Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Terra-Enrocamento
Engenharia Civil
Júri
Outubro de 2010
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação foi realizada sob a orientação da Professora Rafaela Cardoso, a quem agradeço a
paciência e a exigência demonstradas ao longo deste ano.
Agradeço ao André Reis, meu colega e amigo, cuja tese possibilitou caracterizar o solo usado no
núcleo da barragem em estudo nesta dissertação.
Aos professores Laura Caldeira e Emanuel Maranha das Neves, agradeço os conselhos e observações
de grande relevância feitas ao trabalho, durante a fase de construção do modelo numérico.
Muitos dos dias de estudo e realização desta tese foram passados num gabinete da Secção de
Geotecnia do IST, entre os gabinetes da Dra. Isabel Lopes e de Leonor Regateiro, a quem agradeço as
inúmeras vezes que me abriram a porta interrompendo o seu trabalho.
À Professora Teresa, agradeço as conversas quase diárias, que tanto ajudaram na procura de um
resultado mais rigoroso e de apresentação gráfica profissional e discreta.
Como seria de esperar, preparar e escrever uma dissertação implica uma grande disponibilidade de
tempo e de empenho; agradeço por isso à minha família, por me ter apoiado neste ano em que estar em
casa se tornou mais difícil.
O maior agradecimento é dirigido à Matilde, pelo apoio, motivação e amor incondicionais que tanto
ajudaram na realização desta dissertação.
i
ii
RESUMO
O trabalho que se apresenta tem como objectivo estudar as consequências no comportamento de uma
barragem de terra-enrocamento das alterações das características mecânicas dos materiais resultantes
da interacção com o clima durante a fase de construção e no primeiro enchimento. Estuda-se uma
barragem com um perfil semelhante ao da barragem de Odelouca localizada no Algarve, Portugal. Foi
escolhida por ser uma barragem zonada constituída por um núcleo argiloso e maciços de enrocamento
que incorpora a montante uma ensecadeira com o mesmo perfil e porque a sua construção esteve
parada mais de três anos resultando na exposição da ensecadeira às acções atmosféricas.
Foram ainda efectuados estudos complementares para analisar a influência da permeabilidade dos
terrenos de fundação no comportamento da estrutura, bem como da consideração da anisotropia de
permeabilidade resultante do processo de compactação dos materiais constituintes do corpo da
barragem.
Os resultados obtidos indicam a existência de deslocamentos induzidos pela actuação do clima na fase
de construção com efeitos no final do primeiro enchimento.
iii
iv
ABSTRACT
The aim of this work is to study the effects on the behaviour of an earth-rockfill dam caused by the
changes of the mechanical characteristics of the materials due to climate during the construction and in
the first impoundment. An earth-rockfill dam with a cross-section similar to the one of Odelouca dam
situated in Algarve, Portugal is used. This dam was chosen because it is a zoned earthdam with a
central clay core and rockfill shoulders which includes a cofferdam with the same profile in the
upstream shoulder and because its construction was stoped for more than 3 years during which the
cofferdam was exposed to climate.
Rockfill-type materials exhibit a different behaviour when compared to other granular materials since
they show significant settlements induced by creeping due to fracture propagation and particle
rearrangement. This behaviour is deeply linked to the water content of the rockfill and therefore
climate must be considered in the behavioural analysis.
A numerical model was developed using program CODE_BRIGHT based on finite element method
(FEM), which solves coupled termo-hidro-mechanical problems. Two constitutive models for
unsaturated soils were adopted for the clay core and the rockfill of the shoulders which allow to
calculate volumetric deformations due to suction and stress changes. The model for the rockfill
material also accounts with creeping.
Complementary studies were also performed to analyse the influence of the permeability of the
foundation on the behaviour of structure as well as the anisotropy of the permeability which results of
the compaction process.
The results show the existence of displacements induced by weather action during the construction
phase with small effects on the impoundment phase.
v
vi
SIMBOLOGIA E NOTAÇÕES
vii
– Grau de saturação
– temperatura absoluta
– Volume específico
- Limite de Liquidez
- Limite de Plasticidade
β - parâmetro que controla a taxa de aumento da rigidez do solo com a sucção (MPa-1)
- Deformação volumétrica total devido a variações de sucção
- Deformação volumétrica elástica devido a variações de tensão média total
- Deformação volumétrica total devido a variações de tensão média total
– Deformação volumétrica plástica devido a variações de tensão média total
- ângulo de resistência ao corte
- Porosidade
- peso volume aparente seco
- Índice de compressibilidade elastoplástico quando o MDI está activo
- Índice de compressibilidade elastoplástico quando o MDT está activo
- índice de compressibilidade elastoplástico para condições saturadas
- índice de compressibilidade elastoplástico para uma sucção s
– índice de compressibilidade elastoplástico em condições saturadas (s=0)
- viscosidade da água
- coeficiente de Poisson
- sucção osmótica
- tensão total
- teor em água
- Sucção total
viii
ÍNDICE
3.1. Introdução.............................................................................................................................. 19
4.1. Introdução.............................................................................................................................. 29
5.2.3. Enchimento.................................................................................................................... 40
ix
5.3.2. Parte Hidráulica ............................................................................................................. 45
6.1. Introdução.............................................................................................................................. 49
6.2.1. Introdução...................................................................................................................... 50
Anexos................................................................................................................................................... 95
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2.2 – Curvas de Retenção na molhagem típicas para solos argilosos e enrocamentos ................ 6
Figura 2.3 – Curvas de crescimento subcrítico duma fissura e modelo conceptual da deformação
volumétrica de um enrocamento (Oldecop & Alonso, 2001).................................................................. 8
Figura 2.4 – Análise do comportamento de um solo não saturado de acordo com o BBM: a) plano (p;s)
e b) plano (ln(p);v). ............................................................................................................................... 10
Figura 2.6- Análise do comportamento de um enrocamento não saturado de acordo com o modelo para
enrocamento: a) plano (p;v) e b) plano (p;s) (Oldecop & Alonso, 2001) ............................................. 17
Figura 5.1 - Geometria da secção transversal definida no programa CODE_BRIGHT referente aos
estudos 1 e 2 .......................................................................................................................................... 37
Figura 5.4 – Dados climatéricos da estação de Vidigal entre 2003 e 2009 ........................................... 39
Figura 6.2 - Localização dos pontos de controlo de pressões intersticiais ou sucções .......................... 50
xi
Figura 6.3 – Distribuição de tensões totais verticais no interior da barragem no final da construção .. 51
Figura 6.4 – Distribuição de tensões totais verticais no interior da barragem no final do enchimento . 51
Figura 6.5 - Perfil horizontal escolhido para a análise da evolução das tensões verticais totais ........... 51
Figura 6.6 – Evolução das tensões verticais totais durante a construção e no final do enchimento ...... 52
Figura 6.7 - Evolução das tensões horizontais totais durante a construção e no final do enchimento .. 52
Figura 6.9 – Distribuição das pressões intersticiais sob regime permanente ........................................ 54
Figura 6.11 – Variações de sucção em função do tempo calculadas através do modelo numérico ...... 56
Figura 6.12 – Sucções, pressões intersticiais e linha de saturação no final do enchimento acidental com
molhagem da ensecadeira...................................................................................................................... 57
Figura 6.15 – Comparação dos deslocamentos verticais durante a construção para os casos A e B no
perfil vertical I localizado no núcleo da ensecadeira............................................................................. 59
Figura 6.17 – Assentamentos calculados no perfil II nos casos A, B e 0 no final da construção ......... 61
Figura 6.20 - Evolução do volume específico com o aumento da tensão isotrópica ............................. 63
Figura 6.22 – Comparação de assentamentos calculados no perfil III localizado no núcleo entre os
casos A, B e 0 ........................................................................................................................................ 64
Figura 6.23 - Assentamentos calculados no perfil IV localizado no maciço de jusante para os Casos A
e B no final da construção ..................................................................................................................... 65
Figura 6.25 – Vectores dos módulos dos deslocamentos durante a construção da última camada ....... 67
xii
Figura 6.27 – Deslocamentos Horizontais calculados perfil I para os Casos A e B no final da
construção.............................................................................................................................................. 68
Figura 6.29 - Deslocamentos Horizontais calculados no perfil III para os Casos A e B no final da
construção.............................................................................................................................................. 69
Figura 6.31 – Deslocamentos Verticais calculados nos perfis I e II para os Casos A e B no final do
enchimento ............................................................................................................................................ 71
Figura 6.32 - Assentamentos calculados nos perfis III e IV para os Casos A e B no final do enchimento
............................................................................................................................................................... 72
Figura 6.34 - Vectores dos módulos dos deslocamentos durante a etapa final do enchimento ............. 73
Figura 6.37 - Evolução das pressões de líquido durante o enchimento para a fundação permeável (Caso
B – Estudo 1) ......................................................................................................................................... 77
Figura 6.38 – Evolução das pressões de líquido durante o enchimento para a fundação impermeável 77
Figura 6.41 - Deslocamentos verticais calculados no perfil III final do enchimento ............................ 80
Figura 6.43 - Evolução das pressões de líquido durante o enchimento para o material isotrópico e
anisotrópico ........................................................................................................................................... 84
Figura 6.46 - Deslocamentos Verticais no perfil III após construção e enchimento ............................. 85
xiii
Figura A1.1 – Deslocamentos verticais calculados no perfil I para os Casos A e B ............................. 96
Figura A3.1 – Deslocamentos verticais calculados no perfil III para os Casos A e B .......................... 98
Figura A5.1 – Deslocamentos horizontais calculados no perfil I para os Casos A e B ....................... 100
Figura A6.2 – Deslocamentos horizontais calculados no perfil II para os Casos A e B ..................... 101
Figura A7.3 – Deslocamentos horizontais calculados no perfil III para os Casos A e B .................... 102
Figura A8. 4 – Deslocamentos horizontais calculados no perfil IV para os Casos A e B ................... 103
xiv
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 5.3 - Parâmetros mecânicos dos terrenos de fundação inseridos no modelo ............................. 44
Tabela 6.4 - Deslocamentos verticais calculados no perfil III final da construção ............................... 80
Tabela 6.5 – Deslocamentos horizontais calculados no perfil III no final do enchimento .................... 82
Tabela 6.6 – Deslocamentos horizontais calculados no perfil III no final da construção ..................... 82
xv
xvi
1.1 Introdução
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
Barragens portuguesas como a de Beliche, Alvito, Meimoa, Odeleite, S. Domingos, Santa Justa ou
Odelouca incluem na sua geometria um corpo designado por ensecadeira, que tem como função evitar
o acesso da água à zona da obra. Este elemento é posteriormente incluído no corpo da barragem e é,
regra geral, construído com os mesmos materiais de construção da barragem. Dadas as funções de
resistência e estanquidade que a ensecadeira tem de garantir, este maciço pode ser considerado como
uma pequena barragem.
Neste trabalho são estudados alguns casos diferentes definidos de modo a compreender se as
alterações das características do enrocamento devido à molhagem poderão afectar o comportamento da
barrarem, essencialmente durante no primeiro enchimento. Nos estudos, recorrem-se a modelos
constitutivos para solos compactados não saturados e enrocamento (Alonso et al, 1990; Oldecop &
Alonso, 2001) permitindo avaliar o comportamento do material devido às variações do seu teor em
água e a contemplação da fluência no enrocamento (Alonso et al, 2008). Procede-se à comparação dos
resultados obtidos pela simulação através do programa de cálculo CODE_BRIGHT.
Os casos estudados correspondem a duas situações distintas. A primeira pretende uma aproximação ao
processo construtivo real da barragem de Odelouca localizada no Algarve, com 76 metros de altura
correspondendo à exposição da ensecadeira às acções atmosféricas durante um intervalo de tempo
1
Capítulo 1 - Introdução
compreendido entre Outubro de 2003 e Março de 2007 em que a obra esteve suspensa. A segunda
situação considerada é um caso hipotético em que se admite que a barragem é construída logo após a
construção da ensecadeira. Nos dois casos simulou-se o processo construtivo considerando as acções
atmosféricas e o primeiro enchimento.
