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Tradução de
M. C. P. A. e E. C. G.
EDITORA PENSAMENTO
São Paulo
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Título do original italiano:
GUIDA ALLA CONOSCENZlA DI SÈ
© By Angela Maria La Sala Batà
SUMÁRIO
Introdução 4
Os instintos 7
As emoções 12
O pensamento 18
O inconsciente 22
Os sonhos 28
Distúrbios de origem subconsciente 36
A autoanálise 44
Conselhos para a autoanálise 53
A intuição 58
O Eu espiritual ou Alma 63
3
Introdução
Questionário
6
Os instintos
7
Podemos definir instinto como um impulso primordial, irracional, que responde às
necessidades primárias da natureza humana.
Para maior clareza, enumeraremos, a seguir, algumas definições de vários estudiosos:
"O instinto é a faculdade de agir de modo a produzir certos efeitos finais, sem os haver
previsto e sem prévia educação para agir daquele modo" (William James).
"Instinto é a necessidade interior da faculdade de desejar a posse de um objeto antes
de conhecê-lo, ou seja, uma necessidade afetiva de fazer ou usufruir alguma coisa da qual,
todavia, não se tem nenhum conceito" (Kant).
"As energias que supomos atrás das tensões e exigências do Id (inconsciente)
chamam-se instintos" (Freud).
A partir dessas definições, deduzimos que os instintos são impulsos que se
caracterizam pela inconsciência do fim a atingir.
Reconhecem-se, geralmente, três instintos fundamentais, classificados de acordo com
a preservação individual, a preservação da espécie e a coesão do grupo:
a) instinto de autoafirmação (preservação individual);
b) instinto de reprodução (preservação da espécie); e
c) instinto gregário, (coesão do grupo).
Todos os outros instintos não são, na realidade, mais que derivações dos três
fundamentais.
Estes estão presentes também nos animais, porém, no homem, sofrem as mais
profundas modificações sob o influxo da inteligência, da vontade e do ambiente.
Entretanto, mesmo quando alterados e mudados, sua presença em nossa psique é viva e
real. "O ambiente, a inteligência podem modificar, mas não destruir os instintos; podem
inibir, regular, transformar no contrário, sublimar, mas não eliminar essas forças primitivas.
Podem torná-los latentes, relegá-los ao subconsciente, organizar um sistema defensivo,
uma barragem cimentada por resistências fisiológicas, psíquicas e ambientais, porém não
conseguirão, jamais, torná-los inativos, nem evitar, definitivamente, a possibilidade de seu
ressurgimento. Mesmo latentes, os instintos conservam a própria atividade, prontos a
reaparecer na consciência, na sua integridade ou transformados nos processos sofridos
durante o período subconsciente ou, ainda, mascarados por representações simbólicas
devidas a exigências atuais da consciência. Ainda que em estado latente, têm uma dinâmica
própria e se fazem sentir no humor habitual e na percepção geral do corpo. A eles devemos
as nuanças afetivas e a viva motricidade dos processos psíquicos" (R. Appicciafuoco,
Sommario di Psicologia).
No ser humano, portanto, os instintos geralmente não se apresentam em seu aspecto
genuíno, mas transformados, camuflados, mesclados a outros elementos, tanto que, para
reconhecê-los, seria necessário remontar às suas fontes subconscientes que jazem no
fundo de nossa psique.
Embora estando os três instintos fundamentais presentes no homem, há, em cada
indivíduo, um preponderante que constitui a nota distintiva de seu caráter. Poder-se-ia
formar uma tipologia psicológica baseada no instinto dominante, tão forte e reconhecível é
o influxo dessa força primordial (muitas vezes inconsciente) sobre o caráter e o
comportamento humanos.
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É interessante notar, observando-se de forma geral as várias correntes psicanalíticas,
desde as origens até os tempos atuais, que os três instintos fundamentais do homem
determinaram o aparecimento de três escolas bem distintas.
A primeira é a de Sigmund Freud, baseada (como se sabe) no instinto de reprodução,
na força primordial a que ele dá o nome genérico de "libido", da qual faz derivar todos os
impulsos, tendências e aspirações humanas e que é, para ele, a origem inconsciente de
cada ação.
Freud reconhece, também, um "instinto de morte" que não é senão o aspecto oposto
ao instinto de vida ou de reprodução.
A segunda escola é a de Alfred Adler que se baseia, por outro lado, no instinto de
autoafirmação (vontade de poder), nas tendências agressivas e combativas do homem, as
quais o levam à expansão do "eu" e à afirmação da própria individualidade.
A terceira escola formou-se mais recentemente nos Estados Unidos, onde numerosos
estudiosos ressaltaram a exigência de adaptação social do homem (social adjustment], isto
é, sua necessidade instintiva de inserir-se no ambiente e no grupo, e de criar justas e sãs
relações afetivas e sociais. Porventura, não é esta a manifestação do instinto gregário?
Karen Homey pode ser considerada a fundadora dessa escola. Eminente psiquiatra e
estudiosa, escreveu numerosos livros, entre os quais Neuroses e Desenvolvimento Humano e
Conheça-se a SI Mesmo. Foi seguida, posteriormente, por muitos outros, como Erich Fromm,
Alexander, Sullivan, etc,
Deixamos de mencionar Carl Gustav Jung, não por esquecimento, mas porque deve ser
considerado à parte, uma vez que não se detém muito nos instintos (que chama pelo termo
genérico de "estímulo natural" - Naturtrieb), dando primordial importância ao aspecto
espiritual do homem. Foi ele o primeiro a considerar a Psicologia uma "ciência com alma".
Ele não se atém tanto à causa dos instintos, como todos os outros psicanalistas, mas à
finalidade deles.
Deste apanhado sintético sobre a Psicanálise, parece evidente que os três instintos
fundamentais do homem deram origem a três escolas bem distintas e isso pode confirmar
o que foi dito inicialmente, ou seja, que há em nós um instinto principal que predomina
sobre os outros dois, formando a base de nosso temperamento psicológico. Os fundadores
das três escolas acima enumeradas sem dúvida expressaram, em suas teorias, os próprios
temperamentos e o fruto de suas experiências subjetivas.
O estudo da Psicanálise pode tornar-se muito útil, se feito de maneira crítica, com
discriminação e objetividade, tendo-se em mente que, pelo menos até hoje, tal ciência
limitou-se a analisar apenas o inconsciente instintivo do homem, não tendo ainda chegado
a uma visão completa da psique humana.
Freud mesmo disse, pouco antes de morrer, que o inconsciente é uma porta aberta
para um mundo misterioso e que ninguém sabe dizer aonde poderá conduzir.
Se enquadrarmos o estudo dos instintos na visão espiritualista, tudo nos parecerá mais
claro e lógico.
Podem-se estabelecer interessantes correlações e analogias entre a teoria dos
instintos, do ponto de vista psicanalítico, e a origem das energias humanas, do ponto de
vista espiritual.
Deus, o Absoluto, é sempre descrito como uma Entidade Una e Trina. Isto é, Ele,
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mesmo sendo "Um", possui em si três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Estas três
pessoas (ou aspectos) são, na realidade, a expressão de três energias cósmicas geradas
Dele: a energia da Vontade (Pai), a energia do Amor (Filho) e a energia da Inteligência
Criativa (Espírito Santo).
Essa triplicidade é encontrada em todos os planos da manifestação, dos mais altos aos.
mais baixos. De fato, mesmo a Mônada do homem compreende três aspectos: Vontade,
Amor e Inteligência Criativa (Atma, Buddi, Manas) e isso ocorre também com a Alma ou
Ego. Os três aspectos refletem-se na personalidade humana (que é o instrumento da Alma),
nesta ordem: a Vontade, no corpo mental, o Amor, no corpo emotivo, a Inteligência
Criativa, no corpo físico. Na contraparte psíquica do corpo físico, chamada, em linguagem
espiritual, "corpo etérico", encontram-se essas três energias sob a forma de instintos. Nela
existem numerosos centros de força, ou seja, pontos focais de encontro das correntes
energéticas.
É curioso notar que também esses centros refletem a triplicidade. De fato, os
principais centros do corpo etérico são sete, assim subdivididos: três inferiores, abaixo do
diafragma, três superiores, acima do diafragma e um sétimo centro que tem a função de
coordenar e integrar todos os outros.
Os três centros superiores refletem as três energias cósmicas, isto é:
1 - Centro do alto da cabeça... Vontade Espiritual;
2 - Centro da garganta... Inteligência Criativa; e
3 - Centro do coração... , Amor Universal.
Os três centros inferiores refletem estas mesmas três energias, porém, "degradadas",
com baixa vibração e expressas na forma de instintos. Vejamos:
1 - O centro da base da espinha dorsal exprime a energia da vontade degradada, isto é,
o instinto de auto-afirmação;
2 - O centro do plexo solar exprime a energia do amor, transformado em emotividade,
apegos, ou seja, o instinto gregário;
3 - O centro sacral exprime a criatividade no plano físico sob a forma de instinto de
reprodução.
Portanto, segundo as doutrinas espirituais, os instintos nada mais são do que energias
cósmicas e espirituais manifestadas no plano físico, modificadas e alteradas pelo veículo
que as utiliza.
Essa teoria espiritual é muito interessante e dá a chave de numerosos problemas e
indagações psicológicas até hoje ainda insolúveis, como, por exemplo, o problema da
sublimação dos instintos.
Os psicanalistas estão todos de acordo ao admitir a faculdade que os instintos têm de
se sublimar, isto é, de se dirigir, quando reprimidos, a metas diferentes de suas próprias e
de caráter mais elevado.
Consideram, além disso, que todas as manifestações mais elevadas do espírito
humano - a arte, a religiosidade, o amor altruísta, etc. - constituem nada mais que a
expressão dos instintos sublimados. Todavia, o mecanismo de sublimação, o modo como
ocorre esse processo psíquico ainda é um mistério para os psicanalistas. Muitos estudiosos
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permanecem perplexos diante do fato e perguntam-se: "Como pode um instinto
transformar-se em algo que não seja um instinto?"
Essa perplexidade deve-se ao fato de os instintos serem considerados forças
provenientes de baixo. Se admitirmos, porém, a teoria espiritualista da origem divina
destas energias, tudo parecerá claro e simples.
É a qualidade espiritual inerente à energia instintiva que lhe dá a faculdade de poder
elevar-se, sublimar-se, ou seja, de "retornar" ao lugar de onde proveio.
Freud havia notado essa tendência dos instintos de voltarem ao seu estado inicial sem,
porém, perceber as implicações disso.
Diz ele: "O escopo dos instintos não é, geralmente, o atingimento de um novo estado,
mas a reintegração em um antigo estado inicial que foi preciso abandonar e ao qual se
tende a retornar, refazendo-se todas as etapas do desenvolvimento.”
E assim Freud, sem o saber, confirmou teorias espirituais que explicam o processo da
sublimação como um retorno das energias degradadas à fonte da qual derivaram, pois o
processo não pode ser explicado no plano inferior, estando implícita, nas energias, por sua
própria natureza, a capacidade de se elevarem, de evoluírem.
Este é o Magnum Opus, a transformação dos metais em ouro, a alquimia divina que
transmuta o homem terreno em ser espiritual e que todos nós, mais cedo ou mais tarde,
deveremos realizar.
O estudo dos instintos é, pois, muito importante, uma vez que eles constituem o
esqueleto, por assim dizer, de nosso caráter e são o reflexo de energias espirituais no plano
físico. Cabe a nós fazê-los remontar, pouco a pouco, à sua fonte, canalizando-os para
direções certas e sublimando-os à sua expressão superior.
Questionário
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As emoções
O segundo elemento que compõe nossa psique é o conjunto das emoções que, como
os instintos, possui, também, um aspecto consciência e um aspecto energia.
Partamos da premissa de que, com a palavra "emoções", entendemos toda a vida e
atividade da esfera emocional que compreende, como veremos, além das emoções
propriamente ditas, os desejos e afetos.
Há uma grande diferença entre emoções e instintos, mesmo sendo estes estados
psíquicos, ambos energias.
O instinto está intimamente ligado ao corpo físico, enquanto a emoção constituem
estado psíquico que nasce no interior da psique, sendo nitidamente distinta do mecanismo
fisiológico, embora tenha fortes e evidentes repercussões sobre este.
No passado, era difundida a teoria da origem somática das emoções. “Segundo alguns
psicólogos (Lange, James, Ribot, Mosso), a origem das emoções dever-se-ia a movimentos
orgânicos: o elemento afetivo que faz parte dela não seria, assim, atribuído ao
pensamento, mas ficaria reduzido à sensação, à cinestesia, em outras palavras, ao ecoar de
alterações somáticas, mais ou menos profundas na consciência" (Ranzoli).
Essa teoria materialista já está superada, entretanto, e o próprio James faz distinção,
nos seus Princípios de Psicologia, entre emoções mais grosseiras e mais elevadas, afirmando
que somente as primeiras implicam maiores repercussões físicas e estão intimamente
ligadas ao corpo, enquanto as segundas podem ser independentes de reações físicas.
Não se pode deixar de considerar a grande influência de um estado emotivo sobre o
físico e a estreita ligação entre a psique e o corpo, a ponto de um nosso estado interno ser
capaz de produzir alterações e desequilíbrios fisiológicos até muito graves. Isso não quer
dizer, contudo, que a emoção possa ser reduzida a um mecanismo físico.
A emoção nasce na consciência e, posteriormente, produz efeitos físicos. O mesmo
ocorre, porém, com todos os outros estados de consciência, dos mais baixos aos mais
elevados, uma vez que, como foi dito antes, a vida psíquica tem grande influência sobre o
corpo físico, seu instrumento de expressão.
