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Repelente Divino

Por Shirlei Massapust

No romance de Bram Stoker o personagem Jonathan Harker tem ojeriza por


símbolos católicos romanos porque ele é cristão protestante. Jonathan aceita um
presente – um crucifixo – dado por uma bondosa aldeã romena apenas para que ela pare
de insistir em convencê-lo. Depois, quando o Conde Drácula visualiza o ícone portado
pelo agente imobiliário, o vampiro “respeita e se mantém distante1” porque apesar dos
pesares o monstro ainda é católico.
Encontramos uma situação curiosa onde o símbolo religioso desagrada ao
humano e impressiona o vampiro que, por reprovar a si mesmo, é repelido não pela
coisa, mas sim pela vergonha de pecar diante daquilo que lhe é sagrado. Gérard Brach e
Roman Polanski interpretaram corretamente a lógica da condição de funcionalidade do
ícone como placebo no roteiro da comédia The fearless vampire killers (1967), onde o
personagem judeu Yoine Shagal, interpretado pelo ator judeu Alfie Bass, vira vampiro e
é confrontado por uma mulher empunhando um crucifixo. Shagal solta uma gargalhada
e diz: “Oy-yoy! You got the wrong vampire!” O objeto decorativo não lhe afeta nem
incomoda.
Em Lost Boys (1987) um vampiro encontra pedaços de alho boiando numa
banheira e debocha dizendo: “Alho não adianta”. Depois morre dissolvido pela mistura
de água comum com água benta e alho. O telespectador deve supor que o ingrediente
bento funcionou sozinho ou estendeu sua propriedade sagrada a todo o resto? Em Fright
Night I (1985) e Fright Night II (1988) todos os símbolos sagrados funcionam por si só
contra vampiros ateus com uma eficiência terrível. Mesmo assim, na sequencia, quando
Peter Vincent (Roddy McDowall) empunha a cruz diante de Regine Dandridge (Julie
Carmen) ela continua avançando até chegar bem perto e dizer orgulhosamente que sua
espécie adquire maior tolerância contra estes artifícios ao longo dos séculos.
Num dos filmes da Hammer onde Christopher Lee interpreta Drácula o vampiro
cansa de fugir, supera o medo, agarra a cruz, queima sua própria mão, mas também
queima a cruz. Na minissérie em quadrinhos Chuva Rubra, se um vampiro é queimado
pelo toque duma cruz que deixa nele uma ferida em formato de cruz, a imagem
carimbada continua a queimar até que o vampiro ampute a parte do corpo machucada ou
deforme a ferida num formato que não a faça parecer uma cruz perfeita.
Anne Rice atendeu a expectativa dum mercado saturado pela frustrante
obstrução no desenvolvimento de enredos onde qualquer par de gravetos cruzados
punha a perder o engenhoso plano maligno do vilão. Anne Rice radicalizou, justificando
a natureza sobre-humana do vampiro pós-moderno por um amplo leque de capacidades
inéditas ao mesmo tempo em que descartou tópicos repetitivos classificados
pejorativamente como nosense, bullshit2 – duas palavras de baixo calão propriamente
traduzidas por Clarice Lispector como “absurdo”, “idiotice”, “burrice”. 3 – Assim o
vampiro deixou de ter aversão a alho ou ícones religiosos, perdeu a capacidade de
sublimar o próprio corpo, etc.
Na adaptação cinematográfica de Interview with the Vampire (1994) o culto
personagem Louis de Ponte du Lac (Brad Pitt) acrescenta que tudo não passa de
“histórias de um inglês louco”, a despeito do escritor Bram Stoker (1847-1912) ser de
fato irlandês.
1
STOKER, Bram. Drácula. Trd. Vera M. Rernoldi. São Paulo, Nova Cultural, 2002, p. 236.
2
RICE, Anne. Interview with the Vampire. USA, Ballantine, 1977 p 23.
3
RICE, Anne. Entrevista com o Vampiro. Trd. Clarice Lispector. Rio de Janeiro, Rocco, 1992, p 29-30.
Mark Rein•Hagen seguiu o exemplo. Para reduzir a vulnerabilidade do vampiro
contra miudezas que tornariam seu RPG inviável, o idealizador do sistema storyteller
sugeriu que nenhum fetiche (alho, cruz, hóstia ou etc.) produz efeito por si só. Porém
deveria haver uma circunstância especialíssima onde até mesmo Shagal poderia ser
afetado por uma cruz católica; quando a fé do portador do objeto fa-lo-ía funcionar
como canalizador de energia:

Crucifixos, água benta e outros símbolos religiosos devem ser ignorados — a


Igreja sempre foi o primeiro refúgio dos mortais confrontados com coisas que lhes
ultrapassam a compreensão — especialmente no passado. Contudo, cheguei a
presaenciar algumas raras ocasiões nas quais tais objetos foram capazes de causar um
desconforto considerável. Nesses casos, seus portadores quase refulgiam de fé na
Divindade, o que me leva a concluir que os objetos religiosos serviam de algum modo
para canalizar o poder dessa fé. Ignores, todavia, os ardis do cinema, com seus
candelabros cruzados e sombras de pás de moinhos.
As pretensas propriedades do alho, assim como do acônito 4 e de outras ervas
são, da mesma forma, mera superstição. Esses vegetais repelem os vampiros tanto
quanto o fazem com a maioria dos mortais, a despeito da cantilena das mulheres que os
vendiam. Como a Igreja, as curandeiras de aldeia era muito requisitadas para usar sua
“magia” contra vampiros, obtendo os mesmos resultados pífios. 5

Outra hipótese do mesmo autor assinala que o poder dos fetiches sobre os
vampiros ou seus servos seria “um fenômeno puramente neurótico, devido a
acreditarem que essas coisas possam feri-los”.6 Isso não soa péssimo? Se a Estrela de
Davi afetar o vampiro judeu Shagal o portador é apenas alguém que segura um objeto
inanimado e o vampiro é neurótico, mas se o crucifixo afetar Shagal o portador é santo
e o vampiro diabólico.
Anne Rice e Mark Rein•Hagen provocaram a maior reforma já produzida no
conceito de vampiro. Interview with the Vampire (1976) começa com Louis de Ponte du
Lac recusando dar dinheiro ao irmão – que é santo ou esquizofrênico – para construir
um templo católico. Por causa disso o irmão é assassinado por um vampiro que
efetivamente convence o incrédulo a dar a ele os recursos negados ao morto. Os ícones
religiosos não afetam Louis. Eles afetam o leitor que acaba confrontado com descrições
espalhafatosas o tempo todo... No jogo Vampire Masquerdade (1992) a hipótese resta
inexplorada fora da introdução como se, mesmo estando apresentado como ficto
argumento de autoridade numa brincadeira, não fosse bom brincar com religiosidade.
Quando Anne Rice publicou o primeiro livro das crônicas vampirescas, certas
características onipresentes no cinema e nos gibis persistiam por tanto tempo que
estavam se transformando em verdadeiro folclore. As editoras exigiam reformas
urgentes que cumularam na criação do vampiro descartável.
Para atender à incessante demanda por novidades e lucrar conforme as regras do
mercado, os produtores de arte deveriam inovar ou ridicularizar o passado para
desvincular-se dele. Durante a década de 40 as produções de horror passaram a ser
salpicadas de humor. Num primeiro momento o cômico é dado pelas figuras grotescas,
pelo bizarro, mas já nos anos 50 nota-se uma alteração no gênero que desemboca na
sátira, onde o horrível é apresentado com zombaria e através de paródia. “Aquilo que

4
Na versão norte-americana do filme Drácula (1931), onde o conde demonstra asco diante de sinforina
(Symphoricarpus racemosus) e, na espanhola, ele é repelido por acônito.
5
REIN•HAGEN, Mark. Vampiro: A Máscara. Trd. Sylvio Gonçalves. São Paulo, Devir, 1994, p 8.
6
REIN•HAGEN, Mark. Vampiro: A Máscara. Trd. Sylvio Gonçalves. São Paulo, Devir, 1994, p 9.
causou horror a uma geração passou a ser risível na geração seguinte”. 7 O conde
Drácula e demais monstros tornaram-se familiares e acabaram sendo os principais alvos
da sátira. Ou seja, acresceram doses de comédia até o terror virar terrir.