No capítulo 2 (Fundamentos Teóricos) são apresentados os conceitos teóricos que servirão como base
para fundamentar os comentários aos resultados obtidos.
No capítulo 3 (Casos Estudados) faz-se a descrição da geometria da barragem em estudo, bem como
as características dos materiais que a constituem. É ainda realizada uma explicação detalhada dos
vários estudos realizados e a sua inter-relação.
2
2.1 Barragens de Terra-Enrocamento
2.
Uma barragem de terra-enrocamento é uma estrutura geotécnica que permite armazenar grandes
volumes de água a montante através das suas características de estanquidade e resistência. A sua
tipologia depende maioritariamente da finalidade da barragem e dos materiais e é definida tendo em
consideração a geologia do local e as quantidades existentes nas zonas próximas do local da obra.
Assim, consoante estes factores, a barragem pode ser construída com um perfil homogéneo ou um
perfil zonado. Em oposição a uma barragem homogénea, construída com um único material, uma
barragem zonada é composta por solos com características hidráulicas e mecânicas bastante distintas
sendo imperativo que se tire partido dessas características de forma a garantir a resistência adequada,
impermeabilização e baixa deformação. É sobre este último tipo de barragens que o presente trabalho
pretende realizar uma análise comportamental, atendendo às características dos diferentes materiais
constituintes e da sua interacção com o clima.
Em situações em que não existem solos apropriados em quantidades suficientes, é usual optar-se por
duas zonas internas representadas na Figura 2.1: o núcleo central, responsável pela impermeabilização
e os maciços, responsáveis pela estabilidade da obra. Na fronteira entre o material do núcleo (Material
1) e o material do maciço a jusante (Material 3) é corrente a colocação de um filtro (Material 4) para
evitar fenómenos de erosão interna provocados por forças de percolação que tendem a arrastar finos.
Além disso, estes filtros, aliados a drenos horizontais (Material 5) colocados sob o talude a jusante têm
um papel fundamental no comportamento da barragem em serviço, uma vez que garantem que a
percolação se faça de uma forma controlada, sabendo que a impermeabilidade total é impossível de se
obter.
Na Figura 2.1 está representado um perfil tipo de uma barragem zonada e a superfície freática, que ao
atravessar a zona do núcleo, desce para os terrenos de fundação onde está localizado o dreno. Este é o
tipo de comportamento hidráulico que se espera obter com a construção de barragens de aterro
zonadas sendo o papel do núcleo fundamental para que se garanta uma estanquidade necessária.
3
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
Na construção de barragens zonadas, a compactação das camadas tanto do núcleo como dos maciços
laterais é um dos processos mais importantes de todo o processo construtivo uma vez que determina o
bom funcionamento da obra em fase de exploração. Deste modo, a qualidade final da barragem passa
pela correcta prescrição da compactação em fase de projecto e pela garantia da sua qualidade através
do controlo rigoroso em fase de obra.
De uma forma genérica, a compactação do material do núcleo é realizada do lado húmido, ou seja,
realizada com teor em água superior ao teor óptimo sendo a deformabilidade obtida tanto maior quanto
maior for o teor em água. À medida que este aumenta, o material torna-se cada vez mais plástico
podendo suportar apreciáveis deformações sem atingir a rotura e sem fendilhar (Melo, 1985),
característica necessária para garantir a estanquidade. Conclui-se então que sendo compactado pelo
lado húmido, o material será menos sensível ao contacto com a água apresentando uma reduzida
expansibilidade na molhagem (Santos, 2008). Na maioria dos casos opta-se pela compactação com
energia equivalente ao ensaio de compactação leve evitando assim que o resultado final seja um
material demasiado rígido e susceptível de fendilhar.
A consideração do clima durante o processo construtivo ganha um espaço de relevo uma vez que os
materiais resultantes do processo de compactação apresentam-se num estado não saturado. Assim,
através de modelos constitutivos explicados no decorrer do trabalho, é possível calcular deformações
devidas a variações do grau de saturação no caso dos materiais argilosos do núcleo e estimar
deformações devidas à fracturação do material enrocamento relacionadas com a presença de água.
4
2.2 Diferenças Fundamentais entre os materiais do núcleo e dos maciços
A escolha dos materiais de uma barragem zonada tem de ser feita de acordo com a disponibilidade
destes no terreno e com as funções que esses materiais terão de desempenhar. Assim, no núcleo é
aplicado um solo com uma permeabilidade reduzida garantindo a estanquidade necessária. Usualmente
é utilizado um solo argiloso visto apresentar um reduzido coeficiente de permeabilidade e por existir
em abundância na natureza. Estes solos exibem um comportamento volumétrico que depende do seu
índice de vazios e do estado de tensão, podendo na molhagem registar empolamento (aumento de
volume sob tensão baixa) ou colapso (diminuição de volume irreversível sob tensão alta). É então
necessário recorrer a um modelo constitutivo que possibilite a reprodução do seu comportamento que
inclua uma variável de estado representativa da presença de água: a sucção.
A sucção ( ) resulta da soma das suas duas componentes: sucção matricial ( ) e osmótica ( ) e pode
ser relacionada com a humidade relativa através da Lei Psicométrica (Fredlund & Rahardjo, 1993)
representada na equação (2.1).
(2.1)
(2.2)
onde,
No caso dos solos finos com uma percentagem relevante de argila, as duas componentes da sucção
mostram-se importantes actuando como forças internas responsáveis por um aumento de rigidez e de
resistência. No entanto, a sucção osmótica assume um papel preponderante nos materiais com uma
5
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
expansibilidade elevada, razão pela qual não é tomada em consideração no presente trabalho. No caso
dos materiais granulares, a sucção influencia o seu comportamento sob a forma de forças de
capilaridade enquanto que nos materiais mais grossos como os enrocamentos, a sucção está associada
apenas à humidade relativa nos seus vazios e defeitos internos, como será explicado à frente.
As diferenças entre os materiais do núcleo e os materiais tipo enrocamento dos maciços prendem-se
também pela capacidade de reter água medida através da curva de retenção. Esta curva faz a relação
entre o teor em água ou grau de saturação e a sucção instalada.
A Figura 2.2 ilustra duas curvas de retenção na molhagem para solos argilosos e enrocamentos.
Observa-se que a curva referente a um enrocamento apresenta duas partes distintas, que reflectem a
estrutura dos vazios deste. Os vazios de grande volume existentes entre as partículas das rochas
requerem muita quantidade de água para atingirem a saturação, tornando a curva muito próxima da
horizontal. A restante água existente no enrocamento é armazenada nos poros das partículas de rochas,
apresentando uma maior resistência à saturação (troço vertical). A curva típica de um solo argiloso
está representada na figura e mostrando-se bastante diferente de um enrocamento devido ao facto de
haver um menor contraste entre as várias dimensões das partículas e ainda devido à existência de
fenómenos de capilaridade e de natureza osmótica que afectam a capacidade do solo argiloso de reter
água.
Figura 2.2 – Curvas de Retenção na molhagem típicas para solos argilosos e enrocamentos
6
2.2 Diferenças Fundamentais entre os materiais do núcleo e dos maciços
De acordo com (Maranha das Neves, 1993), um material tipo enrocamento, apesar de ser um material
granular, distingue-se destes pela dimensão dos seus componentes: a percentagem de elementos com
dimensão inferior a 0,074 mm (peneiro nº 200 ASTM) é menor que 10% e podendo a dimensão
máxima pode atingir os 2000 mm. Frequentemente, a percentagem de elementos com dimensão
superior a 50 mm é superior a 60%. Neste caso, são os elementos de maior dimensão que controlam o
comportamento do aterro, do ponto de vista mecânico e hidráulico.
Tal como os materiais argilosos compactados, o enrocamento tem o seu comportamento condicionado
pela alteração do seu teor em água. No entanto, a água funciona como um agente corrosivo levando ao
registo de deformações relevantes sob tensão constante que dilatam no tempo (fenómeno de fluência).
Este fenómeno está relacionado com a fracturação das partículas rochosas e com a propagação de
fendas, que como se verá, são controlados pela humidade relativa do ar. O aumento da humidade
relativa nos vazios, para um máximo de 100%, dá origem a uma deformação por colapso
sensivelmente igual à que se obteria se se saturasse o enrocamento (Oldecop & Alonso, 2001). Trata-
se de uma abordagem microestrutural uma vez que se estuda cada agregado de uma forma
independente no que respeita ao papel da tensão e da água como indutores de fracturação e que se
baseia na chamada propagação subcrítica da fracturação. De forma a obter uma caracterização
completa do campo de tensão na vizinhança da ponta de uma fissura, é definido o factor de intensidade
de tensão (Broek, 1985) que, de acordo com a mecânica de fractura em meios elásticos lineares,
considera a influência do comprimento da fenda, do carregamento aplicado, da geometria e do
tamanho do elemento que contem a fenda e que pode ser aproximado pela expressão (2.3).
(2.3)
onde,
O valor de que corresponde ao início da propagação da fenda é designado por c. A Figura 2.3
ilustra um conjunto de curvas típicas de propagação subcrítica de fracturas obtidas em ensaios de
fracturação mecânica em rochas que relacionam a velocidade de propagação da fenda , com o factor
, o qual depende da carga aplicada e da presença de água (medido através da humidade relativa).
Através deste mecanismo, é dada uma explicação conceptual para o comportamento do enrocamento.
Num estado permanente de tensão e humidade relativa, todas as fendas se encontram na região I ( <
0), não havendo a sua propagação. Deste modo, o enrocamento não apresenta qualquer deformação.
Efectuando um aumento de tensão no conjunto haverá um aumento de tensão nos contactos entre os
7
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
blocos do enrocamento e algumas fissuras cairão na região III ( > 0) resultando numa rápida
deformação do enrocamento. Outras fissuras situar-se-ão na região II, tendo uma velocidade de
propagação finita até que atingir a rotura. Aumentando a humidade relativa sob tensão constante, as
fissuras que se encontram na região II vão sofrer um aumento de velocidade de propagação. Por outro
lado, algumas fissuras deslocar-se-ão da região I para II, uma vez que o valor que delimita as mesmas
regiões diminui quando a humidade relativa aumenta.
Figura 2.3 – Curvas de crescimento subcrítico duma fissura e modelo conceptual da deformação volumétrica de um
enrocamento (Oldecop & Alonso, 2001)
8
2.3 Modelo Constitutivo para materiais argilosos compactados
O Barcelona Basic Model (Alonso et al., 1990) é um modelo constitutivo elastoplástico baseado no
modelo Cam-Clay, que permite descrever o comportamento de solos parcialmente saturados
recorrendo a três variáveis de tensão [p, q, s] e uma variável de estado [v]. Deste modo, é possível
obter uma formulação matemática para o comportamento volumétrico destes solos considerando a
possibilidade de um aumento (empolamento) ou diminuição (colapso) de volume na molhagem
dependendo do estado de tensão instalado. A rigidez do solo é também afectada pela sucção, como se
verá adiante.
O espaço de tensões (p,s), onde p é o excesso de tensão média subtraído da pressão atmosférica
(definido na expressão (2.4)) e s a sucção (definida na expressão (2.2)), descreve os estados
isotrópicos de tensão.
(2.4)
De forma semelhante ao comportamento dos solos saturados, o volume específico é dado pela
expressão da LCN (Linha de Compressão Normal) para uma dada sucção:
(2.5)
onde,
– índice de compressibilidade elastoplástico para variações de tensão isotrópica, para uma sucção
s;
pc - tensão média de referência para a qual se tem .
O índice de compressibilidade elastoplástico do solo para uma sucção , é dado pela equação
(2.6)
(2.6)
onde,
– índice de compressibilidade elastoplástico para variações de tensão isotrópica em condições
saturadas ( );
9
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
(a)
(b)
Figura 2.4 – Análise do comportamento de um solo não saturado de acordo com o BBM: a) plano (p;s) e b) plano (ln(p);v).
10
2.3 Modelo Constitutivo para materiais argilosos compactados
A Figura 2.4 ilustra qualitativamente, nos planos e , a resposta de um solo não saturado
à molhagem para dois estados de tensão isotrópica diferentes. Assim, para uma melhor compreensão
do modelo, pretende-se explicar as duas trajectórias representadas (A→B→C) e (A→D→C).