Não é fácil estudar e classificar os estados emotivos, pois, a vida emocional, embora
sendo a mais desenvolvida no homem e também a mais utilizada, é, igualmente, a mais
vaga, fugaz e inconstante. Além disso, a emoção é um estado psíquico bem distinto e
caracterizado, mas encontra-se frequentemente mesclada a outros processos psíquicos,
dos instintivos aos mentais e até espirituais, participando da atividade deles, dando calor e
vida a todas as expressões humanas. De fato, o tom emotivo é como que o substrato de
cada uma de nossas ações e processos psíquicos, sem o qual seríamos seres frios, incolores,
insensíveis, desprovidos de entusiasmo e fervor.
Isso ocorre mesmo com aqueles que acreditam não ser emotivos, que não têm
consciência da vitalidade de sua natureza emocional. "Não existem estados neutros de frias
personalidades incolores; o tom afetivo está presente em cada momento da vida, tanto na
atividade quotidiana do homem comum, como no ardor místico do crente, no pensamento
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mais abstrato do filosofo e no mais rigoroso raciocínio do cientista" (R. Appicciafuoco).
A emotividade, contudo, além de se encontrar mesclada com outros estados
psíquicos, manifesta-se, também, em seu aspecto genuíno, dando lugar, então, à infinita
gama de estados emotivos que os psicólogos procuraram classificar com poucos resultados.
Pode-se tentar uma divisão bastante clara e convincente dos estados emotivos,
baseando-a, como foi feito em relação aos instintos, na triplicidade fundamental existente
no macrocosmo e no microcosmo:
Pai .................................................................. ......................................................... Vontade
Filho ............................................................... .............................................................. Amor
Espírito Santo ................................................ ..................................... Atividade Inteligente
1 - Emoções
"A palavra emoção vem do latim e-movere e quer dizer, precisamente, “movimento”.
Com efeito, a energia emotiva é sempre móvel e inconstante e, por isso, o terceiro aspecto
pode manifestar-se nela como "atividade".
Isto se dá porque a energia que compõe essa esfera da psique é sensibilíssima,
altamente impressionável, reagindo fortemente a qualquer estímulo.
A emoção é, na realidade, a reação ao estimulo vindo de fora.
Poder-se-ia representar as emoções por flechas provenientes do exterior e que vão
golpear a esfera emotiva.
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A emoção é portanto, um estado de agitação interna, repentino e intenso, quase
sempre pouco durável.
Enquanto perdura, a. mente é, com frequência, ofuscada e impedida de pensar, pois a
agitação interna das ondas emotivas produz uma espécie de paralisia do pensamento, uma
estase do processo intelectivo.
Como dissemos no início do capítulo, a emoção produz, também, efeitos no organismo
físico, tanto externa como internamente. Acerca desses efeitos não podemos agora nos
estender, porém cada um de nós já terá tido oportunidade de constatá-los.
Em sentido amplo, as emoções podem ser subdivididas em duas grandes categorias:
agradáveis e desagradáveis.
Alguns estudiosos as classificam em depressivas e de exaltação. Kant, por exemplo,
distingue emoções estênicas e astênicas, baseando-se no seu efeito genérico sobre o físico.
De fato, as emoções agradáveis geram uma sensação de vigor, força e exaltação em quem
as experimenta, enquanto as desagradáveis diminuem o tônus do organismo,
enfraquecendo-o e deprimindo-o.
Eis alguns exemplos de emoções:
Agradáveis Desagradáveis
Alegria Medo
Euforia Angústia
Entusiasmo Tristeza
Contentamento Depressão
Felicidade Ansiedade
Júbilo Apreensão
Emoção estética Agitação
Emoção mística Dor
Como se vê, através destes exemplos, elas podem ser de natureza e grau variados,
desde as mais baixas e grosseiras até as mais elevadas e refinadas,
Em certo sentido, o que caracteriza a emoção de modo marcante e a distingue dos
afetos que veremos logo mais, é ser pouco durável, completamente irracional, e
desaparecer sem deixar nenhum traço na psique, sendo quase impossível repeti-la
voluntariamente.
2 - Afetos
Os afetos são estados emotivos que nascem no interior da psique e projetam-se para o
exterior, representando o aspecto positivo, irradiante da vida emotiva, enquanto que as
emoções são o aspecto negativo, passivo, receptivo.
Os afetos podem ser assim representados:
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Neste caso, as flechas partem do interior, projetando-se para o exterior. Também no
campo do emocional podem-se delinear diversos tipos psicológicos. Há, de fato, aquele no
qual predomina o aspecto receptivo, passivo, sugestionável da zona emotiva; esse é
sensível, volúvel, influenciável, frequentemente introvertido e egocêntrico, porém capaz de
sublimar sua sensibilidade em direção ao alto, de captar intuitivamente e de experimentar
estados místicos superiores. Pode haver, além disso, o tipo no qual predomina a
afetividade; é expansivo, cordial, sociável, capaz de experimentar amizade e amor e de
estabelecer relações afetivas duradouras, mas também de sentir antipatias e inimizades e
tornar-se escravo de apegos muitos fortes.
Os afetos, como as emoções, podem ser subdivididos em duas grandes categorias, sob
o nome de amor-ódio, atração-repulsão.
Eis alguns exemplos que, para maior clareza, foram subdivididos em afetos entre
iguais, entre inferior e superior, e entre superior e inferior:
Atração Repulsão
Entre iguais
Amizade Aversão
Amor Inimizade
Simpatia Ódio
Cordialidade Antipatia
Fraternidade Antagonismo
Solidariedade
Entre inferior e superior
Estima Inveja
Admiração Medo
Respeito Ciúme
Devoção Revolta
Fidelidade Rancor
Veneração Pavor
Adoração Animosidade
Entre superior e inferior
Benevolência Arrogância
Compaixão Suficiência
Bondade Desprezo
Ternura Orgulho
Sentido de proteção Crueldade
Piedade Dureza
Generosidade (de ânimo) Ira
Prontidão de auxílio Soberbia
Compreensão Desdém
Tato Ironia
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Na verdade, os afetos são sentimentos, estados de ânimo que, além de se
diferenciarem das emoções por seu caráter positivo e irradiante, diferem, também, por sua
continuidade e duração. A emoção, como já dissemos, é súbita, rápida e efêmera, enquanto
o afeto é uma emoção prolongada que nasce e morre lentamente, pois seu caráter
fundamental é o da continuidade, da estabilidade e de maior profundidade em relação à
emoção.
O afeto, além disso, não ofusca por completo a mente; pelo contrário, está às vezes,
em contraste com ela. A mente racional pode continuar seu trabalho, mesmo estando o
afeto presente na psique e, tanto pode contribuir para aumentá-lo, se com ele harmonizar,
como pode, por outro lado, opor-se a ele e combatê-lo, se não o aprovar.
Algumas vezes o afeto pode tornar-se tão intenso e exclusivo, a ponto de transformar-
se no que é comumente chamado "paixão", convertendo-se, então, em um mal psíquico. "A
paixão é um sentimento (afeto) levado à exasperação, uma emoção intensa e crônica. Na
paixão predomina uma só ideia de amor ou de ódio, em direção à qual converge cada ato
nosso. Por seu caráter de exclusividade, é equivalente à ideia fixa" (R. Appicciafuoco).
Essa rápida análise das emoções e dos afetos mostra-nos que existe uma grande
diferença entre ambos. Daí deduzimos, também, uma interessante observação: a pessoa
emotiva não é necessariamente afetiva, isto é, a capacidade receptiva, sensitiva, passiva da
esfera emotiva da psique não vem sempre acompanhada da capacidade de exteriorizar
sentimentos, afetos, de relacionar-se, de extravasar sobre outros a energia emotiva. De
fato, às vezes, ou mesmo frequentemente, os tipos muito emotivos são egocêntricos,
egoístas, "captatívos", incapazes de amor e de interesse pelos demais. Naturalmente,
falamos aqui do tipo emotivo inferior e pouco evoluído.
Isso ocorre porque a emoção é apenas um movimento da substância emotiva, uma
reação, uma vibração interna fortíssima, sim, mas não duradoura, se não intervierem
outros fatores, ou seja, uma adesão íntima, um profundo desejo de voltar a experimentar
aquela determinada emoção (se agradável) e a capacidade de manifestá-la e de exprimi-la.
Existe, no entanto, o tipo emotivo evoluído que chega aos níveis do misticismo puro e
da intuição e cuja sensibilidade e receptividade se refinaram a ponto de torná-lo capaz de
sentir e captar as vibrações mais altas da emoção e do sentimento. Esses são os "sensitivos"
que se aproximam da Verdade por intuição e que seguem o caminho espiritual por adesão
sentimental e íntima.
Os afetivos, por outro lado, sendo extrovertidos e tendo necessidade de exteriorizar a
energia emocional, podem ficar sujeitos a apegos excessivos, a afetos ciumentos e
exclusivos, a antipatias e ódios invencíveis; contudo, podem converter-se em centros de
amor irradiante, ser capazes de profundo altruísmo e abnegação, de compreensão e
bondade. Sabem criar e estabelecer justas relações humanas, tornando-se, com o tempo,
verdadeiros auxiliares da humanidade.
Na realidade, o equilíbrio e a harmonia da natureza emocional do homem surgem do
justo e igual desenvolvimento dos dois aspectos, o passivo e o positivo e do uso do terceiro
aspecto (o desejo), transformado, porém, em desejo puro, isto é, aspiração.
Assim, no homem perfeitamente equilibrado dever-se-ia encontrar sensibilidade,
capacidade de amar e aspiração em direção ao alto.
No que nos diz respeito, devemos, pouco a pouco, nos analisar, procurando descobrir
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como se apresenta em nós a atividade emotiva e qual o seu aspecto predominante.
Poderemos perceber que somos excessivamente emotivos, ou seja, que a zona
emocional de nossa psique é demasiadamente ativa e não dominada ou, então, que há em
nós deficiência de energias emotivas.
Tanto em um como em outro caso, as razões são, por vezes, muito profundas e difíceis
de se reconhecer, porém, com o exame atento e contínuo, elas aflorarão e a solução
poderá, assim, ser encontrada.
Inicialmente, é preciso "conhecer-se", "fazer um balanço" objetivo e imparcial,
passando-se, depois, em uma segunda etapa, ao trabalho de reordenação,
desenvolvimento e reconstrução.
Questionário
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O pensamento
Talvez o pensamento seja o elemento psíquico que menos conhecemos. Muito tem
sido dito e escrito a respeito de seu mecanismo e da natureza da mente; inúmeros
estudiosos, filósofos e psicólogos chegaram a interessantes e corretas conclusões, tendo,
entretanto, que enfrentar dificuldades e vencer muitos obstáculos para conseguir realizar
esse estudo.
Todos foram unânimes em afirmar que a observação e o estudo da mente é um
trabalho muito árduo. August Comte sintetiza, em poucas e claras palavras, o fulcro do
problema. Diz ele: "Aquele que pensa não pode desdobrar-se de modo que uma parte
pense, enquanto a outra observa a primeira que pensa, sendo, nesse caso, o órgão
observado e o órgão que observa, a mesma coisa"...
Portanto, a dificuldade adviria do fato de o eu humano identificar-se com a mente e
não poder observá-la e analisá-la, objetivando-a.
Na realidade, o Eu. Espiritual não é a mente, não é o pensamento. É um centro de
consciência, estável e imutável, que pode gerar o pensamento, colocar a mente em
movimento, sem, contudo, identificar-se com ela. O Eu é o Pensador que se mantém, por
assim dizer, acima dos três elementos psíquicos que formam a personalidade (instintos,
emoções, pensamento), podendo observá-los, guiá-los, controlá-los.
Todavia, mesmo sabendo intelectualmente que o Eu não é o pensamento, não é fácil
para todos senti-lo e reconhecê-lo; em geral, Ele é identificado com a mente, uma vez que
esta constitui o ponto mais elevado da personalidade.
Posta esta premissa, necessária para melhor analisarmos a parte intelectiva de nossa
psique, vamos, agora, definir o pensamento sob o aspecto psicológico, como fizemos com
os instintos e as emoções, dos quais é bem distinto.
"Pensamento é a atividade que percebe, elabora e coordena as representações;
abstrai, compara, julga, raciocina." (R. Appicciafuoco).. .
Pensar significa formular conceitos, ter ideias claras, raciocinar sobre qualquer
assunto.
Se não existisse no homem essa atividade, a vida psíquica seria um emaranhado de
sensações, de estados afetivos, desordenado e caótico, no qual ele se perderia,
desorientado e confuso. O pensamento tem, justamente, a função de organizar, reordenar,
reelaborar todas as sensações e percepções que provêm do mundo dos instintos, das
emoções e do mundo objetive, através dos cinco sentidos. Ele analisa e sintetiza, conhece e
julga. Serve para associar, recordar, exprimir de maneira lógica e racional tudo aquilo que
nos atinge por meio dos sentidos e do mecanismo emocional, criando, portanto, conceitos,
ideias e suas próprias leis.
O ser humano distingue-se dos animais exatamente por essa capacidade de associar os
fatos às percepções, de analisá-los e racionalizá-los. O animal não pensa como o homem,
não obstante encontrar-se, em alguns deles, um princípio embrionário de vida mental.
Somente no homem o pensamento pode alcançar o vértice da genialidade, exprimindo-se
em toda a plenitude de sua capacidade, em toda sua clareza e profundidade, chegando à
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intuição.
