo vago parece ser usado de propósito, aberto a toda interpretação.
Não passa de um pretexto para perseguir qualquer oposição, ainda que
pacífica e com argumentos sérios, à agenda LBGT. E ai de quem não se
submeter!
Eis a nota do clube:
“O presidente do Minas Tênis Clube, Ricardo Vieira Santiago, se reuniu
com o atleta Maurício Souza e lhe informou sobre o seu afastamento por
tempo indeterminado do Fiat/Gerdau/Minas. O Minas Tênis Clube reforça
que não aceita e não aceitará manifestações intolerantes de qualquer forma
e que intensificará campanhas internas em prol da diversidade, respeito e
união, por serem causas importantes e alinhadas com os valores institucio-
nais”.
Diversidade, respeito e união: exatamente o que negaram ao joga-
dor. Mas o que ele havia dito exatamente? Em crítica à editora DC Comics
13
por transformar o personagem Superhomem em “bissexual”, o esportista
declarou nas redes sociais:
“Hoje em dia o certo é errado, e o errado é certo... Não se depender de mim.
Se tem que escolher um lado, eu fico do lado que eu acho certo! Fico com
minhas crenças, valores e ideias. ‘Ah, é só um desenho, não é nada demais’.
Vai nessa que vai ver onde vamos parar”.
Nada de mais razoável. Depois de
ter sua carreira literalmente cancelada, o
jogador comentou:
“A gente não pode mais dar a opinião nem
colocar os valores de família acima de tudo.
Senão a gente é taxado de homofóbico, pre-
conceituoso. Eu não concordo com isso. Infe-
lizmente chegamos a esse ponto. Os patroci-
nadores repudiaram. Não sei o que fiz, se fosse
algum crime a polícia já teria vindo aqui em
O esportista Mauricio Souza: casa me prender. Apenas defendi o que acredi-
afastado da equipe por to e coloquei a minha opinião”9.
defender “valores de família”
Sua lamentação não dobrou a posi-
ção dos diretores. Pior, Renan Dal Zotto,
técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, disse que Maurício não poderia
reintegrar a equipe enquanto mantivesse “essa postura”.
Imprescritíveis e inafiançáveis
O famoso jogador disse que a polícia não foi à sua casa. Por en-
quanto...
Em 28 de outubro de 2021, o STF decidiu, em placar de 8 a 1, que
o “crime de injúria preconceituosa” é imprescritível e inafiançável10. Ou
seja, mesmo que a ‘injúria’ tenha acontecido há 30 anos, a pessoa ainda
poderá ser condenada. E não adianta pagar para sair da cadeia! Aqui no-
14
vamente o problema se põe: quem definirá os limites do que é “racista” e
“homofóbico”? Citar as passagens da Escritura que condenam a prática
homossexual levará um padre para a cadeia? Negar a uma lésbica o em-
prego de babá condenará a zelosa mãe de família?
Como se isso não bastasse, no futuro, quem quiser ser juiz terá de
antes passar por uma doutrinação nessa matéria. Segundo o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), todos os concursos públicos para a magistra-
tura deverão incluir o “Direito da Antidiscriminação”. Segundo um ato
normativo do Conselho:
“Os futuros juízes e juízas deverão comprovar conhecimento também em
questões sobre racismo, sexismo, intolerância religiosa, LGBTQIA+fobia
[sic!], ações afirmativas e direitos dos povos indígenas e comunidades tra-
dicionais”11.
15
Voto Impresso
Não é objetivo deste trabalho, por natureza sucinto, entrar no
mérito da discussão a respeito das urnas eletrônicas.
Apoie-se ou não tais urnas, é fato que vários países desenvolvidos
se negam a utilizá-las.
Em 2009, por exem-
plo, o Tribunal Constitucio-
nal Federal alemão emitiu
sentença contra a utilização
de urnas eletrônicas em al-
gumas partes do país, du-
rante as eleições de 2005. O
arrazoado do juiz Andreas
Vosskuhle (foto) é elucida-
tivo:
“[O sistema eletrônico de vota-
ção] fere o direito básico de garantia de uma eleição pública. (...) A eleição
como fato público é o pressuposto básico para uma formação democrática e
política. Ela assegura um processo eleitoral regular e compreensível, crian-
do, com isso, um pré-requisito essencial para a confiança fundamentada do
cidadão no procedimento correto do pleito. A forma estatal da democracia
parlamentar, na qual o domínio do povo é intermediado através de eleições,
ou seja, não exercido de forma constante nem imediata, exige que haja um
controle público especial no ato de transferência da responsabilidade do
Estado aos parlamentares”.12
Em um clima de polarização política, nada mais natural, portanto,
do que incluir um sistema mais compreensível de auditoria, como o é a
proposta da impressão do voto, para conferição imediata do votante após
a utilização das urnas eletrônicas.