É importante referir que o espaço elástico é limitado pela curva LC (Loading Collapse), definida pela
equação (2.7).
(2.7)
onde,
No estado A, o solo apresenta uma sucção sA > 0 e um volume especifico vA. Neste estado, o solo
encontra-se dentro do domínio elástico, sendo o seu ponto representativo no plano [ln(p);v] sobre a
linha .
Do estado A para o estado B, o solo vai sofrer uma molhagem até à saturação (s B=0), sob tensão
isotrópica constante. Uma vez que a trajectória se encontra totalmente dentro da região elástica, a
deformação volumétrica é elástica (reversível) e é dada pela equação:
(2.8)
Deste modo, o solo irá sofrer um aumento de volume elástico (empolamento). O solo progride para o
estado C por um aumento isotrópico de tensão a sucção constante. No plano [ln(p);v], a trajectória
segue na linha k até se atingir a cedência (p*0), sendo a deformação elástica regida pela equação (2.9),
(2.9)
entrando de seguida na LCN com a inclinação (0) (solo saturado), até atingir finalmente o ponto D
(pd;vd).
A deformação total sofrida pelo solo durante a trajectória B→C é dada pela equação:
11
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
(2.10)
(2.11)
A tensão de cedência referida na equação (2.11) assume agora o valor de , uma vez que a LC se
desloca para a direita, como mostra a figura 1. Deste modo, a equação (2.11) é também considerada
como lei de endurecimento, definindo o espaço elástico.
A trajectória que leva o solo do estado A para o estado D dá-se sobre a linha k, uma vez é realizada
dentro da região elástica. Na descarga e recarga de um solo a sucção constante, o seu comportamento é
elástico com uma compressibilidade k, sendo independente da sucção e é definido pela equação (2.9).
A linha SI (Suction Increase) é também um patamar de cedência, uma vez que sempre que o solo
atinge um valor máximo de sucção previamente atingido ( ), este sofre deformações plásticas. Deste
modo:
onde,
– valor de sucção que delimita a transição do regime elástico para a zona plástica.
No caso de a linha SI ser ultrapassada devido a uma secagem, as deformações plásticas serão dadas
pela seguinte lei de endurecimento:
(2.12)
Esta linha não é atravessada por nenhuma das trajectórias apresentadas na Figura 2.4 uma vez que,
para tal, seria necessário haver uma secagem para uma secção superior a s0. No entanto, na figura está
representada uma translação da linha SI, visto que esta está acoplada à curva LC.
De forma a incluir o efeito das tensões de corte, é necessário incorporar a tensão deviatórica
como parâmetro do modelo. Na Figura 2.5 estão representadas as superfícies de cedência no
espaço (p,q,s).
12
2.3 Modelo Constitutivo para materiais argilosos compactados
A curva de cedência para uma sucção constante s é descrita, de forma idêntica ao modelo de Cam-
Clay Modificado. Esta curva apresenta uma tensão de pré-consolidação isotrópica já definida atrás,
que se encontra sobre curva Loading Collapse (LC) (plano – Figura 2.5).
Paralelamente às condições saturadas, a Linha de Estados Críticos (LEC) para condições de sucção
diferentes de zero representa o acréscimo de resistência induzido pela sucção. Deste modo, admite-se
como hipótese que a sucção irá apenas conferir ao solo um aumento de coesão, sendo a inclinação M
da LEC independente do grau de saturação (Figura 2.5). Se a coesão se relacionar linearmente com a
sucção (parâmetro k), a elipse irá interceptar o eixo da tensão isotrópica p no ponto em que:
(2.13)
onde:
Deste modo, o maior eixo da elipse encontra-se entre os valores de e (Figura 2.5) sendo
esta regida pela equação (2.14).
(2.14)
onde:
M – inclinação da LEC;
A função de cedência SI estende-se para a região q >0 por intermédio de um plano paralelo ao eixo q,
de tal modo que a equação é mantida no espaço (p,q,s).
13
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
14
2.4 Modelo Constitutivo para materiais tipo enrocamento
O modelo para enrocamentos (Oldecop & Alonso, 2001) é um modelo constitutivo elástoplástico que
descreve o comportamento mecânico destes materiais. No caso particular das deformações
volumétricas, o modelo reproduz a compressibilidade e o colapso, tendo em consideração a tensão e
presença de água.
(2.15)
(2.16)
onde,
- índice de compressibilidade elastoplástico para variações de tensão isotrópica, quando o MDI está
activo;
- índice de compressibilidade elastoplástico para variações de tensão isotrópica, quando o MDT
está activo;
– tensão de cedência clástica.
d
O índice de compressibilidade elastoplástico para uma sucção s, (s), é dado pela equação (2.17).
(2.17)
onde,
15
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
É sugerido deste modo que a rigidez do enrocamento correspondente à cedência clástica se relaciona
com o logaritmo da sucção diminuindo na molhagem (diminuição da sucção). é também um
parâmetro do modelo, sendo o valor máximo que pode tomar.
Na Figura 2.6 estão representadas duas trajectórias (AE) e (ABCDE) para as quais se
pretende fazer uma breve explicação do comportamento do modelo.
(a)
16
2.4 Modelo Constitutivo para materiais tipo enrocamento
(b)
Figura 2.6- Análise do comportamento de um enrocamento não saturado de acordo com o modelo para enrocamento: a) plano
(p;v) e b) plano (p;s) (Oldecop & Alonso, 2001)
Na trajectória A B, o solo vai sofrer uma molhagem, diminuindo de sucção. Dado que a molhagem
decorre dentro do domínio elástico, a deformação volumétrica será:
(2.18)
Em materiais do tipo enrocamento, os valores de s são muito baixos, podendo mesmo assumir o valor
de zero, para efeitos de modelação (Alonso et al., 2005).
(2.19)
Uma vez no estado húmido e ultrapassada a tensão de cedência clástica py, a equação da LCN no plano
i
[p;v] terá a inclinação + d, uma vez que estão activos o MDI e o MDT. Assim, a deformação
volumétrica sofrida durante a trajectória J C será:
17
Capítulo 2 – Fundamentos Teóricos
(2.20)
Do estado D para E, o solo sofre um carregamento a sucção constante. A equação (2.21) define a
deformação:
(2.21)
A trajectória alternativa A E, uma vez realizada em condições secas apenas tem o MDI activo,
apresentando uma deformação volumétrica definida na equação (2.19), e igual em valor à soma de
todas as deformações sofridas na trajectória (ABCDE) descrita acima.
18
3.1 Introdução
3.
3.1. INTRODUÇÃO
Antes da apresentação dos casos estudados, pretende-se expor os critérios que motivaram a escolha da
barragem e todos os dados bibliográficos necessários à caracterização dos materiais que a constituem.
Após esta introdução são então descritos os casos em estudo que têm por objectivo compreender os
efeitos do clima na construção da barragem e, ainda e de uma forma complementar, perceber o efeito
da percolação na fundação e da anisotropia do material compactado.
Para a elaboração do presente trabalho, são analisadas barragens reais localizadas na região do
Algarve. Escolhe-se a geometria da barragem de Odelouca uma vez que a secção transversal desta
barragem é representativa das barragens deste género e existe informação sobre a mesma tanto na
bibliografia como em estudos realizados posteriormente (Reis, 2010). Para além disso, o processo
construtivo de Odelouca sofreu uma paragem que levou à exposição dos maciços da ensecadeira às
acções atmosféricas o que pode ter sido responsável por assentamentos devido à fluência, como
explicado no capítulo 2. Estas alterações são analisadas no primeiro estudo a ser efectuado. Para o
enrocamento, na maior parte da sua caracterização, adoptaram-se as características existentes em
bibliografia relativas à barragem de Beliche (Naylor et al., 1987 e Alonso et al.,
2005) cuja localização é próxima de Odelouca e que, portanto, terá sido construída com materiais
semelhantes do ponto de vista da geologia.
Refere-se que o processo construtivo de uma barragem desta dimensão implica o desvio do curso
natural do rio e a construção de uma ensecadeira de modo a prevenir a entrada de água durante a
construção da barragem na época das chuvas. A ensecadeira encontra-se ilustrada na Figura 3.1
apresentando a configuração de uma barragem zonada de menor dimensão (36,5 metros de altura),
sem qualquer cortina de impermeabilização na fundação.
Da análise da Figura 3.1 conclui-se que a barragem é constituída por um núcleo argiloso com talude
com declive de 1:0,3 (Material 1), por maciços de enrocamento com taludes com declive de 1:2,25 e
19
Capítulo 3 – Casos Estudados
1:2 (Material 2) e por um filtro com o mesmo declive do núcleo e um dreno horizontal (Material 3).
Existem dois tipos de solos de fundação com características distintas, existentes à superfície e a 10
metros de profundidade respectivamente (Materiais 4 e 5). Ainda se observa uma cortina de injecção
de cimento cujo objectivo reside na melhoria das condições de impermeabilidade da fundação.
20
Figura 3.1 - Geometria da Barragem em estudo
Capítulo 3 – Casos Estudados
No caso dos solos finos (dimensão da argila), o comportamento é muito influenciado pela mineralogia
das partículas (Maranha das Neves, 2006). A importância dos limites de Atterberg deve-se ao facto de
permitirem, através da Classificação Unificada de Solos, uma análise qualitativa sobre o
comportamento mecânico, permeabilidade e trabalhabilidade de um solo argiloso sem ser necessário
determinar a sua composição mineralógica,.
Através dos limites de Atterberg define-se o teor em água acima do qual o solo se comporta como um
líquido (limite de liquidez, ) e o teor em água abaixo do qual o solo se comporta como uma rocha
muito branda e friável (limite de plasticidade, ). A partir destes limites determina-se o índice de
plasticidade, que define a gama de teor em água para a qual o solo exibe um comportamento
plástico (Eq. (3.1)).
(3.1)
Os valores dos limites de Atterberg e a classificação de acordo com a Classificação Unificada de Solos
para a argila do núcleo encontra-se na Tabela 3.1 e na Figura 3.3.
22
3.2 Escolha da barragem a modelar
Classificação do Solo MH
23
Capítulo 3 – Casos Estudados
18
17,4
17,2
17
16,8
16,6
16,4
13 15 17 19 21 23
Como foi mencionado no capítulo 2, resulta do processo de compactação das camadas constituintes
dos aterros uma estratificação horizontal, implicando uma permeabilidade anisotrópica. Deste modo e
na ausência de ensaios laboratoriais, foi admitido que a permeabilidade horizontal é cinco vezes
superior à permeabilidade vertical. Na Tabela 3.2 encontram-se os coeficientes de permeabilidade dos
materiais.
Coeficiente de
Kx Ky
Argila
Enrocamento
Fundação 1
Fundação 2
Cortina Impermeabilizante
24
3.3 Casos Estudados
A partir dos valores de ângulos de resistência ao corte, (Reis, 2010), foi determinado o declive da
linha de estados críticos, M, a partir da expressão (3.2).
(3.2)
(3.3)
Material
Enrocamento
Definição do Parâmetro Símbolo Unidade
Argila (Reis,2010) (Alonso et al.,
2005)
A primeira análise mostra-se como o principal objectivo do trabalho, onde é pretendido compreender a
influência do clima e da fluência sofridas pela ensecadeira durante o faseamento construtivo. De
seguida, foi estudada a influência da percolação na fundação, através do mesmo modelo. O clima foi
igualmente considerado, sendo o processo construtivo adoptado idêntico às condições normais em
obra, onde a ensecadeira é construída em primeiro lugar construindo-se a barragem em seguida.
Finalmente, foi ainda realizado um estudo de forma a analisar as diferenças da consideração da
anisotropia do material compactado, do ponto de vista da permeabilidade. Todos estes estudos têm
25
Capítulo 3 – Casos Estudados
como referencia uma análise mais simples, cujos materiais apresentam permeabilidade anisotrópica,
fundação permeável e o clima não é considerado, que servirá de validação do modelo.