A mente pode ser a ponte que conduz ao mundo do Espírito, da Realidade. De fato, ela
tem uma natureza dual, é como um Jano bifronte, com uma face voltada para o mundo
exterior, objetivo, e outra para o mundo interior, o mundo das ideias, dos significados e das
causas. O homem usa, geralmente, a face dirigida para o exterior, porém quando, pouco a
pouco, aprende a utilizar a que está voltada para o interior, desenvolve-se nele a
capacidade do pensamento abstrato, a sensibilidade às ideias superiores e universais, e a
intuição cognoscitiva que lhe abrem as portas para as Verdades Espirituais.
De fato pode-se observar duas atividades do pensamento: o pensamento concreto e o
abstrato, o lógico e o intuitivo.
A mente, para ser completa e harmônica, deve saber utilizar essas duas atividades. Na
realidade, entretanto, ou predomina o pensamento concreto ou o abstrato, de acordo com
o temperamento, o tipo psicológico, o ambiente e o modo de vida. Vê-se, por exemplo, que
nos ocidentais prevalece a tendência ao pensamento concreto, lógico, enquanto nos
orientais há preponderância do pensamento abstrato, intuitivo.
O problema para o homem comum, todavia, é ainda o de "aprender a pensar", uma
vez que a distinção entre pensamento concreto e intuitivo começa quando a mente já está
bem desenvolvida e funciona em sua plenitude.
Parece fácil saber pensar, entretanto não o é.
Muitas vezes, em lugar de pensar, "devaneamos", "sonhamos" com os olhos abertos,
deixamos passar por nossa mente, imagens, sensações, recordações, fragmentos de
pensamento mesclados a estados emotivos, ideias confusas e vagas, raciocínios apenas
esboçados, opiniões instáveis, julgamentos superficiais...
Não somos capazes de nos concentrar demoradamente em um assunto não sabemos
formular pensamentos claros e límpidos, nem raciocínios livres de influências emotivas e
instintivas.
Sem que o percebamos, nosso pensamento é frequentemente ofuscado pela névoa
dos estados emotivos, frequentemente condicionado por impulsos instintivos. O verdadeiro
pensar é conseguido somente com esforço e apenas em momentos de concentração
voluntária.
Pensamos, de fato, quando nossa mente se desvincula por completo de influências
emocionais e instintivas, quando conseguimos nos focalizar na mente e raciocinar com
imparcialidade, objetividade e lucidez.
Quando pensamos, no verdadeiro e próprio sentido da palavra, sentimo-nos
destacados de nossas reações pessoais, sendo-nos, então, possível observar tanto nosso
mundo subjetivo como o objetivo, com uma atitude, digamos, quase científica, analítica e
racional, que nos permite conhecer, compreender e formular ideias.
Pode-se chegar a esse pensamento lúcido e claro com o uso da vontade e a prática,
pois, na realidade, trata-se de concentrar e focalizar a atenção em um assunto. De fato,
muitas pessoas conseguem pensar, usar a mente apenas quando estudam, procuram
resolver um problema ou escrevem algo porque, sem o saber, é só então que ficam
"focalizadas" mentalmente e concentradas em alguma coisa. Na maioria das vezes,
abandonam-se passivamente às flutuações do pensamento que constituem uma espécie de
"sonho com os olhos abertos", um "devaneio" sem fio lógico e sem nexo.
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Jung distingue um pensar ativo e um passivo e diz: “O pensamento ativo é um ato da
vontade, o pensamento passivo é um acontecimento .
Portanto, pensar, no verdadeiro sentido da palavra, é bem raro. Comumente
pensamos ou acreditamos pensar em meio a uma atmosfera psíquica mesclada a correntes
emotivas ou instintivas, conscientes ou subconscientes, à qual nos abrimos passivamente.
Entretanto, quando, de fato, pensamos, somos ativos, dinâmicos inteiramente, positivos e
lúcidos.
Ao aprender a pensar e a usar a mente de modo correto, o homem percebe haver
feito uma preciosa conquista" pois, além da capacidade de raciocinar, percebe um aumento
de autodomínio, de equilíbrio, de coordenação interna e sobretudo, de serenidade.
"Pensar" não é, na realidade, a única função da mente. Ela possui, ainda, as funções de
governar estados psíquicos, coordená-los e harmonizá-los, de saber tirar conclusões, de
saber colher o fruto de experiências e conhecimentos em resumo, de servir de guia sábio e
equilibrado.
Por esse motivo, nela também estão refletidos os três aspectos da Divindade:
Vontade, Amor e Inteligência Ativa. A Vontade exprime-se como capacidade de controle, de
governo das emoções e dos instintos: o Amor exprime-se em seu aspecto "sabedoria" e
"compreensão" e a Atividade Inteligente, como o pensamento propriamente dito, isto é, o
movimento das correntes mentais, enquanto se pensa, raciocina, julga.
Entretanto, tais funções da mente não se desenvolvem ao mesmo tempo, podendo-se,
assim, encontrar indivíduos que possuem mais ativo o aspecto Vontade, outros que têm o
aspecto Sabedoria mais desenvolvido, e outros, ainda, em que prevalece o lado Atividade
Inteligente.
Com o tempo, porém, essas três funções deverão ser ampliadas e a mente tornar-se-á,
assim, bem equilibrada e harmônica, capaz de servir de ponte para o mundo espiritual.
Todavia, isso representa uma meta a ser atingida, passando o homem por vários
estágios de crescimento mental antes de alcançá-la.
Pode ocorrer, também, que durante um longo período evolutivo apenas uma parte da
mente seja usada; geralmente é o aspecto Atividade Inteligente o que se desenvolve
primeiro, sendo expresso pela maioria das pessoas.
De fato, a conquista da faculdade de pensar é o passo inicial para o desenvolvimento
da mente. Os outros dois aspectos manifestar-se-ão por si, à medida que aprendermos a
libertar o pensamento da névoa emocional e instintiva. Atingiremos, dessa maneira, uma
certa clareza e eficiência mentais, e uma certa capacidade de raciocínio.
A mente não pode exercitar sua função de coordenação e controle de outros
elementos psíquicos se não estiver desvinculada deles, nem demonstrar sua capacidade de
sabedoria se não tiver atingido um grau de purificação, de maturidade e discernimento.
Devemos, inicialmente, nos autoanalisar para verificar se sabemos de fato pensar,
procurando descobrir não só os obstáculos e dificuldades que limitam nossa capacidade
intelectual, como também as maneiras; os expedientes e as ocasiões favoráveis que nos
auxiliam na atividade pensante.
O segundo passo é reconhecer se somos mais inclinados ao pensamento concreto,
lógico, analítico ou ao pensamento abstrato, intuitivo e sintético. Em outras palavras, se
somos mais extrovertidos ou introvertidos mentalmente.
20
Antes de terminar este capítulo, é necessário mencionar o importantíssimo papel do
subconsciente na formação do pensamento. Ele colabora, de forma constante, com a
mente consciente, uma vez que é preciso não esquecer, há um trabalho, uma elaboração
inconsciente de nossos processos mentais e uma contínua estratificação de ideias,
conceitos e conhecimentos adquiridos.
Nosso subconsciente é como um grande arquivo de recordações, sempre pronto,
porém, a "apresentá-las" à consciência, ao mínimo estímulo ou chamado.
Diz Joseph Ralph em seu livro How to psychoanalise yourself:
"Quando pensamos, volvemos a atenção para um grupo de ideias (lembranças) e,
assim, excitamos toda a matéria psíquica ligada àqueles conceitos e guardada no
inconsciente. Quando essa matéria psíquica aflora à consciência, nós a analisamos,
coordenamos, observamos, julgamos e, a seguir, decidimos. Em outras palavras, fazemos
uma escolha entre aqueles conceitos por nós estimulados, rejeitando os que não nos
interessam.
Conforme uma clara definição, o pensamento consiste:
a) em fazer com que voltem, por meio da atenção, as recordações sepultas;
b) em utilizar as ideias que nos servem;
c) em rejeitar as que não correspondem às nossas exigências".
Em seguida conclui:
"A consciência não cria, apenas utiliza".
Essas observações nos levam a considerar a importância do subconsciente e a máxima
utilidade de se conhecer sua estrutura, funcionamento e relações com a parte consciente
da psique. Por esse motivo, depois de haver analisado os vários elementos psíquicos que
compõem nossa personalidade (instintos, emoções, pensamento), passaremos agora a
estudar o lado subconsciente da psique, que é o substrato, a origem e a causa de nosso
comportamento consciente.
Questionário
22
instinto gregário (social adjustment). A escola junguiana, por outro lado, que não se baseia
nos instintos, coloca em primeiro plano a exigência religiosa inata no homem (exigência
natural e imprescindível) e a necessidade de “individuar-se", isto é, de encontrar o
verdadeiro eu, delineando, assim, clara e 'inequivocamente, a natureza espiritual do
homem."
Foi-se formando, então, quase inadvertidamente, uma visão “pluridimensional" do
inconsciente, que não inclui apenas suas áreas instintivas, mas também as emotivas,
mentais e espirituais.
Essa visão pluridimensional é a que teremos presente ao tentar expor alguns pontos
essenciais sobre a natureza, as características e o funcionamento do inconsciente.
*
* *
Questionário
1 - Depois de haver lido o capítulo sobre o subconsciente, que ideias formou a respeito
de sua constituição?
2 - Pode citar algum caso da vida comum, no qual o subconsciente manifeste a sua
presença e cooperação?
3 - Seu temperamento o faz reprimir seus impulsos e sentimentos ou você é aberto,
expansivo e espontâneo?
4 - Reconhece claramente o instinto-base de sua natureza?
5 - Acredita ter complexos? De que natureza?
6 - Alguma vez teve prova da existência do Supraconsciente?
a) como manifestação de um sentido interior?
b) na forma de inspiração criativa?
c) na forma de intuição mística?
d) na forma de iluminação mental?
7- É inclinado à ação, à vida dinâmica, à sociabilidade, ou possuir uma natureza
contemplativa, solitária, mais inclinada a reflexão que a atividade.
8 - Tentou alguma vez analisar seus impulsos inconscientes?
9 - Quando age, você o faz por um impulso espontâneo, irracional, instintivo ou
apenas depois de ponderação e reflexão?
10 - Na vida comum diária, você realiza algum ato automático, algum trabalho habitual
do qual sua atenção, sua consciência estejam ausentes?
11 - Em sua opinião há, entre seu Eu consciente e as zonas subconscientes, uma cisão
ou uma sã cooperação e troca de energias?
27
Os sonhos
Este tema é muito importante, não só do ponto de vista psicológico, como também do
espiritual.
Desde a Antiguidade, deu-se aos sonhos grande importância e, ainda que seu real
significado não fosse entendido, atraíam como algo misterioso, que permitia ao homem
abrir uma fresta para um mundo desconhecido.
Hoje, a Psicanálise tornou verdadeiramente efetivo o estudo dos sonhos, pois, como
diz Freud, "são a via mestra que conduz ao conhecimento do inconsciente".
É necessário, contudo, enquadrar esse tema em uma concepção mais ampla, sem
esquecer que o homem é formado de vários elementos (instintos, emoções e
pensamentos), possuindo, além da contraparte inconsciente de cada um deles, um
Supraconsciente, como vimos no capítulo anterior. É preciso, também, ter presente que
ele, embora nem sempre consciente disso, é, na realidade, uma entidade espiritual, ou seja,
uma Alma que procura manifestar-se à forma. Portanto, a análise dos sonhos não revela
apenas a vida inconsciente que jaz no íntimo de nossa psique, como prova também que é
possível ao homem ter percepções e poderes superiores ao normal, podendo entrar em
contato com níveis e vibrações que desconhece em estado de vigília.
É como se o estado de sono tornasse o homem mais livre, sensível e aberto a variados
influxos e radiações, pois, embora o corpo físico durma, a psique está desperta, não sendo
restrita e limitada pelo eu consciente.
Do ponto de vista puramente fisiológico, o mecanismo do sono é ainda um enigma.
Até mesmo a ciência permanece perplexa diante do mistério do homem que dorme. Há
uma "ignorância quase completa acerca do mecanismo do sono normal, objeto de muitas
teorias. Segundo a hipótese mais recente, existiria um centro do sono agregado aos centros
da vida vegetativa na substância cinzenta... " (L. Ferrico, Patologia Medica).
Diz N. Kleitman em seu artigo O Sono, publicado no número 40 de "A Ilustração
Científica" (março de 1953): "Por que dormimos? Por que desperdiçamos no sono um terço
de nossa vida? Por que algumas vezes podemos dispensá-lo? Estas indagações não têm
razão de ser, quando se compreende a natureza do alternar-se do sono e da vigília que
caracteriza nossa existência. Provavelmente, jamais conseguiremos a prova de haver um
mecanismo fisiológico específico do sono e o problema é, antes, o de encontrar o que nos
faz ficar acordados".
É claro, portanto, que, do ponto de vista científico, o sono ainda é um mistério não
solucionado, mas que se enquadra e possui uma explicação lógica na concepção de ritmo
que existe em todos os fenômenos vitais e cósmicos: o alternar-se do dia e da noite, o
suceder-se das estações, os vários fluxos e refluxos cíclicos, etc. "O sono, no qual
predomina o sistema parassimpático, o armazenamento de energias, a assimilação de
estímulos, a função do subconsciente e as atividades interiores, deve alternar-se com a
vigília, em que predomina o sistema simpático, a liberação de energia, a busca de
estímulos, a função da consciência e as atividades exteriores (Nicola Gentile, Medicina
28
Psicológica).
Contudo, por ora, não vamos nos ocupar da passagem do estado de vigília para o de
sono, mas, sim, do que ocorre enquanto dormimos.
Quando adormecemos, a consciência se retira do cérebro físico para o mundo
psíquico. Portanto, a parte de nosso ser que verdadeiramente dorme é o corpo físico, o
cérebro, porém o homem psíquico não dorme, continuando sua vida em níveis de
consciência mais internos e profundos. Em suas emoções, instintos, pensamentos, em sua
parte espiritual o homem está desperto, embora seu invólucro material durma. E por isso
que sonhamos.