16
Mas argumentos e razões parecem não valer mais. É preciso em-
purrar goela abaixo, ainda que a população tenha se manifestado massi-
vamente a favor da proposta do voto impresso.13
Grande parte do establishment político, jurídico e até eclesiástico (!)
reuniu-se para dar apoio incondicional ao sistema eletrônico:
“Representantes da OAB, CNBB, Comissão Arns, ABC, ABI e SBPC se re-
únem nesta quarta-feira (4/8) com o presidente do Tribunal Superior Elei-
toral, Luís Roberto Barroso, para a entrega de uma manifestação conjunta
de apoio incondicional ao sistema eletrônico de votação.
Participarão do evento dom Walmor Oliveira de Azevedo, presi-
dente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; Felipe Santa Cruz,
presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil; José Carlos
Dias, presidente da Comissão Arns (Comissão de Defesa dos Direitos
Humanos dom Paulo Evaristo Arns); Luiz Davidovich, presidente da
ABC (Academia Brasileira de Ciências); Paulo Jeronimo de Sousa, pre-
sidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa); e Renato Janine
Ribeiro, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência)”.14
Como se pode bem ver, o objetivo não é promover um debate are-
jado e sério. Trata-se de impor a todo custo, até que o outro lado se dobre.
Desarmamento
Uma das pautas que deu a vitória ao então candidato Jair Bolsona-
ro era o colocar em prática o desejo expresso pela população no referen-
do de 2005. Na ocasião, a política de desarmamento obteve uma rejeição
impressionante: 63,94% dos eleitores recusaram a proposta de desarmar
a população, e votaram pela legítima defesa.
Ora, bastou o Governo atual implementar medidas consoantes
com o referendo, para que as tubas estridentes da mídia e do establish-
17
ment político iniciassem
mais uma cantilena en-
surdecedora.
Em fevereiro de
2021, por exemplo, o STF
deu cinco dias ao Presi-
dente para dar explica-
ções a respeito de quatro
decretos que flexibiliza-
vam o comércio e o uso
legal das armas para a de-
fesa pessoal e da proprie-
dade. A ação foi apresen-
tada pelos partidos de esquerda, evidentemente, e obteve apoio daquela
Corte, que já havia contestado os decretos em separado.15
Psicose Ambientalista
“O Brasil está pondo fogo na Amazônia. Ponto final. Não há dis-
cussão”. Essa é a mensagem dogmática do credo verde. A pressão de go-
vernos e mídias estrangeiras badala por todos os cantos o slogan da anti-
pática adolescente sueca: Como ousam?
Ora, como demonstrado no livro Psicose Ambientalista, de Dom
Bertrand de Orléans e Bragança, isso não passa de uma psicose.
A Amazônia está 84% intacta, as queimadas são sazonais e não
prejudicam o conjunto da região. Somos o país que, de longe, mais pre-
serva no mundo.
15. G1, 23/2/21: “[Rosa Weber] citou também que todas as modificações foram questionadas
na Corte, sendo que a primeira ação foi apresentada ainda em janeiro de 2019. Segundo Rosa
Weber, o STF sempre conferiu celeridade a esses processos, mas as alterações nas normas
pelo governo federal acabaram adiando uma definição sobre a validade das regras pelo Su-
premo”.
18
Dr. Evaristo de Miranda: o Brasil é modelo de preservação
do meio-ambiente
19
Agricultura brasileira: recordes de produção e de
preservação ambiental
20
Joe Biden, durante as eleições presidenciais americanas, havia pro-
posto mobilizar “o hemisfério e o mundo” para oferecer US$ 20 bilhões
“para que o Brasil não queime mais a Amazônia”.18
Está barata nossa floresta, não?
É curioso como nessa hora não se houve o grito bolivariano típico
de “rendição ao imperialismo ianque”. Dois pesos e duas medidas…
Desânimo e fatalismo
Esse conjunto de medidas tomadas a contrapelo dos sentimentos
da população parece ser concebido para gerar uma sensação de desâni-
mo e fatalismo: “este país tem que caminhar inexoravelmente para a es-
querda, apesar de termos eleito um governo conservador”.