Neste estudo, são analisados resultados que permitiram validar o modelo utilizado. A validação
implica o estudo das tensões verticais e da rede de escoamento durante a construção e o enchimento. A
sequência construtiva remete para as condições normais de obra, cuja linha temporal é idêntica à
ilustrada na Figura 3.5 (b). Neste estudo, o clima não é contemplado para se compreender qual o efeito
deste, comparando com o Estudo 1, seguindo a linha de trabalhos anteriormente realizados (Alonso et
al ,2004). A permeabilidade das camadas compactadas é anisotrópica e a fundação é permeável
26
3.3 Casos Estudados
Devido ao processo de compactação das camadas é expectável que se venha a obter uma estratificação
horizontal destas, mesmo sendo feita uma compactação leve. Deste processo advêm consequências no
comportamento hidráulico da barragem, pois pode induzir anisotropia na permeabilidade do material.
Este estudo faz a análise da influência de, no projecto, se considerar ou não a anisotropia da
permeabilidade. Foi realizado através da comparação do estudo 1 – Caso B com um modelo idêntico
com materiais com permeabilidade isotrópica.
27
Capítulo 4 – Programa CODE_BRIGHT
28
4.1 Introdução
4.
4.1. INTRODUÇÃO
Para a modelação da barragem foi usado o programa CODE_BRIGHT (Olivella et al., 1996 e UPC-
DLT, 2002), baseado no método dos elementos finitos (MEF), que permite resolver problemas termo-
hidro-mecânicos (THM) acoplados através da conservação de massa de sólidos, conservação da massa
de água na fase líquida e vapor, conservação da massa de ar e do equilíbrio de tensões. Os problemas
são formulados através de uma aproximação multifásica, sendo o solo composto por 3 fases distintas:
Gasosa, Sólida e Liquida (ver Figura 4.1). O solo é ainda considerado como um meio poroso
deformável.
(4.1)
De seguida, é feita uma explicação das equações constitutivas necessárias e das equações de
conservação de massa de sólido, água e ar e equilíbrio de tensões.
29
Capítulo 4 – Programa CODE_BRIGHT
As equações constitutivas permitem obter os parâmetros necessários ao equilíbrio de massa de ar, água
e sólido. Na Tabela 4.1 faz-se o resumo das equações utilizadas no modelo e as variáveis que
permitem obter, descrevendo-se em seguida algumas das suas particularidades.
Equações Hidro-
Curva de Retenção Grau de Saturação
Mecânicas
Lei de Darcy
A lei de Darcy, permite calcular os fluxos de massa de água no estado líquido e o fluxo de gás e é
expressa pelas equações (4.1) e (4.2) respectivamente. Nestas equações, a condutividade hidráulica é
dada pelo primeiro factor e é gerada pela multiplicação da permeabilidade intrínseca (área disponível
para o movimento no solo) com a permeabilidade relativa que faz a relação de proporções entre a área
ocupada disponível ocupada pelo ar, e líquido, .
(4.2)
(4.3)
onde,
K – permeabilidade intrínseca (m2);
– permeabilidade líquida relativa (m.s-1)
– permeabilidade gasosa relativa (m.s-1)
- viscosidade dinâmica (MPa.s)
30
4.2 Equações Constitutivas
(4.4)
onde,
- porosidade de referencia;
- permeabilidade intrínseca de referencia.
A permeabilidade para a fase líquida depende do grau de saturação e segue o modelo de Van-
Genuchten através da expressão:
(4.5)
Lei de Fick
Através da lei de Fick, são obtidos fluxos de massa de água no estado gasoso, pela expressão (4.6):
(4.6)
onde,
– coeficiente de difusão;
– tortuosidade;
– coeficiente molecular da água no estado gasoso dado pela expressão (4.7);
- matriz identidade;
- dispersão gasosa;
- fracção da massa de água existente no estado gasoso.
(4.7)
31
Capítulo 4 – Programa CODE_BRIGHT
Lei de Fourier
A lei de Fourier permite relacionar a condutividade térmica com gradientes de temperatura, através da
seguinte expressão:
(4.8)
onde,
- fluxo de energia;
- condutividade térmica;
s – condutividade térmica na fase sólida;
l – condutividade térmica na fase líquida;
g – condutividade térmica na fase gasosa.
Curva de Retenção
A formulação da curva de retenção é descrita no Capítulo 5.
Lei de Henry
A lei de Henry permite calcular a massa de ar dissolvida em água através da equação (4.9).
(4.9)
onde,
- pressão atmosférica;
- massa molecular do ar (0,02895 Kg/mol);
- constante de Henry (10000 MPa).
Lei Psicométrica
A densidade de água no estado gasoso é calculada com base na lei psicométrica, que relaciona a
sucção com a humidade relativa:
(4.10)
32
4.3 Equações de Conservação
onde,
Como já foi mencionado, são consideradas três fases na composição dos materiais: fase sólida, líquida
e gasosa. São considerados três elementos: água, ar seco e temperatura. Deste modo, na solução do
modelo numérico, cada componente está associado a uma equação diferencial. Estas equações,
denominadas equações de conservação, têm origem nos princípios de conservação de massa e do
equilíbrio de tensões. Na Tabela 4.2, encontram-se as equações de conservação e as variáveis
associadas.
(4.11)
onde,
33
Capítulo 4 – Programa CODE_BRIGHT
A água está presente no solo tanto na fase líquida como na sólida. Deste modo, a equação (1.9) resolve
o equilíbrio de massa de água tendo em consideração as duas fases:
(4.12)
onde,
O primeiro e segundo termos da equação (4.12) representam a variação de massa de água na fase
líquida e gasosa, respectivamente, enquanto que o terceiro e quarto termos representam o fluxo de
água nas fases líquida e gasosa, calculadas com a lei de Darcy.
Conservação de Massa de Ar
De forma análoga à conservação de massa de água, a conservação de massa de ar é dado pela equação
(4.13).
(4.13)
onde,
Os fluxos de massa de ar dissolvido em água e gás, e respectivamente, são calculados pela lei de
Fick, referida no ponto 4.2. O factor introduz na equação todas as condições de fronteira impostas.
(4.14)
onde,
Equilíbrio de Tensões
(4.15)
onde,
- tensões totais;
– forças de massa.
35
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
36
5.1 Secção Transversal e Condições de Fronteira
5.
5.1. SECÇÃO TRANSVERSAL E CONDIÇÕES DE FRONTEIRA
Modelou-se a secção transversal (Figura 5.1) de acordo com a geometria real definida no Capítulo 3.
Na Figura 5.1 é possível observar as camadas consideradas no processo construtivo, cada uma com 7,3
metros de espessura. Deste modo, a ensecadeira foi constituída por 5 camadas e a barragem por 11
camadas que foram sendo activadas ao longo do processo de cálculo. Admitiu-se que a construção de
cada camada demorou 1 mês uma vez que este período de tempo é considerado aceitável para a
obtenção de resultados realistas. No entanto, refere-se que na realidade, as primeiras camadas têm uma
duração de construção superior em função da sua elevada área, facto que não foi contemplado.
Figura 5.1 - Geometria da secção transversal definida no programa CODE_BRIGHT referente aos estudos 1 e 2
Os materiais representados na figura são uma aproximação dos materiais descritos no Capítulo 3 e a
sua calibração encontra-se no ponto 5.3.
A malha de elementos finitos adoptada é composta por 5895 elementos triangulares e 3084 nós. Esta
malha, representada na Figura 5.2, foi gerada automaticamente pelo programa de forma a garantir a
exequibilidade dos cálculos sob o ponto de vista de convergência numérica.
37
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
As condições de fronteira hidráulicas estão relacionadas com os drenos e com o enchimento, pelo que
estão descritas no ponto 5.2.3.
5.2. ACÇÕES
O peso próprio actuante no modelo reflecte o peso do solo constituinte da barragem, evoluindo durante
o processo construtivo. Assim, o seu andamento está relacionado com a construção de cada camada,
que demorou 1 mês a ser concluída, o que perfaz 57 meses (1710 dias) no Estudo 1 – Caso A e 16
meses (480 dias) no Estudo 1 – Caso B, Estudo 2 e Estudo 3.
38
5.2 Acções
5.2.2. Clima
160 80
140 70
120 60
mm
100 50 %
oC
80 40
60 30
40 20
20 10
0 0
Dez-02 Abr-04 Set-05 Jan-07 Jun-08 Out-09
Foi então necessário introduzir no modelo todos os dados climatéricos em cada intervalo de tempo (1
mês) como condições de fronteira hidráulicas. Foram criadas condições para o input da temperatura,
humidade relativa e precipitação através dos métodos descritos de seguida.
Precipitação
No programa, a consideração da precipitação é feita pelo fluxo de massa de água na fronteira entre o
solo e a atmosfera. Esse fluxo é calculado pela expressão (5.1).
39
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
(5.1)
onde,
Humidade Relativa
Da mesma forma, a humidade relativa foi introduzida através da aplicação de uma massa de água no
estado gasoso, calculada pela expressão:
(5.2)
onde,
(5.3)
(5.4)
5.2.3. Enchimento
O enchimento da barragem foi simulado pela imposição de uma pressão de líquido na fronteira
representada na Figura 5.5, dada pela expressão:
(5.5)
40
5.2 Acções
onde,
Optou-se por simular o enchimento por este método uma vez que para além de se simular a molhagem
do material e a percolação da água também são contabilizadas as pressões hidrostáticas actuantes
sobre a barragem. Para esse efeito foi inserido num modelo um material para simular a água que se
encontra na Figura 5.5, cujo peso próprio depende da pressão de líquido.
A existência de filtros a jusante foi simulada hidraulicamente impondo uma condição de fronteira
“seepage (Pl=0)” nas linhas representadas na Figura 5.6.
41
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
Como foi referido na parte teórica, os modelos constitutivos utilizados, no núcleo argiloso e no
enrocamento são o BBM e o modelo para enrocamento, respectivamente, que possibilitam a
determinação de deformações devidas a variações de sucção. Para os terrenos de fundação, foi
adoptado um modelo elástico linear com elevada rigidez, para que as suas deformações ao longo de
todo o estudo sejam praticamente nulas.
(5.6)
O termo foi considerado igual a zero. Assim, pelo BBM, as equações (5.7) e (5.8) permitem o
cálculo dos termos e .
(5.7) (5.8)
onde,
42
5.3 Calibração dos Modelos Constitutivos dos Materiais
- - -0,00196
- - -0,00196
Comportamento Plástico
Estado Inicial
43
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
Comportamento Plástico
Estado Inicial
44
5.3 Calibração dos Modelos Constitutivos dos Materiais
Algumas formulações para a curva de retenção foram apresentadas, nomeadamente nos trabalhos de
Fredlund et al. (1995) e Öberg & Sällfors (1997) e Van Genuchten (1980). Este último propôs a
equação (5.9) para a curva de retenção que foi adoptada no presente trabalho.
(5.9)
onde,
– grau de saturação;
– pressão de entrada de ar;
- parâmetro de calibração.
De modo a ser possível incluir as características de permeabilidade no modelo foi necessário converter
os coeficientes de permeabilidade (m/s) descritos no capítulo 3 em permeabilidade intrínseca (m2)
através da expressão (5.10). Esta constante traduz uma propriedade do material (relacionada com a
geometria da estrutura dos poros) sendo independente do fluído que o atravessa.
(5.10)
onde,
45
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
A Tabela 5.5 indica todos os parâmetros necessários à completa calibração da parte hidráulica
referente aos materiais. Os dados foram obtidos através da bibliografia existente sobre a barragem de
Beliche (Alonso et al., 2005).
Definição do
Símbolo Unid. Núcleo Maciços Fundação 1 Fundação 2
Parâmetro
Curva de Retenção
Pressão de entrada de
P0 MPa 0,65 0,01 0,65 0,65
ar
Parâmetro de
- 0,35 0,35 0,35 0,35
Calibração
Permeabilidade
Intrínseca
Permeabilidade
(k11)0 m2
Intrínseca segundo X
Permeabilidade
(k22)0 m2
Intrínseca segundo Y
Permeabilidade
Saturada
46
5.4 Variáveis Iniciais
A atribuição de valores iniciais para algumas variáveis foi fundamental para o inicio do processo de
cálculo. Valores para a porosidade inicial de cada material, a temperatura, um estado de tensão para
evitar tracções e a sucção inicial foram adoptados e encontram-se nas tabelas seguintes.