Nem sempre nos lembramos dos sonhos. Algumas vezes guardamos deles apenas uma
recordação parcial e confusa. Há pessoas, por exemplo, que afirmam jamais sonhar. Na
realidade, essas também sonham, mas não levam a lembrança de seus sonhos à consciência
de vigília. Foi provado, por numerosas experiências e testes, que todos sonhamos, mesmo
que de manhã, ao acordar, pareça-nos ter tido um longo e profundo sono, completamente
sem sonhos. Isso ocorre porque nem sempre há continuidade de consciência entre o
cérebro físico e a psique, além de existir uma dissociação entre o eu consciente e o
subconsciente.
Fizemos alusão, no capítulo anterior, ao diafragma que se encontra entre consciente e
o inconsciente e que pode, conforme a pessoa, ser mais ou menos impenetrável. É esse
mesmo diafragma que nos impede de recordar alguns sonhos que são afloramentos de
nossa vida subconsciente durante o sono.
Quanto mais extrovertidos formos, voltados à atividade e ao mundo concreto, mais
racionais e lógicos seremos e mais voltaremos as costas ao subconsciente.
De fato, quem sonha mais?
Os tipos emotivos, intuitivos, introvertidos, sensitivos. Os artistas, os místicos, os
adolescentes e as mulheres em geral, justamente por não serem polarizados na mente
concreta e abrirem-se com facilidade aos afloramentos do inconsciente e à intuição.
Portanto, todos sonhamos.
Isto pôde ser constatado por alguns estudiosos. Fazendo-se despertar com frequência,
durante a noite, perceberam que, em todas às vezes, estavam sonhando. Além disso, o
inglês Hervey descobriu, por, esse mesmo método, que não apenas sonhamos sempre, mas
que também a vivacidade e intensidade do sonho estão relacionadas com a profundidade
do sono.
Posta essa premissa, vejamos algumas características gerais dos sonhos. Antes de mais
nada, é necessário dizer que são quase sempre de natureza "visiva", isto é, apresentam-se
como imagens ou uma série de imagens. Mais raro é o sonho "auditivo" ou "olfativo".
Portanto, "vemos" nossos sonhos; geralmente apresentam-se em meio a uma luz
obscura, velada e sem cor. Algumas pessoas, em vez, têm sonhos coloridíssimos, luminosos
e nítidos, sendo isso, porém, menos comum.
Às vezes são lógicos, claros e simples; outras, ilógicos, nebulosos e aparentemente
sem significado.
Há grande variedade de sonhos e devemos procurar dividi-los em categorias para
compor um quadro claro e sintético da vida onírica do homem.
Diz-se que Plínio dividiu os sonhos em duas classes: l) sonhos comuns e 2) sonhos
29
enviados pelos deuses; a primeira referia-se aos sonhos que parecem ser uma simples
repetição da vida diária, enquanto a segunda dizia respeito aos que possuem um significado
particular, um valor de mensagem e conteúdo mais profundo.
Após tantos séculos devemos, também, reconhecer a exatidão dessa subdivisão e a ela
nos ateremos em linhas gerais.
De fato, podemos entender por “sonhos comuns”:
I - Os provenientes da vida inconsciente do individuo.
E por "sonhos enviados pelos deuses":
II - Os de natureza metapsíquica e
III - Os espirituais.
Vejamos agora os da primeira categoria:
Nesses estão incluídos, além dos sonhos que parecem uma simples continuação da
vida diária ou uma reelaboração mais confusa desta, também os que assumem um caráter
mais fantástico e imaginativo, a ponto de nos tocar estranhamente.
A principal característica desse tipo de sonhos é, talvez, o fato de, durante o seu
desenrolar, o indivíduo sentir-se um "espectador passivo", olhando e observando o
desenvolvimento da ação sem dela tomar parte com sua vontade e razão.
"Ele percebe as fortuitas imagens do sonho, como nota o movimento do mundo
exterior na vigília. Se nos perguntarmos quem é o autor do sonho, não poderemos
responder o eu, pois este, no sonho, encontra-se em um mundo novo, às vezes totalmente
estranho, que ele não criou, e do qual se sente independente" (E. Weiss, Elementi di
Psicoanalisi).
Talvez o eu sinta-se um "espectador passivo", quase alheio, justamente por ser essa
espécie de sonho apenas um afloramento espontâneo da vida inconsciente sob forma de
imagens.
Numerosas observações e indagações foram feitas a respeito dessa categoria de
sonhos, muito estudada pela Psicanálise, que chegou a conclusões e interpretações em
parte corretas e em parte errôneas, porém sempre interessantes e dignas de consideração.
Merecem atenção, não tanto as interpretações do significado dos sonhos feitas pela
Psicanálise, mas, sobretudo, os estudos e as observações sobre seus mecanismos e
características que procuraremos agora resumir.
Os sonhos provenientes do inconsciente exprimem, em geral, desejos insatisfeitos ou
instâncias reprimidas.
Esses desejos e instâncias foram removidos do eu consciente, porém, no sonho, as
funções de controle relaxam-se e o eu diminui seus esforços de repressão. A remoção,
contudo, não deixa de existir totalmente, sendo apenas diminuída. O superego, uma
espécie de consciência moral que, pouco a pouco, se formou em nós, tornando-se depois
inconsciente, está sempre presente, mesmo durante o sono, opondo, então, a severidade
da censura aos desejos insatisfeitos que queiram aflorar.
Portanto, os impulsos do inconsciente camuflam-se, mascaram-se para não serem
30
reconhecidos pelo superego. Daí nasce o simbolismo dos sonhos que é, talvez, sua mais
interessante característica, tendo aberto caminho a interpretações, análises e deduções de
toda espécie. É preciso lembrar que não há um simbolismo fixo que se possa aplicar cega e
mecanicamente a qualquer pessoa, como acreditavam Freud e seus seguidores, mas, sim,
uma grande variedade e diversidade de símbolos conforme o indivíduo. Jung, que estudou
profundamente esse tema, dando-lhe a máxima importância, afirma ser absurdo pensar
que possam existir símbolos fixos,
O que significa simbolismo?
O que é um símbolo?
Como diz Jean Filloux "símbolo é algo ou uma representação que substitui outra coisa
ou outra representação, em virtude de uma analogia ou de uma relação qualquer".
Em outras palavras, o símbolo é uma figura ou imagem que substitui outra, mas que
contém em si, por analogia, um significado semelhante.
Algumas vezes estados de ânimo, sentimentos ou pensamentos podem ser expressos
através de símbolos, de imagens.
Um céu tranquilo e azul, por exemplo, pode simbolizar um estado de ânimo sereno e
calmo, assim como um mar tempestuoso e agitado pode simbolizar um estado de ânimo
turbulento e perturbado... E assim por diante.
No sonho, portanto, há um duplo aspecto: aparência e significado: ou seja, seu
verdadeiro significado permanece oculto por uma série de imagens e representações
simbólicas. Há, em outras palavras, um conteúdo manifesto e um conteúdo latente que é o
real e que exprime a mensagem vinda do inconsciente.
Outra característica essencial do sonho é a dramatização, isto é, o desenvolvimento de
uma ação, de uma situação sob forma de imagens, ainda que diga respeito a ideias
abstratas ou sentimentos, como já foi mencionado antes.
Assim, um sentimento de depressão, de desconforto, que nos faz pensar não valer a
pena lutar nesta vida, pode dar lugar a um sonho no qual se vê uma formiga subir um muro
com grande esforço e fadiga, e cair ao chegar em cima, devendo recomeçar a escalada.
Outro interessante aspecto dos sonhos provenientes da vida inconsciente, qual abriu
caminho a novas deduções e intuições, foi observado e analisado por Jung que, como se
sabe, possuía uma concepção mais ampla e elevada do homem e uma visão mais espiritual
e otimista da vida.
Diz Jung que os sonhos não revelam apenas "desejos removidos" ou "traumas não
resolvidos", porém, são a representação simbólica de nossa situação psíquica atual, daquilo
que está ocorrendo nos níveis profundos de nosso inconsciente, no momento presente. Em
outras palavras, o sonho nos coloca diante de nós mesmos, fazendo-nos entender qual o
problema ou conflito a ser superado e dando-nos uma visão de nossa vida interior e do
grau evolutivo a que chegamos.
Jung coloca, em primeiro plano, a exigência do homem de integrar-se em uma
individualidade harmônica e completa, atingindo um certo nível de maturação. Diz ele que,
dentro de nós, ocorre continuamente essa evolução, esse crescimento, não sem lutas,
esforços e revezes.
Portanto, através de imagens e símbolos "individuais" que é preciso, a cada vez,
interpretar, os sonhos revelam nosso grau evolutivo e, por estranho que pareça, até nos
31
sugerem o próximo passo a ser dado. De tato, às vezes, realizamos em sonhos
determinadas ações, comportamo-nos de uma certa maneira, não por acaso, mas por uma
intenção precisa de nosso inconsciente que quer nos fazer ver qual a via de escape.
Essas interpretações de Jung dizem respeito aos sonhos espirituais que, na verdade,
provêm do Supraconsciente e que veremos logo, após tratarmos, rapidamente, dos sonhos
metapsíquicos.
II - Sonhos metapsíquicos
Questionário
35
Distúrbios de origem subconsciente
36
É como se não fôssemos senhores de nós mesmos, mas um outro ser que se esconde,
outras forças que desconhecemos e que nos fazem agir e sentir segundo sua vontade. Esse
"ser" misterioso, essas forças nada mais são do que o conjunto de energias subconscientes
que nos influenciam e dominam, porém somente enquanto não as conhecermos, não as
compreendermos e não as tornarmos colaboradoras do eu consciente.
Se insistirmos em voltar às costas ao inconsciente, negando-o, ignorando-o e, ainda
que involuntariamente, opondo-nos a ele, teremos um inimigo potente que não
poderemos vencer, rico de vitalidade, de energias mais fortes do que as do eu consciente e
continuaremos a ser obstados, impedidos, influenciados e dominados por seus impulsos e
exigências.
Devemos, pelo contrário, aos poucos, nos familiarizar com essa parte de nossa psique
que, na realidade, foi criada por nós mesmos, seja por necessidade evolutiva, seja por
lacuna, e que constitui uma imensa riqueza para o homem, contendo possibilidades e
qualidades preciosas.
De fato, é preciso não esquecer uma coisa extremamente importante, isto é, que o
inconsciente é energia e que, sendo formado por uma substância psíquica plasmável,
receptiva e sensibilíssima, é vivo, dinâmico e está em contínuo movimento. Não é um
depósito de forças estagnadas e mortas, mas de energias que constantemente se agitam e
tentam vir à luz, revelar-se à consciência para agirem, serem usadas e alcançarem seu
natural escopo.
Inicialmente, essas energias não eram inconscientes. Fomos nós que as lançamos ao
subconsciente, reprimindo-as, desperdiçando-as, não as utilizando devidamente. "A maior
parte da energia que existe em nosso inconsciente... é toda energia não aproveitada que, a
princípio, não se teria tornado inconsciente; é a herdeira legítima da consciência." (J. Ralph,
How to Psychoanalise Yourself).
O homem usa, em geral, uma parte muito pequena de suas energias psíquicas, seja
por ser forçado a reprimi-las, seja por não saber utilizá-las corretamente, deixando-as, sem
o perceber, "enterradas vivas" no subconsciente. Este, entretanto, não é um forno
crematório, e as energias aí lançadas não são destruídas ou anuladas, porém permanecem
vivas e dinâmicas, lutando continuamente para reaparecer, agitando-se nos profundos
estratos inconscientes e causando, dessa forma, distúrbios que vão desde simples mal-
estares, desarmonias, instabilidades de humor, até desequilíbrios propriamente ditos e
doenças psíquicas, as assim chamadas "nevroses".
Não pretendemos nos ocupar dessas últimas, objeto de atenção e estudo da
Psicanálise, mas sim, dos distúrbios e crises mais leves, comuns a quase todos os indivíduos
que começam a sair da média e que, longe de serem sintomas negativos são, pelo contrário
(como diz Jung), o sinal evidente de uma rica vida interior, de crise evolutiva e de luta para
atingir a maturidade espiritual.
Na realidade, não há pessoas completamente "normais" e se houvesse, seriam seres
estáticos, limitados, estéreis.
"Ser normal é um esplêndido ideal para quem não o é, para todos aqueles que não
conseguiram uma adaptação, mas, para aquelas pessoas que possuem dotes superiores à
média... normalidade significa restrição, um "leito de Procusto", um peso insuportável, uma
terrível estagnação sem esperança." (C. G. Jung, O Homem Moderno à Procura de Sua
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Alma).
Vistos sob esta luz, nossas aparentes anormalidades, nossos distúrbios, mal-estares e
crises mudam de aspecto e significado, tomando-se sintomas benéficos de um contínuo
crescimento interior. Não devemos, porém, negligenciá-los, mas procurar compreendê-los
e bem trabalhá-los, analisando as causas ocultas que os produziram.
*
* *
Vejamos, agora, dentro de uma certa ordem, quais podem ser as causas dos distúrbios
e desarmonias a que fizemos alusão.
Enquadrando sinteticamente as várias interpretações psicanalíticas e integrando-as na
concepção espiritualista do homem, podemos dizer que as principais causas dos distúrbios
de origem subconsciente são as seguintes:
1) A repressão das energias psíquicas
2) A não utilização das energias psíquicas
3) O conflito entre energias supraconscientes e forças da personalidade.
1) A repressão
Repressão é aquele processo que ocorre quando refreamos, com a força de vontade, a
manifestação de um impulso instintivo ou de uma carga psíquica.