A queda de braço com as reações tem desgastado o cenário públi-
co. Entretanto, mais ainda é verdade que tem desgastado os autores da
peça. Quanto mais imposição, mais um descontentamento de fundo, de
consequências imprevistas, vai se acumulando.
Era preciso então lançar mão de uma segunda arma psicológica, a
que as circunstâncias deram ensejo.
21
O STF retirou do governo federal a autoridade para o enfrentamento
da crise da Covid-19
III
Segunda arma psicológica: aproveitamento da
pandemia da Covid-19
23
Tabapuã (MG): decreto municipal obrigando o uso da
pulseira de isolamento
24
Imediatamente, a cacofonia midiática lançou-se furiosamente con-
tra todos os que, ainda que razoavelmente, se opusessem a tais medidas
extremas. O patrulhamento teve o auxílio das principais plataformas de
mídia social, como Facebook e Youtube.
O TJ-SP, por exemplo, ao julgar uma das ações contra o Youtu-
be por ter removido conteúdo relacionado com a pandemia, foi feliz ao
mencionar, em sua decisão, que “a remoção seria uma forma de censura à
livre manifestação do pensamento e às opiniões emitidas, pois o Google já
[tinha] concedido espaço aos autores na plataforma”.22
Por sua parte, o juiz Marcelo Augusto Oliveira comparou as inten-
ções do Google aos “discursos de autocratas” e afirmou que elas “amorda-
çam os usuários da plataforma de vídeos”.23 A comparação não poderia
ser mais razoável.
Entretanto, a censura e a imposição continuaram e recrudesceram.
A CPI do “pandemônio”
Em seguida, o
mesmo Governo do
qual o Supremo Tri-
bunal havia retirado o
poder de decidir em
termos de pandemia foi
responsabilizado, por
parte da esquerda e da
imprensa, pelos efeitos
danosos da crise.
25
Em abril de 2021, o Senador Randolfe Rodrigues encabeçou pedi-
do ao STF para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito,
com o fim de “apurar eventuais omissões do governo federal no enfrenta-
mento da Covid-19.”24
Vale destacar o histórico do senador. Foi afiliado anteriormente
ao PT e ao PSOL, e hoje está no partido Rede Sustentabilidade. É fre-
quentemente visto usando o anel de tucum, distintivo dos seguidores da
malfadada “Teologia da Libertação”. Recentemente confessou: “Hoje, na
CPI, falei sobre o anel de tucum que uso. Ele surgiu na contemporaneidade
com as comunidades eclesiásticas de base”. Ele utiliza o anel desde que in-
gressou na Pastoral da Juventude. “O significado dele, ensinado por Dom
Pedro Casaldáliga, é um matrimônio com a causa dos mais pobres!” 25
Dom Casaldáliga ficou famoso como um dos mais radicais expo-
entes da “esquerda católica” no Brasil, sempre ardidamente comunista.
Não deixa de ser interessante notar o dedo da “esquerda católica” nisso
tudo. O dedo e o anel, podia ser o título de uma crônica a respeito do
pandemônio da CPI…
Em 8 de abril, um ministro do STF determinou ao Senado que ins-
talasse a CPI, o que foi feito em 27 daquele mesmo mês. No discurso ini-
cial, o relator, Senador Renan Calheiros, num arroubo exótico, declarou:
“A CPI não é a sigla de Comissão Parlamentar de Inquisição. É de Investi-
gação. Nenhum expediente tenebroso das catacumbas do Santo Ofício será
utilizado. A CPI, alojada em uma instituição secular e democrática, que é
o Senado da República, tampouco será um cadafalso com sentenças pré-
-fixadas ou alvos selecionados. […] Não desenharemos o alvo para depois
disparar a flecha.”26
“Não desenharemos o alvo para depois disparar a flecha.” Lembra
uma expressão francesa: “qui s’excuse s’accuse” – quem se desculpa se
acusa.
26
CPI da Pandemia: proximidade com movimentos de esquerda como a
Teologia da Libertação
27
Lockdown em Araraquara (SP) e em todo o Brasil: empresas
fechadas e milhares de desempregados
28
Na CPI, levantar a possibilidade de um tratamento precoce para o
vírus chinês ou questionar com bons argumentos a efetividade das medi-
das sanitárias já bastava para pôr a pessoa no banco dos réus.