Tensão (MPa)
Material Sucção (MPa) Temperatura (ºC)
Núcleo 0,35
Maciços 0,35
0,9 19,3 -0,05
Fundação 1 0,3
Fundação 2 0,1
47
Capítulo 5 – Descrição e Calibração do Modelo
48
6.1 Introdução
6.
6.1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo analisam-se os resultados dos estudos efectuados descritos no capítulo 3. Em primeiro
lugar, analisa-se um caso simples sem interacção com o clima (Estudo 0) para validar o modelo de
cálculo. De seguida analisam-se os diferentes casos estudas comparando alguns resultados entre si.
A análise de resultados dos deslocamentos obtidos através do modelo nos estudos referidos no capítulo
3 foi realizada nos perfis identificados na Figura 6.1. Foram escolhidos estes perfis uma vez que a sua
localização permite obter informações sobre a influência da sequencia de construção e sobre os efeito
da molhagem no primeiro enchimento. Por outro lado, a escolha permite estudar dois perfis nos
núcleos (Perfis I e III) e a montante e a jusante da barragem principal (Perfis II e IV) e ainda, por
comparação entre eles, averiguar se a consideração do clima afecta significativamente as
características dos materiais devido à sua molhagem. Finalmente, estes perfis coincidem com a
localização usual de baterias de assentamento e inclinómetros previstos nos planos de instrumentação
e observação de obras deste tipo pelo que o estudo da evolução assentamentos obtidos no cálculo pode
ser comparável a leituras reais efectuadas em barragens semelhantes.
O estudo da evolução das pressões intersticiais (ou sucções) durante o processo construtivo e na fase
de enchimento foi efectuado nos pontos de controlo evidenciados na Figura 6.2. A sua localização foi
escolhida para que os resultados obtidos fornecessem informações úteis na interpretação dos casos-
estudo e na comparação entre estes. Assim, optou-se pela colocação de pontos a montante e jusante da
49
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
ensecadeira e da barragem, bem como no centro de cada um dos núcleos, localizados a uma
profundidade que permite acompanhar a evolução durante a maior parte do processo construtivo.
12 m
6.2.1. Introdução
Como foi mencionado no capítulo 3, a existência de um Estudo 0 prende-se com o facto de ser
imprescindível proceder à validação do modelo, ou seja, mostrar que todas as condições impostas
garantem uma aproximação ao comportamento real. Por outro lado, a obtenção de dados sobre o
comportamento da barragem sem a contemplação do clima mostra-se necessária para a comparação
com os estudos em que estas acções são consideradas. Deste modo, foi criado um modelo onde não se
incluíram as acções atmosféricas mas apenas foi considerado o peso próprio e o primeiro enchimento.
Para a validação do modelo são analisadas as tensões verticais totais calculadas ao longo do processo
construtivo e o andamento da rede de escoamento durante o enchimento e em serviço (fluxo
permanente).
A distribuição de tensões verticais totais no final da construção está de acordo com o esperado
considerando o peso próprio da barragem. Não se esperam diferenças entre todos os estudos
efectuados. Nas figuras seguintes, pretende-se ilustrar a distribuição de tensões totais no corpo da
barragem no final da construção e no final do enchimento. Faz-se notar que, ao contrário da convenção
de sinais da mecânica dos solos, o output do programa atribui valores negativos para as compressões e
positivos para tracções. As diferenças visuais observadas entre as figuras 6.3 e 6.4 estão relacionadas
com as pressões hidrostáticas resultantes do enchimento da barragem, originando uma configuração
assimétrica de tensões totais no final desta fase.
50
6.2 Estudo 0 – Sem Clima
Figura 6.3 – Distribuição de tensões totais verticais no interior da barragem no final da construção
Figura 6.4 – Distribuição de tensões totais verticais no interior da barragem no final do enchimento
Para validar o modelo, é importante verificar se as tensões totais são correctamente distribuídas
atendendo às diferenças de rigidez dos materiais do núcleo e dos maciços. Para tal, recorreu-se ao
perfil horizontal representado na Figura 6.5 para uma análise da evolução das tensões verticais durante
a construção e após o enchimento. Foram traçados os gráficos representados na Figura 6.6. Na Figura
6.7 apresentam-se as tensões totais horizontais para o perfil indicado na Figura 6.5. A comparação
entre os andamentos das tensões totais verticais e horizontais permite confirmar que os seus valores
estão relacionados entre si.
22 m
Figura 6.5 - Perfil horizontal escolhido para a análise da evolução das tensões verticais totais
51
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
-1,2
Maciço Lateral Núcleo Maciço Lateral
-1 Camada 9
Camada 10
Camada 11
Tensão Vertical (MPa)
-0,8
Camada 12
Camada 13
-0,6
Camada 14
Camada 15
-0,4
Camada 16
Final Enchimento
-0,2
15 35 55 75 95
0
Distância (m)
Figura 6.6 – Evolução das tensões verticais totais durante a construção e no final do enchimento
Camada 9
-0,5
Camada 10
Tensão Horizontal (MPa)
Camada 11
-0,4
Camada 12
Camada 13
-0,3
Camada 14
Camada 15
-0,2
Camada 16
Final Enchimento
-0,1
15 35 55 75 95
-1E-15
Distância (m)
Figura 6.7 - Evolução das tensões horizontais totais durante a construção e no final do enchimento
52
6.2 Estudo 0 – Sem Clima
Conclui-se que, analisando a Figura 6.6, existe uma distribuição das tensões verticais totais
concordante com os diferentes valores de rigidez, resultando numa “suspensão” do núcleo nos maciços
laterais bastante mais rígidos. Os valores obtidos estão dentro da ordem de grandeza expectável. No
caso de o núcleo ter uma rigidez idêntica aos maciços, a tensão vertical seria dada por:
(6.1)
onde:
Deste modo, a tensão vertical seria 0,93 MPa, que se encontra na mesma ordem de grandeza que o
valor 0,78 MPa calculado no fim do processo construtivo. A diferença de valores é explicada pela
distinta rigidez apresentada pelos materiais já mencionada atrás e que conduz a redistribuição de
esforços.
As tensões totais no final do enchimento sofrem um ligeiro decréscimo a jusante, situação que pode
ser resultante da assimetria de geometria e rigidez que a barragem apresenta. Assim, haverá uma
ligeira redistribuição de esforços durante esta etapa.
A análise das tensões horizontais não pode ser dissociada da análise das tensões verticais. Esperava-se
portanto que as tensões horizontais acompanhassem o andamento das tensões verticais, o que se
verifica pois o andamento dos diagramas são semelhantes (Figura 6.6 e Figura 6.7)
Devido à construção da ensecadeira e desvio do rio admitiu-se que o nível freático antes do
enchimento se localizava-se abaixo dos terrenos de fundação, conforme indicado na Figura 6.8. A
simulação do processo de enchimento foi realizado por etapas até o nível da água no reservatório
atingir 73 metros de altura. Cada etapa sofre um incremento de 20 metros de altura de água em relação
à anterior. O programa de cálculo realiza este aumento de carga hidráulica de uma forma progressiva,
reproduzindo de uma forma real o enchimento do reservatório. A Figura 6.8 representa o andamento
do nível da água (correspondente à altura piezométrica ) durante as etapas do enchimento. Os
valores indicados na legenda da figura indicam a altura da superfície da água no reservatório.
53
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
A Figura 6.9 mostra a distribuição das pressões intersticiais em profundidade sob fluxo permanente.
Pela observação das Figuras 6.8 e 6.9 conclui-se que o modelo reproduz de uma forma satisfatória
(Huertas, 2006) a rede de escoamento no interior do corpo da barragem durante o enchimento desta
permitindo inferir que tanto o núcleo como os filtros exibem o funcionamento pretendido. A evolução
das pressões intersticiais não se mostra relevante nesta fase da análise de resultados e será apresentada
apenas para o Estudo 3. Constata-se pela observação da figura anterior que a cortina
impermeabilizante apresenta um comportamento eficiente uma vez que existe uma perda eficiente de
pressão na zona da sua localização.
Como se pode observar na Figura 6.10, o caminho preferencial de percolação contorna o núcleo, uma
vez que este apresenta uma permeabilidade reduzida. Pode também observar-se que a velocidade de
percolação na zona da fundação é superior e que os vectores velocidade de percolação estão
direccionados para a fronteira que simula o filtro.
54
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
6.3.1.1. Sucções
A análise da evolução das sucções durante a construção é importante para avaliar a transição do estado
não saturado para saturado do solo, sabendo que, como foi referido nos fundamentos teóricos, esta
variação de sucção afecta o comportamento mecânico dos materiais tanto do núcleo como do
enrocamento. Assim, apresentam-se na Figura 6.11 a evolução da sucção durante o processo
construtivo referente aos dois casos em estudo nos pontos de controlo representados na anteriormente
na Figura 6.2 e ilustrados novamente na Figura 6.11
55
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Caso A
1,2
Exposição Ambiental Construção Barragem
1
0,8 5
Sucção (MPa)
2 6
0,6
3
0,4 4
0,2
1
0
Enchimento Acidental
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (Meses)
Caso B
1,2
1 5
0,8 2
Sucção (MPa)
3
0,6
4
1
0,4
6
Construção
0,2
Ensecadeira Construção Barragem
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Tempo (Meses)
Figura 6.11 – Variações de sucção em função do tempo calculadas através do modelo numérico
A partir do andamento da sucção ao longo do tempo, apresentado na Figura 6.11, é possível fazer um
paralelismo com as condições impostas no modelo. No caso A, o ponto 1 localizado no maciço a
montante da ensecadeira, sofre uma molhagem devido ao enchimento acidental da ensecadeira, que
56
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
ocorre durante o mês 9. Uma vez que a duração deste acontecimento foi muito curta (5 dias), não
houve tempo para que o ponto 2, que se encontra no núcleo da ensecadeira, sofresse alterações
significativas. Já o ponto 3 sofre uma diminuição de sucção durante a molhagem, mas uma vez que se
encontra a jusante da ensecadeira, a variação de sucção é bastante menor que a do ponto 1. Durante o
tempo de espera, os pontos 1 e 3, localizados no enrocamento sofreram variações de sucção devido às
interacções atmosféricas. O ponto 2, não se mostra tão sensível ao clima, uma vez que o material
argiloso do núcleo possui uma menor permeabilidade. Deste modo, o andamento das sucções neste
ponto sugere que o seu aumento poderá ser justificado pela interacção com a atmosfera ou pelo efeito
retardado do enchimento acidental.
A Figura 6.12 ilustra as pressões de líquido e a linha de saturação, permitindo concluir que não houve
tempo necessário para que a água atingisse núcleo argiloso. De referir que pressões de liquido
positivas referem-se a pressões intersticiais e negativas a sucções.
Figura 6.12 – Sucções, pressões intersticiais e linha de saturação no final do enchimento acidental com molhagem da
ensecadeira
A evolução das sucções durante o processo construtivo do caso B (Figura 6.11) demonstra que, de
forma idêntica ao caso A, os pontos 2 e 5 apresentam menores variações de teor em água. É
importante referir que as sucções tendem a estabilizar uma vez que no caso B, a obra está sujeita a
menos ciclos atmosféricos e que, comparativamente ao caso A, as sucções calculadas são maiores no
final da construção. É ainda importante referir que, igualmente ao caso A, no caso B entre os meses 7
e 9 existem menores valores de sucção uma vez que foram registadas maiores chuvas. No entanto não
foi simulado um enchimento uma vez que se considera que a existência de pessoal em obra, que teria
tomado de medidas para que este evento não acontecesse.