O homem transformado em incenso

Em Drácula, o personagem Dr. Van Helsing suspeita que Lucy Westenra sofre
de vampirismo, encomenda diversos buquês de flores e assegura que as plantas
medicinais não seriam “transformadas numa repugnante infusão e tampouco numa
simples beberagem”.8 Depois de morta ela acabaria com flores cruas enfiadas na goela
da cabeça decapitada, mas no princípio tudo que a paciente tinha a fazer era suportar o
cheiro. Ele chama a planta de “wild garlic”, expressão que costuma designar o Allium
ursinum em inglês britânico. Todavia Lucy protesta contra a presença do que ela chama
de alho ordinário; isto é, Allium sativum. Antes de aferrolhar as janelas da casa e
esfregar este “alho muito especial” por todas as passagens de ar, o médico instrui:

Estas flores realmente são dotadas de um alto teor medicinal, mas a senhorita
nem sequer desconfia como atuarão. Coloco-as em sua janela, tranço com elas um leve
colar e o ponho em torno do seu pescoço, para que a senhorita possa dormir sem
sobressalto. Oh, sim! Elas se assemelham bastante com as flores de lótus. Serão elas
que a farão esquecer os seus tormentos. Elas nos impregnam com seu suave odor das
águas de Leth, odor este haurido das cristalinas e eternas fontes da juventude que os
audazes conquistadores tanto procuraram descobrir nas inexploradas terras da Flórida e
só tão tarde localizaram.9

Todos os filmes e adaptações subsequentes trouxeram bulbos de Allium sativum


trançados em réstias. No filme The fearless vampire killers (1967) personagens
mastigam alho cru para proteção.
O brasileiro Antônio Calmon se inspirou nos filmes para sua novela VAMP, e
teceu uma teoria própria: Como os vampiros adquiriram imunidade ao pequeno Allium
sativum tornou-se necessário confeccionar réstias de Allium cepa, ou seja, cebola.
Como a trilogia Blade (1998), Blade II (2002) e Blade: Trinity (2004) deu mais
importância ao grau de contato com o condimento do que ao tamanho do bulbo, o
extrato de alho injetado diretamente na veia de pacientes infectados foi usado como
vacina contra o vampirismo.

Orações, esconjuros e oblação parta a dissolução do duplo.

Aulus Persius Flaccus registrou a crença de que morder alho afasta magias ou
malefícios lançados pelos deuses àqueles que não os reverenciam (Satyr. V).10 No
catolicismo o caráter sagrado de raízes bulbosas se limita à reverência ao alho-poró
(Allium porrum), que está ligado ao Rei Davi, sendo honrado pelos galeses. Porém,
todas as plantas aparentadas desfrutam de prestígio nas compilações de crenças
populares.
José Luiz Aidar e Márcia Maciel dão duas versões para a popularização do alho.
Uma delas se destina a afastar humanos beijoqueiros: “O alho poderia ter passado à
7
AIDAR, José Luiz e MACIEL, Márcia. O que é vampiro. São Paulo, Brasiliense, 1986, p 48.
8
STOKER, Bram. Drácula. Trd. Theobaldo de Souza. São Paulo, L&PM, 1993, p 160.
9
STOKER, Bram. Drácula. Trd. Theobaldo de Souza. São Paulo, L&PM, 1993, p 160.
10
FRIEDRICH, J. B. Die Symbolik und Mythologie der Natur. In: LELAND, Charles Godfrey. Magia
Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1993, p 67.
história em função da estratégia das mães, que obrigavam as meninas a mastigarem-no
para ficarem com mau hálito”.11 Isso certamente teria esfriado o ânimo dum ávido
vampiro por equiparação. Na autobiografia de Giacomo Casanova o célebre charlatão
conta porque se afastou de uma vítima:

Apesar de tudo, havia nele um não sei que de atraente que cativou dede logo a
minha afeição e teria gostado de entreter-me mais longamente com ele, se o ativo cheiro
de alho a exalar de sua boca não me mantivesse sempre à distância. Todos aqueles
albaneses tinham os bolsos continuamente cheios de alho. Um simples dente desse
tempero, para eles, era como um confeito para nós outros. E ainda há quem creia que o
alho seja veneno!12

Quando alho é consumido em quantidades elevadas a substância dialil sulfito


(C3H5)2S é liberada pelo suor de quem o ingeriu, transformando a pessoa num
repelente para olfatos sensíveis e, magicamente, numa espécie de incenso vivo. O
jornalista de ascendência cigana Nelson Liano Júnior, coautor do Manual Prático do
Vampirismo, sugere que “convém ministrar ao paciente chás de alho e queimar incenso
de sandado e pau-d’alho na casa inteira” quando alguém apresenta claros sintomas de
vampirismo. Deve-se ainda recitar a seguinte oração antes de dormir:

Eu o renego, anjo mau, que com sua sede de sangue tenta me contaminar com a
imortalidade dos infernos. Afaste-se de mim, em nome do Criador, pois minha alma
quer trilhar os caminhos iluminados por Deus. Você me fez padecer, mas, com a ajuda
do Onipotente, eu o esconjuro. Volte às trevas, por todos os tempos e tempos, e nunca
mais toque meu espírito com suas artimanhas de sedução. Amém. 13

Os ciganos falam em “berufen”, pessoas atingidas pelo olho gordo. Para o


descarrego enche-se uma panela com água de alguma correnteza, que deve ser recolhida
na mesma direção em que corre e não contra ela. Após misturar sete pedaços de carvão,
sete punhados de farinha e sete dentes de alho nesta água, a panela vai ao fogo. Quando
a água começa a ferver a infusão é mexida com um ramo de três pontas, enquanto a
sábia repete:

Miseç’ yakhá tut dikhen, b Que os olhos maus olhem para ti,
Te yonkáthe mudáren! Que sejam extintos ali!
Te átunci eitá coká E em seguida, que sete corvos
Te çaven miseçe yakháj Arranquem os olhos maus;
Miseç’ yakhá tut dikhen, Que os olhos maus (agora) olhem para ti,
Te yon káthe mudáren! E que sejam extintos ali!
But práhestár e yakhá Que muita poeira caia nesses olhos,
Atunci kores th’ávená; Até que se tornem cegos,
Miseç’ yakhá tut dikhen, Que os olhos maus olhem agora para ti;
Te yon káthe mudáren! E que sejam extintos ali!
Pçãbuvená pçábuvená Que ardam, que ardam
Andre develeskero yakhá! No fogo de Deus!14

11
AIDAR, José Luiz e MACIEL, Márcia. O que é vampiro. São Paulo, Brasiliense, 1986, p 15.
12
CASANOVA, Giacomo. Memórias de Casanova. Rio de Janeiro, José Olympio, vol 1, p 326.
13
LAKATOS, Silvia. “A Maldição da Vida Eterna”. Em: Destino, nº 93. Rio de Janeiro, Editora Globo, p
47.
14
LELAND, Charles Godfrey. Magia Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
1993, p 66.
Segundo Charles Godfrey, os “sete corvos” são representados pelos pedaços de
carvão, enquanto o ramo de três pontas, a farinha e o alho simbolizam os raios. Outra
oração é recitada quando uma mãe cigana sente dificuldade em amamentar – seja pela
falta de leite ou pela pirraça do bebê. – Em ambos os casos a culpa é atribuída à
interferência de uma esposa-Pçuvus, tipo de espírito feminino da terra, que rouba o leite
ou coloca secretamente seu próprio filho para sugá-lo. Neste caso é preciso por cebolas
entre os seios das mães e recitar a seguinte fórmula mágica.

Pçuvushi, Pçuvushi, b Espírito da Terra! Espírito da Terra!


Ac tu náshtlályi Ficai doente.
Tiro tçud ac yakhá, Que vosso leite seja fogo!
Andre pçuv tu pçábuvá! Que queime a terra!
Thávdá, thávdá miro tçud, Flua, flua, meu leite!
Thávdá, thávdá, pamo tçud, Flua, flua, leite branco!
Thávdá, thávdá, sár kámáv, – Flua, flua, como eu desejo
Mre cáveske bokhale! Para minha criança faminta!15

Diversas poções difundidas em vários locais sugerem que o alho protege contra
envenenamento e bruxaria. Segundo Plínio, essa crença vem do fato de que, quando o
alho fica pendurado ao ar livre durante um tempo, se torna preto, ocasião em que
acreditam que atraiu todo o mal para si – e que, consequentemente, retira esse mal da
pessoa que o estiver usando. Nossos antepassados acreditavam que a erva que Mercúrio
deu para Ulisses se proteger contra o encantamento de Circe e que Homero chama de
moly fosse o alium nigrum, sendo o veneno dele retirado narcótico poderoso. Entre os
gregos modernos, existe a crença de que o alho seja o encantamento mais poderoso
contra os maus espíritos, a magia e a desgraça. E, por esse motivo, carregam-no consigo
e penduram-no em suas casas como proteção contra as tempestades e o mau tempo.
Os marinheiros costumam carregar um saco de alho, para evitar o naufrágio. Às
vezes o alho é apenas representado. Se alguém quiser proferir uma palavra de louvor
com a intenção de causar fascínio ou atrair um mal grita bem alto ‘Alho!’ ou pronuncia
a palavra três vezes rapidamente.16 E, segundo uma crença popular, a simples emissão
da palavra ‘Alho!’ protege a pessoa contra o envenenamento”.17
Parece ser crença comum entre eles e os poloneses que essa palavra protege as
crianças contra beschreien werden, ou seja, de serem banidas, negligenciadas ou
portadoras de mau, olhado. Os poloneses costumam colocar alho sob o travesseiro das
crianças, para protegê-las contra os demônios e as feiticeiras. 18 Curiosamente, os
ciganos afirmam que o raio deixe atrás de si odor semelhante ao do alho. Segundo José
Luiz Aidar e Márcia Maciel, a aproximação engloba ainda o arsênio (As) que, aquecido,
sublima-se a cerca de 450ºC, exalando odor semelhante ao do alho.