E enquanto os parlamentares deblateravam, a população sofria as
consequências nefastas da política de lockdown indiscriminado: desem-
prego, escassez, falências.
Já nos primeiros meses da pandemia, 716.000 empresas fecharam
as portas. E das que não puderam abrir depois da ‘primeira onda’, 99,8%
eram de pequeno porte. Do total de empresas no brasil, 948.000 tiveram
que demitir trabalhadores durante esse período29.
A CPI, que se arvorava em defensora da população, fechava os
olhos para o outro aspecto da realidade. Enquanto isso, cresciam no país
a tensão e a preocupação pelo dia a dia.
29
Congresso Nacional
Palácio do Planalto
31
tadas por alguns senadores que fazem parte daquela comissão. Isso, para o
CFM, é intolerável, inaceitável, sob todos os pontos de vista.”30
A entidade, representante de 530.000 médicos do país, esclareceu:
“A nossa fala não é dando apoio àquilo que as duas médicas falaram den-
tro da CPI. A nossa fala é em relação à total falta de educação, de respei-
to, àquelas duas mulheres médicas. Elas não tiveram a oportunidade de
responder, elas foram maltratadas, elas foram a todo momento interrom-
pidas, incapazes de terminar um único raciocínio que estavam elaboran-
do”31. (grifos nossos)
32
Março de 2021, sessão encerrada na Câmara dos Deputados:
bate boca e altercações
Palavrões
Há nesse quadro um elemento aparentemente secundário, mas que
possui um papel nada desprezível para a deterioração da serenidade na
cena pública.
Trata-se da decadência dos modos e da linguagem nas altas esfe-
ras do poder. Multiplicam-se os insultos, o vocabulário de baixo calão, o
desrespeito às normas mais básicas de educação, a vulgaridade rampante.
Em março de 2021, para dar um exemplo entre mil, uma sessão de
comissão na Câmara dos Deputados precisou ser encerrada após alter-
cação entre deputados, cujo vocabulário vulgar vai se tornando cada vez
mais corriqueiro na vida pública.33
33
No Executivo, infelizmente, o baixo calão também está presente,
e é para a Presidência uma mancha que certas esquerdas gostam de ex-
plorar. Com efeito, a linguagem vulgar sempre foi marca típica dos mo-
vimentos subversivos. A subversão da linguagem não ajuda em nada a
credibilidade de um elemento de direita…
Em todo caso, o desprestígio das instituições parece ser uma cons-
tante nos últimos anos, e prepara um novo descrédito por parte do eleito-
rado em futuro próximo, e a consequente volta da manipulação política
pelos grupos minoritários e inescrupulosos que conhecemos.
34
Pode-se imaginar o descontentamento da opinião pública com ta-
manho acinte. Algum estrategista político poderia perguntar: será que
os atores políticos por detrás dessa manobra não calcularam que isso os
desqualificaria, provocando uma onda de descontentamento irrefragá-
vel?
A única resposta que parece plausível é: sim, eles calcularam. E
quiseram avançar apesar das reações. Sua maneira de proceder converge
para o mesmo ponto: enervar o público até que este “peça água”.
35
Por determinação do
Tribunal da Internet
Você foi #cancelado
37
Em artigo com o expressivo título “Briga de Rua”, o jornalista José
Roberto Guzzo comenta que:
“[O deputado] não cometeu nenhum dos crimes que a lei relaciona como
inafiançáveis, e que permitiriam a prisão em flagrante de um deputado. É
a única maneira de se prender um deputado no Brasil — não há outra. E
por que o flagrante, já que ele não foi detido pela polícia enquanto estava
gravando? Os ministros apresentaram sua doutrina a respeito: um vídeo
de internet é uma espécie de “flagrante perpétuo”, que não pode mais ser
desmanchado depois que foi feita a gravação.”37
As ações de censura de opinião vêm se repetindo. O TSE determi-
nou a suspensão de recursos das redes sociais (monetização) para uma
longa lista de conservadores, vários dos quais também alvos de inquéri-
tos no STF.
Entre esses casos, alguns se viram na contingência de deixar o Bra-
sil, por medo de perseguições de cunho político.
Vários atingidos reclamam de que seus advogados não têm sequer
acesso aos autos.
Não sabiam os assessores da mais alta corte do país que isso só po-
dia pôr “mais lenha na fogueira” do descontentamento?
É sempre o mesmo: enervar, provocar, açular.