57
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Caso A Caso B
40
40
Altura (m)
Altura (m)
35
35
30
30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
-0,02 -0,07 -0,12 -0,17 -0,22 -0,02 -0,07 -0,12 -0,17 -0,22
Deslocamento Vertical (m) Deslocamento Vertical(m)
Nos gráficos da Figura 6.14 observa-se que as diferenças de deslocamentos verticais máximos são da
ordem de 8 mm entre os dois casos, no final da construção da barragem principal. Os mesmos gráficos
da Figura 6.14 encontram-se ampliados no anexo A1. No entanto, a evolução dos deslocamentos
durante a construção do resto da barragem mostra-se diferente nos dois casos, tornando-se pertinente a
58
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
Enchimento Acidental e
exposição ambiental (Caso A)
40 h2
h1
Altura (m)
35
30
25
6,5 cm
20
15
10
0
-0,02 -0,07 -0,12 -0,17 -0,22
Deslocamento vertical (m)
Figura 6.15 – Comparação dos deslocamentos verticais durante a construção para os casos A e B no perfil vertical I
Como seria de esperar, verificou-se que o comportamento da ensecadeira até ao final da sua
construção é idêntico nos dois casos. Após esta etapa, devido ao enchimento acidental, exposição
climatérica com ciclos de secagem e molhagem e à fluência causada pela rotura das partículas do
enrocamento devido à molhagem parcial, o caso A apresenta deslocamentos superiores ao caso B. O
valor máximo de assentamento durante este intervalo é de 6,5 cm e ocorre aos 25,55 metros de altura,
como identificado na Figura 6.15.
Após a construção completa da barragem, no entanto, o caso A apresenta assentamentos máximos (aos
25,55 m de altura) praticamente iguais aos medidos no caso B, ainda que ligeiramente superiores. Tal
observação leva a concluir que o comportamento da ensecadeira é alterado devido à diminuição do
59
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
índice de vazios ocorrida durante o tempo de espera, assentando menos no caso A durante a
construção da barragem.
Para uma melhor compreensão dos resultados, elaborou-se o gráfico presente na Figura 6.16, que visa
diferenciar os assentamentos acumulados de uma marca superficial localizada no topo do perfil I.
Exposição Ambiental
Tempo (Meses)
0
0 10 20 30 40 50 60
-0,02
-0,04
Construção
-0,06 h1 da Barragem
-0,08
Deslocamento Vertical (m)
-0,1 Caso A
Caso B
-0,12
Estudo 0
-0,14 h3
-0,16 h2
-0,18
O modelo exibe um aumento gradual dos assentamentos acumulados durante o tempo de exposição
ambiental no caso A, de . Uma vez que o estado de tensão instalado na ensecadeira
durante este intervalo é constante, o aumento das deformações resulta das variações de sucção no
núcleo devido à exposição atmosférica e da fluência do enrocamento. No caso de não haver alterações
nas características dos materiais durante o tempo de paragem da construção, seria de esperar que
. No entanto, verifica-se que estes valores apresentam-se diferentes ( , levando
a concluir que no caso A, os materiais estão menos compressíveis durante a fase de construção da
60
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
h2 h1
60
Caso B
Altura (m)
50
40 Caso A
Estudo 0
30 9 cm 6 cm
20
10
0
-0,06 -0,16 -0,26 -0,36
Deslocamentos Verticais (m)
A Figura 6.18 apresenta os assentamentos acumulados obtido num ponto de controlo superficial
pertencente ao perfil II, em função do tempo, também identificado na mesma figura
0 20 40 60
-0,04
-0,09
Deslocamento Vertical (m)
-0,14 h2
Caso A
Caso B
-0,19 h1 Estudo 0
-0,24
61
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Através da análise das figuras 6.17 e 6.18, conclui-se que os assentamentos acumulados no topo do
perfil II foram maiores em no caso A face ao caso B e este último evidenciou apenas
mais que o estudo 0, sem interacção atmosférica. A importância da fluência dos materiais
e do enrocamento em particular é estudada na análise dos assentamentos do perfil II. A sua localização
(Figura 6.1) foi escolhida precisamente para incluir um troço do maciço de jusante da ensecadeira no
maciço de montante da barragem principal. O maciço da ensecadeira serve de apoio da barragem pelo
que as suas características mecânicas têm influência no comportamento global.
Pretende-se apresentar uma explicação para a obtenção de maiores deslocamentos calculados no perfil
II para o caso A. Como foi referido, a barragem está assente no maciço da ensecadeira. Esta zona,
durante a fase de exposição apresenta tensões verticais reduzidas, pelo que a tensão clástica neste
material não é ultrapassada havendo apenas um aumento da humidade relativa entre os blocos de
enrocamento sem efeitos diferidos no tempo. A construção da barragem principal aumenta os níveis de
tensão nesta zona da ensecadeira fazendo com que a curva LC seja ultrapassada para valores de sucção
reduzidos no caso A face ao caso B (pontos 2 e 2’, respectivamente, Figura 6.19). Na Figura 6.19 a
evolução da sucção é ilustrada para um ponto localizado no maciço da ensecadeira, a 12 metros de
altura (representação na figura) e mostra-se constante durante a construção da barragem principal, uma
vez que praticamente não há interacção com o clima na respectiva profundidade.
-1
Sucção (MPa)
-0,9
-0,8
-0,7
1’ 2’ 3’
-0,6
-0,5 Caso A
-0,4 Caso B
1 2 3 LC Inicial
-0,3
-0,2
-0,1
0
0 -0,1 2) p0 (s2’)
-0,2 p0 (s-0,3 -0,4 -0,5 -0,6 -0,7
p (MPa)
62
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
Além de, no caso A se ter atravessado a LC mais cedo implicar maiores deformações, após ser
atingida a tensão clástica, , há rotura das partículas que depende da HR ou seja, da sucção. Assim, o
caso A que mostra menor sucção, apresenta maior compressibilidade estando de acordo com o
explicado no capítulo 2. Para ilustrar este fenómeno, encontra-se na Figura 6.20 a evolução do volume
específico, obtido através da porosidade calculada no modelo, com o aumento da tensão média para o
mesmo ponto. A tensão média foi calculada a partir das tensões principais obtidas no programa.
1’
1,54
v
1 2’
1,535
2 py
i v(A)
1,53
i
+ d
(s’)
v(B)
1,525
i
+ d
(s) Caso A
Caso B
1,52
3’
1,515
3
1,51
0 0,1 0,2 p0 (s2)0,3p0 (s2’) 0,4 0,5 0,6
p (MPa)
Dadas as diferentes inclinações das linhas de compressibilidade virgem após a tensão clástica para o
mesmo acréscimo de tensão devido ao peso da construção das camadas superiores, resultam maiores
deslocamentos no caso A:
A evolução da tensão de cedência saturada do material neste ponto pode ser observada na Figura 6.21
e demonstra maior endurecimento do material devido ao andamento da LC no caso A, confirmando
também os maiores assentamentos calculados neste caso.
63
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
1
0,9
0,8
0,7 Caso A
p0* (MPa)
0,6
0,5 Caso B
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 20 40 60
Tempo (meses)
Este comportamento evidencia alterações sofridas pelo material da ensecadeira durante o tempo de
paragem da obra, levando a um aumento da assimetria de rigidez global da barragem, que já se fazia
notar devido à sua configuração geométrica. Deste modo, torna-se importante estudar o perfil III,
localizado no núcleo da barragem principal de forma a perceber globalmente quais os efeitos da
evolução das características mecânicas do enrocamento da ensecadeira.
A Figura 6.22 ilustra os deslocamentos verticais acumulados no perfil III após a construção da
barragem. O andamento dos deslocamentos verticais calculados no perfil III encontra-se no anexo A3
e apresentam-se semelhante nos dois casos. No entanto, os valores máximos são ligeiramente
superiores no caso A, uma vez que o comportamento do maciço a montante afecta o núcleo e como foi
visto, este maciço é afectado pelo tempo de exposição da ensecadeira. Os valores máximos encontram-
se na Tabela 6.1.
80
Altura (m)
70
Caso B
60
50
Estudo 0
40
30
20
Caso A
10
0
-0,1 -0,3 -0,5 -0,7
Deslocamento Vertical (m)
Figura 6.22 – Comparação de assentamentos calculados no perfil III localizado no núcleo entre os casos A, B e 0
64
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
O perfil IV está incluído no maciço a jusante que não está apoiado na ensecadeira. A relevância da sua
análise prende-se com a comparação com o maciço a montante de forma a compreender o efeito que a
alteração do material da ensecadeira induz na assimetria de rigidez da barragem. A Figura 6.23 ilustra
os deslocamentos verticais acumulados no perfil IV após a construção da barragem. Encontra-se no
anexo A4 a evolução dos deslocamentos durante a construção.
50
Altura (m)
Caso B
40
Caso A
30
20
10
0
-0,04 -0,09 -0,14 -0,19 -0,24
Deslocamento Vertical (m)
Figura 6.23 - Assentamentos calculados no perfil IV localizado no maciço de jusante para os Casos A e B no final da
construção
Os deslocamentos verticais calculados no perfil IV praticamente não diferem nos dois casos, como
espectável, uma vez que esta zona do aterro não está apoiado na ensecadeira, não sendo afectada pela
alteração das suas características mecânicas. O facto dos deslocamentos verticais deste maciço terem
sido bastante menores do que os calculados no perfil II, a montante confirmam que a assimetria
geométrica e de rigidez que da barragem afectam o seu comportamento.
Como conclusão, apresenta-se abaixo o quadro resumo dos deslocamentos verticais máximos e a
altura a que foram calculados em cada perfil. Apresenta-se também e a diferença dos valores
calculados entre cada caso, expressa em percentagem e calculada pelas equações (6.2) e (6.3).
(6.2)
(6.3)
65
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Altura do Maior
Perfil Caso A Caso B Sentido |Diferença| (m) % Diferença
Assentamento (m)
A análise da Tabela 6.1 confirma que o tempo de paragem da construção em que a ensecadeira ficou
sujeita à acção do clima teve como efeito haver maiores deslocamentos (Caso A). No entanto, as
percentagens relativas às diferenças destes valores são em geral baixas, à excepção do perfil II, que foi
analisado atrás com maior pormenor e que se atribui à acção da humidade relativa no enrocamento
sujeito a ciclos de molhagem e secagem. Pela observação da deformada, é possível confirmar que é a
meia altura da barragem que os deslocamentos verticais são maiores, estando de acordo com a Tabela
6.1.
Os vectores dos módulos dos deslocamentos durante a construção da última camada encontram-se na
Figura 6.25. Pela sua análise constata-se a existência de uma componente horizontal importante e que
é mais significativa a montante. Tal é explicado pela assimetria do perfil e pelo decréscimo de rigidez
introduzido pelo núcleo da ensecadeira. A análise dos deslocamentos horizontais é, portanto, relevante
nesta obra pelo que será efectuada de seguida.
66
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
Figura 6.25 – Vectores dos módulos dos deslocamentos durante a construção da última camada
67
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Altura (m)
35
30
25
20
15
10
0
-0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0
Deslocamento Horizontal (m)
Figura 6.27 – Deslocamentos Horizontais calculados perfil I para os Casos A e B no final da construção
68
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
50
Altura (m)
40
30
Altura da
ensecadeira
20
10
0
-0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0
Deslocamento Horizontais (m)
Figura 6.28 - Deslocamentos Horizontais calculados no perfil II para os Casos A e B no final da construção
Tal como para o perfil I, para o perfil II há também uma coerência com os deslocamentos verticais. A
evolução dos deslocamentos horizontais durante a construção encontra-se no anexo A6. De forma
idêntica ao perfil I, devido à localização do perfil II, os deslocamentos são positivos durante a
construção da ensecadeira e o seu andamento é no sentido negativo durante a construção da barragem.
Os valores máximos calculados com e sem paragem na construção divergem em cerca de 4
centímetros, mostrando-se o caso A com o maior valor.
A Figura 6.29 ilustra os deslocamentos horizontais no perfil III, localizado no núcleo da barragem,
calculados no final da construção.
80
Altura (m)
70
60
50
40
30
20
10
0
-0,1 -0,05 0
69
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
No perfil III, o caso A apresenta um deslocamento horizontal máximo superior ao caso B em cerca de
3 centímetros. Este valor é bastante reduzido tendo em conta a altura dos aterros e está em
concordância com a diferença diminuta dos assentamentos calculados no mesmo perfil. O
deslocamento máximo neste perfil é muito reduzido (cerca de 7 centímetros no caso A) visto estar
localizado no centro do núcleo. O andamento dos deslocamentos não é nulo uma vez que a estrutura
apresenta uma geometria assimétrica. A evolução dos deslocamentos horizontais encontra-se no anexo
A7.
