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SUGESTÕES PARA UM PROJETO DE REFORMA POLÍTICA

I - REGRAS ELEITORAIS

1.1- Coincidência das eleições no país


Em um país de grandes necessidades sociais como o nosso é
inconcebível a existência de uma eleição a cada 02 anos. Os recursos gastos são
astronômicos e há prejuízo para o funcionamento das câmaras, assembléias e senado.
Antigamente, os que eram contra a coincidência argumentavam com a dificuldade de vários
nomes para votar. No entanto, com o advento da urna eletrônica essa dificuldade não mais
existe, com a unificação, seriam apenas 02 votos a mais, o de prefeito e de vereador. Além
dos dispêndios há o esvaziamento do congresso nacional, pois os políticos entregam-se de
corpo e alma às campanhas deixando de lado as suas obrigações para com a sociedade.
Deve-se marcar uma eleição tampão(02 anos) para que haja a coincidência.

1.2-Financiamento público exclusivo de campanha


O financiamento público de campanha porá fim ao caixa 2 e à relação
promíscua entre o parlamentar e o seu financiador de campanha.

1.3- Fidelidade Partidária


O parlamentar que mudar de partido perderá o mandato. Nenhum
cidadão poderá disputar qualquer cargo eletivo se não for filiado a um partido político.

1.4- Obrigatoriedade de cumprimento do mandato


O parlamentar é eleito para um mandato com objeto específico e
determinado(propor leis) com duração estabelecida em lei(04 ou 08 anos). Se o parlamentar
renunciar ou afastar-se para ocupar outro cargo na administração direta ou indireta, deverá
perder automaticamente o mandato e ficar inelegível para a próxima legislatura(04 anos),
independentemente do tempo que permaneceu na cargo. Se a renúncia se der para fugir a
processo de cassação, a inelegibilidade deverá ser por 08 anos. O mandato deverá ser
considerado um contrato com direitos e obrigações. Essa regra deve acabar com o
“parlamentar macaco”, aquele que fica pulando de galho em galho, sem largar o cipó.
Exemplo: O ex-governador de Goiás eleito com 75% dos votos, já afirmou que se o Sr.
Geraldo Alckmim for eleito ele deverá ocupar um ministério. Se isso acontecer será uma
traição ao eleitor, pois essa votação foi dirigida a ele e não a outra pessoa(suplente). O
resultado disso é que o cargo de senador, um dos mais importantes da República será
ocupado por uma pessoa desconhecida do eleitor, que não recebeu um único voto, sequer,
um senador “biônico”.

1.5- Proibição de reeleição para parlamentares (mesmo cargo);


Por essa regra, o parlamentar que já ocupou um determinado cargo, por
exemplo, deputado estadual, não poderá ser candidato à reeleição(consecutiva) nem
posteriormente, a esse cargo ele não poderá voltar jamais. Poderá candidatar-se a deputado
federal, senador, etc.

1.6- Proibição de candidatura de parlamentar no curso do mandato;


O parlamentar no desempenho de um mandato, deputado estadual, por
exemplo, não poderá candidatar-se a outro, deputado federal, por exemplo. A nova
candidatura de parlamentar no curso de mandato, faz com que ele se afaste informalmente
do cargo, deixe de trabalhar para fazer sua campanha, às custas do estado.
.
1.7- Proibição de candidatura de executivos
O ocupante de cargo público na administração direta ou indireta ficará
impedido de candidatar-se a qualquer cargo eletivo na legislatura seguinte (04 anos). Essa
regra aplica-se a secretários municipais, estaduais, dirigentes de empresas, prefeitos,
governadores, vices, ministros, etc.
Da mesma forma que os parlamentares o executivo também não
poderá voltar a ocupar um mesmo cargo eletivo(prefeitos, governadores e presidentes).
No caso do presidente da República, ele não poderá mais ocupar
qualquer cargo na administração pública direta ou indireta.
Essa medida visa a impedir que o ocupante do cargo público utilize a
máquina pública em benefício de sua candidatura, como ocorre na atualidade.

1.8- Proibição de participação de executivos nas campanhas


Os titulares e detentores de cargos no poder executivo, prefeitos,
secretários, ministros, governadores e presidente, como também dirigentes de estatais,
empresas públicas, etc. ficam proibidos de participarem de campanhas políticas e de
manifestar apoio a qualquer candidato ou partido.
Essas autoridades, no desempenho de cargo público, estão a serviço da
sociedade como um todo, deveriam comportar-se como funcionários públicos e não
deveriam, de forma alguma, comportarem-se como representantes de partidos no governo.