38
VI
Falsas alternativas para os nervos aguçados
Resumindo nossa tese até aqui: tudo indica haver uma manobra
premeditada para agastar os temperamentos e dar saudade da calma. Aí
então oferecer uma via intermediária, que faça avançar a agenda revolu-
cionária, gradual mas eficazmente, num clima de bonança artificial.
Insistimos: o que esses misteriosos agentes parecem desejar é que
o Brasil se esgote de tanta tensão, e acabe aceitando, senão a volta de um
PT mais amanteigado, uma terceira via, em certo sentido mais perigosa
do que a via rápida petista.
Um observador atento percebe que a reação atual tem um fundo
marcadamente anticomunista. Uma eventual subida do PT, não impor-
ta a manobra pela qual seja obtida, será passageira e não convencerá a
opinião pública. Tantos serão os percalços no caminho desse novo avan-
ço da esquerda, que
a levarão ou a golpes
desesperados, ou a
uma lentidão não su-
portável pelas bases
aguerridas. A popula-
ção estará “de atalaia”,
atenta e vigilante.
Basta lembrar o
período entre a elei-
ção de Dilma Roussef
e seu impeachment.
O descontentamento
acumulado resultou
em um desprestígio Dilma derrotada: 4º lugar nas eleições
para o Senado
39
total. Nas eleições de 2018, Rousseff tentou a candidatura ao Senado pelo
estado de Minas Gerais. Líder nas “infalíveis” pesquisas eleitorais, aca-
bou em quarto lugar, com apenas 15% dos votos válidos...
Uma terceira via, na qual a esquerda deixasse de tensionar por de-
mais o debate político, juntamente com a impressão de relativa prospe-
ridade, seria de molde a amortecer boa parte das reações e anestesiar o
espírito público, preparando-o para novos abismos na linha da sociali-
zação.
40
Ao lado Raul Castro (no centro), Juan Manuel Santos (à esquerda) foi
líder contra a guerrilha e depois arquiteto do chamado acordo de paz
41
Após os colombianos dizerem “não” ao acordo com a guerrilha,
o governo simplesmente ignorou o resultado do referendo
42
A Conferência Episcopal Colombiana apressou-se então a acalmar
os ânimos das FARC, e convencê-los a continuar o caminho do acordo43.
Juan Manuel Santos, alguns dias depois de derrotado no referendo, re-
cebeu o prêmio Nobel da Paz 201644. A opinião pública assistia atônita.
Pouco depois, contrariando o voto popular (!), o Congresso co-
lombiano aprovou o acordo. Os efeitos foram desde o início denuncia-
dos, entre outros, pelo Centro Cultural Cruzada, associação coirmã do
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira naquele país45: impunidade para as
FARC; legalização do narcotráfico e da lavagem de ativos ilícitos; não
cumprimento da entrega das armas pelas FARC; desarmamento e redu-
ção do Exército; acesso ao Congresso para os guerrilheiros; ausência de
reconhecimento dos crimes e de reparação às vítimas.
***
Infelizmente, muitos dos pontos apontados pelos continuadores da
TFP na Colômbia foram se efetivando, em grau maior ou menor.
Recentemente, o coronel José Luiz Esparza, um dos heróis da Ope-
ração Xeque atrás mencionada, foi desligado do Exército, enquanto se
preparava para ascender ao cargo de general46.
A vingança contra os militares parece ser uma constante. A re-
tomada do Palácio de Justiça da Colômbia, sequestrado em 1985 pelo
movimento terrorista M-19, valeu ao general e ao coronel responsáveis
muitos anos de cárcere. Faz lembrar as “Comissões da Verdade” impul-
sionadas pelo governo do PT…
Não podemos deixar de mencionar que o governo Santos promo-
veu sorrateiramente as agendas abortista e de “gênero”, inclusive em seu
43
acordo com as FARC.47 Seu ministro da saúde, Alejandro Gaviria, apoia-
va o aborto em todos os casos48.
Outra perigosa consequência foi o descrédito do eleitorado do cen-
tro, e o aumento dos votos da extrema esquerda ao final de seu governo.
44
Fernando Henri-
que afirmou na ocasião
que apoiaria a Lula em
um possível segundo
turno. Para o jornal, “foi
o sinal para quebrar as
últimas resistências”. Si-
nal para quem? Para o
público? Para a base do
PSDB? Ou para todas as
vertentes antigoverno?