50
40
30
20
10
0
0 0,05 0,1 0,15 0,2
Deslocamento Horizontal (m)
Finalmente, pela análise dos perfis, conclui-se que o sinal dos deslocamentos está de acordo com a
deformada da barragem (Figura 6.33) e que as diferentes amplitudes medidas no caso A e no caso B
estão de acordo com o observado para os deslocamentos verticais.
70
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
Os deslocamentos verticais calculados através do modelo, no final do enchimento para os perfis I e II,
localizado no núcleo a ensecadeira encontram-se na Figura 6.31. É de referir que os deslocamentos
representados são provocados apenas pelo enchimento da barragem e não pela fase de construção
desta.
Perfil I Perfil II
40 60
Altura (m)
Altura (m)
35 50
30
40
25
20 30
15
20
10
10
5
0 0
0,1 0,08 0,06 0,04 0,02 0 -0,02 -0,06 -0,1 -0,14 -0,18
Deslocamento Vertical (m) Deslocamento Vertical (m)
Figura 6.31 – Deslocamentos Verticais calculados nos perfis I e II para os Casos A e B no final do enchimento
Os deslocamentos verticais calculados nos perfis III e IV, situados no núcleo da barragem e no maciço
a jusante estão representados na Figura 6.32.
71
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
80 60
Altura (m)
Altura (m)
70
50
60
40
50
40 30
30
20
20
10 10
0 0
0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 0 -0,05 -0,1 -0,15 -0,2
Deslcoamento Vertical (m) Deslocamento Vertical (m)
Figura 6.32 - Assentamentos calculados nos perfis III e IV para os Casos A e B no final do enchimento
De forma análoga ao perfil II, o perfil III localizado no núcleo da barragem apresenta assentamentos
idênticos nos dois casos levando a concluir que durante o enchimento os assentamentos deste perfil
são pouco afectados pelo tempo de exposição ambiental durante a construção. O perfil IV, situado a
jusante da ensecadeira exibe maiores deslocamentos verticais no caso A. A justificação também se
prende com o facto de o historial de sucções durante a construção resultar em maiores deformações
plásticas durante este período.
A Figura 6.33 ilustra a deformada da barragem após o enchimento desta. É possível concluir que,
como seria expectável, esta sofre um deslocamento horizontal no sentido positivo e um assentamento
devido à acção da água.
72
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
Os vectores expostos na Figura 6.34 demonstram a direcção dos deslocamentos da barragem devido à
água. Como foi referido atrás, foram adicionados dois vectores a preto que indicam o movimento
rotacional desta em torno de um eixo localizado na origem destes.
Figura 6.34 - Vectores dos módulos dos deslocamentos durante a etapa final do enchimento
A Tabela 6.2 reúne os valores máximos calculados nos perfis em estudo para os dois casos, bem como
a altura a que estes foram medidos e a percentagem de diferença ente os dois casos, calculada pela
equação (6.3). É possível concluir que, como foi referido, os valores são similares nos dois casos, mas
que o caso A apresenta valores máximos ligeiramente superiores. No entanto, as percentagens de
diferenças são elevadas nos perfis I e II, o que se justifica pelo facto de os valores calculados serem
muito reduzidos.
% Altura do Maior
Perfil Caso A Caso B Sentido |Diferença (m)|
Diferença Assentamento (m)
73
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Perfil I Perfil II
40 60
Altura (m)
Altura (m)
35
50
30
25 40
20 30
15
20
10
5 10
0 0
-0,12 -0,08 -0,04 0 -0,12 -0,08 -0,04 0
Deslocamento Horizontal (m) Deslocamento Horizontal (m)
Altura (m)
70
50
60
40
50
40 30
30
20
20
10
10
0 0
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0 0,1 0,2 0,3 0,4
Deslocamento Horizontal (m) Deslocamento Horizonta (m)
74
6.3 Efeitos do clima no comportamento global (Estudo 1)
Os deslocamentos horizontais dos perfis III e IV apresentam sinal positivo em toda a sua altura. O
caso A, devido às diferentes condições de construção que induziram maiores plastificações do
material, exibe maiores deformações nos dois perfis em análise. É ainda possível verificar que os
maiores deslocamentos horizontais no perfil I encontram-se a metade da altura da barragem. O maciço
a montante da barragem, onde está inserido o perfil IV, apenas a acção do movimento do restante
corpo da barragem, uma vez que se mantém seco durante todo o processo. Os deslocamentos
horizontais neste perfil são igualmente positivos e mantém-se constantes a partir dos 32 metros de
altura.
% Altura do Maior
Perfil Caso A Caso B Sentido |Diferença| (m)
Diferença Deslocamento (m)
A análise da tabela acima reforça a ideia de que os deslocamentos horizontais são muito semelhantes
nos perfis I e II e apresentam diferenças significativas nos perfis III e IV, que se deslocam no sentido
positivo.
6.3.3. Conclusão
caso A, onde o acumular de humidade relativa aumenta a compressibilidade do enrocamento, logo que
a tensão de cedência clástica (tensão a partir da qual se dá a rotura das partículas de rocha) é
ultrapassada. Este raciocínio é igualmente aplicado ao enchimento, que apesar da molhagem ser
rápida, há também um aumento de tensões devido às pressões hidrostáticas e que, antes dos maciços
saturarem por completo, resulta em deslocamentos que são tanto maiores quanto menor é a sucção.
Confirma-se então que os deslocamentos globais da barragem em estudo são influenciados pelo tempo
de exposição às condições atmosféricas.
6.4.1.1. Introdução
Neste estudo avaliam-se os efeitos de se considerar o escoamento através do solo de fundação pois
pode permitir a molhagem dos maciços e do núcleo pela base. Começa-se por traçar a rede de
percolação para avaliar o andamento das pressões intersticiais e depois estudam-se os deslocamentos
verticais e horizontais no perfil III, ilustrado na Figura 6.1. Compara-se o modelo do estudo 1 – caso
B, onde a fundação é permeável e é contemplada uma cortina de impermeabilização com um modelo
onde a fundação é impermeável.
Para a compreensão dos gráficos seguintes, esclarece-se que quando as pressões de líquido são
negativas correspondem a sucção e quando são positivas correspondem a pressões intersticiais. O
programa não reproduz o aumento de pressões intersticiais devido ao processo de compactação,
apenas a sua evolução com a molhagem e adensamento devido ao aumento de tensão vertical (peso
das camadas que vão sendo construídas). Os gráficos presentes nas Figuras 6.37 e 6.38 ilustram a
evolução das pressões de líquido nos mesmos pontos de controlo identificados na Figura 6.2 e que
foram estudados antes.
76
6.4 Outros estudos complementares
-0,4 2
4
-0,6
-0,8
-1
Altura da água no reservatório (m)
Figura 6.37 - Evolução das pressões de líquido durante o enchimento para a fundação permeável (Caso B – Estudo 1)
Pela análise da Figura 6.37, observa-se que os pontos 1, 3 e 4 apresentam pressões intersticiais
praticamente idênticas levando a concluir que, devido à permeabilidade da fundação e à ausência de
impermeabilização na fundação do núcleo da ensecadeira, haverá um caudal na fundação que provoca
a saturação do maciço onde o ponto 3 se encontra localizado.
Fundação Impermeável
0,8
0,6
0,4 5
Pressão de Líquido (MPa)
0,2
1
0 6
-0,2 0 20 40 60 80
-0,4
4 2
-0,6 3
-0,8
-1
Altura de água no reservatório (Meses)
Figura 6.38 – Evolução das pressões de líquido durante o enchimento para a fundação impermeável
77
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
A Figura 6.38 permite concluir que, considerando a fundação impermeável, apenas na situação em que
o nível de água no reservatório ultrapassa a altura da ensecadeira é que se dá o aumento de pressão nos
pontos 3 e 4. Tal pode ser explicado pelo facto de a permeabilidade do material do núcleo da
ensecadeira dificultar a passagem da água. O ponto 5, após o nível de água no reservatório ter
ultrapassado os 45 metros apresenta o mesmo historial de pressões intersticiais nos dois casos em
estudo. Antes dessa altura, o andamento já se mostra diferente apresentando, como esperado, maior
molhagem no caso em que a fundação permite a passagem de água. Finalmente, o ponto 6,
considerando a fundação impermeável, não sofre praticamente nenhuma alteração de sucção. No caso
de se ter uma fundação permeável, estes pontos começam a fase de enchimento com maior sucção uma
vez que a água existente devido ao clima passa para os solos de fundação, não ficando retida nos solos
compactados.
Para uma melhor compreensão do problema, recorre-se à Figura 6.39 que mostra que o maciço a
jusante da ensecadeira só sofre saturação quando o nível freático ultrapassa os 36,5 m de altura
enquanto que se os solos de fundação forem permeáveis (Estudo 1 – Caso B) esta zona fica saturada
quase imediatamente a seguir ao inicio do enchimento pois há infiltração pela fundação (Figura 6.8).
Figura 6.39 - Variação da linha de saturação durante o enchimento do reservatório considerando a fundação impermeável
Os valores referentes aos assentamentos calculados pelo modelo no perfil III podem ser observados
através dos gráficos da Figura 6.40. Os valores apresentados após a fase de construção apenas
demonstram as consequências do enchimento.
78
6.4 Outros estudos complementares
Perfil III
Altura (m)
Altura (m)
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4
Deslocamento Vertical (m) Deslocamento Vertical (m)
construção enchimento
As tabelas seguintes têm como objectivo auxiliar a interpretação dos dados ilustrados na Figura 6.40.
Os valores das diferenças foram calculados com as equações (6.2) e (6.3) apresentadas anteriormente.
79
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Fundação Permeável –
Altura (m) Fundação Impermeável |Diferença| (m) % Diferença
Estudo 1
Pela observação das tabelas acima, conclui-se quem, em termos de deslocamentos verticais, a
consideração da permeabilidade dos solos de fundação altera em muito pouco os seus valores, tanto na
fase de construção como na fase de enchimento. A etapa construtiva mostra um aumento de 10 % face
à impermeabilidade dos solos, enquanto que a fase de enchimento apenas 3,98%.
80
6.4 Outros estudos complementares
A Figura 6.42 ilustra o andamento dos deslocamentos horizontais em altura para as situações de
permeabilidade e impermeabilidade da fundação. Neste caso, também se determinaram os
deslocamentos provocados apenas pelo enchimento.
Perfil III
Altura (m)
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
-0,06 -0,04 -0,02 0 0 0,05 0,1 0,15 0,2
Deslocamento Horizontal (m) Deslocamento Horizontal (m)
Figura 6.42 – Deslocamentos horizontais acumulados calculados no final da construção e no final do enchimento
Com o objectivo de melhorar a interpretação dos dados, encontram-se na Tabela 6.5 os deslocamentos
horizontais referentes a alguns pontos do perfil III e as diferenças percentuais calculadas pela equação
(6.3).
81
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Conclui-se pela observação desta tabela que a consideração da fundação permeável induz mais 41,8%
de deslocamentos horizontais no perfil III devido à fase de enchimento.
82
6.4 Outros estudos complementares
6.4.1.5. Conclusão
Através da análise dos deslocamentos verticais e horizontais, é possível constatar que a existência de
uma fundação permeável terá maiores efeitos na fase de enchimento da barragem. A principal
disparidade de valores calculados encontra-se nos deslocamentos horizontais, cuja diferença é de cerca
de 6 cm, à altura de 40 metros.
Assim, conclui-se que as diferenças na molhagem evidenciadas na análise das pressões de líquido
influenciam os deslocamentos da barragem durante o enchimento, com maior incidência nos
deslocamentos horizontais. É possível ainda concluir que a situação de se estudar a barragem assente
sobre terrenos de fundação permeáveis apresenta-se mais gravosa relativamente a esses
deslocamentos. Compreende-se assim a necessidade de recorrer a este tipo de abordagem, que se
mostra mais realista, necessitando de uma caracterização hidráulica dos terrenos de fundação.