Há quem diga que o poder do alho é fictício: O verdadeiro espanta-


vampiros seria o arsênio – que, volatizado, espalha um forte odor de alho, pois este sim,
quando defumado, transportaria compostos capazes de corroer elementos fluidos,

15
LELAND, Charles Godfrey. Obra Citada, p 75-76.
16
FRIEDRICH, J. B. Die Symbolik und Mythologie der Natur. In: LELAND, Charles Godfrey. Magia
Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1993, p 67.
17
FRIEDRICH, J. B. Die Symbolik und Mythologie der Natur. In: LELAND, Charles Godfrey. Magia
Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1993, p 67.
18
BRATRANECK. Beiträge zur Aesthetik der Pf1anzenweit, p. 56. Cf: LELAND, Charles Godfrey.
Magia Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1993, p 67.
dissolvendo assim as materializações do duplo. O arsênio volatizado funcionaria como
uma espécie de incenso que, com seus fumos, caçaria os maus espíritos. 19

As virtudes mágicas do alho não se limitam aos casos onde se faz necessário
afastar mau-olhado, sacis e vampiros. Numa curiosa obra italiana, intitulada Il Libro del
Comando, falsamente atribuída a Comelius Agrippa, lê-se a seguinte receita para
promover o amor:

Segredo mágico para informar o estado de saúde a uma pessoa distante: Na


véspera de Natal, junte algumas cebolas, colocando-as em um altar, escrevendo sob
cada uma delas o nome das pessoas sobre quem quer ser informado, ancorche non
scrivano, mesmo que elas não lhe escrevam. A cebola (plantada) que brotar primeiro
anunciará que a pessoa, cujo nome está sob a mesma, se encontra bem. Dessa mesma
maneira, podemos saber o nome do marido ou da esposa que devemos escolher, sendo
que essa adivinhação ainda vem sendo usada em vários cantões da Alemanha. 20

Compare esse encantamento com o sortilégio duma cigana inglesa:

Tome uma cebola, uma tulipa ou qualquer outra raiz do mesmo aspecto (uma
raiz bulbosa, então?) e plante-a em um vaso limpo que nunca tenha sido usado;
enquanto estiver plantando, repita o nome de seu amado, fazendo o mesmo
procedimento diariamente:

Enquanto esta raiz cresce,


E quando florescer,
Que o coração dele
Vire-se para mim!

E com este procedimento repetido diariamente, a pessoa que você ama estará
cada vez mais inclinada para você, até que conquiste o desejo de seu coração. 21

Quanto ao uso do carvão nas encantações, Marcellus Burdigalensis, físico latino


do século III, que nos deixou uma coleção de sortilégios latinos e gálicos, recomenda-o
para a cura da dor de dentes: “Salis granum, panis micam, carbonem mortuum in
phoenicio alligabis”, ou seja, carregar um grão de sal, uma migalha de pão e um pedaço
de carvão em uma bolsa vermelha. Quando o caldo feiticeiro feito com carvões, alho e
farinha é preparado, deixando-se ferver até que seque, restando somente um resíduo,
este deve ser colocado em uma saca de três cantos e pendurado ao pescoço de uma
criança; quando estiver fazendo isso, repetir nove vezes o verso apropriado. “E é muito
importante que a sacola seja feita com um pedaço de linho, que deve ser roubado,
encontrado ou pedido”.22

19
AIDAR, José Luiz e MACIEL, Márcia. O que é vampiro. São Paulo, Brasiliense, 1986, p 15.
20
LELAND, Charles Godfrey. Magia Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
1993, p 68.
21
LELAND, Charles Godfrey. Magia Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
1993, p 68.
22
LELAND, Charles Godfrey. Magia Cigana. Trd. Ana Zelma Campos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
1993, p 69.

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