Ninguém menos
que o deputado Marcelo
Freixo (foto), expoente
radical do radicalíssimo
PSOL, comentou a união Lula-FHC: “É hora de diálogo e construção de
consenso, porque o que está em jogo é a democracia e a vida dos brasileiros.
Parabéns a Lula e a Cardoso por este gesto de grandeza e responsabilidade
para com o país”.
Para o ultra-esquerdista, “a aproximação entre os dois pode resolver
os problemas de todas as tentativas de formar uma ‘frente ampla’ contra
Bolsonaro: os dois grandes líderes não estavam [antes] em nenhuma delas.”
Isto é, o encontro foi uma sinalização para todas as possíveis op-
ções contra o atual status quo. Qualquer que seja a nova fórmula, será
apoiada por Lula e Fernando Henrique. Como não ver aí uma solidarie-
dade de fins entre as correntes que ambos representam?
O artigo conclui:
“É neste contexto que a eleição presidencial, até agora, está se configurando
como uma batalha de rejeições. O anti-Petismo vence, como em 2018, ou o
anti-Bolsonarismo? Neste confronto, a foto de sexta-feira de Lula e Cardoso
é um trunfo para o petista. Cardoso desenha uma nova linha e dinamita a
45
Contra o governo federal: “frente ampla” reune Lula, Dilma,
Fernando Henrique, Ciro Gomes e outros
falsa teoria dos “dois demônios” que ele abraçou em 2018. Com a democra-
cia no cardápio, Cardoso se cola com Lula.”50
Outro encontro reunira naquele mês “adversários políticos” numa
“frente ampla” contra o governo federal. Participaram do evento Lula,
Dilma, Fernando Henrique, Ciro Gomes e outros. Um deputado do Par-
tido Comunista do Brasil celebrou: este evento é um “importante sinal de
esperança, de fé e de dias melhores na nossa Pátria”.51
Cabe a pergunta: o que são “dias melhores” na mente de um comu-
nista declarado?
Mais uma vez, nota-se que tanto a “ala Lula” quanto a “ala FHC”
não se importam muito em quem será o próximo presidente, desde que
o atual governo, e sobretudo a reação conservadora, sejam derrubados.
Uma confluência de objetivos, independente dos métodos, parece tor-
nar-se clara.
46
A busca de apoio político internacional
Contribui para a mesma conclusão a viagem espalhafatosa de Lula
pela Europa, em novembro de 2021, em que foi recebido por autoridades
como o presidente francês Emmanuel Macron, com pompa e circunstân-
cia. Alguém comentou que os dois tinham apenas uma coisa em comum:
ambos não conseguem sair à rua, com medo das vaias…
Antes de encontrar-se com Macron, Lula havia recebido o prêmio
“coragem política”, concedido pela revista Politique Internationale.52
À mídia internacional parece aplicar-se o comentário do jornal
“Estado de S. Paulo”:
“Não aprenderam nada nem esqueceram nada.” A frase atribuída a Tal-
leyrand a propósito do retorno da dinastia Bourbon 25 anos após ser de-
fenestrada pela Revolução Francesa se aplica bem às candidaturas que
despontam à esquerda para as eleições de 2022. Só precisaria ser comple-
mentada: eles não se desculparam por nada.”
Os velhos ‘Kerenskys’ de
plantão
É conhecida a história do
premier social-democrata russo
Kerensky (foto), que com fachada
centrista preparou o caminho para a
subida de Lênin ao poder, com to-
das as nefastas consequências que
conhecemos: URSS, genocídios,
fome, miséria e desolação.
Curiosamente, logo após elei-
to para seu primeiro mandato em
47
1994, Fernando Henrique esteve na Rússia, e declarou ser o Kerensky
brasileiro.53
A afirmação, que na época podia causar estranheza, em boa me-
dida confirmou-se. O então antagonista de Lula seguiu uma estrada
gradual rumo à socialização em várias áreas de sua administração. Por
exemplo, com a ampliação da Reforma Agrária socialista e confiscató-
ria. Esta foi de tal monta, que nos dois mandatos de Fernando Henrique
foram feitas muito mais
desapropriações do que
nos oito anos de gover-
no Lula!54
O caminho es-
tava amaciado para o
PT. Conforme destacou
a comentarista políti-
ca Ana Paula Henkel
(foto), hoje já está claro
para todo o país que o
PSDB é um partido de
esquerda.55
Nessa linha, é também sintomático o seguinte trecho da reporta-
gem da Folha de S. Paulo, de 11/1/2016, a respeito das posições do então
governador tucano Geraldo Alckmin:
“Em disputa interna com o senador Aécio Neves (MG) para se cacifar como
candidato do PSDB na eleição para a Presidência em 2018, o governador
de São Paulo, Geraldo Alckmin, tem aproveitado a falta de diálogo entre
53. “FHC resiste à tentação do trono dos Romanov”, em “FSP” 22/10/1994. Ver também artigo
de Luiz Fernando Veríssimo, “OESP”, 30/10/1994.