Inicialmente, esse processo era um fato consciente, e o eu freava e impedia que
impulsos psíquicos se manifestassem, mas depois, aos poucos, tornou-se um mecanismo
inconsciente.
De fato, os freios, as limitações vieram, a princípio, do exterior, dos pais, da sociedade,
da religião, da moral corrente, etc., mas, posteriormente, citando as palavras do Dr.
Roberto Assagioli, "a esses freios sociais, a essas inibições externas foi-se juntando, de
forma sempre crescente, uma série de freios interiores (princípios morais livremente
aceitos). As normas morais foram se interiorizando gradativamente, tornando-se parte da
consciência. Assim, passo a passo, a personalidade formou-se, defendeu-se das forças
subconscientes de modo mais ou menos satisfatório, com um sistema de barreiras, de
diques e inibições protetoras, criou um diafragma mais ou menos espesso e impermeável
entre ela e o subconsciente".
Portanto, o hábito de reprimir-se que, originariamente, era uma espécie de defesa, de
temor em relação a uma autoridade externa, tornou-se, depois, uma defesa em relação a
uma autoridade interna inconsciente, chamada pelo termo psicanalítico de Superego.
Desse modo, a repressão voluntária e consciente torna-se "inibição inconsciente", uma
resistência pela qual o eu" ... não nota certos impulsos provindos do inconsciente porque a
percepção desses instintos lhe é inconsciente e inadvertidamente inibida. O eu não percebe
nem o impulso que, portanto, permanece inconsciente, nem a inibição que o impede de
perceber o impulso..." (Weiss, Elementi di Psicoanalisi).
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Este processo foi chamado por Freud "remoções".
Todavia, poderíamos nos perguntar por que essa repressão, essa "remoção" causaria
distúrbios psíquicos?
A carga psíquica, uma vez lançada no inconsciente, não deveria mais causar problemas
nem dar sinal de vida.
Precisamente aqui é que está o erro. Esquecemos que nossa psique é formada de
energia dinâmica e que, portanto, cada impulso, cada instância, cada "carga" é uma
manifestação da atividade desta energia que (como já foi dito antes), relegada ao
subconsciente, tentará continuamente vir à luz.
Os elementos removidos não estão inativos, mas continuam a organizar-se no
inconsciente, formando "novos rebentos" que procuram penetrar na consciência, seguindo
direções insólitas. Na obscuridade do inconsciente são feitas tentativas ininterruptas por
parte daquilo que foi removido, de forçar suas portas e vencer o agente da remoção" (Jean
Filloux, O Inconsciente).
Essa é a causa dos distúrbios que, como foi dito anteriormente, podem ser de
intensidades diferentes, chegando a nevroses propriamente ditas. De fato, a luta entre os
elementos removidos (isto é, as energias psíquicas subconscientes) e a força removente
(Superego), mesmo ocorrendo abaixo dos níveis de consciência, produz em suas vítimas
mal-estares, desequilíbrios, perturbações.
Essas energias removidas conseguem, porém, algumas vezes, irromper parcialmente
na consciência, constituindo, tais irrupções, verdadeiros sintomas nevróticos, os quais se
manifestam como variações de humor, depressão, angústia, temores diversos,
Irritabilidade, mal-estares físicos, etc.
Tais sintomas são chamados pela Psicanálise "situações de compromisso", porque
nascem de um compromisso entre a defesa e as instâncias subconscientes cuja finalidade é
a de satisfazer, parcialmente, quer a parte consciente da personalidade, quer as energias
removidas.
Tudo quanto foi dito até agora poderia nos assustar, pois a cada um de nós ocorreria
naturalmente a pergunta: "Mas então somos todos candidatos a nevroses, dado sermos
forçados a reprimir nossos impulsos instintivos, a sufocar nossos desejos e paixões...?"
Estes temores não têm razão de ser, uma vez que, embora todos tenhamos o hábito já
automatizado da repressão, esta, por sua vez, não causará distúrbios se ocorrer de maneira
normal.
A forma normal, por assim dizer, de repressão, seria aquela seguida da sublimação, ou
seja, a transformação das energias inibidas em energias de caráter mais elevado.
A sublimação não é um fato extraordinário, mas algo que ocorre continuamente em
nossa psique, ainda que nós não percebamos, pois a capacidade de passar de um nível
inferior a um superior é inerente às energias psíquicas como uma qualidade natural. Isto foi
reconhecido e admitido até pela Psicanálise (como tivemos ocasião de mencionar em outro
capítulo).
Podemos dizer, portanto, que a origem dos distúrbios subconscientes não é, na
realidade, a repressão, porém a ausência de sublimação. "A repressão não seguida pela
sublimação produz um só resultado: gera um conflito inconsciente entre os pensamentos
reprimidos e os pensamentos que os reprimiram" (J. Ralph, How to Psichoanalise Yourself).
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A falta de sublimação pode ter causas diversas, entre as quais o grau evolutivo do
indivíduo, seu temperamento, defeitos de caráter, as circunstâncias de sua vida, a esfera
limitada de seus interesses. De fato, um homem ativo, criativo, dedicado aos estudos e a
muitas ocupações, canaliza facilmente suas energias inferiores em direção a níveis mais
elevados, isto é, as "sublima", mesmo que disso não esteja consciente.
Pelo contrário, um indivíduo preguiçoso, abúlico, egocêntrico, é mais inclinado a
repressões inconscientes por não encontrar vias de escape para suas energias, sendo
fechado em si mesmo, incapaz de manifestar seus sentimentos, de adaptar-se ao ambiente
e à vida e de materializar seus impulsos em atividades externas.
Voltaremos a esse assunto da sublimação e transformação das energias em um
próximo capítulo, pois é de fundamental importância para todos aqueles que desejam levar
uma vida sadia e harmônica.
Cada individuo possui certa carga de energias psíquicas de diversos tipos conforme seu
grau evolutivo. Esta carga é proporcional ao desenvolvimento dos três elementos que
constituem sua psique (instintos, emoções, pensamento). À medida que o indivíduo cresce,
evolui, amplia sua esfera de consciência, esses elementos também crescem, tornam-se
mais fortes, mais organizados, vitais e ativos. Todavia, a tal desenvolvimento nem sempre
corresponde uma expressão externa, uma utilização adequada.
Isso ocorre em virtude de duas principais categorias de causas:
a) causas externas
b) causas internas
a) As causas externas podem ser muitas e de vários tipos. Por exemplo, uma pessoa de
inteligência viva, com a mente bem desenvolvida, pode ser obrigada, pelas circunstâncias, a
adaptar-se a um trabalho prático, voltado para o plano físico, no qual não tem
oportunidade de utilizar suas faculdades intelectivas, sua capacidade mental. Além disso,
esse trabalho pode ser cansativo e lhe tomar todo o dia, de modo que, ao chegar em casa,
não lhe restem nem tempo nem disposição para dedicar-se a outra atividade.
Esse não é um exemplo imaginário, mas corresponde a fatos reais, pois milhares de
pessoas consomem sua vida trilhando um caminho unilateral, forçando a mente à
inatividade, sufocando exigências emotivas e afetivas, reprimindo a criatividade. Disso
surgem desequilíbrios e distúrbios de várias espécies cuja natureza e origem a pessoa não
compreende. Ela, de fato, não se dá conta de que sua vida é, na realidade, anormal e pouco
saudável do ponto de vista psíquico. Sente-se, por vezes, insatisfeita, deprimida ou tensa;
apresenta distúrbios diversos, dos quais desconhece a causa, pois não percebe que sua
mente, sua capacidade de pensamento, suas energias psíquicas estão sufocadas, sendo
necessário exteriorizá-las, utilizá-las e canalizá-las.
Frequentemente, as circunstâncias nos obrigam a uma vida pobre de afetos,
emocionalmente descolorida, embora nossa carga emotiva e afetiva seja potente e vital,
pronta a expandir-se e a fluir para o exterior, em direção aos outros. Entretanto, tal
40
necessidade de expansão afetiva é, muitas vezes, inconsciente, e o indivíduo, então, não
compreende a causa de seu mal-estar, de sua angústia e depressão, não podendo,
portanto, resolvê-los. Continua, a isolar-se, a reprimir-se afetivamente, aumentando, dessa
maneira, seu sofrimento.
Se, pelo contrário, conseguisse compreender e conhecer a si próprio, tomar
conscientes suas exigências, poderia mais facilmente solucionar o problema, procurando
canalizar suas exuberantes energias afetivas para atividades e obras adequadas a tal
finalidade.
b) As causas internas da não utilização das energias psíquicas são, por outro lado,
nossos próprios defeitos de caráter e deficiências (como, por exemplo, a preguiça, a
desconfiança, a falta de vontade, o egocentrismo, o não saber adaptar-se ao ambiente, a
indecisão, a volubilidade, etc.).
De fato, no que diz respeito às exigências mentais, um indivíduo com a mente
bastante desenvolvida e capaz de pensar de maneira perspícua, profunda e clara pode não
conseguir usar suas faculdades intelectuais em razão da preguiça, que o impede ou lhe
dificulta expressá-las. E assim, sua capacidade mental permanece mera aspiração, simples
potencialidade, não produzindo nenhum resultado.
Uma outra pessoa poderia ter em si, latentes, tesouros de sentimentos, de devoção,
de afeto, mas, voluntariamente, negar-se a alegria de expressar essas qualidades por
desconfiança, medo, insegurança.
Entretanto, todas essas dificuldades e complicações, que constituem obstáculo para
um desenvolvimento harmônico e sadio de nossa vida psíquica, ocorrem, sobretudo, por
"ignorância", como já dissemos antes, pois o homem "ignora", não é consciente de ter em
si essas energias e exigências. Desconhece o grau de desenvolvimento de suas forças
psíquicas porque não se analisa, não toma contato com seu mundo psíquico. Vive na
superfície, todo voltado para o exterior, enquanto dentro dele se agitam e crescem
potentes energias que exigem ser utilizadas.
Portanto, devemos primeiro nos conhecer, procurar ver claramente dentro de nós
mesmos, "fazendo um inventário" de nossas energias e tendências. Depois, em uma
segunda etapa, observar se levamos uma vida harmônica e adequada às exigências
interiores, tentando criar atividades e formas de manifestação nas quais possa ocorrer um
sadio e equilibrado uso de todas as nossas energias: físicas, emotivas e mentais.
A um certo ponto do caminho evolutivo do homem, sua natureza lhe é revelada e ele
é, então, colocado diante da realidade espiritual de sua Alma, tornando-se consciente de
ser uma centelha divina, um Eu imortal e imperecível.
Contudo, esta revelação não ocorre sempre de maneira simples e fácil, mas,
frequentemente, após um período de crise, de conflito, por vezes muito penoso. Isto
porque as energias espirituais, para se manifestarem à consciência, devem vencer uma
resistência, um diafragma semelhante ao que existe entre o subconsciente e a consciência.
41
Dissemos, outras vezes, que a Alma é, para nós, Supraconsciente. Vibra em uma zona
de nossa psique da qual não somos conscientes, embora possamos sentir seus contínuos
influxos e vislumbrá-la de quando em quando.
O eu comum é inconsciente da luta travada entre as energias superiores
Supraconscientes, espirituais, e as energias da personalidade. Sente apenas o mal-estar, os
distúrbios, os sofrimentos decorrentes dessa luta.
O despertar da Alma é uma transformação radical na existência do homem, um
"renascimento", uma reorientação para outras metas mais amplas e impessoais. As forças
pessoais rebelam-se contra essa mudança que significa, em certo sentido, sua submissão a
uma vontade mais alta e mais potente. Eis porque ocorrem o conflito e a crise cujos
sintomas são, com frequência, muito semelhantes àqueles dos distúrbios nevróticos.
"Essas manifestações da crise espiritual são muito análogas a alguns dos sintomas da
neurastenia e da psicastenia. Uma das características destas moléstias é, justamente, a
perda da função do real, como a denomina Pierre Janet. Outra característica é a
despersonalização. A semelhança é acrescida do fato de, muitas vezes, a crise produzir,
também, sintomas físicos, tais como esgotamento, tensão nervosa, insônia e diversos
distúrbios digestivos, circulatórios, etc." (R. Assagioli, Crisi Dello Sviluppo Spirituale dell'Uomo).
Entretanto, uma vez que aos distúrbios propriamente ditos se somam, ainda, crises
morais, intelectuais, desinteresse pela vida, busca de algo mais profundo, do verdadeiro
significado da existência, etc., pode-se frequentemente, perceber que se trata de uma crise
que precede o despertar espiritual.
Entre os psicanalistas, Frankl intuiu, como causa das nevroses, esse conflito entre a
parte mais elevada, espiritual do homem e sua parte inferior, limitada e egoísta. Diz ele, em
seu livro Teoria e Terapia delle Neurosi, que no homem é inerente um "anseio de
significado", ou seja, a necessidade de dar à vida um significado, uma finalidade mais
elevada. Se tal exigência não for satisfeita, surgirá uma aguda sensação de malogro, de
futilidade, de desespero, a que ele chama de frustração existencial.
Também Jung (como já mencionamos em outro capítulo) intuiu no homem a exigência
religiosa, a necessidade de encontrar "dentro de si a imagem de Deus", o "centro do ser"
por ele chamado de "Selbst".
E, na realidade, é assim.
Há um momento, no processo de desenvolvimento do homem, no qual o
Supraconsciente (que é a região intermediária entre o reino humano e o espiritual) começa
a fazer sentir sua imperiosa influência, iniciando-se, então, as crises e conflitos cujo caráter,
entretanto, é evolutivo e progressivo. Esses, uma vez compreendidos e solucionados,
conduzem o homem a novas fases de maturação e de abertura e levam-no a encontrar seu
verdadeiro Eu, o reflexo de Deus nele.