1.9- Proibição de nomeação de pessoas investigadas ou processadas


A nomeação de pessoas para cargos de confiança na administração
direta e indireta(secretários, ministros, diretores de empresas, de agências, assessores, etc),
nos três poderes, só poderá ser feita mediante a aplicação das regras atinentes ao servidor
público(ver subitem 1.8).

1.10- Proibição de candidatura de parentes de parlamentares e de


executivos até 3º. Grau.
A razão é óbvia. Há parlamentares e executivos que se aproveitam da
máquina pública para colocar toda a família no serviço público.

1.11 Mudança na forma de eleição do suplente de senador.


O suplente de senador não poderá mais ser indicado como ocorre hoje.
O suplente deverá ser o imediatamente mais votado após o preenchimento das
vagas.

1.12- O candidato a candidato não poderá estar sendo investigado nem


ter qualquer processo(administrativo, civil ou criminal) instaurado ou em
andamento contra sua pessoa ou gestão.
A regra deve ser a mesma aplicada aos servidores públicos, exigência
de certidões negativas, inclusive SPC e SERASA. No caso de empresários a
exigência deve ser extensiva às empresas as quais não poderão estar em débito com
as fazendas públicas(federal, estadual e municipal) nem ter títulos protestados(SPC
e SERASA).

1.13- Domicilio eleitoral


O candidato só poderá ter sua inscrição deferida se tiver no mínimo
10(dez) anos de residência efetiva no local onde pretende ser candidato. O objetivo
é acabar com os candidatos “pula-pula” que ficam mudando de domicílio para não
largarem o “osso”(José Sarney, Tatico, etc).

1.14- Propaganda eleitoral


Qualquer promessa de realização do candidato deverá ser
apresentada sob a forma de projeto com perfeita indicação do custo, tempo de
implantação e das fontes de financiamento(concretas), não podendo ser baseada em
supostos aumentos de arrecadação. Os projetos deverão ser registrados na Justiça
Eleitoral. Se algum projeto não for cumprido, o autor será punido com a pena de
inelegibilidade permanente.

1.15- Vices
Os cartazes ou outro material de propaganda de candidatos a cargos
executivos deverão trazer a foto, o nome e o partido do vice.

1.16- Partidos
Todo material de propaganda deve conter obrigatoriamente a sigla
dos partidos dos candidatos, em tamanho não inferior ao nome do candidato.

1.17- Remuneração de vereadores


A remuneração de vereadores em municípios com menos de
100.000(cem mil) habitantes deve ser extinta. O cargo de vereador que deveria ser
um encargo de interesse do próprio cidadão transformou-se em emprego. Nesses
municípios não há porque remunerar, pois as reuniões são escassas por falta de
matéria a ser discutida e normalmente essas escassas reuniões são realizadas à noite,
havendo compatibilidade com as atividades privadas dessas pessoas.

2. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO

O sistema atual para cassação de mandato de parlamentares por


quebra de decoro está falido, como se viu recentemente nas votações ocorridas, em
razão do corporativismo e da degradação moral do congresso nacional.

Sugestão:

2.1- Nas comissões de inquérito formadas para apuração da quebra


de decoro, não poderiam participar parlamentares que pertencessem ao mesmo
partido do parlamentar investigado. É preciso que haja isenção tanto no
procedimento de apuração quanto no processo de julgamento. Como se viu
recentemente, os parlamentares pertencente ao partido do investigado boicotam as
ações prejudicando a apuração.
2.2- Criação de um Tribunal Parlamentar de Ética formado por
11(onze) membros, com notório saber jurídico e experiência na área para julgar os
processos de cassação. Esses processos seriam enviados pelas comissões de
inquérito e passariam pela mesa da câmara ou do senado apenas para conhecimento
e controle formal, não cabendo qualquer interferência. Da mesma forma que nas
comissões de inquérito, não poderiam participar do julgamento parlamentares
pertencentes ao mesmo partido do parlamentar processado.