54. Segundo “OESP” de 7/10/2013, o governo Fernando Henrique desapropriou 3.532 imóveis
rurais para fins de Reforma Agrária, enquanto Lula realizou 1.990 desapropriações em oito
anos.
55. Comentário durante o programa noticioso “Os Pingos nos Is”, da rádio Jovem Pan, em
20/11/21.
48
movimentos sociais e a presidente Dilma Rousseff para se aproximar de
grupos ligados à esquerda e ao PT.”
Em entrevista para a Agência Estado, em 2016, um líder do MST
afirmou que o governo Alckmin
(foto) produzira a “melhor lei de
terras do Brasil” e disse esperar
que o governo Dilma Rousseff se
inspirasse na iniciativa paulista.
“A melhor lei de terras do Brasil foi
aprovada no Estado de São Paulo e
nós esperamos que o exemplo daqui
sirva também em nível nacional”,
afirmou o esquerdista radical56.
Mais recentemente, ao sina-
lizar um apoio a Lula em 2022, o
tucano declarou: “a política precisa
ser feita com civilidade, com quem
tem apreço pela democracia”. Ques-
tionado se Lula teria essa qualida-
de, afirmou: “É claro que tem”. 57
Já antes havia causado séria preocupação aos que defendem a fa-
mília a atitude do candidato presidencial Aécio Neves, quando apoiou
publicamente as demandas do movimento homossexual, em particular
a adoção de crianças por “casais” homossexuais, reivindicação típica do
Partido dos Trabalhadores e de partidos de extrema esquerda.58
49
Os Kerenskys do momento
Há certamente outros ‘Kerenskys’ soltos por aí. Seria tarefa árdua
mencionar e classificar a todos. Limitamo-nos a sugerir uma breve lista
de predicados que ajudará o leitor a identificá-los por si.
1 – O Kerensky típico fala de “união nacional” com uma insistência
suspeita e artificial.
2 – Ele projeta a ideia de que, desde que nos livremos de um status
quo político conservador, todo o resto se solucionará por si.
3 – Ele normalmente conta com a ajuda complacente da grande
mídia, nacional e internacional. Tudo lhe é desculpado.
4 – Ele apenas põe o foco de seu discurso nos problemas econô-
micos, e trata como secundárias as questões de princípios, dos valores
imutáveis, da família, da vida, dos costumes.
5 – Ele não tem grande dificuldade em aliar-se até com gente bas-
tante esquerdista, desde que a agenda conservadora pereça. Ele é mais
anti-anticomunista do que anticomunista…
6 – Não tem muito medo de se contradizer. O establishment o es-
cuda.
7 – Não sofre nenhuma perseguição séria e consistente da esquerda
eclesiástica.
50
VII
Não é preciso reinventar a roda: antídotos
contra o teste de nervos
51
Eis a única explicação para a miríade de mentiras e contradições da
esquerda e quejandos. Eles lutam contra o racismo, promovendo a luta
de raças. Bradam contra a intolerância, e procuram montar um estado
policial para silenciar quem quer que se levante contra a agenda radi-
calíssima da Ideologia de Gênero. Falam de saúde pública, e multipli-
cam não só a matança dos inocentes, mas a miséria psicológica e moral
em que ficam as mulheres que cometeram o crime nefando do aborto.
Silenciam e perseguem quem sequer conteste a eficácia dos exagerados
lockdowns, com o pretexto de ‘salvar os idosos’, e no dia seguinte sobem
na tribuna para defender o ‘direito’ à eutanásia. Por fim, berram por de-
mocracia e preparam, dia a dia mais, um estado de tirania.
Como bem se vê, para a esquerda vale como para ninguém a máxi-
ma de Maquiavel. O fim de destruir justifica qualquer meio, não importa
o quão perverso.
Ora, se as paixões desordenadas constituem a fonte de tanta agita-
ção, intemperança e desordem, só o amor à ordem, à tranquilidade e ao
bom senso pode nos proteger.