Assagioli descreve, também, no texto Crisi Dello Sviluppo Spirituaie dell'Uomo outros
conflitos e crises:
1) Crises que precedem o despertar espiritual
2) Crises produzidas pelo despertar espiritual
3) Reações ao despertar espiritual
4) As fases do processo de transmutação
5) A noite escura da Alma
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Não é necessário nos determos neles, uma vez que estão descritos na obra acima
citada.
Foram mencionados apenas para confirmar o que foi dito no início do capítulo, ou
seja, que nem sempre os distúrbios, mal-estares e desarmonias físicas e psíquicas que nos
afligem devem ser considerados sintomas negativos, constituindo, frequentemente, pelo
contrário, sinal de progresso e maturação. Isso não quer dizer, porém, que devamos
permanecer passivos e inertes diante deles, mas procurar saná-los, superá-los com
confiança e otimismo, com ânimo sereno e pleno de esperança. Tal procedimento poderá
parecer difícil a quem esteja sujeito aos sofrimentos e conflitos psíquicos, encontrando-se
justamente no centro da crise e da perturbação. Saber a causa do próprio sofrimento
auxilia bastante e desenvolve, pouco a pouco, em nós, um senso de desidentificação, de
destaque, de objetividade, aquele senso do Espectador, ao qual tantas referências já foram
feitas nos livros espirituais e que é um centro de consciência imóvel e firme, fonte de força
inexaurível e de luz, por meio do qual podemos resolver todos os nossos problemas
interiores, nossas lutas e crises com calma e serenidade.
É necessário ter sempre presente que, no processo de formação e reorganização
psíquica, não podem deixar de existir dificuldades e problemas que, entretanto, serão
resolvidos se nos apoiarmos na força que há em nós: a Alma.
43
A autoanálise
Procuramos até agora dar uma visão geral da complexa estrutura da psique humana,
das várias energias que se agitam em nós, das zonas subconscientes de nosso ânimo, bem
como das dificuldades e distúrbios de origens diversas. Inferimos, assim, a utilidade, ou
melhor, a necessidade de iniciarmos um trabalho sério, paciente e constante de autoanalise
para alcançarmos aquele mínimo de conhecimento de nós próprios que nos permita
proceder à tarefa de autoformação e reestruturação de nossa personalidade.
Não podemos, entretanto, nos ocupar de nosso aperfeiçoamento, formação e
elevação, sem antes procurar conhecer como somos na realidade.
Devemos, corajosamente, olhar para o nosso interior e descobrir os nossos próprios
aspectos. Analisar-nos objetivamente, com todas as qualidades e defeitos, fazer vir à luz as
energias ocultas, iluminar os "abismos" e explorar os "cumes". Só então poderemos, de
maneira profícua, inteligente e séria, realizar o verdadeiro trabalho de autoformação.
Não basta saber, academicamente, que a psique humana é composta de várias
energias, reconhecer a existência de zonas conscientes e subconscientes, assim como de
determinados problemas, dificuldades e possibilidades latentes. É necessário aplicar tais
conhecimentos a nós mesmos, passar do geral ao particular, do objetivo ao subjetivo e,
claramente, enquadrar-nos no esquema genérico.
Há várias maneiras de iniciarmos essa tarefa de autodescoberta. Naturalmente, o
primeiro passo fundamental é dedicarmos a isso, ao menos um quarto de hora todos os
dias, procurando recolher-nos em um lugar tranquilo e silencioso, tentando, então, olhar
para dentro de nós, introverter-nos.
Todavia, uma vez que nosso interior é complexo, caótico, diversificado, é oportuno
traçarmos um esquema de reflexão, fazermos uma espécie de "programa", criarmos uma
diretriz para a observação, pois, do contrário, nenhum proveito será obtido. Nossa mente
vagará de um lado para outro, entre as várias sensações, recordações, emoções e
pensamentos, não alcançando nenhum resultado positivo.
Precisamos proceder com muita calma e ordem, de maneira, digamos, quase científica
e não espontânea, pois é necessário lembrar que estamos iniciando a descoberta de um
mundo novo cujas leis, regras, reações e fenômenos ainda nos são praticamente
desconhecidos.
Não devemos crer que descobriremos tudo em pouco tempo, mas sabiamente
reconhecer as dificuldades de nossa tarefa, compreendendo que o conhecimento gradual
de nós mesmos ocorrerá lentamente, começando pelo que é mais externo, superficial até,
pouco a pouco, atingir o que é mais interno, mais oculto: nossa verdadeira essência.
Conheceremos, em primeiro lugar, os aspectos conscientes e, posteriormente, os
subconscientes.
O trabalho se desenvolverá em duas etapas:
1) Análise do consciente
2) Análise do subconsciente
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1) Análise do consciente
2 - Análise do subconsciente
Questionário
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permanecer calmo e desidentificado, espectador de si mesmo?
13.Por que é útil manter a atitude do Espectador?
14.Sente um certo mal-estar, uma certa resistência quando tenta analisar-se mais
profundamente?
15.Ao pensar em seu subconsciente, tem uma sensação de medo, angustia ou de calma
e serenidade?
16.Teve, alguma vez, afloramentos do subconsciente?
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Conselhos para a autoanálise
53
psicológicos baseada nesses movimentos.
Em seu livro Tipos Psicológicos diz que no ânimo humano o interesse vital do eu (chamado
por ele libido, porém sem nenhuma conotação sexual) move-se em duas direções opostas,
uma centrífuga, a extroversão e outra centrípeta, a introversão. Na primeira, o interesse
vital volta-se para o exterior, para o mundo objetivo pelo qual o indivíduo se sente
modificado, influenciado, condicionado. Na segunda, por outro lado, o interesse vital se
volta para o interior, para o mundo subjetivo, para o eu que se torna centro de atenção,
observação, atividade.
No homem desenvolvido harmonicamente, essas duas correntes alternam-se de
maneira rítmica.
De fato, nós todos podemos perceber esse dúplice movimento psíquico pelo qual
nosso interesse ora se volta para o exterior, imergirão na atividade, na experiência, para
exprimir, manifestar as energias psíquicas e entrar em contato com o mundo objetivo, ora,
pelo contrário, volta-se para o interior, sobre si mesmo, recolhendo-se para se conhecer,
analisar-se e entrar em contato com o próprio eu.
A vida deveria ter esse rítmico alternar-se para ser fecunda e criativa. A extroversão e
a introversão são ambas necessárias a um desenvolvimento harmônico, sadio e equilibrado.
Às vezes, todavia, pode haver, por um período ou por toda a vida, o predomínio de
uma ou de outra tendência, de modo a se criar um tipo psicológico bem distinto e
particularizado, com qualidades e características especiais.
Essa prevalência da introversão ou da extroversão produz, como é natural,
dificuldades e problemas, não somente no que diz respeito a nós próprios, como também
ao relacionamento com os outros.
Se prevalecer a extroversão, nosso mundo interior será imperfeito e rudimentar; por
outro lado, se a introversão tiver preponderância, faltar-nos-ão os meios de expressão e de
contato com o exterior.
Eis por que é necessário termos presente, ao nos analisarmos, o fato de existirem em
nós essas duas tendências que podem nos auxiliar ou criar obstáculos em nosso trabalho de
autoconhecimento.
O extrovertido encontrará, de fato, grande dificuldade na introspecção, ficando
confuso e desorientado ao observar seu mundo interior. Querendo conhecer-se, deverá
combater sua tendência natural de esquivar-se à interiorização.
O introvertido, ao invés, sentir-se-á bem na atmosfera psíquica que lhe é mais familiar
e conhecida que o mundo objetivo. Terá, apenas, que redimensionar algumas ilusões,
superar um certo senso de orgulho e cuidar para não incorrer em uma introspecção doentia
e excessiva.
A terceira consideração importante que devemos ter presente é a que se refere às
qualidades positivas ativas e às receptivas e passivas de nossa psique, comumente
designadas com os termos "masculinas" e "femininas".
Tais termos, tomados em sentido psicológico, separam, em dois grupos, as
características psíquicas fundamentais do ser humano, que podem ter caráter positivo ou
negativo, ativo ou passivo, propulsivo ou receptivo, de acordo com o tipo, o temperamento
do indivíduo, independentemente de seu sexo.
"No corpo físico somos de um ou de outro sexo, porém em nossa psique somos
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bissexuais, pois todos temos alguma qualidade, tendência ou característica masculina e
feminina. Essa dualidade pode ser encontrada onde quer que olhemos. Há "pares de
opostos" em toda parte.
A música tem tons maiores e menores; a matemática possui números positivos e
negativos; a ciência, o polo positivo e o negativo e, assim indefinidamente. Os únicos
representantes conscientes dessas duas forças criativas são os homens e as mulheres.
Somos, portanto, mais que personalidades ou indivíduos: encarnamos e dirigimos dois
grandes princípios e forças que são universais e absolutos" (Mary Macaulay).
As qualidades positivas, masculinas, da psique humana são todas as derivadas da
Vontade e da Razão (Logos, como diziam os gregos) e as qualidades receptivas, femininas,
são as que derivam do Amor, da sensibilidade e da imaginação (Eros).
No ser humano completo e perfeitamente harmônico, Logos e Eros deveriam estar
ambos presentes e cooperar entre si, produzindo um perfeito equilíbrio interior e exterior.
Na verdade, esse perfeito equilíbrio não é tão frequente, havendo, pelo contrário, a
preponderância de um ou outro lado, independentemente do sexo do indivíduo.
De fato, não obstante pertença fisicamente a um ou outro sexo, podem predominar
em sua psique qualidades do sexo oposto. Assim, por exemplo, é possível encontrar
homens com qualidades psíquicas acentuadamente receptivas, sensitivas, de imaginação,
intuição, amor; como acontece com muitos artistas, místicos, etc ... Pode haver, por outro
lado, mulheres que possuam qualidades de vontade, iniciativa, comando, razão.
Isso ocorre, frequentemente, devido à profissão ou atividade exercidas que, pouco a
pouco, desenvolvem as qualidades opostas ao sexo do indivíduo, fazendo-o reprimir as de
seu próprio.
Uma mulher, por exemplo, pode dedicar-se a uma carreira profissional em que haja
necessidade de iniciativa, dinamismo, capacidade diretiva, etc. . Um homem, por outro
lado, pode seguir uma linha de trabalho que requeira qualidades de sensibilidade, intuito
psicológico, compreensão, tato, gentileza, simpatia, como a medicina, o magistério, o
sacerdócio, etc.
Como foi dito anteriormente, é preciso lembrar que o ser humano é completo e
harmônico quando funde em si o aspecto positivo e o receptivo, sendo, entretanto,
incompleto e imperfeito se nele prevalecerem exclusivamente qualidades de seu sexo.
Jung mostra haver intuído genialmente essa verdade quando diz que no inconsciente
do homem frequentemente jazem, latentes, qualidades femininas e no inconsciente da
mulher, qualidades masculinas que vêm, aos poucos, à expressão, durante a vida, à medida
que o indivíduo se desenvolve, amadurece ou torna-se um ser humano perfeitamente
integrado.
Jung chama de "Anima" a essa imagem compensadora que o homem tem em seu
inconsciente e de "Animus", à imagem inconsciente da mulher.
Assim, o homem pode, às vezes, ser positivo para aquilo que se refere ao mundo
exterior, à atividade, etc. e ao lado consciente de sua psique, e receptivo e negativo em seu
inconsciente. A mulher, por outro lado, pode ser passiva, receptiva no plano físico e no lado
consciente, enquanto positiva, racional, concreta nos estratos inconscientes.
"A mulher representa o princípio vital receptivo que é subjetivo e manifesto
socialmente, não tanto pela direta autoexpressão (vontade de fazer), mas pela indireta
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autoexpressão (vontade.de ser) ... Sua energia está mais na alma e natureza emocional. Por
isso, a mulher não se põe a construir, a fazer e a modificar o mundo exterior, porém sente-
se mais apta a mudar as coisas do mundo interior sob influência da inspiração" (Mary
Macaulay).
Ao nos analisarmos, portanto, devemos ter presente também isso, para que possamos
descobrir se há em nós maior predominância de Logos ou de Eros, se somos, em outras
palavras, mais racionais, lógicos, positivos ou mais ernocíonais, intuitivos e passivos. Essa
descoberta pode ser de grande ajuda para melhor compreendermos nosso caráter,
capacidade e, sobretudo, nossas deficiências e lacunas.
Ocorre com freqüência que, sem nos apercebermos, desenvolvemos unilateralmente
nossa personalidade, negligenciando os lados opostos à nossa natureza espontânea, por
indolência ou inércia. .
Quantas incompreensões, dificuldades, quantos problemas poderiam ser superados se
tentássemos desenvolver e utilizar todos os aspectos de nossa natureza,
O ser humano seria mais feliz, mais eficiente, se pudesse manifestar todas as suas
qualidades latentes, positivas e receptivas, de Vontade e de Amor, de Ação e de
Imaginação, sem criar para si mesmo conflitos internos, com a repressão dos aspectos
opostos, ou conflitos externos com pessoas diferentes dele próprio.
O polo positivo e o negativo da natureza humana deveriam equilibrar-se e integrar-se,
pois são ambos úteis e necessários à evolução.
Agir e ser são duas condições indispensáveis ao homem para que possa se desenvolver
harmonicamente e conseguir a completa expressão de seu verdadeiro Eu que inclui em Si
qualidades positivas e negativas, masculinas e femininas, em uma Unidade perfeita e
luminosa.
Desse breve estudo vimos, portanto, que é preciso tentar reconhecer, ao nos
analisarmos, quais características psíquicas são preponderantes em nós e quais, pelo
contrário, estão ausentes ou reprimidas.