3. JUDICIÁRIO

3.1- Tribunais Superiores


As liminares nos tribunais superiores devem ser concedidas
somente por colegiado, no mínimo por 03 três autoridades. A concessão de
liminares por autoridade singular contraria a própria lógica dos tribunais, que são
órgãos colegiados, afinal de contas, o seu papel é revisar as decisões de autoridades
monocráticas, o que não deve ser feito monocraticamente.

3.2- Supremo Tribunal Federal


2.2.1- Retirar a competência do STF para julgar processos
comuns, como 4ª. Instância, mesmo que tratem de matéria constitucional. Esses
processos devem ser decididos em última instância pelo STJ; O STF deve ser
preservado para as grandes causas.
2.2.2- Atribuir competência ao STF para pronunciar-se a respeito
da constitucionalidade ou inconstitucionalidade de projetos de lei, Medidas
provisórias e outros atos legais e administrativos, mesmo quando não provocado.
O STF não foi criado para ficar julgando briga de vizinhos ou
mandar soltar presos ou mantê-los nas cadeias. Esses processos atulham o STF e
impedem que sejam julgadas com celeridade as ações que realmente importam ao
país, principalmente as movidas contra os políticos corruptos, as de ordem
tributária, econômica, etc .
O congresso já mostrou inúmeras vezes que não tem o mínimo
apreço pela constituição, a última delas foi na reforma da previdência quando
acabaram com o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito ao
instituir a cobrança da contribuição previdenciária dos aposentados. Se o STF
tivesse a competência para declarar a inconstitucionalidade desses atos, o judiciário
ficaria livre de milhares de processos que hoje atulham os tribunais do país. O
Executivo é o principal responsável pelo congestionamento do judiciário. No
sistema atual, o STF fica assistindo a esse congresso corrupto aprovar leis
inconstitucionais para satisfazer seus interesses pessoais nas negociatas com o
executivo, causando enormes prejuízos à sociedade, para manifestar-se somente
após os danos causados. É preciso que o STF tenha também uma atuação
preventiva, pois como diz o ditado: “é mais fácil prevenir que remediar”. Se
evita-se a aprovação de leis inconstitucionais evita-se, igualmente, processos
decorrentes nos tribunais.
CONCLUSÃO

Essas medidas, se implantadas, vão reduzir o caixa 2 das


campanhas praticamente a zero ao impedir as doações para as campanhas. Com o
financiamento público exclusivo de campanha a sociedade terá conhecimento prévio
do valor que cada partido receberá, ficando assim muito mais fácil fazer-se a
fiscalização, pela própria sociedade. Além disso, vão propiciar a especialização
tanto do poder legislativo quanto do executivo, na medida em que o parlamentar
terá que optar entre o poder legislativo e o executivo, já que não poderá ficar
migrando de um para o outro, “com os pés em duas canoas”, de acordo com suas
conveniências ou com os interesses imediatos do executivo.
Uma outra conseqüência importante das mudanças será a oxigenação do
congresso que será renovado a cada 04 anos. Há parlamentares que estão na mesma
casa há 16 anos e outros até mais. A permanência das mesmas pessoas traz como
conseqüência a acomodação, a corrupção e a resistência às mudanças, tão
necessárias à vida e a modernização do país.
Embora essas regras possam ser consideradas rígidas, elas são necessárias. O
resultado dessa eleição provou que o eleitor brasileiro realmente não sabe votar,
haja vista a eleição de mensaleiros, sanguessugas e outros corruptos, como Maluf,
por exemplo. Em Goiás, dos 17 deputados federais, 13 foram reeleitos. Em razão
disso, a lei precisa fazer a sua parte impedindo que corruptos e criminosos possam
candidatar-se livremente.
A proposta do presidente Lula de convocar uma assembléia constituinte para
fazer a reforma política, embora criticada pelos políticos e especialistas no assunto,
após essa eleição, deve ser repensada, pois é a única saída para se fazer uma reforma
política séria, desde que não tenha a participação dos atuais parlamentares. Esse
congresso que aí está, jamais fará reforma política alguma, pois está podre até a raiz.
Essa eleição mostrou também que o povo não liga para a corrupção e, se depender
dele(povo), os corruptos vão permanecer indefinidamente no congresso. Uma
possível assembléia constituinte deveria ser composta por juristas, cientistas
políticos e especialistas em legislação eleitoral.

Goiânia, 19/outubro/2006.

João Vieira Netto.

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