6.4.2.1. Introdução
Na Figura 6.43 está representada graficamente a evolução das pressões de líquido durante o
enchimento do reservatório, para a situação do Estudo 1 – Caso B, onde a permeabilidade é
anisotrópica e para o cenário hipotético de a permeabilidade ser isotrópica.
83
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Pressões de Líquido
0,8
0,6
0,4
Pressão de Líquido (MPa)
3
0,2
1
0 5
0 20 40 60 80
-0,2
-0,4 2 6
4
-0,6
-0,8
-1
Altura da água no reservatório (m)
Figura 6.43 - Evolução das pressões de líquido durante o enchimento para o material isotrópico e anisotrópico
Verificou-se que a evolução das sucções ( é idêntica para os dois cenários nos
pontos de controlo 1,3 e 4 localizados nos maciços da ensecadeira e no maciço de montante da
barragem. Os restantes pontos apresentam um andamento ligeiramente distinto, que no entanto tende a
igualar quando o nível da água no reservatório ultrapassa os 40 metros de altura (a ensecadeira fica
submersa). As pressões intersticiais ( sofrem poucas alterações em todos os
pontos, reflectindo, nos pontos 1, 2, 3 e 4 o peso da água acima destes e apresentando menores valores
nos restantes pontos, confirmando o funcionamento hidráulico da estrutura. As pressões intersticiais
tendem a igualar quando se caminha para o fluxo permanente. No entanto, observa-se que a velocidade
de molhagem é diminuída pela anisotropia apresentada pelos materiais, uma vez que as sucções
pressões intersticiais são sempre menores neste caso. A rede de escoamento será então afectada como
se pode observar na Figura 6.44.
Figura 6.44 - Variação da linha de saturação durante o enchimento do reservatório considerando a fundação impermeável
84
6.4 Outros estudos complementares
Perfil II
Altura (m)
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 -0,1 -0,2 -0,3 0 -0,05 -0,1 -0,15 -0,2
Deslocamento Vertical (m) Deslocamento Vertical (m)
(a) Deslocamento Vertical Perfil II fim da (b) Deslocamento Vertical Perfil II fim do
construção enchimento
Perfil III
Altura (m)
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
-0,1 -0,3 -0,5 -0,7 0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,5
Deslocamentos Verticais (m) Deslocamentos Verticais (m)
(a) Deslocamento Vertical Perfil II fim da (b) Deslocamento Vertical Perfil II fim do
construção enchimento
Figura 6.46 - Deslocamentos Verticais no perfil III após construção e enchimento
85
Capítulo 6 – Análise dos Resultados
Para uma melhor leitura, encontram-se na Tabela 6.7 os deslocamentos acumulados máximos
calculados nos perfis II e III.
Pela leitura dos gráficos da Figura 6.46 e da Tabela 6.8 conclui-se que, considerando a permeabilidade
anisotrópica obtiveram-se diferenças nos assentamentos máximos superiores em 5,8% no perfil II e
2,9 % no perfil III. Estes valores são muito reduzidos e estão de acordo com o que se esperava obter,
uma vez que durante a fase de construção, a acção do clima actua essencialmente na vertical. O perfil
II apresenta maiores diferenças percentuais uma vez que está fundado na ensecadeira, que é a zona que
sofre mais alterações de sucção em virtude do processo construtivo.
Após o primeiro enchimento, os deslocamentos verticais dos mesmos perfis apresentam diferenças
mais significativas. Como se pode observar no perfil II, o modelo constituído por materiais com
permeabilidade isotrópica exibe deslocamentos máximos superiores em 12,8% que o modelo em
condições anisotrópicas, enquanto que o perfil III apresenta assentamentos máximos superiores em
17,5%. No entanto, o andamento destes assentamentos em altura é idêntico nos dois casos, em ambos
os perfis.
86
6.4 Outros estudos complementares
6.4.2.4. Conclusão
Face aos resultados obtidos através do modelo numérico conclui-se que a consideração do material
com permeabilidade anisotrópica em pouco afecta os resultados dos deslocamentos. A rede de
escoamento, no entanto, sofre algumas alterações durante a fase de enchimento. Assim, introdução no
modelo de uma anisotropia de permeabilidade tem como consequência uma melhor compreensão do
problema relativamente à percolação de água no corpo da barragem.
87
Capítulo 7 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros
88
7 Conclusões e Desenvolvimentos Futuros
O principal objectivo do presente trabalho foi o estudo do comportamento de uma barragem zonada
devido às alterações das características mecânicas dos materiais causadas pela sua exposição às acções
atmosféricas. Para tal, o seu comportamento durante a construção foi analisado assim como as
consequências desta interacção no primeiro enchimento. A barragem estudada foi inspirada na
barragem de Odelouca, situada no Algarve, uma vez que esta barragem tem um perfil zonado em que
os maciços são construídos com materiais do tipo enrocamento e o núcleo é construído com argila
compactada e ainda incorpora uma ensecadeira, também com um perfil zonado, com os mesmos
materiais. Durante a construção, a obra esteve parada durante quase 4 anos, tempo considerado
suficiente para poderem ocorrer fenómenos de fluência e para a molhagem parcial do material.
Foram implementados dois modelos constitutivos para solos não saturados. No material tipo
enrocamento foi aplicado um modelo constitutivo que permite a análise destes materiais tendo em
conta os fenómenos mencionados atrás. No material argiloso compactado do núcleo da referida
barragem foi aplicado o modelo constitutivo BBM destinado a solos parcialmente saturados pouco ou
moderadamente expansivos, possibilitando o cálculo de deformações devidas a variações de tensão e
sucção.
89
Capítulo 7 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros
Foi realizado um estudo sem a contemplação das interacções climáticas (Estudo 0) que teve por
objectivo validar o modelo utilizado e cujos resultados foram comparados com os obtidos no Estudo 1.
Concluiu-se que o clima teve um efeito agravante, uma vez que foram obtidos deslocamentos menores
neste estudo.
Uma vez confirmado que o efeito do clima afecta a construção deste tipo de barragens, procedeu-se a
uma análise mais aprofundada. O estudo principal (Estudo 1) resumiu-se à análise da alteração ao
processo construtivo no comportamento da barragem. Num caso A, foi reproduzido o processo
construtivo semelhante ao da barragem de Odelouca, que inclui um intervalo de cerca de 4 anos entre
o final da construção da ensecadeira e o início da construção da barragem principal em que os ciclos
atmosféricos foram considerados. Para a compreensão das alterações no comportamento da barragem
foi realizado um Caso B em que se reproduz o processo construtivo comum em barragens deste tipo,
construindo a barragem imediatamente após a conclusão da construção da ensecadeira.
90
7 Conclusões e Desenvolvimentos Futuros
Para futuros desenvolvimentos, são propostas três análises. A primeira seria a simulação da situação
de esvaziamento rápido da barragem de forma a verificar se a estabilidade do maciço de montante não
é comprometida, uma vez que pode não haver tempo necessário para a dissipação das pressões
intersticiais. A segunda análise prende-se com o estudo do comportamento da barragem durante a
construção e enchimento com aplicação de misturas de terra-enrocamento nos maciços em substituição
dos materiais do tipo enrocamento estudados no presente trabalho. Finalmente, sugere-se a análise da
evolução dos deslocamentos durante a fase de exploração considerando simultaneamente a evolução
das tensões efectivas. Esta análise mostra-se muito interessante uma vez que permite fazer uma
previsão do comportamento futuro da obra durante o seu tempo de vida útil.
91
Referências Bibliográficas
92
Referências Bibliográficas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alonso, E. E., Gens, A., & Josa, A. (1990). A constitutive model for partially saturated soils.
Géotechnique 40, No. 3 , pp. 405-430.
Alonso, E. E., Olivella, S., & Hugas, J. (2004). Modelling the behavior of an earth and rockfill dam
during the construction and impoundment. Proc. Int. conf. From Experimental Evidence towards
Numerical Modeling of Unsaturated Soils, Weimar, Germany .
Alonso, E. E., Olivella, S., & Pinyol, N. M. (2005). A review of Beliche Dam. Géotechique 55, No. 4 ,
pp. 267-285.
Alonso, E. E., Pinyol, N. M., & Oldecop, L. (2008). Hydric and creep effects on long term
deformations of rockfill embankments. 1st International Conference on Long Time Effects and
Seepage Behavior of Dams.
Chávez, C. & Alonso, E. E. (2003). A constitutive model for crushed granular aggregates which
includes suction effects. Soils and Foundations, vol 43(4), pp. 215-228.
Fredlund, D. G., & Rahardjo, H. (1993). Soil Mechanics for unsaturated soils, John Wiley & sons.
http://snirh.pt/. (2009). Obtido em 30 de Novembro de 2009, de Sistema Nacional de Informação de
Recursos Hídricos.
Huertas, J. R. (2006). Modelagem Numérica de Fluxo 3D em Meios Porosos. Rio de Janeiro: PUC-
Rio.
Maranha das Neves, E. (2002). Algumas considerações sobre a mecânica de Enrocamentos. Solos e
Rochas, São Paulo, 25, (3) , 161-203.
Maranha das Neves, E. (2006). Mecânica dos Solos. Instituto Superior Técnico .
93
Referências Bibliográficas
Melo, F. G. (1985). Compactação de aterros em barragens de terra. Informação técnica S330, LNEC,
Lisboa .
Naylor, D. J., Maranha das Neves, E., Mattar, J. D., & Veiga Pinto, A. A. (1987). Prediction of
Construction Performance od Beliche Dam. Memória nº 686 LNEC .
Oberg, A. L., & Sallfors, G. (1993). Determination of shear strength parameters of unsaturated silts
and sands based on the water retention curve. Geotechnical Testing Journal 20 , 40-48.
Oldecop, L. A., & Alonso, E. E. (2001). A model for rockfill compressibility. Géotechnique 51, No. 2,
pp. 127-139.
Olivella, S., Gens, A., & Alonso, E. E. (1996). Numerical formulation for a simulator
(CODE_BRIGHT) for the couple analysis of saline media. Engineering Computations (pp. 87-112).
van Genuchten, M. T. (1980). A Closed-form Equation for Predicting the Hydraulic Conductivity of
Unsatirated Soils. Soil Sci. Soc. Am. J. 44 , pp. 70-77.
94
ANEXOS
A1. Deslocamentos verticais do perfil vertical I
Caso A Caso B
40 40
Altura (m)
Altura (m)
35 35
30 30
25 25
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
-0,02 -0,07 -0,12 -0,17 -0,22 -0,02 -0,07 -0,12 -0,17 -0,22
Caso A Caso B
50 50
ALtura (m)
ALtura (m)
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
-0,06 -0,16 -0,26 -0,36 -0,06 -0,16 -0,26 -0,36
Caso A Caso B
80 80
ALtura (m)
ALtura (m)
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
-0,1 -0,4 -0,7 -0,1 -0,4 -0,7
Deslocamento vertical (m) Deslocamento vertical (m)
Caso A Caso B
50 50
ALtura (m)
ALtura (m)
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
-0,04 -0,09 -0,14 -0,19 -0,24 -0,04 -0,09 -0,14 -0,19 -0,24
Caso A Caso B
35 35
30 30
25 25
ALtura (m)
ALtura (m)
20 20
15 15
10 10
5 5
0 0
-0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1
Caso A Caso B
50 50
ALtura (m)
ALtura (m)
40 40
30 Altura da Altura da
30
ensecadeira ensecadeira
20 20
10 10
0 0
-0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 -0,4 -0,3 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2
Deslocamento horizontal (m) Deslocamento horizontal (m)
Caso A Caso B
80
80
ALtura (m)
ALtura (m)
70
70
60
60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
-0,09 -0,07 -0,05 -0,03 -0,01 0,01 -0,09 -0,07 -0,05 -0,03 -0,01 0,01
Deslocamento horizontal (m) Deslocamento horizontal (m)
Caso A Caso B
50 50
ALtura (m)
ALtura (m)
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0 0,05 0,1 0,15 0,2
Deslocamento horizontal (m) Deslocamento horizontal (m)