É preciso lembrar que não somos, ainda, seres completos e perfeitamente
desenvolvidos.
Não devemos hesitar em nos reconhecer imaturos em algum aspecto de nossa
personalidade, pois é inútil querer negar, por orgulho ou presunção, qualquer lacuna nossa.
Isso não nos poderia acarretar senão dano e sofrimento.
O reconhecimento sereno, objetivo, calmo, dos próprios defeitos e da própria
imaturidade, ao invés, é o sinal positivo de que está começando em nós um novo
desenvolvimento, um novo crescimento.
Devemos saber, por outro lado, que muitas tendências, faculdades, muitos aspectos
de nossa psique são imaturos por termos sido obrigados a reprimi-los, ou por não terem
tido oportunidade de se manifestar durante nossa vida ou, ainda, por ter ocorrido alguma
experiência dolorosa e traumatizante que tenha impedido o desenvolvimento de algum
lado de nossa personalidade. Assim, por exemplo, uma imaturidade emotiva pode ter sido
causada por trauma afetivo ocorrido na infância ou na adolescência. Um defeito de vontade
pode ter sido originado pelo fato de ter havido, na infância, um pai ou mãe muito
autoritários, que involuntariamente impediram o desenvolvimento de nossa autonomia...
Em outras palavras, devemos iniciar o trabalho de descoberta de nós mesmos sem
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preconceitos, ilusões, vaidades, mas com mente clara e imparcial e, sobretudo, serena, pois
não nos deve faltar a fé, ou melhor, a certeza de haver em nós infinita possibilidade de
bem, uma fonte inexaurível de força e a fundamental capacidade de desenvolver e
manifestar as mais elevadas qualidades do homem.
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A intuição
Há, no homem, outra função psicológica importantíssima que não é nem o instinto,
nem a emoção, nem o pensamento, e que não podemos deixar de mencionar: a intuição.
É necessário que se tenha uma ideia bem clara de seu verdadeiro significado, pois, os
vários pesquisadores que se dedicaram ao estudo dessa função deram-lhe interpretações
as mais vagas, fugazes e díspares.
Ao analisar o próprio termo "intuição", verificamos que deriva do vocábulo latino
"intus-ire", "ir dentro". De fato, a palavra indica, em sentido amplo, "um ato de percepção
imediato e repentino que penetra no interior do objeto e cujo processo nos escapa".
Todos estão de acordo com essa definição genérica, havendo divergência, contudo,
quanto ao nível em que tal faculdade humana se manifesta e opera.
De fato, observando as várias interpretações dadas à intuição, notamos serem quatro
suas acepções fundamentais:
a) comum ou prática
b) artística
c) filosófica
d) teológica
Em sentido "comum", a intuição é entendida como uma aptidão natural para captar
com rapidez o lado prático e melhor de alguma coisa, percebendo-se, imediatamente, o
que se deve ou não fazer. É uma espécie de "faro", de "sexto sentido" que pode ser
exercitado até mesmo na vida prática e contingente.
Em sentido artístico, corresponde à inspiração, ao talento do artista, à capacidade
inventiva que permite ao homem vislumbrar a realidade transcendente e infundi-la em suas
obras.
Na acepção filosófica, refere-se, sobretudo, ao "conhecimento" e tem assumido
aspectos e matizes diversos nos vários sistemas filosóficos, conservando sempre,
entretanto, seu caráter de percepção imediata e total do objeto.
Filósofos bastante iluminados têm reconhecido o lado mais espiritual e transcendente
da intuição (como Spinoza, Bergson, Schelling, Bradley, Croce, etc.) que dá ao ser humano a
capacidade de apreender verdades absolutas e ideias universais.
Na acepção teológica, a intuição é considerada justamente em seu aspecto mais
elevado, que põe o homem em contato com o divino, com a Verdade, não por meio do
intelecto, mas através de "um misterioso processo cognitivo".
O que se pode deduzir disso?
Que existe no homem uma faculdade de percepção que não segue as vias habituais da
sensação ou do intelecto, porém caminhos ignorados pela consciência, ou seja,
inconscientes.
Os psicólogos, notadamente Jung, compreenderam que a intuição vem através do
inconsciente. Na verdade, seus lampejos têm todas as características dos afloramentos do
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subconsciente, isto é, a instantaneidade, a irracionalidade, a subitaneidade e o caráter de
certeza e de "revelação".
O inconsciente, como vimos, tem vários níveis, dos instintivos aos espirituais do
Supraconsciente; é claro, portanto, que as coisas percebidas por meio dele podem ter
diversas naturezas e qualidades.
Isso explica por que os estudiosos têm atribuído à intuição propriedades tão
diferentes. Na realidade, cada um deles viu um ângulo dessa faculdade do homem, segundo
seu próprio temperamento, maturidade e experiências pessoais.
Verificamos, pois, a existência de uma faculdade intuitiva que se exerce através dos
níveis do inconsciente correspondentes aos três elementos da personalidade, examinados
nos capítulos anteriores (instintos, emoções, pensamento) e uma faculdade intuitiva que se
exerce por meio dos níveis mais elevados do inconsciente, o Supraconsciente, a qual (como
vimos) nos coloca em contato com o plano da Alma, o mundo espiritual e a mente
universal.
Há uma clara distinção entre esses dois níveis da capacidade intuitiva que lhes dá um
caráter inconfundível. De fato, a intuição dos níveis pessoais é colorida por sentimentos
humanos limitados e relativos, por vezes egoístas e separativos, mas sempre referentes à
vida da personalidade, enquanto a intuição dos níveis espirituais é sempre impessoal,
referindo-se ao plano do universal, do absoluto, do transcendente.
Para maior clareza, podemos chamar "intuito" à primeira e "intuição" à segunda.
Poder-se-ia dizer que o "intuito" é horizontal e a intuição, vertical, Caberia aqui uma
pergunta:
Essa capacidade intuitiva está presente em todos?
Está presente como potencialidade latente, mas não como faculdade ativa e manifesta,
dependendo do tipo psicológico e temperamento do indivíduo.
Os temperamentos em que prevalece a capacidade intuitiva (seja pessoal ou
espiritual) são aqueles nos quais "o pensamento racional" é posto em segundo plano e
pouco usado ou por não estar desenvolvido ou por ter sido transcendido.
Há, portanto, tipos essencialmente intuitivos que podem ser de vários graus
evolutivos.
Jung, que considera a intuição uma das quatro funções psicológicas fundamentais
(sensação, sentimento, pensamento, intuição), afirma existir tipos intuitivos extrovertidos e
introvertidos.
Nos primeiros, predomina o aspecto "prático" da intuição, isto é, aquele que se exerce
em relação ao mundo exterior e aos eventos da vida. Nos outros, prepondera o aspecto
interior e subjetivo da intuição, que produz "um tipo particular de individuo: de um lado, o
sonhador e o vidente místico, de outro,o fantasioso e o artista" (C. G. Jung, Tipos
Psicológicos).
A nota comum a esses temperamentos intuitivos, sejam extrovertidos ou
introvertidos, é a irracionalidade.
O pensamento concreto é, na verdade, um obstáculo à intuição na medida em que
mantém o homem no campo do consciente e, com o seu contínuo movimento, sua
incessante atividade o impede de perceber ou negar, com sua lógica, por lhe parecerem
absurdos e irreais, os lampejos de intuição que lhe chegam por via inconsciente
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(subconsciente ou Supraconsciente).
Pode haver, de fato, um contraste entre intuição e razão. Com frequência, nos tipos
cuja mente concreta apresenta certo desenvolvimento, o raciocínio pode anular uma
eventual sensibilidade intuitiva.
Portanto, o tipo intuitivo sabe, por experiência, que a condição indispensável para que
se tenha a intuição é colocar-se em uma atitude de receptividade e espera, mantendo-se a
mente passiva e silenciosa. Isso é válido tanto para o "intuito" como para a intuição.
Diz Bergson que "a dificuldade e a raridade da intuição são explicadas pelo fato de
essa ir contra a direção habitual do pensamento".
Diz ainda: "Pensar significa captar imagens da realidade, imobilizando-a, a cada vez,
como em uma tela de projeção... Pensar é dividir, distinguir, isolar, de maneira rápida ou
lenta, conforme o caso" ... Intuir é, por outro lado ... "uma espécie de simpatia intelectiva
que nos transporta subitamente à sintética intimidade do real".
Poder-se-ia, então, acreditar que o desenvolvimento da mente seja algo negativo e
que apenas pessoas não intelectuais possam desenvolver a intuição. Isso, na verdade, não
ocorre.
A mente pode ser "a destruidora do Real" (como está escrito em "A Voz do Silêncio")
quando é utilizada de maneira errônea, quando, em vez de funcionar como órgão de
conhecimento, claro e límpido, é ofuscada pelas névoas do orgulho, da presunção, do
materialismo, quando se fixa somente na forma, no aspecto exterior das coisas, deixando-
se prender por completo. Não devemos esquecer, contudo, que a mente tem uma natureza
dual, isto é, pode ser voltada tanto para o exterior como para o interior. Ela é como um
Jano bifronte: uma face dirigida para o mundo objetivo e outra para o mundo interior.
"E a natureza dual da mente que produz a ilusão, uma vez que ela, ou apresenta ao
homem as chaves do reino dos céus, ou lhe fecha a porta que poderia conduzi-lo ao mundo
das realidades espirituais" (A. A. Bailey, Um Tratado de Magia Branca).
Portanto, quando o homem começa a ser bastante evoluído e inicia-se nele a
manifestação do aspecto mais elevado da intuição, o desenvolvimento mental pode auxiliá-
lo muito porque o torna capaz de compreender "racionalmente" as intuições recebidas e de
saber traduzi-las em conceitos e palavras.
Quando a mente está voltada para o interior, deve ser mantida silenciosa, em atitude
de receptividade, para que possa captar as inspirações e ideias do plano espiritual. Depois
de havê-las apreendido, será sua tarefa "registrá-las" e procurar "formulá-las" de maneira
que possam ser transmitidas a outros.
Isso nos leva a falar do aspecto mais elevado da intuição, aquele que se desenvolve
quando o homem tenta, conscientemente, pôr-se em contato com sua Alma e com o
mundo espiritual.
Essa é a verdadeira intuição, que nada mais tem de pessoal e de emotivo, sendo,
porém, "conhecimento puro" e "apreensão direta da verdade", uma espécie de telepatia
vertical, possível em virtude da receptividade da mente iluminada.
Quais são as maneiras ou técnicas para desenvolver a intuição espiritual? Em seu livro
Fascinação: Um Problema Mundial. Alice Bailey diz que um dos métodos mais úteis para o
desenvolvimento da intuição é o estudo dos símbolos. "Os símbolos são as formas
exteriores e visíveis das realidades espirituais interiores e quando for conseguida a
60
faculdade de perceber facilmente a realidade que está por trás de toda forma, isso indicará
o despertar da intuição".
Com o termo símbolo, entretanto, não se quer indicar uma figura geométrica, uma
representação ou imagem, mas toda a forma de vida, seja uma pessoa, um objeto, um
evento, uma situação.
"O que existe no mundo objetivo que não seja um adequado símbolo de uma ideia
Divina?
O que temos na manifestação objetiva senão um sinal visível do Plano da Divindade
Criadora?
Nós mesmos não somos a manifestação exterior de uma ideia Divina? Devemos
aprender a discernir os símbolos que nos cercam e a penetrar, depois, em seu significado,
na ideia que devem manifestar".
A capacidade de compreender o significado dos "símbolos" (tomados no sentido
supracitado) é a chamada "leitura espiritual", que dá a faculdade de ver, além da forma
exterior, a energia que a anima, a realidade subjacente e que faz remontar dos efeitos às
causas.
Tudo é símbolo na manifestação de uma realidade transcendente, mas nós "... de um
modo geral somos criaturas que vemos ‘coisas’. Vemos aquilo que cai sob nossos olhos e,
habitualmente, nada mais... É, todavia, possível ‘sentir’ de maneira diferente o próprio
mundo, se conseguirmos desenvolver um outro hábito mental. Este consiste, em poucas
palavras, em perceber o invisível na realidade visível; em penetrar além das aparências, em
ver, ‘através’ delas, a fonte de onde provieram." (A. A. Bailey,Do Intelecto à Intuição).
Esse esforço de ver "através" desenvolve, pouco a pouco; a intuição, porque
lentamente começamos a nos tornar sensíveis aos significados, às energias profundas, às
causas e forma-se, em nós, aquilo que se chama "o sentido esotérico".
O que foi exposto poderá parecer um pouco árduo àqueles que com isso tomam
contato pela primeira vez. Na verdade, contudo, é algo que talvez inadvertidamente já
tenhamos começado a realizar, é uma atitude que inconscientemente tenhamos assumido
diante da vida, no momento mesmo em que nos colocamos no caminho espiritual e
tentamos dar um significado aos acontecimentos de nossa vida, compreender nossa
verdadeira essência, extrair a verdade oculta nas experiências dolorosas ou alegres que
tenhamos vivido.
A intuição, além disso, desenvolve-se com a meditação, que é a técnica fundamental
para quem deseja pôr-se conscientemente em contato com seu verdadeiro Eu, abrir-se ao
Supraconsciente e receber energias e inspirações do plano espiritual.
A meditação torna, pouco a pouco, a mente concreta sensível e receptiva à Luz da
Alma e, com um lento processo de interiorização, desperta a capacidade da mente de
voltar-se para dentro e captar as ideias do Mental Superior.