Mas como manter a calma em um cenário tão agitado?
A resposta não é tão simples. Mas talvez os pontos abaixo possam
ajudar o leitor a elaborar, para si e para sua família, uma fórmula que lhes
seja viável.
1 – Ver, julgar, agir. Esta é a sequência que se opõe ao aguçar dos
nervos. Antes de julgar, é preciso ver. Analisar. Observar. Só depois tirar
uma conclusão, e então agir. Esse é o método do grande Santo Tomás de
Aquino, e sempre ensinado pela doutrina católica tradicional. E constitui
a base para a manutenção do bom senso, que não é senão o ver a realida-
de como ela é, julgar sem nervosismo, agir sem espalhafato.
2 – Cuidado com a vulgaridade. Apreço pelos bons modos, pela
linguagem educada, ainda que firme. A linguagem é o reflexo do pensa-
mento. Os modos são o reflexo da virtude.
52
3 – Não esperar que a solução para os problemas do dia a dia ve-
nha sempre de cima. Valorizar o jeitinho, a saída inteligente e discreta.
4 – Cuidado com os lobos em pele de ovelha, sobretudo os que
usam a religião para justificar o socialismo.
5 – Não cair no sensacionalismo a que nos tentam continuamente
as redes sociais. Não deixar que os fatos sirvam às
mídias sociais, mas que estas sirvam aos fatos.
6 - Reconhecer a artificialidade da maio-
ria dos meios de comunicação e como estes tra-
balham lado a lado com os autores do teste de
nervos de que tratamos.
7 – Na medida em que nosso escasso
tempo permite, promover um estudo cal-
mo e sério, única verdadeira defesa con-
tra a ideologia igualitária e libertária que
grassa em tantas universidades.
Tornar, portanto, a casa pouco
vulnerável ao alastrar do incêndio. É
o que diria nosso bombeiro expe-
riente!
Mas à lista falta o principal.
Trata-se do recurso ao sobrenatural.
Aos Santos Anjos. A Nossa Senhora
Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, que vela por nós. Ao Cristo Re-
dentor, de cuja imagem no Corcovado celebramos os 90 anos. E aprovei-
tamos este feliz ensejo para terminar com as palavras de alento de Plinio
Corrêa de Oliveira60, inspiradas em tão querido ícone ora nonagenário:
“Eu não posso me esquecer uma noite em que eu estava no Rio de
Janeiro, noite em que a neblina levantada do mar cercava a estátua de
60. Discurso pelas vítimas do comunismo no aniversário da Revolução Russa. Hotel Hilton,
Sala Bandeirantes, 17/10/1978.
53
Cristo Redentor no Corcovado; eu não posso me esquecer que eu tinha os
olhos fixados naquilo que durante algum tempo era apenas um foco de luz
no qual eu não discernia nada; em determinado momento, batia o vento,
fazia-se um pouco de claridade, eu percebia um dos braços e uma das mãos
do Cristo Redentor, iluminado com aquela luminosidade especial, que a
pedra sabão de que é revestido o monumento absorve a luz que sobre ele se
projeta.
“Pouco depois o vento batia e era a face do Cristo Redentor que apa-
recia, era o seu peito onde pulsa o seu Sagrado Coração; mais adiante,
eram os seus pés divinos que todos nós gostaríamos de oscular; mas eu
prestava atenção… prestava atenção… Em nenhum momento, por mais
densas que fossem as névoas, a luz deixava de encontrar um certo ponto
54
de apoio no monumento, de maneira que apenas sendo uma luz fixa sobre
uma silhueta ou sobre uma mão que protege, uma mão que abençoa, um
coração que palpita de amor, ou uma face que contempla cheia de solicitu-
de, em nenhum momento a neblina conseguiu apagar a figura do Redentor.
Esta é a fé com que nós caminhamos para o futuro, quaisquer que
sejam as circunstâncias. Poderá ser que provações muito difíceis toldem aos
nossos olhos as perspectivas da vitória, pode ser que circunstâncias impre-
vistas coloquem para nós problemas que hoje ainda não são os nossos. Mas,
para além das névoas, para além de tudo aquilo que pode tapar a verdade,
no horizonte visual do brasileiro há algo que nada tira: é a imagem do
Cristo Redentor, a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta fé há de nos salvar!
Meus caros, o Brasil há de vencer qualquer que seja a situação, e é
rumo a esta vitória que todos caminhamos com o passo resoluto e a alma
cheia de fé.”
55