Como para fazer aflorar o inconsciente, é necessário colocar-se em um estado de
relaxamento, da mesma forma, para fazer aflorar o Supraconsciente e abrir-se à intuição, é
necessário pôr-se em uma atitude adequada, passiva, mas não inerte; receptiva, mas não
de torpor; de quietude, mas não sonolenta. É uma espera vigilante de todo o ser; é um apelo
silencioso, um abrir-se às energias superiores com a co-participação consciente de toda a
personalidade.
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Eis, portanto, delineada, ainda que breve e incompletamente, a função psicológica
mais importante e significativa do homem, a intuição; ela demonstra duas coisas essenciais,
que abrem a porta a infinitas possibilidades:
1) que o inconsciente humano é uma misteriosa ponte de ligação e de
receptividade, seja com o inconsciente de outras pessoas, ou com a esfera ampla e
profunda de existência que Jung chamou "inconsciente coletivo".
2) que há no homem um "quíd" que está acima e além da consciência pessoal
normal e que aflora aos poucos, tornando-o capaz de receber e compreender até mesmo
os conhecimentos mais elevados, as verdades universais.
A intuição, quer se manifeste através dos três elementos da personalidade como
"intuito", quer através dos planos mais altos da mente como intuição espiritual, é a
demonstração do fato de que "separatividade" é somente uma ilusão, existindo, pelo
contrário, uma real e substancial unidade de todos os seres, uma comunicação recíproca,
um substrato comum que nos une, tanto nos níveis pessoais, como nos espirituais, no
sentido horizontal, como no vertical com tudo que está fora e acima de nós.
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O Eu espiritual ou Alma
Antes de finalizarmos este breve estudo, devemos nos deter e refletir sobre a parte
mais importante e vital do homem, o Eu Espiritual, que é a sua verdadeira essência, sua
realidade interior.
No início, esse Eu Espiritual não se manifesta, não se revela à nossa consciência
comum. No campo do consciente aparece, apenas, seu reflexo, sua projeção, isto é, o eu
pessoal ou eu fenomênico.
Todos os elementos psíquicos estudados até agora, ou seja, os instintos, as emoções, o
pensamento e sua contraparte inconsciente, pertencem a esse eu fenomênico e formam a
personalidade do homem. O verdadeiro Eu, pelo contrário, constitui a individualidade do
ser humano.
O termo "personalidade" vem do latim "persona" (máscara) e está indicando um
conjunto de energias, de elementos que servem para colocar o Eu Espiritual, o verdadeiro
Ser, em contato com o mundo objetivo.
A personalidade é uma máscara (no significado latino), um personagem que
representa temporariamente um papel, mas que esconde, atrás de si, o verdadeiro
indivíduo, o Eu real.
A palavra "individualidade" deriva do termo latino "individuum" (que não se pode
dividir) e indica a centelha divina no homem, a Alma, o Eu Espiritual que, justamente por
sua natureza, é indivisível e Uno.
Entretanto, o homem identifica-se, por limito tempo, com a "máscara", com a
personalidade, não tendo consciência de seu verdadeiro Ser Espiritual. Somente às vezes,
através dos contatos com o Supraconsciente, tem lampejos fugazes das possibilidades, nele
latentes, de uma vida mais ampla e luminosa, das maravilhosas qualidades de sua Alma.
A centelha divina, o nosso Eu, encarnado na matéria, identificou-se com ela e
esqueceu-se de sua origem. Esta é a condição do homem que Van der Leeuw chama "o
drama da Alma em exílio".
Passo a passo, o homem readquire, através de sua evolução, consciência de sua
verdadeira natureza, "encontra a si próprio", reconhece a verdadeira face de seu Eu e
percebe que aquela realidade espiritual que ele acreditava tão longe e inatingível está ali
muito perto; está dentro dele, é ele mesmo. De fato, como diz Thomas Merton em seu livro
"O Homem Novo": "A lei da vida se pode resumir no axioma: Sê aquilo que és".
Nossa Alma, o Eu, possui dois aspectos: um aspecto energia e outro consciência. É do
segundo aspecto que iremos nos ocupar neste capítulo, porque diz respeito, mais de perto,
ao nosso problema que é o de "nos conhecermos" e alcançarmos a auto-realização. O
aspecto consciência da Alma não se revela de uma só vez, porém pouco a pouco, e tem
várias fases.
Poder-se-ia perguntar neste ponto: Por que dizemos ser a Alma nosso verdadeiro
"Eu”?
Por que empregamos este termo: "Eu"?
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Não devemos esquecer que apenas no reino humano aparece a autoconsciência, isto
é, o senso de identidade pessoal, o reconhecimento do eu. E essa autoconsciência se dá
precisamente pela presença, no homem, de uma Alma individual. De fato, a passagem do
reino animal para o reino humano é caracterizada pela individualização.
No reino animal há uma consciência de massa, uma consciência de grupo, como
podemos ver, por exemplo, entre as formigas ou as abelhas que parecem ser guiadas por
uma mente comum, por uma consciência global.
No homem, ao contrário, aparece a consciência de ser um eu. Naturalmente, nos
primeiros estágios da escala evolutiva, este eu não se revela em sua verdadeira natureza,
mas é identificado, a cada vez, com seus vários invólucros.
Temos, assim, os seguintes estágios:
1) O estágio de identificação com o corpo físico e os instintos
2) O estágio de identificação do eu com o mundo emotivo
3) O estágio de identificação do eu com o pensamento A estes seguem-se:
4) O estágio da personalidade integrada e consciência do eu pessoal ou fenomênico
5) Estágio intermediário entre personalidade e Alma e sentido de dualidade
6) Estágio da consciência do Eu Espiritual ou Alma
1) Estão no estágio de identificação com o corpo físico, aqueles que consideram, como
única realidade, o corpo material e não veem senão o invólucro mais denso, o físico, uma
vez que seu lado psíquico é pouco desenvolvido, estando totalmente voltados para o
exterior, propensos a dominar o mundo material e a fazer experiências no plano físico. Para
esse gênero de pessoas, o mundo psíquico parece irreal ou absolutamente inexistente, seja
por não o conhecerem, seja por ser, para eles, ainda vago e amorfo. O número de pessoas
pertencentes a esse nível de consciência é maior do que se possa imaginar, pois não
devemos supor que somente os homens primitivos se identifiquem com o corpo físico.
Pessoas muito evoluídas, do ponto de vista formal, e dotadas de uma certa inteligência,
frequentemente também o fazem. Por exemplo, os esportistas, os atletas, muitos artesãos
podem pertencer a esse estágio, caso estejam polarizados exclusivamente no plano físico e
a ele dispensem toda a sua atenção, identificando-se completamente com o invólucro mais
externo.
Não se interprete, porém, que a atividade física seja uma coisa negativa.
Podemos ser laboriosos, fisicamente ativos, sem, contudo, identificarmo-nos com ela,
conservando uma vida interior muito intensa, uma polaridade mais elevada do que aquela
exclusivamente material, mesmo enquanto o veículo físico está em ação.
3) Quando o homem aprende a pensar e a usar sua mente, então, pouco a pouco,
emerge em sua consciência a ideia de que a única coisa estável, sólida e real é o
pensamento, a faculdade de raciocinar.
Ele começa a sentir a dualidade que existe entre pensamento e emoções e, por isso,
tende a supor mais verdadeiro e real o elemento intelectual que, por sua natureza, é mais
firme e mais estável do que as agitadas ondas emotivas e os mutáveis estados de ânimo.
Percebe que a mente tem o poder de controlar as emoções e os instintos e começa a
descobrir o mecanismo do pensamento e a arte de pensar, sendo, então, natural que
identifique o eu com o intelecto. Este já é um grande passo, mesmo considerando que, em
seguida, ele terá a revelação de que até a mente pode, em certos casos, tornar-se um
obstáculo à luz da Alma e, como já vimos, à intuição.
Esse estágio de identificação do eu com a mente é muito longo e tem várias fases.
Antes que o homem polarizado no intelecto possa desenvolver completamente o
instrumento intelectivo e fazer dele um centro de pensamento verdadeiramente potente,
usando-o para controlar e dirigir a personalidade, deve superar diversas dificuldades,
desenvolver-se e ampliar-se. Isso pode levar muito tempo.
Durante o estágio de polarização mental, o homem passa, pouco a pouco, de uma fase
de incontrolada vivacidade de pensamento e de contínuo alternar-se de ideias, que cria
desordem e multiplicidade, a um estágio de consciente domínio do mecanismo do pensar,
de uso ordenado e voluntário das faculdades intelectivas e descobre, assim, a vontade, um
novo aspecto de sua personalidade que lhe dá uma sensação de força, de poder e,
sobretudo, de síntese interior.
É nesse momento que aparece a personalidade integrada.
6) Essa revelação assinala o início de uma fase muito importante do caminho evolutivo
e traz consigo uma completa reversão, uma reorientação de todo ser. É um despertar para
uma nova concepção de vida. De fato, aqueles que tiveram a revelação de seu verdadeiro
Eu são chamados "os despertos", justamente porque a consciência da realidade profunda
de nosso ser nos desperta do sono, do torpor, da obscuridade na qual estamos imersos,
para abrir-nos as portas da Verdade e revelar-nos o verdadeiro objetivo da vida o
verdadeiro destino do homem e fazer-nos entrever a Divindade.
"Deus está no centro do homem", dizia Eckardt, sintetizando, em poucas palavras, a
verdade mais profunda e luminosa da existência humana, aquela que foi experimentada,
comprovada e vivida por todos os místicos, os iluminados e os intuitivos, ou seja, que
encontrando a si mesmo, encontra-se Deus.
O homem traz dentro de si a imagem de Deus e esta verdade é comum a todas as
religiões e a todos os "credos".
Misteriosamente, nossa Alma contém em si uma consciência individual e, por isso, é
chamada "EU"; é uma consciência cósmica e universal, estando, assim, em contato com o
divino.
A revelação da Alma pode ocorrer espontaneamente, como resultado de
amadurecimento interior ou como efeito de adequadas práticas e exercícios que favoreçam
essa maturação.
Geralmente, a Alma (o Eu Espiritual) manifesta-se de improviso à consciência pessoal,
em um momento no qual as forças da personalidade estão quietas e receptivas, trazendo
consigo um afluxo de Luz, de Força, de Amor. O êxtase, a alegria, a ampliação de
consciência de tal momento de revelação são tais que deixam, em quem os experimenta,
um sinal indelével e a certeza absoluta da natureza de sua experiência.
Tem início, então, uma vida nova, uma nova fase da existência, toda dedicada à
reorientação de si mesmo em direção à Luz entrevista e a sintonizar a personalidade na
vibração espiritual experimentada naquele momento de revelação.
O despertar do Eu Espiritual abriu o canal, escancarou a porta, mas o homem deve
mantê-la aberta, reconstruindo sua personalidade, sublimando as energias inferiores e pondo-
se completamente a serviço do propósito da Alma.
O revelar da consciência espiritual não é, senão, o início de um longo percurso, o abrir-
se do Caminho. É um ponto de partida, mais que um ponto de chegada.
A via a percorrer não será nem breve nem fácil. Não faltarão obstáculos e dificuldades,
mas isso não nos deve espantar porque, uma vez ocorrida a revelação da consciência da
Alma, haverá, dentro de nós, uma nova força, um novo poder e uma constante e profunda
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serenidade que nada poderá ofuscar.
O mais essencial e importante da vida humana é, por isso "reencontrar o verdadeiro
EU", procurar, por todos os meios, fazer aflorar a consciência do Eu real que jaz latente nas
profundezas de nós mesmos.
Poderemos poupar-nos muitos sofrimentos, crises e conflitos, se nos pusermos a
trabalhar para favorecer o despertar de nossa Alma, porque, é bem verdade que certas
experiências; certas provas dolorosas, são inevitáveis e necessárias ao nosso progresso e
amadurecimento, mas é também verdade que uma grande parte delas é fruto somente de
ignorância, de rebelião, de inércia e de obstinado apego à ilusória vida da personalidade.
Dentro de nós existe o segredo de nossa felicidade, de nosso luminoso destino de
Filhos de Deus "feitos à Sua imagem e semelhança".
Eis porque é necessário conhecermos a nós mesmos, explorarmos nosso mundo
psíquico. De fato, o voltar-se para o interior em direção ao autoconhecimento é o início do
caminho que levará, passo a passo, à descoberta de nosso verdadeiro Eu. Devemos nos
interiorizar e introverter, procurando descobrir, em meio a tantas energias discordantes, a
tantos elementos diversos, aqueles verdadeiros, essenciais, duradouros, estáveis, que
pertencem ao nosso Ser Superior.
"Não basta saber que somos Almas; devemos adquirir consciência dela e, então, a
advertência esculpida sobre a porta do Templo do Delfos - "Conhece a ti mesmo" - Adquire
um novo e mais profundo significado. Não quer dizer somente: "Analisa teus pensamentos,
sentimentos, examina tuas ações - significa também e sobretudo: estuda teu ser mais
íntimo, descobre teu verdadeiro eu oculto na profundidade de tua Alma, aprende tuas
maravilhosas potencialidades" (R. Assagioli).
O Eu Espiritual é um estado de consciência e, portanto, para ser verdadeiramente
compreendido e conhecido, deve ser experimentado.
Essa é a razão pela qual o caminho para alcançá-lo não é o raciocínio, o estudo dos
textos e das doutrinas, mas é a experiência pessoal, a via interior e subjetiva.
Iniciemos, pois, o trabalho de interiorização, começando pela autoanálise, para que
possa, pouco a pouco, revelar-se a verdadeira e íntima essência de nossa natureza, a
realidade que está dentro de nós e aparecer, perante a consciência, nosso verdadeiro Eu.
Façamos calar o "errado questionar" da mente concreta e ouçamos a voz interna da
intuição que é a voz da nossa Alma.
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